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A indução da política pública de

enfrentamento à violência contra


crianças e adolescentes
Intersetorialidade e Atuação do MP
Garantia da Proteção Integral
Constituição Federal
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
(no mesmo sentido é o Art. 4º do ECA)
Atribuições do MP

Art. 127, CF O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Art. 201, ECA Compete ao Ministério Público
V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos
interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à
adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição
Federal ;
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados às
crianças e adolescentes, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais
cabíveis;
Atribuições do MP
no enfrentamento violência
Atuação criminal (encaminhado via delegacia de polícia ou requisitar a
instauração do IP se notícia veio antes pro MP; denúncia; processo
criminal; depoimento especial)
Protetiva Individual: Situação específica de uma criança que esteja em
situação de risco – verificar se houve escuta protegida, se foram aplicadas
de medidas de proteção para cessar a situação ou tratar as consequências;
aplicar medidas que extrapolam as atribuições da rede de proteção, como
a ação de afastamento de convívio ou outra providência que possa ensejar
propositura da ação judicial (caso de omissão, inefetividade ou ausência
do serviço)
Direitos Difusos e Coletivos: verificar e fomentar a garantia dos direitos
sociais de maneira coletiva pelo poder público e todo sistema de garantia
de direitos → contribuição na implementação das políticas públicas
Conceito Política Pública

Programa de ação governamental que resulta de um processo ou


conjunto de processos juridicamente regulados visando
coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades
privadas, para realização dos objetivos socialmente relevantes e
politicamente determinados (BUCCI, 2006)

Ou seja, as políticas públicas são a forma de o Estado garantir


efetivamente os direitos sociais, trazendo a solução quando estes
são violados.
Atuação do Ministério Público
nas políticas públicas

Atribuição na defesa dos direitos sociais e interesses individuais


indisponíveis que são concretizados por meio das políticas públicas,
especialmente quando houver omissão e má atuação da Administração.

• Instrumentos Tradicionais:
a) Ação Civil Pública
b) Inquérito Civil
c) Audiências Públicas
d) Recomendação
e) Compromisso de Ajustamento de Conduta
Atuação do Ministério Público
nas políticas públicas
• Contribuição para a melhoria das políticas públicas – isso envolve
estimular que o Estado formule e implemente da melhor maneira
• Ter consciência que a nossa responsabilidade não é formular a política
pública, mas agregar as forças estatais e sociais na efetivação dos
direitos fundamentais.
• Aproveitar da nossa posição de independência garantida pelas
prerrogativas constitucionais, que viabiliza o efetivo diálogo e
articulação com a Administração Pública e demais atores sociais
• Priorização do planejamento e direcionamento das ações para
questões que tenham maior repercussão social
Novo instrumento

Procedimento Administrativo de Acompanhamento de Políticas


Públicas
• Ato Normativo n. 934/15 – PGJ-CPJ-CGMP (disciplina o procedimento
administrativo de fiscalização e o procedimento administrativo de
acompanhamento)
• Resolução 173/2017 do CNMP (art. 8º, II)
Novo enfoque
de atuação do MP

• Priorização da atuação extrajudicial e resolutiva (Carta de Brasília,


Recomendação 54/17 CNMP)
• Buscar a solução concreta das situações de inefetividade dos direitos,
preferencialmente sem a necessidade de processo judicial e no menor
tempo e custo social possíveis (Recomendação 54/17 CNMP)
• Resolução consensual dos conflitos, controvérsias e problemas →
métodos autocompositivos, inclusive para garantia de direitos difusos
e coletivos (Recomendação 118/14 CNMP)
Novo enfoque
de atuação do MP
Na infância e Juventude
• fortalecimento da rede de proteção na prestação espontânea dos
serviços públicos
• Assumir seu papel no sistema de garantia de direitos – colaboração
horizontal na rede de proteção
• Princípios da Intervenção Mínima e Intervenção Precoce (art. 100, par.
ún., VI e VII, ECA)
• Buscar Prioridade Absoluta (art. 227, CF e art. 4º, ECA):
• preferência na formulação e na execução de políticas públicas;
• destinação privilegiada de recursos públicos
Ciclo das Políticas Públicas
1) Identificação do Problema (diagnóstico situação)
2) Formação da Agenda
3) Formulação de Alternativas
4) Tomada de decisão
5) Implementação
6) Avaliação
7) Extinção

