Você está na página 1de 147

LEON ELIACHAR

O homem
ao quadrado
Nota do digitalizador: O autor usa como recurso humorístico a
forma errada de se escrever alguma palavras e a própria
diagramação do livro, que procurei respeitar na medida do
possível.
HUMORISMO é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há
duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que
não consegue fazer rir; o cômico é o que é verdadeiramente trágico
para se fazer.

LEON ELIACHAR
OBRAS DO AUTOR
1922 — POR QUE NASCI — Inédito
1923 — MEUS PRIMEIROS PASSOS — Inédito
1924 — COMO FAZER AMIGOS SEM SUJAR AS FRALDAS —
Inédito
1925 — COMO FAZER FRALDAS SEM SUJAR OS AMIGOS —
Inédito
1926 — MINHA MAMADEIRA, MINHA ALMA — Inédito
1927 — MENINO PRÉ-COICE — Inédito
1928 — ÉRAMOS UM — Inédito
1929 — AS NEVES QUE TE MANJARAM — Inédito
1930/45 — MEUS QUINZE ANOS DE SILÊNCIO — Censurado
1946 — O MAR FOI MINHA RUÍNA — Inédito
1947 — SANGUE, SUOR E RISOS — Inédito
1948 — MEU ENCONTRO COM BB — Inédito
1949 — MINHA LUTA COM CC — Inédito
1950 — UM INCERTO SORRISO — Inédito
1951 — DR. CHICAGO — Inédito
1952 — MAR VIVO — Inédito
1953 — VINHAS DO IRÃ — Inédito
1954 — A VELHA E O LAR — Inédito
1955 — BOM DIA, ALEGRIA — Inédito
1956 — PELE, BOLA E CANELA — Inédito
1957 — EM BUSCA DO TEMPO RECUPERADO — Inédito
1958 — GUERRA E PÁS — Inédito
1959 — OS IRMÃOS CARA-OU-COROA — Inédito
1960 — O HOMEM AO QUADRADO — Editado (até que enfim!)
PÁGINA PARA DEDICATÓRIA

À MINHA MÃE
a que primeiro me viu chorar
e a quem primeiro fiz rir

AGRADECIMENTO

O autor agradece a César a valiosa colaboração, sem a qual não


seria possível a confecção deste livro. Ele é o autor do autor. A César
o que é de César.

PRE...FAÇO
A gente nasce, cresce um pouquinho, vai brincar de esconder com
os meninos da rua, quebra vidraça do vizinho, mamãe chega e põe a
gente de castigo, não dá sobremesa durante uma semana, papai
suspende a matinal do cinema e se a gente facilita ainda vai pra um
colégio interno.
Depois a gente cresce mais um pouquinho, já está na escola
aprendendo uma porção de coisas que a gente não sabia como era nem
por que era, mas acaba sabendo só "como", já que o "por que" a gente
nunca aprende. Isso não se faz, aquilo é muito feio, veja o exemplo de
fulano, que é um homem direito e respeitável. Aí a gente resolve
também ser um "homem direito e respeitável". E acaba sendo
humorista.
Foi assim que abri a porta de casa e saí. Nunca mais voltei. Lá
fora, me diziam uma coisa, eu via outra. Nada importava: já não
precisava das notas mensais para passar de ano. Agora os anos
passariam por mim. Eu só olhava.
Este livro é o meu mundo e o seu mundo — mas como eu o vejo.
Você é até capaz de rir: ou de mim, ou do mundo.
O Autor
SUMÁRIO
De trás para diante, porque
ri melhor quem ri por último

35 CAPITULO FINAL .................. 146


34 COMO FAZER ANÚNCIOS E
INFLUENCIAR PESSOAS
Como se deve anunciar uma aliança .............. 145
Anúncio com erro de revisão...................... 145
T-Vendo ....................................... 144
Elas por Elas ................................... 144
Internacionais .................................. 144
Achados e perdidos .............................. 143
Diversos....................................... 142
A arte de vender ................................ 142
33 TV COMO SE VÊ................ 141
32 FALANDO AO TELEFONE......... 140
31 UM DIA NAS CORRIDAS
Variações sobre o turfe .......................... 139
O equipamento ................................. 137
O jóquei ...................................... 137
O hipódromo .................................. 137
30 A PÁGINA QUE OLHA ........... 136
29 O QUE É CERTO E O QUE É ERRADO ... 133
28 SITUAÇÕES DIFÍCEIS
A carta anônima ................................ 131
As flores........................................ 131
27 MEIOS DE TRANSPORTE
O lotação ..................................... 130
O carro particular ............................... 130
O bonde ...................................... 129
A barca ....................................... 129
O trem....................................... 129
O táxi........................................ 129
26 DEZ PRETEXTOS PARA NÃO TRABALHAR 125
25 PARA LER NO BANHEIRO ............. 126
24 A CRÔNICA ORIGINAL.................. 120
23 DEDICADO AOS PAIS
Desenhos ...................................... 120
Dicionário infantil ............................... 120
Como educar seu filho ........................... 119
22 RASCUNHO .......................... 115
21 CINEMA
Filme em série................................. 113
Galãs ......................................... 112
Torre de Pisa .................................. 111
Isto é Hollywood ............................... 111
Conceitos cinematográficos, pre ................... 110
20 NÁUFRAGOS ......................... 108
19 LIÇÕES DE ESTILO .................... 106
18 AS 10 COISAS MAIS DO ANO ........... 103
17 PARA O FÍGADO ...................... 102
16 A PSICANÁLISE AO ALCANCE DE (QUASE) TODOS
Conheça a sua mulher ........................... 97
Conheça o seu marido ........................... 95
Conheça-se a si mesmo .......................... 92
Psicotestes ..................................... 90
15 PARA RIR NAS ENTRELINHAS ......... 86
14 DO DIÁRIO DE UM (QUASE) LOUCO ... 84
INTERVALO .......................... 80
13 b COMO SE CONQUISTA UMA MULHER .. 76
13 a MULHER — UM CAPITULO À PARTE
A parte mais cara da mulher está na etc. etc. etc..... 76
A mulher nunca se cansa de etc. etc. etc........... 75
A mulher não tem a idade que etc. etc. etc......... 74
Mulher que se preza não mente: inventa etc. etc. etc. 73
A mulher só quer o que outra mulher diz que etc. etc. 72
A mulher sabe quando, quanto e como usar etc. etc. 71
O homem inventou o suicídio mas a mulher etc. etc. 70
Mais vale dois carros na contramão do que uma
mulher etc. etc..................................... 69
A mulher não se conforma que ninguém se conforme
com etc. etc.................................... 67
A mulher custa um "sim" de entrada e vários etc. etc. 66
13 HUMOR CONCRETO
Turfe 65
Trânsito 61
Semana da asa 60
Encontro com mulheres .......................... 59
Brincando com a máquina ....................... 56
Poesia moderna ................................. 56
12 A MESMA PIADA
Pra ler no jato ................................ 55
Pra ler no WC ................................ 55
Pra ler no ônibus .............................. 55
Pra ler no bonde .............................. 54
Pra ler no avião ............................... 53
11 PARA LER DEITADO
Piadinhas à minuta .............................. 51
O fim ......................................... 51
Tipos ......................................... 50
Psiquiatra ..................................... 50
Os 5 motivos básicos do casamento ................ 49
Apenas frases ................................... 48
10 A VERDADE É UMA SÓ: TODO MUNDO MENTE................. 46
9 ASSINATURAS DO AUTOR ............. 44
8 CONSULTÓRIO SENTIMENTAL ......... 40
7 HUMOR NEGRO
Os 5 mandamentos da aeromoça ............:.... 39
A arte de voar ................................. 38
O homem que viveu por procuração ............... 38
Epitáfios ...................................... 37
6 SEU TOSTÃO VALE UM MILHÃO....... 34
5 DATILÓGRAFAS ...................... 31
4 DICIONÁRIO DE BOLSO ............... 24
3 TESTES
Quem matou o milionário? ....................... 23
Sem resposta.................................... 22
Com resposta ................................... 21
Com qual das duas? ............................. 21
Caracol ....................................... 20
Como atravessar o rio? ......................... 18
Qual foi a idéia? ............................... 18
2 CONTOS
A mosca...................................... 17
A operação .................................... 16
Indiferença .................................... 16
O poderoso .................................... 15
O ladrão ...................................... 13
Violência ...................................... 13
A mulher exemplar .............................. 12
O encontro .................................... 12
A dúvida...................................... 12
A máquina .................................... 11
Quarto de hotel................................. 11
Os seis "gangsters" de Chicago .................... 10
O judeu ....................................... 10
1 SEM MODÉSTIA À PARTE.............. 8
1
SEM MODÉSTIA À PARTE
POR ALTO, BIOGRAFIA

Nasci no Cairo, fui criado no Rio;


sou, portanto, "cairoca". Tenho
cabelos castanhos, cada vez menos
castanhos e menos cabelos.
Um metro e 71 de altura,
64 de peso, 84 de tórax
(respirando, 91), 70 de cintura e
6,5 de barriga.
Em 1492, Colombo descobriu a
América; em 1922, a América me
descobriu. Sou brasileiro desde
que cheguei (aos dez meses de
idade), mas oficialmente, há
uns sete anos: passei 35 anos
tratando da naturalização.
Minha carreira de criança começou
quando quebrei a cabeça, aos dois
anos de idade; minha carreira
de adulto, quando comecei a fazer
humorismo (passei a quebrar
a cabeça diariamente). Tive
vários empregos: ajudante de
balcão, ajudante de escritório,
ajudante de diretor de cinema,
ajudante de diretor de revista,
ajudante de diretor de jornal.
Um dia resolvi ajudar a mim
mesmo sem a humilhação de
ingressar na política: comecei a
fazer gracinhas — fora da Câmara.
Nunca me dei melhor.
Meu maior sonho é ter uma casa
de campo com piscina, um iate,
um apartamento dúplex, um corpo de
secretárias, um helicóptero, uma
boa conta no banco, uma praia
particular e um short. Por
enquanto já tenho o short.
Sou a favor do divórcio, a favor do
desquite e a favor do casamento.
Sem ser a favor deste último não
poderia ser dos primeiros. Sou
contra o jogo, o roubo, a corrupção
e o golpe; se eu fosse candidato,
isso não deixaria de ser um grande golpe.
O que mais adoro: escrever cartas.
O que mais detesto: pô-las no
Correio. Minha cor preferida é a
morena, algumas vezes a loura.
Meu prato predileto é o prato fundo.
O que mais aprecio nos
homens: suas mulheres — e nas
mulheres, as próprias. Acho a
pena de morte uma pena.
Não sou superticioso, mas por via
das dúvidas evito o "s" depois do
"r" nessa palavra. Se não fosse
o que sou, gostaria de ser humorista.
Trabalho vinte horas por dia, mas,
felizmente, só uma vez por semana;
nos outros dias, passo o tempo
recusando propostas — inclusive de
casamento. Acho que a mulher
ideal é a que gosta da gente como
a gente gostaria que ela gostasse
— isso se a gente gostasse dela.
Para a mulher, o homem ideal
é o que quer casar. Mas deixa
de ser ideal logo depois do casamento,
quando o ideal seria que não deixasse.
Mas isso não impede que eu seja,
algum dia, um homem ideal.
2
CONTOS
O JUDEU
Faltavam apenas 6 cruzeiros e 50 centavos para ele descer do táxi.
Já eram 80 cruzeiros da noite e ele ainda, não havia feito um bom
negócio. Entrou num restaurante e comeu 18 cruzeiros; tomou 08
centavos de café e saiu 10% mais tarde. Na rua encontrou uma
belíssima mulher, trajada com 48 000 cruzeiros de jóias. Há mais de 2
milhões de cruzeiros que não via uma mulher tão elegante. Convidou-
a para um cinema. Ela regateou um pouco, mas por fim cedeu.
Sentaram-se primeiro numa confeitaria e bateram um papo de 25
cruzeiros. Depois assistiram a 12 cruzeiros de CinemaScope:
namoraram 6 cruzeiros de entrada e o resto a longo prazo. Um dia,
decorridos 85 000 cruzeiros de vida em comum — terminaram tudo, à
vista.

OS SEIS GANGSTERS DE CHICAGO

O primeiro gangster chegou na janela, apontou a metralhadora


para a rua: BANG — BANG — BANG — BANG — BANG — BANG —
BANG — BANG — BANG — BANG!
O segundo gangster escondeu-se atrás do prédio da esquina e
reagiu imediatamente: BENG — BENG — BENG — BENG — BENG
— BENG — BENG — BENG -- BENG!
O terceiro gangster surgiu no prédio em frente e começou a atirar:
BING — BING — BING — BING — BING — BING ---- BING ----
BING — BING — BING — BING!
Foi quando se ouviu, lá no terraço, o quarto gangster em ação:
BONG — BONG — BONG — BONG — BONG — BONG — BONG —
BONG — BONG — BONG -- BONG!
O quinto gangster saiu do banco empunhando a sua metralhadora
de mão e atirou nos policiais que cercavam o prédio: BUNG — BUNG
— BUNG — BUNG — BUNG — BUNG — BUNG — BUNG —
BUNG — BUNG — BUNG!
O sexto gangster ficou completamente impassível porque não
havia mais vogais.
QUARTO DE HOTEL
Quando o gerente, atendendo à reclamação dos outros hóspedes,
chegou à porta do 505, ouviu exatamente" um homem" e uma mulher
falando em voz alta. Dizia o homem: "meu amor", respondia a mulher:
"my love"; dizia o homem "minha querida", respondia a mulher "my
darling"; dizia o homem "minha vida", respondia a mulher "my life";
dizia o homem "meu sonho", respondia a mulher "my dream". Foi aí
que o gerente^se irritou, usou a chave-mestra, invadiu o apartamento
para tomar uma atitude. Foi então que o gerente ficou com uma cara
deste tamanho, quando o professor pediu licença à sua aluna e lhe
perguntou se também queria aprender inglês.

A MÁQUINA
Diante do gigante de aço, um homem gesticulava:
— Como o senhor está vendo, esta máquina faz tudo ao mesmo
tempo. Este tubo aqui exala um ar quente que, em contato com o
monóxido de carbono que passa por esse outro tubo, impulsiona
esse pequeno gancho que fricciona essa pedrinha aqui, provocando a
faísca que inflama o combustível. Este desce por esse cano e vai
impulsionar os motores que giram a uma velocidade de 3 728 rotações
por segundo. Estes pratos provocam um calor que movimenta estes
motores que funcionam a jato, enquanto que este dínamo gera
eletricidade própria. Tudo funcionando normalmente, produz um
resultado consideravelmente satisfatório, pois essa máquina fabrica
1100 pães de forma por minuto, 350 mostradores de relógios, 810
alfinetes de cabeça, 25 máquinas de escrever, 986 cabos de vassoura,
além de pequenos pares de peças para aviões bimotores.
O visitante ficou boquiaberto:
— Mas isso é fantástico! E como é que se faz funcionar essa
máquina?
O inventor esfregou as mãos de contente e respondeu:
— Muito simples. Basta apertar esse botãozinho aqui.
O visitante, cheio de curiosidade, quase que implorando:
— Então, o senhor podia me dar uma demonstraçãozinha?
O inventor, mudando a fisionomia, completamente triste:
— Infelizmente ainda não descobri como fazer funcionar este
maldito botão.
A DÚVIDA
O marido já não acreditava mais naquela história de dentista.
Primeiro, era uma vez por semana, depois passou a três e agora era
todo dia.
A desculpa não variava nunca:
— Querido, hoje vou ao dentista.
Foi por isso que resolveu tirar tudo a limpo. Quando a esposa se
arrumou e saiu, ele resolveu segui-la. Meia hora depois entrava num
prédio, pegava um elevador e entrava num consultório de dentista. Foi
aí que ele passou a dormir calmamente e a viver tranqüilo. E foi aí que
ela passou a ter mais liberdade de traí-lo com o dentista.

O ENCONTRO
O telefone tocou, ele atendeu, marcaram encontro. Fez a barba,
tomou banho, vestiu-se. Há uma semana que não via a noiva e hoje
era domingo, dia de ir ao cinema com ela. Apertou o botão, esperou o
elevador, desceu, alcançou a rua e foi esperar o ônibus. Fez baldeação
e chegou lá duas horas depois. Meyer. Ainda teve de esperar quarenta
minutos para que ela acabasse de se arrumar. Sua futura sogra serviu-
lhe um cafezinho na varanda, seu futuro sogro conversou com ele
sobre a situação internacional, depois leu um jornal, depois ela
apareceu. Saíram apressados. O cinema era logo ali na esquina. Foram
correndo. Ele entrou na fila e ela ficou esperando perto da portaria.
Trinta e oito minutos depois ele apareceu com os ingressos na mão.
Entraram. No salão escuro o vagalume indicou: "um lugar". Ela então
correu e sentou.

A MULHER EXEMPLAR
Antes de tudo, linda. Esbelta. Elegante. Um olhar inteligente.
Lábios frescos, bem vermelhos. Pele rosada. Cabelos castanho-claros.
Jóias caríssimas. Não fumava. Não bebia. Não jogava. Centenas de
pessoas paravam para admirá-la. Era discutida. Na maioria das vezes
elogiada. Enaltecida. Permanecia impassível. Indiferente. Seus olhos
azuis pareciam brilhar de orgulho. Incapaz de dar um sorriso para
quem quer que a fitasse. Era um quadro.

VIOLÊNCIA
Segurou a moça pelo braço e fê-la deitar-se. Depois deu-lhe vários
puxões no pescoço. Ela gritou. Ele não teve a menor reação. Passou a
dar-lhe tapas no rosto. Ela tentou retirar-se, mas ele segurou-a
violentamente e colocou-a de costas. Puxou-lhe as pernas, os braços, e
começou a dar-lhe socos nas costas. Depois de algum tempo, disse
apenas:
— Agora pode ir.
Era massagista.

O LADRÃO

Acabou de ler a notícia do assalto do dia, amassou o jornal e


deixou-o cair no chão, já a caminho da bilheteria do cinema.
— Me dá meia.
Até a carteirinha de estudante era falsificada, mas já era a sétima
vez, naquela semana, que havia entrado com ela.
Desta vez estava um pouco trêmulo, com receio que o porteiro lhe
descobrisse nos olhos o que lhe ia na mente. Sua maior preocupação
era fazer aquele ar de despreocupado, evitar aquele jeito de suspeito
de bandido de fita policial. Essa era a parte mais difícil do plano. O
resto estava ali, na tela, dando sopa, pra quem quisesse aprender. Fita
policial, não perdia uma. Algumas eram bobas, infantis mesmo, mas
outras, como esta que ia ver de novo, eram muito bem feitas. Nunca
havia visto um assalto tão perfeito quanto esse; o que precisava evitar
era apenas o fim da fita, em que o gangster é apanhado pelo FBI. Mas
isso era difícil; primeiro porque aqui no Brasil não tem FBI, segundo
porque só mesmo um sujeito tão idiota voltaria ao local do crime para
apagar um "vestígio". Só rindo mesmo, essa não! Com ele o negócio
ia ser diferente: todo o plano e toda a sua execução já estavam
decorados, inclusive os menores detalhes, como aquele do serrote
silencioso. Até isso ele já mandara fazer. E o melhor de tudo é que era
um assalto exclusivamente cerebral: bastava uma pessoa. O perigo de
parceria (isso ele já estava farto de ver) é que um é sempre apanhado e
acaba delatando os outros. Fazer tudo sozinho era mais difícil, porém
mais seguro. Era preciso ter coragem, sangue-frio e, sobretudo, muita
presença de espírito para qualquer eventualidade que não estivesse
dentro do previsto.
Acendeu um cigarro, fez aquela pose de displicente, não muito
forçada que pudesse ser notada, mas também não tão leve que
ninguém deixasse de perceber a sua displicência. Especialmente o
porteiro, pois a este é que interessava dar aquele ar de pouco caso.
Afinal, fora tantas vezes ao cinema, aquela semana, que já marcara a
fisionomia do porteiro; era possível também que o porteiro houvesse
marcado a sua. Deu uma baforada mais longa, espichou a mão com o
ingresso, e passou, sentindo na nuca o olhar fixo do porteiro. Estaria
desconfiado de alguma coisa? Mas como? Não se pode mais ir ao
cinema? Bolas, vou quantas vezes quiser e ninguém tem nada com
isso... — pensou. E mergulhou na sala de projeção, procurando
proteger-se na escuridão.
A fita já havia começado, mas isso não tinha a menor importância,
porque a história, ele já a sabia de cor e salteado. O que interessava
mesmo era a cena do assalto. A esta sim, ele precisava dar o máximo
de atenção, mesmo porque era o último dia da fita em cartaz. Depois,
só Deus sabe em que cinema do subúrbio ela iria passar, e ter de ir ao
subúrbio só pra ver a fita de novo era muito humilhante; já bastava ter
nascido lá. Tateou um pouco, entrou numa fila qualquer, foi
esbarrando em alguns joelhos, sentou numa cadeira. Sentiu-se
inteiramente só, até que seus olhos se acostumaram à escuridão; foi
então que percebeu que havia uma multidão de pessoas ao seu redor.
Mas era como se estivesse só, pois estavam todos com a atenção presa
na fita; ia começar a cena do assalto. O gangster escorregava por um
telhado escuro, pulava em cima de uma árvore, pendurava-se num
galho e saltava num terreno baldio. Tudo escuro; apenas o luar macio
fazia reluzir em sua mão o cano de um revólver. Era preciso estar
prevenido para o que desse e viesse. A escuridão da cena fazia com
que ele se sentisse mais à vontade, mais sozinho para viver a emoção
do personagem. Sentia-se o próprio protagonista da história, já
antecipando as emoções que teria ao viver a sua própria façanha. Um
close-up do gangster mostrava, propositadamente, o suor em seu
rosto. Puxou um lenço do bolso e passou por sua testa; ele também
suava. Moveu a cabeça para os lados para ver se alguém o observava.
Sentiu que uma cara ao lado o condenava. Talvez fosse impressão,
seria certamente uma repreensão muda por ele ter-se mexido na
cadeira. Fingiu que não viu, continuou observando a fita: agora o
gangster cavava um buraco e enterrava o revólver no chão justamente
no momento em que se ouviam passos e o gangster se escondia atrás
de uma moita. No cinema, eles sempre procuram emocionar a platéia
com esses pequenos incidentes: na vida real, nada disso acontece,
porque se acontecer será fatal. Percebeu que uma senhora na frente
deu um suspiro e mexeu a cabeça. Inclinou o corpo para' o lado e
sentiu tocar no braço do sujeito que o havia olhado firme, momentos
antes. Retirou o braço depressa, fixou os olhos na tela. Era preciso
prestar atenção, muita atenção, especialmente no detalhe do tempo:
toda a operação do assalto não durava mais de dois minutos e meio.
Isso era muito importante. Um big-close-up focalizou o relógio do
gangster: 23 horas em ponto. Instintivamente olhou para o pulso, não
tinha relógio. Era preciso arranjar um relógio. Seus olhos pousaram no
pulso do homem que estava ao seu lado. Uma idéia lhe ocorreu, mas
tentou apagá-la, com receio que estivesse sendo visto o seu raciocínio.
Moveu-se de novo na cadeira, outra vez foi encarado pelo homem ao
lado.
Virou o rosto, cruzou as pernas. Descruzou novamente. Deu a
entender que estava nervoso por causa do filme. O homem o estava
encarando. Decidiu mudar de lugar, fez pressão sobre o braço da
poltrona, mas, propositadamente, deixou sua mão escorregar até o
pulso do homem. Pediu desculpas, enquanto saía, já com o relógio
entre os dedos. O homem do lado saiu na direção oposta. Suspirou,
aliviado, reintegrou-se no filme. Uma lanterna iluminou sua face,
como se estivesse sendo acusado de alguma coisa. E estava: dois
homens o fitavam, um deles pediu que saísse sem provocar escândalo.
Tentou sair pelo outro lado, mas um joelho forte impediu sua
passagem, enquanto uma voz ordenava: está preso!
Que azar, roubar logo o relógio de um investigador.

