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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS

Carolina Silveira de Moraes

Assinatura de processos geológicos nas topografias da Terra, Vênus e Lua

São Paulo

2021
1
RESUMO

Associamos processos capazes de transformar a superfície de planetas e satélites à feições


observadas em histogramas de altitudes. Para isso, elaboramos histogramas de altitude com dados
de modelos topográficos da Terra, Vênus e Lua, obtidos a partir de bancos de dados abertos. Para
compatibilizar as grades consideramos a resolução dos bancos de dados e o raio dos corpos. As
principais feições encontradas nos histogramas correspondem ao padrão bimodal associado às
elevações terrestres, o aspecto majoritariamente plano da superfície de vesuviana, a maior
frequência de topografias elevadas observadas na Lua e a ocorrência de crateras exclusivamente no
satélite. As principais conclusões associam o histograma bimodal da Terra a uma possível assinatura
da tectônica de placas ativa como conhecemos no planeta. Além disso, a baixa frequência de
valores de topografia elevados na Terra e em Vênus é explicada como resultado não da erosão,
embora na Terra ela possua uma forte contribuição, mas da discrepância da aceleração gravitacional
entre esses planetas e a Lua.

Palavras-chave: Topografia. Planetas e satélites. Tectônica. Histogramas.


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………………..... 3
2. MATERIAIS E MÉTODOS ……………………………………………………………………. 4
2.1 Mapas de topografia ……………………………………………………………………….... 5
2.2 Perfil topográfico dos corpos ………………………………………………………………...5
2.3 Histogramas de altitude ……………………………………………………………………... 5
3. RESULTADOS …………………………………………………………………………………..6
3.1 Mapas de topografia ……………………………………………………………………….... 6
3.2 Perfil topográfico dos corpos ………………………………………………………………...8
3.3 Histogramas de altitude ……………………………………………………………………... 9
4. DISCUSSÃO ………………………………………………………………………………….... 10
5. CONCLUSÃO …………………………………………………………………………………..12
REFERÊNCIAS ……………………………………………………………………………….. 13
ANEXO A ……………………………………………………………………………………….15
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1. INTRODUÇÃO

Processos ligados à formação dos corpos rochosos planetários, movimentação de placas


tectônicas, processos erosivos e a dinâmica atmosférica configuram-se entre os principais agentes
transformadores da superfície de planetas e satélites, moldando a topografia ao longo do tempo.

A teoria de formação planetária mais aceita atualmente é a de que os corpos do sistema solar
teriam se originado de uma nebulosa solar primitiva. O colapso gravitacional aliado à rotação lenta
dos gases e poeira teriam dado origem ao proto-sol no centro do sistema e a um disco de gás e
poeira em seu plano equatorial. O arrefecimento do disco permitiu a condensação de elementos
químicos, que inicialmente, devido a forças magnéticas e eletrostáticas, formaram minerais. Esses
minerais aglutinaram-se gravitacionalmente em pequenos corpos, da ordem de centenas de metros
conhecidos como planetesimais. O choque entre os planetesimais por sua vez deu origem a corpos
maiores e mais diferenciados, os planetas (Cordani, 2000).

A Lua seria resultado de um desses choques. A hipótese do grande impacto, descrita por
Hartmann e Davis (1975) propõem que a Lua teria se formado a partir de fragmentos da Terra que
se desprenderam após a colisão com Theia, um planetesimal com o tamanho aproximado de Marte.

Planetas e satélites rochosos desenvolveram-se mais próximos ao Sol e, devido às altas


temperaturas da região, ao fluxo de radiação do Sol e aos grandes impactos sofridos após a
estabilização de suas litosferas, principalmente durante o período conhecido como “Late Heavy
Bombardment” (LHB) (Bottke & Norman, 2017), a maior parte dos voláteis desses corpos foi
perdida. Os grandes impactos teriam sido responsáveis ainda pela formação de diversas crateras nas
superfícies destes corpos.

Apesar de compartilharem diversas características em comum, planetas e satélites evoluíram


de maneira divergente. As diferentes características de Vênus, Terra e Lua, resultantes dessa
evolução são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1: Principais características físicas e atmosféricas de cada corpo estudado no trabalho.

