Você está na página 1de 27

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade

Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

Sufixação adjetival em –oso e –ento: casos de rivalidade,


bloqueio e polissemia

Seminário de Morfologia
Docente: Maria do Céu
Caetano Discente: Solange
Silva

Lisboa, 4 de Fevereiro de 2016

1
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

Índice

1. Introdução

2. Enquadramento Teórico

2.1. Produtividade em Aronoff e Bauer

2.2. Bloqueio

2.3. RFP REL

3. Sufixação adjetival em –oso e –ento

3.1. Propriedades combinatórias

3.2. Atestação dos sufixos em gramáticas e dicionários de língua portuguesa

3.3. Análise de derivados em –oso e –ento : casos de bloqueio, rivalidade e


polissemia.

4. Conclusões

2
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

1. Introdução

No âmbito do seminário de Morfologia, do mestrado em Ciências da


Linguagem, realiza-se o presente trabalho com o objetivo de abordar casos de
derivação sufixal de adjetivalização denominal com os sufixos –oso e -ento, na
variedade do português europeu, em que estes sufixos se possam apresentar
como rivais1. Neste contexto, pretende-se verificar se e em que condições poderá,
eventualmente, ocorrer o bloqueio de uma forma em detrimento de outra, de
modo a tentar apurar quais as restrições que o espoletam e se, eventualmente,
poderemos afirmar a (in)existência de competição sufixal entre estes mesmos
sufixos.
A motivação que se prende com a exploração do tema em epígrafe e respetiva
análise dos sufixos acima mencionados, em contexto de rivalidade sufixal, advém
da observação de dados empíricos tais como a possibilidade de alternância
(observável em contextos de produção oral/escrita e documentada em dicionários)
entre gorduroso/gordurento, ladeiroso/ladeirento ou terroso/terrento, constatando-
se, porém, a existência de ternurento2, mas não de ternuroso ou de poderoso,
mas não poderento. Já Fernão de Oliveira, na sua Gramática da Lingoagem
Portuguesa (1531), observava este mesmo par de sufixos derivacionais,
questionando: […]E também dizemos sarnoso e não sarnento; mas ao contrairo
chamamos ao cheo de sarapulhas, sarapulhento e não sarapulhoso. E de pedras
dizemos pedregoso, mas d’area areento, e de pó, nem poento nem pooso, mas em
outra figura e significação, empoado. […]3 A afirmação de Oliveira data do século
XVI, mas parece-nos que ainda hoje permanece atual colocar tal questão.
Pretendemos, como tal, no presente trabalho, contribuir com uma exploração,
ainda que provisória devido a restrições de espaço e de tempo, dos fenómenos de
produtividade, bloqueio e polissemia associados a estes sufixos derivacionais.

1
Entenda-se rivalidade ou competição sufixal como a seleção do mesmo tipo de bases por parte
de constituintes sufixais que apresentem propriedades fonológicas, semânticas e identidade
funcional diversas, conferindo, porém, ao produto que deles deriva, o mesmo semanticismo,
comportamento este atribuído a afixos isofuncionais (cf. CAETANO, 2008:23 e RIO-TORTO,
1998:47).
2
Coincidentemente, aquando da pesquisa dos vocábulos em dicionários, deparámo-nos com a
inexistência de “ternurento” no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das
Ciências, apenas estando registados “terno” e “ternura“. Encontrámo-lo, porém, nos restantes
consultados, da Porto Editora e da Priberam online.

3
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem
3
Citação de Fernão de Oliveira retirada de Rio-Torto (2009:282).

4
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

A abordagem a efetuar será necessariamente sincrónica, na medida em que


pretendemos apurar o atual estatuto dos sufixos sob escopo, quanto a rivalidade
sufixal. Todavia, não se poderá descurar uma análise diacrónica, tendo em conta
que estamos a referir sufixos de origem latina, -osus e -(l)entus, e que, como tal,
será crucial distinguir as palavras que foram construídas no português das que
não representam um produto derivacional na nossa língua, mas que se
preservaram , de forma a não pôr em causa a análise sincrónica praticada e
tentar, através da complementaridade dos pontos de vista diacrónico e sincrónico
na abordagem do fenómeno genolexical, alcançar respostas que, numa
perspetiva meramente sincrónica, poderiam não surgir (citando RIO-TORTO,
2004:8 e 137-140).

Considerando ainda o facto de a formação de palavras ser uma área de


atividade linguística de interface, i.e. que envolve todas as demais áreas da língua
no seu funcionamento (cf. RIO-TORTO, 1998:72) e em que, como tal, operações
formais e semânticas operam conjuntamente e de forma indissociável (RIO-
TORTO, 1998:71-72), serão tidos em conta aspetos, não só morfológicos, como
também semânticos4 e sintático-semânticos que possam intervir na seleção
destes sufixos (cf. CAETANO, 2008:29).

No que diz respeito aos vocábulos apresentados para análise, é de referir que
os mesmos foram selecionados com base em dados empíricos, através de um
método introspetivo, bem como com recurso a dicionários que os atestassem.

