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Resumo
O presente artigo aborda a elaboração de um projeto para a formação de professores
com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação e a valorização das
Culturas Juvenis presentes da escola. Este projeto foi elaborado a partir da
observação do problema de como tornar as atividades pedagógicas significativas para
a formação dos sujeitos em desenvolvimento na escola contemporânea. Através da
produção de um jornal online, com escrita colaborativa entre alunos e professores, de
um blog para publicação de textos debatidos em reunião e interação através de
comentários, e de um recreio especial a cada 30 dias sem nenhum registro de
ocorrência pretende-se relacionar as atividades escolares com o cotidiano dos
estudantes, trazendo significado aos estudos para os alunos. O referencial teórico
abordou as Juventudes e a Escola Contemporânea, a Psicopedagogia, a Formação
de Professores e as Tecnologias da Informação e Comunicação, na referência,
principalmente, de Juarez Dayrell, Maria Beatriz Titton, Maria Luiza Merino Xavier,
Jaqueline Moll, assim como os documentos do MEC como base de estudos. A
metodologia utilizada para a elaboração deste projeto foi a observação do contexto
com os sujeitos envolvidos e os objetivos atuais da educação. Os resultados obtidos
demonstraram a necessidade de se desenvolver projetos no sentido de adequar as
práticas pedagógicas aos interesses dos estudantes, assim como levá-los a se
reconhecer como protagonistas do processo educacional e estabelecer formas de
1. INTRODUÇÃO
O assunto abordado neste artigo é a organização da escola no sentido de
promover a formação dos professores e o protagonismo dos estudantes. Também a
adequação das práticas pedagógicas e avaliativas de maneira a atender de forma
satisfatória as juventudes presentes na escola.
Como lidar com as exigências da sociedade contemporânea, tornando as
atividades desenvolvidas na escola úteis para a formação dos sujeitos em
desenvolvimento nela? Branco afirma que a escola contemporânea tem
características que exigem atualização dos professores para uma prática que venha
ao encontro das necessidades de formação dos alunos (BRANCO in MOLL, 2012, p.
251). Segundo Nóvoa (1991, apud BRANCO, 2012, p. 251), “é a partir das
experiências realizadas nas escolas que ocorrem as mudanças, sendo impossível
defini-las e prevê-las previamente porque é no movimento da mudança que são
definidas as necessidades de formação dos professores”. Havia um tempo em que
era necessário que os alunos saíssem da escola com uma bagagem grande de
informações, o que os tornava sabidos. Hoje em dia, é necessário que eles tenham
competência para articular os saberes e que tenham habilidade para trabalhar em
equipe e usar novas tecnologias (TITTON in MOLL, 2012). Diferente de algumas
décadas atrás, o destaque individual já não é mais tão valorizado, mas sim, o saber
lidar com equipe de pessoas visando objetivo comum. “A escola atual precisa mudar,
pois os avanços científicos e tecnológicos geram novas exigências, demandam
competências e habilidades originais, bem como novos meios para entender a
complexidade crescente da realidade.” (MAGDALENA; COSTA, 2004, p.1). Nesse
sentido, Dayrell (2014, p.96) afirma: “O ensino, que no passado foi considerado canal
de reprodução de regras e valores da sociedade, hoje deve ser visto como meio para
possibilitar a reflexão, comunicação e redefinição de regras e valores estabelecidos”.
A necessidade de formação dos professores se justifica pelo fato de a escola
estar em constante mudança, visto que ela é composta por um conjunto de juventudes
que são o reflexo das sociedades. Nesse sentido, Meinerz afirma que “a vida cotidiana
se torna mediadora fundamental na historicidade da sociedade. Resgatar os modos
de viver e de pensar, constitutivos dos sujeitos dos processos sociais, é uma forma
importante de compreendê-la” (MEINERZ, 2005, p.81). O Professor, como mediador
da aprendizagem dessas juventudes, precisa compreendê-la para poder desenvolver
melhor seu trabalho, valorizando e dialogando com as Culturas Juvenis trazidas para
escola pelos estudantes. Negá-las é afastá-los do processo.
