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ESPPE

ESCOLADEGOVERNO
EMSAÚDEPÚBLICADEPERNAMBUCO
Expediente

Governador do Estado Secretária Executiva de Gestão Do


Paulo Henrique Câmara Trabalho e da Educação em Saúde
Fernanda Tavares
Secretário Estadual de Saúde
André Longo Araújo de Melo Diretora da Escola de Governo em
Saúde Pública de Pernambuco
Secretária Executiva de Vigilância
Célia Maria Borges da Silva Santana
em Saúde
Patrícia Ismael de Carvalho Gerente da Escola de Governo em
Saúde Pública de Pernambuco
Diretora Geral de Promoção e
Luciana Camêlo de Albuquerque
Vigilância de Riscos e Danos à
Saúde Coordenação de Ensino à Distância
Sandra Luzia Barbosa de Souza Arnaldo César Alencar da Boaviagem
Gerente de Vigilância de Doenças Coordenadora de Educação
e Agravos Não Transmissíveis e Permanente em Saúde
Promoção da Saúde
Emmanuelly Correia de Lemos
Renata Vieira de Souza Amaral
Equipe Coordenação de Educação
Coordenadora de Vigilância de Permanente em Saúde
Acidentes e Violência
Andréa Fernanda de Oliveira
Regianne Keyssi dos Santos de Bárbara Paloma Marques de Luna
Araújo Natália Nunes de Lima
Nathalia Ingrid dos Santos Silva
Técnica da Vigilância de
Violências Capa, diagramação e projeto
Edvania Maria da Silva gráfico
Hugo Fernandes Lemos Pessoa, Rafael
Elaboração
Azevedo de Oliveira
Hugo Fernandes Lemos Pessoa,
Maria Eduarda Morais Lins,
Natália Nunes de Lima, Regianne
Keyssi dos Santos de Araújo e Agradecimentos
Renata Vieira de Souza Amaral À Caroline Souto, Hugo Pessoa, José
Revisão Laerton, Leila Navarro, Maria Eduarda
Morais, Natália Nunes e Neuza
Regianne Keyssi dos Santos de Buarque pelas contribuições no
Araújo, Renata Vieira de Souza processo de construção deste curso.
Amaral e Sandra Luzia Barbosa de
Souza
Plano de Curso

1. JUSTIFICATIVA

Em sua origem e em suas


manifestações, a violência é um fenômeno
sócio-histórico e acompanha toda a
experiência da humanidade. Portanto, ela
não é, em si, uma questão de saúde
pública. Transforma-se em problema para
a área porque afeta a saúde individual e
coletiva e exige, para sua prevenção e
enfrentamento, formulação de políticas
específicas e organização de práticas e de
serviços peculiares ao setor (MINAYO,
2006).
As consequências da violência que
chegam ao sistema de saúde, dentre
outros aspectos, evidenciam aumento de
gastos com emergência, assistência e
reabilitação, muito mais onerosos do que a
maioria dos procedimentos médicos
convencionais (MINAYO, 2006). Extrai das
economias mundiais a cada ano bilhões de
dólares em tratamentos de saúde, gastos
legais, ausência do trabalho e produtivi-
dade perdida (DAHLBERG; KRUG, 2006).
A notificação de casos de violência é
uma ação de vigilância em saúde
obrigatória, sendo um dos passos da linha
de cuidado. Sua importância se dá pela
promoção do fortalecimento e articulação
da rede de proteção e garantia de direitos,
que ocorre quando se conhece a
magnitude do problema social, previne-se
a violência de repetição, retira-se os casos
da invisibilidade e enquanto dá subsídio
às políticas públicas (BRASIL, 2017).
Desta forma, a subnotificação dos
casos de violência constitui um problema
de saúde pública, pois a inviabilização de
um perfil epidemiológico de violências e
acidentes prejudica a construção de
políticas públicas eficazes na prevenção e
combate a este problema social
(LOFFREDO; ARRUDA, LOFFREDO, 2012).
Sendo assim, a realização de um curso
auto instrucional voltado, principalmente,
aos profissionais da saúde se faz útil no
fortalecimento das redes de proteção da
pessoa em situação de violência e na
prevenção de novos casos.

2. OBJETIVOS

2.1 Geral
Subsidiar as trabalhadoras e
trabalhadores da saúde e da rede
intersetorial de enfrentamento à violência
na realização da notificação dos casos de
violência, na perspectiva da linha de
cuidado e proteção da pessoa em
situação de violência e da prevenção
desse agravo em Pernambuco.

2.2 Específicos
● Divulgar informações sobre a
problemática da violência na agenda do
setor saúde;
● Promover o conhecimento acerca das
principais formas de violência na
sociedade contemporânea, a partir da
conceituação de violência;
● Esclarecer sobre o papel das
trabalhadoras e trabalhadores na
vigilância e notificação de casos de
violência, a partir da identificação de
casos suspeitos;
● Promover a notificação de casos de
violência nos instrumentos oficiais, a
partir da compreensão dos fluxos da
notificação semanal e imediata;
● Fortalecer a resolutividade de casos de
violência a partir do reconhecimento dos
equipamentos da rede de atenção às
vítimas, compreendendo os diferentes
papéis de referência e contrarreferência.

3.REQUISITOS E FORMAS DE ACESSO


Ser profissional ou estudante da
área da saúde, ou de áreas afins, bem
como estudantes de nível médio, e
público leigo em geral que tenha
interesse pela temática.
4. PERFIL PROFISSIONAL AO FINAL DO
CURSO
Sujeito conhecedor dos conceitos
acerca da temática de violência e
esclarecidos quanto ao papel das
trabalhadoras e trabalhadores da saúde e
rede intersetorial na notificação de casos
de violência, a partir da identificação de
casos suspeitos.

5. ORGANIZAÇÃO CURRICULAR

OBJETIVO DE
MÓDULO CONTEÚDO APRENDI-
ZAGEM

Módulo I 1. Histórico e im- Reconhecer a


portância do pro- violência como
Violência blema da violência problema de
como na agenda da saúde pública;
problema saúde;
de saúde 2. Epidemiologia
pública das violências.
Módulo II 1. Definição de Conhecer as
violência e tipos; principais for-
Vigilância 2. Causas da mas de violên-
das violência - Modelo cia na socieda-
violências ecológico; de contempo-
3. Perspectiva da rânea, a partir
interseccionalidade; da concei-
4. Conceituando a tuação de
violência obstétrica; violência.
5. Histórico da
vigilância de
violências e
principais marcos
legais.

1. Conceito de Entender o
notificação e sua conceito de
importância; notificação e
2. Quais os objetos sua importân-
Módulo III
de notificação e os cia para saúde
tipos de violência. pública.
Notificação
3. Diferença entre a
compulsó-
notificação imediata
ria
e a semanal;
4. A notificação
compulsória em
saúde e a denúncia;
1. Apresentar as leis Debater o pa-
que embasam a pel dos pro-
Módulo IV notificação; fissionais na
2. Refletir sobre a notificação de
O papel dos responsabilidade casos de
profissio- dos profissionais e violência
nais na abordagem, discu-
notificação tindo sigilo e ética
de casos de profissional;
violência 3. Apresentar sinais
e sintomas de
vítimas de violência.

1. Apresentação do Compreender
instrumento de no- os fluxos e
tificação de violên- instrumentos
cia interpessoal/ oficiais da
Módulo V
autoprovocada; notificação de
2.Detalhamento do violência
Notificação
preenchimento da interpessoal/
de violência
ficha; autoprovocada
interpessoal
3.Principais erros no Sinan.
/autopro-
no preenchimento;
vocada no
4.Fluxo da infor-
Sinan.
mação após a reali-
zação da notifica-
ção.
1. Apresentação do Compreender
instrumento de noti- os fluxos e
ficação imediata em instrumentos
casos de violência; oficiais da
2. Instruções para o notificação de
Módulo VI
preenchimento da violência
ficha; imediata na
Notificação
3. Apontar os plataforma do
de violência
principais erros no CIEVS/PE.
imediata no
preenchimento;
CIEVS/PE
4. Apresentação do
fluxo da informação
após a realização da
notificação.

1. Linha de cuidado Conhecer a


às vítimas de rede de aten-
violência; ção e com-
Módulo VII
2. Rede de atenção preender os
às vítimas de diferentes pa-
Linha de
violência. peis de cada
cuidado às
componente na
vítimas de
linha de
violência
cuidado às
vítimas de
violências.
5.1 Metodologia

A formação será desenvolvida no


Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)
da Escola de Governo em Saúde Pública de
Pernambuco, no endereço eletrônico:
http://ead.saude.pe.gov.br/.

6. AVALIAÇÃO DO PROCESSO ENSINO-


APRENDIZAGEM: CRITÉRIOS E
PROCEDIMENTOS

Após percorrer todos os conteúdos,


dar-se-á início ao processo avaliativo, no
qual, o aluno deverá responder às
questões de Avaliação de Aprendizagem
com a finalidade de consolidar o seu
conhecimento.
Nessa avaliação é necessário que você
obtenha 70% de acertos. Caso não obtenha
o rendimento mínimo poderá refazer as
questões de avaliação.
7. CERTIFICADOS
Certificação emitida pela instituição
formadora, a Escola de Governo em Saúde
Pública do Estado de Pernambuco.

8. CUSTOS DA FORMAÇÃO
Gratuito.

9. REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Cartilha de
Notificação de Violências, 2017.
LOFFREDO, M., ARRUDA, C., LOFFREDO,
L.C.M. Mortality rate in children caused by
traffic accidents according to geographical
regions: Brazil, 1997-2005. Revista Brasileira
de Epidemiologia. v. 15; n. 2. p. 308-14,
2012.
MINAYO, MCS. Violência e saúde [online]. Rio
de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2006.
DAHLBERG, L.L., KRUG, E.G. Violência: um
problema global de saúde pública. Ciência e
saúde coletiva, 2006.
Sejam bem-vindas e bem-vindos ao
primeiro módulo do Curso de Vigilância de
Violências com Ênfase na Notificação da
Violência Interpessoal e/ou Autoprovocada.

Neste módulo, vamos conhecer a


trajetória histórica de legitimação do tema
violência na área da saúde pública e sua
inclusão na agenda da saúde, assim como o
cenário epidemiológico deste agravo no
Estado de Pernambuco.

Objetivo:

Reconhecer a violência como problema de


saúde pública.

Conteúdos:

1. Histórico e importância do problema da


violência na agenda da saúde;

2. Epidemiologia das violências.

Bons Estudos!
Vamos conhecer como a violência
entrou na agenda da saúde. Você
sabe como se deu essa inclusão?

Em sua origem e suas manifestações,


a violência é um fenômeno sócio-histórico e
acompanha toda a experiência da
humanidade. Portanto, ela não é em si, uma
questão de saúde pública. Transforma-se
em problema para a área porque afeta a
saúde individual e coletiva e exige, para sua
prevenção e enfrentamento, formulação de
políticas específicas e organização de
práticas e de serviços peculiares ao setor
(MINAYO, 2006).

As consequências da violência que


chegam ao sistema de saúde, dentre outros
aspectos, evidenciam aumento de gastos
com emergência, assistência e reabilitação,
muito mais onerosos do que a maioria dos
procedimentos médicos convencionais
(MINAYO, 2006). Extrai das economias
mundiais a cada ano bilhões de dólares em
tratamentos de saúde, gastos legais,
03
ausência do trabalho e produtividade
perdida. É difícil calcular o impacto exato
sobre os sistemas de saúde ou seus efeitos
na produtividade econômica em todo o
mundo (DAHLBERG; KRUG, 2006).

A figura 1 demonstra as consequências da


violência para o comportamento e saúde:

Fonte: OMS
04
Apesar de todas as razões citadas, a
inclusão da violência na pauta do setor
saúde vem ocorrendo muito lentamente. Em
toda a sociedade ocidental, e mais
particularmente no Brasil, é na década de
1980 que o tema da violência entra com
mais vigor na agenda de debates políticos e
sociais e no campo programático da saúde.
Oficialmente, somente a partir da década de
1990, a Organização Panamericana da
Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da
Saúde (OMS) começaram a falar
especificamente do tema "violência" (e não
apenas "causas externas") (MINAYO, 2006).

05
Você sabia que os movimentos
sociais foram bem importantes na
trajetória de inclusão da violência
na agenda do setor saúde do
Brasil?

No Brasil, a inclusão da violência e da


criminalidade na agenda da cidadania
coincide com o término da ditadura militar.
Os movimentos sociais pela democratização,
as instituições de direito e a forte pressão de
algumas entidades não governamentais e
organizações internacionais, foram
fundamentais para pautar a violência social
como uma questão pública (MINAYO, 2006).

