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Desigualdade e Estratificação

Social no Brasil
José Alcides Figueiredo Santos & Celi Scalon

A questão da desigualdade, seus condicionantes e consequên-


cias ganhou mais proeminência pública nos últimos anos no país.
O processo de queda da renda disponível captada pelas pesquisas
domiciliares no Brasil gerou e tem gerado debates e avaliações. Os
desdobramentos de políticas sociais ditas de inclusão social, como
o programa Bolsa Família e as Ações Afirmativas, repercutiram na
opinião pública e na esfera política. Ampliou-se o espectro de ins-
tituições, organizações, áreas de conhecimento e atores tomando
iniciativas de estudo, projetos de ação ou produção de discursos
sobre a temática. Os fatos brutos da desigualdade continuam a ser
referidos por muitos, em análises e comentários, nas suas manifes-
tações mais visíveis e que repercutem em ampla gama de momentos
e lugares. Na sociologia aumentaram em poucos anos os estudos e
seu rigor, a formação de novos pesquisadores, a maior projeção das
iniciativas e a ampliação dos interesses de conhecimento.
Procede-se neste capítulo a um mapeamento dos principais
estudos nas temáticas ou linhas de pesquisa de estratificação so-
cial que mais se destacaram no período de 2010 a 2017. Adota-
ram-se como critério potencial de inclusão no balanço artigos de
periódicos, capítulos de livros e teses de doutorado defendidas, em

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particular aqueles mais diretamente vinculados ao campo de co-


nhecimento, excluindo-se o que já foi abarcado no último balanço
da área publicado em 2010 pela Anpocs. As principais orientações
que existem no campo, como as abordagens neo-weberiana, neo-
-marxista e de realização de status, não são recapituladas aqui,
pois isto já foi feito no balanço anterior; a organização do material
se faz por áreas de estudo e cobre trabalhos originais com dados
empíricos sobre a realidade atual, ficando igualmente de fora ex-
posições gerais de enquadramentos alternativos, como os inspira-
dos em Pierre Bourdieu ou David Gruksy (Scalon e Figueiredo
Santos, 2010).

Campo Internacional da
Estratificação Social

Nossa análise começa pela apresentação do campo interna-


cional da estratificação social em função da sua influência nas
orientações e estudos nacionais, com eventuais desdobramentos
em direções futuras, para colher eventuais insights do olhar com-
parativo, pensar semelhanças e diferenças, assim como estimu-
lar uma reflexão a respeito de relatos e narrativas, uma iniciativa
pouco comum no campo no Brasil, que está mais voltado para o
1
acúmulo paulatino de evidências e generalizações .
No cenário internacional, mais especificamente nos países de-
senvolvidos, foi crescendo a percepção de que a desigualdade e a
pobreza não podem mais ser tratadas como se fossem problemas
sociais “leves”. As principais razões para este interesse crescente

 1. Utiliza-se David Grusky pela riqueza do breve balanço que realizou, a sua preo­
cupação em comparar modelos, o diálogo com outras áreas e a posição privile-
giada que ocupa no campo ao dirigir um importante centro em Stanford e editar
já faz vários anos a principal coletânea-síntese da área nos países desenvolvidos.

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dizem respeito mais a mudanças no modo como se vê, estuda e


avalia os fatos brutos da desigualdade. As consequências e amea-
ças para a comunidade mundial aparecem como mais importantes
do que as preocupações propriamente normativas. A problema-
tização de como a desigualdade acontece perpassa o campo de
estudos em meio ao seu espalhamento. Na literatura se colocam
várias narrativas incipientes competindo pelo papel de sucessor
da teoria da modernização. Estas narrativas caracterizam-se pelo
foco delimitado, o compromisso com o fundamento empírico e
um interesse especial em identificar as forças sociais que solapam
as estórias benignas do passado (Grusky e Szelényi, 2014; Grusky
e Maclean, 2016). As principais narrativas emergentes tematizam
as apropriações de “rendas” e restrições à competição, os efeitos
perversos do baixo crescimento, os efeitos perversos da crescente
desigualdade, a mercantilização, a automação e as ideologias de
camuflagem. A narrativa da mercantilização, estilizada por Da-
vid Gruksy, destaca as implicações da crescente dependência do
acesso a bens e serviços da capacidade direta de pagar por eles
(Grusky e Hill, 2017; Grusky e Maclean, 2016).
O desenvolvimento do campo de estudos da estratificação so-
cial é apresentado como “uma das grandes estórias de sucesso da
ciência social moderna”, cujas principais realizações seriam o mo-
nitoramento de tendências, a resolução de polêmicas e o entendi-
mento das causas mais profundas de vários tipos de desigualdades.
A falência mais proeminente do campo seria o entendimento das
dinâmicas da mudança, as evoluções não previstas, refletindo uma
limitação da tarefa ideográfica quando se tem somente um caso
para explicar. A estrutura da desigualdade estaria mudando de
uma forma rápida, complicada e às vezes de formas mistificantes.
Vem ocorrendo uma erosão das velhas barreiras metodológicas
e disciplinares e a emergência de um cenário mais competitivo

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de ciência social. As contribuições de outras áreas estão entran-


do no discurso sociológico. O estudo baseado em survey não é
mais tão dominante como no passado, sendo que as abordagens
qualitativas e experimentais estão ficando mais proeminentes. O
ressurgimento do interesse pelo estudo da desigualdade abriu no-
vas possibilidades de comunicação e colaboração interdisciplinar
(Grusky e Weisshaar, 2014; Grusky, 2016). A área de estratifica-
ção ainda se encontra muito vinculada e estruturada em torno de
tradições e, algumas vezes, se mostra pouco atenta às abordagens
teóricas contemporâneas e às transformações mais recentes nas
sociedades globais.

Configurações da Estrutura Social

No Brasil do início da década emergiram interpretações so-


bre a suposta ascensão de uma “nova classe média”, baseada em
ponderáveis ganhos de renda de parcelas da população, propos-
tas particularmente por economistas. As repercussões obtidas por
estes discursos, sob o auspício do novo governo, suscitaram uma
intervenção da área de estratificação neste debate, embora mais
circunscrita ao meio acadêmico. A composição da estrutura social,
formada por categorias desigualmente recompensadas, representa
naturalmente uma dimensão importante para o entendimento da
estrutura da desigualdade.
Os primeiros estudos mostraram que as mudanças não foram
significativas para apoiar a ideia de que o Brasil havia se tornado
uma sociedade de classe média. Os segmentos que compõe mais
claramente uma classe média se expandiram somente de 30,9 para
32% entre 2002-2009. Uma parcela da classe trabalhadora em
termos de rendimentos (e poder de consumo) quase exclusiva-
mente estaria se aproximando dos setores mais baixos das classes

