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A LEI Nº 13.

431/2017 E
O SISTEMA DE GARANTIA
DE DIREITOS DA
CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

A “lei da escuta protegida” como


a
de Garantia de Direitos:
escuta especializada e
depoimento especial.
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em CC BY-ND

Liz Mendes
MPDFT/NEVESCA
2022
• Constituição Federal (1988);
• Declaração Universal dos Direitos da
Criança (ONU, 1959) – Decreto n.
99.710/1990;
• Estatuto da Criança e do Adolescente
(1990);
• Resolução nº 20/2005 do Conselho
Econômico e Social das Nações Unidas;
SISTEMA DE • Resolução nº 113/2006 do Conselho
Nacional de Defesa da Criança e do
GARANTIA DE Adolescente;
Protocolo de Palermo e Lei nº
DIREITOS DA •
13.344/2016;
CRIANÇA E DO • Lei nº 13.431/2017.

ADOLESCENTE
A I M P O RTÂ N C I A D A L E I N . 1 3 . 4 3 1 / 2 0 1 7
NO ÂMBITO DO SGDCA

A Resolução CONANDA no 113/2006 é um instrumento normativo


elaborado com ampla participação da sociedade civil e que melhor
define o SGDCA quanto aos seus eixos (promoção, defesa e controle
dos direitos humanos) e princípios (proteção integral, prevalência do
melhor interesse e prioridade absoluta), mas é a Lei no 13.431/2017
que, suprindo a lacuna existente para garantir o acesso efetivo às
políticas públicas e à Justiça nas situações de ameaça e violação de
direitos humanos, estabelece como deve ser a interface de crianças e
adolescentes com as instâncias governamentais, além de contemplar
uma tipologia própria das violências endereçadas ao público infanto-
juvenil e prescrever um sistema protetivo específico para o manejo dos
fatores de risco e proteção, com medidas protetivas de urgência em
favor de crianças e adoles- centes vítimas e testemunhas de violência
(MENDES, 2021, p. 53-54).
R ES O LU Ç ÃO C O NAN DA N º 1 13 / 2 00 6
EIXOS:
I – DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS (ACESSO À JUSTIÇA);
II – PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS (POLÍTICA DE ATENDIMENTO);
III – CONTROLE E EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS (PARTICIPAÇÃO
SOCIAL).

MECANISMOS:
REGIMES DE COLABORAÇÃO ENTRE UNIÃO, ESTADOS, MUNICÍPIOS E DISTRITO
FEDERAL;
UNIÃO: FUNÇÃO NORMATIVA DE CARÁTER GERAL DA POLÍTICA DE
ATENDIMENTO E SUPLETIVA DOS RECURSOS;
ENTES SUBNACIONAIS: FUNÇÃO NORMATIVA ESPECÍFICA DAS POLÍTICAS DE
ATENDIMENTO E PRIORITÁRIA DOS RECURSOS.
A PROTEÇÃO INTEGRAL DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES VÍTIMAS E TESTEMUNHAS
• Funda-se na dignidade da pessoa humana em desenvolvimento com
prioridade absoluta (sujeito de direitos vs. objeto de intervenção
estatal);
• Pauta-se por atitudes, práticas e políticas intersetoriais de prevenção
e repressão a todas as formas de ameaça e violação aos direitos,
sobretudo as formas de violências descritas nas Leis n. 13.431/2017,
11.340/2006 e 14.344/2022;
• Objetiva alcançar os melhores interesses da criança (proteção e
desenvolvimento harmonioso);
• Estabelece como direito inegociáveis o acesso à informação
(expressão e silêncio) e à mínima intervenção de agentes e
órgãos/entidades públicas e privadas no escopo de proteção ou
reparação de danos (vedação à vitimização secundária).
E N T R E V I S TA S D E
CRIANÇAS E
ADOLESCENTES