Leia o artigo "A inclusão da violência na


agenda da saúde: trajetória histórica", de
Maria Cecília de Souza Minayo. O texto é
escrito em linguagem simples e é
fundamental para a compreensão da
temática em tela. Clique aqui para leitura.

06
Na área de saúde, a consideração do
tema da violência vem ganhando
representatividade progressivamente. A
participação do movimento de mulheres na
introdução da violência como tema de saúde
no Brasil teve expressão fundamental na
construção do Programa de Atenção
Integral à Saúde da Mulher, promulgado em
1983. Esse programa incorpora de forma
nítida a pauta dos direitos sexuais e
reprodutivos, que concede lugar de
destaque à reflexão sobre a violência de
gênero (MINAYO et al, 2018).

No âmbito da proteção à infância,


profissionais comprometidos com a saúde e
com o desenvolvimento integral de crianças
e adolescentes, e entendendo-os enquanto
sujeitos de direitos, participaram
ativamente de um forte movimento em prol
da cidadania deste grupo, que redundou na
criação do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), promulgado em 1990
(MINAYO et al, 2018).

07
Na metade dos anos 90, muitas
secretarias de saúde municipais em
articulação com organizações da sociedade
civil, criaram estratégias e serviços de
prevenção e de assistência às condições
resultantes da violência. Tais iniciativas se
multiplicaram desde então e integram, de
modo geral, instituições públicas, ONGs e
institutos ou grupos de pesquisa (MINAYO,
2006).

A promulgação do Estatuto do Idoso


pela então Secretaria Especial de Direitos
Humanos, em 2003, trouxe o tema da
violência como pauta intersetorial relevante
ao tratar do cuidado à pessoa idosa,
incluindo a área de saúde. Ao setor saúde,
cabem ações de promoção, prevenção de
agravos, atendimento às várias formas de
violência e normalização das casas e clínicas
de longa permanência (BRASIL, 2003).

Com relação à população LGBTQ+,


em 2004, foi criado o programa “Brasil sem
Homofobia”, com o propósito de combater a
violência e outras ações discriminatórias
(BRASIL, 2004). Por conseguinte, em 2011,

08
com a instituição da Política Nacional de
Saúde Integral LGBT, a violência contra essa
população é incorporada nas reco-
mendações e diretrizes das ações de
vigilância, prevenção e atenção à saúde,
com destaque para a inclusão obrigatória
dos itens de orientação sexual e identidade
de gênero nos instrumentos de notificação
compulsória (BRASIL, 2011a).

Para ampliar seus conhecimentos leia:


"Institucionalização do tema da violência no
SUS: avanços e desafios" (Minayo, et al.
2008). Clique aqui para leitura.

Clique na imagem acima para acessar o vídeo

09
Como ampliar e exercitar nossa
percepção acerca das situações
de violência? A saúde pública traz
contribuições:

10
A saúde pública caracteriza-se,
sobretudo, por sua ênfase em prevenção e
na possibilidade de conhecer melhor a
situação de saúde da população, seus
determinantes e condicionantes, a fim de
produzir cuidados e promover saúde. Mais
do que simplesmente aceitar ou reagir à
violência, seu ponto de partida reside na
forte convicção de que o comportamento
violento e suas consequências podem ser
prevenidos e evitados (DAHLBERG; KRUG,
2006).

11
Você sabe como está o perfil dos
casos de violência notificados no
estado de Pernambuco? Confira
abaixo alguns dados!

Como muitos outros problemas de


saúde no mundo, a violência não afeta
igualmente as pessoas: os homicídios
recaem sobre jovens do sexo masculino,
enquanto os abusos físicos, sexuais e
psicológicos recaem sobre mulheres,
crianças e idosos. Os números referentes à
violência subestimam seu verdadeiro efeito,
portanto, a melhor forma de representá-la é
por meio de uma pirâmide:

12
A OMS (2014) destaca que os casos
da base, a camada mais ampla, podem ser
identificados por pesquisas populacionais,
já que não chegarão às autoridades
sanitárias.

No período de 2009 a 2018,


Pernambuco registrou 95.450 notificações
de violência no Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan), conforme
apresentado no Gráfico 1. Dos casos
notificados, 71,9% (68.630) foram no sexo

13
feminino e 28,1% (26.794) no masculino. A
estruturação e o fortalecimento da
vigilância de violências no âmbito das
Secretarias Municipais e da Secretaria
Estadual de Saúde em Pernambuco
favoreceram o aumento dos registros de
violência no período, verificando-se um
incremento de 516% no número de
notificações (DATASUS, 2020).

Gráfico 1 – Distribuição das notificações de


violência interpessoal e/ou autoprovocada
por ano, segundo sexo. Pernambuco, 2009
a 2018.

Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação


- Sinan Net

14
No Gráfico 2, é possível observar os
tipos de violência mais frequentes de
acordo com a faixa etária. Destacamos que
apesar do Ministério da Saúde orientar que
seja preenchido apenas um tipo de violência
por caso notificado, é possível que sejam
assinalados mais de um. Portanto, quando o
total de notificações por tipo de violência é
somado, ultrapassa os 95.450 casos
notificados no período.

Observa-se que a faixa etária de 20 a


39 anos é a mais frequente na maioria dos
tipos de violência, com exceção da violência
sexual, onde predomina a faixa etária de 10
a 19 anos, e da negligência, onde a faixa
etária mais prevalente é a de 0 a 9 anos. A
violência física é a mais presente em todas
as faixas etárias, com exceção dos idosos,
na qual prevalece a negligência.

15
Gráfico 2 – Distribuição das notificações de
violência interpessoal e/ou autoprovocada
segundo tipo de violência por faixa etária.
Pernambuco, 2009 a 2018

Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação


- Sinan Net
Outras incluem: violência financeira, tortura, intervenção legal, trabalho infantil e
tráfico de seres humanos

No que diz respeito ao perfil das


vítimas segundo o vínculo com agressor, o
Gráfico 3 demonstra que para as faixas
etária de 0 a 9 anos, os principais agressores
foram mães e pais. Para os grupos etários de
10 a 19, de 20 a 39 e 40 a 59 anos, o
principal agressor foi o parceiro íntimo

16
(grupo que inclui namorado, ex-namorado,
cônjuge e ex-cônjuge). Para os idosos, os
principais agressores foram os filhos.

Gráfico 3 – Distribuição das notificações de


violência interpessoal e/ou autoprovocada
segundo vínculo com agressor por faixa
etária. Pernambuco, 2009 a 2018

Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação


- Sinan Net

Sobre os casos de notificação


imediata (violência sexual e tentativa de
suicídio) inseridos na plataforma do Centro
de Informações Estratégicas de Vigilância
em Saúde de Pernambuco (CIEVS-PE), em
2020 foram notificados 3.342 casos.
Destes, 2.335 notificações foram de
tentativas de suicídio e 1.007 de violência
17
sexual. Em relação ao sexo das vítimas,
observa-se que o feminino é prevalente nos
dois agravos, conforme apresentado nos
gráficos abaixo.

Fonte: CIEVS/PE. Dados atualizados em 15.01.2020, sujeito a alterações

Quanto à faixa etária, tanto nas


notificações imediatas de tentativa de
suicídio, como nas notificações de violência
registradas no Sinan, prevalece a faixa de 20
a 39 anos. Em relação à violência sexual, a
faixa etária mais atingida é a de 10 a 19
anos, conforme exposto no Gráfico 5.

18
Gráfico 5 – Distribuição das notificações de
Tentativa de suicídio e violência sexual
segundo sexo da vítima. Pernambuco, 2020

Fonte: CIEVS/PE. Dados atualizados em 15.01.2020, sujeito a alterações

Você sabia???

Clique no ícone acima para acessar o site


19
Você tem ideia dos números
referentes à mortalidade por
violência? Vamos conferir!

Mundialmente, a violência é um dos


principais contribuintes para mortes,
doenças e incapacidades. Em 2014, estima-
se que cerca de 1,3 milhões de pessoas em
todo o mundo morreram em consequência
da violência, seja ela auto-infligida,
interpessoal ou coletiva. Menos de 10% de
todas as mortes ocorreram em países com
alta renda per capita. Quase a metade
dessas mortes por causa violenta foram
ocasionadas por suicídios; quase um terço
por homicídios; e cerca de um quinto foi
causado por guerra (OMS, 2014; DAHLBERG
& KRUG, 2006).

O Gráfico 6 compara a taxa de


mortalidade por 100.000 habitantes no
Brasil e no estado de Pernambuco, nele é
possível observar que as taxas pernam-
bucanas são maiores do que as nacionais. Já
no Gráfico 7, é trazida a distribuição dos
20
óbitos por tipo (suicídio ou homicídio) em
Pernambuco.

Gráfico 6 – Taxa de mortalidade por


100.000 habitantes por violência
interpessoal e/ou autoprovocada.
Pernambuco, 2014 a 2018

Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação


- Sinan Net

21
Gráfico 7 – Distribuição dos óbitos entre
suicídio e homicídio. Pernambuco, 2014 a
2018

Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação


- Sinan Net

Sobre a distribuição dos suicídios e


homicídios por sexo, no Gráfico 8 é possível
observar que o sexo masculino é
predominante nos dois tipos. Apesar das
tentativas de suicídio ocorrerem com mais
frequência no sexo feminino, os suicídios
são mais prevalentes no sexo masculino.
22
Essa discrepância nos permite inferir que
apesar das mulheres cometerem mais
tentativas, as abordagens dos homens
tendem a ser mais fatais. No Gráfico 9, é
possível verificar que tanto o suicídio como
o homicídio são mais frequentes na faixa
etária de 20 a 39 anos.

Gráfico 8 – Distribuição dos óbitos entre


suicídio e homicídio por sexo. Pernambuco,
2014 a 2018

Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação


- Sinan Net

23
Gráfico 9 – Distribuição dos óbitos entre
suicídio e homicídio por faixa etária.
Pernambuco, 2014 a 2018

Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação


- Sinan Net

Você sabia???

Clique no ícone acima para acessar o site

24
Neste módulo foi possível conhecer a
trajetória histórica de legitimação do tema
violência na área da saúde pública e sua
inclusão na agenda da saúde, assim como
o cenário epidemiológico deste agravo no
Estado de Pernambuco.

Agora que você concluiu a leitura do


módulo, clique no ícone abaixo para
realizar a atividade avaliativa no AVA.
Somente após realizar essa atividade, você
poderá continuar o estudo dos próximos
módulos

FiXaNdO
cOnTeÚdO

Além disso, não esqueça de registrar no


Tirando Dúvidas suas reflexões,
questionamentos ou observações sobre
este módulo!
Referências

BRASIL. Lei no 10.741, de 1º de Outubro de


2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá
outras providências.

______, Ministério da Saúde. Banco de dados


do Sistema Único de Saúde-DATASUS.
Disponível em http://www.datasus.gov.br

______, Ministério da Saúde. Conselho


Nacional de Combate à Discriminação. Brasil
Sem Homofobia: Programa de combate à
violência e à discriminação contra LGBT e
promoção da cidadania homossexual.
Brasília. 2004
.
______, Ministério da Saúde. Portaria nº
2.836, de 1º de dezembro de 2011. Institui,
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS),
a Política Nacional de Saúde Integral de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (Política Nacional de Saúde
Integral LGBT).

20
26
DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violência: um
problema global de saúde pública. Ciência &
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 11 ,
p.1163-1178, 2006.

MINAYO, M. C. de S. A inclusão da violência


na agenda da saúde: trajetória histórica.
Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.
11, supl. p. 1259-1267, 2006.

MINAYO, M. C. de S.; et al.


Institucionalização do tema da violência no
SUS: avanços e desafios. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 6, p.
2007-2016, jun. 2018.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE.


Relatório mundial sobre a prevenção da
violência, 2014.

27
ViGiLâNcIa dA ViOlÊnCiA
Olá, cursista!

No Módulo I conhecemos a trajetória


histórica de inclusão da violência como um
problema de saúde pública. Neste módulo,
iremos explorar a vigilância das
violências, trazendo subsídios para
fortalecer e articular as discussões que
faremos nos módulos seguintes.

Objetivo:

Conhecer as principais formas de violência


na sociedade contemporânea, a partir da
conceituação de violência.

Conteúdos:

1. Definição de violência e tipos;


2. Causas da violência - Modelo ecológico;
3. Perspectiva da Interseccionalidade;
4. Conceituando a Violência Obstétrica;
5. Histórico da vigilância de violências e
prin-cipais marcos legais.

Esperamos que, ao final dos seus


estudos, você amplie seus conhecimentos
com vistas a aprimorar suas habilidades e
contribuir para sua prática profissional. Boa
leitura!
O que é violência?