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médias. Entretanto, caberia ainda verificar até que ponto este pro-
cesso poderia levar a uma aproximação no campo social (Scalon
e Salata, 2012; Scalon, 2013). Uma estratégia mais indutiva, de
inspiração bourdieusiana, revela a existência de um espaço social
ainda amplamente dominado por frações manuais urbanas desti-
tuídas e fragilizadas (30%) e um operariado qualificado e estabe-
lecido (45%). Embora não tenha sido feita uma análise temporal,
o quadro traçado está longe de realçar os estratos médios, quando
se olha para a distribuição das múltiplas formas de capital (Ber-
toncelo, 2016). Esse debate trouxe uma questão muito relevante
para o futuro dos estudos na área, qual seja: Em que medida os
ganhos econômicos e sociais em países emergentes são susten-
táveis no médio e longo prazo? Com isso, a análise da relação
entre desenvolvimento e sustentabilidade, antes restrita ao cam-
po ambiental, vai sendo incorporada aos estudos de estratificação
(Scalon e Salata, 2016). Esse movimento tem início a partir das
pesquisas comparativas sobre estratificação nos países Brics.
Ao mobilizar dados sobre as características das ocupações, em
termos de renda, educação, status ocupacional e chances de mobi-
lidade social, ampliando os termos da análise, Ribeiro mostra que
o Brasil não se tornou uma sociedade de classe média. Na verdade,
a estrutura social é composta por uma divisão clara entre o topo
social (classes I e II) e todas as outras classes abaixo. Além disso,
na ponta inferior da hierarquia social, existem barreiras à mobili-
dade também entre os trabalhadores manuais não qualificados e
pequenos agricultores, de um lado, e as classes intermediárias, de
outro (Ribeiro, 2014). Tais padrões e clivagens já vinham sendo
observados desde a década de 70, registrados em estudos como os
de Pastore (1979), Scalon (1999) e Valle Silva e Pastore (2000),
entre outros, mostrando que há uma persistência das tendências
da mobilidade social no Brasil.

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Investigaram-se as alterações entre 2002 e 2014 nas posi-


ções das categorias ocupacionais na divisão social do trabalho
no Brasil com um interesse especial na caracterização, dimen-
são e mudanças das classes médias. A aplicação de um esquema
centrado na ocupação, inspirado na tradição de C. Wright Mills
e baseado na classificação socioprofissional francesa constatou
um crescimento das classes médias 21,6% para 27% do total dos
ocupados, marcado por uma diversidade de categorias e suas
dinâmicas. As ocupações intermediárias são duas ou três vezes
mais numerosas do que a “classe média” que representa a par-
te inferior das classes superiores. A expansão do agrupamento
no período foi dominada pelas categorias médias superiores das
empresas, secundadas pelas profissões ligadas ao ensino superior,
médio e fundamental. Embora as classes médias tenham uma
presença significativa e crescente no Brasil, o país está ainda
muito longe de ser uma sociedade de classe média (Cardoso e
Préteceille, 2017).
As mudanças na estrutura social parecem compor um quadro
mais nuançado. O topo privilegiado da estrutura social aumentou
de 8,1% em 2002 para 9,4% em 2011 essencialmente por conta
da expansão dos especialistas. Já a base de posições destituídas
decresceu 33,2% em para 28,7% com a retração de todas as cate-
gorias que a compõe. Os estratos agrícolas, por sua vez, estiveram
continuamente em retração. Entretanto, a alteração após 2002 de
maior peso se deu na expansão do trabalhador típico de 33,9 a
39,6%, que ocorreu em particular a partir de meados da década
de 2000. A melhora dos empregos ocorreu sem implicar propria-
mente num redesenho na direção dos estratos médios (Figueiredo
Santos, 2015a).
Tratando ainda dos estudos sobre estrutura de classe, cabe
indicar a realização de análises que consideram a distribuição

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de classes no espaço urbano. Nesses casos, associam a sociolo-


gia urbana com a sociologia da estratificação para observar em
que medida a cidade é segmentada por classes sociais, ou dizen-
do melhor, qual a distribuição espacial das classes. Essa é uma
questão que vem sendo abordada em pesquisas que ultrapassam o
campo da estratificação social e que têm como objetivo investigar
o lugar das classes. Essa perspectiva traz importantes elementos
para diversos campos da Sociologia, tal como políticas públicas,
violência e segurança, educação, entre outros. A conclusão dessas
análises apontam, em geral, para um nível significativo de segre-
gação espacial, mostrando que a distribuição de classes não está
contida na alocação dos agentes em posições dentro da estrutura
de classe, mas se estende para o lugar deles no espaço físico das
cidades, desenhando fronteiras e clivagens de classe no cenário
urbano (Marques, Bichir e Scalon, 2012; Marques, Scalon e Oli-
veira, 2008)
Tem emergido na área interrogações sobre as classificações
usadas para representar e mensurar a noção de classe social ou
ocupacional (Scalon, 2013; Souza, 2016). Uma avaliação empírica
recente através de análise de classe latente mostra que o esque-
ma EPG, que representa a matriz dominante das investigações no
Brasil numa perspectiva estrutural de classe, ao ser confrontado
com indicadores do mercado de trabalho no país, “não consegue
captar de forma clara tendências representativas ao emprego, o
que, supostamente, a tipologia faria por definição” (Carvalhaes,
2015). Em balanço recente da literatura sobre mobilidade inter-
geracional na América Latina discute-se a generalidade ou apli-
cabilidade de classificações padronizadas de classe elaboradas nos
e para os países desenvolvidos e a importância de se captar nas
classificações construídas as clivagens sociais relevantes na região
(Torche, 2014, p. 630).

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Estratificação Educacional no Brasil

A questão educacional possui um destaque na agenda dos ato-


res e no domínio da opinião pública. Trata-se de um vasto campo
institucional, em processo contínuo de expansão, que repercute
em várias áreas e processos sociais. Ao nível internacional a área
de estratificação social dispõe de um estoque bem sedimentado de
teorias, abordagens e metodologias para descrever e entender os
condicionantes e as consequências da expansão educacional. Na
literatura nacional tem-se dado continuidade e agregado novos
aspectos nesta linha de estudos focalizando as novas situações as-
sociadas à expansão educacional em curso no Brasil. É importante
registrar que Educação tem sido um ponto central no discurso e
nas ações políticas de sucessivos governos, é foco de numerosas
políticas públicas e é vista, pela população brasileira, como fator
principal para ascensão social, como mostram as pesquisas sobre
percepção das desigualdades (Scalon e Oliveira, 2012; Scalon,
2004; Reis, 2000; Reis e Moore, 2005).
A desigualdade de oportunidades educacionais mensura as
chances de sucesso em cada transição educacional (DOE). Cons-
tata-se a persistência de um quadro de alta desigualdade nas
chances de se completar as transições educacionais. O efeito das
origens sociais não necessariamente diminui ao longo das coortes.
No início do século XXI, a desigualdade de acesso ao ensino su-
perior parece ter sofrido um recrudescimento. Embora o sistema
universitário privado seja mais desigual que o sistema público, este
último mostrou um aumento considerável na estratificação edu-
cacional. As desigualdades baseadas na região geográfica, raça, gê-
nero e capital social também estão presentes (Mont’Alvão, 2011).
Entretanto, quando considerada a educação básica (fundamental
e média), Tavares Jr., Mont’Alvão e Neubert (2015) mostram que,