(SECCHI, 2012)
Política Pública de
Enfrentamento a Violência
Base Normativa: CF, ECA, L. 13.431/17 e Decreto 9603/18 regulamentam a
política pública em âmbito federal e exigem a implementação local

É política pública intersetorial


• Estratégia para solução de problemas complexos, pois possibilita uma
abordagem integral e integrada
• Dificuldades porque não há tendência natural de colaboração e cultura
predominante é de atuação setorializada
(BICHIR et al, 2017)
Intersetorialidade

Art. 14. (L 13431/17): ações articuladas, coordenadas e efetivas voltadas ao


acolhimento e ao atendimento integral às vítimas de violência.
• Abrangência integral para todas necessidades da vítima
• Capacitação interdisciplinar
• Mecanismos de informação e monitoramento
• planejamento coordenado do atendimento e acompanhamento
• Celeridade do atendimento (intervenção precoce) – especialmente saúde
e produção probatória
• Intervenção mínima
• Monitoramento e avaliação periódica
Intersetorialidade
Art. 9º (Dec. 9603/18): atuação de forma integrada e coordenada, para tanto exige
(prazo de 180 dias):
• Comitê de gestão colegiada (no âmbito dos conselhos de direito)
• articular, mobilizar, planejar, acompanhar e avaliar as ações da rede intersetorial
• colaborar para a definição dos fluxos de atendimento
• Definição do fluxo de atendimento:
• articulação dos atendimentos; evitar superposição de tarefas; priorização da cooperação
• estabelecimento de mecanismos de compartilhamentos das informações (relatórios;
sistema – preservar sigilo)
• Definição do papel de cada serviço e a supervisão
• Criação de grupos intersetoriais locais
• discussão, acompanhamento e encaminhamento dos casos
Dificuldades de Implementação
da Intersetorialidade
• Falta de clareza, protocolo e regulamentação da atuação de cada um dos
setores – profissionais desconhecem suas atribuições
• Sem real envolvimento de todos setores da elaboração dos fluxos
• Falta de estrutura física e de pessoal para seu cumprimento (importância da
previsão orçamentária)
• Falta de capacitação dos profissionais
Pesquisas intersetorialidade das políticas públicas (Bichir et al, 2017):
Importância da atuação estatal na: i) definição dos objetivos da intervenção; ii)
adesão dos setores; iii) organização de recursos técnicos e humanos; iv)
definição de arranjos de coordenação (comitê intersetorial) e v) criação de
instrumentos para viabilizar a articulação entre os setores (sistema de
informação; base de dados; reuniões conjuntas) → tudo já previsto nas
diretrizes gerais da política pública de enfrentamento à violência!!
Como garantir
a implementação?
Importância da institucionalização local da política
Temos as normativas federais, mas os municípios precisam formular seus
respectivos programas.
Para tanto, temos que estimular/cobrar:
oIdentificação do problema (diagnóstico/levantamento de causas) e sua
inclusão na agenda pública dos municípios
oPlanejamento e tomada de decisões no âmbito municipal, inclusive para
previsão/execução orçamentária
oFormalização do programa por meio lei, decreto municipal, resolução
CMDCA, resoluções intersecretariais, plano municipal de enfrentamento
à violência contra criança e adolescente
oPrevisão no planejamento orçamentário (PPA, LOA e LDO)
Como garantir
a implementação?

oCriação do comitê intersetorial


oElaboração dos fluxos/protocolos com definição das atribuições
respectivas de cada serviço
oCapacitação contínua de todos profissionais envolvidos
oViabilização da estrutura material e de recursos humanos
oCriação de instrumentos para a intersetorialidade: canal de
comunicação, relatório, sistema de dados, reuniões periódicas para
discussão de casos
oSupervisão e Fiscalização da política (comissão intersetorial;
gestores; CT; MP; demais integrantes da rede)
Referências Bibliográficas

BICHIR, R; CANATO, P.C.; OLIVEIRA, M.C.. Capacidades estatais para a


implementação de políticas intersetoriais, 2017.
BUCCI, M. P. D. O conceito de política pública em direito. In Políticas
Públicas: Reflexões sobre o Conceito Jurídico (Maria Paula Dallari Bucci, org.)
São Paulo: Saraiva, 2006.
SECCHI. L, Políticas Públicas: Conceitos, Esquemas de Análise, Casos
Práticos. São Paulo: Cengage Learning, 2012
OBRIGADA!

mirellamonteiro@mpsp.mp.br

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