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TRATADO DE DIREITO ELEITORAL LUIZFUX

LUIZ FERNANDO CASAGRANDE PEREIRA


WALBER DE MOURA AGRA
Coordenadores

Luiz Eduardo Peccinin


Organizador

DIREITO PARTIDÁRIO

Belo Horizonte

'1Fórum
COIIHEC/IIEIITO JUII/OICO

2018
TRATADO DE DIREITO ELEITORAL SUMÁRIO

Coordenadores Organizador Comissão Científica Comissão Executiva


Luiz Fux Luiz Eduardo Peccinin Robcrta Maia Cresta Maitê Chaves Marrez
Luiz Fernando Casagrande Pereira Frederico Franco Alvim Paulo Henrique Golambiuk
Walber de Moura Agra João Andrade Neto Waldir Franco Félix Júnior

© 2018 Editora Fórum Ltda.

É pr ?ibída a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,
.
mclus,vc por processos xerográficos, sem autorização expressa do Editor.

Conselho Editorial
PARTE I
Adilson Abreu Dallari Egon Bockmann Moreira Mareia Carla Pereira Ribeiro DIREITO PARTIDÁRIO
Alécia Paolucd Nogueira Bicalho Emerson Gabardo Márcio Cammarosano
Alexandre Coutinho Pagliarin.i Fabrício Motta Marcos Ehrhardt }r.
André Ramos Tavares Fernando Rossi Maria Sylvia Zanella Oi Pietro
Carlos Ayres Britto Flávio Henrique Unes Pereira Ney José de Freitas CAPÍTULOl
Carlos Mário da Silva VeJlow Floriano de Azevedo Marques Neto Oswaldo Othon de Pontes Saraiva Filho
Cármen Lúcia Antunes Rocha Gustavo Justino de Oliveira Paulo Modesto DEMO CRACIA E PARTIDOS POLÍTICOS
Cesar Al1gusto Guimarães Pereira Inês Virgínia Prado Soares Romeu Felipe Bacellar Fílho
........,................, 15
Clovis Bcznos
Crístiana Fortini
Jorge Ulisses Jacoby Fernandes Sérgio Guerra MARCUS VINICIUS FURTADO COÊLHO ....,....................................................
Juarez Freitas Walber de Moura Agra
...,...,...... 21
Dinorá Adelaide Musetti Crotti Luciano Ferraz Referências ,..,,,,,.................................,.............,........... , ..... ,..,,,,... ,,,,..,,.........,..............
Diogo de Figueiredo Moreira Neto lúcio Delfino

CAPÍTUL02
DIREITOS PARTIDÁRIOS: EXAME CRÍTICO E PROPOSTAS SOBRE A
'1Fórum &OINIE&l#fflr(I JUIÍIJl&I
REGULAÇÃO JURÍDICA DO SIST EMA PARTIDÁRIO BRASILEIRO
............................... 23
RAFAEL MORGENTAL SOARES......................................................................
Luís Cláudio Rodri gues Ferreira
Presidente e Editor
............... 23
Coordenação editorial: Leonardo Eustáquio Siqueira Araújo 2.1 Introdução ........,,,,...,...,,.....,..................................., ..............,,,..,,... ,,.....,,...,,..............
.............. ................ ,.............. ..... 25
Av. Afonso Pena, 2770 -152 andar - Savassi - CEP 30130-012 2.2 Panorama do sistema partidário atual,,..,............................
, ...,.,.......... 26
Direitos existenciais ........................................,,...,,,,...............,...,..,...,..............,......
Belo Horizonte - Minas Gerais-Tcl.: (31) 2121.4900 / 2121.4949
www.editoraforum.com.br -editoraforumcrreditoraforum.com.br 2,3
,......,......... 32
2.4 Direitos econômicos.,....... , ............. ,......,......................,..,...,,,,,....,.,...........,,,,... ,,,,...
,,................ 38
D597 Direito Partidário ! Luiz Fux, luiz Fernando Casagrande Pereira, Walber de Moura
_ 2.5 Direitos eleitorais.,,,,,,,...,,,...,.. ,...,.,.... , ...,.,..,.,..........,.................................,.............
Agra (Coord.); luiz Eduardo Peccinin (Org.). - Belo Horizonte: Fórum, 20'!8.
......... 41
426 p. 2.6 Direitos políticos .............................. ..................................,.............................................
,.,.. ..,...... 43
,,
Tratado de Direito Eleitoral 2.7 Conclusões..,...,,..,......,......,......,..........,..........,..............,......,..........,..,..,....,.....,,..,,,,...
,..,,...,.. 44
Referências ............ ,.........,,,,..,,,....,,,,...,,,,,,,....,.,...,..............,.....................,.....................
V. 2