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embora persistam desigualdades socioeconômicas e de cor, houve


uma diminuição no efeito da origem social sobre as oportunida-
des de transição escolar nos últimos anos.
Um novo estudo da desigualdade de oportunidades educa-
cionais focaliza o papel de fatores institucionais, a contribuição
da riqueza herdada e agrega a consideração da desigualdade de
resultados educacionais (DRE), que mensura os anos de educação
completos por cada indivíduo depois que fazem ou não as diversas
transições educacionais. Demonstra-se que tanto os recursos dos
pais quanto características institucionais determinam fortemente
as desigualdades de oportunidades e resultados educacionais. A
desigualdade em termos de riqueza dos pais não apenas é a úni-
ca que está presente em todas as transições educacionais, como
também é muito alta. Indivíduos que frequentaram escolas pri-
vadas e federais de ensino fundamental e médio têm chances ex-
tremamente maiores de progredir no sistema do que aqueles que
frequentaram escolas públicas. As transições educacionais mais
cruciais para definir as desigualdades de resultados educacionais
no Brasil são completar o ensino fundamental (em especial) e o
ensino médio (Ribeiro, 2011).
Os novos dados de pesquisa patrocinada pela Organização
Internacional do Trabalho no Brasil em 2013 entre grupos de
21 a 29 anos à época do levantamento foram usados para avaliar
as consequências da fase mais recente da expansão educacional.
Persistem as desvantagens educacionais associadas à origem social
para entrar no ensino médio, completar o ensino médio e entrar
na universidade tanto em coortes de 25-29 anos quanto nas mais
novas de 21-24 anos. Os jovens com pais que têm um diploma de
ensino médio ou menos educação estão se tornando mais seme-
lhantes em relação às suas oportunidades educacionais, enquanto
a diferenciação educacional entre jovens com pais com e sem di-

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ploma universitário está se fortalecendo. Não ocorrem diferenças


raciais na probabilidade de entrar no ensino médio; em contraste,
existe um padrão geral de aumento da desvantagem não branca
na conclusão do ensino médio em todas as coortes. Ocorreu uma
diminuição da desvantagem não branca na entrada da faculdade
entre as duas coortes estudadas, beneficiando basicamente o seg-
mento não branco que foi capaz de completar a escola secundária
(Marteleto, Marschner e Cavalhaes, 2016).
Esta linha de estudos poderia se beneficiar de reavaliações
críticas do modo de medir condicionamentos e resultados educa-
cionais, de aperfeiçoamentos dos processos de produção e inter-
pretação de evidências, assim como do aporte adicional de estudos
qualitativos para a explicação das regularidades empíricas. Seria
importante agregar conhecimentos dos processos organizacionais
e micros sociais que afetam as trajetórias educacionais, ainda que
mobilizados de forma subsidiária ou, então, baseando-se em li-
teratura secundária. Visto que os usos de medidas baseadas em
log-odds ratios ou odds ratios têm sido questionados, dentro e fora
do campo disciplinar, em sua capacidade de gerar coeficientes que
sejam adequadamente comparáveis entre amostras e entre grupos
da mesma amostra, os estudos estão ainda a dever uma incorpora-
ção consciente de soluções propostas que contornam as limitações
dos usos mais costumeiros de regressões logísticas (Mood, 2010;
Karlson, Holm e Breen, 2012; Best e Wolf, 2015).

Mobilidade Social no Brasil

Sabe-se que os primeiros estudos de mobilidade social, embo-


ra ainda com um escopo regional, remontam aos anos cinquenta.
O Brasil foi o primeiro pais de América Latina a conduzir um
levantamento de mobilidade social nacionalmente representativo

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no ano de 1973 em um suplemento da PNAD. Os estudos de mo-


bilidade social no Brasil formam marcados por uma abordagem
de realização de status com a aplicação de índices socioeconô-
micos. Nos anos 80 foram realizados estudos sobre fluidez social
com uso de categorias ocupacionais mais ajustadas às especifici-
dades da realidade nacional (Silva e Roditi, 1986). Mas a partir do
novo século foi ganhando crescente projeção o uso de esquemas
de classe afins à classificação EGP (Erikson-Goldthorpe-Portoca-
rero) ou sua atualização no esquema Casmin (Scalon, 1999; Sca-
lon e Ribeiro, 2011; Ribeiro, 2007; Scalon e Figueiredo Santos,
2010; Thorche, 2014). A adoção de esquemas de classe utilizados
anteriormente nos países centrais se deve, principalmente, à busca
de comparabilidade internacional.
A análise da mobilidade social baseada nos levantamentos de
dados de 1982 e 1996 (PNAD) constata um aumento da fluidez
social no período cuja explicação se deve ao declínio dos retornos
educacionais no mercado de trabalho. Raça e origem social teriam
um papel relevante no sucesso educacional, porém um papel dire-
to (isto é, quando se exclui o efeito mediado pela educação) mais
secundário no mercado de trabalho. Quando se obtém o mesmo
nível educacional, o retorno ou ganho adquirido através da educa-
ção não variaria por cor ou raça. Por fim, os padrões de mobilidade
social relativa de homens e mulheres seriam convergentes (Souza,
Ribeiro e Carvalhaes, 2010).
A análise dos dados de 1973 a 1996 revelam aumento na flui-
dez social, o que corresponde a uma diminuição da desigualdade
de oportunidades para a população masculina. Os dois mecanis-
mos principais indicados como responsáveis por esse aumento de
fluidez são o declínio dos retornos econômicos da educação e o
enfraquecimento da influência direta da origem de classe sobre o
destino de classe, após o controle da educação. A fluidez crescente

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não se comportou como um processo linear, pois estagna ao final


de 1980 e em 1990, mostrando-se mais como uma dinâmica de
período (Torche e Ribeiro, 2010).
Uma avaliação de quadro décadas de mobilidade social no
Brasil mostra que ocorreu uma diminuição global da desigualdade
de oportunidades devido à diminuição dos retornos educacionais.
Houve pouca equalização de acesso à educação (a associação en-
tre a classe dos pais e a educação de seus filhos), mas houve uma
redução nos retornos da educação (a associação entre a educação
do filho e a classe de destino). Foram encontrados indícios de uma
diminuição das desigualdades de oportunidades educacionais en-
tre 1996 e 2008. As vantagens de classe diretas, depois de contro-
lar por educação, estiveram aumentando nas décadas de 1990 e
2000 no Brasil. Existe pouca fluidez social (ou mais barreiras nos
dois sentidos) entre a classe de profissionais e administradores
(I+II) e todas as classes abaixo (Ribeiro, 2012 e 2014).
Os estudos realizados na América Latina e no Brasil revelam
uma contradição entre o nível de desigualdade e o grau de mobi-
lidade social encontrado na região. Os estudos de mobilidade de
classe social, ao contrário do que se esperaria, não mostram um
grau de fluidez ou igualdade de oportunidades sistematicamente
menor na América Latina do que em países menos desiguais do
mundo desenvolvido. Esta contradição pode ter relação com a
forma de mensurar e abordar a questão, pois os estudos econômi-
cos de mobilidade de renda tendem a enfatizar a força da herança
ao contrário dos estudos sociológicos de mobilidade de classe que
revelam a existência de certa fluidez social (Torche, 2014).
O nível de transmissão inter-geracional de rendimentos estima-
do no Brasil está entre os mais altos observados do mundo. Estudo
de Christopher Dunn (2007) constatou que as estimativas de mobi-
lidade com filhos de idade relativamente nova podem subestimar o

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verdadeiro nível de transmissão de rendimentos. A maioria dos estu-


dos anteriores de mobilidade usaram filhos com idade média de 25
para 35. Mas ao analisar os ganhos ao longo da vida (lifetime earnings)
é possível estimar uma elasticidade de 85% em 1996 (Dunn, 2007).
Usando dados de 2008, Ribeiro apresenta resultados bem di-
vergentes de Christopher Dunn. A mobilidade intergeracional es-
taria aumentando no Brasil em todos os indicadores considerados,
ou seja, em termos de classe social, status ocupacional, proxy de
“renda permanente” ou educação. O aumento teria sido mais pro-
nunciado para a mobilidade da renda. A elasticidade de renda cai de
0,734 em 1996 para 0,433 em 2008, ou seja, uma redução absoluta
de – 0,30 pontos percentuais ou relativa de 41%. Tanto a herança
de renda pura quanto a herança de renda mediada pela educação
diminuiu ao longo do período estudado (Ribeiro, 2017). O estudo
possivelmente superestima a mobilidade de renda, pelo menos em
parte, ao fazer estimativas para os filhos de 27 a 36 anos e não usar
ganhos ao longo da vida (lifetime earnings), sem introduzir as ques-
tões levantadas por Christopher Dunn (2007) e Florencia Torche
(2014). Na literatura internacional, no entanto, existe uma preocu-
pação crescente de reavaliar as medidas de mobilidade intergera-
cional (Mazumder e Acosta, 2015). A questão de fundo da relação
entre níveis de desigualdade e padrões de mobilidade, assim como
das medidas usadas no estudo da mobilidade, demandam estudos
adicionais e melhor esclarecimento teórico e metodológico.