O PODEROSO

Havia no mínimo trezentas pessoas falando, gritando. Um verdadeiro


comício. Ele chegou mais perto e fez um pequeno gesto com o dedo.
Bastou isso para que todos fossem embora e se fizesse o mais
completo silêncio. Mas não tardou muito. Uma mulher começou a lhe
dar conselhos, que não devia fazer isso, que afinal de contas isso não
era atitude que se tomasse, que agisse com mais calma, que tivesse um
pouquinho de paciência, que fosse mais condescendente. Aí ele não
agüentou mais. Moveu novamente o dedo e desligou o rádio.
INDIFERENÇA

Aquela multidão de gente corria para ele. Subitamente, pararam todos.


Alguém adiantou-se e lhe pediu,-por misericórdia, que arranjasse
emprego para aquela gente. Afinal, eles só queriam ganhar o pão de
cada dia. Estavam com fome. Ele ficou impassível. A multidão ajoe-
lhou-se. Algumas senhoras, com as crianças no colo, chegaram a
chorar. Ele continuou indiferente. Uma velhinha veio caminhando em
sua direção e caiu. Alguém lhe disse que estava morta. Ele não falou
nada. Aproximou-se então uma menina de seus dezesseis anos,
ajoelhou-se diante do corpo da anciã e caiu em prantos. Aquele choro
brutal, tétrico, tocou-lhe o coração. Foi aí que se levantou e tomou
uma atitude: saiu do cinema.

A OPERAÇÃO
Quando me deitei na maça que me conduziu à sala de operações,
confesso que tremia de medo. Eram 12 horas e 45 minutos e a
operação estava marcada para as 12 e 50. O médico se aproximou de
mim e me garantiu que era uma coisa muito simples, que não tivesse
receio.
Quando recebi a primeira injeção de anestesia, senti o peito
adormecer. Foi então que o médico me explicou que era a primeira
vez que fazia uma operação no coração com anestesia local. Dessa
experiência poderiam resultar grandes benefícios para a cirurgia. Suei
frio.
Quando o médico passou com o bisturi por cima do meu rosto,
tive a impressão de estar vendo um assassino com um punhal na mão.
Tive vontade de impedir o seu gesto, lhe dizer que estava arrependido
de tudo. Eu estava completamente tonto.
Quando um dos assistentes arregalou os olhos para mim, tremi de
medo. Haviam mandado chamar outro médico e os três se reuniram
num canto da sala. Folhearam um livro, todos com as mãos trêmulas,
e um deles marcou uma página, largou os outros de lado, pegou o
bisturi e partiu furioso para mim. Fechei os olhos, fingi que estava
dormindo. Talvez eles ficassem com pena. Foi então que o meu
coração enfraqueceu até sumir.
Quando acordei, os três médicos haviam tirado as máscaras. Uma
enfermeira loura sorria para mim. Cobriu-me com um lençol, percebi
então que o teto estava andando. Tentei levantar-me, ela me acariciou
o rosto, fez-me engolir uma pílula, disse-me que devia repousar.
Depois chegou um enfermeiro mal-encarado, colocou-me numa
cama de ferro, fez anotações numa ficha. Olhou para um sujeito
barbudo que estava sentado numa cadeira e disse claramente: "Acho
que escapa".
Daí em diante, não me lembro de mais nada, São Pedro!

A MOSCA

A mosca saiu do açucareiro.


Zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz
zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz.
Pousou numa xícara. O homem espantou-a com a mão.
Zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz zzzzzzzzzz
zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz.
Parou perto de outra mosca. Conversaram!
— Zzzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz!
— Zzzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz?
— Zzzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz zzzzzzzzz. . .
— Zzzzzzzzzz zzzzzzzzz!
— Zzzzzzzzzz zzzz!
— z.
E voltaram as duas.
Zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz
zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz.
O homem tornou a afastá-las.
Zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zz zzzz zz zz zz zz.
Elas tornaram a voltar. Agora eram três.
Zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz zzz.
O homem levantou e foi embora.
Moral: é mais fácil uma mosca espantar um homem do que um
homem espantar uma mosca.
3
TESTES

QUAL FOI A IDÉIA?


De toda a caravana, sobraram apenas dois. Profissão: revisores.
Restavam ainda alguns milhares de quilômetros' para completarem a
travessia do deserto. A sede aumentava à proporção que diminuíam as
possibilidades de salvação. Apenas duas gotas d'água. Até os camelos
haviam sucumbido, o que demonstrava a sua extraordinária resistência
física. A impressão de que iam morrer torrados já ia longe; agora a
certeza já lhes marcava a pele. Dividiram as duas gotas d'água, uma
para cada um. Sua esperança era que passasse uma carrocinha de
coca-cola, a que está em todas. Mas nem isso. De repente, um deles
teve uma idéia, quando viu uns ossos. E assim conseguiram se salvar.
Você sabe qual foi a idéia?

Resposta: Sendo ambos revisores, trataram logo


de corrigir os ossos para oásis

COMO ATRAVESSAR O RIO?

Um caçador chega à beira de um rio e não pode atravessá-lo de


maneira alguma: não havia uma embarcação, não havia o menor
recurso para fazer uma ponte. Tampouco podia recuar, pois —
impedindo a sua volta — havia gigantesca cascavel fitando-o
fixamente. E ele não tinha sequer uma arma para matá-la. Atravessar o
rio a nado seria suicídio certo, pois as piranhas o devorariam em
poucos segundos. Mas o fato é que ele conseguiu atravessar o rio.
Você sabe como resolveu o caçador esta "situação"?

Resposta: Esperou a cascavel dar o bote, pegou


rapidamente o bote e atravessou o rio.
Este espaço não vale um caracol?
COM QUAL DAS DUAS?
Brigite e Caroline eram vizinhas e muito amigas. Acontece que
ambas conheceram Leon no mesmo dia e ambas lhe deram o telefone
para convidá-las a um passeio. Sabendo-se que as duas eram bonitas e
jovens, com qual das duas saiu Leon no dia seguinte?

Resposta: Com Brigite. Não discuta a lógica desta


resposta, pois o Leon do teste era eu.

TESTE COM RESPOSTA

Saíram no mesmo carro para Petropolis e chegaram no mesmo


carro, com uma diferença de meia hora de um carro para b outro. Por
quê?

Resposta: O relógio de um estava atrasado.


TESTE SEM RESPOSTA

Isto é um quadro que custa os olhos da cara ou uma cara que custa
os olhos do quadro?
QUEM MATOU O MILIONÁRIO?
Quando o detetive John High chegou ao local do crime, olhou
rapidamente o quarto desarrumado e chegou a uma conclusão. No
centro do quarto, sobre um tapete verde, o corpo do milionário
Shmiler estava estendido, com um punhal cravado nas costas. Não
havia o menor indício de luta. Apenas o pickup continuava em
movimento no fim de um disco que continuava girando. Ao lado da
vitrola, sobre o aparelho de televisão, havia um retrato com uma
dedicatória: "Para o meu único amor, Wilma". Não tinha data. Sobre
uma cadeira, havia um pedaço de papel e uma caderneta de telefones
aberta na letra "L": Lionel, Lipton, Lamberg, Livingston, Lerner,
Lindade, Lawerson, Lawrence. O detetive segurou o caderno com
um lenço.
Examinou os nomes e
exclamou: "quem ma-
tou o milionário foi
Lawrence". E
realmente, dias depois,
a polícia prendia
Lawrence. Pergunta-se:
você sabe por que o
detetive John High
chegou a esta
conclusão tão rápida?

Resposta:Porque viu o dedo apontando o


nome de Lawrence.
4
DICIONÁRIO DE BOLSO
Adiar — é essa atitude que estamos sempre tomando daqui a
pouco.
Adultério — é isso que liga três pessoas sem uma saber.
Agiota — é esse sujeito que ganha a vida alugando dinheiro.
Aliança — é isso que sai de uma mão para outra e consegue
arrastar um homem.
Ama-seca — quem ama o molhado, seco lhe parece.
Aniversário — comemoração que sempre fazemos com menos
um ano de entusiasmo.
Armário embutido — é um pedaço da nossa casa que entra pelas
paredes.
Baliza — uma rede com goleiro e um fotógrafo atrás. O goleiro
perde as melhores bolas e o fotógrafo as melhores chapas.
Biombo — é isso que separa uma curiosidade de um lado e um
assustado de outro.
Biquíni — é um pedaço de pano cercado de mulher por todos os
lados.
Boxe — é esse esporte em que um milhão de indivíduos brigam de
graça por causa de dois sujeitos que brigam por dinheiro.
Boxeador — sujeito que se prepara durante oito horas por dia
para se deitar na lona durante dez segundos.
Buzina — é esse ruído que irrita o motorista da frente quando o
de trás já está irritado.
Cabeleireiro — é esse sujeito que primeiro muda a fisionomia da
mulher e depois a do marido.
Cabotino — é esse sujeito que consegue transformar qualquer
assunto numa autobiografia.
Cabotino — sujeito que não encontra assunto para colocar entre
dois eu.
Cadeira de balanço — é essa cadeira que a gente tem que ficar
empurrando pra frente e pra trás para ter a sensação que está
descansando. •
Camelô — um susto cercado de curiosidade por todos os lados.
Camelô — é esse sujeito que passa a metade do dia explicando
aos curiosos como funciona o seu balangandã e a outra metade à
polícia como funciona o seu negócio.
Canhoto — sujeito que só escreve direito com a mão esquerda.
Cartão de visita — pequeno mostruário de nossas vaidades.
Cartório — lugar onde se reconhecem firmas completamente
irreconhecíveis.
Certidão de nascimento — documento que a gente é obrigada a
mostrar para provar que nasceu.
Cigarro — é a única coisa que não acaba no fim.
Clips — é esse grampinho que ajuda a gente a perder mais de um
documento.
Cobrador — é esse sujeito que nunca tem a sorte de encontrar
alguém em casa.
Confidencia — é isso que a gente diz a todo mundo pra não dizer
a ninguém.
Confissão — limpeza que fazemos na nossa consciência tendo o
cuidado de deixar sempre um pequeno saldo.
Convenção social — é o fato de um indivíduo segurar uma
pequena todinha e depois ir ao pai dela pedir a sua mão.
Coquetel — grupo de pessoas dividido em vários grupinhos.
Corista — o mínimo de cabeça no máximo de pernas.
Crédito — é esse lucro que o comerciante divide em parcelas.
Cruzamento — sinal luminoso cercado de palavrões por todos os
lados.
Datilografa — funcionária que tem agilidade nos dedos mas
impressiona mais com os joelhos.
Delicadeza — quatro sujeitos cansadíssimos diante de uma
cadeira vazia.
Democracia — é esse sistema de governo em que todos
concordam em discordar um do outro.
Dentista — sujeito que ganha a vida com o suor do rosto alheio.
Desastre — encontro pontual de dois veículos.
Devedor — sujeito que tem a habilidade de nunca estar em lugar
nenhum.
Discussão — é isso que começa quando duas mulheres chegam a
um acordos uma terceira está ouvindo.
Displicente — sujeito que passa o dia inteiro preocupado em
aparentar displicência.
Dívida — é uma desculpa a longo prazo.
Elevador — é esse compartimento tão pequeno onde as pessoas
são obrigadas a entender-se por meio de números.
Empresário — sujeito que vive à custa do talento alheio.
Esquecimento — desculpa que nos dão e que nunca mais
esquecemos.
Fatalidade — tudo aquilo que a gente só prevê depois que
acontece.
Fechadura — buraco mais freqüentado por um olho do que por
uma chave.
Filante — sujeito que só traz cigarro no bolso dos outros.
Gorjeta — vergonha que a gente deixa em cima da mesa em
forma de dinheiro.
Gráfico — é esse risco que corre para cima e para baixo dentro de
uma firma, até acabar o risco ou até acabar a firma.
Gravata — forca da elegância.
Guarda de trânsito — sujeito que só começa a trabalhar quando
é posto na rua.
Herói — é esse sujeito que teve a sorte de escapar vivo.
Hipócrita — indivíduo que faz tudo para parecer que é aquilo que
ele pensa que nós pensamos que ele é.
Horóscopo — é isso que a gente consulta sempre pra ver o que
vai acontecer amanhã, mas amanhã a gente só se preocupa novamente
com o que vai acontecer amanhã.
Imbecil — sujeito que nunca concorda conosco ou então concorda
sempre.
Improviso — capacidade de decorar mentalmente.
Indecisão — espaço de tempo que o nosso pé leva do acelerador
ao freio diante do sinal amarelo.
Indiferença — é isso que as mulheres começam a aparentar
quando já não estão indiferentes.
Intermediário — é esse sujeito que faz a ligação entre dois
interesses, visando exclusivamente ao seu.
Irritação — curto-circuito no sistema nervoso.
Jingle — musiquinha que repete três vezes as mesmas palavras, as
mesmas palavras, as mesmas palavras.
Jogador — sujeito que de tanto jogar acaba mais marcado do que
o baralho.
Kilograma — medida que depois que passou a ser escrita com
QU não conseguiu pesar mais de 900 gramas.
Lenço — pecinha que o homem traz sempre duas no bolso: uma
para oferecer à mulher, quando ele sai, e outra para apresentar à
mulher, quando ele volta.
Louco — sujeito que cisma que é Napoleão, desde os tempos de
Napoleão, que foi o único verdadeiro, vai dizer que não fui.
Luva — peça que a mulher experimenta diversas vezes até
encontrar uma que se ajuste bem nos seus dedos, depois passa a usá-la
fora da mão.
Manchete — é isso que sai em cima com letra grande para vender
o jornal; assim o jornal pode vender a outra manchete que sai com
letra menor.
Manicure — é essa pequena a quem a gente tem sempre de dar
uma mãozinha para ela trabalhar.
Mata-borrão — isso que absorve melhor do que ninguém as
nossas palavras.
Mecânico — sujeito que nos toma a diferença que conseguimos
quando compramos um carro mais barato.
Menu — isso que a gente lê várias vezes pra ver o que tem e pedir
o que não tem.
Mesa-redonda — discussão de vários problemas pessoais para
resolver um comum.
Intruso — justamente isso: uma palavra que começa com "i" sair
na letra "m".
Miss — pequena que divide p seu tempo entre o maio e a fita
métrica.
Modéstia — vergonha que temos de reconhecer que somos
realmente os maiores.
Modesto — sujeito que se aborrece conosco se concordarmos
com ele em achá-lo uma besta.
Mulher — amontoado de palavras numa embalagem de carne e
osso.
Namoro — passatempo a quatro mãos.
Noivado — período de desajustamento antes do casamento.
Oba — palavra que todo revistógrafo brasileiro usa para encerrar
o seu show musicado. Na Espanha se usa OLÉ e nos Estados Unidos,
IUHU.
Ópera — conjunto de pessoas que praticam os maiores desatinos
cantando.
Orador — sujeito que quando abre a boca faz todo mundo fechar
os olhos.
Palavrão — equipamento mais importante do motorista.
Patrocinador — único sujeito que paga para ouvir seus
programas.
Perdão — melhor maneira de esquecer o erro do próximo até a
primeira oportunidade.
Pêsames — palavras de gentileza sempre recebidas com a cara
fechada.
Plágio — outro sujeito ter tido a nossa idéia primeiro.
Pontualidade — coincidência de duas pessoas chegarem com o
mesmo atraso.
Problema — é isso que a gente tem e pede prós outros resolver
mas os outros também têm e pedem pra gente resolver.
Procurador — é esse sujeito que passa o dia inteiro nos
procurando para saber qual a atitude que deve tomar em nosso lugar.
Promissória — intervalo entre uma assinatura e um milhão de
desculpas.
Quadro-negro — é esse quadro que sempre sai branco nos
desenhos.
Quarto de hora — são esses quarenta minutos que a namorada
nos pede para retocar a pintura no toalete.
Quinta-feira — dia em que percebemos que não fizemos esta
semana tudo o que vamos deixar para a semana que vem.
Rascunho — é o que a gente escreve cinco vezes de forma
diferente em cima do mesmo papel e quando vai passar a limpo não
entende mais o que escreveu.
Recibo — comprovante que a gente guarda toda a vida pra provar
que pagou e só dão de duvidar que não pagamos no dia em que
resolvemos rasgá-lo.
Rede — coisa que só pára de balançar quando a gente dorme.
Regente — sujeito que só enfrenta o público de costas.
Relógio de pulso — algema que nos prende apenas por um pulso.
Renúncia — gesto que se torna nobre porque não há outro jeito.
Reta — uma curva cortando caminho.
Retrato — isso que a gente fica por conta quando não sai
parecido e mais por conta quando sai.
Retrocesso — tecla que não entra no curso de datilografia mas
que os datilógrafos acabam usando mais.
Revólver — isso que traz sempre um valente atrás do cabo e um
covarde na frente do cano.
Rotina — é esse esforço que a gente faz diariamente para sair da
rotina.
Sacrifício — pequena cota do nosso "eu" que depositamos- na boa
fé alheia para sacar com juros.
Saldo — grande estoque que encalha e o comerciante resolve
vender uma peça de cada vez.
Sapato — condução de pobre.
Saudade — retrocesso do pensamento.
Secretária — moça que arruma a vida do patrão e desarruma a da
patroa.
Segredo — isso que vai rolando de ouvido em ouvido e volta
sempre com mais detalhes.
Sexo — coisa que antes de Freud era indecência; depois,
psicanálise.
Sinal luminoso — é isso que abre precisamente com a buzina do
carro que está atrás do nosso.
Striptease — uma mulher vestida de olhos.
Suéter — é essa peça de lã que as mulheres usam para fazer os
homens suarem.
Tatuagem — mapa de recalques. Táxi — é esse meio de
transporte que só quer nos levar para o lado contrário de onde
queremos ir.
Teatro — é esse lugar onde a gente está sempre desejando que os
atores falem mais alto e os espectadores mais baixo.
Teatro — recinto onde algumas pessoas passam horas
pigarreando no palco para uma multidão que fica tossindo na platéia.
Técnico — sujeito que se especializa em não entender nada de
apenas uma matéria.
Telegrama — a única forma da gente dizer alguma coisa medindo
as palavras.
Televisão — aparelho que se coloca no meio da sala para as
visitas fingirem que estão vendo justamente na hora em que o dono da
casa finge que está querendo conversar.
Ternura — massagem em long-play.
Tintureíro — equilibrista que anda montado numa bicicleta com
um cabide de um lado e um ônibus do outro.
Túmulo — último buraco em que o indivíduo se mete.
Um quilo — são as 900 gramas de mercadoria que ficam no outro
prato da balança.
Urna — caixinha onde uma porção de gente coloca um
papelzinho para fazer sorteio e às vezes o azar é tanto que sai um
presidente.
Vaga — é esse espaço que um automóvel consegue fazer entre
dois automóveis.
Velhice — infância fechando o círculo vicioso. -
Vício — o que sempre estamos fazendo pela última vez.
Vigarista — é esse camarada que resolveu industrializar a sua
simpatia.
Voador, disco — objeto que ninguém identifica mas todo mundo
fotografa.
Voto — papeleta que se coloca dentro da urna sem deixar
ninguém ver o que está escrito, nem mesmo quem coloca.
Xerife — sujeito que passa a metade do filme limpando a
estrelinha e a outra metade limpando o revólver, porque quem limpa a
cidade é o mocinho.
Y — ossi etnematsuj é — EUGOY.
Zarolho — sujeito que tira uma pequena para dançar e saem as
duas.
5
DATILÓGRAFAS
6
SEU TOSTÃO VALE 1 MILHÃO
Antes mesmo de Einstein, o dinheiro já era uma coisa muito
relativa. Por exemplo, para muita gente, um jantar no Bife de Ouro é
barato; para outros, uma média-com-pão-e-manteiga num boteco
qualquer é muito cara, e a prova de que o valor do dinheiro é nenhum
é que o "pão de tostão" custa mesmo alguns cruzeiros.
Partindo desse princípio, cada um dá ao dinheiro o valor que lhe
pode dar, e se ele serve exclusivamente para adquirir mercadorias, a
esperteza está em estipularmos o valor que queremos. Conclui-se,
portanto, que o dinheiro é apenas um "veículo" para obter
mercadorias; por isso mesmo, o bem-estar de cada indivíduo está,
aparentemente, entrelaçado em relação ao seu padrão monetário: ter
mais dinheiro significa ter mais facilidade de adquirir mercadorias (e
mercadorias, no caso, implicam uma série de coisas que proporcionam
o bem-estar do indivíduo).
O problema, portanto, se resume num só ponto: adquirir dinheiro,
para trocá-lo por mercadoria. É aí, justamente, que entra a
demonstração de que o dinheiro é relativo: uns procuram ludibriar a
boa fé alheia, na conquista do dinheiro fácil e rápido, outros preferem
ganhá-lo lentamente, em troca da paz de espírito; ambas as "fórmulas"
têm seu preço.
Depois de estudar atentamente essas duas "fórmulas", não me foi
difícil descobrir uma terceira: a de não gastar dinheiro pela ausência
de possuí-lo. Explico melhor: se o bem-estar se compra com dinheiro,
por que a ausência de mal-estar não deve também valer dinheiro?
Muito simples: porque o bem-estar se adquire e o mal-estar se evita.
Então o processo é fácil: adquirir bem-estar e evitar mal-estar.
Dinheiro, já ficou provado, se adquire com fraude ou com trabalho (a
herança é um caso à parte), mas bem-estar pode-se adquirir também
sem dinheiro, porque é exclusivamente um problema interior. Nesse
caso, por que não passar por cima do problema do dinheiro e ir
diretamente ao bem-estar? Exemplo: muita gente tem dinheiro, gosta
de praia, mas não pode ir à praia, porque não tem tempo (já vê que
nesse caso o tempo vale mais que dinheiro); eu, particularmente, se
tivesse dinheiro e tivesse que pagar para ir a uma praia, não hesitaria
em pagar 1 000 cruzeiros de cada vez, ou 3 000, de acordo com a
quantidade de dinheiro que eu tivesse. Ora, não tendo nada, o único
problema é arranjar tempo — que equivalerá ao preço que eu mesmo
estipular, digamos "mil pratas" para facilitar o raciocínio. Conclusão:
quanto mais eu for à praia, mais capital estarei realizando.
Baseado nessa "fórmula", de que o bem-estar vale dinheiro e a
ausência de mal-estar também vale dinheiro, consegui "gastar" no ano
de 1960 1 milhão — sem despender tostão. E para que o leitor veja
que isso não é impossível, aí vai a lista, detalhada, de meus lucros,
isentos, é claro, do Imposto sobre a Renda:
Média de vinte praias por mês, a "mil pratas",
durante cinco meses Cr$ 100 000,00
Indo à praia, praticando esporte,
capitalizei saúde, o que me poupou a
chamada do médico, pelo menos
duas vezes .................... Cr$ 2 000,00
Evitando a chamada do médico, poupei a
compra de remédios que, infalivelmente,
ele receitaria ...... Cr$ 5 000,00
Andei de calça e camisa esporte,
o ano todo, poupando a confecção de
pelo menos dois ternos ....... Cr$ 24 000,00
Não usando terno, dispensei o uso
de gravatas, abotoaduras, prendedor
de gravatas, etc........... Cr$ 13 000,00
Deixei de beber, em média, dois
uísques por dia a 150 cruzeiros a
dose (pra facilitar o balanço), poupando
9 000 por mês, ou seja, um total de......... Cr$ 108 000,00
Oito uiquendes em casas de milionários,
com banhos de piscina, passeios de
lancha, cineminha em casa, alta-fidelidade,
drinques diversos e condução de porta a porta,
no valor de 10 000 cada ........... Cr$ 80 000,00
Gastando, em média, 30 000 por mês, entre
prestação, manutenção, gasolina, lavagem e
garagem, se eu tivesse que pagar táxi
tudo o que ando no meu carro, gastaria uma
média de 79 500 por mês, ficando um saldo a
meu favor de 49 500 num total de .............. Cr$ 594 000,00
Cinqüenta e duas idas aos cinemas Bruni,
com "permanente" que vale pra
dois de cada vez........ Cr$ 5 200,00
Presentes que recebi das fábricas de discos
(diversas) numa média de oito long-plays
por mês, a 600 cruzeiros cada um .............. Cr$ 57 600,00
Ir para fora no fim do ano, poupando "festas"
aos profissionais de listas de natal, numa média
de vinte e nove, a 200 cruzeiros cada Cr$ 5 800,00
Jornais e revistas que li nas bancas
e nos cabeleireiros, especialmente
para arredondar a conta....... Cr$ 4 600,00
Total Cr$ 1 000 000,00
P.S. — Na primeira edição desse livro, seu tostão valia exatamente 1 milhão.
Agora, nesta edição, com a alta de todos os preços, seu milhão deve estar por volta
dos 50 milhões — e o milhão já não é mais milhão, é bilhão. Quanto valera seu tostão
na próxima edição? Poupe-me trabalho e faça você mesmo as contas: é duro fazer
humorismo com números no Brasil.
7
Humor negro
EPITÁFIOS

