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MODELO DEFESA PRELIMINAR – LESÃO CORPORAL, AMEAÇA E DESOBEDIÊNCIA – LEI

MARIA DA PENHA
EXCELENTISSIMO(A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA CRIMINAL
DA.....

AÇÃO PENAL .......

4905804-0Rio

4905841-4Rio

PARTE, devidamente qualificado nos autos da Ação Penal supra mencionada, que lhe move a
Justiça Pública, por seu advogado adiante firmado, já devidamente qualificado nos autos, vem
respeitosamente perante Vossa Excelência apresentar resposta, na forma do art. 396 e
seguintes do CPP, em conformidade com alteração da Lei 11.719/08, e, deduzir para Vossa
Excelência as causas e circunstâncias que justificam o descabimento da persecução penal,
para o que aduz as seguintes razões:

BREVE RELATO DOS FATOS

1. Fora o acusado denunciado e encontra-se processado por este ínclito juízo em virtude da
ocorrência dos fatos que segundo entendimento do Ministério Público, subsumem-se à norma
penal incriminadora inserta no art. 129, §9º e art. 147, do Código Penal c/c art. 7º, inciso I, da
Lei 11.340/06; art. 129, "caput" e art. 147 c/c art. 61, II, h, e art. 330, todos do Código Penal.

2. Segundo se recolhe da peça acusatória, o acusado no dia .... (hora ignorada), agrediu
fisicamente com socos a vítima ...., sua ex-companheira, que também vieram a atingir o filho do
casal, ...., de 04 anos de idade. Consta ainda que a vítima ...., após entrar em contato com a
Policia Militar desta comarca, o acusado desobedeceu à ordem legal de prisão por eles
expressa, resistindo à prisão e passou a ameaçar a vida da vitima e de seu filho, afirmando que
após sair da cadeia ia matá-los.

PRELIMINARMENTE

INEXISTÊNCIA DE MATERIALIDADE - AUSÊNCIA DE CORPO DE DELITO


3. Dispõe o Art. 158 do CPP que: "Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado".

4. Nota-se que, segundo consta na peça informativa do inquérito policial, as vítimas, logo após
a ocorrência do fato alegado, foram encaminhadas ao DPJ desta comarca, oportunidade que
deveria ser feito o exame de corpo de delito. No entanto, por simples análise dos autos,
constata-se que não houve pericia alguma, em que pese o referido departamento contar com
peritos oficiais.

5. O exame de corpo de delito indireto, fundado em prova testemunhal idônea e/ou em outros
meios de prova consistentes (CPP, art. 167) revela-se legítimo, desde que, por não mais
subsistirem vestígios sensíveis do fato delituoso, não se viabilize a realização do exame direto.

6. Desta feita, é imperioso levantar em tese, dúvida razoável em relação às supostas lesões
corporais, posto que, a falta do resultado de exame de corpo e delito (lesão corporal) no
decorrer da instrução, traz prejuízos a defesa, acarretando consequente cerceamento ao
exercício da ampla defesa.

7. A rigor, se por ventura houve agressão e havendo vestígio como afirmado na peça
acusatória, mas por outro lado não há exame de corpo de delito, então não estará cumprida a
condição, para averiguar se o crime seria de lesões corporais ou contravenção penal de vias de
fato (art. 21 do Decreto Lei nº 3.688/91).

8. Neste diapasão, o Ministério Público não deve buscar uma punição a qualquer custo,
desprestigiando princípios vetores do Estado Democrático de Direito. 

9. É neste prisma que a jurisprudência se firma:

"Em tema de lesão corporal, indispensável à comprovação da materialidade do crime é a


realização de exame de corpo de delito, não bastando a tal desiderato simples consulta à ficha
hospitalar, ainda que roborada o respectivo auto pela confissão extrajudicial do réu ou pelo
depoimento da vítima e de testemunhas." (TAMG – AC – Rel. Fiúza Campos – RT 504/408)

10. Desta feita, é indispensável para a comprovação da materialidade do crime de lesão


corporal a realização de exame de corpo de delito, porém, esta prova pericial deve ser juntada
aos autos antes da sentença, como ensina Ada Pellegrini Grinover e demais colaboradores, in
'AS NULIDADES NO PROCESSO PENAL". Editora Revista dos Tribunais, página 147:

"De regra, deve o exame de corpo de delito ser feito antes da denúncia, mas isso não é
imprescindível, sendo bastante que a acusação encontre apoio em outros elementos
indiciários. Entretanto, se o processo for instaurado sem o exame, deverá ser ele
necessariamente realizado, sendo o laudo juntado antes da sentença." (grifei)

11. Assim sendo, face ao princípio da verdade real e lealdade processual, impõe-se a
absolvição quanto ao delito de lesões corporais, vez que ausente a prova de materialidade,
com observância do princípio constitucional do contraditório, e conseqüentemente da ampla
defesa.