Mudanças Recentes na Desigualdade


de Renda no Brasil

A sociologia despertou com certa lentidão para o estudo da


desigualdade de renda contemporânea mesmo em países que tem
uma forte tradição de pesquisa de estratificação social. Esta letar-

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gia teve relação com um processo anterior de mudança de foco do


estudo da estrutura (ou grau) da desigualdade para o processo de
seleção dos indivíduos para posições dentro desta estrutura. Houve
pouca focalização de questões centrais da desigualdade social, ou
seja, quem fica com o que e porque (Leicht, 2008). A literatura
sociológica no Brasil assistiu à trajetória de ascensão, persistência
em patamar elevado e diminuição recente da desigualdade de renda
como se este fenômeno estivesse fora da sua área de competência e
interesse disciplinar. Vieram da economia os primeiros estudos que
detectaram uma queda da desigualdade de renda (Figueiredo San-
tos, 2015a). Em meados dos anos 2000 vários trabalhos passaram
a indicar uma redução perceptível da desigualdade de rendimentos
per capita desde 2001 (Souza, 2016, p. 138). Porém, os estudos rea-
lizados com categorias sociológicas, como classe social e ocupação,
vieram à luz somente quase dez anos depois, em parte devido a
certa lentidão no despertar de interesses e qualificações para estudar
desigualdades de renda, sem falar nos problemas de recepção na
área ciências sociais. A intervenção, projeção ou competição no âm-
bito dos estudos de desigualdade de renda demandam qualificações,
recursos e inserções institucionais que continuam ainda limitadas
na sociologia brasileira. Os avanços realizados e retratados neste
balanço, além de conviverem com estas limitações, dependem da
capacidade do campo de ajustar o foco para as questões centrais da
desigualdade social.
O recente estudo comparativo do papel de classe social e da
educação na desigualdade de renda no Brasil mostrou que as cate-
gorias de classe social têm um poder explicativo bem maior (40%
em 2011) sobre os níveis de desigualdade de renda (decompo-
sição do índice L de Theil) do que as divisões entre os grupos
educacionais (30%). A variação (diminuição) da desigualdade de
renda entre 2002 e 2011 foi mais afetada por educação do que

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por classe social. Em termos de pesos relativos, o percentual das


desigualdades explicado pela educação cai abruptamente, porém
o das variáveis de classes permanece constante. As dimensões de
propriedade e autoridade da estrutura de classes se mostraram
mais resistentes a mudanças e, por isso, contribuíram menos para
a queda da desigualdade (Souza e Carvalhaes, 2014).
Também o papel da estrutura ocupacional na desigualdade
de rendimentos no Brasil foi objeto de análise, que concluiu que
ao longo do período recente os componentes inter e intraocu-
pacionais foram responsáveis por cerca de 50% da variância do
logaritmo da renda. Os recentes ganhos salariais dos trabalha-
dores e a queda da desigualdade não se mostraram relacionados
a um enfraquecimento da hierarquia ocupacional e seu papel na
organização do processo de estratificação. O padrão de expansão
do emprego na década de 2000 implicou, de modo geral, em uma
melhoria relativa dos postos de trabalho. Assim, a geração de em-
pregos transferiu os trabalhadores para ocupações e setores com
remuneração mais alta; consequentemente houve uma redução do
percentual de ocupações de mais baixo nível salarial. Nesse senti-
do, as melhorias nas posições de trabalho acabaram por promover
certo grau de melhoria do emprego com equidade (Carvalhaes,
2014).
Figueiredo Santos (2015a) utilizou a abordagem de classe
social para descrever e interpretar as mudanças de renda entre
grupos associadas à queda da desigualdade de renda captada pelas
pesquisas domiciliares. A queda de desigualdade de renda entre
grupos no período recente refletiu uma perda comparativa de
renda no topo privilegiado e ganho na base destituída, tanto em
termos absolutos como relativos. É importante observar que, no
conjunto do período, os especialistas e empregados qualificados
sofrem as maiores defasagens de renda. As mudanças na renda

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foram menores entre as dimensões de propriedade e autorida-


de, menos afetadas por alterações na distribuição ou dispersão da
educação. Foram analisadas, igualmente, as alterações distributi-
vas que se deram na dispersão e assimetria da renda dentro das
classes sociais. A assimetria tendeu a aumentar na maioria dos
grupos mais privilegiados e o desequilíbrio na direção das rendas
superiores à mediana se reduziu particularmente entre as catego-
rias de trabalhadores. Estes grupos ficaram internamente menos
desiguais e mais homogêneos, o que contribui para a redução da
desigualdade agregada (Figueiredo Santos, 2014).
Entretanto, para analisar as desigualdades de renda é funda-
mental avaliar os efeitos, de longo e curto prazo da idade, período
e coorte sobre as tendências de desigualdade da renda do trabalho.
Entre os homens, a queda observada das desigualdades ao longo
dos últimos 35 anos foi particularmente um processo de longo
prazo que corresponde à substituição de gerações no mercado de
trabalho, coincidindo com a homogeneização educacional das
coortes. A mudança nos padrões de distribuição de rendimen-
tos entre as mulheres não esteve associada apenas ao avanço das
oportunidades educacionais. A desigualdade de rendimentos do
trabalho efetivamente caiu entre as mulheres como fruto de efei-
tos de período; ou seja, entre 1981 e 2013, houve um processo
equalizador atuando sobre todo o grupo feminino, independente-
mente da idade ou geração. No entanto, os fatores por trás desses
processos não foram esclarecidos completamente e demandam
investigações mais aprofundadas e específicas (Barbosa, 2016).
Ainda no campo de estudos sobre mudanças na distribuição
de renda, a literatura passou a dedicar maior atenção aos fatores
socioespaciais, notadamente o papel de regiões e territórios na
desigualdade. As características socialmente construídas e padro-
nizadas do ambiente físico e social dos territórios formam estru-