A violência é o resultado da complexa


interação de questões individuais,
relacionais, sociais, culturais e ambientais.

Clique na imagem acima para acessar o vídeo

Compreender como os diversos


fatores estão relacionados com a violência é
um dos passos importantes na abordagem
em saúde pública para a sua prevenção
(DAHLBERG; KRUG, 2006). Assim, con-
vidamos você, a refletir sobre as raízes da
violência na perspectiva do modelo
ecológico.

04
Clique na imagem acima para acessar o vídeo

A proposta ecológica enfatiza as


múltiplas causas da violência e a interação
dos fatores de risco que operam no interior
da família e dos contextos mais amplos da
comunidade, como o contexto social,
cultural e econômico. Colocado em um
contexto de desenvolvimento, o modelo
ecológico mostra como a violência pode ser
causada por diferentes fatores em etapas
diversas da vida (DAHLBERG; KRUG, 2006)

Para conhecer mais, leia aqui o artigo


"Violências: um problema global de saúde
pública", de Dahlberg e Krug (2007).

05
Você sabe o que é
interseccionalidade e como este
conceito se relaciona com a
violência? A violência afeta as
populações de forma
homogênea?

Ao abordar a temática da violência no


contexto do trabalho em saúde, é impor-
tante que se tenha em mente que, além da
multicausalidade, os diversos tipos de
violência não afetam de forma homogênea a
população, o que torna fundamental a
leitura do tema da interseccionalidade,
considerando os recortes de gênero,
sexualidade, etnia/raça, classe social, faixa
etária, intolerância baseada em crenças,
entre outras categorizações sociais.

A interseccionalidade pode ajudar a


entender as interrelações que determinam
as condições sociais de saúde das
populações, incluindo a produção da
violência (SILVA; RESENDE, 2019).

06
Clique na imagem acima para acessar o vídeo

Assim, na condução de um caso de


violência, faz-se necessário observar como
as questões de gênero, etnia, sexualidade e
etc., impactam nos indivíduos e na forma
como essas violências foram perpetradas.

Ainda na perspectiva do cuidado,


destaca-se a importância da identificação
dessas interseccionalidades na notificação
compulsória, para que o registro seja capaz
de detalhar esses aspectos do fenômeno da
violência. Tais observações permitirão
intervenções, ações e políticas eficazes no
enfrentamento às violências, assegurando o
07
compromisso ético e social das políticas
públicas de saúde.

Como exemplo, podemos citar a


abordagem da Violência entre Parceiros
Íntimos (VPI) que, segundo Dantas (2018),
sofre invisibilização com a pouca aderência
entre as trabalhadoras e trabalhadores às
notificações programadas, o que aprofunda
a naturalização da violência de gênero como
prática social.

# Fica a Dica
Para entender mais sobre o
conceito de interseccionalidade
e sua relação com as vivências
de violência em diferentes
grupos, assista a live de Djamila
Ribeiro e Carla Akotirene.

Clique na imagem ao lado para acessar o vídeo

08
E a violência obstétrica, você
conhece? Como ela se relaciona
com as questões acima
abordadas e com o que ainda virá
nesse curso?

A violência obstétrica é caracterizada


pela intervenção no corpo da mulher por
meio de mecanismos pautados na
medicalização e patologização de pro-
cessos naturais, na desumanização e no não
respeito à liberdade de decisão sobre o
próprio corpo, impactando diretamente
sobre a saúde das mulheres. É expressa em
intervenções não consentidas, informações
distorcidas e/ou parciais, cuidado não
digno, abuso verbal, discriminação baseada
em marcadores sociais (gênero, raça, etnia,
faixa etária, classe social, escolaridade,
etc.), abandono, recusa à assistência e
detenção nos serviços durante a assistência
à gravidez, ao parto, ao pós-parto e ao
abortamento (DINIZ et al., 2015).

Para Diniz et al. (2015), o sofrimento


das mulheres durante a assistência ao parto
é registrado em diferentes momentos
09
06
históricos, com diversas conceituações. Ao
apresentar uma perspectiva histórica do
conceito de violência obstétrica, os autores
abordam como marco a publicação da
matéria “Crueldade nas Maternidades”,
publicada na revista norte-americana Ladies
Home Journal, que chamou a atenção para
as diversas violências sofridas por mulheres
em instituições de saúde dos Estados
Unidos, na década de 1950.

No contexto brasileiro, em 1980 foi


criado o Programa de Atenção Integral à
Saúde da Mulher (PAISM). À época, em sua
apresentação, o programa pontuava a
urgência do enfrentamento à violência
sofrida por mulheres em instituições de
saúde. Em 1993 constituiu-se a Rede pela
Humanização do Parto e do Nascimento
(REHUNA), que objetiva dar visibilidade à
violência e ao constrangimento na
assistência ao parto (DINIZ et al., 2015).

Dados de estudos nacionais retratam


que a violência contra gestantes varia entre
1,2% e 66%, a depender do tipo de violência
perpetrada (OKADA et al., 2015). No tocante

10
à violência obstétrica, essa prevalência
esteve representada em 12,6% das
gestantes e associou-se a procedimentos
desnecessários e institucionais durante o
período do parto, a exemplo da posição
litotômica, a realização da manobra de
Kristeller e a separação precoce do bebê
após o parto (LANSKY et al., 2019).

Ao refletir sobre esta temática,


trabalhadoras e trabalhadores dos serviços
de saúde, devem ser capazes de proble-
matizar a assistência ao parto. Exercitando a
habilidade de empreender ações capazes de
promover informação, com vistas à difusão
da autonomia das usuárias, pretende-se
conferir visibilidade ao problema da
violência obstétrica e à prevenção de
situações de objetificação de mulheres,
como por exemplo, sob a justificativa de
treinamentos de internos e abordagem de
seus corpos como mero material didático.

Sendo assim, é preciso ter em vista


um movimento de sensibilização insti-
tucional na abordagem da violência
obstétrica como uma iniquidade em saúde

11
pública de caráter complexo e multifatorial.
Uma vez que os direitos das mulheres são
sistematicamente violados e invisibilizados,
quanto mais vulnerável for a mulher,
maiores as chances de acesso a uma
assistência desumanizada. No módulo III,
traremos como podemos classificar a
violência obstétrica no contexto da Ficha de
Notificação de Violência Interpessoal e/ou
Autoprovocada.

12
O que é a vigilância de violências?

Reconhecendo que as violências e os


acidentes exercem, para além das
condições de adoecimento e morte da
população, grande impacto social e
econômico, sobretudo no setor saúde, o
Ministério da Saúde (MS) instituiu, por meio
da Portaria MS/GM nº 1.356, de 23 de
junho de 2006, o Sistema de Vigilância de
Violências e Acidentes (VIVA), o qual é
constituído por dois componentes:

VIVA Sinan
Componente contínuo - Por meio da produção
e difusão de informações epidemiológicas,
visa conhecer a magnitude e subsidiar
políticas públicas de enfrentamento à
violência (estratégias e ações de intervenção,
prevenção, atenção e proteção às pessoas em
situação de violência). O instrumento utilizado
é a ficha de notificação de violência
interpessoal ou autoprovocada.

14
VIVA Inquérito
Objetiva analisar a tendência das violências e
acidentes, e descrever o perfil das vítimas
desses agravos atendidas em unidades de
urgência e emergência selecionadas. Suas
edições já foram realizadas anualmente
(2006-2007), a cada dois anos (2009 e 2011),
a cada três anos (2014 e 2017) e, mais
recentemente, foi definida sua realização
quinquenal.

No período de 2006 a 2008, a


estratégia de vigilância foi implantada em
serviços de referência para atendimento às
vítimas de violência. A partir de 2009, a
violência, enquanto agravo de notificação
em unidade sentinela, passou a integrar o
Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (Sinan).

A partir de 2011, a vigilância e a


prevenção de violências ganharam mais um
reforço com a publicação da Portaria MS/GM
nº 104, de 25 de janeiro de 2011, que
universalizou a notificação compulsória da
violência para todos os serviços de saúde,
incluindo-a na relação de doenças e agravos
14
de notificação compulsória semanal.

Em 2014, foi publicada a Portaria


MS/GM nº 1.271, de 06 de junho de 2014,
com a atualização da lista de doenças e
agravos de notificação compulsória. Nessa
Portaria, os casos de violência sexual e
tentativa de suicídio passaram a ser de
notificação imediata (realizada em até 24
horas, pelo meio de comunicação mais
rápido) para as Secretarias Municipais de
Saúde. Além disso, também foram incluídos
outros grupos prioritários no escopo da
notificação: população LGBT, indígena e
pessoas com deficiência.

No ano de 2015, um acordo entre


diferentes Ministérios permitiu a realização
da notificação intersetorial dos casos de
violência, conforme pactuação local. Esta
deve ser realizada na Ficha de Notificação
do Sinan, que até então era de uso exclusivo
dos serviços de saúde.

Em 2016, a Secretaria Estadual de


Saúde de Pernambuco ampliou a notificação
imediata dos casos de violência sexual e
tentativa de suicídio para o âmbito estadual,
15
através da plataforma do CIEVS-PE. Essa
pactuação foi fruto das prioridades locais,
discutidas pelas equipes de Vigilância em
Saúde e Políticas Estratégias de atenção à
saúde, a fim de fortalecer as estratégias de
monitoramento e subsidiar a articulação da
rede no cuidado em saúde (Portaria SES-PE
nº 390/2016).

A última versão da Lista Nacional de


Notificação Compulsória foi publicada na
Portaria Ministerial nº 204 de 17 de
fevereiro de 2016, incorporada à Portaria
de Consolidação nº 4 de 28 de setembro de
2017, cujo anexo foi atualizado pela
Portaria GM/MS nº 420, de 02 de março de
2022.

16
Neste módulo, foi possível compreender o
conceito da violência e o histórico da
vigilância desse agravo. A seguir, vamos
dialogar sobre a importância da
notificação compulsória no contexto da
saúde pública.

Agora que você concluiu a leitura do


módulo, clique no ícone abaixo para
realizar a atividade avaliativa no AVA.
Somente após realizar essa atividade, você
poderá continuar o estudo dos próximos
módulos

FiXaNdO
cOnTeÚdO

Além disso, não esqueça de registrar no


Tirando Dúvidas suas reflexões,
questionamentos ou observações sobre
este módulo!
Referências

BERGER, S. M. D. Violência entre parceiros


íntimos, gênero e saúde: a integralidade, a
interseccionalidade e a pedagogia feminista
no acolhimento às mulheres e na educação
em/na saúde. Revista Debates
Insubmissos, Caruaru, v. 1, n. 3, p. 9-31,
set./dez. 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº


1.356 de 23 de junho de 2006. Institui
incentivo aos estados, ao Distrito Federal e
aos municípios para a Vigilância de
Acidentes e Violências em Serviços
Sentinela, com recursos da Secretaria de
Vigilância em Saúde (SVS).

______. Ministério da Saúde. Portaria nº


104, de 25 de janeiro de 2011. Define as
terminologias adotadas em legislação
nacional, conforme o disposto no
Regulamento Sanitário Internacional 2005
(RSI 2005), a relação de doenças, agravos e
eventos em saúde pública de notificação

18
compulsória em todo o território nacional e
estabelece fluxo, critérios,
responsabilidades e atribuições aos
profissionais e serviços de saúde.

______. Ministério da Saúde. Portaria nº


1.271, de 6 de junho de 2014. Define a Lista
Nacional de Notificação Compulsória de
doenças, agravos e eventos de saúde
pública nos serviços de saúde públicos e
privados em todo o território nacional, nos
termos do anexo, e dá outras providências.

______. Ministério da Saúde. Portaria nº 204,


de 17 de fevereiro de 2016. Define a Lista
Nacional de Notificação Compulsória de
doenças, agravos e eventos de saúde
pública nos serviços de saúde públicos e
privados em todo o território nacional, nos
termos do anexo, e dá outras providências.

DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violência: um


problema global de saúde pública. Ciência &
Saúde Coletiva, [s.l.], v. 11 , p.1163-1178,
2006.

19
DINIZ, S. G. et al. Violência obstétrica como
questão para a saúde pública no Brasil:
origens, definições, tipologia, impactos
sobre a saúde materna e propostas para sua
prevenção. Journal of human growth and
development, v. 25, n. 3, p. 377-384, 2015.

LANSKY, S. et al. Violência obstétrica:


influência da Exposição Sentidos do Nascer
na vivência das gestantes. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v.24, n. 8, p. 2811-
2824, ago. 2019.

OKADA, M. M. et al. Violência doméstica na


gravidez. Acta Paulista de Enfermagem., v.
28, n. 3, pp. 270-274, 2015.

