Você está na página 1de 2

CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo - V... http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/pareceres/versao...

imprimir
PARECER Órgão: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo
Número: 127292 Data Emissão: 2010
Ementa: Nos termos dos artigos 73 e 92 do Código de Ética Médica, relatório, boletim ou atestado é um direito do paciente, não
configurando um ato pericial, e é o paciente que deve, por escrito, autorizar a quebra de sigilo em documento a ser anexado ao prontuário
do paciente, onde o paciente expressa sua vontade de divulgação de seus atos médicos. Poderá o médico solicitar ao Juiz que nomeie perito
judicial que terá acesso ao paciente e seu prontuário, e elaborará o laudo requisitado pelo Juiz.

Consulta    nº  127.292/10


Assunto: Instituição religiosa que atende a pacientes deficientes físicos e mentais, ser solicitada pelo Poder Judiciário para
exarar laudos médicos destes, para fins de interdição, curatela, benefícios ou de bens herdados.

Relator:  Conselheiro João Soares Borges

Ementa:  Nos termos dos artigos 73 e 92 do Código de Ética Médica, relatório, boletim ou atestado é um direito do paciente, não
configurando um ato pericial, e é o paciente que deve, por escrito, autorizar a quebra de sigilo em documento a ser anexado ao
prontuário do paciente, onde o paciente expressa sua vontade de divulgação de seus atos médicos. Poderá o médico solicitar ao
Juiz que nomeie perito judicial que terá acesso ao paciente e seu prontuário, e elaborará o laudo requisitado pelo Juiz.

Médicos de instituição religiosa que atende a pacientes deficientes físicos e mentais, formulam diversas perguntas sobre laudos
médicos que são solicitados a respeito dos pacientes ali internados, e sob cuidados médicos dos consulentes para fins de
interdição, curatela, benefícios ou de bens herdados. Neste sentido, perguntam:

"1. Podemos ratificar esses laudos a pedido do Juiz sem o risco de ser caracterizado ato de perícia médica?

2. Podemos responder aos quesitos sobre a capacidade dos pacientes, quando solicitado no ato da ratificação, sem configurar
algum tipo de perícia?

3. Se isso se constituir em forma de perícia, estaremos cometendo uma infração ética por periciar nossos próprios pacientes?
Como devemos agir/responder ao Juiz?

4. No caso de outro médico da instituição, que não esteja assistindo o paciente, ele poderia responder aos quesitos
questionados e/ou ratificar esses laudos?

5. Caso algumas das ações anteriores forem consideradas irregulares ou infrações éticas, como proceder para resguardar as
ações médicas perante o Conselho Regional de Medicina e o Juiz?

6. Se, na ratificação, fizermos na forma de atestado médico, deixando claro não se tratar de perícia médica, seria suficiente
para descaracterizar um ato de perícia?"

PARECER

Após análise dos presentes autos, passamos a responder às perguntas dos consulentes de um modo geral:

Duas questões preliminares parecem ser fundamentais: quem solicita o laudo e a capacidade do deficiente para os atos da vida
civil. A consulta mistura deficiência física que não torna o paciente incapaz para a vida cível com deficiência mental que pode
ou não incapacitá-lo, dependendo do tipo e intensidade da deficiência mental.

Isto posto, vamos abordar inicialmente o deficiente físico.

É direito deste, requisitar de seu médico assistente um laudo médico sobre sua doença, seja para que fim for. Este laudo ou
relatório médico não configura uma perícia e o direito a ele está expresso no Código de Ética Médica, nos Capítulos IX e X,
artigos 73 e 91 do atual Código de Ética Médica, que rezam:

CAPÍTULO IX

SIGILO PROFISSIONAL

É vedado ao médico:

Artigo 73 - Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por motivo justo,
dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente.

Parágrafo único. Permanece essa proibição:

1 of 2 09/03/2022 13:13
CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo - V... http://www.cremesp.org.br/library/modulos/legislacao/pareceres/versao...

a) mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha falecido;


b) quando de seu depoimento como testemunha. Nessa hipótese, o médico comparecerá perante a autoridade e declarará
seu impedimento;
c) na investigação de suspeita de crime, o médico estará impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a
processo penal.

CAPÍTULO X

DOCUMENTOS MÉDICOS

É vedado ao médico:

Art. 91. Deixar de atestar atos executados no exercício profissional, quando solicitado pelo paciente ou por seu
representante legal.

Como se depreende da leitura dos artigos, o relatório, boletim ou atestado é um direito do paciente, não configurando um ato
pericial, e é o paciente que deve, por escrito, autorizar a quebra de sigilo em documento a ser anexado ao prontuário do
paciente, onde o paciente expressa sua vontade de divulgação de seus atos médicos.

Quanto ao paciente deficiente mental, há duas situações distintas: com e sem responsável legal ou curador.

Quando houver responsável legal ou curador é a este que o médico deve entregar o relatório ou laudo do seu paciente, seja para
que fim for, mediante autorização por escrito a ser anexada ao prontuário do paciente.

No caso de paciente deficiente mental sem curador, deve o médico avaliar o grau de discernimento do paciente e seu
diagnóstico para elaborar ou não o relatório, mediante autorização, por escrito, a ser anexada ao prontuário, onde deverá
constar a avaliação psiquiátrica que considerou o paciente com discernimento para os atos da vida civil.

Nos pacientes psiquiátricos sem discernimento e sem curador, deverá o médico assistente avaliar quem solicita e para que fim é
a solicitação à luz do artigo 73 já citado, se caracteriza ou não  "motivo justo".

Nesta situação, como na maioria das vezes, a requisição é judicial, poderá o médico ainda solicitar ao Juiz que nomeie perito
judicial que terá acesso ao paciente e seu prontuário, e elaborará o laudo requisitado pelo Juiz.

Este é o nosso parecer, s.m.j.

Conselheiro Antonio Pereira Filho

APROVADO NA 4.303ª REUNIÃO PLENÁRIA, REALIZADA EM 19.11.2010.


HOMOLOGADO NA 4.304ª REUNIÃO PLENÁRIA, REALIZADA EM 23.11.2010.

imprimir

2 of 2 09/03/2022 13:13

Você também pode gostar