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desigualdade e estratificação social no brasil   163

turas de oportunidades que incrementam ou restringem os fluxos


de renda e os padrões de vida dos seus ocupantes (Figueiredo
Santos, 2015b). A convergência de renda e a redução da desigual-
dade entre as Regiões Metropolitanas e o restante do país, prota-
gonizada por mudanças na renda do trabalho, foram responsável
por metade da queda da desigualdade na distribuição nacional da
renda domiciliar per capita de 1981 a 2009, segundo a decompo-
sição do L de Teil, que é particularmente sensível às mudanças na
extremidade mais pobre da distribuição (Souza e Osório, 2011).
No período de 1992 a 2011, a trajetória de perda relativa de renda
da localização metropolitana na comparação com os municípios
menores mostra-se claramente intrínseca à dimensão sócio espa-
cial e seu enraizamento é tal que independe da composição e dos
efeitos de um leque de fatores com fortes implicações socioeco-
nômicas. Na medida em que as posições privilegiadas estão mais
concentradas nestes espaços, as vantagens relativas destes grupos
e destes territórios foram mutuamente afetadas. Reduções nas
desigualdades espaciais de renda, ligadas aos territórios e particu-
larmente às hierarquias urbanas, contribuíram para a diminuição
da desigualdade de renda entre e dentro dos grupos sociais (Fi-
gueiredo Santos, 2015b).
Uma característica da desigualdade brasileira é o grande peso
das diferenças entre as macrorregiões brasileiras compondo cer-
ta polaridade e separação entre Norte/Nordeste e Sul/Sudeste/
Centro-Oeste. Além disso, as regiões do bloco Norte/Nordeste,
que possuem rendas médias muito inferiores, ostentam desigual-
dades internas muito maiores do que as demais. Entretanto, de-
sigualdade de renda entre regiões tem um papel bem menor do
que se imagina na produção da desigualdade de renda agregada
no Brasil. A maior parte da desigualdade de renda no Brasil, em
torno de dois terços, está presente no âmbito local, ou seja, existe

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164  sociologia brasileira hoje ii

entre indivíduos que moram dentro das mesmas áreas. Os fatores


geradores de desigualdade operam ou geram consequências mes-
mo nos menores recortes espaciais (Souza, 2013).
Na análise da mudança e da variação na distribuição total da
renda, os levantamentos domiciliares, como a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD), possuem limitações. Estu-
dos recentes baseados em informações do Imposto de Renda de-
monstram que esta fonte gera uma subestimação da concentração
da renda acima dos 5% e mesmo dos 10% mais ricos. Os dados
domiciliares corrigidos por informações do Imposto de Renda
mostram um patamar de concentração bem maior e um proces-
so de desconcentração bem menor da desigualdade agregada no
Brasil. Com a correção para a renda dos 10% mais ricos, a queda
observada do índice de Gini entre 2002 e 2013 se reduz bastante,
sendo que o processo descendente se esgota a partir de meados
de 2000 (Medeiros, Souza e Castro, 2015a e 2015b; Souza, 2016).
No longo prazo a concentração da renda no topo teve no Brasil
uma combinação de estabilidade e mudança entre 1926 e 2013.
Não houve nenhuma tendência geral unívoca, pois a fração re-
cebida pelo centésimo mais rico, por exemplo, oscilou entre 20%
e 25% durante a maior parte do tempo. Algo parecido pode ser
dito acerca do 0,01% e do 0,1% mais rico e, em menor grau, dos
5% a 15% mais ricos, para os quais só há dados para um período
mais restrito. No período mais recente, a fração do 1% mais rico
apresentou razoável estabilidade em torno de 23% (Souza, 2016).
O quadro retratado pelas pesquisas domiciliares, usadas nos vá-
rios estudos comentados, espelha uma distribuição incompleta ou
truncada nos níveis mais elevados da renda. Entretanto, parece
razoável considerar que tomada como um conjunto a distribuição
mais completa espelhe muito a incompleta nas dimensões cru-
ciais que organizam socialmente a distribuição das recompensas,

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desigualdade e estratificação social no brasil   165

exceto naturalmente no que afeta a formação da renda altamente


concentrada (Figueiredo Santos e Ribeiro, 2016).
Num contraponto à literatura econômica, enfatiza-se a ausên-
cia de evidências de que a educação de massa seja um dos fatores
mais relevantes para explicar as diferenças entre os ricos e o resto
da população brasileira. Nem mesmo a educação de elite pode ser
tomada como um dos principais determinantes dos níveis atuais
de riqueza. Há, portanto, uma parte importante da desigualdade
total que não será reduzida por políticas educacionais (Medeiros
e Galvão, 2016). Entre as posições privilegiadas de classe o con-
trole de ativos de capital favorece a probabilidade de estar entre
os 1% mais ricos. Com menos de uma hora de trabalho o efeito
da probabilidade de ser rico do capitalista é de 0,044, enquanto
as demais posições privilegiadas de especialistas e gerentes teriam
que trabalhar 50 horas por semana para alcançar este patamar.
Somente com 35 anos de experiência o efeito de ter curso supe-
rior atinge a magnitude do capitalista com menos de um ano de
experiência (Ribeiro, 2016).

Desigualdade Socioeconômica
e Racial de Saúde

Embora a desigualdade vital entre as pessoas possa ser con-


siderada uma das formas de desigualdade mais importantes, pois
diz respeito à qualidade da vida que se leva e à duração da vida
que se têm, expressando de modo mais radical a noção de chan-
ces de vida, somente no período mais recente a temática passou
a merecer no Brasil a atenção dos estudos de estratificação social.
Um primeiro estudo com dados de 2003 (PNAD) demonstrou que
a categorização de classe social revela um efeito independente
e adicional aos indicadores socioeconômicos usuais nos estudos

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166  sociologia brasileira hoje ii

de saúde, tais como grupos de renda relativa, bens acumulados e


educação. As relações de propriedade, o exercício de autoridade, a
posse de qualificações escassas, minimizam as ocorrências de es-
tados negativos saúde. Os efeitos de classe na saúde são mediados
predominantemente por fatores materiais associados à renda e à
riqueza (Figueiredo Santos, 2011a). Uma investigação empírica
subsequente com dados de 2008 (PNAD) da desigualdade de classe
social de saúde conjugou duas modalidades de comparação de
classe social. De um lado, a combinação dos dois principais ativos
– capital e conhecimento perito – que respondem pela geração de
vantagens materiais e de saúde no Brasil. De outro lado, foram
abordados treze diferentes contrastes de classe (gerente versus ca-
pitalista, trabalhador típico versus gerente etc). Procurou-se de-
monstrar que o uso de categorias de classe teoricamente unívocas
favorece uma localização social mais adequada dos fatores que se
associam às discrepâncias de saúde entre os grupos (Figueiredo
Santos, 2011b). Uma análise com dados de 2008 (PNAD) mostrou
que o conjunto da mediação socioeconômica cobre um montante
muito elevado (85%) da desigualdade racial de saúde. Os con-
textos de classe social, por sua vez, implicam em vantagens ou
desvantagens de saúde não equivalentes entre os grupos raciais.
Retornos decrescentes de saúde para o grupo não branco aumen-
tando nos estratos privilegiados a discrepância racial de saúde
(Figueiredo Santos, 2011c). Agregando uma nova problemática,
investigaram-se com dados de 2008 (PDSD) as hipóteses da con-
vergência ou divergência do gradiente socioeconômica na saúde
ao longo do ciclo de vida. As evidências mostram uma amplia-
ção dos efeitos da posição socioeconômica na condição de saúde
ao longo do ciclo de vida, refletindo os processos de acumulação
temporal das (des)vantagens socioeconômicas na trajetória de vi-
da dos indivíduos. As exposições diferenciadas a riscos e agravos

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desigualdade e estratificação social no brasil   167

em distintas etapas interconectadas do ciclo de vida individual


revelam consequências de longo prazo para a condição de saúde
(Carvalhaes e Chor, 2016).
O conhecimento escasso no Brasil da longa e rica produção
sociológica sobre a temática ao nível internacional, em particular
no mundo anglo-saxão, a hegemonia exercida pelos institutos de
saúde pública, coletiva ou medicina social, o papel modesto da
“desigualdade vital” no debate público (Therborn, 2006), a escassa
presença da temática na área de graduação em ciências sociais ou
afins, os desestímulos encontrados na área de pós-graduação ou a
atração por temáticas mais consagradas, prestigiadas ou simples-
mente em voga, representam fatores que dificultam a expansão
desta linha de investigação na sociologia brasileira.