Quanto à organização do presente trabalho, efetuar-se-á o enquadramento


teórico no ponto 2, com uma aproximação aos conceitos de produtividade
(2.1.), bloqueio (2.2.) e uma apresentação das RFP REL5 em português, com
base na abordagem de Rio- Torto (1998) em 2.3. No ponto 3 introduziremos a
sufixação adjetival em –oso e –ento, com uma apresentação em 3.1. das
propriedades combinatórias dos sufixos, em 3.2.

4
Caetano (1994:62) refere: “Na relação base ͍sufixo deve ser tomado em consideração o ponto de
vista semântico, i.e. o valor semântico do formante sufixo e os traços que confere à base, a par do
aspeto formal (...)”, embora neste contexto formante sufixo se apresente como um conceito mais
abrangente que o de mero sufixo (elemento preso) que aqui tratamos.
5
Regras de Formação de Palavras
5
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

das diferentes atestações destes sufixos em diferentes dicionários, e


gramáticas de língua portuguesa (3.1.), para no ponto 3.2. proceder à análise
de casos de rivalidade e bloqueio daqueles constituintes e, por fim,
considerando o quadro teórico exposto, poder chegar a algumas conclusões,
ainda que provisórias, no ponto 4 do presente trabalho.

2. Enquadramento Teórico

Neste ponto e tal como já foi referido na introdução ao presente trabalho,


tratar- se-ão os conceitos de produtividade, segundo as abordagens feitas por
Aronoff (1976), Bauer (2001) e Aronoff&Lindsay (2014), e do conceito de bloqueio
de Aronoff (1976). Serão ainda apresentadas as RFP REL em português,
conforme Rio-Torto (1998).

2.1. Produtividade

Em 1976, Aronoff, em Word Formation in Generative Grammar, refere-se à


produtividade como “one of the central mysteries of derivational morphology”,
afirmando, contudo, haver uma ampla utilização do termo em diversos estudos da
morfologia derivacional, mas ainda assim com vagueza na sua aplicação (cf.
Aronoff, 1976:35). É neste contexto que o autor procede a uma comparação, no
inglês, dos afixos –ness e –ity, quando adjungidos a adjetivos com a forma “X”ous,
por forma a comparar a produtividade de cada um (cf. Aronoff, 1976:35). Foram
escolhidos casos em que os afixos operassem com as mesmas bases e que
tivessem um output com a mesma subcategorização e categorias lexicais (cf.
Aronoff, 1976:37). Aronoff (1976) sugere que o melhor método para “medir” a
produtividade de uma RFP seria a obtenção do rácio entre o número de palavras
existentes e palavras potenciais no âmbito de uma dada RFP, não se baseando
exclusivamente num critério de frequência mais ou menos elevada de um dado
processo para “medir” a produtividade, como sugeria, por exemplo, Baayen
(1992). (cf. SANTOS, 2014:13).

Aronoff sugere ainda que quanto mais coerência semântica houver por
parte do afixo, maior será a sua produtividade. Verificamos aqui uma associação
de critérios de frequência e grau da produtividade, em que, segundo o autor, as
6
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem
formas que fossem

7
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

menos produtivas ou arbitrárias fariam parte de um “inventário” abstrato, entrando no


Léxico da língua.

Bauer, em 2001, afirma haver diferenças significativas, por parte de diferentes


teorizadores6, quanto à produtividade em morfologia, tendo em conta que para alguns há
processos morfológicos produtivos, para outros serão RFP produtivas e para poucos
serão palavras (cf. BAUER, 2001:12). O autor destaca ainda que a conceção da
produtividade em escala, em menor ou maior grau, também não é unânime, já que alguns
a perspetivam como existente ou inexistente ou num modelo escalar (BAUER, 2001:15-
17). Bauer não partilha desta última perceção de produtividade, relacionando-a antes com
7
disponibilidade (availability) e rentabilidade (profitability). A disponibilidade estará
associada ao sistema e rentabilidade à norma (cf. BAUER, 2001:209-210). Referindo um
estudo feito sobre a produtividade do sufixo –ment, do século XII ao século XX, o autor
“traz à tona” os critérios “sincronia/diacronia”, indicando que neste mesmo estudo se
verificou uma quebra de produtividade daquele sufixo nos séculos XVII e XVIII8, mas
posteriormente uma recuperação da mesma já no século XIX. Bauer acrescenta que a
anterior queda de produtividade deste sufixo nada teve que ver com a perda de
transparência semântica do mesmo, contrariamente à perspetiva adotada por Aronoff
(1976). Nesta conceção de Bauer, um afixo pode variar diacronicamente quanto à sua
produtividade, daí a necessidade de considerar uma descrição diacrónica para a variação
deste fenómeno (cf. BAUER, 2001:7-9).