Portaria SES nº 390, de 14 de setembro de


2016. Acrescenta doenças, agravos e
eventos estaduais à Lista Nacional de
Doenças de Notificação Compulsória e dá
outras providências.

20
SILVA, R. B. da; RESENDE, V. de M. Gestão e
Avaliação de Programas e Projetos para
População em Situação de Rua, com foco na
População Negra - Eixo 1. in Curso
Especialização para Profissionais da Saúde
Envolvidos com a População em Situação de
Rua, com Foco na População Negra. Brasília:
Universidade de Brasília - Centro de Estudo
Multidisciplinares, 2019.

21
NoTiFiCaÇãO CoMpUlSóRiA
Sejam bem-vindas e bem-vindos ao
Módulo III. Nesta etapa, iremos
compreender o que é a notificação
compulsória e qual a importância desse
instrumento para o desenvolvimento das
ações em saúde pública. Além disso,
apresentaremos os tipos de violências e as
populações que são objeto de notificação.

Objetivo:

Entender o conceito de notificação e sua


importância para saúde pública.

Conteúdo:

1. Conceito de notificação e sua impor-


tância;
2. Quais os objetos de notificação e os tipos
de violência.
3. Diferença entre a notificação imediata e a
semanal;
4. A notificação compulsória em saúde e a
denúncia.

Esperamos que, ao final dos seus


estudos, você amplie seus conhecimentos
com vistas a aprimorar suas habilidades e
contribuir para sua prática profissional.
Bons estudos!
O que é a notificação
compulsória?

É a comunicação obrigatória à
autoridade sanitária da ocorrência, suspeita
ou confirmada, de doença, agravo ou evento
de saúde pública. Temos a Lista Nacional de
Notificação Compulsória (LNNC) e cada
estado pode incluir outros agravos de
interesse em sua lista.

Trata-se de uma ação de vigilância


em saúde, sendo um dos passos da linha de
cuidado. Especificamente sobre os casos de
violência, a notificação possibilita novas
organizações e estruturas de atendimento
que qualifiquem a atenção à pessoa em
situação de violência e aos seus familiares
(BRASIL, 2017).

04
Qual a importância da notificação
dos casos de violência?

Conhecer a magnitude

Retirar os casos da invisibilidade

Prevenir a violência de repetição

Subsidiar políticas públicas

Promover o fortalecimento e
articulação da rede de proteção
e garantia de direitos

05
O que se deve notificar na ficha
de violência interpessoal e/ou
autoprovocada?

Objeto de notificação
(Casos suspeitos ou confirmados)

Homens e Mulheres em Violência Comunitária


todos os ciclos de vida (extrafamiliar)*

Doméstica
(intrafamiliar) Sexual Situações previstas em leis

Tráfico de Trabalho
Crianças e adolescentes
pessoas escravo

Trabalho Violência Indígenas


Mulheres
Infantil Homofóbica

Intervenção
Legal Tortura Pessoas idosas

Autoprovocadas Pessoas com deficiência


(Automutilação e tentativa de suicídio)

População LGBT+

*Não são objetos de notificação homens de 20 a 59 anos, vítimas


de violência comunitária, que não façam parte de um dos grupos
prioritários citados: Pessoa com deficiência, indígena e LGBT+

06
Tipos de violência

Abaixo listamos os tipos de violência


presentes na ficha de notificação e seus
conceitos, segundo o Viva: instrutivo
notificação de violência interpessoal e
autoprovocada (BRASIL, 2016).

Violência física: uso de


força física, intencional,
com objetivo de ferir, lesar,
provocar dor ou sofrimento,
deixando ou não marcas
evidentes no corpo da
vítima.Exemplos: tapas,
chutes, torções, empurrões, mutilações,
queimaduras, estrangulamentos, lesão
por arma de fogo e arma branca.

Violência psicológica /
moral: é toda forma de
rejeição, depreciação,
discriminação, desrespeito,
cobrança exagerada,
punições humilhantes. É
toda ação que coloque em

07
risco ou cause dano à autoestima, à
identidade ou ao desen-volvimento da
pessoa. Exemplos: assédio moral no
trabalho, bullying e falas depreciativas.

Violência sexual: toda


forma de coerção sexual
e/ou prática sexual não
desejada pela vítima, com
uso de força física, ameaça,
influência psicológica,
arma ou droga, para
atender a objetivos
diversos ou gratificação de
terceiros. Exemplos:
estupro, assédio sexual,
sexo forçado no casa-
mento, jogos sexuais e
práticas eróticas não
consentidas, pornografia
infantil, exploração se-
xual, exposição à imagem
ou atos libidinosos, ação
de impedir método
contraceptivo ou forçar
gravidez, dentre outras.

08
06
Fique atenta(o)!
O estupro de vulnerável consiste na realização de
práticas sexuais com ou na presença de pessoas
consideradas vulneráveis. Caracterizam-se
vulneráveis: menores de 14 anos, enfermos ou
pessoa com deficiência mental. Compreende que
essas pessoas podem não discernir ou ter sua
capacidade de reação prejudicada, e assim
consentir, sobre ato libidinoso. São incluídos
também aqueles que, por qualquer outra causa, não
podem oferecer resistência.

Violência econômica /
financeira / patrimonial:
exploração imprópria ou
ilegal, ou uso não consen-
tido dos recursos financei-
ros e/ou patrimoniais da
vítima. Ocorre principal-
mente no âmbito familiar, sendo mais
frequente contra pessoas idosas, com
deficiência e mulheres. Exemplos: retenção
de objetos e documentos pessoais,
subtração de finanças, destruição de
bens materiais pessoais.

09
Tortura: ato de constranger
alguém com emprego de
força ou ameaça grave,
causando-lhe sofrimento
físico e/ou mental, com
finalidade de obter
informação, confissão,
vantagem, entre outras. Apresenta-se
associada a outros tipos de violência.

Tráfico de seres humanos:


recrutamento, transporte,
transferência, alojamento ou
acolhimento de pessoas,
recorrendo à ameaça, ao
rapto, à fraude, ao engano,
ao abuso de autoridade, ao
uso da força ou outras
formas de coação, para fins de exploração.
Exemplos: pessoas levadas a outras
cidades/países que são obrigadas a
exercer trabalhos em condições próximas
à escravidão, exploração sexual, remoção
ou comercialização de órgãos e etc.

10
# Fica a Dica
Para entender melhor o conceito
de tráfico de pessoas, as
finalidades de exploração e os
meios para prevenir essa violação
de direitos humanos clique no icone
ao lado.

O filme brasileiro “7 prisioneiros”, disponível na


plataforma Netflix, mostra exemplos de violência,
incluindo o tráfico de seres humanos.

Negligência/abandono:
omissão pela qual se deixa de
prover os cuidados básicos
para o desenvolvimento
físico, emocional e social. O
abandono é uma forma
extrema de negligência.
Exemplos: privação de
medicamentos, o não
estímulo à frequentar a escola, descuido
com a higiene, entre outros.

11
Trabalho infantil: qualquer tipo de
atividade efetuada por crianças ou
adolescentes menores de 16 anos, de modo
obrigatório, rotineiro, remunerado ou não,
em condições que põem em risco o bem-
estar físico, psíquico, social e moral. É
previsto no Estatuto da Criança e do
Adolescente e na Constituição Federal que
adolescentes a partir dos 14 anos podem
realizar atividades de trabalho na condição
de menor aprendiz, uma vez que, esta forma
de acesso busca ser compatível com o seu
desenvolvimento e assegura sua condição
de sujeito de direitos.

# Fica a Dica
Entenda mais sobre o cenário do
trabalho infantil no Brasil
assistindo o vídeo.

Clique no ícone acima para acessar o site

12
Intervenção legal: Trata-se do ato ou ação
provocada por agente legal público, isto é,
representante do Estado, polícia ou outro
agente da lei, no exercício de sua função.

Violência autoprovocada: compreende os


compor-tamentos de ideação suicida,
autoagressão, tentativas de
suicídio e suicídio. Exemplo:
automutilação, ingestão de
medicação com intenção
suicida, autopunição.

Fique atenta(o)!
A ideação suicida e o suicídio não são passíveis de
notificação compulsória no Sistema de Informação
de Agravos de Notificação (Sinan). A ideação suicida
é importante e deve ser olhada com cuidado pela rede
local. Já o suicídio é objeto de registro no Sistema de
Informação sobre Mortalidade (SIM), alimentado a
partir das informações das Declarações de Óbito.

13
Notificação da violência
obstétrica: Como realizar?

Conforme abordado no Módulo II, os


casos de violência obstétrica são passíveis
de notificação. Então, agora que
conhecemos os tipos de violência, podemos
situar onde as ações/atos de violência
obstétrica deverão ser incluídos no
momento do preenchimento da ficha de
notificação de violência interpessoal
/autoprovocada.

Violência física: para casos, nas mulheres


no ciclo gravídio-puerperal, resultantes de
práticas e intervenções desnecessárias e
violentas, não consentidas pela mulher.

Violência psicológica/moral: toda ação


verbal ou comportamental que cause na
mulher sentimentos de inferioridade,
vulnerabilidade e insegurança, rela-
cionados.

14
Qual a diferença entre notificação
compulsória semanal e imediata?

Em Pernambuco, os casos de violência de notificação imediata


devem ser informados ao Centro de Informações Estratégicas de
Vigilância em Saúde (CIEVS), através do site
www.cievspe.com/notifique-aqui ou por outro meio disponível.

A realização da notificação imediata


não exclui a necessidade da notificação
semanal. Portanto as duas notificações
precisam ser realizadas nos casos de
tentativa de suicídio e violência sexual.

15
A notificação de violências inter-
pessoais e autoprovocadas exige de
trabalhadoras(es) e de gestoras(es) da
saúde uma postura ética e cuidadosa em
relação à pessoa que vivencia a situação de
violência e à sua família. A coleta dos dados,
para a notificação, não pode ser feita a partir
de uma lógica burocrática, como, por
exemplo, em forma de questionário.
Pessoas que chegam aos serviços de saúde,
em virtude de situações de violência,
encontram-se fragilizadas e uma postura
que não seja cuidadosa e empática pode não
responder às necessidades delas. Notificar é
um compromisso com o cuidado e com a
proteção da pessoa em situação de violência
(BRASIL, 2017). Aprofundaremos essa
discussão nos módulos V e VI.

16
Você saberia diferenciar a
notificação compulsória de uma
denúncia?

Como mencionado no início do


módulo, a notificação compulsória é uma
ação de vigilância em saúde, que pode
potencializar os recursos de garantia de
direitos. Tem como objetivo criar dados
sanitários a serem utilizados como
informação, visando o planejamento e
estruturação das redes de atenção à saúde.
Além disso, é uma das formas que a rede
possui de tomar conhecimento da
ocorrência do caso, recebendo as
notificações e acionando os serviços para
dar seguimento ao cuidado. Os dados
pessoais prestados mediante o
preenchimento da ficha de notificação são
confidenciais e, após consolidados, são
arquivados pela Vigilância Epidemiológica
(VE).

17
Já denúncia é um tipo de
comunicação externa, representando o
nome técnico dado à peça processual que dá
início à ação penal pública promovida pelo
Ministério Público. Entre outros exemplos,
podemos citar que a realização de uma
denúncia acontece ao se registrar uma
ocorrência policial. A notificação
compulsória e a denúncia são processos
independentes e que não se comunicam.
Assim, quando necessário, devem ser
realizadas separadamente.

Conforme apresentaremos no
Módulo IV, com as legislações atuais há
previsão legal para comunicação externa a
outros órgãos em casos de violência
perpetrada contra: 1) crianças e ado-
lescentes; 2) pessoas idosas; 3) pessoas
com deficiência; e 4) mulheres adultas.

Atenção!!!!
A comunicação externa a outros órgãos nunca
deverá ser feita com a ficha de notificação de
violência interpessoal/autoprovocada. Para isso, o
profissional deve redigir um relatório
situacional/circunstanciado, onde deverá relatar o
caso e as medidas de cuidado ofertadas à pessoa em
situação de violência.
18
Agora que finalizamos esse módulo, você
conhece quais casos de violência são de
notificação compulsória e qual a
importância desse protocolo. Na
sequência, traremos alguns aspectos
éticos que envolvem esse processo.

Agora que você concluiu a leitura do


módulo, clique no ícone abaixo para
realizar a atividade avaliativa no AVA.
Somente após realizar essa atividade, você
poderá continuar o estudo dos próximos
módulos.

FiXaNdO
cOnTeÚdO

Além disso, não esqueça de registrar no


Tirando Dúvidas suas reflexões,
questionamentos ou observações sobre
este módulo!
Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de


Vigilância em Saúde. Viva: instrutivo
notificação de violência interpessoal e
autoprovocada. 2.ed – Brasília, 2016.