“Pressupondo que a educação é um fenômeno social e cultural” (MEINERZ,
2009, p.70), além de conhecer as Culturas Juvenis3 presentes na escola, existe o
desafio de como trazer para dentro dela atividades referentes aos modos de ser
jovens. Promover um horário de intervalo prolongado, o Recreio Especial, com
atividades diversificadas, em que os professores se envolvam para promover as
culturas dos estudantes visa a valorização do que eles são enquanto juventudes4 ao
mesmo tempo em que pode levar os professores a conhecer melhor essas culturas e
relacioná-las às atividades escolares. Muitas vezes acontecem mais aprendizagens
nas atividades diversificadas em horários livres do que nas aulas tradicionais, já que
o interesse dos jovens está contribuindo com o processo, diferente de quando as aulas
são baseadas em cópias e memorização. Nesse sentido, Perondi afirma que “a
participação dos jovens acontece de diferentes maneiras e produz diversos
significados que necessitam ainda de maior investigação e visibilidade social.“
(PERONDI, 2013, p.17). Portanto, é observada a importância de estabelecer uma
relação entre a prática dos professores e as formas de ser jovens dos estudantes,
promovendo o protagonismo juvenil e a valorização de suas culturas.
Este trabalho trata-se da elaboração de um projeto que será aplicado,
inicialmente, no ano letivo de 2016. O objetivo é o de instrumentalizar os professores
para uma prática pedagógica que venha ao encontro das características das
juventudes presentes na escola contemporânea. O trabalho será desenvolvido pelas
psicopedagogas da escola que compõem a equipe de Orientação Educacional e os
professores serão orientados ao longo do processo, de acordo com as necessidades
3 “Tornou-se quase um consenso conceber a juventude em sua diversidade, tanto que sua
denominação deixou de ser usada no singular e passou a ser adotada no plural: juventudes.”
(PERONDI, 2013, p.21).
4 “O modo como os jovens são compreendidos nas suas relações com as culturas hegemônicas e
parentais. É a concepção dos jovens como produtores de uma cultura própria, considerando-os sujeitos
ativos, dotados de capacidade de ação.” (PERONDI, 2013, p.23)
que surgirem. As estratégias são as seguintes: 1. O Encontro das Áreas, em que
semanalmente os professores se reunirão para leitura e debate sobre um tema trazido
especialmente com esta finalidade. 2. O Blog dos Professores é um espaço em que
os professores fazem os registros das suas práticas e reflexões delas. 3. O Jornal
Online, que é uma possibilidade de articulação de saberes e reflexões sobre o dia-a-
dia da escola, bem como as expectativas de cada segmento e divulgação de registros
escritos. 4. O Recreio Especial é uma forma de valorizar as Culturas Juvenis presentes
na escola ao mesmo tempo em que diminui ocorrências de indisciplina e demais
registros de inadequação do uso do espaço escolar e de comportamento, assim como
visa fortalecer o sentimento de pertencimento dos estudantes em relação à escola.
Proporcionar a construção colaborativa de um Jornal Online entre estudantes,
professores, equipe diretiva, pedagógica e comunidade escolar, ao mesmo tempo em
que são desenvolvidas estratégias de formação de professores, valorização do
espaço escolar, das culturas juvenis presentes na escola e de protagonismo dos
estudantes visa favorecer o melhor desenvolvimento dos alunos, melhorar as
condições de trabalho dos profissionais envolvidos e acrescentar qualidade na escola
pública. Nesse sentido se dá a importância da aplicação deste projeto, elaborado a
partir da observação do cotidiano da escola e da revisão de literatura relacionada, com
vistas a favorecer um melhor desenvolvimento dos sujeitos nela envolvidos. Para
tanto, a seguir será feito um aporte teórico dos assuntos pertinentes às questões
tratadas.