Terra Vênus Lua


−9
Pressão atmosférica (atm) 1.0 90.8 9.9 ✕ 10

78.08% N 20.95% O 96.5 % CO2 3.5%N 25% He 25% Ne


Composição atmosférica
0.93% Ar ~1% H 2O* 0.015% SO2 +outros 23% O 20% Ar

Temperatura média (ºC) 14 461.0 -53.1

Diâmetro equatorial (km) 12 756.2 12 103.6 3 474.8

Intemperismo por
Sim (eólico/fluxo d’água) Sim (chuva ácida) Não
fenômenos atmosféricos

Aceleração da gravidade no
9.78 8.87 1.62
equador (m/s²)
*Quantidade de vapor d'água, varia de acordo com cada região. Os valores numéricos da tabela foram
extraídos da plataforma Wikipédia.
4
A erosão, os processos tectônicos e o vulcanismo agem de maneira distinta em diferentes
planetas e satélites.

Na Terra, a erosão é majoritariamente ditada pela circulação pluvial e fluvial da água, pela
abrasão eólica, por variações de temperatura e efeitos gravitacionais. Já Vênus possui temperaturas
médias elevadas, de forma que a existência de água líquida no corpo não é possível e, embora os
ventos em altitudes entre 60 e 150 km atinjam velocidades da ordem de 360 km/h, na baixa
atmosfera a velocidade do vento é uma ordem de grandeza inferior (Schubert et al., 1980). Sagan
(1976) propõe dois principais agentes para a erosão de Vênus. O primeiro deles seria o
intemperismo químico, onde a ação dos ácidos diluídos presentes na atmosfera seria capaz de erodir
rochas silicáticas da superfície. O segundo agente corresponde às altas temperaturas, capazes de
aproximar ao ponto de fusão componentes das rochas com baixo ponto de fusão, permitindo a
suavização dos contornos das rochas superficiais. Ainda assim, as taxas de erosão na superfície do
planeta apresentam influências mínimas sobre sua topografia (Head, Crumpler, Aubele, Guest, &
Saunders, 1992).

A Lua também apresenta um processo erosivo em sua superfície. Fielder (1963) discute as
evidências quantitativas de erosão nas paredes de crateras lunares. O autor indica duas classes
diferentes de fenômenos erosivos no satélite, sendo estas os fenômenos extrínsecos, que incluem
radiação infravermelha e ultravioleta, impactos, raios x, gama e raios cósmicos, e fenômenos
intrínsecos, que incluem atividade sísmica, radioatividade, ação das marés e contração
gravitacional. Esses fenômenos, no entanto, não são capazes de promover taxas de erosão de ordem
significativa como o observado na Terra.

O vulcanismo em planetas e satélites é controlado pela temperatura do magma, seu conteúdo


volátil, configuração tectônica, pressão atmosférica e gravidade (Wilson & Head, 1983). Em Vênus,
a alta temperatura superficial promove um resfriamento da lava menos eficiente, favorecendo fluxos
de lava de longa duração. Na Terra, o vulcanismo é principalmente ligado a processos de tectônica
de placas ativa, exclusivos do planeta.

Muitos dos processos que levaram cada planeta às condições que conhecemos hoje ainda
não foram totalmente explicados devido à dificuldade de adquirir informações sobre outros corpos.
Nesse sentido, modelos de topografia produzidos com dados de altimetria, de mais fácil aquisição,
podem fornecer informações importantes para realização de estudos planetários.

Este trabalho procura associar as feições observadas nos histogramas de topografias a


processos atmosféricos, erosivos, tectônicos e de formação dos corpos. Espera-se, ao final,
estabelecer uma possível assinatura da tectônica de placas na topografia da Terra quando comparada
a Vênus e Lua, criando um paralelo para a interpretação de dados topográficos de outros corpos do
sistema solar.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Os dados de topografia da Terra correspondem ao modelo ETOPO1, disponibilizado pela


National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), com resolução de 0.05º. No modelo, o
5
valor de topografia zero corresponde ao nível médio do mar. A grade de topografia da Lua foi
adquirida no banco de dados aberto do projeto RISE do National Astronomical Observatory of
Japan (NAOJ), e possui resolução de 0.0625º (Araki et al., 2009). Por último, os dados de modelo
topográfico de Vênus foram disponibilizados pela National Aeronautics and Space Administration
(NASA), e foram produzidos a partir de dados de altimetria da missão Magalhães, com resolução de
1º. Nos modelos topográficos de Vênus e da Lua, a altitude zero é determinada tendo como
referência o raio médio dos dois corpos.

Visando obter uma relação entre os histogramas de altitude e a tectônica de placas,


considerando os diversos processos de formação, erosão e tectonismo de cada corpo, deu-se início
ao processamento dos dados, realizado com a ferramenta Generic Mapping Tools (GMT) versão
5.3.1.