______. Ministério da Saúde. Portaria de


consolidação nº 4, de 28 de setembro de
2017. Consolidação das normas sobre os
sistemas e os subsistemas do Sistema Único
de Saúde.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de


Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância de Doenças e Agravos não
Transmissíveis e Promoção da Saúde.
Notificação de violências interpessoais e
autoprovocadas. Brasília: Ministério da
Saúde, 2017. 22 p.: il.

20
Olá, cursista!

Nós já vimos o conceito de


notificação e sua importância para saúde
pública. Neste módulo vamos debater o
papel das(os) trabalhadoras(es) na
identificação/notificação de violência, as
leis que embasam a notificação e os
sinais e sintomas de vítimas de violência.

Objetivo: Debater o papel dos profissionais


na notificação de casos de violência.

Conteúdo:
1. Apresentar as leis que embasam a
notificação;
2. Refletir sobre a responsabilidade dos
profissionais e abordagem, discutindo
sigilo e ética profissional; e
3. Apresentar sinais e sintomas de vítimas
de violência.

Esperamos que, ao final dos seus estudos,


você amplie seus conhecimentos com vistas
a aprimorar suas habilidades e possibilitar
mudanças na sua prática diária.

Bons estudos!
Existe alguma legislação que
embase a notificação
epidemiológica dos casos de
violência?

Sim! Além do compromisso ético e


profissional com as vítimas de violência, há
também a exigência legal da notificação,
decorrente de diversas leis que foram fruto
da luta contínua para que a violência, contra
determinadas populações, saísse da
invisibilidade. A legislação também ampara
legalmente a realização da notificação por
parte dos serviços. Confira abaixo quais
são:

Lei 8.069/90 - Estatuto da Criança e do


Adolescente

Art. 13º. Os casos de suspeita ou confirmação de


castigo físico, de tratamento cruel ou
degradante e de maus-tratos contra criança ou
adolescente serão obrigatoriamente
comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
localidade, sem prejuízo de outras providências
legais.

04
Lei 10.741/03 - Estatuto do Idoso

Art. 19º. Os casos de suspeita ou confirmação


de violência praticada contra idosos serão
objeto de notificação compulsória pelos serviços
de saúde públicos e privados à autoridade
sanitária, bem como serão obrigatoriamente
comunicados por eles a quaisquer dos seguintes
órgãos: I – autoridade policial; II – Ministério
Público; III – Conselho Municipal do Idoso; IV –
Conselho Estadual do Idoso; V – Conselho
Nacional do Idoso.

Lei 10.778/03 – Notificação da violência


contra a mulher

Art. 1º Constituem objeto de notificação


compulsória, em todo o território nacional, os
casos em que houver indícios ou confirmação de
violência contra a mulher atendida em serviços
de saúde públicos e privados.

Portaria 2.836/2011 – Política Nacional de


Saúde Integral LGBT

Art 4º. XI - promover, junto às Secretarias de


Saúde estaduais e municipais, ações de
vigilância, prevenção e atenção à saúde nos
casos de violência contra a população LGBT, de
acordo com o preconizado pelo Sistema
Nacional de Notificação Compulsória de
Agravos.

05
Lei 13.146/2015 – Estatuto da Pessoa com
Deficiência

Art. 26º Os casos de suspeita ou de


confirmação de violência praticada contra a
pessoa com deficiência serão objeto de
notificação compulsória pelos serviços de
saúde públicos e privados à autoridade policial
e ao Ministério Público, além dos Conselhos
dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

E em relação a comunicação
externa? Como proceder?

Conforme abordamos no módulo


anterior, toda comunicação realizada para
fora do âmbito da saúde é denominada
comunicação externa e, quando necessária,
deve ser feita por meio de relatório
situacional/circunstanciado, onde o
profissional deverá relatar o caso e as
medidas de cuidado ofertadas à pessoa em
situação de violência.

06
Além das situações de comunicação
externa previstas nas legislações
supramencionadas (casos de violência
contra crianças e adolescentes, idosos e
pessoas com deficiência), em 2019 houve a
alteração da lei 10.778/03, que trata da
violência contra mulher. A nova redação
estabelece, no § 4º do art. 1º, que “os casos
em que houver indícios ou confirmação de
violência contra a mulher serão
obrigatoriamente comunicados à
autoridade policial no prazo de 24 (vinte e
quatro) horas, para as providências cabíveis
e para fins estatísticos”.

Ainda em 2019, no estado de


Pernambuco, também houve alteração de
uma lei para dispor sobre a comunicação
externa nos casos de violência contra a
mulher. A lei nº 14.633/12, com alteração
da redação pela lei nº 16.632/19, passou a
estabelecer, no § 4º do art. 4º, que “deverá
ser encaminhada, no prazo de 72 horas,
uma cópia da notificação relativa à prática
de violência contra a mulher à autoridade
policial e ao Ministério Público do Estado
para que sejam tomadas as providências
cabíveis.”
07
Diante dessas legislações, a
Secretaria Estadual de Saúde de Pernam-
buco tem se mobilizado para organizar o
fluxo em relação à comunicação externa da
violência contra mulher, buscando atender
tanto às leis, quanto à realidade social do
território. Além disso, algumas cidades têm
se adiantado e realizado essa pactuação a
nível municipal.

Como atuar para garantir o


cuidado à saúde?

O cuidado à saúde envolve um


conjunto de atitudes e condutas das(os)
trabalhadoras(es) que deve ser pautado pela
ética, pela humanização e pela integralidade
na atenção. Nesta perspectiva, a Política
Nacional de Humanização do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2004) dá relevo à dimensão
do cuidado, tendo como base os conceitos
de acolhimento, responsabilização e
resolutividade da atenção à saúde (BRASIL,
2017).

08
O acolhimento é uma diretriz que
responde à necessidade de garantia de
acesso ao cuidado integral em saúde, é
através dele que conhecemos as
necessidades de saúde dos usuários e que
podemos pensar nas estratégias de
cuidado. Exercer o acolhimento demanda
uma atitude especial da(o) profissional, que
se traduz na escuta ativa, na postura ética,
no estabelecimento de vínculo, na
responsabilização sanitária, na resolu-
tividade e na continuidade do cuidado
(BRASIL, 2017).

As pessoas em situação de violência devem ser


informadas, sempre que possivel, sobre tudo o
que será realizado, em cada etapa do
atendimento, e a importância de cada medida.
Sua autonomia deve ser respeitada, acatando-se
a aventual recusa de algum procedimento.

09
06
No mesmo sentido, a notificação de
violências interpessoais e autoprovocadas
exige das(os) trabalhadoras(es) e das(os)
gestoras(es) da saúde uma postura
cuidadosa e ética tanto em relação à pessoa
que vivencia a situação de violência, quanto
a sua família. Entendemos que, para
acolher, o profissional deve estar voltado
aos usuários e, por isso, utilizar a ficha
como um “questionário”, perguntando os
itens diretamente a eles, causaria efeito
oposto e poderia afastá-los.

Por isso, sugerimos que os dados,


para o preenchimento da ficha, derivem da
escuta realizada no acolhimento e no
atendimento a esses sujeitos e que o
preenchimento seja feito após a conclusão
do atendimento. Lembramos também que
a notificação não depende do consen-
timento da vítima e realizar posteriormente
resguarda o profissional notificante.

10
Vamos falar sobre o sigilo
profissional na saúde?

Um componente importante da
atuação na área da saúde é o sigilo
profissional. A confidencialidade e o
respeito à privacidade, no exercício das
profissões de saúde, datam de milênios
atrás, presente, por exemplo, no Juramento
de Hipócrates. Esses fundamentos indicam
o dever de guarda e reserva de dados de
terceiros, onde o profissional teve acesso à
informações em virtude do seu trabalho
(VILLAS-BÔAS, 2015).

Além disso, o sigilo profissional


constitui tanto um direito do paciente,
quanto um dever do profissional, sendo
mais dever que direito, não precisando o
usuário pedir o compromisso de proteção
de suas informações. Devemos refletir que o
paciente expõe seus segredos e intimidades
na condição de necessidade e não de
escolha (VILLAS-BÔAS, 2015). Finalmente, a
relação profissional-paciente é estabelecida

11
com base na confiança de que as
informações prestadas serão utilizadas
apenas para seu cuidado.

Por isso, ressaltamos que os


profissionais não devem divulgá-las senão
por autorização do próprio usuário ou em
situações excepcionais, como os casos de
notificação compulsória, entendendo os
fins desta (como apresentado no módulo
III).

Como suspeitar de um caso de


violência?

A pessoa que sofre violência pode


apresentar sinais e sintomas sugestivos,
sendo formas de comunicação sobre si e
sobre seu sofrimento. É fundamental a
atenção a eles, podendo aparecer na
história relatada, nos sintomas apresen-
tados, na expressão do humor e nos
comportamentos expostos durante os
atendimentos.

12
Os sinais e sintomas podem não ser
bem definidos e variam quanto ao tipo de
violência, a frequência, a duração, o vínculo
afetivo com o autor, o ciclo de vida da
vítima, às medidas de prevenção e o cuidado
ofertado.

A identificação desses sinais, aliada à


escuta qualificada e aos conhecimentos
técnicos, contribuem para o diagnóstico e a
identificação da situação de violência.
Existem diversos momentos oportunos, nos
serviços de saúde, para identificar a
existência de sinais e sintomas e todos os
profissionais devem estar atentos a eles.

Nas páginas seguintes apresen-


taremos alguns sinais e sintomas, de acordo
com os grupos. Reforçamos que os
sintomas podem se apresentar de
diversas formas e não são determinantes
e fechados.

13
Suspeita e abordagem de casos
de violência contra criança e
adolescente

Sinais Físicos / Circunstânciais


Lesões físicas (hematomas, cicatrizes, irritações,
assaduras, fissuras), podendo ser localizadas em
lugares incomuns; edemas; sangramento; Sintomas
incompatíveis com a história apresentada;
Infecções urinárias de repetição; dilatação do canal
vaginal ou esfíncter anal;
Baixo controle do esfíncter, constipação ou
incontinência fecal;
Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST);
Gravidez precoce;
Dificuldade de engolir ou reflexo do engasgo hiperativo;
Náuseas, vômitos e dores estomacais;
Perda de peso ou desnutrição; desidratação;
Roupas íntimas rasgadas, manchadas de sangue ou
sêmen;
Síndrome de Munchausen por procuração: sintomas
não usuais, surgem apenas na presença da mesma
pessoa, resistência com o tratamento preconizado.

14
Sinais Psicológicos/Comportamentais
Mudança de comportamento radical/súbita;
Medo de uma pessoa específica ou de ser deixada em
determinado lugar;
Baixa auto-estima e necessidade de agradar aos outros;
Timidez ou vergonha excessiva; sentimentos de culpa;
Lavar as mãos compulsivamente;
Uso de álcool e outras drogas;
Frequência irregular à escola;
Tiques motores;
Automutilação;
Queda no desempenho escolar; distúrbios na aprendi-
zagem.

Sinais da Sexualidade
Conhecimento ou comportamento sexual semelhante
ao de um adulto;
Relaciona-se com outros adultos e crianças de maneira
sexual;
Esfrega-se sexualmente em outras pessoas;
Masturbação em público e compulsiva;
Força atividade sexual com outras crianças;
Insere objetos em aberturas mesmo quando doloroso
(SANDERSON, 2005).

15
Violência contra a mulher

Sinais Físicos
Queixas crônicas, vagas, sem causa física aparente;
Ferimentos que não condizem com a história relatada;
Ferimentos físicos durante a gravidez;
Ocorrência de gravidez de crianças e adolescentes;
Prurido ou sangramento vaginal;
Evacuação dolorosa ou dor ao urinar;
Dor pélvica ou abdominal;
Cefaleia crônica;
Fadiga;
Dores musculares generalizadas;
Alterações menstruais.

Sinais Psicológicos/Comportamentais
Demora a iniciar o atendimento pré-natal;
Ansiedade, depressão, comportamento autodestrutivo;
Transtornos alimentares; Perda ou excesso de apetite;
Transtorno de estresse pós-traumático;
Crise de pânico;
Baixa auto-estima;
Alterações do sono;
Uso excessivo de substâncias psicoativas;
Parceiros(as) que insistem em acompanhar
atendimentos; que tentam controlar a mulher;

16
Mudança frequente de emprego ou moradia;
Ideação suicida.

Sinais da Sexualidade
Temor da prática sexual;
Diminuição do prazer sexual, insatisfação ou falta de
desejo;
Alteração da frequência sexual - excesso ou diminuição;
Dispareunia: dor genital associada à relação sexual;
Receio de não conseguir ter relações sexuais.