ISBN da Coleção: 978•85•450-0495-0


ISBN do Volume: 978•85•450·0497•4

1. Direito Elt:>itoraL �· Díreito Constitucional. 3. Direito partidário. 4. Ciênci.:1 Políticit. CAPÍTUL03


.
PARTIDOS POLÍTICOS E A BUSC A DA AMPLA REPRESENTATIVIDADE: UM
l Fu �, Luiz . u. Pereira, Luiz Fcrnt1ndo Casagrande. III. Agra, Walber de Moura. IV.
; . .
1 eccmm, Lmz Eduardo. V. Título,
CDD 34l.28 ES TUDO COMPARADO ENTRE BRASIL E COLÔMBIA
CDU 342.8
ANA PAULA FULIARO ...................................................................................................................... 45
lnformaçâo bibliográfica deste livro, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT):
3.1 Introdução .............................................. ,..,,.........,,,,,..,,,...,.......,.................,...,...... , ... ,......,.....,,, 45
3.2 Partido político e representação política ............................................................................... 46
FUX, Luiz; PEREIRA, L,'.iz Fernando Casagrande; AGRA, Walber de Moura (Coord.); PECCININ
Lu1 z Eduardo (Org.). D1re1to Partidário. Belo Horizonte: Fórum, 2018. 426 p. (Tratado de Direit�
.
3.3 Opartido político no Brasil: regras para criação e extinção............................................... 49
Ele,toral, v. 2.) ISBN 978•85·450•0497•4.
3.4 O partido político na Colômbia: regras para criação e extinção........................................ 52
3.5 Considerações finais ................................................................................................................. 56
Referências ........................,.........,......,.....................,....,...,,,,,..,.......... , ...... , .......... ,........,,,,,,, ..... 57
LUIZ FUX, LUIZ r:ERN/\NIX) C. PEREIRA, WALBER Df. MOU RA AGR I\ (COORD.) • LUIZ EDUARDO PECCJNIN (ORG.)
206 1 DI.REITO PARTIDÁRIO

CAPÍTUL03
Informação bibliográfica deste texto, conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT):

SCHLICKMANN, Denise Goulart. Prestação de contas partidárias: o dever de prestar contas e a evolução
do instituto no Brasil. ln: FUX, Luiz; PEREIRA, Luiz Fernando Casagrandc; AGRA, Walber de Moura
(Coord.); PECCININ, Luiz Eduardo (Org.). Direito Partidário. Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 191-206.
(Tratado de Direito Eleitoral, v. 2.) ISBN 978-85-450-0497-4.

PRESTAÇÃO DE CONTAS PARTIDÁRIAS:


INEFICIÊNCIAS E LACUNAS

KAMILE MOREIRA CASTRO


RICARDO REGIS RODRIGUES DA SILVA

3.1 Introdução
Este artigo não busca fazer uma análise histórica, conceituai ou estritamente
técnica-contábil das Resoluções do TSE, que dispõem sobre a arrecadação e os gastos de
recursos por partidos políticos e candidatos e sobre a prestação de contas nas eleições, ou das
demais normas pertinentes às Finanças e Contabilidade dos Partidos.
Não se pretende também através deste estudo analisar e discorrer sobre as
agremiações partidárias, 1 estas que sem sombra de dúvida são essenciais à viabilização
da democracia,2 muito embora o cenário hoje seja o de se rediscutir todo o sistema
político, partidário e eleitoral brasileiro. Isso, devido, principalmente, à perda de
identidade ideológica e fuga dos programas partidários pelas agremiações, assim como
aos escândalos financeiros e políticos (PC/Collor, mensalão, lava jato etc.). Estes que
expuseram e escancararam as relações espúrias entre partidos, setor privado e poder
público, bem como as fragilidades do próprio sistema de controle e fiscalização.
Nos processos judiciais e investigativos (em especial nas delações premiadas)
relacionados às referidas operações, soube-se que as empresas investigadas realizaram
doações a partidos políticos e seus candidatos, sendo que em alguns casos para a
agremiação em ano anterior ao pleito e muitas vezes com origem ilícita (caixa 2, tráfico
de drogas, crime organizado etc.). Emergindo ilegalidades nas mais diversas áreas do
Direito.
Em termos de campanha eleitoral, as eleições, principalmente para o Poder
Executivo, sempre foram marcadas pelo crescente aumento dos gastos, e apesar de na
teoria ter ocorrido a redução do tempo de campanha, a limitação de gastos e a exclusão
da participação da pessoa jurídica, na prática aconteceu e estimulou-se a busca por

1
Cf. arts. l º ao 3º da Constituição Federal de 1998.
2 Cf. art. 17 da Constituição Federal de 1998.
20S I
LUIZ FUX, LUIZ FERNANDOC. PEREIRA, WALBER DE MOURA AGRA (COORD,) • LUIZ EDUARDO PECCININ (ORG.)
DIREITO PARTIDARIO • KAMILE. MOREIRA CASTRO, RICARDO REGI$ RODRIGUES DA SILVA
PRESTAÇ/\0 DE. CON'I AS PARTIDÁRIAS: INEFICIÊNCIAS E LACUNAS
1 209

