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Educação Literária- Apoio- 7ºG

O brilho do dragão

    À medida que foi avançando, o brilho foi aumentando, até não restarem dúvidas a seu
respeito. Era uma luz vermelha que se tornava pouco a pouco mais vermelha. Agora também
estava indubitavelmente1 calor, no túnel. Farrapos de vapor flutuavam por cima dele, e
ultrapassavam-no, e Bilbo começou a suar. Um som começou também a vibrar nos seus
ouvidos, uma espécie de borbulhar, como uma grande panela a fervilhar no lume, de mistura
com um rugido, como se um gato gigante estivesse a ronronar. Os dois ruídos transformaram-
se no inequívoco som gorgolejante2 de um enorme animal a ressonar, lá em baixo, na luz
vermelha à sua frente.
    Foi nesse ponto que Bilbo parou. Prosseguir a partir dali foi a coisa mais valente que ele
jamais fez. As coisas tremendas que depois aconteceram não foram nada comparadas com
isso. Travou a verdadeira batalha do túnel, sozinho, antes de ver sequer o imenso perigo que o
esperava. O certo é que, após uma breve paragem, prosseguiu; e podeis imaginá-lo a chegar
ao fim do túnel, uma abertura mais ou menos do mesmo tamanho e formato da porta que
deixara para trás. Através dela espreita a cabecinha do hobbit 3. À frente dele encontra-se a
grande cave ou masmorra mais funda dos antigos anões, mesmo na raiz da montanha. Está
quase escuro, de modo que a sua vastidão só pode ser vagamente calculada, mas do lado mais
próximo do chão de rocha ergue-se um grande brilho. O brilho de Smaug!
    Ali está ele, um enorme dragão vermelho-dourado, profundamente adormecido. Das
mandíbulas4 e das narinas sai-lhe um som forte, de mistura com farrapos de fumo, mas os
seus fogos estão amodorrados5 no sono. Debaixo dele, sob todos os seus membros e a sua
enorme cauda enrolada, e à sua volta, estendendo-se através de chãos invisíveis, encontram-
se incontáveis montes de objetos preciosos, ouro trabalhado e não trabalhado, gemas 6 e joias
e prata manchada de vermelho pela luz encarniçada7.
    Smaug jaz8, de asas fechadas como um incomensurável 9 morcego, parcialmente virado para
um lado, de modo que o hobbit pode ver-lhe a parte de baixo do corpo e o comprido e pálido
ventre incrustado10 de gemas e fragmentos de ouro de há tanto se deitar naquela valiosíssima
cama. Atrás dele, onde as paredes estavam mais próximas, distinguiam-se vagamente,
dependuradas, cotas11 de malha, capacetes e machados, espadas e lanças; e, em filas,
grandes frascos e vasilhas cheios de uma riqueza incalculável.
    Dizer que o Bilbo ficou sem respiração não chega para descrever o que se passou. Não há
palavras para exprimir o seu aparvalhamento, desde que os Homens mudaram a linguagem
que aprenderam com os Elfos no tempo em que todo o mundo era maravilhoso. Bilbo já ouvira
falar – e cantar – de tesouros de dragão, mas nunca tivera consciência do esplendor, do brilho,
da glória de tais tesouros. O seu coração ficou cheio, traspassado12 de encantamento e com o
desejo dos anões; e olhou imóvel, quase esquecido do aterrador guarda, o ouro sem preço e
sem conto. 
J. R. R. Tolkien, O Hobbit. Publ. Europa-América, 1997 (pp.186-187)
Vocabulário:
1. indubitavelmente: sem dúvida. 2. gorgolejante: ruído do gargarejo.3. hobbit: criatura fictícia de estatura baixa e
robusta.
4. mandíbulas: maxilares inferiores.5. amodorrados: adormecidos.6. gemas: pedras preciosas.7. encarniçada:
avermelhada.
8. jaz: repousa.9. incomensurável: enorme.10. incrustado: cravado.11. cotas: proteções metálicas para o corpo.
12. traspassado: atingido.
1. Atenta no primeiro parágrafo e identifica o espaço em que se encontra Bilbo. Transcreve
uma expressão textual que comprove a tua resposta.

3. O hobbit começa a ouvir o som produzido pelo dragão.


Identifica e transcreve o recurso expressivo utilizado para descrever esse som.

4. Explica, por palavras tuas, a razão pela qual o narrador refere que o hobbit "Travou a
verdadeira batalha do túnel, sozinho, antes de ver sequer o imenso perigo que o esperava. " (2.º
parágrafo)

5. O narrador refere que o hobbit "Travou a verdadeira batalha do túnel, sozinho, antes de ver
sequer o imenso perigo que o esperava." (2.º parágrafo)
Na tua opinião, como estaria Bilbo a sentir-se? Justifica a tua resposta.

6. Rodeia a opção correta de acordo com o sentido do texto.


O narrador, ao afirmar que "Não há palavras para exprimir o seu aparvalhamento […]" (5.º
parágrafo), pretende demonstrar que Bilbo ficou

(A) sem saber o que fazer perante tamanha beleza.

(B) fascinado com o tesouro pendurado na parede: espadas e lanças.

(C) pasmado e deslumbrado, tal era o esplendor e o brilho do tesouro do dragão.

(D) sem palavras diante da beleza dos objetos preciosos pendurados na parede.

7. Se estivesses no lugar de Bilbo, terias coragem de avançar até à caverna em direção ao


tesouro, mesmo sabendo que lá vivia um dragão? Justifica a tua escolha.

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