Violência contra a pessoa idosa

Sinais Físicos
Lesões físicas, principalmente se apresentarem diferentes
estágios de cicatrização e localizadas em regiões incomuns;
Perda de peso ou desnutrição; Desidratação;
Náuseas, vômitos e dores estomacais;
Lesões cutâneas como úlcera por pressão e assadura;
Autocuidado prejudicado;
Alopecia ou edema em couro cabeludo;
Lesões na área genital, perineal e anal, IST, ou infecções
recorrentes;
Administração insuficiente ou excessiva de medicamentos.

17
Sinais Psicológicos/Comportamentais
Afastamento do idoso das situações habituais ou iso-
lamento;
Tristeza ou abatimento profundo;
Distúrbios do sono;
Perda ou excesso de apetite;
Medo de ficar só ou em companhia de determinada pessoa;
Demonstração de medo do familiar/cuidador;
Usuários assíduos dos serviços de saúde, apresentando
queixas vagas ou que não procuram o serviço quando
necessitam.

Indicadores na conduta dos cuidadores


Refere sobrecarga no cuidado;
Discussões/conflitos frequentes ou indiferença com a
pessoa idosa;
Cria obstáculos para o acesso aos serviços de saúde ou
sociais;
Responde pela pessoa idosa, ou evita que o idoso
fique a sós com o profissional de saúde;
Refere-se ao idoso utilizando termos depreciativos;
Impede a autonomia;
Demonstra pouco conhecimento sobre o estado de
saúde do idoso.

18
Como abordar um caso suspeito
ou confirmado?

Ÿ Assumir postura acolhedora, ética e


resolutiva;
Ÿ Quando possível, priorizar o aten-
dimento das pessoas em situação de
violência, assegurando sempre o sigilo
das informações pessoais e seu
recebimento de forma discreta;
Ÿ Caso a pessoa seja travesti ou tran-
sexual, é importante chamá-la pelo nome
social;
Ÿ Evitar julgamentos e suposições;
Ÿ Considerar que a vítima pode apresentar
alterações comportamentais;
Ÿ Oferecer atendimento psicológico e
medidas de fortalecimento emocional;
Ÿ Em caso de violência sexual, realizar
exame físico completo, coleta de
amostras para diagnóstico de infecções e
coleta de material para identificação do
provável autor da agressão. Além disso,
fornecer profilaxia ao HIV e outras IST,

19
hepatite B, contracepção de emergência,
atendimento multiprofissional e
orientações legais. Em caso de gestação,
fornecer assistência psicossocial
adequada seja na opção por interromper
ou prosseguir com a gestação;
Ÿ Avaliar os riscos de repetição ou
agravamento, visando à prevenção de
novos episódios;
Ÿ Obter o máximo de informações sobre a
ocorrência de violência, de maneira
cuidadosa;
Ÿ Criar um canal de comunicação entre as
trabalhadoras e trabalhadores evitando
que a pessoa conte novamente sua
história, a cada novo atendimento;
Ÿ Informar à pessoa atendida que ela
sempre poderá voltar à unidade, caso
sinta necessidade de mais informações
ou orientações;
Ÿ Registrar os encaminhamentos realiza-
dos.

(BRASIL,2017)

20
Com a conclusão desse módulo, foi
possível reconhecer as responsabilidades
das trabalhadoras e trabalhadores no
processo de identificação/notificação dos
casos de violência. No capítulo seguinte,
conversaremos sobre a identificação de um
caso suspeito e o procedimento da
notificação desses casos no Sinan.

Agora que você concluiu a leitura do


módulo, clique no ícone abaixo para realizar
a atividade avaliativa no AVA. Somente após
realizar essa atividade, você poderá
continuar o estudo dos próximos módulos.

FiXaNdO
cOnTeÚdO

Além disso, não esqueça de registrar no


Tirando Dúvidas suas reflexões,
questionamentos ou observações sobre
este módulo!
Referências

BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990.


Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, 1990.

______. Lei nº 10.741, de 01 de outubro de


2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá
outras providências. Secretaria Especial dos
Direitos Humanos, Brasília, 2004.

______. Lei 10.778/03, de 24 de novembro


de 2003. Estabelece a notificação
compulsória, no território nacional, do caso
de violência contra a mulher que for
atendida em serviços de saúde públicos ou
privados. Diário Oficial da União, Brasília,
2003.

_______. Lei nº 13.146, de 06 de julho de


2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa
com Deficiência).

22
Referências

______. Ministério da Saúde. Notificação de


violências interpessoais e autoprovocadas.
Brasília: Departamento de Vigilância de
Doenças e Agravos Não Transmissíveis e
Promoção da Saúde, 2017.

______. Ministério da Saúde. Portaria


2.836/2011. Institui, no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de
Saúde Integral de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais (Política
Nacional de Saúde Integral LGBT). Gabinete
do Ministro, Brasília, 2011.

PERNAMBUCO. Lei nº 14.633, de 23 de abril


de 2012. Dispõe sobre o procedimento de
notificação compulsória dos casos de
violência contra mulher, criança,
adolescente, idoso e pessoa com deficiência
atendidos em estabelecimentos e serviços
de saúde públicos e privados do Estado de
Pernambuco.

23
Referências

SANDERSON, C. Abuso Sexual em Crianças:


Fortalecendo Pais e Professores para
Proteger Crianças de Abusos Sexuais. São
Paulo: M.Books Editora, 2005.

VILLAS-BÔAS, M. E. O direito-dever de sigilo


na proteção ao paciente. Revista Bioética, v.
23, n. 3, p. 513-523, dez. 2015.

24
NoTiFiCaÇãO dE vIoLêNcIa
iNtErPeSsOaL/aUtOpRoVoCaDa
nO SiNaN
Olá, cursista!

Agora que passamos pelo papel dos


trabalhadores na notificação de casos de
violência e a importância do sigilo e da ética
profissional, abordaremos os fluxos e
instrumentos oficiais da notificação de
violência interpessoal/autoprovocada no
Sinan.

Objetivo:
Compreender os fluxos e instrumentos
oficiais da notificação de violência
interpessoal/autoprovocada do Sinan.

Conteúdo:
1.Apresentação do instrumento de
notificação de violência interpessoal /
autoprovocada;
2.Detalhamento do preenchimento da ficha;
3.Principais erros no preenchimento;
4.Fluxo da informação após a realização da
notificação.

Esperamos que, ao final dos seus


estudos, você amplie seus conhecimentos
com vistas a aprimorar suas habilidades e
possibilitar mudanças na sua prática diária.

Bons estudos!
Quais trabalhadoras/es podem
notificar os casos de violências
interpessoais e autoprovocadas?

Toda(o) trabalhadora(o) que presta


atendimento a uma vítima de violência deve
notificar. A notificação é compulsória em
conformidade com a legislação e não se
restringe a uma determinada categoria
profissional. O ideal é que a(o) profissional
que realizou o atendimento faça a
notificação. Todavia, a equipe ou o serviço
de saúde tem autonomia para definir qual
profissional preencherá a ficha de notifi-
cação de violência interpessoal /autopro-
vocada, de acordo com o contexto de cada
caso (BRASIL, 2017).
A partir de 2015, o Ministério da
Saúde (MS) pactuou de forma intermi-
nisterial a implantação progressiva da
notificação intersetorial dos casos de
violência interpessoal e autoprovocada para
serviços além da rede de saúde. Essa
pactuação envolveu diversos órgãos
vinculados aos Ministérios do Turismo, da

04
Educação, do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, do Trabalho e Emprego,
da Justiça, às Secretarias Nacionais de
Direitos Humanos, de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial e de Políticas para as
Mulheres. Assim, equipamentos da
Assistência Social, Conselhos Tutelares e
demais componentes da rede de atenção às
pessoas em situação de violência podem
notificar os casos atendidos por meio da
ficha de notificação do Sinan, a partir de
uma pactuação com a Vigilância Epide-
miológica Municipal para definição de
fluxos e responsabilidades.

Vamos recordar quais casos de violência


devem ser notificados?

Homens e mulheres em todos os ciclos de vida


Casos suspeitos ou confirmados

Doméstica
Sexual Autoprovocada
(intrafamiliar)

Tráfico de seres Trabalho Trabalho


humanos escravo infantil

Intervenção Violências
legal Tortura
homofóbicas

05
Violência comunitária (extrafamiliar)

Apenas nas situações previstas na legislação:


Contra crianças, adolescentes, mulheres, pessoas idosas,
com deficiência, população indígena e LGBT.

Como realizar a notificação?

Realiza-se a notificação mediante o


preenchimento da Ficha de Notificação
Individual de Violência Interpessoal
/Autoprovocada, que entrou em vigor na
data de 15 de junho de 2015.
Como discutido no módulo anterior,
sugere-se que a ficha seja preenchida após
a conclusão do atendimento. Lembramos
que a notificação não depende do consen-
timento da vítima e realizar posteriormente
também pode resguardar o profissional
notificante.

06
ATENÇÃO!
Não se deve realizar o preenchimento da ficha como
“questionário” de perguntas e respostas à vítima! As
informações do caso representarão os resultados do
acolhimento e escuta qualificada realizadas pelo
profissional.
A notificação de violências interpessoais e auto-
provocadas exige das trabalhadoras(es) e de
gestoras(es) da saúde uma postura ética e cuidadosa
em relação à pessoa que vivencia situação de
violência e à sua família. Ela não deve ser feita a
partir de uma lógica burocrática. Ao contrário,
notificar os casos de violências implica
compromisso com a pessoa que está em sofrimento
e que necessita de proteção e cuidado (BRASIL,
2017).

Clique nas imagens a seguir,


dispostas em ordem numérica, para
visualizar os vídeos sobre o preenchimento
da ficha do Sinan.

07
08
CLIQUE AQUI!
Para acessar a Ficha de Notificação de
Violência Interpessoal / Autoprovocada.

09
06
A partir das orientações do vídeo
instrutivo, vamos relembrar
algumas situações específicas no
preenchimento da notificação?

O preenchimento da ficha de
notificação de violência é intuitivo, mas, até
você estar familiarizado com ela, algumas
dúvidas podem surgir. Listamos abaixo
algumas situações que precisam ser
observadas ao preencher a notificação dos
casos de violência.

Violências autoprovocadas (tentativa de


suicídio ou automutilação)

É muito comum que nos casos de


violência autoprovocada, ao preencher a
ficha, os profissionais assinalem no campo
56 “tipo de violência” as opções violência
física e/ou psicológica. Entretanto, as
violências autoprovocadas devem ser
assinaladas na opção “outros”, e o
profissional deve especificar no espaço
aberto se o caso é uma tentativa de suicídio

10
ou automutilação. Não se deve deixar o
campo "outros" sem especificação.

ATENÇÃO!
Quando ocorrer uma violência autoprovocada, o
campo 54 deverá ser preenchido com o número 1
(sim) afirmando que a lesão foi autoprovocada!

Preenchimento do quesito raça/cor

A completude das notificações


também tem impacto importante no
financiamento do SUS. A Portaria Ministerial
nº 2.984, de 27 de dezembro de 2016
estabeleceu a revisão dos indicadores e
metas do Programa de Qualificação das
Ações de Vigilância em Saúde (PQA-VS). Um
dos indicadores desse programa é a
proporção de notificações de violência
interpessoal/autoprovocada com o
campo raça/cor preenchido com
informação válida (branca, preta, parda,
amarela, indígena). A meta para esse
indicador é de 95%, ou seja, quase a
totalidade dessas fichas.

11
Ressaltamos que essa informação é
autodeclarada e deve-se perguntar
diretamente ao usuário qual a raça/cor
que ele se reconhece.

Preenchimento do nome social:

O nome social configura-se pela


designação na qual a pessoa travesti ou
transexual se identifica e pelo qual é
reconhecida socialmente. Desse modo,
incluído na ficha de notificação desde 2014,
o preenchimento desse item, concomitante
ao de orientação sexual e identidade de
gênero, é primordial para completude e
qualificação das informações corres-
pondentes à violência contra o público
LGBT+.
O campo não deve ser registrado por
repetições dos nomes de nascimento ou por
apelidos.

12
Após o preenchimento da
notificação, qual é o fluxo da
informação?

A notificação deve ser preenchida em


duas vias: uma fica na unidade notificadora
e a outra deve ser encaminhada à Vigilância
Epidemiológica Municipal para digitação no
Sinan e consolidação dos dados. Em
seguida, os dados são transferidos para os
demais níveis hierárquicos (Gerências
Regionais de Saúde, nível central da
Secretaria Estadual de Saúde e Ministério da
Saúde), de modo que todos os níveis tenham
acesso às informações para fins
estritamente epidemiológicos (BRASIL,
2016).
Nos casos em que a violência
acontecer no ambiente de trabalho, deverá
ser realizada a Comunicação de Acidentes
de Trabalho (CAT). Da mesma forma,
quando tratar-se de uma tentativa de
suicídio, se o meio de agressão utilizado for
a intoxicação exógena, além da notificação
de violência, deverá também ser preenchida
a Ficha de Investigação de Intoxicação
Exógena.