alternativas à margem da legislação, já que na vida real as despesas continuaram as das despesas com as atividades partidárias e eleitorais, mediante o exame formal dos
mesmas. 3 documentos fiscais apresentados pelos partidos políticos e candidatos", dispôs no mesmo
Tem-se, assim, que as contas "não prestadas" e as receitas e despesas "não §1Q do artigo 34 da Lei dos Partidos Políticos, que fica "vedada a análise das atividades
contabilizadas" são o ponto crítico da Accountability. político-partidárias ou qualquer interferência em sua autonomia."
Na busca de alcançar o seu objetivo, este texto explorará, sem esgotar a matéria, Já a Lei nº 11.300/06, visando coibir as ilicitudes relativas à arrecadação e gastos
algumas questões relativas às dificuldades de se abordar nas Prestações de Contas de recursos, introduziu o art. 30-A da Lei nº 9.504/97 (com posterior redação pela
Partidárias (tangenciaremos as dos candidatos também, pois encontram-se de algum Lei nº 12.034/09), que juntamente com o RCED (antes do julgamento do Processo nº
modo ligadas às dos partidos 4) todo o cenário que envolve os partidos, com sua 8-84.2011.6.18.00 pelo TSE, que reconheceu a inconstitucionalidade do inciso IV do art.
contabilidade e finanças, trazendo lacunas e ineficiências do sistema de controle e 262 do Código Eleitoral, e da Lei nº 12.891/2013, que revogou todos os incisos) e AIME
fiscalização. Examinam-se as regras e faz-se um enfrentamento crítico e particular do acabam por ser os maiores identificadores e sancionadores dos abusos econômicos e
assunto, citando também um pouco da doutrina especializada e jurisprudência. políticos, muitas vezes sequer detectados na prestação de contas (sendo que aprovação
No terna, nos últimos anos tivemos muitos avanços, com legislações mais realistas, ou desaprovação, por si só, não enseja a procedência ou improcedência da ação prevista
mas também retrocessos, seja a partir do Poder Judiciário ou do Legislativo. Porém, certos no artigo 30-A, da Lei nº 9.504/97).
de que o sistema eleitoral perfeito não existe, acreditamos que as alterações legislativas Como toda informação contábil e como corolário do princípio da publicidade
e as decisões judiciais devem, em prioridade, ocorrer de forma a: assegurar o direito à (CRFB/88, arts. 1º, caput, 5º, XXXIII, e 37, caput), deve a prestação de contas partidária, seja
informação (CRFB/88, 5º, XIV); dificultar a influência do poder econômico no cenário a anual (CRFB/88, art. 17, III) ou a de campanha eleitoral (art. 34 da Lei nº 9.096/1995), ter
político e nas campanhas eleitorais; permitir uma maior moralização e transparência corno característica a transparência, a tempestividade, a veracidade e a confiabilidade,
das contas; e garantir a igualdade entre todos os players do processo eleitoral. principalmente. A accountability, segundo José Jairo Gomes, permite a realização de
Isso, claro, acompanhadas de uma reforma coesa do sistema eleitoral e do contrastes e avaliações, prevenindo notadarnente o abuso de poder econômico, que se
fortalecimento das Instituições, possibilitando um efetivo e célere controle das receitas configura a partir de divergências verificadas entre os dados constantes da prestação de
e das despesas com as atividades partidárias (tão desprestigiada pela sociedade). contas e a realidade da campanha. Muito embora, completa o renomado doutrinador,
"ninguém em sã consciência declarará na prestação de contas o uso de recursos emanados
de fontes vedadas ou exporá o uso abusivo de recursos".6
3.2 Problematização do terna Na Justiça Eleitoral há uma Seção pertencente à Secretaria de Controle Interno
e Auditoria responsável pela análise e elaboração de um Parecer Técnico Conclusivo,
O Código Eleitoral de 1950, no capítulo sobre partidos políticos, possuía dispositivo
apontando a existência ou não de atecnias/irregularidades, sugerindo, por fim, a
relacionado à "prestação de contas", mas sem urna efetiva regulamentação do controle