Para comparar as topografias, fez-se necessário compatibilizar a resolução dos dados da Lua
e da Terra com os de Vênus. Dessa forma, os dados dos dois corpos foram reamostrados no
software do GMT por meio de interpolação linear com resolução espacial de 1º. Os valores de
topografia da Lua possuíam unidades em quilômetros, enquanto os valores de topografia da Terra e
de Vênus possuíam unidades em metros. Para compatibilizar as unidades, multiplicou-se os valores
de altitude da grade da Lua por 1 000.

As topografias do satélite e planetas estudados variam entre -10 000 e 10 000 metros. Essa
variação ocorre de maneira diferente em cada corpo, sendo mais plana e homogênea em algumas
regiões e variando de maneira brusca em outras.

2.1 Mapas de topografia

Para facilitar a comparação visual entre os mapas, foi produzida uma paleta de cores (Anexo
A) que fosse capaz de realçar as principais variações de altitude de todos os corpos. Os mapas
foram produzidos utilizando a projeção de Robinson.

2.2 Perfil topográfico dos corpos

Por conta de limitações do software utilizado, o perfil ao longo do equador foi construído
somando-se dois perfis parciais, cada um cobrindo um hemisfério (leste ou oeste) do corpo. Foram
gerados pontos compatíveis em função do raio a cada 100km ao longo dos perfis para Terra e Vênus
e a cada 30km para a Lua. Por fim, os valores de altitude foram extraídos de cada um desses pontos.

Os perfis parciais foram concatenados dando origem ao perfil final. Para definir o zero do
eixo de distância do perfil na linha que separa os hemisférios leste e oeste, os valores de distância
do perfil que correspondiam à porção oeste dos mapas foi multiplicado por -1.

2.3 Histogramas de altitude

A Figura 1 apresenta o fluxograma do processamento realizado para a produção dos


histogramas de altitude. Para exibir os valores de altitude com frequência muito baixa, foi
6
produzido um histograma com valores de frequência em logaritmo (Log10), variando de 0 a 1%.

Figura 1: Fluxograma mostrando o processamento dos dados para obtenção do histograma de altitude. A
amplitude de classes utilizada nos histogramas de altitude foi de 100 metros.

3. RESULTADOS

Como proposto, buscou-se explorar feições topográficas para três corpos do sistema solar
através da interpretação de histogramas de altitude. Nesta seção estão contidos os resultados obtidos
no formato de mapas de topografia, perfis topográficos e histogramas de altitude.

3.1 Mapas de topografia

A Figura 2 apresenta o mapa elaborado com dados de topografia da Terra. A e B indicam


duas regiões principais no mapa.

Na região A destacam-se feições com profundidade característica média de -3 000 metros e


formato delgado e irregular. Na região B, com topografias acima de zero, destacam-se feições de
topografia elevada, com valores acima de 3 000 metros.

Figura 2: Mapa de topografia da Terra. Destacam-se duas regiões (A e B), com valores de topografia abaixo e
acima de zero, respectivamente. Além dessas regiões é importante observar as feições lineares em azul claro
e as regiões com elevados valores de topografia.

O mapa de topografia da Lua é apresentado na Figura 3. Na figura destacam-se três regiões


indicadas em A, B e C.

A região A corresponde a uma região com valores de topografia acima de 4 000 metros. O
limite da região B é demarcado por uma curva semicircular. A região B apresenta como
característica principal valores topográficos abaixo de -4 000 metros e formato circular evidente.
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Por último, a região C é marcada por pouca variação topográfica, e valor de topografia igual a
aproximadamente -2 500 metros.

Sobrepostas a essas regiões, é possível observar uma grande quantidade de crateras, que
correspondem às feições circulares com discrepância dos valores de topografia entre o centro e as
bordas. É importante ressaltar, no entanto, a ocorrência reduzida dessas feições na região C.

Figura 3: Mapa de topografia da Lua. Destacam-se três regiões (A,B e C) com topografias elevadas, baixas e
intermediárias, respectivamente. Observam-se ainda muitas crateras ao longo de toda a superfície.

A Figura 4 apresenta o mapa de topografia de Vênus. No mapa são destacadas duas regiões
indicadas em A e B.

A região A corresponde à grande feição aproximadamente linear de topografia com valores


entre 0 e 1 500 metros. Já a região B indica uma área com valores de topografia que ultrapassam 5
000 metros. É importante ressaltar a predominância de baixos valores absolutos de topografia e a
ausência de regiões com topografia abaixo de -2 000 metros.