CRIME DE AMEAÇA e DESOBEDIÊNCIA – Ausência de Dolo Específico

12. Devidamente comprovado por unanimidade dos depoimentos das testemunhas de


acusação, vítima e acusado, que o mesmo encontrava-se completamente embriagado na
ocorrência dos fatos alegados. A palavras lançadas pelo acusado, foram dirigidas ao calor da
emoção no momento em que estava sendo algemado na frente de várias pessoas, conjugada
com o seu estado de embriagues. 

13. A figura típica dos crimes de Ameaça (art. 147) e Desobediência (art. 331), ambos do
Código penal, requer o dolo direto (específico), sendo insuficiente o dolo eventual. 

14. A Jurisprudência tem entendido que a pessoa embriagada, a priori, não pode ser sujeito
ativo do crime de ameaça. Este entendimento se baseia na necessidade da palavra, escrito ou
gesto ter a potencialidade de incutir temor na vítima. 

15. Por certo uma pessoa completamente embriagada não sabe o que diz, e nesse caso,
ninguém reputa sérias as palavras proferidas por alguém neste estado. 

16. Este foi o posicionamento do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,
abaixo transcrita:

"CRIME DE AMEAÇA, INOCORRÊNCIA - ESTADO DE EMBRIAGUEZ - AMEAÇA SÉRIA E


IDÔNEA, INEXISTÊNCIA. ACÓRDÃO Nº 148.516. Relator: Juiz Fernando Habibe. Apelante:
André Santos Silva. Apelado: MPDFT. 

Decisão: Dado provimento ao Recurso para julgar improcedente a acusação e absolver o réu,
unânime. 

Ameaça Verbal. Embriaguez. Inexistência de crime. É penalmente irrelevante, porque carente


da seriedade e idoneidade necessárias para intimidar, a ameaça meramente verbal, que
encerra um fim em si mesma, proferida em estado de completa embriaguez. (APJ
2000011067874-5, TRJE, PUBL. EM 14/02/02; DJ 3, P. 183)" 

17. A ameaça, portanto, deve ser capaz de intimidar a vítima. O estado de embriaguez retira
daquele que ameaça, o dolo específico. Neste sentido decidiu a Seção Criminal do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo, em recurso de apelação, processo nº 1451959/8, 11ª Câmara,
Relator Wilson Barreira, em 25/10/2004, in verbis: 

"Ementa: DESACATO E AMEAÇA - AGENTE EMBRIAGADO QUE, AO SER ABORDADO


POR GUARDAS MUNICIPAIS, PROFERE EXPRESSÕES OFENSIVAS, BEM COMO OS
AMEAÇA POR PALAVRAS E GESTOS - ABSOLVIÇÃO: - EMENTA OFICIAL: - DESACATO -
SUPOSTO ESTADO DE EMBRIAGUEZ - DÚVIDAS ACERCA DA PRESENÇA DO DOLO
ESPECÍFICO - ABSOLVIÇÃO MANTIDA. - DIANTE DO SUPOSTO ESTADO DE
EMBRIAGUEZ DO INCREPADO, QUE RETIRA A CAPACIDADE DE COMPREENDER E
AFASTA O DOLO ESPECÍFICO, É DE RIGOR A ABSOLVIÇÃO PELA ACUSAÇÃO DE
DESACATO. - AMEAÇA - NÃO CARACTERIZAÇÃO - HIPÓTESE. - O DOLO OD ART. 147,
DO CÓDIGO PENAL, EXIGE CERTEZA NA DEMONSTRAÇÃO DA SÉRIA AMEAÇA CAPAZ
DE INFUNDIR VERDADEIRO RECEIO NA VÍTIMA, DE VIR A SOFRER MAL INJUSTO E
GRAVE. INEXISTENTES ELEMENTOS SEGUROS NESTE SENTIDO, DE RIGOR O 'NON
LIQUET'". 

18. Ausente nos autos prova do dolo específico do réu, não há como se impor o Decreto
condenatório.

19. Impositiva a absolvição (art. 386, VI, do CPP), em virtude da observância do princípio do in
dubio pro reo, em dúvida quanto a configuração dos crimes que lhes.
CRIME DE AMEAÇA FEITA CONTRA MENOR CONTRA MENOR

20. Em tese subsidiária, face ao crime de ameaça, imputado ao acusado por ter dirigido o
suposto crime em face do menor, não merece prosperar.