13
IDENTIFICAÇÃO DO CASO NA UNIDADE DE SAÚDE
Violências: física, psicológica, tortura, tráfico de seres humanos,
financeiras /econômica /patrimonial, negligência/abandono,
intervenção legal, trabalho infantil e autoprovocadas

- Acolhimento - Consulta - Procedimentos necessários

Notificação

Comunicação aos órgãos de Preenchimento da ficha de


proteção e defesa de direitos violência interpessoal/
(Município de residência) autoprovocada
1ª via (até 7 dias)

Idoso Criança/ Vigilância Epidemiológica SMS


Adolescente Notificação - 2ª via
(Digitação no Sinan, Transferência,
busca ativa, crítica, análise e
-Conselho do Idoso divivulgação da informação)
-Delegacia do Idoso Conselho
ou a de Plantão Tutelar
- Ministério Público
Gerência Regional de Saúde-
GERES
Consolidação da SMS, transferência,
crítica, análise e divulgação da
Informação

Secretaria Estadual de Saúde -


SES/PE
(Consolidação das Geres,
transferência, crítica, análise e
divulgação da informação)

Ministério da Saúde- MS
(Consolidação das Geres,
transferência, crítica, análise e
divulgação da informação)

14
Agora que trabalhamos o preen-chimento
da ficha de notificação dos casos suspeitos
e/ou confirmados de violência no Sinan,
vamos, no próximo módulo, compreender
melhor o procedimento da notificação
imediata.
1
Disponibilizamos, nos materiais comple-
mentares, o link para a versão completa
do instrutivo para preenchimento da ficha
de notificação, publicado pelo Ministério
da Saúde, bem como uma versão reduzida.
1
Agora que você concluiu a leitura do
módulo, clique no ícone abaixo para
realizar a atividade avaliativa no AVA.
Somente após realizar essa atividade, você
poderá continuar o estudo dos próximos
módulos.
1
A atividade do presente módulo, trata-se
de um caso clínico onde simula-remos o
preenchimento de uma ficha de
notificação

FiXaNdO
cOnTeÚdO
Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de


Vigilância em Saúde. Viva: instrutivo
notificação de violência interpessoal e
autoprovocada. 2.ed – Brasília, 2016.

______. Ministério da Saúde. Gabinete do


Ministro. Portaria nº 2.984, de 27 de
dezembro de 2016. Revisa a relação de
metas e seus respectivos indicadores do
Programa de Qualificação das Ações de
Vigilância em Saúde (PQA-VS) a partir de
2017. Brasília, 2016.

______. Ministério da Saúde. Notificação de


violências interpessoais e autoprovocadas.
Brasília: Departamento de Vigilância de
Doenças e Agravos Não Transmissíveis e
Promoção da Saúde, 2017.

16
NoTiFiCaÇãO dE vIoLêNcIa
iMeDiAtA No CiEvS-Pe
Olá, cursista!

Vimos anteriormente os fluxos e


instrumentos oficiais da notificação de
violência interpessoal/autoprovocada no
Sinan. Agora veremos o preenchimento da
notificação compulsória imediata.

Objetivo:
Compreender os fluxos e instrumentos
oficiais da notificação de violência imediata
na plataforma do CIEVS/PE.

Conteúdo:
1.Apresentação do instrumento de notifi-
cação imediata em casos de violência;
2.Instruções para o preenchimento da ficha;
3.Apontar os principais erros no preen-
chimento;
4.Apresentação do fluxo da informação
após a realização da notificação.

Bons estudos!
O que é a notificação imediata?

A notificação compulsória imediata


(NCI) é a notificação de casos suspeitos ou
confirmados de agravos, doenças ou
eventos de saúde pública realizada à
Vigilância Epidemiológica Municipal em até
24 horas, a partir do conhecimento de caso,
pelo meio de comunicação mais rápido
disponível. Nos casos de violência, serão
objeto de notificação imediata os casos de
violência sexual e de tentativa de suicídio.

Por que realizar a notificação


imediata?

Nas violências sexuais ressalta-se a


necessidade do rápido atendimento à
vítima, com a utilização de medidas
contraceptivas e profiláticas para infecções
sexualmente transmissíveis, onde o tempo

04
é fator crucial para a prevenção. Além disso,
a notificação pode mobilizar a rede para o
atendimento a essa vítima.

Quanto à violência autoprovocada, a


notificação imediata é fundamental para
que o município de residência conheça o
caso e consiga vincular o paciente aos
serviços de atenção psicossocial e à rede
como um todo. É importante ressaltar que a
tentativa de suicídio é o principal fator de
risco para o suicídio, aumentando as
chances ocorrer novas tentativas (BOTEGA,
2014).

Devido à necessidade de articulação


dos serviços com maior rapidez e acom-
panhamento do caso, a Secretaria Estadual
de Saúde de Pernambuco (SES-PE) tornou
obrigatória a notificação imediata também
para o nível estadual por meio da publicação
da Portaria SES/PE nº 390 de 14 de setembro
de 2016.

05
Como realizar a notificação
imediata?

Os casos de notificação imediata


devem ser comunicados às Secretarias
Municipais de Saúde, conforme protocolo
estabelecido pelo Ministério da Saúde (MS).
Além disso, estes casos devem ser
informados à SES-PE por meio de formulário
on-line disponível no site do CIEVS-PE, em
https://www.cievspe.com/notifique-aqui,
ou por outro meio disponível. O site do
CIEVS-PE pode ser acessado por aparelhos
celulares, tablets, notebooks ou outros
aparelhos eletrônicos e não necessita de
nenhum tipo de cadastro.

06
Clique na imagem acima para acessar o
vídeo instrutivo sobre o acesso e o
preenchimento da ficha de notificação
imediata no site do CIEVS-PE.

No caso da indisponibilidade para a


realização da notificação no site do CIEVS-
PE, o profissional deve informar a vigilância
epidemiológica municipal sobre a
ocorrência do caso, para que a mesma a faça
ao nível estadual. Lembramos que o
procedimento de notificação não depende
do consentimento da vítima e deve ser
realizado após a conclusão do atendimento,
para inclusive, salvaguardar também o
profissional notificante.

07
sQuais trabalhadoras/es podem
realizar a notificação imediata?

Assim como na notificação semanal,


a notificação imediata não se restringe a
uma categoria profissional específica.
Qualquer profissional que atender uma
vítima de violência sexual ou tentativa de
suicídio pode e deve realizar a notificação
imediata.

Eventualmente, algumas situações são


registradas na notificação imediata
erroneamente. Vamos conferir quais são?

Violência sexual crônica;


Deve-se
Violência sexual em menores
notificar
de 14 anos, decorrente de
apenas
relação consentida;
no Sinan
Casos de automutilação.

Não são
Ideação suicida; objeto de
Suicídio consumado. notificação
compulsória

08
ATENÇÃO!
O registro do suicídio consumado é feito no Sistema
de Informação sobre Mortalidade (SIM), por meio do
preenchimento da Declaração de Óbito pelo
profissional médico.

sQual é o fluxo da notificação


imediata?

Ao receber um caso de tentativa de


suicídio ou violência sexual, o profissional
deverá informar, em até 24 horas, à
vigilância epidemiológica do seu município
pelo meio mais rápido (telefone, email...).
Também deve fazer o preenchimento do
formulário de notificação compulsória
imediata no site do CIEVS-PE, ou na
impossibilidade, informar a VE municipal
sobre o não preenchimento para que esta o
faça.

O CIEVS-PE envia as notificações para


a área técnica de Vigilância de Violências da
SES-PE, que encaminha semanalmente as

09
06
informações para os níveis estaduais de
Atenção à Saúde Mental (GASAM/SES-PE), de
Atenção Primária (GEQAP/SES-PE) e para a
Vigilância Epidemiológica da Gerência
Regional de Saúde (Geres) de residência do
caso.

Em seguida, a Geres encaminha a


notificação para as coordenações de
vigilância de violência do município de
residência da vítima, para vinculação da
mesma à rede de assistência com brevidade,
conforme a determinação da Portaria SES-PE
Nº 390, de 14 de setembro de 2016. O
mesmo fluxo é seguido pela atenção à
saúde mental e atenção primária.

10
09
06
11
Destacamos que a realização da
notificação imediata não exclui a
necessidade da notificação semanal no
Sinan, devendo as duas serem realizadas.

Nos casos em que a violência


acontecer no ambiente de trabalho, deverá
ser realizada a Comunicação de Acidentes
de Trabalho (CAT).

Quando tratar-se de uma tentativa de


suicídio, se o meio de agressão utilizado for
à intoxicação exógena, além da notificação
de violência, deverá também ser preenchida
a Ficha de Investigação de Intoxicação
Exógena.

Qual a importância da notificação


imediata?

Como vimos, essa notificação tem o


objetivo de mobilizar a rede e os
profissionais em um período de tempo
curto, dando celeridade ao processo de
cuidado, além de prevenir outras

12
doenças/agravos decorrentes da situação
de violência.

Além disso, a notificação também


colabora para o fortalecimento da
articulação intersetorial, contribui para a
construção de relatórios que subsidiam
intervenções nos territórios e servem
também para elaboração de informes
realizados pela área técnica de vigilância de
violências da SES-PE.

Os informes sobre violência sexual e


tentativa de suicídio reúnem os dados do
Estado de Pernambuco e são publicados no
site do CIEVS-PE conforme apresentados
abaixo.

13
Estamos perto de finalizar o curso! Após
esse percurso em que pudemos estudar
sobre a identificação dos casos de
violência, a importância do acolhimento,
os casos que são objetos de notificação,
os instrumentos e o modo de realizar a
notificação, dentre outros temas,
abordaremos, no nosso último módulo, os
componentes da rede de atenção às
vítimas de violência.

Agora que você concluiu a leitura do


módulo, clique no ícone abaixo para
realizar a atividade avaliativa no AVA.
Somente após realizar essa atividade, você
poderá continuar o estudo dos próximos
módulos.

FiXaNdO
cOnTeÚdO

Além disso, não esqueça de registrar no


Tirando Dúvidas suas reflexões, ques-
tionamentos ou observações sobre este
módulo!
Referências

BOTEGA, N.J. Comportamento suicida:


epidemiologia. Psicologia USP [online]. v.
25, n. 3, pp. 231-236. 2014.

SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE. Portaria


SES/PE nº 390 de 14 de setembro de 2016.
Acrescenta doenças, agravos e eventos
estaduais à Lista Nacional de Doenças de
Notificação Compulsória e dá outras
providências.

15
LiNhA dE cUiDaDo àS
vÍtImAs dE vIoLêNcIa
Olá, cursista!

Chegamos ao último módulo do


curso!

Nós já conhecemos sobre o histórico


e definição da violência enquanto problema
de saúde pública; a importância de sua
vigilância e o correto preenchimento dos
instrumentos oficiais de notificação
epidemiológica.

Agora teremos a oportunidade de


conhecer mais sobre a rede de atenção à
saúde, bem como, sobre a rede de atenção
às pessoas em situação de violência, para
compreendermos o papel de cada
componente no processo de cuidado
ofertado.

Objetivo:
Conhecer a rede de atenção e compreender
os diferentes papeis de cada componente na
linha de cuidado às vítimas de violências.

Conteúdos:
1.Linha de cuidado às vítimas de violência;
2.Rede de atenção às vítimas de violência.

Bons estudos!
O que são as redes de atenção à
saúde na prática?

O conceito de Redes de
Atenção à Saúde (RAS)
não é recente, ele já está
presente na Constituição
Federal de 1988, no seu
Art. 198 que menciona
que as ações e os servi-
ços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada e hierarquizada e constituem
um único sistema. Mundial-mente, a
proposta de RAS é quase centenária já que
foi feita pela primeira vez no Relatório
Dawson, publicado em 1920. Mas há de se
reconhecer que a discussão sobre o que são
as redes de atenção à saúde e a discussão
teórica para o âmbito da normatividade do
SUS são mais recentes. É com a publicação
da Portaria nº 4.279, de 2010, e o Decreto
Presidencial 7.508, de 2011, que a proposta
da organização do sistema de saúde
brasileiro organizado em redes ganha força
(MENDES, 2007; BRASIL, 2010; BRASIL,
2011).