• ESCUTA ESPECIALIZADA
(Artigo 7º)
• DEPOIMENTO ESPECIAL
(Artigos 8º e 11)
• REVELAÇÃO ESPONTÂNEA

https://www.tjpb.jus.br/noticia/comarca-de-areia-
instala-sala-de-depoimento-especial-para-escuta-de-
• Revelação espontânea: escuta da criança ou
adolescente com atenção, sem qualquer intervenção
do interlocutor, com posterior registro do relato
E N T R E V I S TA S (devendo ser efetuadas as notificações previstas no
D art. 13, caput, da Lei no 13.431/2017);
• Escuta especializada: procedimento de entrevista
ADOLESCENTES sobre situação de violência com criança ou
adolescente perante órgão da rede de proteção,
limitado o relato ao estritamente necessário para o
cumprimento de sua finalidade (art. 7o da Lei no
13.431/2017 e art. 19 do Decreto no 9.603/2018);
• Depoimento Especial: procedimento de oitiva de
criança ou adolescente vítima ou testemunha de
violência perante autoridade policial ou judiciária (art.
8o da Lei no 13.431/2017 e art. 22 do Decreto no
9.603/2018).
DISTINÇÕES E SEMELHANÇAS ENTRE
E S C U TA S E D E P O I M E N T O S

• Revelação espontânea vs. Escuta especializada e


Depoimento especial: a revelação espontânea se
dá essencialmente pelo relato livre e posterior
registro sucinto do relato para fins de provocação
de instâncias de proteção e de responsabilização,
se o caso.

• Escuta especializada e Depoimento especial: são


modalidades específicas de entrevistas com o http://www.tjes.jus.br/sala-de-
público infantojuvenil e possuem metodologias e depoimento-especial-para-criancas-e-
finalidades próprias, podendo seus conteúdos adolescentes-ja-esta-funcionando-no-
centro-avancado-da-infancia-e-da-
serem compartilhados para reduzir intervenções e juventude-de-vitoria/
evitar revitimização (Lei n. 14.344/2022).
DISTINÇÕES E SEMELHANÇAS ENTRE
E S C U TA S E D E P O I M E N T O S

• Escuta especializada vs. Depoimento especial:


* a escuta especializada destina-se a reunir elementos informativos para
construir um plano de segurança e proteção integral, mapear serviços
essenciais e monitorar a execução das políticas públicas específicas para
as crianças, os adolescentes e suas famílias (MENDES, 2021, p. 60).
* o depoimento especial busca reunir elementos probatórios para
subsidiar ações de responsabilização, principalmente na esfera criminal
e, em particular, nos crimes com violência à dignidade sexual (MENDES,
2021, p. 60).

Enquanto a escuta especializada tem interesse pelo contexto de riscos e


vulnerabilidades pessoais, familiares e comunitárias das vítimas para
propiciar suporte à equipe interdisciplinar da rede de serviços na escolha
dos tipos de intervenções e medidas protetivas mais apropriadas, o
depoimento especial busca principalmente reunir evidências sobre fato(s)
penalmente relevante(s), para respaldar, na maioria dos casos, processo
judicial que poderá resultar na responsabilização penal das/os autoras/es
de violência (MENDES, 2021, p. 60-61).
FUNDAMENTOS E
L
ESPECIAL