Em 2014, Aronoff e Lindsay, em “Productivity, Blocking and Lexicalization”, tecem elogios


ao trabalho de Bauer em Morphological Productivity, para logo a seguir afirmarem
reintroduzir a discussão num diferente plano, no sentido em que o âmago da discussão
não deveria ser a noção de produtividade, mas sim a de competição. Partindo do
pressuposto da língua como um sistema dotado de regularidades e padrões, a
morfologia, segundo os autores, apresenta-se como um desafio a qualquer teoria em tal
facto baseada (discreteness), por apresentar fenómenos que contrapõem dita
regularidade (cf. Aronoff&Lindsay, 2014:67). Neste contexto, é retomado o conceito de
produtividade morfológica escalar (diferentes graus de produtividade em língua), e não
regular (cf. Aronoff&Lindsay, 2014:69-70). Os autores concluem que deverá assumir-se
uma conceção da produtividade morfológica como um fenómeno gradativo, abrindo
portas a métodos estatísticos (cf. Aronoff&Lindsay, 2014:73).

6
Bauer (2001:12) menciona, entre outros, Anderson (1982), Aronoff (1976) ou Saussure (1969).
7
Corbin, em 1987, introduziu os critérios de regularidade, disponibilidade e rentabilidade, porém,
neste último ponto, rentabilidade, é associado à aplicação a um maior número de bases.
8
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem
8
O gráfico do estudo é apresentado na página 9 de Morphological Productivity.

9
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

2.2. Bloqueio

Não se revelando a derivação morfológica um processo regular, Aronoff


introduz o conceito de bloqueio, em 1976, como o fenómeno que impede o
aparecimento de uma palavra devido à existência de uma outra (1976:43):
Blocking is the nonoccurence of one form due to the simple existence of another.
Em 2014, Aronoff&Lindsay, tal como anteriormente se referiu, retomam o conceito
de produtividade, mas também o de bloqueio, afirmando que este último, tal como
foi inicialmente introduzido por Aronoff, seria um mecanismo regular (uma forma
existe e a outra não) num quadro morfológico de fenómenos irregulares (cf.
Aronoff&Lindsay, 2014:70). Os autores iniciam uma reflexão sobre o conceito,
assumindo que o mesmo acabaria por merecer alguma revisão e explicando que
quando a existência de uma palavra bloqueia outra, a palavra bloqueada poderia
ainda ocorrer, mas num outro sentido: “[…] a rival word may be deflected rather than
simply blocked.” (cf. Aronoff&Lindsay, 2014:70).

Assim, um sufixo poderia ser mais produtivo que outro, mas o menos produtivo
nunca seria completamente bloqueado, visto poder tornar-se especializado num
campo semântico em que o seu rival não atuasse. (cf. Aronoff&Lindsay, 2014:72).
Muito embora a reflexão dos autores acabe por seguir, neste artigo, num outro
sentido, pelo questionamento dos conceitos apresentados, parece-nos pertinente
testar, em português, se tal especialização semântica se verifica entre os sufixos
rivais –oso e -ento9.

Notem-se as seguintes afirmações de Caetano (2008) e Rio-Torto (1998). “[…]observa-se que as


9

formas em
–idade designam a ‘qualidade’, enquanto a maioria dos derivados formados a partir da mesma base com
outros sufixos, para além de designarem a ‘qualidade’, se polissemizaram, adquirindo outras aceções.” (cf.
Caetano, 2008:27) ; “dois produtos construídos no âmbito do mesmo paradigma derivacional, por
definição isofuncionais, podem não ser equivalentes (...), podendo até ser semanticamente bem
10
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem
distintos.” (cf. Rio- Torto, 1998:46).

11
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

2.3. RFP REL

Rio-Torto (1998) tenta estabelecer um quadro de trabalho, hipotético


segundo palavras da própria autora, em que fosse contemplado o conjunto de
regras de formação de palavras em português, ainda que de caráter provisório e
não exaustivo. Como tal, propõe esta sistematização para Regras de formação de
produtos deverbais, Regras de formação de verbos, Regras de formação de
adjetivos não deverbais, Regras de formação de nomes não deverbais, Regras de
formação de produtos isocategoriais e adiciona ainda as que operam
especificamente com recursos prefixais. Do quadro estabelecido pela autora,
interessa-nos aqui apresentar a Regra de formação de adjetivos não deverbais –
designada por Rio-Torto (1998) RFP REL que inclui adjetivos de relação
denominais (cf.RIO-TORTO, 1998:116), grupo em que se incluem os sufixos
abordados no presente trabalho, nos contextos a apresentar.

Em RFP REL, encontramos, portanto, os chamados adjetivos relacionais


(genericamente adjetivos denominais), que assim se designam pelo facto de
poderem ser parafraseáveis por “relativo a Nb”, “em relação a Nb”, “em relação
com Nb” (cf. RIO- TORTO, 1998:124). A título de exemplo, refira-se “campestre” =
“relativo a campo, em relação com o campo”.