DE UM HUMORISTA
Aqui jaz uma gargalhada cercada de choro por todos os lados.

DE UM CHOFER DE PRAÇA
Sua única corrida sem cobrar a volta.

DE UM CAÇADOR
Foi o dia da caça.

DE UM MOCINHO DE CINEMA
Fora da tela bastou um tiro.

DE UM PREFEITO
Este foi o único buraco que ele não fez.

DE UM JOGADOR
Foi pegado com cinco ases na mão.

DE UM LOCUTOR
E agora passemos a outro programa.

DE UM TOUREIRO
O touro correu mais.

DE UM AÇOUGUEIRO
A carne é fraca.

DE UM COVEIRO
Chegou a minha vez.
O HOMEM QUE VIVEU POR PROCURAÇÃO

Nunca fez nada na vida.


Em criança, não brincava, não pulava, não dizia nac Em estudante
colava.
Formou-se.
Gostou de uma moça. Viu-a apenas uma vez, porque ela viajou no
dia seguinte. Correspondeu-se com ela durante dois anos: quem
escrevia as cartas era um amigo, quem botava no correio era um
empregado, quem lia respostas era sua irmã.
Casou-se por procuração.
Ela continuou vivendo lá e ele aqui. Arranjaram-lhe um emprego:
funcionário público. Quem assinava o ponto por ele era um colega;
quem recebia por ele era outro colega. Mandava todo o dinheiro para a
mulher.
Ingressou no cinema, fez um filme em Hollywood: Cowboy
cantor. Quem cantava por ele era outro; quem brigava por ele era o
stand-in. Ganhou uma fortuna, deixou tudo no Imposto de Renda.
Ainda assim ficou rico: recebeu uma herança.
Montaram-lhe uma indústria, gastaram todo o seu dinheiro, ficou
na miséria. Quem sofreu foi sua mulher.
Um dia, planejou um assalto. Arranjou cinco capangas e mandou
executar o serviço, enquanto ele ficou em casa. Na execução do plano,
os cinco capangas morreram e um deles denunciou o autor do crime.
Foi então que a polícia o prendeu 6 o condenou à cadeira elétrica.
Nem nisso foi atingido: tinha um sósia.

A ARTE DE VOAR
Santos Dumont não fez nenhuma vantagem; vantagem fazem os
nossos pilotos que levantam vôo com certos aviões.
— Isto é rapidez! A gente entra no avião, o avião decola e a gente
sai no jornal.
O passageiro do lado quer sempre dar a impressão de que não tem
medo de viajar de avião. Mas não esqueça de que você também é o
passageiro do lado.
A carreira de um piloto é paradoxal: quanto melhor ele desce,
mais sobe.
Alguns aviões são disciplinados: vêm cair justamente no
aeroporto.
Em qualquer meio de transporte o menor ruído começa a
incomodar;, no avião, só incomoda quando o ruído

OS CINCO MANDAMENTOS DA AEROMOÇA

I
Quando o avião decola e os passageiros apertam o cinto, a
aeromoça deve apertar a cinta.

II
A aeromoça tem obrigação de nos fazer esquecer a viagem, mas
não a ponto de esquecermos a própria esposa.

III
O sorriso da aeromoça é tão importante que^ quando o avião
estiver caindo, ela deve sorrir até o último centímetro.

IV
Em caso de estar funcionando apenas um motor, aeromoça deve
repetir sempre: "NÃO É NADA", "NÃO NADA", "NÃO É NADA", "NÃO É
NADA", "NÃO É NA,. . .

V
Em caso de incêndio, a aeromoça deve distrair a atenção dos
passageiros, contando uma anedota. De preferência bem curta, senão
não dá tempo de acabar.
8
CONSULTÓRIO SENTIMENTAL
CARTA: Meu marido gosta de dormir com a luz acesa e eu com a
luz apagada. O resultado é que passamos as noites discutindo. O
senhor pode me ajudar? (Sonolenta — Macaé)
RESPOSTA: Em primeiro lugar lhe aconselho a não discutir, em
hipótese alguma, pois da discussão (à noite), nasce a luz (da
madrugada). O jeito mesmo é a senhora trocar as lâmpadas ou trocar
de quarto. Em último caso, troque mesmo de marido. De preferência
por um de 60 watts, que é mais fraquinho e não se queima com
facilidade.

CARTA: — . . . há mais de seis anos que o meu marido não me dá


um vestido e o único que eu tenho já está acabando. (Infeliz — Rio)
RESPOSTA: Aproveite a sua aparente infelicidade e procure
rapidamente um produtor cinematográfico brasileiro. Ele não só lhe
oferecerá um teste, como aproveitará o seu traje para a grande cena do
baile, depois da briga na boate.

CARTA: Conheci um rapaz de dezoito anos, vinte anos mais moço


do que eu, que sou casada com um velho de 68, trinta anos mais velho
do que eu. O caso é o seguinte: estou apaixonada pelo rapaz, mas
meu marido não se importa, pois está apaixonado pela minha irmã
caçula, de dezessete anos. O rapaz também não se importa comigo,
pois está louco para se casar com a minha tia, irmã (viúva) do meu
marido e mãe de dois filhos, um dos quais noivo de minha irmã ca-
çula, a tal que vem sendo cortejada pelo meu marido. Minha avó é de
opinião que devo desistir do rapaz, mas já minha filhinha de catorze
anos acha que não. E o senhor, que me aconselha?
RESPOSTA: Para esses casos, minha filha, lhe aconselho a procurar
um especialista: o Sr. Nelson Rodrigues ou o Sr. Tennessee Williams.

CARTA: Meu marido é camelô, mas eu o adoro. Acontece que


nunca dorme em casa, chega de manhã cedinho, toma café e sai para
o trabalho, geralmente mal-humorado. Será que ele passa as noites
fora do Distrito Federal? (Inquieta — Brasília)
RESPOSTA: Não há motivos para se preocupar; ele passa as noites
no Distrito.

CARTA: Estou casada há 25 anos e nunca briguei com o meu


marido, porque logo depois do casamento ele fez uma viagem e não
voltou até hoje. Mas o que me desespera é que em todo esse tempo ele
nunca escreveu uma carta e já estou começando a ficar preocupada.
O senhor acha que devo pedir o desquite? (Desorientada — Natal)
RESPOSTA: Convém não ser precipitada, minha senhora, porque a
precipitação tem levado à ruína muitos lares felizes como o seu.
Espere mais 25 anos e então sim! se ele nem ao menos lhe passar um
telegrama, peça o desquite. De preferência, amigável; nunca litigioso.

CARTA: SOM casada há mais de trinta anos e já tive 22 filhos,


sendo que o último nasceu há dois anos. Ontem tive um choque: meu
marido ameaçou abandonar-me. Que faço? (Desiludida —r Pelotas)
RESPOSTA: Tenha o vigésimo terceiro filho.

CARTA: Ele tentou segurar a minha mão e eu não deixei. Tentou


de novo e eu não deixei. Tentou durante dias, semanas, meses, e eu
não deixei. Soube hoje que ele casou com a minha melhor amiga. Que
devo fazer? (Impaciente — Cachoeiro)
RESPOSTA: Deixe ele segurar sua mão, agora.

CARTA: SOU jovem, dezoito anos, loura, bonita, meiga, carinhosa,


venci duas competições de plástica, tenho curso superior, sou
elegante, mas ninguém me dá bola. .. (Beija-Flor — Copacabana)
RESPOSTA: Passe aqui.

CARTA: Recebi uma proposta de casamento do meu tio. Devo


aceitar? (Esperançosa — Espírito Santo)
RESPOSTA: O mal dos casamentos de família é a confusão que
causam. Se você tiver um filho, não saberá nunca se ele será sobrinho
ou neto de seus pais; se será sobrinho ou primo de seus irmãos, etc. Só
de uma coisa você estará certa: é que, como esposa de seu tio, você
será sempre sua só-brinha, unida apenas pelo traço de união.
CARTA: Recebi uma carta anônima que diz misérias de mim.
Tenho a impressão de que sei quem foi que mandou, mas não tenho
certeza. Mostrei-a a várias amigas, algumas delas concordaram com
tudo e brigaram comigo — outras tiveram a mesma suspeita que eu.
Acha que devo tomar uma satisfação? (Desconfiada — Caruaru)
RESPOSTA: Sua carta é um pouco confusa, tomar satisfação de
quem? Das amigas que brigaram com você, das que tiveram a mesma
suspeita, ou de quem você suspeita? De qualquer maneira posso lhe
adiantar que o mal das cartas anônimas, minha filha, é que elas não
são assinadas. O melhor, nesses casos, é não ler a carta. De outra vez,
evite todos esses dissabores não abrindo nem o envelope.

CARTA: Minha irmã tem apenas dezesseis anos e casou a semana


passada, eu já estou com 58 e não consigo arranjar marido. Devo
desistir? (Desgostosa — Curitiba)
RESPOSTA: Até aos 98 você pode ir tentando, e para isso, o melhor
sistema é freqüentar clubes, ir à praia todos os dias, de biquíni, jantar
em boate com relativa assiduidade, participar de torneios de ié-ié-ié,
etc. Se chegar aos 98 sem arranjar nada, então, minha filha, você já
pode desconfiar de um provável — mas não certo — celibato. Quando
menos você esperar, seu Príncipe Encantado poderá aparecer, não tão
príncipe e não tão encantado, mas dá para o gasto. Provavelmente virá
apoiado numa muleta e você mesma deverá provocar que ele tropece.
Depois então é só ajudá-lo a levantar-se e conduzi-lo ao altar.

CARTA: Há 25 anos que tenho recusado propostas de casamento


de um cavalheiro que vem me jazendo a corte. Ontem, soube que ele
casou com outra, o que veio confirmar a minha opinião sobre os
homens, de que nenhum deles presta. Não tenho razão? (Arrependida
— Colatina)
RESPOSTA: Da próxima vez, não espere 25 anos; quando chegar
aos 24, tome coragem e diga "sim".

CARTA: Tentei o suicídio cinco vezes e até nisso me sinto


frustrada. Gostaria que o senhor me indicasse uma fórmula definitiva
de me matar. (Tristonha — Barbacena)
RESPOSTA: Agora que você já se tornou vedete da crônica policial,
acho desnecessário procurar a morte; procure um empresário teatral
que ele a contratará para estrelar uma peça musicada.
CARTA: Meu marido passa a noite inteira jogando biriba e isso
está me irritando de tal maneira que às vezes chego a pensar em
deixá-lo. Que me aconselha? (Irritada — Uberaba)
RESPOSTA: Ensine-o a jogar buraco.

CARTA: Meu noivo mudou muito depois que conheceu minha


irmã. Chegou mesmo a confessar-me que pretende esperar ela crescer
(ela só tem catorze anos) para decidir com quem vai casar, se comigo
ou com ela. Que devo jazer: submeter-me a essa humilhante espera ou
abandoná-lo? (Indecisa — Ilhéus)
RESPOSTA: Tudo se resolve com calma, filha. Raciocine:
abandoná-lo agora seria destruir toda a possibilidade de um lindo
futuro para sua irmãzinha; esperar que ela cresça também não é
aconselhável, pois se ele está interessado pela sua irmã, agora que ela
tem catorze anos, o que não fará quando ela completar dezesseis? O
seu caso só tem mesmo uma solução: procure saber se seu noivo tem
um irmãozinho menor, espere ele também crescer, e quando todos já
estiverem adultos, então qualquer resolução será satisfatória para
todos, e tudo ficará em família.

CARTA: Tenho dois namorados que venho revezando há mais de


quatro anos. Mas os dois descobriram tudo e exigiram que eu
decidisse: um ou outro. Que faço? Não sei qual escolher. (Sapeca —
Quati)
RESPOSTA: Tenha calma, filha, vamos analisar o seu caso com o
cuidado que ele merece. Se você tiver de escolher um dos dois, ficará
arrependida de qualquer maneira — pois viverá pensando sempre que
deveria ter escolhido o outro: a dúvida a atormentará o resto da vida.
Só há, portanto, uma solução: brigue com os dois. E logo em seguida
arranje outros dois.
9
ASSINATURAS DO AUTOR
se exibindo

para efeito de bilheteria

diante do espelho

resfriado

com juros de 10% a.a

no tombadilho

homenageando G.B.S.

com falta de ar

no hipódromo

às pressas

no fim do mês .

no túmulo

emocionado

no testamento

no escuro

nos contratos .

com tosse
homenagem a Soraya

no álbum de discos

por baixo

na correspondência

com desconto

na polícia

pelos amigos

dedicado ao Lion's

só para mulheres

dando autógrafos

no Maracanã

com a batuta na mão

de perfil

se despedindo
10
A VERDADE É UMA SÓ:
TODO MUNDO MENTE

O OTIMISTA: "OS últimos serão os primeiros".

O DELEGADO: "Tomaremos providências".

O CHEFE DE REPARTIÇÃO: "Um momento".

O DEVEDOR: "Amanhã, sem falta".

O SAPATEIRO: "Depois alarga no pé".

O ALFAIATE: "Depois de amanhã o terno fica pronto".

O MECÂNICO: "É O carburador".

O ANFITRIÃO: "Ainda é cedo".

O LOCUTOR DE TV: "E até a próxima semana, neste mesmo


horário".

O ORADOR: "Apenas duas palavras".

O JOGADOR DE FUTEBOL: "Tudo faremos pela vitória".

O DENTISTA: "Não vai doer nada".

O INIMIGO DO MORTO: "Era um bom sujeito".

O NAMORADO: "Você foi a única mulher que eu realmente amei".

O NOIVO: "Casaremos o mais breve possível".


O RECÉM-CASADO: "Até que a morte nos separe".

A SOGRA: "Em briga de marido e mulher não me meto".

A TIA: "OS homens são todos iguais".

A AVÓ: "No meu tempo as coisas eram muito diferentes".

O DIVORCIADO: "Noutra que eu não caio".

O DESQUITADO: "O pior são os filhos".

A GESTANTE: "Nunca mais terei outro filho".

O BÊBEDO: "Sei perfeitamente o que estou dizendo".

O SUICIDA: "Perdoe o meu gesto".

O VICIADO: "Essa vai ser a última".

O CRÍTICO DE CINEMA: "Bom, no gênero".

O ALPINISTA: "Esta escalada é uma barbada".

O ANÚNCIO DE JORNAL: "Vendo por motivo de viagem".

O POBRE: "Se eu fosse milionário espalhava dinheiro todo


mundo".

O QUITANDEIRO: "Pode levar em confiança que a laranja é doce".

O CANDIDATO: "Se eu for eleito endireito esta cidade".

A DESILUDIDA: "Não quero mais saber de homem".

O PRODUTOR DE CINEMA BRASILEIRO: "O que O


público quer é isso mesmo".
APENAS FRASES 11
— Sair da rotina é duro, sei por experiência: carrego nas costas quinze anos de
originalidade.

— Corta, corta! Corta o jacaré, imbecil, que a cena já foi cortada há mais de dez
minutos!

— Descruze as pernas, menina, que você não está no escritório!

— Os passageiros vão me desculpar, mas o freio está falh

— Se esse jato correr mais um pouco, chegaremos hoje no avião de amanhã.


PARA LER DEITADO

— Vá andando na frente, mulher: se alguém mexer com você te dou mil pratas.

— Cochilei com o cigarro na mão, quando acordei tinha fumado até o cotovelo.

— Garção, me traz outra mosca que essa morreu afogada.

— Leve minha filha, se quiser, mas se voltar no próximo episódio, juro que te
mato!
— O que me preocupa é só uma coisa: se o tiro falhar, minha vítima virá aqui, pessoalmente,
trocar este revólver.

— Inclua no envelope a cópia de carbono; faço questão que ele leia esta carta duas vezes.

— Dexas experiênxas nunca max eu faxo: veja xó como ficou a minha boca!

— Essa lente é muito boa; o preço foi aumentado por ela?

OS CINCO MOTIVOS BÁSICOS DO CASAMENTO

1. O homem se casa para vencer a solidão. A mulher, para ficar só.


2. O homem se casa por constrangimento. A mulher, por desespero.
3. O homem se casa para ser marido. A mulher, para ser mãe.
4. O homem se casa para ficar em casa. A mulher, para sair.
5. O homem se casa por descuido. A mulher, por precaução.
PSIQUIATRIA

Psiquiatra é um sujeito cercado de complexos por todos os lados.


Muitos psiquiatras, depois de tanto estudarem, acabam recalcados.
É que não conseguem nenhum cliente.
Quando dois psiquiatras estão conversando, a gente fica sempre
querendo adivinhar qual dos dois é o paciente.
O psiquiatra é um teimoso profissional, porque só quer saber de
nós aquilo que nunca lhe revelaremos.
Consultório de psiquiatra é a "sala de visitas" das grã-finas do
society. Mas elas só revelam a vida íntima das amigas.
Psiquiatra nortista não usa diva, usa rede.
Existem psiquiatras que são tão procurados pelos clientes que
acabam sofrendo de mania de perseguição.
O bom psiquiatra não tem complexos: cobra uma fortuna sem o
menor constrangimento.
O pior é que a gente começa a ir a um psiquiatra para se livrar de
certas manias e acaba adquirindo a mania do psiquiatra.

TIPOS

Há dois tipos de bebidas: a que a gente traz pra casa e a que traz a
gente.
Há dois tipos de discos: o que a gente só ouve de um lado e o que
a gente só ouve do outro.
Há dois tipos de esposas: a que arruma a casa e a que se arruma.
Há dois tipos de restaurantes: o em que a gente come e depois vai
deitar e o em que a gente come e deita lá mesmo.
Há dois tipos de políticos: o que é eleito e o que se elege.
Há dois tipos de fotografias: a que sai como a gente é e a que sai
como a gente gostaria de ser.
Há dois tipos de gravatas: a que a gente compra e a que a gente
ganha no aniversário.
Há dois tipos de bêbedos: o que vê dobrado e o que não vê nada.
Há dois tipos de conquistadores: o que namora e depois não casa
e o que casa e depois namora.
Há dois tipos de cinzeiros: o que a gente apanha na casa dos
outros e o que os outros apanham na casa da gente.
Há dois tipos de mulheres: a nossa e a dos outros.
Há dois tipos de televisão: a que a gente só vê e a que a gente só
ouve.
Há dois tipos de filme brasileiro: o que acaba mal e o que mal
acaba.