21. É cediço na doutrina e jurisprudência pátria que, figura como vitima apenas a pessoa física,
certa e determinada, capaz, de fato, de entender o mal prometido (nesse sentido: RT 446/418). 

22. Como ameaça apenada em função de sua potencialidade intimidativa, é condição


obrigatória que o sujeito passivo apresente condições de tomar consciência do mal, excluídos
portanto, os incapazes.

DA LESÃO CORPORAL COMETIDA CONTRA O MENOR

23. É cediço que o crime de lesão corporal imputado ao "caput" do art. 129, requer dolo.

24. Outrossim, extrai-se da analise do conjunto fático que, em nenhum momento houve
intenção de agredir a criança. 

25. Se por ventura houver imputação ao crime de lesão corporal a criança, devidamente
constatado por laudo pericial, deve ser desclassificado para o crime de lesão culposa, tendo
em vista que não houve dolo em praticar o delito contra seu filho.

26. Subsume-se do conjunto fático que o acusado e sua ex companheira teriam discutido e que
das supostas agressões, vieram a atingir a vitima, conforme narrado pelo parquet.

27. Nota-se que pela narração dos fatos a conduta dirigida a vitima menor, não se extrai a
intenção de macular a sua integridade física, pelo contrário, se por ventura restar devidamente
comprovado as lesões na referida criança, filho do acusado, estas foram de forma culposa. 

28. Desta feita, em pedido subsidiário, requer a desclassificação do crime imputado ao acusado
pelas acusações contidas no art. 129, "caput" c/c art. 61, II, h, do Código Penal, em face da
segunda vitima ... para o art. 129, §6º.

DO DIREITO QUE POSSUI O ACUSADO À SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE


LIBERDADE APLICADA PELA PENA RESTRITIVA DE DIREITOS.

29. Em restando desabrigadas as teses oras esposadas, requer, o acusado, desde já, a
Substituição da Pena Privativa de Liberdade, por ventura aplicada, por uma ou mais Penas
Restritivas de Direitos, já que preenche todos os requisitos exigidos pelo artigo 44 e seguintes
do Código Penal Brasileiro. 

30. É forçoso reconhecer, como dito, que o ora Acusado atende a todos os citados requisitos
exigidos; a saber: 

A pena privativa de liberdade não ultrapassa 04 (quatro) anos (tendo em vista a natureza do
delito, as circunstâncias do mesmo, bem como a condição do acusado); 
O acusado é primário. 
Não reincidente em crime doloso.
31. Nesse passo, não restam dúvidas de que o acusado, acaso condenado a pena privativa de
liberdade, preenche os requisitos dispostos no artigo 44 e incisos do Código Penal Brasileiro,
tendo direito subjetivo à Substituição da Pena Corporal por ventura aplicada por uma ou mais
Penas Restritivas de Direito. 

DA CONCLUSÃO

Postas tais considerações e por entendê-las prevalecentes sobre as razões que justificaram o
pedido de condenação despendido pelo preclaro órgão de execução do Ministério Público,
confiante no discernimento afinado e no justo descortino de Vossa Excelência, a defesa requer
a ABSOLVIÇÃO do réu, à guisa das teses ora esposadas.

Supletivamente, requer a desclassificação do delito inserto no art. 129, para o delito do art. 21
do Decreto Lei nº 3.688/91, posto ausente a prova de materialidade do crime de lesões
corporais.

Outrossim, requer ainda, em pedido supletivo, a desclassificação do crime imputado ao


acusado pelas acusações contidas no art. 129, "caput" c/c art. 61, II, h, do Código Penal, em
face da segunda vitima ..., para o art. 129, §6º.

Por fim, ultrapassadas as teses supra elencadas, acaso condenado, seja substituído por penas
restritivas de direito, haja vista que o acusado preenche os requisitos dispostos no artigo 44 e
incisos do Código Penal Brasileiro, tendo direito subjetivo à Substituição da Pena Corporal por
ventura aplicada por uma ou mais Penas Restritivas de Direito.

Protesta por todos os meios de provas admitidos em direito. 

Rol de testemunhas que deverão ser intimadas por este H. Juízo:

...

Pede deferimento.

Linhares-ES., 12 de fevereiro de 2009

Dayvid Cuzzuol Pereira 

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