Esta designação mais ampla poderá conter variantes, que são


determinadas pela base semântica da forma derivante ou do próprio afixo (cf.
RIO-TORTO, 1998:124). Entre essas variantes, encontram-se:

(i) Posse;
(ii) Procedência (inclui os chamados adjetivos étnicos);
(iii) Semelhança ou similitude;
(iv) Tipicidade;
(v) Pertença ou inclusão
(vi) Causa

12
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

Partindo desta proposta de Rio-Torto (1998) e tendo em conta as


paráfrases que explicitam a significação dos adjetivos denominais formados por –
oso e –ento, que podemos encontrar em diferentes dicionários (uns mais
generalizadores, outros mais especificadores),assim como com base num
conhecimento intuitivo ou mais empírico, neles encontramos as variantes de posse
- “que tem/possui Nb” (e.g. barrento, brioso), a de semelhança ou similitude – “que
tem semelhança com Nb; que evoca Nb;que tem X propriedades de Nb” (e.g.
sedoso) e de causa – “que causa ou provoca Nb” (e.g. bulhento, infeccioso). As
variantes aqui referidas serão tidas em conta, aquando da análise da competição
sufixal entre –oso e –ento.

3. Sufixação adjetival em –oso e –ento

Neste ponto, iremos apresentar as propriedades combinatórias dos sufixos –


oso e – ento, bem como as atestações que são feitas dos mesmos em
gramáticas e dicionários de língua portuguesa.

3.1. Propriedades combinatórias

O sufixo –oso apresenta-se como sufixo de adjetivalização denominal,


associando- se como tal a bases nominais para formar adjetivos (cf. nervoso,
teimoso, xistoso, relvoso, esplendoroso). Pode, contudo, selecionar, ainda que
menos frequentemente (os exemplos encontrados foram escassos), bases verbais
(cf. assombroso, abundoso). Provoca o efeito de truncamento da base, quando
associado a nomes em –dade (cf. mald[ade] ͢maldoso, id[ade] ͢ idoso). Ainda
que pareça contraditório, permite recursividade lexical com este mesmo
sufixo (cf. luminosidade), e, embora menos frequentemente (da pesquisa feita,
foram encontrados apenas dois exemplos) permite formar substantivos em –ura
(cf. formoso ͢ formosura). Os alomorfes –uoso e –ioso

13
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

parecem ter ocorrido sobretudo na sua fase latina, visto que a primeira vogal se
associa à última vogal da forma derivante latina (cf. impetu-impetuoso).

O sufixo –ento associa-se a bases nominais para formar adjetivos, sendo,


portanto, também um sufixo de adjetivalização nominal (cf. ternurento, ciumento,
briguento).

Destas propriedades combinatórias apresentadas, não deixa de sobressair


o facto de o sufixo –oso apresentar uma maior diversidade/flexibilidade
combinatória. Veremos ainda se tal também ocorre no domínio semântico e se
tais diferenças se poderão apresentar decisivas no que diz respeito à competição
lexical entre ambos.

3.2. Atestação dos sufixos em gramáticas e dicionários

De seguida, serão apresentadas diferentes atestações dos sufixos –oso e –


ento em gramáticas históricas e normativas ou tradicionais, bem como as que são
feitas no Dicionário da Academia das Ciências e no Dicionário Etimológico da
Língua Portuguesa. Posteriormente, será feita uma breve reflexão sobre as
diferenças/semelhanças encontradas nas aceções dadas a cada um dos sufixos
apresentados.

No Dicionário da Academia das Ciências, podemos encontrar as seguintes


definições:

 “-oso,a – elem. de form. (Do lat. –osus). Exprime as noções de: 1.


Qualidade. oleoso, piedoso, poroso.; Quantidade. numeroso.” (Vol G-Z,
p.2695).

 “-ento,a” – elem. de form. (Do lat. –entus). Exprime as noções de: 1.


Propensão, tendência. Briguento, bulhento, ciumento, azarento. 2. Estado,
qualidade. Sardento, ferrugento, gordurento, bexiguento. 3. Abundância.
poeirento.”(Vol A-F, p.1442)

No Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado,


podemos encontrar uma descrição mais pormenorizada dos significados
associados a ambos os sufixos derivacionais. Em –ento é especificada a

14
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem
proveniência latina, mas curiosamente o mesmo não é feito em –oso, decerto por
casualidade. A designação dada tem base nas

15
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

abordagens feitas, anteriormente a esta, por Said Ali (1931) e José Joaquim Nunes
(1945), como poderemos constatar mais à frente.

 “-oso – sufixo muito fecundo que forma adjetivos que se tiram de


substantivos e algumas vezes de verbos; indica o estar provido da
qualidade do objeto expresso pelo termo derivante, ou abundância de
alguma coisa em e ainda um lugar onde se encontram em abundância
determinadas plantas ou animais, a rivalizar, portanto, com –ado, -al e –
eira, se bem que esta significação só se documente hoje abundantemente
na toponímia (Carvalhoso, Coelhoso […]); O adjetivo pode, por vezes ter
sentido ativo, com a significação de “produzir” ou provocar alguma coisa”:
apetitoso, assombroso, delicioso, dispendioso […]. “(Vol IV, p. 267).”