O FIM

A última vez que viu o amigo, ele estava examinando o cano, e o


amigo, o gatilho.
A última vez que viu o seu navio foi quando tentou tirar uma
mancha do torpedo.
A última vez que viu o patrão foi quando o surpreendeu beijando a
secretária.
A última vez que viu um incêndio foi pelo lado de dentro.
A última vez que viu um avião foi justamente a primeira que viu
um rochedo.
A primeira vez que visitou um necrotério foi a última.

PIADINHAS À MINUTA

Casada para outra: "Não sei o que fazer. Meu marido deu pra
chegar pontualmente em casa".
Adolescente para a namorada: "Você não tem nada pra fazer hoje?
Então não vamos fazer nada juntos".
Agiota para a esposa: "Viajarei 880 000 cruzeiros e só voltarei 5%
mais tarde".
Tarzan de Hollywood gritando para o diretor: "Vou desistir do
cinema; estou farto de trabalhar com animais".
Padre chileno para casal chileno numa igreja do Chile: "Até que o
terremoto vos separe. . ."
Senhora advertida pelo guarda, depois de avançar o sinal: "Vi o
sinal, sim senhor; o que não vi foi o senhor".
Louco para outro louco: "Desconfio que o nosso médico já está
ficando bom".
Dom Juan para outro Dom Juan: "A qualidade que mais aprecio
nas mulheres é a infidelidade. Não fosse isso e eu estaria sempre
sozinho".
Freguês no restaurante: "Garção, leve este bife. Está tão mal
passado que mal lhe encosto a faca ele começa a gemer".
Noiva para o noivo, em Monte Cario: "Só casarei com você com
comunhão de fichas!"
12
A MESMA PIADA

PRA LER NO AVIÃO

Antes de mais nada, apague o cigarro, aperte o cinto: o avião vai


decolar. Não digo para abrir o livro porque você foi mais ligeiro que
eu e já abriu, senão não estaria lendo este capítulo. De qualquer modo,
faça aquela pose de displicência que está habituado a fazer sempre que
viaja de avião e comece a ler. Aí vai:
Joãozinho era um menino muito travesso. Toda vez que matava a
aula dizia pra sua mãe que o professor tinha faltado (agora disfarce
com classe e dê uma olhadinha pela janelinha pra ver se o motor não
está parado. Está? Então verifique se o avião não está parado. Está?
Que vergonha, e você não percebeu que ainda está em terra! Disfarce
bastante, vire os olhos para o livro e depois a cabeça, lentamente, para
não dar a idéia de que você quis verificar se estava tudo em ordem,
pois afinal de contas esse não é o seu serviço e sim da aeromoça. Erga
a cabeça com dignidade, baixe as pálpebras, finja um rápido cochilo,
feche o livro como quem quer dar a entender que só gosta de ler
quando o avião está no ar, isso lhe dá assim um aspecto de
autoconfiança, de superioridade do homem sobre a máquina e,
principalmente, sobre os outros passageiros. O azar é se tiver outro
passageiro lendo também este livro, neste capítulo, aí não há disfarce
que resolva: verifique). Mas como eu dizia, Joãozinho dava sempre
desculpas em casa. Sua mãe não acreditava muito nesta história do
professor faltar, e por isso, raro era o dia em que — como era mesmo
o nome dele? — não ficava de castigo (um momento: eu perguntei
como era o nome dele justamente porque achei que você não estava
prestando atenção na história; confesse, você está mais preocupado
com a decolagem do avião do que com o destino de — afinal
lembrou-se do nome do menino? Que diabo, você é medroso, mas não
dá o braço a torcer. As estatísticas estão fartas de lhe demonstrar que
viajar de avião não há perigo, e é considerado, mesmo, o transporte
mais seguro do século. Pronto: nessa altura o avião já deve estar nas
nuvens, e você quer ou não quer que eu continue a contar a história do
Joãozinho — ah! lembrou-se do nome dele ou só se lembrou depois
que eu escrevi de novo? Mas isso não importa, vamos à história. Bem,
você já sabe que Joãozinho mata aula e que a mãe dele o punha de
castigo, então agora faça um esforço e leia até o fim, quando você
deverá esboçar um sorriso, sorriso esse que lhe valerá como um
atestado de coragem, ou, para não ir tão longe, de displicência, ou
mais exatamente, de indiferença. Só o fato de você ler e sorrir dentro
de um avião, em pleno espaço, lhe dá um mérito muito maior que o da
própria companhia, uma vez que seu esforço para fingir que não está
no ar é muito maior do que o do avião para se conservar nele). Um
dia, a mãe de Joãozinho o pegou em flagrante matando passarinho no
quintal; correu para o calendário e verificou que não era domingo, não
era feriado, não era dia santo, não era ponto facultativo e nenhum
presidente estava visitando o Brasil. Pegou o chinelo, correu pro
quintal e gritou: "Joãozinho, já pra dentro, que hoje não é dia de matar
passarinho!" Você não achou graça? Então finja que. Lembre-se do
que lhe disse: um sorriso nos lábios já é meio caminho andado. Pode
olhar pra baixo: é ou não é?

PRA LER NO BONDE

Joãozinho era um menino muito travesso. Toda vez que matava


aula dizia pra sua mãe que o professor tinha faltado. Acontece que a
mãe de Joãozinho não acreditava muito nessa história e quase todo dia
botava o Joãozinho de castigo. Um dia (ora, francamente, não vai
dizer que está tão interessado na história que ainda não ouviu o
condutor gritar "faz favor" mais de dez vezes. Não custa interromper e
pegar os cinco cruzeirinhos, eu não vou fugir, não, e mesmo que
fugisse a história já está escrita, vamos, pague logo e não fique aí
lendo essa lengalenga toda, que enquanto você não pagar eu não conto
o resto. Está vendo? Agora vem com essa desculpa que tem de saltar
aí, não é? Golpe manjado, muito mais manjado do que esse de fingir
que está lendo. Já estou até me sentindo seu cúmplice. Com licença,
não conto mais nada. Salte, agora, por sua conta. Mas não pense que
vai ler o resto da história em casa, isto não, que eu vou saltar aqui
mesmo — e com o bonde andando).
PRA LER NO ÔNIBUS

Joãozinho (opa) era um menino (quase, hem?) muito travesso.


Toda vez (não foi nada, só um arranhão) que matava aula (poste
miserável!) dizia pra sua mãe (já é o terceiro pedestre que escapa) que
o professor tinha (esse agora teve azar, coitado) faltado. Mas a mãe de
Joãozinho (ih, essa batida foi feia, vamos ver qual vai ser a desculpa
do motorista. Ué, ele fugiu pela janela, e agora, de quem vai ser a
culpa? De fato, eu sei que você quer ler, mas vai ser difícil no meio
desse tumulto todo. Desculpe a observação: mas já reparou se você
está inteiro? Não custa verificar: essa mão que está segurando o livro
pra você é sua mesmo? Tente fazer um movimento. Não disse? Bem,
vamos deixar essa história do Joãozinho pra outra ocasião. Feche o
livro se puder, e caia fora, senão vão lhe pegar pra testemunha e
ninguém vai acreditar que você estava lendo e que não viu nada.
Cuidado: você ia esquecendo sua mão em cima da poltrona. Ah, não
era sua? Vai ver que é daquele maneta que está saindo de
mansinho...).

PRA LER NO WC

Joãozinho (isso você já deve saber) era um menino travesso. Toda


vez que matava aula (isso também você já deve saber) dizia pra sua
mãe que o professor tinha faltado. A mãe de Joãozinho (isso você
também está farto de saber) não acreditava muito nessa história e
quase todo dia botava o (parece que estão batendo, pode responder:
— Tem gente!
Agora o melhor é sair logo, deve ter alguém com muita vontade de
ler a história do Joãozinho).

PRA LER NO JATO

Joãozinho (ué, já chegamos?).


13
HUMOR CONCRETO
SECRETARIA ARQUITETURA
Prezado Pedra
Senhor Sobre
Pela Pedra
Presente Sobre
Tenho Pedra
o 1." andar
Prazer Pedra
De Sobre
Ui ! Pedra
Sobre
Pedra
2." andar
Pedra
Sobre
POESIA MODERNA Pedra
Sobre
Pedra
3.° andar
Pedra
Sobre
MULHER DELICADEZA Pedra
Não!!!!! senhor primeiro Sobre
Não!!!! Primeiro o senhor Pedra
Não !!! O senhor primeiro 4." andar
Não !! Primeiro o senhor Depois
Não ! O senhor primeiro Tudo
Não Primeiro o senhor Cai
Nã Então
N Passam os dois
?
TOURADA O PERNETA
Olé ! Poema triste com "toc” de humor
Olé ! Toc
Olé ! Toc
Olé ! Toc
Olé ! Toc
Olé ! Toc
Oié ! Toc
Ahhh ! Toc
Toc Toc Toc Toc
MAMBO
Passinho pra lá PUGILISTA
Passinho pra cá Um
Passinho pra lá Dois
Passinho pra cá Três
Passinho pra lá Quatro
Passinho pra cá Cinco
UUUUUUHHHH ! Seis
Sete
Oito
Nove
DEZ!
CINE

Lotaç
FILA

Anda

Anda

Anda

Anda
Anda

Anda

Anda

Anda

Anda

Anda

Anda
Para!

esgot
Para

Para
MA

ada
DE

ão

BRASÍLIA
JK JK
JK JK
JK JK
JK JK
JK JK
JX JK
JK JK
JK JK
JK JK Jato
JatÔ lá
CRUZEIRO
cr$ cr$ cr$ cr$
cr$ cr$ cr$ cr$
cr$ cr$ cr$ cr$
cr$ cr$ cr$
cr$ cr$ cr$
cr$ cr$ cr$ cr$
cr$ cr$ cr$
cr$ cr$ cr$
cr$ cr$ cr$ cr$
cr$ cr$ cr$ cr$
cr$cr$ cr$ cr$

POEMA CONCRETO (ARMADO)


C
L C O QUARTO
ALICERCE P
G M R D A 5
E E INCORPORAÇÃO
N T F T %
T A I SALA
PROJETO G C M
E I E
M O BANHEIRO
T
COZINHA

POEMA CONCRETO
(DESARMADO)
Pum
Pum Pum
Pum Pum
Pum

Acabaram as balas.

ENCONTRO COM MULHERES


TURFE
13 A
MULHER
UM CAPÍTULO À PARTE

A MULHER CUSTA UM "SIM" DE ENTRADA E VÁRIOS


"QUERO MAIS" A LONGO PRAZO

Quando um homem pede a mão de uma mulher, raramente ele


pode imaginar quanto vai lhe custar ó resto. Sim, porque a mulher só
se acha realmente mulher quando mergulha numa porção de
substâncias que, segundo ela, lhe dão o chamado "toque final". Assim,
se colocássemos uma mulher num laboratório, para uma análise
minuciosa, separando todas as substâncias, certo é que de mulher
mesmo, pouco sobraria; o excesso seria o relógio de pulso,
pulseirinha, figuinha, figuinha maior, figuinha pouco maior, figa
propriamente dita, figa grande, figa enorme, anelzinho de pedra falsa,
anelzinho de pedra verdadeira (sem a pedra), broche, colar, meia
transparente, cinta, sutiã, anágua, calcinha, sapato, batom; xampu,
grampos, cilion, creme facial, ruge, pó de arroz, perfume, piteira,
água-de-colônia, esmalte, luvas, caderninho de telefone, isqueiro,
cigarros, lencinhos, ligas e uma bolsa bem pequenina — onde ela
consegue meter tudo isso. Como se vê, de mulher mesmo só restam
10%. Uma mulher completa, hoje em dia, custa uma fortuna; mulher
simples é mais barato, mas ninguém vai querer sair desfilando por aí
com apenas 10% de mulher — isso até dá impressão de que se deixou
o resto no prego.
O grande erro do homem, portanto, é chamar de "cara-metade" o
outro pedaço que ele escolhe para ser sua companheira: o certo
mesmo é "cara-dobro", porque daí em diante é que ele vai passar a
gastar exatamente o dobro do que gastava em solteiro. Mas
infelizmente o homem não pensa assim, pois o serviço de "relações
públicas" da mulher é dos mais perfeitos do mundo. Ela passa o dia
inteiro convencendo o homem que, se ele casar com ela, reduzirá pela
metade todas as suas despesas: "Onde come um, comem dois", diz ela
— mas sempre esquece de dizer que o prato dele será dividido com
ela e ele passará a comer apenas meio prato no almoço e meio prato
no jantar.
A habilidade da mulher chega a tal ponto, que ela não se cansa de
frisar que dará uma excelente "dona de casa". Vai daí, que o homem
acredita mesmo, e na hora de assinar o contrato do "até que a morte
nos separe", ela impõe a cláusula da comunhão de bens. Depois, ao
menor pretexto, brigam e se separam e, geralmente, cabe à mulher
receber uma casa — justamente quando ela vem provar o que sempre
disse: que daria uma excelente dona de casa.

A MULHER NÃO SE CONFORMA QUE NINGUÉM SE


CONFORME COM A SUA IDADE

Vê se pode: aos 15 anos, a mulher fica louquinha pra crescer e


poder ver os filmes "impróprios pra 18 anos", mas quando faz 18 não
quer saber de cinema porque já começou a freqüentar boate.
Aos 16 anos, a mulher diz pro namorado que já tem 21, mas
quando chega aos 21, faz tudo pra que ele pense que ela tem só 16.
Aos 17 anos, a mulher jura que a coisa melhor do mundo é dançar,
mas já aos 20 não compreende como perdeu tanto tempo dando
passinhos-pra-cá-passinhos-pra-lá e decide casar, por isso para o dia
inteiro esperando o noivo — passinhos-pra-cá-passinhos-pra-lá.
Aos 18 anos, a mulher começa a preocupar todo mundo e só se
preocupa consigo mesma se não conseguir preocupar ninguém.
Aos 19 anos, a mulher começa a alimentar idéias de "ser
independente", porque isso de se sujeitar aos pais já está ficando
irritante, por isso arranja logo um emprego — e passa a se sujeitar só
ao patrão.
Aos 21 anos, a mulher percebe que é tempo de comemorar menos
aniversários, e se puder suprimir um de dois em dois anos, já leva uma
vantagem: só ficará balzaca aos 39.
Aos 25 anos, que em verdade já são 29, a mulher insiste em tomar
atitudes infantis, para que todos pensem que ainda é muito jovem, mas
o máximo que consegue é que a achem uma retardada mental.
Aos 28 anos, se a mulher tiver um filho, é considerada "muito
moça"; se não tiver "já está ficando velha".
Aos 30 anos, que como ficou matematicamente provado são 39, a
mulher resolve usar a cabeça (pela primeira vez fora do cabeleireiro) e
decide pensar no "futuro", quando, em verdade, ela já está no futuro
há muito tempo.
Aos 35 anos, que de fato são 50, a mulher se convence disso —
pois não consegue convencer mais ninguém, e resolve fazer 15 anos
de uma tacada só, equilibrando assim a sua conta corrente de idade:
agora, sim, ela tem realmente a idade que aparenta.
Aos 60 anos, a mulher entra na chamada "fase da fotografia", isto
é, reúne as amigas em casa pra mostrar as fotografias do tempo em
que era moça.
Aos 70 anos, a mulher leva tudo a sério e não admite brincadeiras,
por isso mesmo, paro aqui.

MAIS VALEM DOIS CARROS NA CONTRAMÃO DO QUE


UMA MULHER NA MÃO

Mulher dirigindo é a coisa mais displicente do mundo. Mais


displicente do que ela, só mesmo o examinador que lhe deu a carteira
de motorista. E só porque tem carteira, a mulher passa a dirigir por
auto-sugestão, isto é, se lhe deram carteira, é porque acharam que ela
sabe dirigir. E ela se compenetra disso de tal maneira que sai por aí
dirigindo, não o seu carro, mas o trânsito todo.
Por exemplo: mulher nunca sabe qual o sinal que dá passagem, se
o verde, o vermelho ou o amarelo. Ela pára e anda por simples
intuição: alguma coisa no seu íntimo lhe diz que se o carro da frente
andou ela também deve andar, se o carro da frente parou ela também
deve parar. Só que a maioria das vezes ela pára em cima do outro.
A gente nunca sabe por que a mulher põe o braço pra fora do
carro: se pra secar as unhas, bater a cinza do cigarro, mostrar as jóias,
dar adeusinho para alguma conhecida, virar à esquerda, virar à direita,
seguir em frente ou parar. Em verdade, ela mesma também não sabe, e
só se convence que estava com o braço pra fora porque as testemunhas
do desastre lhe garantem isso, depois.
Mulher tem espírito prático, isso tem. De fato, deve ser inútil esse
negócio de usar freio; ela usa mesmo é o pára-choque do carro da
frente.
Preste atenção, toda vez que o trânsito pára mais de meia hora, não
pode ser outra coisa: tem mulher colocando carro na garagem. E toda
vez que há um desastre, tem mulher metida no meio — se ela não
estava dirigindo, estava atravessando a rua.
Grande parte dos acidentes de tráfego verificados com mulher são
devidos à sua vaidade: ela pensa que espelhinho é pra se ajeitar toda
vez que o vento desmancha os seus cabelos.
A mulher não tem problema de estacionamento, porque nunca
procura vaga para estacionar: ela mesma faz a sua vaguinha entre dois
carros.
Mas numa coisa a mulher leva vantagem sobre os homens, quando
dirige: é incapaz de correr a mais de 120 — e por isso mesmo, quando
o ponteiro chega a 110, ela não tira mais os olhos do velocímetro.

O HOMEM INVENTOU O SUICÍDIO, MAS A MULHER SE


DÁ MUITO BEM COM A TENTATIVA

A mulher é a maior "chantagista sentimental" que existe no


mundo. Para obter o que quer, usa e abusa de todos os recursos que
possam amolecer o chamado coração duro masculino. E, geralmente,
não só amolece como até derrete, porque os seus métodos se
aperfeiçoam cada vez mais: o "está tudo acabado" da noiva, o "vou
pra casa da mamãe" da esposa e o "te dou um tiro na cara" da
amante, se ainda surtem efeito, é, convenhamos, um efeito muito
relativo. Segundo estatísticas especializadas, a mulher moderna que se
preza apela para a mais recente conquista do seu sexo: a tentativa de
suicídio.
Assim, não há mulher que resista a esse novo processo de
conseguir as coisas: além de emocionante é, inclusive, muito variado,
e a mulher se sente perfeitamente à vontade. Por exemplo: antes de
tomar sua decisão final, a mulher pára para refletir (refletir é força de
expressão, porque mulher só reflete mesmo é no espelho): ela tem
uma série interminável de processos que lhe permitem o luxo de
escolher entre "cortar os pulsos", "abrir o gás", "ingerir formicida",
"atirar-se pela janela", etc.
Há — isto é evidente — uma certa correlação entre o processo de
tentativa escolhido e o motivo pelo qual ele é escolhido. Segundo a já
consagrada "intuição feminina", para a reconquista do noivo perdido,
o melhor processo é mesmo "cortar os pulsos". Para isso, usa-se uma
gilete bem limpinha (para evitar infecção), dá-se um talhinho bem
ligeiro e corre-se para a vizinha, onde se simula um desmaio. Está na
cara: a primeira coisa que a vizinha faz é telefonar para o noivo e,
logo em seguida, para o pronto-socorro. Se o noivo chegar primeiro
que a ambulância, a "pobre e infeliz vítima" está salva.
O método de "abrir o gás" é, de todos, o mais suave — mas não é
usado com freqüência porque a pseudovítima nunca sabe se terá forças
de desligá-lo, caso ninguém apareça em seu socorro. Ainda assim, a
mulher mais medrosa o utiliza, tendo antes o cuidado de quebrar
discretamente o vidro da janela, por onde deverá escapar o gás. Ela
escapa mesmo pela porta.
"Ingerir formicida" é geralmente usado para os chamados "pactos
de morte": a mulher, farta de suportar tanto sofrimento, consegue
convencer o seu amado de que a melhor solução para o seu caso
(deles) é repousarem o sono eterno. Vai daí, trancam-se num quarto,
enchem um copo de guaraná para cada um e bebem. A mulher sempre
se arrepende, na hora de tomar o seu — mas já é tarde, porque o
infeliz do homem emborcou direto.
Mulher que se atira pela janela, pra valer, só salta do último andar.
Mas como é apenas tentativa, o melhor mesmo é o primeiro e, de
preferência, na grama, que alivia a queda. Só em casos excepcionais
ela deve se atirar do segundo, isto se o seu noivo morar no
apartamento de baixo: se ela conseguir cair na sua varanda, a
reconciliação é certa. A não ser que ele não esteja em casa. Mas isso
não quer dizer nada, é só deixar passar uma semana e tentar de novo.
O que é preciso é muito cuidado e pouca afobação. Certas mulheres,
que fazem a exceção da regra, exageram na dose e o máximo que
conseguem é um bonito caixão.

A MULHER SABE QUANDO, QUANTO E COMO USAR A


CABEÇA

Ninguém entende a mulher; nem outra mulher. É esquisito: muitas


vezes, uma mulher, de longe, parece interessante, chega perto, não é;
outras vezes é desinteressante de longe, chega perto é interessante — e
quando coincide (o que é raro) ser interessante de longe e de perto,
entra num concurso de misses e perde.
A vida da mulher se divide em duas fases: antes e depois de
qualquer coisa (não se precipitem que eu chego lá). Por exemplo:
antes e depois de se vestir, antes e depois de se pintar, antes e depois
de desfiar sua meia, antes e depois de receber um telefonema, antes e
depois de ir ao cabeleireiro, antes e depois de noivar, antes e depois de
casar, antes e depois de ter um filho, antes e depois de ver a lua. Como
se vê, fase é o que não falta pra mulher se dividir. E muitas se dividem
de tal maneira, que conseguem manter dois namorados ao mesmo
tempo, sem que nenhum dos dois saiba — embora todo mundo co-
mente ("todo mundo", aí, são as outras mulheres). Algumas correm,
inclusive, o risco de marcar encontro com os dois na mesma hora e no
mesmo lugar, e comparecem com a maior calma deste mundo, sem
que nada de anormal aconteça — pois a chamada "intuição feminina"
lhes diz exatamente que podem ir sem susto, porque um dos dois vai
faltar. Qual, elas também não sabem, que a sua "intuição" não chega a
tanto, mas que um vai faltar, disso elas não têm dúvida: e vão ao
encontro justamente por isso, para saber qual o que faltou — porque
curiosidade de mulher nunca é passada para trás.
Como se vê, mulher raciocina até pelos cabelos — ou
principalmente. Por isso mesmo é que ela passa a maior parte do
tempo no cabeleireiro, onde tem tempo de sobra pra arquitetar os seus
planos e, se possível, destruir os de suas amigas mais ligadas (ligadas
ao secador, é claro). E enquanto muda exteriormente de fisionomia,
vai mudando também interiormente. Aliás, quem está certo é o
cabeleireiro: "A senhora vai sair daqui inteiramente outra". De fato,
assim que ela sai do cabeleireiro, sai tão outra que não reconhece mais
ninguém. E isso lhe facilita viver duas vidas: quando sai de casa, que é
ela mesma, e quando sai do cabeleireiro — que passa a ser
imediatamente "a outra".