A relevância da elaboração deste projeto evidencia-se na observação da
necessidade de ampliação da promoção da formação dos professores em exercício
nas escolas públicas, com vistas a envolvê-los de forma prática em atividades que
relacionem suas áreas de conhecimento com o cotidiano dos estudantes, trazendo
significado aos estudos para os alunos. Evidenciaram-se algumas dificuldades para
colocar em prática esse planejamento ao se deparar com a realidade da escola e os
anseios e objetivos dos professores, já que nem todas as estratégias puderam
começar ao mesmo tempo que se iniciaram as aulas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Juventudes e a Escola Contemporânea
O sujeito social que se encontra hoje nas nossas salas de aula vem para a
escola carregado de uma cultura de que ele não abre mão ao ultrapassar os portões
que o transformam em aluno. Trata-se de uma juventude que tem sua maneira de ser
e de viver culturalmente, mas que não é uniforme, reproduz, no espaço escolar, as
culturas a que pertence. Nesse sentido, Cardoso e Castro afirmam que:
O ser humano é constituído socialmente [...] e por isso acaba se associando
em grupos,[...] encontrando, assim, o seu referencial de identidades e
costumes. A juventude não pode ser analisada de forma uniforme e fechada,
com características universais ou com noções pré-concebidas. Existem
várias juventudes, influenciadas por suas diversas vivências culturais,
históricas, sociais, econômicas, pelas relações de poder, entre outras.[...]
(CARDOSO e CASTRO, 2007, p. 2)
A plataforma blog, por ser de fácil edição, torna-se um meio prático para
inserção dos professores que não têm muita familiaridade com o uso de plataformas
virtuais. Outro fator favorável à escolha do blog para escrita dos professores é o fato
de ela ser “a ferramenta da web mais conhecida e utilizada em contexto educativo”
(COUTINHO, BOTENTTUIT, 2001, p.2).
A escrita conjunta entre professores e alunos de um jornal online favorece o
diálogo entre os sujeitos e a observação conjunta da realidade retratada nos artigos
publicados. Nesse sentido, Peters afirma que “as páginas da Internet são ferramentas
concretas em que os alunos e professores têm a oportunidade de divulgar suas
próprias produções, tornando-se coautores e aprendizes ao mesmo tempo.”
(PETERS, 2011, p.2)
A partir dos estudos desses assuntos abordados nos parágrafos anteriores, foi
elaborada a metodologia que se pretende aplicar no letivo de 2016. Nos capítulos
seguintes são apresentadas as estratégias para aplicação desse projeto. Trata-se da
metodologia de formação de professores e valorização tanto do espaço escolar
quanto das Culturas Juvenis, assim como a contextualização da pesquisa.
3. METODOLOGIA
Este trabalho trata-se da elaboração de um projeto que se pretende aplicar no
próximo semestre na escola. O projeto consta de quatro estratégias que foram
pensadas a partir da realidade escolar e de suas necessidades. Todas acontecerão
em conjunto e serão organizadas pela pesquisadora, nas funções de Orientadora
Educacional e Psicopedagoga. Estas atividades ocorrerão no turno da tarde.
Pretende-se ao término desta vivência, realizar um levantamento dos resultados
visando aprimorar este trabalho.
Essas ações vão ao encontro do que defende Nascimento em relação à atuação
do Psicopedagogo na instituição escolar. Ela afirma que:
4. CONTEXTO DA PESQUISA
O Colégio Estadual Deoclécio Ferrugem localiza-se no Município de Glorinha e
atende em três turnos: manhã com Ensino Médio, tarde com Ensino Fundamental e
noite com Ensino Médio e EJA. É a única escola de Ensino Médio da Cidade e, em
Glorinha, não há escolas particulares. O Município faz divisa com Santo Antônio da
Patrulha e Gravataí. Em Glorinha, existem muitos bairros bastante afastados do
centro, onde está localizado o Colégio, alguns distantes até 15 quilômetros. Há
transporte municipal que atende todos os bairros em horário escolar, são ônibus
específicos que transitam nos bairros em que há alunos matriculados na escola.
Com o crescente desenvolvimento da cidade, tem acontecido de virem muitas
famílias de fora e isso faz com que jovens de diferentes culturas interajam nesse
ambiente heterogêneo. Os professores demonstram dificuldade em lidar com essas
diferentes culturas, valorizando os estudantes que apresentam características
tradicionais em detrimento daqueles que trazem uma experiência de viver na escola
de forma mais contemporânea.
São comuns as falas dos professores no sentido de priorizar práticas
pedagógicas voltadas à transmissão de conteúdos e avaliações que dependam de
memorização. Quando se trata do assunto indisciplina ou não construção do
conhecimento esperado, a estratégia comum entre eles é chamar os pais para
transmitir a reclamação e a punição com reprovação.