 “-ento – sufixo bastante fecundo, do latim –entus (ex. cruentus), formativo


usado escassamente na língua-mãe. A sua significação varia. Pode
denotar “ter a qualidade de”, “ser dotado de”, “estar cheio de”, “ter a
semelhança de”, “ser propenso a”, etc. Como se vê cotejando os seguintes
exemplos: vidrento, gosmento, barrento, bulhento. Algumas vezes amplia-
se –ento em –orento, - arento: friorento, sumarento. Sedorento por
sedento. Parece que –ento foi tirado, na linguagem popular, de –lento,
documentável em corpulento, opulento, sonolento e outros adjetivos
herdados do latim […]. Postos de parte tais vocábulos, verifica-se que
estancou a produtividade do sufixo –lento.” (Vol II, p. 410).

No Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa (Fonética e Morfologia)


de José Joaquim Nunes (1945), verificamos também uma designação algo
pormenorizada de ambos os sufixos. Aqui, a apresentação feita de –oso é feita
juntamente com a do sufixo – udo10:

10
É interessante notar que José Joaquim Nunes faz as seguintes referências: “Para que um sufixo possa
resistir, torna-se condição indispensável que tanto ele como o radical a que se junta apresentem
ao nosso espírito ideias claras, bem nítidas e distintas.” (cf. NUNES, 1945:379). Parece, portanto,
que já antes de Aronoff se reconhecia o critério de transparência semântica como pertinente. Refere
ainda “Por vezes não há diferença sensível na significação de alguns sufixos que, por isso, podem
chamar-se sinónimos (ex. –

16
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

 “-oso, -udo – Como os latinos –osus e-utu, que representam, junta-se o


primeiro a temas verbais ou nominais e o segundo só a estes, mas
exprimem ambos, em geral, qualidade em abundância. 1: abund-oso (…),
rix-oso, relv-oso, manh-oso (…).” (p.395)

 “-lento, -ento – Do sufixo –lentu que no latim se adicionava a nomes, tirou a


língua popular – entu, ao qual atribui sentido que pouco diverge daquele, i.e.
abundância na maioria doa casos e também cores por vezes, juntando-se
igualmente a substantivos; um e outro continuam a viver sob a forma
indicada. O primeiro, porém, quasi que só em vocábulos cultos, assim: 1º
corpu-lento, sanguino-lento, sono-lento.2º po-ento ou poeir-ento, sed-ento
[…].” (p.395)

Na Gramática Histórica da Língua Portuguêsa, no capítulo “Formação de


Palavras e Syntaxe do Portuguez Histórico” (1931), Said Ali também tenta dar
conta dos diferentes valores semânticos associados a cada um destes sufixos,
assim como da “produtividade” dos mesmos. Refere ainda os seus alomorfes,
apesar de estarem presentes apenas em formas herdadas do latim:

 “-oso – sufixo de imensa fecundidade, formador de adjetivos que se


tiram de substantivos e algumas vezes também verbos. Denota o estar
provido da qualidade do objeto expresso pelo termo derivante ou
abundância de: caprichoso, orgulhoso, venenoso, invejoso, amoroso,
espinhoso […]. Às vezes pode ter sentido ativo, significando “produzir ou
provocar alguma cousa: doloroso, saboroso, ruinoso, delicioso […].
Alguns podem usar-se em duplo sentido: temeroso (que é cheio de
temor ou que provoca temor), lamentoso, lastimoso, vergonhoso,
angustioso. Em certos casos, o sufixo toma a forma de – uoso:
voluptuoso, monstruoso. Estes vocábulos já vieram assim formados do
latim. Novo é luxuoso do francês luxueux.” (p.20-21)

 “-lento,-ento – Ocorre o primeiro em opulento, corpulento, somnolento,


turbulento e outros adjetivos herdados do latim (pela linguagem culta).

edo;-al, olivedo, olival).” (cf. NUNES, 1945:385). Aqui verificamos a aceitação da existência de
formas sufixais rivais.
17
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

Estancou a produtividade do sufixo –lento. Flatulento veio por intermédio


do francês (…) Fecundo se tornou, pelo contrário, -ento do latim –entus
(ex. cruentus). A sua significação varia: pode denotar “ter a qualidade
de”, ser dotado de”, “estar cheio de”, “ter a semelhança de”, “ser propenso a”
como se vê nos ex: vidrento, barrento, bulhento, peçonhento, fedorento
[…]” (p.23)

Na Nova Gramática do Português Contemporâneo de Celso Cunha e


Lindley Cintra estes sufixos são apresentados de uma forma bastante resumida.
O sufixo –ento é apresentado sob a forma de (l)ento com a significação de
“provido ou cheio de” e “que tem o caráter de (cf. ciumento, corpulento, barrento,
vidrento). O sufixo –oso é apresentado com recurso ainda a menor informação,
apenas com a significação “estar provido ou cheio de” (cf. brioso, venenoso). Nas
Gramática do Português Atual, uma gramática escolar, o sufixo –oso é
associado a abundância e qualidade (cf. chuvoso) e – ento a qualidade e
propriedade (cf. avarento).