A MULHER SÓ QUER O QUE OUTRA MULHER DIZ QUE


TAMBÉM QUER

A mulher tem hábitos verdadeiramente estranhos, capazes de


enlouquecer qualquer pessoa um pouco mais equilibrada. Por
exemplo: não pode ver vitrina que pára logo pra olhar. Quer saber das
novidades, quer saber dos preços, quer ver qual a cor que está na
moda. Até aí, nada de mais.
O pior é que a mulher entra na loja.
Até aí, também, nada de mais: depois de examinar a mercadoria
com os olhos, ela quer usenti-la" com os dedos. Sobe caixa, desce
caixa, abre gaveta, fecha gaveta, pede vários tamanhos, experimenta,
olha no espelho, joga pra cima, larga no chão, pisa em cima, amassa
com as mãos, cheira e depois devolve. Até aí, nada de mais.
O pior é que a mulher pede outra coisa.
Mas até aí, também, nada de mais: se não gostou de uma coisa, é
possível que goste de outra. Vira daqui, mexe dali, anda pra lá, volta
pra cá, pára, olha pra todo mundo pra ver se todo mundo está olhando
pra ela. Está. Então pergunta a um por um qual a sua opinião, se não
acha que fica bem assim, se outra cor não lhe assenta melhor do que
aquela, se acha que vai encolher, se não vai esticar; depois discorda de
todos e devolve tudo de novo. Até aí, nada de mais.
O pior é que a mulher continua na loja.
Mas até aí, também, nada de mais: é possível que ela não tenha
encontrado o que deseja, mas quem sabe ela acabará gostando de
alguma coisa que outra freguesa esteja examinando? Exatamente
isso: .começa logo a dar palpite na mercadoria da outra, puxa daqui,
puxa dali, rasga daqui, rasga dali, discute, empurra. insiste, desiste,
torna a insistir, torna a desistir, e quando a outra desiste
definitivamente ela sorri vitoriosa e manda embrulhar. Até aí, nada de
mais.
O pior é que, depois que a outra vai embora, ela manda
desembrulhar e diz que também não gostou. Mas até aí, também, nada
de mais. Se a outra desistiu da mercadoria por que é que ela também
não pode desistir? Seria um absurdo muito grande ela ter de comprar
uma mercadoria "rejeitada", um "encalhe", isso nunca! E por isso
mesmo vai embora. Até aí, nada de mais.
O pior é quando ela volta pra loja e manda embrulhar tudo. E,
infalivelmente, meus amigos, a experiência da vida nos ensina: mulher
sempre volta.

MULHER QUE SE PREZA NÃO MENTE: INVENTA


VERDADES
Enquanto o homem inventa foguetes para ir à Lua, a mulher
inventa macetes para viver na Terra. Sua capacidade inventiva a
coloca entre os seres mais evoluídos do mundo, incluindo nisso o
próprio homem, ou melhor, alguns homens, ou mais precisamente: o
seu marido.
Desde a maçã de Eva, até os tempos de hoje, que a mulher não dá
tréguas à sua mirabolante imaginação, criando, com a sua inesgotável
fonte de sagacidade, algumas das mais engenhosas invenções da
humanidade, como o "bolo", a "tia", o "dentista", a "irmãzinha
menor", o "telefone enguiçado", o "extravio", a "cabeça lavada" — e
até mesmo o "etc."
O "bolo" foi inventado para as situações difíceis. Para evitar o
outro bolo, o posterior, cujas conseqüências ela não pode prever, usa o
primeiro.
A "tia" foi inventada para casos de doença, onde a mulher vai
repousar. Mulher que passa o dia na casa da "tia" não é vista por
ninguém, mas em caso de desconfiança a "tia" é o mais perfeito álibi
que se possa imaginar.
O "dentista", que hoje evoluiu e tentou tomar o nome de
odontologista, mas que não pegou, porque a mulher que passa a tarde
toda na rua nunca vai ao odontologista, mas sim ao dentista, entre
outras coisas, tem a vantagem de tratar dos seus dentes.
A "irmãzinha menor" serve de pretexto, não só para evitar certos
abusos de certos cavalheiros cuja companhia ela adora para levá-la ao
cinema, como inclusive para chegar cedo em casa, deixar a irmãzinha
— e sair de novo com o abusado de quem ela gosta.
O "telefone enguiçado" não passa de um telefone bom que a
mulher põe fora do gancho e vai pra casa da vizinha receber os
telefonemas que lhe interessam — e só assim fica livre daquele "noivo
chato" que lhe telefona diariamente e não decide coisa nenhuma. No
dia seguinte, ela toma a iniciativa de reclamar do noivo a falta de con-
sideração, pois ela de cama, sem poder levantar, e ele nem sequer deu
um telefonema — e não adianta explicar coisa nenhuma, porque essa
história de dizer que o telefone estava ocupado é uma chapa muito
batida, "pode perguntar pra vovó, que ficou ao meu lado a noite
inteirinha e ninguém nem pegou no telefone", e o noivo, com-
pletamente desmoralizado, encontra a saída do "então o seu telefone
estava enguiçado" — e isso ainda rende uma cestinha de flores.
O "extravio" é o invento mais genial dos últimos anos porque
antes mesmo do homem inventar o correio, já ela — a mulher —
havia bolado o "extravio". Só assim ela pode ir à praia, ao cinema, à
sorveteria, à costureira, à manicure, não lhe sobrando o mínimo tempo
para escrever uma cartinha ao namorado que está fora — e por mais
que um homem conheça uma mulher, não resta dúvida que ele
conhece muito mais o correio. A importância do "extravio" na vida de
uma mulher é tão grande que as estatísticas acusam anualmente um
grande índice de "juventude extraviada".
A "cabeça lavada" é um pretexto pra mulher não sair e passar a
noite jogando biriba com as amigas. Mulher que lava a cabeça todo
dia, não tenha dúvida: é viciada em jogo.

A MULHER NÃO TEM A IDADE QUE APARENTA: TEM A


IDADE QUE NOS CONVENCE APARENTAR

Uma das coisas que mais preocupam a mulher é a idade, não só a


sua (dela) como — e principalmente — a de suas amigas. Em verdade,
não há mulher que se conforme em saber que sua amiga tem menos
idade do que ela; e como a amiga também não se conforma em ter
uma amiga com menos idade, já se pode calcular a luta de ambas para
ficarem cada uma mais moça do que a outra. Como, não importa; o
que importa é que todas as outras acreditem nisso.
A natureza inventou vários recursos para envelhecer a mulher; um
deles — e o mais forte — é o Tempo. Contra esse é que se trava a
verdadeira luta da mulher, que não se cansa de inventar antídotos que
possam eliminar os poderosos efeitos do Tempo. Exemplo: a inge-
nuidade, a maquilagem e a mentira. Vamos por partes.
Quando a mulher vai ficando madura (e isso acontece todos os
dias), recorre à ingenuidade: o fato dela fingir que não sabe de certas
coisas lhe dá assim um ar juvenil. Mas se ela não consegue nada com
isso, além do ridículo, ou se lhe ensinam — mais uma vez — tudo o
que ela já sabia, e que fingiu não saber, apela então para a
maquilagem.
Mas a maquilagem não dura muito, tem de ser renovada a cada
instante, e numa pequena distração qualquer pessoa descobre que sob
aquele fictício rosado da face e aquele falso brilho dos olhos repousam
alguns anos habilidosamente suprimidos pela indústria do
remoçamento.
Nada mais resta senão o recurso supremo da mentira: o jeito
mesmo é enganar a data dó nascimento e, toda vez que for possível,
ausentar-se da cidade no dia do seu aniversário: sem festa e sem
comemoração, raramente alguém se lembra que uma pessoa cresceu
mais um ano, a não ser outra mulher. Mas para essas nem uma falsa
certidão de nascimento convence, porque uma sabe mais da vida da
outra do que da dela mesma. Entre mulheres, o melhor processo é se
juntarem todas e firmarem um acordo de honra: suprimir cinco anos
de cada uma, porque assim ficam todas mais moças na mesma
proporção. E, uma vez firmado o pacto, tomar o máximo cuidado para
não brigarem entre si — pois basta brigar com uma para que todas as
outras cresçam cinco anos suprimidos. Isso sem admitirmos a hipótese
de uma vingança, em que podem crescer de dez até quinze anos — e
todo mundo acredita. Sim, porque essa história de dizer que a mulher
tem a idade que aparenta é uma conversa: se tem mesmo, pior pra
elas.

A MULHER NUNCA SE CANSA DE SE CANSAR DELA


MESMA

No fundo, são todas iguais, porque o que querem mesmo é ser


diferentes umas das outras, sem perceber que a única mulher diferente,
no duro, é a que quer ser igual — mas isso é dificílimo de conseguir,
porque nenhuma mulher é igual nem a ela mesma, pois muda de cinco
em cinco minutos.
Querem uma prova? Reparem: a mulher acorda e a primeira coisa
que faz, antes mesmo de escovar os dentes e tomar banho, é correr
para o espelho para ver se está com boa aparência. Fica horas
experimentando os cabelos para cima, para baixo, para a esquerda,
para a direita, e finalmente decide jogá-los para trás. Escova os dentes,
toma banho, volta para o espelho, sente tédio da sua fisionomia: afinal
de contas, ver aquela mesma cara todo o dia enjoa qualquer um.
Desmancha novamente os cabelos, inventa um penteado diferente,
desses que agradam os homens e desagradam as mulheres — que é
que ela pode querer mais? Nada disso adianta, porque, logo depois do
almoço, quando vai retocar a pintura, percebe que esse penteado
também não está bom. Tenta mais uns três ou quatro e acaba perdendo
a paciência: liga para o cabeleireiro e marca hora. Afinal, o que ela
queria mesmo era um pretexto para ir ao cabeleireiro saber das
novidades. O cabelo é o que menos importa; tanto assim que pede
para pintá-los de louro, e quando o cabeleireiro se espanta, dizendo
que os seus cabelos já estão louros, ela olha no espelho, finge um ar de
espanto e diz: "Oh, meu Deus, como sou distraída. . . Então pinta de
preto mesmo. . ."
À noite vai a uma boate exibir o novo penteado, mas acontece que
as amiguinhas que encontra não a vêem há apenas dois dias e
exclamam surpresas: "Ué, você continua morena?..." Ela interrompe a
dança, corre para o toalete, fica meia hora estudando uma cor que não
seja nem loura nem morena, volta pra mesa, inventa um pretexto pra ir
pra casa porque isso de ficar numa boate sem chamar atenção não
interessa. Ninguém entende coisa alguma, a não ser as amiguinhas,
que, como ela, conhecem também o problema, pois passam
diariamente pela mesma coisa. Em casa, não dorme, fica no espelho
imaginando como ficará se fizer assim, ou assim, ou não será melhor
assim?. . . Finalmente, vai dormir, acorda mais cedo, liga para o
cabeleireiro e ele lhe diz que tem um penteado e uma cor de cabelos
inteiramente novos, recém-chegados de Paris; ela corre para lá e sorri
vitoriosa. Quando der de cara com as amiguinhas, logo mais, vai ser
um tiro. Dito e feito, quando se encontram, ficam todas mudas: como
é que pode? Não é que estão todas com o mesmo penteado?...

A PARTE MAIS CARA DA MULHER ESTÁ NA CARA: A


LÁGRIMA

Quando a mulher começa a chorar, não há dinheiro que chegue


para fazê-la parar. Não adianta oferecer lenço, não adianta oferecer
conselhos; o homem experiente sabe perfeitamente que o talão de
cheques é o único mata-borrão capaz de secar os seus olhos, e mal
acaba de assinar o nome, já a mulher está sorrindo. Mas o pior não é
isso; é que a mulher chora sob qualquer pretexto e, muitas vezes, até
sem pretexto — porque até a falta de pretexto é pretexto pra mulher
chorar. Conclui-se, portanto, que a mulher chorando é cheque ao
portador, daí a expressão de que a mulher custa "rios de dinheiro". Um
homem pode perfeitamente dizer que vive com a sua mulher há de-
zenas de litros. . .
Quando se pergunta à mulher por que motivo está chorando, nem
ela mesma sabe; mas se lhe perguntam o que ela quer para parar de
chorar, isso ela sabe. Difícil, se não impossível, é descobrir a
verdadeira razão das suas lágrimas; nem mesmo Freud se aventurou a
tanto, que ele não era bobo de cair no ridículo. De fato, o assunto é de-
masiadamente complexo: mulher chora quando está sozinha, chora
quando está acompanhada, chora quando namora, chora quando
desmancha, chora quando fica noiva, chora quando casa, chora
quando tem filho — se é menino, chora porque queria menina; se é
menina, chora porque queria menino.
Mulher não tem mais o que inventar para chorar: tira fotografia e
chora porque saiu feia; quando folheia o álbum de recordações, chora
com saudades do tempo em que era bonita.
No lar, então, nem se fala: se o marido não vem jantar, chora
porque tem de jantar sozinha; se o marido vem, chora porque tem de
cozinhar. Se o marido quer sair, chora porque quer ficar em casa; se o
marido quer ficar em casa, chora porque quer sair. Se o marido a leva
ao teatro, chora porque queria ir ao cinema; se a leva ao cinema, chora
porque o filme é triste, e quando o filme é alegre chora porque queria
que fosse um filme triste.
Para o choro da mulher só há mesmo uma solução: assim como já
existe o Banco de Sangue, devia haver também o Banco de Lágrimas:
o marido faria o depósito em dinheiro e a mulher sacaria com
lágrimas. Era só chegar no balcão e abrir o berreiro.
13B
COMO SE CONQUISTA UMA
MULHER
A MULHER AO ALCANCE DE TODOS

Pequenos truques que permitem um fulminante êxito no variado e


complicado mercado feminino. Mas não esqueça que dez por cento
dependem de você.

A INTELECTUAL
Só faz questão de uma coisa: afinidade. Topa qualquer parada,
desde um banho de mar à noite até uma viagem inesperada ao
Amazonas. Despreza as poltronas para sentar-se no chão, não tem
preconceito de espécie alguma, gosta de conversar pelo telefone, de
madrugada, sobre Proust, Kafka, Saint-Exupéry, Carlos Drummond.
Fale-lhe sempre por metáforas e lhe conquistará inteiramente o
espírito. No pouco que resta, seja objetivo, mas cuidado com a
colocação dos pronomes.

O BROTO
É sempre problema, quer seja para os pais, amigas, professores,
colegas. Broto que não é problema para ninguém é problema para si
mesmo. Gosta de matar aula, de mascar chicletes, de decorar letras de
kits, de ir à praia e freqüentar matinais de cinema. Adora passear de
carro, mas não vai; adora dormir tarde, mas não dorme. Tem hora
certa para chegar em casa, porque precisa acordar cedo para ir à aula.
Com jeito e muita persistência, você quebra esses tabus e consegue
levá-la a uma boate — mas ela leva também a mamãe.

A BALZAQUIANA
Tem quase sempre quarenta anos, mas insiste em não sair dos
trinta. Tem ar de mulher experiente e faz questão de frisar isso sob
qualquer pretexto, ou mesmo sem. Leva, semanalmente, a cabeça ao
cabeleireiro e, diariamente, o corpo a restaurantes. Come, fuma, joga e
bebe com desembaraço. Adora exibir os namorados, principalmente se
são maridos de suas ex-amigas. Mostra-se exigente nos mínimos
detalhes, mas a verdade é uma: o que vier, ela traça.

A FEIA
Sempre acha que é mais feia do que realmente o é, e, na maioria
das vezes, é mesmo. Mas se convence, sabe-se lá como, de que é mais
simpática, mais culta e mais desembaraçada que todas as mulheres.
Faz questão de dizer que a amizade é mais importante que o amor, e
está sempre cercada de amigos. Nunca participa de um concurso de
beleza, mas comparece a todos, para dar a sua opinião. De qualquer
forma, mulher feia é um perigo; a prova é que todas casam. Se você
facilita pode ser o marido, já pensou?

A GRÃ-FINA
Nem sempre é rica, mas nasceu pra ser. Tem automóvel e chofer;
quando não pode ter chofer, tem só o automóvel, e quando não tem
automóvel, não fica bem ter só o chofer — mas às vezes tem.
Freqüenta coquetéis, premières, macumbas e abertura de saison.
Gosta de exposições de pintura, mas só vai quando dizem que é
vernissage. Assiste a todos os desfiles de moda, mas raramente
compra. Fala mal dos colunistas sociais, mas freqüenta suas colunas e
é freqüentada por eles. Não faz fins de semana, só uiquendes. Se você
não está com a "bomba", desista; se está, cuidado, pode estourar.

A BONITA
Se faz de difícil, mas não existe mulher difícil; o que existe é
mulher que leva mais tempo ou menos tempo.
A bonita leva mais, porque está sempre rodeada de pretendentes,
nenhum acreditando que uma mulher tão bonita possa gostar dele. Há
vários processos de conquistas, mas está claro que, especialmente
neste caso, não vou ensinar todos. Um truque bom é namorar sua
amiga feia (e toda mulher bonita tem uma amiga feia). Ela se sentirá
tão rebaixada que dará tudo pra tomar você da amiga. Se não tomar,
azar o seu.

INTERVALO
14
DO DIÁRIO DE UM (QUASE) LOUCO

Por exemplo, o porteiro do meu edifício não deixa ninguém entrar


depois das 10 porque é ordem do síndico, aliás todo síndico tem
complexo de ser dono e por isso toma atitudes extravagantes
semelhantes às de um presidente da República, que, como o síndico,
também pensa que o Brasil é seu. Mas não é e está acabado, o máximo
que ele pode fazer é construir a sua brasiliazinha muito na moita, ou
muito na vista, como queira, e transferir pra lá todos os problemas de
cá, e enquanto não transferir ir criando outros, claro que problemas! e
se vocês me interrompem mais uma vez com essa atitude de dúvida
diante do que escrevo, acabo me perdendo, mas não me perco e volto
ao síndico, ou melhor, ao porteiro: já imaginaram se um dia chego em
casa depois das 10 e lá encontro um novo porteiro que não me
conhece e não quer me deixar entrar? Como é que vou provar pra ele
que moro lá se minha carteira de identidade está lá em cima, na
gaveta, e ele não me deixa entrar sem que eu prove primeiro que moro
lá mesmo? Das duas, uma: ou o síndico não deve mudar de porteiro
sem aviso prévio ou sou obrigado a chegar pontualmente em casa,
antes das 10, mas como ser pontual nesta cidade paradoxal em que a
Rádio Relógio diz uma coisa e a Central diz outra, o Repórter Esso diz
outra e o Padre Vasconcelos não diz nada? Relógio eu tenho, sim, mas
não sei por onde acertá-lo e tenho a impressão que a televisão também
não sabe, pois se soubesse não atrasava tanto, diga se não é. E se
ninguém atrasasse, vocês não acham que estaria sobrando um verbo?
Verbo foi feito pra ser conjugado e só se conjuga o verbo atrasar
chegando tarde, seja lá onde for e principalmente, mesmo porque a
pontualidade nesta cidade só existe na Hora do Brasil, que nem Hora
tem mais (só tem meia), mas em compensação ganhou em voz (Voz
do Brasil), que ninguém sabe porque ninguém ouve e quando ouve já
checa atrasado, depois do locutor dizer o título, e daí? A solução é a
gente discar pro Observatório Nacional, mas como é irritante a gente
procurar o número na lista telefônica o melhor é tentar "umzerodois"
só pra ouvir a telefonista mandar a gente procurar na lista. No
Observatório eles atendem e dizem o que se convencionou chamar de
"hora certa" que não é tão importante assim pois não' adianta a gente
ficar com a hora certa se os outros estão com a hora errada, porque aí
dá na mesma, ao invés da gente chegar atrasada acaba chegando
adiantada e tem que esperar do mesmo jeito. Vai daí que o remédio é
fazer um apelo na Câmara para que alguém apresente um projeto para
a oficialização do tempo, e bom pra isso é o tal deputado que ainda
não foi eleito, mas já convenceu a todo mundo que é carioca e
trabalhador, e só o fato de ser carioca já é um handicap, o que estraga
um pouco é ser trabalhador, porque quem trabalha pra homem é re-
lógio, por isso mesmo, dizia eu, ninguém melhor do que ele apresentar
o "Projeto Relógio", que, uma vez aprovado, o relógio passaria a
trabalhar pra todos nós, mas isso é quase uma utopia, não a elaboração
do projeto, mas a sua aprovação, pois ninguém ignora que as nossas
Câmaras estão sempre vazias, pois tanto deputados como vereadores
passam a metade do mandato descansando da última campanha e a
outra metade se preparando para a próxima, mas isso não quer dizer
nada porque o povo compreende perfeitamente que votou justamente
naqueles que mais trabalharam para convence-los e se eles tiveram
esse trabalho antes é muito "juxto” que descansem depois, ainda que a
palavra "justo" tenha sido escrita "juxto", contra a minha própria
vontade, pois gastei um tempão estudando datilografia com os dez
dedos e depois de tirado o curso comprei uma máquina de escrever
com as teclas todas trocadas e como não posso trocar os dedos para
aproveitar o curço (estão vendo?) o jeito é ir me adaptando à máquina,
tenho culpa. me digam, tenho culpa?
15
PARA RIR NAS ENTRELINHAS

Eram cinco horas da tarde, quando ele saiu da cidade com

destino a Copacabana — e por isso mesmo não lhe seria difícil

cobrir aquele percurso de dez minutos em apenas 1 hora e 30.