Desigualdades de Status: Raça, Gênero


e Distância Social entre Ocupações

As desigualdades de status são baseadas em crenças culturais


acerca da capacidade e do valor social dos membros de certas ca-
tegorias em comparação com outras, sendo que estas distinções
essenciais são usadas para organizar as relações com os outros
e criar fronteiras entre as categorias sociais. As demarcações de
status tornam-se mais efetivas e salientes na geração de desigual-
dades de oportunidades e recompensas entre os grupos na medida
em que estão ligadas às hierarquias de poder e recursos na socie-
dade (Tilly, 1999; Ridgeway, 2014). No período cinco modali-
dades de estudo foram desenvolvidas na área. Procurou-se situar
e comparar as desigualdades de raça e gênero no contexto das
mudanças de renda no período recente. O incremento dos estudos
sobre a riqueza motivou a localização do divisor racial neste cená-
rio. Foram investigadas as implicações da fluidez da classificação

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168  sociologia brasileira hoje ii

de cor para a desigualdade racial no Brasil. A questão de gênero


recebeu um tratamento multifacetado no âmbito das mudanças
da família brasileira das últimas décadas. Por fim, empreendeu-se
a investigação da hierarquia de status das ocupações no Brasil,
ecoando os novos estudos da questão na literatura internacional.
Seguem sínteses das contribuições oferecidas e um comentário
geral do tópico.
As desigualdades de renda entre os grupos de status de raça
e de gênero evoluíram sob o impacto de processos bem distintos
no período pós 2002. Os efeitos diretos e indiretos da ordem de
status se combinam de diferentes maneiras. O efeito direto ou de
tratamento diz respeito ao julgamento de valor social atribuído
por ser membro da categoria e o efeito indireto envolve a impli-
cação do marcador de status social no acesso desigual a recurso ou
contexto valioso. Na categorização racial a desigualdade de acesso
se fortaleceu ou permaneceu forte, enquanto caiu a de tratamento;
na categorização de gênero, a desigualdade de acesso diminuiu,
mas a de tratamento aumentou. As pessoas concretas inseridas
nestas categorias ficaram menos desiguais, pois foi mais favorável
o resultado agregado da combinação entre efeitos diretos (trata-
mento) e indiretos (acesso) (Figueiredo Santos, 2015b).
A análise da disparidade racial de riqueza mostra que o com-
ponente de discriminação é muito relevante, pois a equiparação
educacional entre negros e brancos não seria suficiente para redu-
zir a disparidade de riqueza em muito mais do que 15%. Cons-
tatou-se uma acentuada disparidade racial na associação entre ri-
queza e poder, compreendida como a probabilidade de se ocupar
simultaneamente a posição de rico e a posição de elite, definida
essa última com base no exercício de controle sobre instituições.
Todos os padrões de disparidade observados são especialmente
críticos em se tratando das mulheres negras (Rocha, 2015).

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desigualdade e estratificação social no brasil   169

Análise das relações entre contínuo de cor, mobilidade social


e “embranquecimento” revela que mesmo levando em conta a ori-
gem social e a fluidez na classificação racial, os indivíduos mais
pretos têm chances menores de mobilidade em termos de educa-
ção e renda. Grandes diferenças socioeconômicas estão presentes
ao longo do contínuo racial. Quanto mais branca for a pessoa,
maiores são suas chances de obter posições mais altas no sistema
de estratificação. Embora exista uma ambiguidade classificatória,
a estratificação racial mostra-se bastante significativa no Brasil
contemporâneo (Ribeiro, 2017).
As transformações nas famílias brasileiras e nas relações de
gênero no período 1976-2012 foram investigadas num leque
amplo de dimensões e ramificações. Mudanças relativas à con-
jugalidade, reprodução e socialização de filhos se manifestaram
no controle da fecundidade pela contracepção, o adiamento da
união e da maternidade, as alterações no equilíbrio de poder nos
casais, as inversões das desigualdades educacionais entre filhas e
filhos. Persistem os processos de violência entre parceiros íntimos,
maternidade na adolescência e dificuldades no processo de auto-
nomização dos jovens. Embora variável por classe e característi-
cas familiares, predomina uma tendência geral de crescimento da
participação das mulheres no mercado de trabalho. Entretanto,
isto se faz mantendo uma divisão do trabalho doméstico e de
cuidado, mesmo na nova geração dos filhos. As mulheres brasilei-
ras movem-se em direção a um melhor equilíbrio de gênero nas
relações familiares, porém o ritmo e o grau de mudanças variam
por classe social (Itaboraí, 2015).
A estratificação por status diz respeito à distribuição de honra
e/ou prestígio social, atribuídos aos indivíduos em função de al-
guma característica de caráter coletivo e que se expressa por meio
de distâncias sociais de superioridade, igualdade e inferioridade.

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170  sociologia brasileira hoje ii

No ordenamento da estrutura ocupacional do Brasil, constata-se


a formação de uma clara hierarquia de status, na qual os profissio-
nais ocupam o topo, e os trabalhadores manuais ocupam a base,
sendo os trabalhadores domésticos a categoria com menor status.
Esta hierarquia de status mostra-se bastante relacionada com fa-
tores como rendimentos e, principalmente, educação, de modo
que quanto maior a escolaridade e a renda, maior também tende
a ser o status (Salata, 2016).
As divisões sociais de gênero e raça, que integram des-
tacadamente o campo de estudos, são hierarquias de status,
marcadas por dimensões comuns e especificidades sociais,
embora esta consciência teórica nem sempre esteja clara e
explicitamente formulada. Maior atenção à fundamentação
teórica e seus desenvolvimentos recentes na sociologia, a de-
sejável incorporação de análises interseccionais, a exploração
da autonomia relativa da ordem de status, a consciência das
convergências e variações assumidas pelas hierarquias de status
em cada contexto nacional, são ingredientes que podem levar a
produção a direções ainda mais frutíferas, aumentar a validade
interna e projetar influencias externas nas relações com outros
campos disciplinares.