Podemos constatar, dos exemplos dados, que as gramáticas históricas,


aqui apresentadas, procedem a uma descrição mais detalhada das propriedades
dos sufixos derivacionais do que as outras consultadas (normativas, tradicionais
e escolares). Em todo o caso, verificamos que a paráfrase que se encontra
associada a ambos os sufixos em todas as designações é a de “ter a qualidade de”,
o que não será de estranhar por serem adjetivos relacionais, mas também se
encontra, em comum, o sentido de “abundância” ou “estar cheio de”. Porém, ao
sufixo –oso é atribuída a paráfrase de “produzir ou provocar algo”, em Nunes (1945)
e em Said Ali, não se verificando a mesma paráfrase em nenhuma das aceções
dadas a –ento. Por outro lado, as aceções de “ter a semelhança de” e “ser
propenso a” verificam-se repetidamente em –ento, mas não em
–oso. Ora, considerando as variantes de “relativo a Nb”, sugeridas por Rio-Torto
(1998) e que aqui apresentámos em 2.3., apenas Said Ali e José Joaquim Nunes
destacam o sentido de “produzir ou provocar algo” no sufixo –oso, que vai ao
encontro da variante de causa. Por outro lado, a aceção de “ser propenso a”
encontrada em algumas das designações dadas a –ento não parece encontrar
equivalente nas variantes de ”relativo a Nb” propostas por Rio-Torto (1998). Das
18
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem
informações lexicais aqui apresentadas, parece haver alguma distribuição
complementar entre os sufixos, com exceção da

19
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

significação de “abundância”, em que coincidem, e com a de “ter a qualidade de” por


ambos se encontrarem sob o escopo do paradigma dos adjetivos relacionais.

3.3. Análise de derivados em –oso e –ento : casos de bloqueio,


rivalidade e polissemia.

No ponto anterior, pudemos constatar algumas diferenças, mas também


semelhanças, nas paráfrases adotadas para explicitar os valores associados a
cada um destes sufixos, o que nos mostra que poderia eventualmente haver uma
certa complementaridade na distribuição de ambos em termos semânticos. É
possível também verificar que, embora tanto –oso como –ento selecionem bases
nominais, quando a forma derivante é um nome em –dade, apenas pode ocorrer o
sufixo –oso. Aqui encontramos uma restrição sintática à ocorrência de –ento (e.g.
maldade – maldoso; * maldento). A justificação poderia passar pelo facto de o
sufixo –ento não ter poder de truncar a base a que se adjunge, visto que se
acopla normalmente a radicais nominais (assim como também acontece
frequentemente com –oso). Uma outra situação em que sabemos que –ento não
poderá rivalizar com –oso é com formas derivantes verbais (e.g. desdenhar –
desdenhoso; *desdenhento). À partida, verificamos aqui restrições que serão de
caráter sintático. Contudo, quando encontramos bexigoso/bexiguento ou
barulhoso/barulhento questionamos se, então, poderá haver de facto rivalidade
sufixal entre ambos, podendo ambos exercer a mesma função semântica
exatamente nos mesmos contextos. De entre estes pares que nos parecem rivais,
pretendemos destacar caloroso/calorento, que, à partida, seguiriam também a
mesma linha dos anteriores, i.e. funcionarem como sinónimos, tal como vários
dicionários atestam com relação a diversas formas sufixadas em –oso e –ento.
Ora, a primeira reação intuitiva é encontrar neles valores diferentes, um
[+abstrato], que seria o caso de caloroso e outro [+concreto], calorento. Se o
confirmarmos num dicionário, iremos encontrar pois a validação de tal conceção,
não obstante ainda surgir a possibilidade de sinonímia com calorento, com valor
de causa. Observe-se:

20
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem
11
Caloroso
Que causa ou tem calor. = CALORENTO, QUENTE
2. Que tem ou demonstra afecto (ex.: sorriso caloroso; felicitações calorosas). = AFECTUOSO
3. [Figurado] Que denota ardor, energia ou intensidade (ex.: discussão calorosa; palmas
calorosas). = ARDE NTE
12
Calorento

1. Em que há calor. = QUENTE


2. Que é muito sensível ao calor ou que sente muito calor. = ENCALMADIÇO, ENCALORADO

Pelas aceções apresentadas, verificamos que mesmo a significação que


poderia ser, no limite, associada à variante posse (caloroso – que tem calor;
calorento - em que há calor), a única mais próxima entre ambos, mas não idêntica
pela semântica diferenciada de “haver”, também acaba por levar a crer que serão
aqui distintos. Vemos ainda que apenas –oso apresenta “intensidade” e que –ento,
uma vez mais, “tendência ou propensão”, tal como vimos nas aceções dadas nos
dicionários e gramáticas aqui apresentados.