Ainda assim, ficou indeciso: não sabia se devia seguir de marcha

à ré, para estar em posição adequada em caso de emergência,

ou se devia sair mesmo de frente, para evitar ver a fila dos

outros carros que lhe aumentavam cada vez mais o seu terrível

complexo de perseguição. De uma forma ou de outra, o fato é

que tinha de tomar uma atitude: o que não podia era continuar

naquela posição horizontal, atravessado no meio da rua, sem

deixar passar pra cá os carros que vinham de lá e sem deixar


pra lá os que iam de cá. Raciocinou rápido, mas não tão rápido

quanto devia vir o socorro — e mesmo que viesse não poderia

atravessar aquela massa de carros, cuidadosamente arrumada,

uns ao lado dos outros, sem haver espaço para que nenhum

deles pudesse abrir a porta. É verdade: ainda que ele quisesse

sair para telefonar para o socorro, não podia abrir a porta e

sair. Nunca lhe havia ocorrido que um simples enguiço do seu

carro pudesse enguiçar toda a sua vida. E a mulher: acreditaria

mesmo que seu carro estivesse enguiçado? Na certa começaria a

fazer perguntas das quais ele não teria saída, ou melhor, teria

menos saída do que o seu carro. Ele não sabia explicar bem

por quê, mas só pensava em helicóptero, helicóptero, helicóptero.

E daí? O pior eram as buzinas: sentia o sangue subir-lhe à

cabeça, sentia que a cabeça crescia, crescia. Tanto que talvez


nem coubesse mais dentro do carro. Fechou os vidros das janelas

para trancar a sua vergonha. Mas vergonha de quê? Acaso era

ele o culpado de seu carro enguiçar? Será que ninguém com-

preendia isso? Chegou a sentir que só o seu carro enguiçava,

o dos outros nunca. Assim que saísse dali o venderia a qualquer

preço. Sentiu ódio do carro, sentiu desprezo. As buzinas não

paravam. Apertou o botão de arranque, nada. Seu maior pavor

era que aparecesse um desses mecânicos de rua que surgem

não se sabe de onde e que começam a azucrinar os ouvidos

da gente com "carburador", "bomba de gasolina", "platinado",

'ignição", etc. Já bastavam as buzinas. Mexeu na chave, oh!

não é que estava desligada?! Ligou: deu no arranque,

o motor pegou As buzinas pararam, como passe de mágica,

Desceu os vidros das janelas, sorriu vitorioso, meio tímido, dis-


farçou com receio de que alguém percebesse a gafe, engrenou

o carro e tentou sair devagarinho: bateu. Ouviu, então, o pri-

meiro palavrão de uma série

PS. — As entrelinhas foram feitas bem espaçosas para que o leitor


ria à vontade.

P.S. do P.S. — Se o personagem desta história soubesse que as


entrelinhas iam ser tão largas, teria conduzido o seu carro por elas.
16
A PSICANÁLISE AO ALCANCE DE (QUASE)
TODOS

PSICOTESTES
(Com muito mais psico do que testes)

1 __ Você se julga um homem precavido? Então me explique: por


que tantos filhos?

2 — Você crê, realmente, que é um homem prevenido? Então


verifique: tem uma estampilha aí no bolso?

3 — Você acredita mesmo que é um sujeito absolutamente


tranqüilo? Então disque de novo.

4 — Você acha que é um motorista prudente? Então responda:


quem faz a rua preferencial, é a Inspetoria ou o carro mais pesado?

5 — Você se julga o melhor dos maridos? Então explique: por


que sua mulher vive lhe apontando, como exemplo, os maridos das
outras?

6 — Você é mesmo um sujeito decidido? Então por que não parou


de ler esta página?

7 — Você pensa mesmo que não é um camarada curioso? Então


por que quando alguém lhe telefona, você manda dizer que não está
pra ninguém, e depois que a empregada desliga, você pergunta "quem
era"?

8 — Você se acha um marido exemplar? Então confesse: por que


essa preocupação de examinar o lenço e o colarinho antes de ir para
casa?

9 — Você se julga um sujeito otimista? Então pra que essa cara,


ao entrar no avião?
10 — Você se acha um homem simpático? Então por que essa
demora, pela manhã, diante do espelho, mirando-se de todos os
ângulos?

11 — Você acredita na sua agilidade mental? Então diga. . . por


que essa hesitação?

12 — Você se julga um sugeito eficiente? Então justifique: por


que ainda não está naquele emprego?

12-A — Você é, como eu, um homem sem superstições? Então


por que essa cisma?

14 — Você se orgulha de não ter complexo? Então confesse: você


não acha que só isso já é um?

15 — Você acredita mesmo que tem espírito esportivo? Então por


que não troca o seu time pelo Olaria?

16 — Você se considera um sugeito honesto? Então anda: por que


esse fone fora do gancho?

17 — Você se julga um homem corajoso? Então fique à vontade


que esse cachorro não morde.

18 — Você se crê, no duro, um homem generoso? Então vá em


frente, que o chofer de táxi não tem troco, coitado.

24 — Você tem orgulho do lugar onde nasceu? Então responda: e


se tivesse nascido na Abissínia?

25 — Você se julga um homem de bom gosto? Então pra que


essa olhadinha na mulher dos outros?

26 — Você se julga um homem de bom tom? Então diga: qual é o


seu tom?

27 — Você se julga um sujeito prestativo? Então me faça um


favor: leia esta de novo, tá bem?
28 — Você se julga um sujeito prestativo? Então me faça urn
favor: leia esta de novo, tá bem? (Eu tinha certeza que você não ia ler,
espontaneamente.)

29 — Você costuma se gabar, freqüentemente, de não ter ciúmes?


Então por que não confere, só por curiosidade, por que preço sua
mulher comprou aquele bracelete de diamantes no leilão que ela
disse?

30 — Você se acha, realmente, um homem super-higiênico?


Então cuidado para não molhar o dedo, ao virar a página.

19 — Você se considera satisfeito com o que possui? Então me


diga: pra que outro sapato?

20 — Você se acha um sugeito culto? Então como não percebeu


que sujeito se escreve com "j" e não com "g"?

21 — Você se considera um patriota? Então quero ver: mostre a


sua bandeira.

22 — Você é desses que não acreditam em sonhos? Então dê um


palpite: que bicho vai dar amanhã?

23 — Você acha que tem alma de artista? Então... tomamos


outro?

CONHEÇA-SE A SI MESMO

VOCÊ É NERVOSO?
1 — Você buzina uma fração de segundo após abrir o sinal,
porque acha que o carro da frente não quer andar?
2 — Você acha que o sujeito de trás é um imbecil, quando se dá o
inverso: isto é, quando você está na frente e ele buzina atrás?
3 — Você tem vontade de sair do carro e massacrar o motorista
de cada táxi que lhe dá uma "fechada"?
4 — Você acha realmente que todo pedestre que atravessa na
frente de seu carro é um idiota?
5 — Você tem vontade de abandonar o carro pro resto da vida,
quando fura um pneu no meio da estrada?

CONCLUSÃO: Se respondeu "sim" a todas as perguntas, você não


é, absolutamente, um nervoso, mas simplesmente um motorista. Se
respondeu "não" a qualquer das perguntas, siga este conselho: por que
não compra um carro?

VOCÊ É MEDROSO?
1 — Quando alguém fica batendo com o pé na sua poltrona,
num cinema, você evita reclamar porque aí mesmo é que o sujeito
pode insistir?
2 — Quando o elevador enguiça entre dois andares e a campainha
de emergência não funciona, você grita por socorro ou senta
calmamente e espera que o porteiro descubra que o elevador
enguiçou?
3 — Quando o dono da casa abre a porta pra você entrar, você vai
logo perguntando se tem cachorro?
4 — Quando você está acompanhado de uma moça, evita passar
no meio de um grupo de rapazes, com receio que dêem piadinhas para
ela e você tenha de tomar uma atitude?
5 — Quando você vai à praia e vê, no posto, uma bandeirinha
vermelha, deixa de cair na água?

CONCLUSÃO: Se você respondeu "sim" a todas estas perguntas,


desculpe, mas é muito chato. Se respondeu "não" é mais chato ainda,
porque demonstrou que não teve nem coragem pra responder "sim".

VOCÊ TEM COMPLEXO DE INFERIORIDADE?


1 — Quando você vê na praia um atleta, pensa intimamente que
amanhã vai começar a fazer ginástica?
2 — Quando sua calça rasga-se na rua, fica constrangido porque
podem pensar que você já saiu com ela assim de casa?
3 — Quando você vê uma mulher muito bonita, pensa logo na sua
— que não é tanto — mas fica satisfeito mesmo com a que tem,
porque acha que não pode ter melhor?
4 — Quando você se olha no espelho, de manhã, procura se
justificar de que o que vale mesmo é a simpatia?
5 — Se você é casado, deixa de confessar isso, num grupo de
solteiros, com vergonha que pensem que você é otário, ou se é
solteiro, também esconde, com receio que pensem que você não
conseguiu casar?

CONCLUSÃO: Se você respondeu "não" a todas estas perguntas,


não se preocupe, você não tem complexo de inferioridade; se
respondeu "sim", pode começar a se preocupar, porque se você não
tinha complexos vai começar a ter, agora.

VOCÊ TEM BOA MEMÓRIA?


1 — Você se lembra em que dia da semana conheceu sua mulher?
2 — Você se lembra do número do telefone da sua primeira
namorada?
3 — Você se lembra do número de páginas que tinha o primeiro
livro que você leu?
4 — Você se lembra com quantos dias de atraso recebeu o seu
primeiro ordenado?
5 — Você se lembra de que cor era o vestido de sua tia mais
velha, no dia em que você caiu da bicicleta pela primeira vez?

CONCLUSÃO: Se respondeu "sim" a todas as perguntas, esteja


certo: você é um fenômeno. Mas se você argumentar que não pôde
responder porque nunca leu um livro, sempre recebeu em dia e nunca
levou tombo de bicicleta, então esteja mais certo ainda: você é um
fenômeno muito maior.

VOCÊ É DISTRAÍDO?
1 — Você costuma reparar quando sua mulher, noiva ou
namorada põe um vestido novo?
3 — Você costuma se lembrar, exatamente, em que pedaço do
filme chegou ou tem que ver mais um pedacinho?
5 — Você costuma, todo ano, cair no dia 1.° de abril?
2 — Você tem o hábito de atravessar a rua sem olhar para os dois
lados?
4 — Você costuma conversar com uma pessoa durante horas, sem
prestar atenção, tentando descobrir de onde é mesmo que você a
conhece?
CONCLUSÃO: Se você respondeu "sim" ou "não" a qualquer destas
perguntas, isso não tem a menor importância; mas se você não reparou
que a numeração deste último teste está completamente alterada, então
meu caro, você não é um distraído, é mais que isso: é um ceguinho. E
daí, vai bater?

CONHEÇA O SEU MARIDO

Nota: Se você responder SIM a todas estas perguntas, vá em frente,


e boa sorte!
1 — Seu marido chega freqüentemente tarde para o jantar?
(SIM/NÃO) — Isso é normal: as estatísticas atestam que, em cada
dez maridos, nove chegam tarde para o jantar e um não sai de casa.

2 — Seu marido reclama constantemente que a comida não tem


sal?
(SIM/NÃO) — Antes mesmo de descobrir o sal, o homem descobriu
o pretexto da comida salgada: o que ele quer é um motivo pra jantar
fora. Diga que também vai, que ele nunca mais reclamará.

3 — Seu marido não nota nunca quando você muda de penteado?


(SIM/NÃO) — Experimente deixar o mesmo penteado dois dias
seguidos: garanto que notará.

4 — Seu marido também implica com a linha saco?


(SIM/NÃO) — Por que você não tenta convencê-lo que está
esperando um bebê? Se não está, é uma boa indireta.

5 — Seu marido não acha mais que você se parece com artista de
cinema?
(SIM/NÃO) — Sinal que é delicado. Já imaginou se ele continua
insistindo que você se parece com a Greta Garbo?
(N. do D. quando foi escrito esse livro Garbo estava viva e velha)

6 — Os negócios dele exigem realmente uma viagem por semana?


(SIM/NÃO) — Peça para acompanhá-lo, alegando que não
suportaria mais essa separação. Resultado: ou você vai, ou ele fica, ou
muda de negócio.
7 — Seu marido vive dizendo que você não o entende mais?
(SIM/NÃO) — Pois então tente entendê-lo, especialmente quando
ele diz que você não o entende mais.

8 — Seu marido não reclama nunca do seu decote muito aberto?


(SIM/NÃO) — Passe a fechá-lo. É sempre bom ter algum motivo
para contrariar o marido.

9 — Seu marido não se incomoda que você passe as noites


jogando biriba?
(SIM/NÃO) — Então jogue pra perder: azar no jogo, sorte no amor
(sabe lá?).

10 — Seu marido é a favor do divórcio?


(SIM/NÃO) — Não se preocupe: ele quer se convencer que, mesmo
preso, pode sentir a sensação de ser um homem livre.

11 — Seu marido está sempre no café, quando você telefona para


o escritório?
(SIM/NÃO) — Por que não tenta ligar pro café pra ver se dizem que
ele está no escritório?

12 — Seu marido já comprou televisão pra você ficar em casa


enquanto ele faz serão?
(SIM/NÃO) — Sinal que é um bom marido: vive preocupado com o
seu bem-estar. Seu de quem? ' Ora, seu, seu mesmo. Ficou na mesma?
Então azar o SEU, entendeu agora?

13 — Seu marido diz com freqüência que furou o pneu do carro?


(SIM/NÃO) — Primeiro que tudo, verifique se ele tem carro. Ah,
não tem? Então a culpa é sua: quem mandou casar com um pedestre?

P.S. — Se você respondeu NÃO a uma só dessas perguntas, pode


confessar: esse homem não é seu marido.

CONHEÇA A SUA MULHER


Nota: Assinale com um "x" a resposta SIM ou NÃO para cada
pergunta, antes de ler o resultado. Depois confira: se não der certo,
paciência — é que você conhece, melhor do que eu, a sua mulher.

1 — Sua mulher é desconfiada?


SIM — Isso é bom sinal. É melhor ser desconfiada do que ter
certeza.
NÃO — Então é bom v. desconfiar.

2 — Sua mulher tem o hábito de repreendê-lo em público?


SIM — Isso é sintoma de que está querendo ficar em casa.
NÃO — Então por que v. não sai com ela?

3 — Sua mulher diz com freqüência que precisa ir ao dentista?


SIM — Sinal que é bem intencionada. Esta é a única maneira de
levá-lo até lá.
NÃO — Então acho bom você mesmo levá-la.

4 — Sua mulher fica mal-humorada quando v. não quer levá-la


ao cinema?
SIM — Não dê importância. É melhor ficar mal-humorada antes de
ir do que depois.
NÃO — Então você pode ir sozinho mesmo.

5 — Sua mulher insiste em ter filhos?


SIM — A insistência é uma qualidade. Só que às vezes essa
qualidade pode gerar defeitos.
NÃO — Então por que v. não insiste?

6 Sua mulher tem o hábito de adotar o provérbio “onde come um


comem dois"?
SIM — Isso é indireta dela. Naturalmente está querendo que você
jante com ela.
NÃO — Então... me retiro?

7 — Sua mulher acha que você é o sujeito mais fabuloso do


mundo?
SIM — Mau sinal. Como é que ela sabe que os outros também não
são fabulosos?
NÃO — Então, azar o seu: se ela não acha, quem é que vai achar?
8 — Sua mulher detesta os seus amigos?
SIM — Isso é uma espécie de represália feminina, pra ver se v.
também passa a detestar as amigas dela.
NÃO — Então acho bom trocá-los por outros.

9 — Sua mulher desconfia de você quando está falando a


verdade?
SIM — Isso é normal. O que ela quer é detalhes. E é justamente
nos detalhes que você deve mentir, senão ela continua desconfiando.
NÃO — Então me diga: ela é muda?

10 — Sua mulher não desconfia de você quando você está


mentindo?
SIM — Sorte a sua. Não existem ainda médicos especialistas no
tratamento do sexto sentido.
NÃO — Então continue mentindo.

11 — Sua mulher tem mania de lhe fazer surpresas?


SIM — Cuidado.
NÃO — Então quem vive surpreso é você.

12 — Sua mulher costuma lhe dar conselhos quando você está em


alguma dificuldade?
SIM — Isso quer dizer que ela está querendo lhe meter em outra
dificuldade.
NÃO — Então saia dessa, sozinho.

13 — Sua mulher se pinta demasiadamente?


SIM — Perdoe: esta é a chamada psicologia feminina. Ela só está
querendo lhe agradar, sendo inteiramente "outra" para você.
NAO — Então ela não tem jeito mesmo, não é?

14 — Sua mulher vive implicando com você porque você não se


lembra da data do seu (dela) aniversário?
SIM — Isso é um desabafo: a mulher não quer que ninguém saiba
que ela também faz anos e como ela tem de fazer mesmo, descarrega
em cima do marido.
NÃO — Então nem ela mais se lembra.
15 — Sua mulher resmunga o tempo todo quando você joga cinza
no chão?
SIM — Isso é um enigma: ou ela quer que v. limpe o chão, ou quer
que compre um cinzeiro ou quer que deixe de fumar.
NÃO — Então você não fuma.

16 — Sua mulher lhe amola a paciência dizendo quevocê ganha


pouco?
SIM — Por falar nisso, por que v. não faz uma forcinha pra ganhar
mais?
NÃO — Então v. não tem outra.

17 — Sua mulher passa o dia inteiro se queixandoda


empregada?
SIM — Isso é um sintoma de autodefesa. Evite ficar muito tempo
na cozinha.
NÃO — Então você faz todo o serviço, hein?

18 — Sua mulher fica sem falar com você vários dias seguidos,
depois de uma rusga?
SIM — Ah! entramos finalmente no capítulo do orgulho feminino.
Aproveite bastante, amigo, enquanto durar.
NÃO — Então me diga uma coisa: Freud já está superado, não
acha?

19 — Sua mulher não lhe perdoa o simples fato de você não


recordar a data do seu casamento?
SIM — Positivamente, sua mulher é matematicamente romântica.
A mulher só perdoa essa falta de memória se o presente, no dia
seguinte, for compensador.
NÃO — Então, cá entre nós: você'não é o primeiro. Ah, ééé???
Perdão.

20 — Sua mulher costuma dizer que você é o fim?


SIM — Depende do tom: se for o que eu penso, isto significa que
ela é uma mulher de princípios.
NÃO — Então lhe pergunte agora.
P.S. — Se este pequeno questionário lhe ajudou em alguma coisa
para que você conhecesse sua mulher, então fico satisfeito, porque —
cá entre nós — já era tempo.
17
PARA O FÍGADO
18
AS 10 COISAS MAIS DO ANO

MAIS BARULHENTAS
1 __ Rádio do vizinho.
2 __ Despertador (de manhã).
3 __ Geladeira (de noite).
4 __ Feira livre.
5 .__ Batedor de presidente.
5 __ Grilo de automóvel.
7 __ Tosse no teatro.
8 — Fã-clube.
9 — Buzina de carro pequeno.
10 __ Filme em série.

MAIS DIFÍCEIS DE ENCONTRAR


1 — Carta extraviada.
2 — Marido no escritório.
3 — Níquel pra telefonar.
4 — Placa de rua.
5 __ Troco.
6 — Táxi na chuva.
7 — Objeto que cai no cinema.
8 — Banqueiro no banco.
9 — Zelador no edifício. 10 — Contrabandista.

MAIS RÁPIDAS
1 — Foguete espacial.
2 — Porta de trem.
3 — Boato.
4 — Inflação.
5 — Fim de mês.
6 — Férias.
7 — Mocidade.
8 — Desenho animado.
9 — Lua-de-mel.
10 — Terceiro homem.
MAIS OUVIDAS NUM BOTECO
1 — "Cafezinho pra quatro."
2 — "Posso telefonar?"
3 — "Média com pão e manteiga."
4 — "Dois dedos."
5 — "Um copo d'água."
6 — "Mineral ou natural?"
7 — "Liga pra radiopatrulha”
8 — "Me vê uma coalhada."
9 — "Vamos decidir no palitinho."
10 — "Primeira à direita."

MAIS DURAS
1 — Cadeira de dentista.
2 — Mala do carro da frente.
3 — Pára-choque do carro de trás.
4 — Bife com fritas.
5 — Poço de elevador.
6 — Janela de ônibus.
7 — Cinta de mulher.
8 — Calo.
9 — Milhar.
10 — Amigo do peito.

MAIS VAZIAS
1 — Câmara dos deputados.
2 — Bolso de rico.
3 — Pastel de botequim.
4 — Sapato de Natal.
5 — Cofre da prefeitura.
6 — Playboy.
7 — Guarda-roupa de corista.
8 — Caderno de estudante.
9 — Filme brasileiro.
10 — Pneu sobressalente.

MAIS RASGADAS
1 — Macacão de mecânico.
2 — Barriga de malandro.
3 — Poltrona de cinema.
4 — Guardanapo de restaurante.
5 — Jornal de ontem.
6 — Capota de conversível.
7 — Aviso de cobrança.
8 — Barraca de hotel.
9 — Meias de nylon.
10 — Poules de hipódromo.

MAIS IRRITANTES
1 — Porteiro.
3 __ Telefone ocupado.
4 — Fã.
5 - Bolo.
6 - Discurso.
7 — Patrão.
8 — Empregado.
9 __ Falta de botão.
10 __ Locutor de carnaval.

MAIS ENGUIÇADAS
1 — Máquina de escrever.
2 — Porta de táxi.
3 — Gaveta de armário.
4 — Relógio de automóvel.
5 — Persianas.
6 — Cortina de teatro.
7 — Microfone de clube.
8 — Revólver de mocinho.
9 — Isqueiro (dos outros).
10 — Televisão (nossa).

MAIS SUJAS
1 — Areia de praia.
2 — Toalha de restaurante.
3 — Pente de barbeiro.
4 — Nariz de criança.
5 — Toalete de cinema.
6 — Colarinho de galã.
7 — Debaixo do tapete.
8 — Banda branca.
9 — Açucareiro de hotel.
10 — Teatro de revista.

MAIS MISTURADAS
1 — Baile de carnaval.
2 — Bolsa de mulher.
3 — Ortografia brasileira.
4 — Lojas de fazenda.
5 — Arroz amarelão.
6 — Areia de Copacabana.
7 — Leite.
8 — Saco de roupa suja.
9 — Uísque.
10 — Café Society

MAIS LENTAS
1 — Garção.
2 — Telegrama.
3 — Mulher se vestindo.
4 — Ambulância.
5 — Contínuo.
6 — Processo.
7 — Gripe.
8 — Alfaiate.
9 — Prefeitura.
10 — Féretro.

