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obras, não é senão a redução das grandes disputas que acabam de ser descritas. Da
mesma forma que elas, êle começa por uma questão, "Circa primum quaeritur...",
após o que vem a discussão, formada antes de tudo pelo enunciado do pró ("videtur
quod..."), e do contra ("sed contra..."), que não correspondiam necessàriamente
à tese sustentada pelo autor, embora na Suma Teológica seja êste o caso mais
freqüente. Na realidade, essas preliminares constituem como que um primeiro manejar de
armas, que a determinação magistral contida no corpo do artigo ("respondeo, dicendum
quod. . . ") vem concluir. Finalmente vêm as respostas aos argumentos "contra",
onde de ordinário nota-se a preocupação de salvaguardar, através de distinções
convenientes, a parte de verdade que podiam conter as objeções.
Sob a técnica um pouco pesada e uniforme dessas Sumas medievais esconde-se uma vida
intensa de discussões e de pesquisas expressivas de uma época em que a curiosidade e a
agilidade intelectual foram notáveis. B possível que êsse formalismo tenha tido seus
inconvenientes, porém ele foi sobretudo um instrumento de análise e de exposição de
incontestável eficácia.
Ética a Nicômaco.
Política (aut. até III, I. 6 inclus.).
Sabe-se que o interêsse dêsse comentário deve-se ao fato de que êle representa o
pensamento de juventude de S. Tomás. Pertence, aliás, a um tipo de obra tão
clássica na Idade Média que não será inútil dizer alguma coisa a seu respeito.
12. AS SUMAS.
S. Tomás é célebre em tôda parte por sua Suma teológica. Sabe-se menos, em
contraposição, que esta obra pertence a um gênero literário muito difundido em seu
tempo. Mons. Glorieux (art. Sommes théologiques, no Dict. de Th. cath.)
divide as sumas medievais em três grupos, de intenção e de estrutura diferentes: as
Sumas compilações, onde domina a preocupação da compilação completa, porém não
organizada sistemàticamente (florilégios de textos escriturísticos ou patrísticos,
por exemplo. Na obra de S. Tomás, a Catena aurea); as Sumas abreviadas, onde
sobretudo se busca a brevidade exata (gênero léxico ou catecismo); as sumas
sistemáticas finalmente, que visam dar um ensinamento de conjunto orgânicamente
estruturado. É neste último grupo que se encontram as duas grandes Sumas de S.
Tomás.
A Suma contra os Gentios é uma obra apologética que teria sido escrita a pedido de
Raimundo de Pennafort, mestre geral dos pregadores, por ocasião do problema da
conversão dos mouros do reino de Valência, recentemente reconquistado pelos cristãos.
Deve-se observar, entretanto, que os argumentos apresentados não visam unicamente aos
muçulmanos. Os "gentios" são também os heréticos, os judeus, os pagãos, em uma
palavra todos os heterodoxos. Há concordância em datar o início da Contra Gentiles
no final do primeiro ensinamento do mestre (1258 aproximadamente). A obra teria
sido terminada na Itália (por volta de 1263-64) .
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Nesse meio tempo, S. Tomás havia sido canonizado por João XXII, em 18 de
julho de 1323. Será declarado Doutor da Igreja universal por S. Pio V, em
21 de abril de 1557.
A. Mestres dominicanos.
SYLVESTRE DE FERRARA
(1476-1538), conhecido sobretudo pelo seu excelente
comentário da Contra Gentiles.
B. Mestres jesuítas.
C. Mestres carmelitas.
1. NATUREZA DA FILOSOFIA.
Em seu sentido mais geral, a filosofia não é senão o que comumente se entende por
sabedoria. A denominação mesma de filosofia remontaria a Pitágoras que, por
modéstia, e considerando que a sabedoria própriamente só poderia convir a Deus, teria
reivindicado somente o título de "philosophos", isto é, amigo da sabedoria.
2. FILOSOFIA E EXPERIÊNCIA.
Com o homem, nós nos elevamos mais alto, até ao nível da arte e do raciocínio. A
arte aparece quando, de uma multidão de noções experimentais, se desprende um único
julgamento universal aplicável a todos os casos semelhantes. Com efeito, formar o
julgamento de que tal remédio aliviou Cállias, atingido por tal doença, depois
Sócrates, depois vários outros individualmente considerados, é o fato da experiência.
Porém declarar que tal remédio aliviou a todos os indivíduos atingidos pela mesma
doença, isto já pertence à arte. Com a arte nós estamos no plano do conhecimento
verdadeiramente racional, que se distingue do grau inferior do saber, nisso que o homem
não se contenta mais em constatar simplesmente a existência dos fatos, mas procura-lhe
também a razão explicativa ou a causa. A ciência, que se encontra no mesmo nível,
acrescenta à arte o caráter de conhecimento desinteressado. O sábio busca o saber
pelo saber, e sem se preocupar diretamente com sua utilidade ou aceitação.
senso comum, que é também uma forma não cientificamente elaborada de conhecimento.
Basta reproduzir aqui a conclusão do estudo que Maritain consagrou a êsse assunto
(Élements de Philosophie thomiste, 1. Introduction générale à Ia philosophie,
20
pp. 87-94) : "A filosofia não é fundamentada sôbre a autoridade do senso comum
tomado como consenso geral ou como instinto comum da humanidade, ela deriva todavia do
senso comum se se considera nêle a inteligência dos princípios imediatamente
evidentes. Ela é superior ao senso comum como o estado perfeito ou "científico" de um
conhecimento verdadeiro é superior ao estado imperfeito ou "vulgar" dêste mesmo
conhecimento. Todavia, a filosofia pode ser, por acidente, julgada pelo senso
comum".
3. FILOSOFIA E CIÊNCIAS.
A filosofia é uma ciência, mas há outras disciplinas que merecem êste título: a
matemática ou a física, por exemplo. Como estas formas de saber se distinguem umas das
outras?
Para Aristóteles, a diferença procede de que a filosofia não explica pelas mesmas
causas que as ciências particulares. As causas formam, com efeito, uma ordem, uma
hierarquia; existem causas inferiores e causas de grau mais elevado. Uma vez que eu
descobri uma causa, posso procurar a causa dessa causa, e assim sucessivamente. . .
É desta maneira que eu explicaria sucessivamente o eclipse pela interposição da lua, a
interposição pelas leis mecânicas do sistema solar, estas leis pela gravitação, a
gravitação, talvez, pela estrutura da matéria, e a matéria por Deus. A filosofia
é, nessa linha de procura, a explicação pelas causas mais elevadas, pelas causas
primeiras, quer dizer, por causas que se bastam a si mesmas e além das quais nada mais
há a procurar. Tal é a razão formal pela qual a filosofia se distingue das ciências
particulares. Rigorosamente falando, esta definição só convém, de maneira
adequada, à metafísica. Entretanto, ela pode ser estendida a todos os domínios do
saber, lógica, cosmologia, psicologia etc., por onde, independentemente do caminho
trilhado, se tem acesso também ao nível superior de explicação.
Pode-se observar, aliás, que as causas mais elevadas são ao mesmo tempo as mais
universais: a gravitação, por exemplo, explica mais fatos do que tal lei particular de
mecânica celeste e Deus, que está no ápice, explica tudo. Portanto, absolutamente
nada há que não esteja compreendido no objeto da filosofia, a qual tem, desta forma,
o máximo de extensão. Assim é que podemos dizer, em conclusão, que "a filosofia
é o conhecimento pelas causas primeiras e universais":