Atentando num outro par, gorduroso/gordurento, encontramos a seguinte


aceção, também com exemplos do mesmo dicionário:
gorduroso

1. Que tem gordura; da natureza da gordura.


2. Sujo de gordura; ensebado.

Sinónimo Geral: GORDURENTO

gordurento

O mesmo que gorduroso.

Contudo, ao efetuar uma pesquisa com contextos em que ocorressem ambos os


sufixos, surgiu um em que a forma derivada de –ento não suplanta a forma em –
oso, com respeito a gorduroso/gordurento e que surge no domínio da Medicina -
embolia gordurosa – não ocorre qualquer registo de *embolia gordurenta, o que
nos poderia levar a tomar o sufixo –oso como especializado naquele domínio. Se
considerarmos ainda um exemplo anteriormente referido, mas ainda não
explorado, bexigoso/bexiguento, encontramos a definição de “bexigoso” como
“alguém que tem no rosto sinais de varíola”

11
Consultado em http://www.priberam.pt/
12
Consultado em http://www.priberam.pt/

21
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

e na entrada de “bexiguento” a definição deste termo como equivalente a “bexigoso”.


Porém, se nos detivermos numa das significações mais recorrentes em derivados
de – ento, que vimos em 3.2. , “ter propensão a”, poderíamos considerar que
“bexiguento” seria “alguém com propensão para varíola” e não “detentor” de tal
doença.
O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa regista ambos os termos, sem
qualquer aceção ou étimo, mas datados do século XIX. Dos outros exemplos aqui
citados, também não existe qualquer registo no mesmo dicionário, o que leva a
crer que todos eles foram formados já em português. Embora estes sejam
exemplos circunscritos e possivelmente não muito expressivos, tendo em conta
outros exemplos que se pudessem dar, parece haver um determinado padrão, em
que –ento e –oso se especializariam num determinado valor semântico. Não
havendo restrições sintáticas, possivelmente na maioria dos casos, parece,
todavia, haver uma diferenciação semântica que aponta para uma não
competição sufixal, i.e. –oso com o valor “ter a qualidade de”, “ser abundante em”
“produzir ou provocar Nb” e mesmo o “duplo sentido” referido por Said Ali – “ter ou
provocar Nb” , “e –ento com o valor de “propensão a”. Partindo deste pressuposto,
de não haver rivalidade entre sufixos por critérios de polissemia, não seria de
estranhar haver formas em que um sufixo bloqueasse o outro. De facto, durante a
pesquisa, deparámo-nos com vários exemplos em que as duas formas coexistem,
mas em que-ento tem significação de “propensão para” e –oso “possuir”, tais
como raivoso/raivento. Contudo, apresenta-se, pelo menos, um problema
bastante significativo que se prende, segundo a hipótese que aqui colocávamos,
com a destituição da significação de “ter a qualidade de” para –ento, conferindo-lhe
antes a de “propensão para”, visto que colidiria com a significação, que até aqui
vimos, dada a qualquer adjetivo considerado relacional, por ser denominal – “ter a
qualidade de Nb”, como vimos através de Rio-Torto(1998), em
3.2. Para além disso, no caso, por exemplo, de “pulguento” e “pulgoso”, estes
também
aparecem como sinónimos com a diferença de que a designação do primeiro é
dada com a paráfrase associada aos adjetivos relacionais, neste caso “que tem
pulgas (Nb)”, e que contraria a afirmação feita anteriormente – “propensão para”.
Por outro lado, “pulgoso”, apesar de surgir como sinónimo de “pulguento”, é
definido como “que está cheio de pulgas”, remetendo para a variante de
22
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem
abundância, frequentemente associada a –oso, como já vimos em 3.2.

23
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

Os exemplos aqui dados, em que ambos aparecem atestados como


sinónimos, não serão contudo suficientes, seguindo a perspetiva de Aronoff
apresentada em 2.1., para dar conta da rivalidade sufixal em ambos. É, como já
vimos, segundo o autor, necessário considerar as palavras potenciais que são
bloqueadas. Assim, apresentaremos ainda alguns exemplos, também já formados
em português, como:

a. habilidoso13/*habilidento
b. ferrugento/*ferrujoso
c. rabugento/*rabujoso

Nestes casos, em particular, sim surge uma restrição sintática. As formas


derivantes em -dade admitem apenas a sufixação em –oso e as formas derivantes
em –(u)gem a derivação em –ento (cf. ferrugem – ferrugento; rabugem-
rabugento), quando formadas em português. Contudo, é interessante notar que no
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa aparece registado o vocábulo
“ferruginoso”, mas com origem latina (do latim ferruginōsu)14. Na possibilidade de
ter alguma base disponível em -(u)gem, poderia haver atualmente mais tendência
para formar adjetivos em –ento. Para além disso, a designação dada a
“ferruginoso”, de origem latina é “cor de ferro, azul escuro”, caracterização que é
feita normalmente por sufixos derivados de –ento (cinzento, amarelento)15, mas
estes últimos formados em português. Parece haver, neste contexto apresentado,
alguma complementaridade diacrónica, considerando que um dos sufixos deixa
de usado no sentido que o outro tem, embora ainda possa aparecer atestado com
esse significado. Por motivos que se prendem com restrições de espaço, a
análise não deverá ser alongada, porém, tentaremos apresentar algumas
conclusões.