MAIS SEGUIDAS
1 — Moça bonita.
2 — Mau conselho.
3 — Carro-reboque.
4 — Devedor.
5 — Pulga.
6 — Ambulância.
7 — História em quadrinho.
8 — Novela.
9 — Pagador.
10 — Setas de trânsito.
NOTA: Estas últimas são seguidas em sentido contrário.
19
LIÇÕES DE ESTILO
Leu o jornal durante três passageiros que se sentaram ao lado.

Monologou durante duas horas com uma amiga.

Esperou o telefonema do namorado durante dois romances


policiais.

Conversou no telefone durante dois blocos de rascunho.

Remou durante 30 metros e um furo na proa.

Seu filho nasceu no vigésimo sétimo cigarro.

Ficou no emprego durante duas secretárias.

O chofer de praça mudou-se para 780 cruzeiros mais longe.

Foi datilografa durante seis patrões e um casamento.

Usou o automóvel apenas 2 quilômetros e um poste.

Não discutia mais de um soco na cara.

Beijaram-se durante quatro discos e um enguiço na vitrola.

O namoro durou exatamente quinze citações em colunas sociais.

Deu uma batida de 2 000 cruzeiros e dois palavrões. Chegou em


casa com cinco embrulhos de atraso.

Foi cobrador durante 197 cobranças de 200 cruzeiros e uma de


2000.
Dançou o tempo todo em 33 rotações.
Caminhou um par de sapatos inteirinhos.

Ficou sem graça como quem está tirando fotografia.

Bebeu durante duas garrafas de uísque e uma radiopatrulha.

Era uma pequena que nunca beijava menos de meio batom.

Casou depois de 856 não e um sim.

Ficou na ilha durante dois navios e a filha do comandante.

Entrevistou 47 índios e um antropófago.

Assistiu ao filme durante oito beijos e um vaga-lume.

Leu o jornal durante dezoito "me empresta um instantinho".

Chegou ao fim da linha com um adiantamento de quatro sinais


vermelhos.

Estacionou o carro durante quinze minutos e um reboque.

Foi pára-quedista durante 392 saltos e um pára-quedas novo.

Não jogava pôquer há mais de 23 500 cruzeiros.

Não passava pela Avenida Brasil há 3 costelas e 1 clavícula.

Ela só beijava de perfil.

20
NÁUFRAGOS
Salvamento bossa nova Abandono

Perigo à vista — Um lugar!

Fim de Linha — Que bom, não nos viram!


Sombra e água fresca Enfim, S. O. S.
21
CINEMA
CONCEITOS CINEMATOGRÁFICOS, PRE

Há vários tipos de cinema: o cinema americano, o cinema


espanhol, o cinema francês, o cinema português, o cinema mexicano,
o cinema japonês, o cinema sueco, o cinema russo, o cinema alemão e
o novo cinema brasileiro.
O cinema americano é o mais combatido por todos. E também o
mais imitado.
Certos filmes nacionais copiam de tal maneira certos filmes
americanos que se não fossem os artistas a gente jurava que já tinha
visto.
O cinema é uma arte complexa e inexplicável: de cada dez filmes
americanos, um é ótimo, dois são bons, três regulares e quatro fracos.
De cada dez filmes nacionais, todos dez são de "boa qualidade".
Em Hollywood, um astro é feito com 70% de publicidade, 30% de
talento e 89% de força de vontade — o que vem provar que lá até a
porcentagem é exagerada.
Cinema é equipe. Quando fracassa, todos responsabilizam um só;
quando faz sucesso, cada um se responsabiliza.
Há filmes para todos os gostos: o policial é bom porque a gente
conta o fim; o dramático, porque a gente conta a história; a comédia,
porque a gente conta as piadas; o histórico, porque a gente conta o
livro — e o nacional porque a gente fica por conta.
Os filmes proibidos são os que dão mais dinheiro. Por isso, o
Código de Produção devia proibir a filmagem de filmes permitidos.
Artista italiano não se faz. É apanhado na rua, filmado na rua e
largado na rua.
No cinema brasileiro há dois tipos de argumentistas: o que
argumenta antes do filme ser lançado e o que argumenta depois.
Nos EE.UU. existem 19682 cinemas, na França 5688, na
Inglaterra 2 949, no Japão 4 682, em São Paulo, 2326. No Rio já devia
haver pelo menos um.
De ano para ano cresce assustadoramente o número de artistas,
mas o cinema sempre encontra uma fórmula de abrigá-los todos. Para
isso foi inventado o CinemaScope.
ISTO É HOLLYWOOD!!!

Stand-in é um indivíduo que ganha 5 dólares para levar um tapa


no lugar do astro.
Astro é um indivíduo que ganha cinqüenta mil dólares para que
outro indivíduo leve um tapa em seu lugar.
Estrela de cartaz é a que de filme para filme realiza três
casamentos.
Estrela sem cartaz é a que de casamento para casamento realiza
três filmes.
Maquilador é um homem que envelhece rejuvenescendo as
estrelas.
Argumentista é o que escreve a história do filme e o único que fica
surpreso ao ver o filme.
Produtor é um homem que faz vinte filmes para cada cinema.
Exibidor é o homem que constrói vinte cinemas para cada filme.
Publicista é um indivíduo que gasta 200 milhões para dizer que
uma fita de 50 milhões custou 100 milhões

Hollywood não admite defeitos em suas produções


GALÃS

O galã americano se apaixona pela mocinha à primeira vista, paga


todas as suas despesas durante o filme e no fim casa com ela.

O galã inglês já aparece casado, passa o filme inteirinho


declarando-se a outra e no fim fica com a sua mesmo.

O galã francês sustenta uma e é sustentado por outra — e


enquanto não se decide a matar nem uma nem outra, é assassinado por
uma terceira.

O galã italiano vive com uma ragazza enquanto é perseguido o


tempo todo por outra — mas quem o acaba pegando são os
carabinieri.

O galã mexicano só não passa o filme todo batendo na cara de sua


mulher, porque ela passa o filme inteirinho ajoelhada aos seus pés.

O galã sueco podia perfeitamente ser o pai da mocinha, mas


prefere ser o marido — senão não podia ter filme.

O galã japonês a gente só descobre quem é, no fim da fita, quando


o vilão morre — porque a cara de um é

O galã argentino passa o tempo todo cantando tango e acaba


sempre pedindo esmola. Se começasse pedindo esmola, não havia
necessidade da gente aturar tanto tango.

O galã brasileiro passa o tempo pedindo um papel de galã __ e


quando lhe dão o papel, ninguém sabe que é ele o galã.
FILME EM SÉRIE

Primeiro episódio
O ladrão de gado mata o xerife, quem leva a culpa é o mocinho,
um forasteiro que acaba de chegar à cidade e vai entrando no bar
local, enquanto o assassino continua jogando pôquer. A população
quer linchar o forasteiro.
Escapará?

Segundo episódio
O mocinho é pendurado na forca, um tiro certeiro arrebenta a
corda e o seu cavalo sai correndo, ele baixa a cabeça (o mocinho, não
o cavalo), para não bater na árvore, os bandidos saem atrás dele, o
mocinho passa pela cachoeira, os bandidos passam pela cachoeira, os
bandidos descem uma ribanceira, o mocinho entra num atalho, os
bandidos entram num atalho, o mocinho sobe o morro, os bandidos
sobem o morro, o cavalo do mocinho tropeça e ele pega o galho de
uma árvore, os bandidos passam, o galho começa a quebrar, tlic, tlic,
tlic, e quando o galho quebra o mocinho vê que está caindo no
precipício.
Escapará?

Terceiro episódio
O mocinho levanta, limpa o pó, encontra uma moça (foi ela que
deu o tiro na corda) que trata de seus ferimentos, diz que é perigoso
ficarem ali, leva uma flechada.
Escapará?

Quarto episódio
Agora quem trata da moça é o mocinho, leva ela para uma cabana,
dá um beijo nela e faz ela dormir, sai da cabana, é atacado por um
avião que solta uma bomba em cima da cabana, a cabana voa pelos
ares com mocinha e tudo.
Escapará?

Quinto episódio
O mocinho fica debaixo de uma pedra, a mocinha debaixo de um
toro de madeira, o mocinho sai de baixo da pedra, levanta o toro de
madeira e tira a mocinha, os bandidos chegam e prendem os dois,
jogam o mocinho no poço dos jacarés, levam a mocinha para a
caverna dos suplícios.
Escapará?

Sexto episódio
Os jacarés se aproximam do mocinho, os bandidos se aproximam
da mocinha, os jacarés estão pertinho do mocinho, os bandidos estão
pertinho da mocinha, os jacarés abrem a boca para engolir o mocinho,
os bandidos ficam de boca aberta porque um dos bandidos é o pai da
moça que estava disfarçado de bandido e disse mãos ao alto para todos
e, enquanto eles levantam os braços, o pai da moça pega o
calhambeque que estava dando sopa na beira da estrada e foge na
frente do pó que cobre a vista de todos eles, no momento em que o
avião volta e larga outra bomba. O chefe dos jacarés aproxima-se do
mocinho e trinca os dentes.
Escapará?

Sétimo episódio
A bomba explode na frente do Calhambeque, o pai da mocinha e a
própria rolam pela ribanceira e caem bem na boca de uma caverna,
entram com sua lanterninha de bolso e dão no poço de jacarés, vêem o
mocinho entre os dentes do jacaré, o pai da moça tira do bolso o Raio
Super-XCH32, fulmina o jacaré, tira o mocinho de dentro dele, saem
correndo enquanto o poço se desintegra sob a ação do Raio Super-
XCH32, chegam lá fora, sacodem o pó, fulminam o avião que cai em
cima dos bandidos e mata todos eles, a mocinha suspira, o pai da
mocinha suspira, o mocinho fica quietinho, pede a mão da moça, o pai
concede a mão e ela entrega a boca.
Escapará?
22
RASCUNHO
23
DEDICADO AOS PAIS

COMO EDUCAR SEU FILHO

Seu filho não quer ir à escola?


Não se preocupe, isso é normal. Lembre-se de que v. também,
quando criança, não queria ir à escola; seus pais o acabaram
mandando à força. De que adiantou isso? Você não vive se queixando
do alto custo de vida? Você não se sente um deslocado entre tantos
analfabetos? Se com você não deu certo o estudo por que não tentar a
completa ignorância do seu filho? Se o estudo não pode garantir um
bom futuro para ele, ao menos deixe-o aproveitar o presente matando
passarinhos e caçando borboletas. Você estudou para ter um futuro,
pois não esqueça que seu filho de hoje é o seu futuro de ontem.

Seu filho é travesso e vive lhe causando aborrecimentos?


Isso também é normal. É preferível v. ter aborrecimentos hoje para
que ele não tenha amanhã. Se v. ensinar o seu filho a ser educadinho,
bem comportado e respeitador, amanhã ele terá de enfrentar um
mundo completamente diferente daquele que lhe foi ensinado. E daí,
como é que ele vai se arranjar? Resultado: ele vai ser educado, bem
comportado e respeitador e acaba tomando na cabeça. Hoje tomam o
brinquedo e ele não diz nada; amanhã lhe tomam a casa e ele acaba
no olho da rua.

Seu filho tem a mania de se exibir diante das visitas?


Isso é grave: a criança que tem essas manias está querendo que o
mundo todo gire em torno de si. Por enquanto, v. pode garantir isso,
pois as visitas lhe quererão ser agradáveis; mas, amanhã, a criança
cresce, as visitas já terão ido embora, e a criança não será mais uma
criança. Resultado: acaba virando um. . . E você, sentirá orgulho
disso?
Seu filho é brigão?
Se é, estimule-o; se não é, ensine-o a brigar. Coloque-o numa
academia de defesa pessoal ou, se encontrar, de ataque geral. Amanhã
o menino cresce e vai precisar disso, pois terá de andar de táxi, de
ônibus, de ir à feira e, o que é mais importante, de namorar. Você que
conhece as moças de hoje bem pode imaginar como serão as de
amanhã. Hoje, o homem ainda casa se quiser.

DICIONÁRIO INFANTIL

Cinelo é isso ti o papai tompa pa mamãi mata balata.


Carta é um envelopi ti o tolêio tás lá in tasa i a mamãi abli i lê
tudinho e dispois tola dinovu i intlega pu papai.
Discussão é uma manchinha vermeinha ti a mamãi intlonta nus
lençu du papai.
Toblador é um homi glandi tum tala bem feia ti vai tudia lá intasa
e sai tum a tala mais feia ainda.
Vistidu é isso ti a mamãi sempli pedi pu papai nu dia du seu anos.
Tombu é isso ti a genti leva tuandu faiz o ti a mamãi disse pia
genti num fazê.
Mingau é isso ti o bico papão gosta munto puquê tuda veiz ti a
genti num qué toma a mamãi dis ti vai chama êli.
Totó é o bichinho ti tem lá em tasa e ti a mamãi vive ralando tum
êli puquê êli só qué fica em pé nas tlês patinha.
Telefone é esse negócio pletinho ti faiz tilin-tilin e todo mundo sai
tolento pia vê quem pega plimêlo.

CORUJA I - Minha fill é um amor.


CORUJA II - Deixa . ser coruja!
24
A CRÔNICA ORIGINAL
Fazer crônica não é escrever palavras bonitas nem construir frases
de efeito, nem falar dos inimigos, nem elogiar amigos, nem descrever
paisagens, nem contar casos fictícios querendo dar a impressão de
verdadeiros, nem procurar assunto na falta de assunto, nem encher
uma lauda pra dizer que o dólar está subindo, nem responder cartas de
leitores, nem inventar cartas pra fingir que recebeu, nem tentar
convencer ninguém que a vida é de amargar, nem querer impingir nos
outros que em tudo há poesia, nem achar tudo triste, nem achar tudo
alegre, nem falar de sua solidão, nem de seus problemas, nem dizer o
que fez ontem ou o que vai fazer amanhã, nem desabafar seus
problemas, nem enumerar seus vícios, nem querer corrigir os dos
outros, nem bancar cabotino, nem o falso modesto, nem imaginar o
tipo de mulher ideal, nem provocar enquetes, nem manter polêmicas,
nem analisar a situação internacional, nem combater o governo, nem
defendê-lo, nem dizer o que faria se fosse o presidente da República,
nem contar numa segunda-feira onde passou o fim de semana, nem
lutar pela semana inglesa, nem transcrever artigos de revistas
estrangeiras, nem rememorar velhos tempos, nem citar amigos para
fazer igrejinhas, nem anunciar a primavera, nem falar na falta d'água,
nem endeusar os jogadores de futebol, nem proclamar que o Brasil
está à beira do abismo, nem combater o cinema nacional, nem criticar
o nosso teatro, nem ironizar as quase vitórias das nossas misses, nem
fazer previsões para as campanhas eleitorais, nem tirar conclusão de
coisa alguma.
— E você consegue fazer uma crônica sem nada disso?
— Claro: olha aí pra cima.
25
PARA LER NO BANHEIRO
Nota do D.: em meio às páginas deste item no “livro de papel” foram colocadas
finas páginas, quase transparentes, próprias, digamos assim, para uso no banheiro

Certos gangsters contratam guarda-costas tão eficientes que só


levam tiro na barriga.

Médico previdente é o que costuma receitar soporíferos aos filhos


para curar a insônia dos pais.

Quando um homem escala uma montanha, ninguém toma


conhecimento. Quando se joga lá de cima, pega logo uma primeira
página.

Aos domingos, os milionários voltam pra casa — depois de um


exaustivo dia de repouso.

Certos colunistas ajudam a vender o jornal onde trabalham. Outros


ajudam a vender o diretor.

Amor é isso que começa a acabar num lugar no momento exato


em que acaba de começar em outro.

Algumas meninas puxam tanto à beleza das mães que pouco resta
para estas.

Um sujeito pobre é o que mora numa cabana, na beira do rio, e


passa o dia pescando, para viver. Um sujeito rico é o que vive o ano
inteiro dentro de um escritório, para poder passar uma semana numa
cabana, na beira do rio, para pescar.

Quando um automobilista freia para não bater no carro da frente,


geralmente bate no de trás.
As estatísticas não falham: para cada homem solteiro há sempre
uma mulher casada.

Quando protelamos muito tirar uma dúvida é porque no íntimo já


temos certeza.

Quando chega ao altar, o homem diz o seu último "sim" à mulher.

Este é um dos grandes paradoxos do trânsito: quando se deixa o


carro em "local proibido" aparecem as multas; quando se deixa em
"local permitido" desaparecem as calotas.

Alguns espiões se disfarçam tão bem de inimigo que acabam


lutando ao lado dele.

Certas secretárias casam-se com o patrão no primeiro dia de


trabalho. É o que se devia chamar de "amor à primeira carta".

Instrumentista consagrado é o que cobra uma fortuna para tocar


em casa de pobre e toca de graça em casa de rico.

Os estrangeiros pensam que o Brasil é terra de índios. Chegam


aqui, pegam um táxi e vêem que é mesmo.

O triângulo amoroso é a coisa mais misteriosa da vida. Sempre


aparecem dois de cada vez.

Quando um sujeito fica a espiar as janelas dos vizinhos de


binóculo, das duas uma: ou vai fazer dezessete anos ou já fez há muito
tempo.

Os presídios deviam afixar uma tabuleta na porta, todo fim de ano:


"Fechado para balanço. Remarcação de presos".

O divórcio é uma chance que se dá ao indivíduo para errar outra


vez.

Publicidade bem feita é a que nos convence a comprar loção


contra a queda de cabelos até o último fio.
Isto é progresso! A gente entra no elevador, aperta o botão do
"térreo" e o prédio desce.

De bomba em bomba o mundo vai construindo a sua paz.

Isto é o que se pode chamar de namorada boomerang: a gente


chuta de manhã e ela volta de noite.

Jornalista temido é o que ganha uma fortuna para escrever — e o


dobro para não escrever.

A melhor coluna social ainda é a lista telefônica: cita milhares de


nomes sem dizer um disparate e ainda por cima dá os telefones.

A Justiça anda tão devagar que quando o sujeito é julgado por um


crime já cometeu mais quatro.

Um homem casado vale por dois: a maioria deles sustenta duas


casas.

Um dia é da caça, outro do caçador. Quando chega o dia da caça,


não chega mais o do caçador.

Absurdo é a gente ter um filho parecido com o de outra pessoa e


ser acusado de plágio. Mas que o pai da outra criança não dorme, não
dorme.

Conversa de bêbedo entra por uma narina e sai pela outra.

Os cientistas passam anos fazendo pesquisas com bombas e um


dia param de estalo.

Uma pessoa apaixonada espera um telefonema durante dez


minutos até o dia seguinte.

Quando um homem se casa, passa a alimentar duas bocas e a


calçar quatro pés.

O empregado ganha exatamente a metade do que ele acha que


devia ganhar e o dobro do que o seu patrão acha que ele vale.
O suplício dos pescadores é que eles têm os braços muito curtos e
nunca podem mostrar o tamanho exato do peixe que pescaram.

Não é o lenço que traz a separação. É o batom que vem nele.

Inflação é um camarada chegar perto do outro e perguntar se tem


troco pra mil e outro responder: "Serve três de quinhentos?"

Com a primeira folha de parreira surgiu o primeiro problema da


moda feminina: onde colocá-la?

Humorista bom é o que traz sempre um sorriso nos lábios dos


outros.
26
DEZ PRETEXTOS PARA NÃO TRABALHAR

I
Habitualmente, o humorista comum quando se sente sem assunto,
ou melhor, sem capacidade para descobrir que um humorista nunca
fica sem assunto (o muito que pode acontecer é o assunto ficar sem
ele), decide assim mesmo fazer graça com a falta de assunto, de tão
explorado e gasto que está. O humorista só deve falar na falta de
assunto se conseguir descobrir um novo ângulo. Como neste caso.

II

Recurso dos mais usados, pelas variantes que a "bossa"


permite, é desenhar um quadro e explicar na le genda por que o
quadro está branco. Atualmente, já não é necessário tanto; basta fazer
o desenho pela metade, pois para bom entendedor, meio quadro basta.

III

Outro truque muito aplicado por humorista é passar o tempo todo


dizendo que precisa encher o espaço de qualquer maneira, mas não
sabe com quê, e quando chega à conclusão de que já tem o que dizer
alega que infelizmente não tem mais espaço. Isso também já foi
superado; o melhor é dizer pouco com tipos maiores.

IV

Grande macete dos humoristas é quando descobrem uma frase que


possa "justificar" a ausência de trabalho. Uma que nunca foi usada, e
que ponho à disposição de quem quiser aproveitar, é esta: "Hoje
faltam-me palavras para exprimir o que sinto". Agora, o problema é
deles: como escrever a frase se lhes faltam palavras?
Muito manjado também é o humorista que apresenta um
vastíssimo borrão de tinta e explica que, infelizmente, o vidro de
nanquim derramou todinho na folha de papel e não tinha mais tempo
de fazer outro desenho. O melhor, nesses casos, é deixar o borrão sem
explicar coisa alguma; só assim corre o risco de ser premiado como
pintor abstracionista.

VI
A ampliação das fotografias (especialmente de mulher) é recurso
vulgar para encher espaço, com a clássica legenda de que "enche a
página e enche os olhos" (o humorista só não desconfia de que enche
também o leitor). Quando me falta "inspiração" (que em verdade é
mesmo "disposição"), nunca uso fotografia de ninguém; uso a minha,
que, em última instância, é uma promoção. Os outros humoristas
podem fazer o mesmo, isto é: podem usar também a minha fotografia.
VII
Mas o bom humorista, no duro, não precisa de dez pretextos para
não trabalhar, Bastam sete.
27
MEIOS DE TRANSPORTE

O TÁXI
O táxi é o único veículo que não anda quilômetros: anda cruzeiros.
Mas cada cruzeiro que anda quer cobrar dois. Por isso, os passageiros
têm ódio do táxi — mas não tem importância, porque o ódio do táxi é
muito maior e o chofer leva mais vantagem, porque é um ódio que
vem de dentro para fora. O táxi está sempre em pé de guerra: quando
o motorista desce a bandeirinha, começa o conflito. É o veículo que
mais enguiça, mas raramente traz um macaco na mala — porque o
macaco do táxi anda sempre no volante.

O TREM
O trem é um transporte tão lento que quando sai de um lugar para
outro já chega velho. É também muito indisciplinado, porque está
sempre querendo sair da linha. A única coisa rápida no trem são as
portas: abrem e fecham com tanta velocidade que raramente não
espremem meia dúzia de passageiros. Há vários tipos de trens, mas o
mais valente de todos é o da Central: atravessa pontes, matas, rios,
túneis — e é raro o dia em que não atravessa outro trem.