aprovação ou desaprovação da Prestação de Contas, que será encaminhada ao Ministério
e fiscalização. Esta somente teve início com a entrada em vigor da "Lei Orgânica dos
Público Eleitoral e posteriormente ao Juiz Relator. Este que, não raro, fica muito adstrito
Partidos Políticos" (Lei nº 4.740, de 15 de julho de 1965- Capítulos relativos ao "Fundo
ao Parecer Técnico Conclusivo emitido pela respectiva Seção.
Partidário" e "Finanças e Contabilidade dos Partidos"), e após a edição das Leis nºs
Insta registar que o julgamento da prestação de contas pela Justiça Eleitoral não
9.504/97 e 9.096/95 (ainda vigentes) várias legislações surgiram, realizando alterações
afasta a possibilidade de apuração por outros órgãos quanto à prática de eventuais
diversas, objetivando o aprimoramento e fiscalização da prestação de contas.
ilícitos antecedentes e/ou vinculados, na forma do art. 35 da Lei nº 9.096/95,7 e do art.
Os partidos políticos estão obrigados constitucionalmente a prestar contas, mas
92 da Resolução do TSE nº 23.463/15.8 E neste ponto, reside urna das grandes discussões
a regulamentação encontra-se essencialmente nas Resoluções e jurisprudências do TSE,
atuais no tocante à matéria penal, na qual o Ministério Público Federal manifesta-se a
bem como existe a obrigatoriedade de observar as normas estabelecidas pelo Conselho
favor da inclusão dos partidos às penalidades da Lei nº 12.846/13 (As 10 medidas contra
Federal de Contabilidade. 5
A Lei nº 13.165/15, que alterou as Leis nºs 9.504/97, 9.096/95 e 4.737/65, ao
estabelecer que o escopo da fiscalização é "identificar a origem das receitas e a destinação 6
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 12, ed,, Atlas, 2016, p. 420.
7
"Art 35. O Tribunal Superior Eleitoral e os Tribunais Regionais Eleitorajs, à vista de denúncia fundamentada de
filiado ou delegado de partido, de representação do Procurador-Geral ou Regional ou de iniciativa do Corregedor,
determinarão o exame da escrituração do partido e a apuração de qualquer ato que viole as prescrições legais ou
3 Deslocamentos, carros de som, propaganda em bens particulares, material impresso de propaganda, comícios, estatutárias a que, em matéria financeira, aquele ou seus filiados estejam sujeitos, podendo, inclusive, determinar
produção da propaganda em rádio e televisão, despesas com pessoal, dentre muitas outras. a quebra de sigilo bancário das contas dos partidos para o esclarecimento ou apuração de fatos vinculados à
4
Lembrando que devem ser prestadas separadamente, de forma autônoma, as contas dos candidatos e partidos, denúncia."
pois são inconfundíveis. 8 "Art 92, O julgamento da prestação de contas pela Justiça Eleitoral não afasta a possibilidade de apuração
5 De acordo com a Lei nº 9.096/95 o partido está obrigado a enviar, anualmente, à Justiça Eleitoral, o balanço por outros órgãos quanto à prática de eventuais ilícitos antecedentes e/ou vinculados, verificados no curso de
contábil do exercício findo, até o dia 30 de abril do ano seguinte. Estando desobrigado a esta apresentação o investigações em andamento ou futuras.
Órgão partidário municipal que não haja movimentado recursos financeiros ou arrecadado bens estimáveis Parágrafo único, A autoridade judicial responsável pela análise das contas, ao verificar a presença de indícios de
em dinheiro, exigindo-se do responsável partidário, no mesmo prazo, apenas a apresentação de declaração da irregularidades que possam configurar ilícitos, remeterá as respectivas informaçôes e documentos aos órgãos
ausência de movimentação de recursos no período (§4°, art 32, Lei nº 9.096/95). competentes para apuração de eventuais crimes (Lei nº 9.096/1995, art 35; e Código de Processo Penal, art. 40),"
LUIZ. FUX. LUIZ F�RNANOOC. PEREIRA, WALBER DE MOURA AGRA (COORO.) • LUIZ EDUARDO PECCININ (ORG.) KAMlLE MOREIRA CASTRO, RICARDO REGIS RO0RIGUf5 DA SILVA
210 1
DIREITO PARTIDARJO PRESTAÇÃO DE CONTAS PARTIDÁRIAS: lNEFIClÊNCIAS E LACUNAS 1 211