13
No Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa não aparece como tendo origem latina, apenas a
forma derivante a tem, segundo o mesmo.
14
O vocábulo também aparece registado no dicionário Priberam online.

15
(Cf.Nunes, 1945:395) “-lento, -ento – […]abundância na maioria doa casos e também cores por
vezes, juntando-se igualmente a substantivos[…].
24
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

4. Conclusões

Na análise feita no ponto anterior, foram dados alguns exemplos para testar a
competição sufixal entre –oso e –ento e, segundo os dados apresentados,
parece-nos que a formulação de bloqueio, em Aronoff& Lindsay (2014), de que
uma palavra bloqueada poderia ainda ocorrer, mas num outro sentido, se apresenta mais
adequada. Quanto à produtividade dos mesmos, parece-nos, todavia, necessário
dar conta de outros casos para que se possa chegar a uma conclusão mais
consistente. Ainda assim, cremos haver uma tendência para a especialização
semântica de um dado sufixo. Certo é que o recurso a uma análise diacrónica dá
conta de factos que, com uma análise meramente sincrónica, não seriam
desvendados e, consequentemente, encontrariam menos soluções aos problemas
colocados pela dita irregularidade do fenómeno morfológico.

25
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

Referências Bibliográficas

ARONOFF, Mark (1976) Word Formation in Generative Grammar, Cambridge


(Massachusetts), MIT Press.

BAUER, Laurie (2001) Morphological Productivity. Cambridge: Cambridge University


Press.

CAETANO, Maria do Céu (1994) A Derivação Sufixal no Português


Contemporâneo: análise de alguns sufixos mais produtivos, diss. Mestrado,
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.

CAETANO, Maria do Céu (2008) – «Rivalidade Sufixal e Polissemia». In: Correia,


Clara Nunes (org.) – Cadernos WGT. Lisboa: CLUNL, 23-35. Disponível em:
http://www.clunl.edu.pt/resources/docs/grupos/gramatica/cadernos/cc_pol.pdf

AZUAGA, Luísa (1996) Morfologia in Faria, I. H.; Pedro, E. R.; Duarte, I.; Gouveia,
C. (Orgs.) Introdução à Linguística Geral e Portuguesa, Lisboa, Caminho: 215-241.

CASTELEIRO, J. M. (Coord.) 2001 — Dicionário da Língua Portuguesa


Contemporânea, Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa e Editorial Verbo.

CUNHA, Celso & CINTRA, Lindley, Nova Gramática do Português Contemporâneo,


Lisboa: Edições João Sá da Costa, 2000.

MATEUS, M. H., Brito, A. M., Duarte, I., Faria, I. H., Frota, S., Matos, G., et al.
(2003).
Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho.

NUNES, José Joaquim (1945) Compêndio de Gramática Histórica Portuguesa


(Fonética e Morfologia. Livraria Clássica Editora, Lisboa. 3ª edição

26
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade
Nova de Lisboa
Mestrado em Ciências da Linguagem

RAPOSO, Eduardo B. Paiva et al. (2013) Gramática do Português. Fundação


Calouste Gulbenkian, Lisboa.

RIO-TORTO, Graça (1996) Sincronia, diacronia e análise genolexical. In:


Diacrítica 11, p. 227-244.

RIO-TORTO, Graça (1998), Morfologia derivacional: teoria e aplicação ao


português. Porto, Porto Editora, Colecção Linguística, nª 12.

RIO-TORTO, Graça (2009) Actualidade do pensamento de Fernão de Oliveira:


léxico e morfologia da língua portuguesa. In: Carlos Morais (coord.), Fernando
Oliveira: um Humanista genial. Universidade de Aveiro, Centro de Línguas e
Culturas, p. 261-285.. In Carlos Morais (coord.), Fernando Oliveira: um Humanista
genial, 261 - 285. . Universidade de Aveiro: Centro de Línguas e Culturas.

ALI, Manuel Said. Formação de palavras e sintaxe do português histórico (1923)

MACHADO, José Pedro (1989) Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa.


Lisboa, Livros Horizonte, (volumes I-V).

ARONOFF , Mark & LINDSAY, Mark. (2014). Productivity, blocking, and


lexicalization. In The Handbook of Derivational Morphology, ed. by Shelley
Lieber and Pavol Štekauer. Oxford: Oxford University Press.

Dicionários online
http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-
portuguesa http://www.priberam.pt/dlpo

27

Você também pode gostar