Figura 4: Mapa de topografia de Vênus. Destacam-se duas regiões (A e B) com topografias elevadas.
8
3.2 Perfil topográfico dos corpos

A Figura 5 apresenta perfis de topografias obtidos no equador da Terra, Lua e Vênus.

A Figura 5a mostra o perfil topográfico do equador da Terra. É possível distinguir duas


classes topográficas predominantes. A primeira e mais frequente corresponde a grandes distâncias
dominadas por topografias em torno de -4 000 metros. A segunda corresponde a porções com
topografia positiva, mas com valores próximos a zero. Feições de topografia maiores que 1 000
metros são pouco frequentes.

O perfil topográfico do equador da Lua por sua vez é exibido na Figura 5b. Observa-se a alta
frequência de valores topográficos maiores que 1 000 metros. Ocorrem também intervalos de
distância predominados por topografias negativas que em sua maioria limitam-se a -3 000 metros.
Outra característica do perfil se dá por seu aspecto "ruidoso".

Por último, a Figura 5c mostra o perfil de altitude do equador de Vênus. Predominam


topografias com valores absolutos próximos a zero. Na porção oeste, destacam-se feições que
chegam a atingir 6 000 metros. Não ocorrem feições com elevação menores que -1 500 metros.

É importante ressaltar as variações bruscas de altitude muito bem demarcadas ao longo de


todo o perfil da Terra (5a). No perfil da Lua (5b) as transições de topografia apresentam ocorrem de
maneira mais suave. Em Vênus (5c) as transições mais acentuadas de elevação concentram-se no
hemisfério oeste do planeta.

Figura 5: Perfil topográfico obtido para o equador de cada corpo. A linha azul pontilhada representa o valor
zero da topografia. (a) Perfil da Terra, centralizado no Meridiano de Greenwich (longitude 0º). A linha azul
representa o valor zero da topografia, correspondente ao nível do mar. (b) Perfil da Lua, centralizado em 180º
de longitude. (c) Perfil de Vênus, centralizado no Meridiano Principal (longitude 0º).
9
3.3 Histogramas de altitude

Os gráficos da Figura 6 apresentam os resultados obtidos para os histogramas de altitude de


cada um dos corpos estudados neste projeto.

O histograma de topografia da Terra é apresentado na Figura 6a. O histograma possui


padrão bimodal, com uma moda negativa em -4 300 metros, e outra moda positiva em 100 metros.
A classe modal indicada por M1 é aproximadamente simétrica e possui valores dispersos entre
-6 000 e -2 000 metros. A classe modal indicada por M2 é assimétrica e positivamente desviada,
com valores menos dispersos entre -1 000 e 2 000 metros. Em torno de 3 000 metros há um pico
isolado, representando um pequeno aumento da frequência dos valores de topografia.

O histograma de topografias da Lua é apresentado na Figura 6b. No histograma, os valores


de frequência estão dispersos entre -8 800 metros (Figura 6ba) e 10 300 metros (Figura 6bb). Seu
padrão é unimodal, com moda em aproximadamente -1 000 metros. O histograma não é simétrico,
apresentando um padrão positivamente desviado. Destaca-se ainda um aumento da frequência nos
valores de topografia entre -3 000 e -2 000 metros.

A Figura 6c apresenta o histograma de valores topográficos de Vênus. Na figura os valores


de frequência estão principalmente dispersos entre -2 000 e 9 700 metros. O histograma é unimodal,
e sua moda está localizada em -600 metros. A diferença entre os valores de média e mediana indica
a assimetria positivamente desviada do histograma. É importante ressaltar a frequência baixa de
valores entre 2 000 e 9 700 metros.

Figura 6: Histograma de altitude dos corpos. As classes do histograma são definidas com amplitude de 100
metros. A linha vermelha indica a média dos valores e a linha azul indica a mediana. (a) Histograma da
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Terra. O histograma é bimodal, com uma classe modal assimétrica com moda em 100 metros (M2) e outra
classe modal com moda em -4 300 metros (M1). (b) Histograma da Lua. O histograma é unimodal,
assimétrico e com dados dispersos.(c) Histograma de Vênus. O histograma é unimodal, com dados pouco
dispersos.

4. DISCUSSÃO

Os resultados obtidos permitem analisar as feições de interesse e interpretá-las com base no


conhecimento atual das características atmosféricas, erosivas e tectônicas dos planetas e satélite.