Quando se tem uma diversidade de culturas juvenis ocupando o mesmo
espaço, é importante buscar estratégias que tornem significativos os aprendizados
desses diferentes jovens na escola. Aulas tradicionais contemplam algumas
necessidades dos estudantes e são importantes, mas isso acaba por afastar os jovens
quando são todas as aulas com essa mesma estratégia em todas as disciplinas.
Quando os estudantes não veem significados para suas vidas nas atividades
escolares, acabam por não se interessar por elas.
5. O PROJETO
Este projeto foi elaborado para ser aplicado no ano letivo de 2016, pelo Serviço
de Orientação Educacional, em duas funções: de Orientadora Educacional e
Psicopedagoga. O trabalho desenvolvido será com os alunos e professores do
Colégio Estadual Deoclécio Ferrugem, visando a formação de professores e o
protagonismo dos estudantes. Nesse contexto, os conceitos de Juventudes, Culturas
Juvenis e convivência dessas juventudes na escola trazidos por Juarez Dayrel,
Maurício Perondi, Maria Luíza Merino Xavier e Carla Beatriz Meinerz levam a refletir
sobre a finalidade das práticas escolares, quem são os sujeitos envolvidos no
processo educativo e qual é o objetivo de tudo que é feito na escola. Os documentos
do Ministério da Educação apontam no sentido de dar prioridade para a formação
continuada dos sujeitos, professores e alunos, para a construção de uma sociedade
mais justa, humana e igualitária. Assim, a Psicopedagogia tem seu objetivo central
contemplado e nesse sentido a elaboração deste projeto se faz importante.
As estratégias elaboradas para o projeto são quatro: O Encontro das Áreas e o
Blog dos Professores, que têm os objetivos de instrumentalizar os professores nas
tecnologias, de levá-los a estudar tendências atuais da educação, fomentar o registro
de experiências e a reflexão das práticas; O Jornal Online e o Recreio Especial, que
trazem os estudantes e seus modos de ser jovens para o protagonismo das atividades,
além de buscar a valorização da escola e dos estudos, relacionando seus interesses
aos dos educadores. Os estudos feitos nos textos de Jaqueline Moll e Maria Beatriz
Pouperio Titton corroboram a necessidade de adaptação das práticas às tendências
da educação moderna no sentido de tornar as aulas mais significativas para os alunos,
rompendo as barreiras do que é estudo regular e diversificado. Sendo assim, tornam-
se educativas as práticas escolares ainda que não sejam em períodos de estudos.
Nesses encontros serão realizados debates sobre o texto trazido para cada
reunião, portanto, antecipadamente, a psicopedagoga selecionará um pequeno texto
sobre um tema atual de educação, dentro dos assuntos que são importantes para o
grupo de professores refletirem, que norteará o debate por um período.
Posteriormente aos debates, a psicopedagoga publicará os textos debatidos em
página especialmente criada para isso, na internet, solicitando a ampliação das
discussões por meio de comentários. Trata-se do Blog dos Professores, atividade
descrita do capítulo a seguir.
Com essa ação, acredita-se que será possível a troca de saberes entre os
professores e eles serão convidados a refletir sobre a eficiência de suas práticas no
processo de ensino e aprendizagem. O papel da psicopedagoga, durante esses
encontros, será de problematizar as questões no sentido de levar os professores a
refletirem sobre as teorias que subsidiam suas práticas em sala de aula.
REFERÊNCIAS
BRANCO, Verônica. A Política de Formação Continuada de Professores para a
Educação Integral. In MOLL, Jaqueline (Org.) Caminhos da Educação Integral no
Brasil: direitos a outros tempos e espaços educativos. Porto Alegre: Penso. 2012.
FERREIRA, Ana Gabriela Clipes... [et al.] (orgs.) Orientações para Elaboração de
Trabalhos Acadêmicos: dissertações, teses, TCG de pedagogia, TCE de
especialização. Porto Alegre: UFRGS/FACED/BSE, 2013
GIL, Carmem Zeli de Vargas. Participação Juvenil na Escola: os jovens estão fora
de cena?. Última Década. n.37. Centro de Estudos Sociais, Valparaíso, Chile. 2012.
GREEN, Bill; BIGUM, Chris. Alienígenas na Sala de Aula. DA SILVA, Tomaz Tadeu
(trad.). 9. Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2011.