A BARCA
A barca é a ponte do pobre, que faz o trajeto Rio— Niterói,
enquanto não fica pronta a ponte fixa. Nos dias de chuva, quando a
barca vem de Niterói, continua calmamente o seu trajeto até a Praça
da Bandeira — para aproveitar a enchente. A barca anda tão devagar
que dá a impressão que está parada, mas quando pára, balança tanto
que dá a impressão que está andando.

O BONDE
O bonde é o meio de transporte mais barato, porque é o único que
só aumenta depois da greve. É também o
mais velho, o mais lento e o mais chato — pois não anda e não
deixa ninguém andar. Ê proibido falar ao motor-neiro e fumar nos três
primeiros bancos, mas não se tem chance de se fazer nem uma coisa
nem outra — porque nunca se vê o motorneiro, e os três primeiros
bancos estão sempre cheios. O máximo que se consegue é empurrar
um montão de gente para cada lado e arranjar um cantinho para
colocar o pé no estribo. O esquerdo vai balançando e revezando com o
direito, de poste em poste. Apesar de tudo o bonde é o mais
privilegiado dos veículos — porque é o único que tem o direito de
escorar os automóveis na contramão. E por incrível que pareça, os
automóveis conseguiram acabar com os bondes.

O CARRO PARTICULAR
O carro particular é talvez a maior vítima do tráfego; passa o
tempo todo driblando pedestres, fugindo dos ônibus, saltando por
cima dos buracos para chegar ao seu destino — e quando chega não
tem lugar para estacionar. Aí começa o segundo ato do seu drama:
tenta entrar entre dois veículos e quando consegue, depois de muito
esforço, verifica que é garagem. Tenta parar um pouco à frente, mas é
ponto de táxi. Dá um pouco atrás, mas é ministério. Resolve voltar
para casa, leva uma batida — e só não discute para não levar outra.
Resultado: chama o reboque, manda levar para o lanterneiro — onde
felizmente não há problema de espaço. É aí exatamente onde o carro
estaciona mais tempo.

O LOTAÇÃO
Já se disse (e se ninguém disse eu digo agora) que em caso de
guerra o Brasil não deve usar tanques e sim lotações. O lotação não
respeita nada, destrói tudo que vem pela frente: automóveis, postes,
árvores e muros. Só tem medo de uma coisa: de outro lotação. Ainda
assim travam verdadeiros duelos pelas ruas: não um contra o outro,
absolutamente, mas os dois contra o mesmo pedestre — para ver
quem consegue pegá-lo primeiro. O lotação não faz uma viagem por
menos de quatro batidas: duas de propósito e duas sem querer.
Antigamente, era uma dificuldade pegar um lotação; hoje é
impossível, porque ele foi substituído pelo ônibus — que é a mesma
coisa, só que um pouco maior. E com uma vantagem: quando sobe na
calçada apanha muito mais gente.
28
SITUAÇÕES DIFÍCEIS

AS FLORES
Pior que tudo é a liberdade que a gente vende dentro da própria
casa, em troca da chamada tranqüilidade de espírito. Por exemplo: a
gente recebe um ramo de flores, com um cartão sem assinatura, com o
nosso nome e endereço certos, portanto não pode ser engano, é pra
gente mesmo, pelo menos a gente pensa que é, menos a nossa mulher,
que não consegue compreender que alguém mande flores pra alguém
sem que esse alguém saiba quem é, e depois que a gente convence ela
que é pra gente mesmo, nunca mais consegue convencê-la que não
sabe quem mandou, pois se a gente tem tanta certeza que é pra gente
não adianta fingir que não sabe quem mandou porque sabe mesmo e
não quer dizer, aí o jeito é deturpar os fatos e passar a incriminá-la
pela brincadeira de mau gosto, ela pergunta que brincadeira, a gente
diz que a de mandar flores, ela pergunta que flores, e a gente diz essas
aí, ela diz essas aí??? ??? e começa tudo de novo, diz que a gente é
cínico, que a melhor coisa do mundo é a franqueza, que afinal de
contas ela sempre foi compreensiva e não vai ser por causa de umas
rosas muito michas que ela vai brigar com a gente e se a gente quer
esconder alguma coisa aí então é que a coisa fica mais grave porque se
não fosse tão grave não havia necessidade de esconder, a gente
procura fazê-la ver o ridículo de sua desconfiança, ela diz que prefere
o ridículo da desconfiança ao ridículo da ignorância, da
insensibilidade, da conformidade, isso assim como está é que não
pode continuar, o melhor é confessar tudo de uma vez, a gente chega a
sentir necessidade de confessar, mas confessar o que se a gente não
sabe quem mandou, o jeito é inventar um nome qualquer, mas ela vai
querer saber quem é, como é, quando foi e por quê. Mas por que o
quê, bolas?

A CARTA ANÔNIMA
Um belo dia a gente acorda e recebe uma carta, sem o nome do
remetente, abre o envelope, mais curioso pra saber de quem é do que
propriamente o que ela diz, verifica que não tem assinatura, começa a
ler logo nas primeiras linhas, conclui que deve ser uma dessas "cartas
anônimas" que a gente tanto ouve falar mas nunca espera receber uma
um dia, no princípio começa a achar graça, depois fica irritado, tem
vontade de rasgar, mas não rasga, não é por nada não, mas é só pra
saber até onde esse cretino quer chegar uma vez que ele (ou será ela?)
tem certeza que a gente vai ler até o finzinho, não uma, mas duas, três,
quatro, diversas vezes, não é por nada não, que a gente não vai dar
bola pra uma carta anônima, mas é só pra ver se a gente descobre
quem mandou, e só lá pela quinta ou sexta vez é que a gente começa a
ter certeza, não bem certeza mas quase, porque só uma pessoa podia
saber de tudo aquilo, mas essa pessoa seria incapaz de se sujeitar a um
papel triste desses, isto nunca, só se a pessoa contou pra outra, mas
que sordidez, que covardia, por que não assinou a carta pra gente ir
conferir pessoalmente todas aquelas acusações? pensando bem, tem
certas coisas tão secretas que só uma pessoa muito íntima poderia
saber, tem outras que são exageradas, mas tem outras que são mentira,
tudo mentira, não é possível, ou será que é? já que a pessoa sabe de
tantas coisas quem sabe ela sabe de muita coisa que nem a gente sabe,
afinal de contas dizem que o marido é o último a saber, e daí? ora, e
daí que pode ser verdade, e se há possibilidade da gente admitir que
pode ser verdade, está criada a dúvida, vai ver que o autor da carta
queria isso mesmo, criar a dúvida, portanto o melhor é não dar bola,
ridículo, dar carta anônima não quer dizer coisa alguma, não significa
nada, quer é causar pânico, quer criar intriga, mas desta vez não vai
conseguir nada, o melhor mesmo é a gente rasgar e jogar na cesta, mas
antes disso não custa nada mostrar a um amigo só pra gente se
divertir, pra mostrar que não liga pra essas coisas, que tem
mentalidade avançada, que tem segurança de si mesmo, que tem
personalidade, isso sempre conforta, encontrar alguém que sirva de
apoio à opinião da gente em relação à gente mesmo, está aí, isso não é
uma idéia muito recomendável mas a gente sempre faz, afinal de
contas só no amigo dizer pra gente que aquilo é ridículo, já conforta,
já dissipa a dúvida e é isso o que interessa. Mas vai a gente depois
tirar a dúvida da cabeça do amigo. ..
29
O QUE É CERTO E O QUE É ERRADO

Ê feio comer galinha com as mãos?

Absolutamente. Ninguém pode negar que é muito mais prático,


mais confortável, mais gostoso e mais higiênico. Feio mesmo, se não
impossível, é comer galinha com os pés.

Não se deve jogar cinza no chão?

Não, não se deve. Mas se a gente não tivesse insistido nisso,


jamais teriam inventado o aspirador de pó. E hoje,-que já o
inventaram, se não continuarmos jogando (a cinza) admitamos que ele
(o aspirador) terá pouca utilidade.

Ê feio atirar restos de prato pela janela?

Tudo depende do ângulo em que nos colocamos: se estamos do


lado de dentro da janela, é óbvio que isso nos parecerá um gesto
bastante natural. Só devemos ter o cuidado de não botar a cabeça no
parapeito, pra ver se os restos caíram em cima da cabeça de alguém,
porque assim a pessoa acabará localizando de qual andar foram
atirados os restos e poderá vir cá em cima pedir uma explicação.
Agora, se nos colocamos no ângulo de baixo, o melhor negócio é
atirar restos para dentro das casas e sair correndo, porque a polícia não
vai compreender nunca que estamos querendo colaborar com a
limpeza urbana.

A gravata é realmente um toque de elegância?


Tudo é relativo, há sujeitos que usam gravata branca em cima de
camisa preta, outros que usam gravata preta em cima de camisa
branca, outros que usam gravata colorida em cima de camisa
estampada. Como se vê, tudo depende da gravata — e é chato um
sujeito ter de depender de uma gravata para parecer elegante. Mesmo
porque os gostos são diferentes, tão diferentes que, quando um sujeito
pensa que está elegante, aparecem logo dez que o acham cafajeste.

Ser pontual revela a personalidade?

Isso é um fato. Mas nunca ninguém pode saber se uma pessoa é


pontual, a não ser que também chegue na hora. E, se chegar, quem
pode garantir que o outro também chegará? Logo, o mais aconselhável
é chegar sempre atrasado; às vezes coincide do atraso ser exatamente
igual, e então ambos se acharão fabulosamente pontuais e de muita
personalidade.

Ê imoral o uso do biquíni?

O conceito de moral varia muito: o namorado acha indecente que a


namorada use biquíni, mas não acha que a dos outros use. Por isso
mesmo que o biquíni foi inventado: para que seja usado pela mulher
dos outros. Pensando bem, até que o biquíni tem o seu lado moral: já
imaginaram um teatro de revista sem biquíni? Como é que os
empresários poderiam enfrentar a censura?

Ê correto um rapaz beijar uma moça antes de pedir a sua mão?

Rapaz que não beija a moça é considerado correto pelo pai da


moça, mas é considerado bobo pela própria. Antigamente, o rapaz
pedia a mão da moça e depois a beijava (a mão); hoje, beija primeiro a
moça e depois é que pensa se vale a pena ou não pedir também a sua
mão. Donde se conclui que os tempos mudaram. Digo, os tempos
mudaram as moças.
Ê falta de cavalheirismo um homem viajar sentado num ônibus
enquanto as senhoras viajam de pé?

Não. Se há falta é exclusivamente de lugar. A população feminina


crescede tal maneira que os ônibus andam superlotados. Tão
superlotados que não há lugar nem para o cavalheirismo.

Ê verdade que o caráter das pessoas se revela no jogo?

Em questão de jogo é sempre mais aconselhável ter mais jogo do


que caráter, porque ambos estão arriscados a encontrar um jogo mais
forte e um caráter mais violento. O jogo a gente revela quando está
ganhando; o caráter, quando está perdendo. Muita gente de caráter
perde tanto no jogo que, inclusive, acaba perdendo o caráter; algumas
vezes chega a recuperar tudo — menos o caráter.
30
A PÁGINA QUE OLHA
31
UM DIA NAS CORRIDAS

O HIPÓDROMO
Hipódromo é um gramado cheio de cavalos cercado de poules por
todos os lados.
No hipódromo existe uma cerca: de um lado, cavalos rasgam
distância, do outro, homens rasgam poules.
No hipódromo existem sete páreos e seis intervalos. Os intervalos
foram feitos para se "estudar" de que modo se deve perder no próximo
páreo.
Há gente que joga sem intenção de ganhar nem perder. Para isso é
que se fizeram os francos favoritos, que pagam sempre o preço da
poule.
A alma do hipódromo é o cavalo, a alma do cavalo é o jóquei, a
alma do jóquei é o stud, a alma do stud é a poule, a alma da poule é o
apostador e a alma do aposta-dor é o hipódromo. Donde se conclui
que o hipódromo, além de ser um círculo vicioso, é também um
círculo viciado.

O JÓQUEI
Há sujeitos que têm queda para jóquei. Mas só depois que montam
é que a queda se verifica.
O bom jóquei corre uma vez e passa o resto do tempo montado no
dinheiro.
Há jóqueis que, para terem sorte, penduram as ferraduras do
cavalo atrás da porta. Outros deveriam pendurar o próprio cavalo.
O turfe não é jogo de azar: a gente joga sabendo que vai perder.
A única maneira de um jóquei enriquecer é fazer a pista o mais
rápido possível.
Para o apostador não existem condições meteorológicas. Antes da
corrida ele se pendura no guarda-chuva e no binóculo. Depois pendura
o guarda-chuva e o binóculo.

O EQUIPAMENTO
Do turfman: dinheiro, binóculo e paciência.
Da turfwoman: binóculo, chapéu e marido.
VARIAÇÕES SOBRE O TURFE
Acumulada é essa série de apostas que quando não fura no início
fura no fim.

Placê é essa chance que se dá ao apostador de perder menos.

Photochart é esse aparelho que consegue transformar os


milímetros em cruzeiros.

Azarão é esse cavalo que não podia ganhar de jeito nenhum.

O turfe não é jogo de azar: a gente joga sabendo que vai perder.

Para o apostador existem condições metereológicas. Antes da


corrida ele se pendura no guarda-chuva e no binóculo. Depois pendura
o guarda-chuva e o binóculo.
32
FALANDO AO TELEFONE
33
TV COMO SE VÊ

Eis como um locutor excessivamente honesto transmitiria um


programa de televisão:
— Amigos telespectadores, boa noite!. . . Aqui estamos mais uma
vez com um atraso de 45 minutos para iniciarmos o programa das 9 e
25, que, como sempre, é prejudicado pelo programa anterior. . . Estas
cenas tremidas que vocês estão vendo foram tomadas em Copacabana
no mês passado, mas infelizmente só agora é que vieram do
laboratório, mas isso não prejudica em absoluto o nosso roteiro,
porque na semana anterior fizemos o programa todinho com filmes do
ano passado e ninguém percebeu. . . Esta cena que vocês estão quase
vendo (porque enquanto o nosso operador não aprender a manejar esse
troço vocês nunca verão direito) bem reflete o progresso da Zona Sul,
mesmo porque, está bem, está bem eu paro já. — Amigos
telespectadores, queiram desculpar, mas somos obrigados a terminar
aqui o nosso programa de meia hora, porque já estão fazendo sinal pra
gente tirar o atraso. . . Boa noite, e até a próxima semana, talvez até
nesse mesmo horário, quem pode prever?. . .

Televisão é um aparelho com uma porção de botões embaixo e


uma porção de risquinhos em cima.

Os botões servem para mudar as formas dos risquinhos, mas se a


gente erra de botão, os risquinhos desaparecem e surge uma porção de
cabeças subindo.

Os outros botões servem para clarear, para escurecer e para


controlar o som. O pior de todos é o que fixa a imagem.

A televisão vive tremendo. Quando não é a imagem é o ator.


O ator de televisão vive se queixando de dor de cabeça. É que
trabalha quase o tempo todo sem ela.
O artista de televisão deve falar olhando para a câmara.
Infelizmente só fala olhando para o relógio.

A televisão é um aparelho de grande utilidade que as pessoas ricas


compram para botar no meio da sala e sentarem em volta. E como o
programa não interessa, ficam todos conversando — e como a
conversa também não interessa, fingem que estão vendo televisão.

Na televisão há três categorias de artistas: os locutores, as


meninas-propaganda e os convidados. Os locutores ganham dinheiro
pra fazer perguntas, as meninas-propaganda ganham pra dizer que
tudo é muito bom, e os convidados respondem a qualquer pergunta
inteiramente de graça.

O processo mais cômodo de se fazer televisão são as chamadas


mesas-redondas. Esses programas consistem em convidar pessoas de
idéias completamente diferentes para discutirem sobre determinado
assunto. Quando começam a falar, ninguém sabe o que dizer — e
quando encontram o que dizer, o locutor interrompe para avisar que o
tempo já está esgotado.

Há vários tipos de telespectadores: os que vivem mudando de uma


estação para outra, os que vivem mexendo nos botões para melhorar a
imagem — e os que ligam a televisão e se trancam no banheiro para
fazer a barba.

Existem duas espécies de programas de televisão: a que a gente só


vê e a que a gente só ouve.
34
COMO FAZER. ANÚNCIOS E
INFLUENCIAR PESSOAS

A ARTE DE VENDER

VENDE-SE um tapete vivo, o mais original do mundo, feito de pele


de onça. A própria continua dentro.

VENDE-SE um pombo-correio por 800 cruzeiros. Na segunda vez,


400; na terceira, 200; e na quarta, paciência: ninguém mandou deixar
o bichinho solto.

VENDE-SE um martelo todo de ouro que pode dar muito no prego.

VENDE-SE uma vaca que está morrendo de frio e fornece leite


condensado; vende-se também uma vaca que está morrendo de calor e
fornece leite em pó, e vende-se uma vaca numa leiteria que já fornece
leite misturado com água. Quem não tiver dinheiro pode fazer uma
vaquinha.

VENDE-SE um par de brincos juntamente com um par de orelhas.


A necessidade de dinheiro é tanta que não foi possível arrancar só os
brincos.

VENDE-SE com a máxima urgência uma bomba-relógio regulada


para as 21 horas de hoje. Só se atende até às 20 horas e 55.

DIVERSOS
CANETA-TINTEIRO — Vende-se uma com pequeno defeito na
bomba que já encheu o dono.

ISQUEIRO — Vende-se um inteiramente novo, que nunca foi


usado. Tanto não foi que nem se sabe se ele falha.

SABONETE — Ultra moderno, próprio para ser usado no nordeste.


Lava a seco.

COSTUREIRO — de fama internacional deseja trabalhar para uma


companhia de revistas. Já despiu as mais lindas mulheres do mundo.

PINTOR — desesperado dá seus quadros, inteiramente de graça, a


quem comprar as molduras. Faz também auto-retratos para qualquer
pessoa.

ACHADOS & PERDIDOS

PROCURA-SE pombo-correio marrom com pintinhas brancas, que


saiu a serviço há mais de uma semana e ainda não voltou:
provavelmente está sofrendo de amnésia.

PROCURA-SE uma perna mecânica que desatarraxou no meio da


rua. Pede-se a quem encontrá-la a fineza de lhe dar corda: ela sabe o
caminho de casa.

PROCURA-SE um relógio de ouro. Gratifica-se com dois mil


cruzeiros a quem encontrar o sujeito de baixo.

ACHOU-SE um relógio de ouro. Gratifica-se com quatro mil


cruzeiros a quem não avisar nada ao sujeito de cima.

LADRÃO — distraído pede a fineza de devolverem o seu serrote de


estimação, deixado no cofre de um banco desta cidade. Favor entregar
na Penitenciária Central.

JATO — Vende-se um Boeing 8-52 mais veloz que o som. Tão


mais veloz que o som só chegará trinta dias depois.
INTERNACIONAIS

ANÚNCIO AMERICANO — Marido infeliz no casamento pro-


cura esposa infeliz no casamento para serem felizes num novo
casamento.

ANÚNCIO INGLÊS — Indivíduo solitário procura senhora


também solitária para tomarem juntos o chá das cinco — o
primeiro de uma série.

ANÚNCIO ALEMÃO — Robot eletrônico, recém-construído na


Alemanha Oriental, fugiu para a Alemanha Ocidental. Pede-se a
quem o encontrar a fineza de lhe dar o dinheiro para o táxi.

ANÚNCIO ISRAELENSE — Precisa-se de uma empregada com


toda urgência. Quanto mais urgência melhor para a empregada
— pois estes anúncios serão descontados no primeiro ordenado.

ELAS POR ELAS

TROCA-SE um cinto de couro por um pedaço de pão. Ne-


gócio urgente, porque estou no último furo.

TROCA-SE O telefone de uma miss pelo telefone de um "nu


artístico". Paga-se a diferença.

TROCA-SE urgente uma fábrica de comprimidos por uma


cabeça nova.

T-VENDO
TELEVISÃO — Vende-se uma inteiramente diferente. A imagem
não treme — o que treme é o aparelho.

TELEVISÃO — Vende-se uma, própria para afugentar visitas. A


imagem é bem nítida.

TELEVISÃO — Consertam-se aparelhos, mesmo os que estejam


funcionando bem.

ANÚNCIO (COM ERRO DE REVISÃO)

PROCURA-SE uma pequena alta e bonita para ser secretária em uma


firma de respeito. Pega-se bem.

COMO SE DEVE ANUNCIAR UMA ALIANÇA

VENDEDOR DE AUTOMÓVEIS: Vende-se uma aliança, inteiramente


nova, nunca levou batida, super conservada. Pertenceu a um dono só.

CORRETOR DE IMÓVEIS: Aliança, vende-se, luxuosíssima,


localizada no melhor dedo da mão. Você poderá morar nela para o
resto da vida.

DATILOGRAFA: Cansada de bater na mesma tecla há mais de três


anos, vende aliança para tirar o peso da consciência e do dedo. O
noivo deu o retrocesso.

CONTADOR: Sentindo um ligeiro déficit na vida, vende uma


aliança para fechar o balanço. Está dando um salto contra.

ESTRELA DO CINEMA AMERICANO: Vende, por 20 000 dólares,


aliança superluxuosa. Faz abatimento a quem ficar com as outras seis.

HUMORISTA: Totalmente sem graça, vende aliança por ter ficado


na mão. Isto é, não conseguiu passá-la da direita para a esquerda.
CAIXEIRO-VIAJANTE : Vende uma aliança por motivo de viagem.
A noiva viajou e deixou a aliança.
35
CAPÍTULO FINAL

THE END

Aceita-se a devolução do livro, caso ele não cumpra a sua


finalidade.

NOTA NA PRIMEIRA EDIÇÃO


Este livro é apenas uma pequena parte; tenho material para pelo
menos mais dez livros. Depende de você para que os outros dez sejam
publicados — é uma responsabilidade que lhe passo. Durma bem.
L. E.

NOTA NESTA EDIÇÃO


Dos dez livros prometidos, já publiquei três: O homem ao cubo, A
mulher em flagrante e O homem ao zero. Você já pode dormir um
pouco melhor. Enquanto termino O homem ao mundo, O homem em
tecnicólor, Como ser feliz no casamento mesmo depois de casado e
Minhas memórias, antes que esqueça — quem não dorme sou eu.
L. E.

Você também pode gostar