• AS CRIANÇAS VÍTIMAS E TESTEMUNHAS DEVEM SER


TRATADAS DE FORMA CUIDADOSA E SENSÍVEL E CONTAR
COM PROFISSIONAIS TREINADOS;
• AS INTERFERÊNCIAS NA VIDA PRIVADA DAS CRIANÇAS
DEVEM SER LIMITADAS AO MÍNIMO NECESSÁRIO, AO MESMO
TEMPO EM QUE SÃO MANTIDOS ALTOS PADRÕES DE
COLETAS DE EVIDÊNCIAS PARA ASSEGURAR RESULTADOS
JUSTOS E EQUITATIVOS DOS PROCESSOS DE JUSTIÇA;
• AS CRIANÇAS TÊM O DIREITO DE SE EXPRESSAREM
CONFORME SUA LINGUAGEM E CULTURA, DE
PERMANECEREM EM SILÊNCIO E DE TEREM PRESERVADA A
INTIMIDADE PELA CONFIDENCIALIDADE E POR UM
AMBIENTE PROTETIVO E SEGURO.
c
S
N
PREMISSAS DO DEPOIMENTO ESPECIAL
• Formalidade: segue protocolos e é intermediado, em regra, por profissionais
especialistas das áreas da psicologia, assistência social e antropologia. Obs.: o
depoimento prestado diretamente à autoridade judiciária não dispensa formação e
treinamento no protocolo. Obs.: PBEF (chilhood, CNJ, UNICEF, NCAC);
• Singularidade: a repetição pode configurar violência institucional – direito à mínima
intervenção). Lei n. 14.321/2022 define o crime de viol ência institucional;
• Eletividade: a criança por meio de representante legal deve concordar com o
procedimento. Obs.: não há unanimidade. Há quem defenda a obrigatoriedade com
condução coercitiva.
• Prioridade: deve ser realizado com brevidade e, se possível, em antecipação de provas;
• Segurança: preservação da intimidade em ambiente agradável, respeitoso e confiável;
• Diligência: precaução dos profissionais para interromper o procedimento se a criança
estiver constrangida ou fragilizada, garantindo-se o direito ao sil êncio e a não-
revitimização;
• Especificidade: é presidido pelas autoridades judiciária e policial para constituir prova
em processos no âmbito do sistema de Justiça.
H T T P S : / / W W W. I N . G O V. B R / E N / W E B / D O U / - / L
E I -N-14. 321-D E -31-D E -MA RC O -D E- 20 22-3
90279314

Art. 15-A. Submeter a vítima de infração penal ou a


testemunha de crimes violentos a procedimentos
desnecessários, repetitivos ou invasivos, que a leve a
reviver, sem estrita necessidade:
I - a situação de violência; ou
II - outras situações potencialmente geradoras de
sofrimento ou estigmatização:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Se o agente público permitir que terceiro intimide a
vítima de crimes violentos, gerando indevida revitimização,
aplica-se a pena aumentada de 2/3 (dois terços).
§ 2º Se o agente público intimidar a vítima de crimes
violentos, gerando indevida revitimização, aplica-se a pena
em dobro."

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CRÍTICAS AO DEPOIMENTO ESPECIAL

O artigo 18 da lei n. 8.069/1990 afirma que “é dever de todos velar pela dignidade da criança e do
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor”. Afirmar que a inquirição da criança, segundo os princípios do contraditório e da
ampla defesa, é indispensável à busca da verdade real é pensar pequeno. A nova ordem constitucional
conclama a mudança, não de nomenclatura, mas de princípios, “não podendo mais a criança ser usada
como instrumento para chegar a tão buscada verdade real, em desprezo aos prejuízos e des- confortos
que a inquirição lhe causa”. A elevação dos índices de condenação do réu pela prática de estupro de
vulnerável, não significa maior proteção à vítima, como querem os defensores da nova lei. Inadmissível
expor a criança a uma nova violência, agora de natureza institucional, submetendo-a ao depoimento, em
especial os menores de doze anos. Mais do que a condenação do réu, urge que se efetive a proteção
integral àqueles que estão em fase especial de desenvolvimento e que foram guindados, pelo
constituinte, à condição de prioridade absoluta sobre todos os demais bens jurídicos protegidos pela
Carta Maior (AZAMBUJA, 2019, p. 87).
https://www.tjdft.jus.br/informacoes/cidadania/nucleo-judiciario-da-mulher/document
os-e-links/arquivos/livro-mpve-abordagem-tecnica-das-situacoes-de-violencia-sexual-
versao-final-em-09-12-2021.pdf
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Obrigada!
Continuamos esse diálogo pelo e-mail:
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