Avaliando os mapas de topografia obtidos para cada um dos corpos, não é possível
identificar vestígios do evento LHB através de crateras em Vênus e na Terra. Por outro lado, no
mapa de topografia da Lua (Figura 3) pode-se observar a região de “Mare”, indicada no mapa pela
letra “C”. Observam-se ainda na figura outras crateras, formadas durante os períodos do LHB e de
crateramentos intermediários. O efeito da ocorrência de crateramento é observado também no perfil
de altitude (Figura 5b), através de seu aspecto ruidoso.

Devido a ausência de crateras na região “C” do mapa de topografia lunar, pode-se assumir
que sua formação ocorreu posteriormente ou simultaneamente aos principais eventos de
crateramento.

A ausência de crateras nas superfícies da Terra (Figura 2) e de Vênus (Figura 4) pode ser
explicada por três fatores principais. O primeiro deles é a erosão, onde o material intemperizado
pode ter se depositado e preenchido as crateras. Porém a erosão é um fator importante apenas na
Terra, e seu efeito ocorreria principalmente nas regiões continentais.

Considerando o baixo impacto da erosão na sua superfície de Vênus, o principal fator que
poderia explicar a ausência de crateras em sua superfície é o processo de vulcanismo ocorrido neste
corpo, onde as crateras poderiam ter sido preenchidas pelo magma expelido durante o vulcanismo.

De acordo com Head et al. (1992), planícies vulcânicas recobrem uma grande área em
Vênus, chegando a representar 85% de sua superfície. De fato, a característica aproximadamente
plana de Vênus pode ser observada em seu mapa de topografia (Figura 4) e no perfil de altitude
(Figura 5c), em seu o hemisfério leste.

Processos tectônicos são capazes de explicar a existência dos oceanos (“A” Figura 2), das
dorsais que serpenteiam seu assoalho, com profundidade média de -4 300 metros, e das cordilheiras,
com altitudes superiores a 2 500 metros, observadas no mapa de topografia da Terra.

As mudanças bruscas de altitude, observadas no perfil de topografia (Figura 5a), são


resultado do processo de formação dos oceanos. Estes se formam quando magmas provenientes do
manto aquecem uma região abaixo dos continentes (“B” Figura 2). Esse aquecimento promove o
soerguimento e arqueamento da crosta na região, que posteriormente, dá origem a fraturamentos.
Devido a ação de forças distensivas, a região sofre um afinamento, até que ocorra sua ruptura no
eixo do ‘rifte’. No local da ruptura, lavas provenientes da fusão do manto ascendem, formando
cadeias montanhosas conhecidas como dorsais. Também é formada uma crosta basáltica (crosta
oceânica), que cresce à medida que o processo distensivo continua (Tassinari, 2000).
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Já as cadeias de montanhas com altitudes maiores que 2 500 metros formam-se através de
processos de orogênese em regiões de limite convergente de placas tectônicas (Tassinari, 2000).
Nesses limites ocorre a subducção da placa mais densa, dando “fim” ao oceano e reciclando de
forma completa o assoalho.

É esse processo de reciclagem, associado ao preenchimento de crateras no continente por


meio da erosão que podem explicar a ausência de crateras na Terra, de forma que a tectônica de
placas corresponde ao terceiro dos três fatores que poderiam justificar a ausência de crateras na
superfície.

O resultado dos histogramas de altitude da Terra apresenta um padrão bimodal (Figura 6a).
A moda M1, centrada em -4 300 metros, está relacionada à ocorrência dos oceanos (“A” Figura 2),
de forma que, uma moda negativa pode corresponder a uma possível assinatura da tectônica de
placas. O valor da moda corresponde ainda ao valor de elevação observado nas dorsais oceânicas. A
segunda moda (M2) está centrada em 100 metros, e corresponde à elevação média observada nos
continentes (“B” Figura 2). O histograma é pouco disperso, com valores de elevação que variam
entre +7 000 e -7 000 metros. Altos valores absolutos são pouco frequentes, e representam as fossas
oceânicas e as cadeias de montanhas, que na Terra são formados principalmente como resultado de
processos tectônicos.