04
Conforme a Portaria nº 4.279, de
2010, as RAS são definidas como arranjos
organizativos de ações e serviços de
saúde, de diferentes densidades
tecnológicas, que integradas por meio de
sistemas de apoio técnico, logístico e de
gestão buscam garantir a integralidade
do cuidado e tem como objetivo promover a
integração sistêmica de ações e serviços de
saúde com provisão de atenção contínua,
integral, de qualidade, responsável e
humanizada, bem como incrementar o
desempenho do Sistema em termos de
acesso, equidade, eficácia clínica e
sanitária, e eficiência econômica (BRASIL,
2010).

Ou seja, podemos compreender na


prática que a RAS é um conjunto articulado
entre diferentes pontos de atenção, que
busca prestar o atendimento integral ao
usuário nos diversos níveis de
complexidade, dependendo da sua
necessidade. É importante ressaltar que
esta rede tem a Atenção Primária à Saúde
(APS) como coordenadora do cuidado e
centro de comunicação entre os pontos de
atenção.
05
Como as RAS se organizam?

As RAS são organizações cons-


tituídas por relações poliárquicas (alto grau
de democratização) de um conjunto de
serviços de saúde vinculados entre si por
uma missão única, com objetivos comuns e
por uma ação cooperativa e interde-
pendente que permitem ofertar uma
atenção contínua e integral a determinada
população, coordenada pela APS. Na
perspectiva das redes poliárquicas, não há
entre os dispositivos, relações de princi-
palidade ou subordinação, características
das relações hierárquicas, já que todos são
igualmente importantes para se atingirem
os objetivos comuns (MENDES, 2010).

A princípio, de acordo com a Portaria


nº 4.279, de 2010, a operacionalização da
RAS se dá pela interação dos seus três
elementos constitutivos, são eles:
população e região de saúde definidas,

06
estrutura operacional (que envolve os
pontos de atenção, sistemas de apoio,
logísticos e de governança) e um sistema
lógico de funcionamento ou modelo de
atenção à saúde (sistemas que organizam o
funcionamento das ações e serviços de
acordo com determinados riscos à saúde).

Através destes elementos cons-


titutivos, visando atender linhas de cuidado
específicas foi proposta a criação de
grandes redes temáticas. São exemplos de
redes temáticas: a Rede Cegonha, Rede de
Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças
Crônicas, Rede de Atenção às Urgências,
Rede de Cuidado às Pessoas com Deficiência
e a Rede de Atenção às Vítimas de Violência.

07
Quais as etapas para
estruturação de uma rede de
atenção às vítimas de violência?

08
sNa rede de atenção às vítimas de
violência, quais os serviços da
saúde e de outros setores
envolvidos?

A questão da violência se apresenta


de forma complexa e multifacetada assim,
exige a articulação entre os diversos pontos
da rede, sendo a saúde uma parte de um
sistema de cuidados maior. Uma rede de
proteção se configura por “nós”
interdependentes, de serviços públicos,
sociocomunitários, privados, que se
conectam para oferecer proteção, cuidado e
prevenção.

Existem vários atores e serviços


dentro da área da saúde que estão
envolvidos no cuidado às pessoas vítimas de
violência, alguns são: Unidades de Saúde da
Família, Unidades Básicas de Saúde que tem
maior proximidade aos usuários, escutam
frequentemente queixas relativas à
violência; os Centros de Atenção Psicosso-

09
cial que recebem os usuários em processo
de adoecimento ou adoecidos psiqui-
camente; as Unidades de Urgência e
Emergência, que atendem às demandas
agudas, como as tentativas de suicídio, os
abusos sexuais, violências físicas, dentre
outras.

Numa visão holística de cada caso de


violência, podemos analisar a necessidade
de intervenção de outros equipamentos. Em
alguns casos, as pessoas e famílias que
sofrem cotidianamente com a violação de
direitos e com vínculos frágeis ou rompidos,
necessitam de acompanhamento pelos
serviços da Assistência Social. Em outros, há
a necessidade de separação dos corpos,
para que a violência se cesse, sendo a Justiça
a única capaz de determinar isso. Alguns
podem descumprir as determinações
judiciais e precisam de intervenção policial e
da Segurança Pública.

Esses foram alguns exemplos para


pensarmos que um fenômeno complexo,
como o da violência, precisa de uma
resposta elaborada, envolvendo inten-

10
06
cionalmente, parcerias e articulações. Uma
visão parcial e fragmentada do problema
não consegue superá-lo.

No âmbito da violência contra


crianças e adolescentes, existe por
exemplo, o denominado Sistema de
Garantia de Direitos da Criança e do
Adolescente, que consiste “na atuação e
intervenção conjunta e sistemática de
diversos órgãos e autoridades cujo papel é
efetivar os direitos desse público” (MPSP e
ALANA, 2020, p.40). Entende-se que cada
“nó”, apesar de possuir função específica,
tem a mesma responsabilidade na resolução
dos problemas.

Não há um único caminho para a


construção das redes e nem uma única rede
que vá responder por todos os casos que
envolvem as violências, já que os públicos
se divergem, mas os atores se entrecruzam.
Além disso, cada território terá sua rede,
alguns serviços serão comuns, seja por
serem políticas consolidadas e difundidas,
ou por exigências legais. Apontaremos a
seguir, alguns desses serviços:

11
09
06
No setor saúde: dispositivos da
atenção básica (UBS, USF, NASF, SAD);
maternidades; hospitais de urgência e
emergência; Serviços de Pronto Atendi-
mento (SPA); Unidades de Pronto Atendi-
mento (UPA); Policlínicas; Serviço de Atendi-
mento Móvel de Urgência (SAMU); Centros
de Testagem e Aconselhamento (CTA);
Serviço de Assistência Especializada em
HIV/Aids (SAE); Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) e Centro de Informação
e Assistência Toxicológica de Pernambuco
(CIAtox).

Na rede estadual de Pernambuco, são


referências no atendimento às vítimas de
violência sexual: o Serviço de Apoio à
Mulher Wilma Lessa, vinculado ao Hospital
Agamenon Magalhães (HAM); o Pró-Marias,
vinculado ao Centro Integrado de Saúde
Amaury de Medeiros, da Universidade de
Pernambuco (CISAM/UPE), o Centro de
Atenção à Mulher Vítima de Violência Sony
Santos, do Hospital da Mulher do Recife
(CAMVV/HMR), e o Instituto de Medicina
Integral Professor Fernando Figueira (IMIP).

12
Também concedem atendimento
integral as seguintes unidades, embora não
estejam habilitados como serviço
especializado: Hospital e Maternidade
Petronila Campos - São Lourenço da Mata;
Hospital Jesus Nazareno – Caruaru; Hospital
Dom Malan - Petrolina; e Hospital Professor
Agamenon Magalhães (HOSPAM) – Serra
Talhada.

Esses serviços assistem mulheres


vítimas de violência em regime de pronto
atendimento dispondo de equipe
multidisciplinar. Além de realizar os
protocolos clínicos preconizados (contra-
ceptivo de emergência, profilaxia para
IST/HIV e aborto previsto em lei), oferecem
tratamento médico e psicológico; orientam
a vítima sobre seus direitos e, ainda as
encaminha aos demais serviços espe-
cializados da rede. Na indisponibilidade de
acessar as referências, os hospitais
regionais também ofertam os protocolos
clínicos.

13
O Centro de Referência da Assistência Social
(CRAS) se propõe a ser porta de entrada para
os serviços do Sistema Único da Assistência
Social (SUAS), tendo como foco a prevenção
e a promoção da vida. Dentre a oferta de
serviços, a Proteção Social Básica promove o
fortalecimento de vínculos familiares e
comunitários;

14
O Centro de Referência Especializado
da Assistência Social (CREAS) éresponsável
pela organização e oferta de serviços de
Proteção SocialEspecial do SUAS. Lida com
apoio, orientação e acompanhamento às
famílias com um ou mais de seus membros
em situação de ameaça ouviolação de
direitos, por exemplo: violência sexual,
trabalho infantil,pessoas em situação de
rua, discriminação em decorrência da
orientação sexual e/ou raça/etnia, entre
outras;

O Conselho Tutelar, a quem cabe


atender às queixas, reclamações e
solicitações feitas por crianças, adoles-
centes, famílias, comunidades e cidadãos,
diante da violação de direitos da criança e do
adolescente. O trabalho dos conselheiros
tutelares baseiase na escuta, orientação,
aconselhamento, encaminhamento e
acompanhamento dos casos. É um órgão
permanente e autônomo, encarregado pela
sociedade de zelar pelo cumprimento dos
direitos da criança e do adolescente;

15
Os Organismos Governamentais de
Políticas para as Mulheres, que são órgãos
executivos voltados à promoção da
igualdade de gênero, por meio da
formulação, coordenação e articulação de
políticas para as mulheres. Configuram-se
como Secretarias, Superintendências e
Coordenadorias de Mulheres e Núcleos de
Políticas para as Mulheres, que atuam tanto
em âmbito estadual como municipal;

Os Centros Especializados de Aten-


dimento à Mulher (CEAM), que oferecem
orientações, encaminhamento e acom-
panhamento psicológico, social e jurídico às
mulheres em situação de violência domés-
tica e familiar;

Os Tribunais de Justiça, com as Varas


da Infância e Juventude, as Varas de
Violência Doméstica e Familiar Contra
Mulher;

16
O Ministério Público, órgão fiscali-
zador da lei, atua na garantia de direitos
individuais e coletivos;

A Defensoria Pública, órgão res-


ponsável por prestar assistência judiciária
gratuita àqueles que comprovem incapa-
cidade econômica;

As Delegacias Especializadas em
Atendimento à Mulher (DEAMs), que são
unidades da Polícia Civil para o atendimento
às mulheres vítimas de violência;

As Escolas da rede municipal e esta-


dual dos municípios.

17
Cada território deve articular e
construir sua própria rede, conhecendo os
serviços disponíveis e os atores envolvidos.

Sabe-se que o trabalho em rede não


se trata de um caminho simples, exige
participação dos vários setores das políticas
públicas, participação da sociedade,
comunidades e famílias e derruba limites de

18
serviços que atuam isoladamente (GONÇA-
LVES E GUARÁ, 2010). Porém, o movimento
de se aproximar do outro pode trazer novas
potencialidades e parcerias que oxigenam o
trabalho como um todo, além de responder
melhor à complexidade dos fenômenos.

“Articular-se significa, sobretudo


fazer contato, cada um mantendo sua
essência, mas abrindo-se a novos
conhecimentos, à circulação das ideias e
propostas que podem forjar uma ação
coletiva concreta na direção do bem
comum” (GONÇALVES E GUARÁ, 2010,
p.12).

19
Chegamos ao final do Curso de Vigilância
de Violências com Ênfase na Notificação da
Violência Interpessoal e/ou
Autoprovocada. Estamos felizes em fazer
parte da sua trajetória por novos
conhecimentos e qualificação da sua
prática profissional.

Esperamos que os conteúdos aqui


abordados tenham proporcionado a vocês
aprendizagens que contribuam no seu
fazer profissional, além de despertar para
a importância que nós temos no cuidado
às pessoas em situação de violência.

Por fim, temos o último Fixando Conteúdo


do curso, clique no ícone abaixo para
acessar.

FiXaNdO
cOnTeÚdO

Não esqueça de registrar no Tirando


Dúvidas suas reflexões, questionamentos
ou observações sobre este módulo!
Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Decreto nº


4.279, de 30 de dezembro de 2010.
Estabelece diretrizes para a organização da
Rede de Atenção à Saúde no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS).

______. Ministério da Saúde. Decreto nº


7.508, de 28 de junho de 2011.
Regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de
setembro de 1990, para dispor sobre a
organização do Sistema Único de Saúde -
SUS, o planejamento da saúde, a assistência
à saúde e a articulação interfederativa, e dá
outras providências.

MENDES, E. V. Revisão bibliográfica sobre


Redes de Atenção à Saúde. Belo Horizonte:
Secretaria de Estado de Saúde de Minas
Gerais, 2007.

MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde.


Belo Horizonte: Escola de Saúde Pública de
Minas Gerais; 2010.

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Referências

GONÇALVES, A. S.; GUARÁ, I. M. F. R. Redes


de Proteção Social na Comunidade: por uma
nova cultura de articulação e cooperação em
rede. In: Redes de Proteção Social. São
Paulo: NECA - Associação dos Pesquisadores
de Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a
Criança e o Adolescente, 2010. p. 11-29.
Disponível em: < https://www.neca.org.br
/wpcontent/uploads/Livro4.pdf >

MPSP; ALANA; Guia Operacional de


Enfrentamento à Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes. São Paulo, 2020.

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Você também pode gostar