Percepções e Representações
das Desigualdades

Estudos sobre percepções e representações das desigualda-


des, justiça social e classe são bem menos frequentes do que se
desejaria, considerando que essas são dimensões essenciais pa-
ra compreender os processos de justificação das desigualdades, a
construção de valores compartilhados de justiça e a legitimação
de repertórios que fundamentam a alocação dos indivíduos em

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desigualdade e estratificação social no brasil   171

posições sociais ou classes. “É impossível entender os padrões de


distribuição de uma sociedade sem cotejá-los com as noções de
justiça e equidade que nela predominam; porque é através do có-
digo cultural que cada sociedade legitima ou deslegitima as no-
ções de igualdade e desigualdade” (Reis, 2004). “Isso porque a
estrutura de desigualdade é reproduzida e transformada em in-
teração com o código cultural da sociedade. Esse último, por sua
vez, provê a linguagem para legitimar ou deslegitimar igualdade e
desigualdade” (Munch apud Reis, 2004).
Várias análises baseadas em comparação internacional bus-
cam identificar diferenças e similitudes na forma como as desi-
gualdades são percebidas e interpretadas em diferentes socieda-
des, especialmente no que diz respeito a elementos e represen-
tações mobilizados para justificar e legitimar (ou deslegitimar)
as desigualdades, assim como que níveis de desigualdades são
toleráveis em cada uma delas. Do mesmo modo, buscam apreen­
der que noções de justiça prevalecem nos diferentes contextos
(Scalon, 2004; Scalon e Oliveira, 2012; Reis e Moore, 2005;
Knell e Stix, 2015). Vale registrar uma linha de investigação que
relaciona individualismo e desigualdade, através de análises his-
tóricas e pesquisas qualitativas em diversos países da Europa
(Fevre, 2012 e 2016).
Se há carência desse tipo de estudo no campo da Estratifica-
ção, é ainda maior a lacuna deixada pela ausência de estudos que
tratem diretamente de ações de classe, orientações, preferências,
distinções de status, entre outros. Apesar de alguns estudos sobre
consumo demonstrarem interesse nas análises de gosto e estilo
de vida, ainda são poucos no Brasil. Nessa temática vale a pena
registrar o trabalho de Bertoncelo (2013) que traz uma pesquisa
sobre a relação entre classe e estilo de vida, bem como padrão de
escolha e práticas cotidianas.

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172  sociologia brasileira hoje ii

Narrativas da Desigualdade no Brasil

Situam-se preliminarmente os campos de conhecimento


próximos da ciência política e da economia que têm elaborados
narrativas da igualdade e desigualdade no Brasil no período con-
temporâneo. Caracterizar os elementos centrais e a lógica geral
destas narrativas coloca o problema das narrativas em avaliação
e estimula a elaboração de orientações sociológicas alternativas.
Existe na ciência política no Brasil uma visão da igualdade e de-
sigualdade que se pode dizer centrada no Estado, para usar uma
expressão consagrada, quando não basicamente centrada nas po-
líticas ou ações de governo. A expressão mais atual, elaborada e
empiricamente sustentada desta narrativa está no livro Trajetórias
da Desigualdade, cujas análises focalizam um período de cinco dé-
cadas, coordenado por Marta Arretche (Arretche, 2015). Enten-
de-se que no regime democrático contemporâneo a desigualdade
entre os mais pobres e o mais ricos diminuiu sensivelmente, assim
como as dimensões mais inaceitáveis das desigualdades. Este re-
sultado, no entanto, não foi um subproduto automático da demo-
cracia, embora possa se supor que o primeiro efeito da democracia
sobre a desigualdade seja corrigir seus aspectos mais inaceitáveis.
A mediação das políticas representou um elo crucial. Diferentes
expressões usadas no estudo enfatizam o papel especial das ações
de governo. Fala-se notadamente em políticas desenhadas delibe-
radamente para produzir este resultado, adoção ou combinação de
políticas distintas, gasto público, gasto social, regras das políticas.
Reduções da desigualdade são reputadas mais lentas em determi-
nadas áreas em função de descontinuidades entre mandatos pre-
sidenciais, paralisia decisória e ausência de centralidade na agenda
do governo federal (Arretche, 2015). Neste tipo de interpretação,
nos últimos cinquenta anos os avanços no sentido da igualdade

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desigualdade e estratificação social no brasil   173

no Brasil foram obtidos predominantemente por inclusão, não


por redistribuição, fazendo aproximar os excluídos de um marco
absoluto já atingido por uma parcela mais afluente da população
(Medeiros, 2016). O enfoque pouco tematiza a constituição das
linhas de divisão e dependência entre sociedade e Estado.
A ciência econômica hegemônica propõe um relato centrado
na distribuição e realização de atributos e condições individuais,
para usar a expressão proposta por Wright (2008). Na segunda me-
tade dos anos 1990 uma nova sabedoria convencional, menos con-
troversa do que no debate dos anos 70 destacou o papel central da
educação para explicar o alto nível da nossa desigualdade em com-
paração aos padrões internacionais. A interpretação do processo de
queda da desigualdade foi formulada na mesma direção, criando-se
novo consenso relativo acerca do papel da combinação de avanços
do sistema educacional, diminuição da heterogeneidade educacio-
nal e redução dos retornos à educação (Souza, 2016). Interpretações
mais amplas para a América Latina, mesmo mantendo o foco na
trajetória de queda do prêmio de qualificação, destacam os limites
de relatos baseados somente na oferta de trabalho, enfatizando o
papel significativo de fatores vinculados à demanda, tais como es-
trutura industrial, mudança tecnológica, comércio internacional e
flutuações cíclicas na demanda agregada (Torre, 2017).
Um estudo de fôlego produzido recentemente propôs uma
narrativa da dinâmica político-institucional da desigualdade, no-
tadamente quando se focaliza a alta concentração de renda do to-
po dos mais ricos. Considera-se que em condições minimamente
democráticas os mais ricos dispõem de recursos políticos e eco-
nômicos que facilitam o exercício de poder de veto ou barganha
em condições vantajosas. O sistema político atua basicamente no
sentido de filtrar, amplificar, minimizar ou redistribuir choques
e pressões externas de vários tipos. Em condições democráticas

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174  sociologia brasileira hoje ii

normais, ao refletir e modelar os conflitos distributivos da socie-


dade, o arranjo institucional mostra-se mais hegemonizado pe-
los detentores de recursos econômicos e organização política que
sustentam a persistência da concentração no topo. As mudanças
mais marcantes na concentração de renda ocorrem, sobretudo, em
momentos de crise e ruptura, na medida em que estes processos
favoreçam a capacidade de quem está fora do topo social de re-
formar o arranjo institucional vigente, afetando a distribuição dos
ativos e suas taxas de retorno (Souza, 2016).
A evolução da concentração de renda no topo revela afinidades
ou compatibilidades com a história político-institucional do Brasil no
longo prazo. A fração recebida pelos mais ricos foi maior no período
das duas ditaduras do século XX e cresceu especialmente nos primei-
ros anos após os golpes de 1937 e 1964. O período democrático de
1945 a 1964 trouxe um processo durável de nivelamento, embora a
maior parte dele tenha se concentrado no governo JK. Ocorreu uma
deterioração da desigualdade na primeira década da ditadura, de mo-
do que as frações recebidas pelos mais ricos retornaram ao patamar
existente no início dos anos 1950. A maior instabilidade econômica
do período de fim do “milagre” e início do lento processo de abertura
política refletiu-se em maior flutuação da parcela recebida pelos mais
ricos que declinou um pouco até o fim da década de 1970. A redemo-
cratização em 1985 não trouxe nenhuma desconcentração imediata
da renda no topo. Embora tenha ocorrido alguma redistribuição ao
longo dos anos 1990 – ou até meados da década de 2000, caso se
use um critério mais generoso –, o período recente destaca-se pela
estabilidade em níveis muito altos da concentração no topo quando
comparados aos padrões internacionais (Souza, 2016).
A desigualdade envolve quem controla o quê e como são
mobilizados, aplicados e obtidos retornos do que se controla.
Inovações políticas e institucionais podem naturalmente estar