No caso da Lua (Figura 6b) o histograma unimodal apresenta valores dispersos, que variam
entre -6 000 e +6 000 metros. Altos valores absolutos ocorrem em maiores frequências quando
comparados aos dois planetas. No histograma, observa-se ainda a ocorrência de uma concentração
de valores de elevação entre -3 000 e -2 500 metros, que corresponde à elevação observada para a
região de “Mare”. Os valores de média e mediana no corpo podem ser negativamente deslocados
devido a intensa influência do intenso crateramento. No satélite, os menores valores de topografia
são relacionados a uma única cratera de impacto da Bacia do Polo Sul-Aitken (“B” Figura 3).

Em Vênus (Figura 6c), o histograma de altitude é pouco disperso, com valor de moda
próximo a zero. A concentração de frequências de altitude em baixos valores absolutos é resultado
da topografia aproximadamente plana do planeta. Não há a ocorrência de valores de elevação
menores que -2 000 metros, indicando que não há feições semelhantes aos oceanos observados na
Terra ou grandes crateras como encontrado na Lua. Este resultado reforça a hipótese do
preenchimento de feições de topografia negativa através de derramamentos vulcânicos. Valores
entre 2 000 e 10 000 metros ocorrem em frequências baixas, e são relacionados principalmente ao
pico Maxwell Montes (“B” Figura 4) e ao complexo montanhoso Aphrodite-Terra (“A” Figura 4)
(Solomon et al., 1992). Tanto o aspecto predominantemente plano do planeta quanto o complexo
montanhoso Aphrodite-Terra podem ser observados no perfil de altitude de Vênus (Figura 5c).

No histograma de altitude, Terra, Vênus e Lua apresentam valores de topografia máxima


semelhantes, da ordem de 8 a 10 km. No entanto, o diâmetro equatorial do satélite é
aproximadamente 3,5 vezes menor que o da Terra e de Vênus, de forma que as feições observadas
são muito mais expressivas tendo em vista o tamanho do raio do corpo. Possíveis explicações para
este resultado ocorrem em torno da discrepância entre a aceleração da gravidade em cada um dos
corpos estudados.
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A ação de atração promovida pela gravidade limita o crescimento de grandes montes.
Quanto maior a massa do planeta ou satélite, maior é a força de atração gravitacional aplicada nos
corpos em sua superfície. O valor da aceleração gravitacional é ainda inversamente proporcional ao
quadrado do raio do corpo. Embora a Terra tenha um raio maior que o raio da Lua, a razão entre
suas massas é consideravelmente maior, resultando em uma maior atração gravitacional na Terra e
em Vênus, que possuem raios e massas semelhantes.

Assim, a baixa frequência de topografias elevadas nos histogramas de Vênus e da Terra


pode ser principalmente explicada pela discrepância entre os valores de aceleração da gravidade.

5. CONCLUSÃO

No caso da Terra, a tectonica de placas e os processos de erosão são os principais agentes


modificadores da topografia. A erosão na Terra assume um papel de maior importância que nos
outros dois corpos estudados devido à presença de água líquida exclusiva do planeta.

Em Vênus, o principal modificador da superfície foi possivelmente o vulcanismo, uma vez


que 85% de sua superfície é coberta de basaltos provindos desses processos. A erosão e atmosfera
densa do planeta são eficientes para controlar a ocorrência de crateras de pequeno porte na
superfície do corpo. Já na Lua, os eventos de impactos por crateras possuem grande importância na
formação da condição atual da superfície do satélite.

A diferença de ordem observada entre a aceleração gravitacional da Lua e dos planetas aqui
estudados justifica não apenas a porcentagem de topografia normalizada superior para Lua, como
também a menor ocorrência de feições com grandes elevações na Terra e em Vênus.

Considerando a criação de um paralelo para interpretação de dados de outros corpos do


sistema solar, podemos associar a ocorrência de duas classes modais em histogramas de topografia à
ocorrência de tectônica de placas ativa, de modo que seja apresentada uma classe modal negativa,
ligada à formação dos oceanos, e outra positiva, ligada à ocorrência de continentes.

Pode-se também associar a ausência de crateras à ocorrência de processos modificadores da


superfície em alto grau, como vulcanismo intenso ou erosão significativa ligada principalmente,
mas não exclusivamente, ao fluxo de água pluvial e fluvial.
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REFERÊNCIAS

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15
ANEXO A

# COLOR_MODEL = HSV
-10000 320 0.80 0.87 -9900 318 0.80 0.87
-9900 318 0.80 0.87 -9800 316 0.80 0.87
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-9500 310 0.80 0.87 -9400 308 0.80 0.87
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-9200 304 0.80 0.87 -9100 302 0.80 0.87
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16
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17
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B 290 0.45 1.0


F 0 0.00 1.0

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