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desigualdade e estratificação social no brasil   175

por trás de movimentos da desigualdade ao criarem espaços de


oportunidades que são aproveitados especialmente por grupos
que possuem recursos e poder social. De forma típica os meios
econômicos têm que ser mobilizados para obter vantagens abertas
por meios não econômicos ou políticos. Na sociedade capitalista
moderna os meios econômicos e não econômicos se combinam
nos processos que produzem e reproduzem a desigualdade. As
configurações institucionais devem ser vistas no sentido mais am-
plo, envolvendo, além do sistema político, os mercados, os con-
tratos e direitos de propriedade, assim como as empresas como
“sistemas descentralizados de dominação institucionalizada sobre
recursos humanos e materiais” (Burns, 2006). A existência na so-
ciedade capitalista de um elevado potencial de controle e regula-
ção privados potencializa enormemente o aproveitamento pelos
grupos privilegiados de oportunidades que se abrem por decisões
políticas, mudanças legais ou mesmo circunstâncias imprevistas.
O campo da estratificação no Brasil parece não trabalhar com
uma narrativa específica e explícita sobre a desigualdade no Brasil
contemporâneo; as teorias e interpretações com que se trabalha
têm um quadro interpretativo e uma perspectiva de olhar para
a realidade concreta; talvez exista uma narrativa da persistência
das desigualdades, em meio às mudanças, a visão da desigualdade
como fruto de um processo social e institucionalmente estrutura-
do; talvez exista uma contra narrativa ou contraponto à narrati-
va benigna da modernização, da economia de mercado. Existem
narrativas históricas de “intérpretes do Brasil” das quais se pode
extrair ideias ou perguntas sobre a desigualdade; existem interpre-
tações das interpretações; no entanto, a sociedade contemporânea
não representa um simples prolongamento dos processos marcan-
tes do passado, nem o seu conhecimento se esgota nos traços do
passado que se prolongam no presente; preocupações t­eóricas e

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176  sociologia brasileira hoje ii

empíricas devem pautar a construção de narrativas sobre os con-


dicionamentos e as dinâmicas de mudanças da sociedade con-
temporânea, as persistências e as alterações que vem se dando
em especial nos “Parâmetros de Interesse na Desigualdade”, ou
seja: 1. o montante geral da desigualdade; 2. a extensão em que os
indivíduos são vinculados permanentemente em certas posições
(rigidez); 3. a extensão em que traços atribuídos fixados ao nascer
são usados para propósitos de alocação; 4. o grau em que as várias
dimensões da desigualdade convergem (ou estão cristalizadas)
(Grusky e Weisshaar, 2014).
Níveis críticos de análise da sociedade devem ser contempla-
dos numa narrativa abrangente da desigualdade no Brasil con-
temporâneo. As conexões analíticas entre três níveis relevantes
podem ser ilustradas por uma metáfora da sociedade como um
jogo (Wright, 2015). Existe a questão mais ampla de qual jogo se
joga, que diz respeito à natureza da sociedade em que se vive, as
relações de propriedade, a economia de mercado, as hierarquias
de poder, o capitalismo como um sistema social. Além desse nível
mais geral, coloca-se a questão da variação institucional das regras
do jogo, pois existem variantes ou modelos diferenciados de de-
senvolvimento e organização do capitalismo, ou seja, diferenças
no modo como as instituições chaves são conformadas, operam
e formam um complexo societário concreto. Quaisquer que se-
jam as circunstancias existentes, embora sempre sob as influências
delas, no terceiro nível de análise encontram-se os movimentos
dos atores dentro do jogo, num processo que é influenciado pelas
circunstâncias e ações que descortinam possibilidades mutáveis
de desafiar e alterar as regras vigentes do jogo. As narrativas mais
abrangentes, atentas às dinâmicas sociais e às possibilidades futu-
ras, não se circunscrevem à existência de um único jogo sob um
conjunto estável de regras largamente não contestadas, no qual

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desigualdade e estratificação social no brasil   177

o horizonte dos atores se encontre inapelavelmente reduzido à


arena dos interesses econômicos imediatos.

Considerações Finais

Os estudos de estratificação social no Brasil, cujas relevantes


contribuições foram destacadas neste capítulo e em outros ba-
lanços (Valle Silva, 1999; Scalon e Figueiredo Santos, 2010; Fer-
nandes, Salata e Carvalhaes, 2017) podem ser problematizados
por se concentrarem unilateralmente nos fatos mais objetivos das
desigualdades de oportunidades, recompensas e resultados. As ca-
tegorias com que se trabalha, quando aplicadas em levantamentos
amostrais, aparecem regra geral como dadas, ou cristalizações de
processos que muitas vezes não são em si mesmos investigados,
buscando-se o estabelecimento de associações com relevantes fe-
nômenos sociais, sem situar plenamente as causas subjacentes das
causas observáveis mais próximas. Embora os estudos estejam co-
nectados com teorias relacionais de classe social ou então de status
social, envolvendo as noções de divisão do trabalho, relações de
propriedade e autoridade, ou ideias de categorizações, processos
de reserva de oportunidades, fronteiras e fechamento social, apre-
sentam lacunas no tocante ao tratamento das dinâmicas de maior
escala, das dimensões constitutivas e transformadoras das ações
sociais, assim como das manifestações de percepção, consciência
e julgamentos sociais. O entendimento das dinâmicas que geram,
estabilizam ou colocam em questão as desigualdades existentes
demandam a articulação entre condicionamentos estruturais, per-
cepções, avaliações e ações dos atores socialmente situados.
A natureza multidimensional, complexa e em mutação da
desigualdade; os desafios colocados por problemas de pesquisa
novos; as insuficiências das soluções consagradas em determina-

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das situações; a sondagem de uma via mais “aberta”, indutiva ou


descritiva; a importância de testar continuamente o que é dado
como certo ou consagrado; a dúvida metódica que inspira a in-
vestigação científica no processo de desvendar e explicar o que
não está visível; todos estes são fatores que podem colocar em
suspensão determinados pressupostos disciplinares. Entende-se
que soluções tributárias do senso comum, ou indicadores pura-
mente convencionais, como estratos educacionais e grupos de
renda, dificilmente poderiam, de modo mais generalizado e satis-
fatório, substituir as categorizações sociológicas nas tarefas des-
critivas e explicativas do conhecimento social. A permanência ou
atualização de determinadas tradições disciplinares, nas diversas
situações concretas de investigação, dependem naturalmente da
manutenção dos potenciais conceituais e empíricos sem captar
ou expressar condições ou processos socialmente organizados em
desenvolvimento.
Indagações a respeito de pressupostos ou tradições disciplina-
res apontam para a necessidade da produção de teorias e análises
substantivas que deem conta das rápidas e profundas mudanças
nas sociedades globais e, também, a incorporação de elementos
que ultrapassam os cânones da área. Além disso, desafiam os pes-
quisadores do campo a sair do escopo das análises realizadas em
países centrais, particularmente Estados Unidos e Inglaterra, que
geram uma tendência a replicar ou mimetizar estudos já testados e
consagrados. No entanto, o desafio de incorporar novos elementos
de análise e observar fenômenos sociais fora do esquadro das teo-
rias e metodologias consagradas não é exclusivo da área de estrati-
ficação. A sociologia, como uma disciplina originada no século XX,
se vê provocada pelas transformações que tiveram lugar no século
XXI e que trazem novos sentidos para as esferas econômica, polí-
tica e social, com a reorganização geográfica de núcleos de poder,

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inclusive do poder de interpretação e produção de conhecimento.


Em grande medida, a sociologia como disciplina poderá avançar
tendo como base pesquisas empíricas que busquem validar novas
teorias e conceitos. Nesse sentido, é fundamental maior diálogo e
troca de conhecimento através de pesquisas comparativas inter-
nacionais, que não se limitem ao que já tem sido produzido nos
Estrados Unidos e na Europa.

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