a corrupção - Projeto de Lei nº 4850/2016), estabelecendo a responsabilidade objetiva Entre as outras principais sanções estabelecidas na legislação específica do tema,
dos mesmos, já que no atual momento, apenas os dirigentes (pessoas físicas) podem tem-se: julgadas não prestadas as contas do órgão naeional do partido, o cancelamento
responder por eventuais crimes cometidos em benefício das agremiações. do registro civil e do estatuto (art. 28, caput e inciso III, da Lei n2 9.096/95); a desaprovação
Defende ainda o MPF a criminalização do caixa 2 para as pessoas físicas direta­ das contas do partido implicará exclusivamente a sanção de devolução da importância
mente envolvidas na movimentação e utilização desses recursos, cuja pena seria de apontada como irregular, acrescida de multa de até 20% (art. 37, caput, da Lei n2 9.096/95);
reclusão de 4 a 5 anos. a responsabilização pessoal civil e criminal dos dirigentes partidários decorrente da
A Medida número 8 (oito) do projeto propõe: desaprovação das contas partidárias e de atos ilícitos atribuídos ao partido político, que
somente ocorrerá se verificada irregularidade grave e insanável resultante de conduta
[ ... ] a modificação da Lei nº 9.096/95 para prever a responsabilização objetiva dos partidos dolosa que importe enriquecimento ilícito e lesão ao patrimônio do partido (art. 37, §13,
políticos em relação à sua contabilidade paralela (caixa 2), e à prática de ocultar ou da Lei n2 9.096/95); o órgão partidário, de qualquer esfera, que tiver as suas contas julgadas
dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade
de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal, de como não prestadas fica obrigado a devolver integralmente todos os recursos provenientes
fontes de recursos vedadas pela legislação eleitoral ou que não tenham sido contabilizados do Fundo Partidário que lhe forem entregues, distribuídos ou repassados (art. 48, §2º, da
na forma exigida pela legislação. Também responderá o partido se utilizar, para fins Resolução TSE nº 23.464/15); encaminhamento dos autos ao Ministério Público para fins
eleitorais, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal, de fontes de recursos do artigo 22 da LC nº 64/90 (art. 22, §42, da Lei nº 9504/97); o partido que descumprir as
vedadas pela legislação eleitoral ou que não tenham sido contabilizados na forma exigida normas referentes à arrecadação e aplicação de recursos fixadas na Lei nº 9.504/97 perderá
pela legislação. A pena é de multa.9 o direito ao recebimento da quota do Fundo Partidário do ano seguinte, sem prejuízo de
responderem os candidatos beneficiados por abuso do poder econômico (art. 25, caput).
O art. 17 do projeto altera a Lei nº 9.096/95, para vigorar acrescida, em seu Título A sanção, na falta de prestação de contas, da suspensão de novas cotas do Fundo
III, dos arts. 49-A, 49-B e 49-C. A Lei nº 9.504/97, para vigorar acrescida dos arts. 32-A Partidário enquanto perdurar a inadimplência e que sujeitará os responsáveis às penas
e 32-B. O art. 105-A da Lei nº 9.504/97 passa a vigorar acrescido do parágrafo único. 10 da lei (artigo 37-A da Lei nº 9.096/95), tem sido a que mais preocupa as agremiações que
No que tange ainda à questão criminal, apesar de o artigo 34, IV, da Lei nº 9.096/95 recebem o Fundo Partidário, já que se trata da maior fonte de recursos. Apesar de não
ter estabelecido a obrigatoriedade de o partido político conservar a documentação cobrir todas as despesas, pelas razões acima, ainda vem motivando a apresentação das
comprobatória de suas prestações de contas pelo prazo não inferior a cinco anos, e contas.12 Entretanto, como a realidade tem mostrado que a grande maioria dos Diretórios
do artigo 32 da Lei nº 9.504/97, o dever para os candidatos e partidos de conservar a Municipais e Regionais não recebem cotas do Fundo, aqueles costumam não apresentar
documentação concernente a suas contas pelo prazo mínimo de cento e oitenta dias contas, prestar de forma zerada, ou sem os elementos mínimos que permitam a análise
após a diplomação, 11 o legislador não previu sanção específica para o descumprimento pela Justiça, ensejando punição de suspensão de recebimento de valores que nunca
de referidos dispositivos. A doutrina é que vem afirmando que se no prazo houver receberam ou nem receberão (ao Diretório Nacional cabe a distribuição).
destruição, supressão ou ocultação de documentos, pode-se cogitar do delito tipificado Tem-se, assim, que a não prestação de contas anual para aqueles Diretórios13 ainda
no artigo 305 do Código Penal. é muito vantajosa, não intimidando sequer os partidos a falta de rigorosa norma que o
excluam do pleito, que cancele seu registro, ou que torne devedores ou inadimplentes os
respectivos responsáveis partidários. Sequer se cogita de inelegibilidade dos dirigentes
• Disponível em: <http://www.dezmedidas.mpf.mp.br/apresentacao/conheca-as-medidas>. Acesso em: 29 dez. ou de alguma forma de seus afastamentos da Direção, por exemplo.
2017.
Para o TSE, inclusive, não prestar contas não enseja sequer a prática do crime
'° Segundo a Justificativa do Projeto de Lei (Disponível em: <http://www.dezmedidas.mpf.mp.br/apresentacao/
conheca-as-medidas/docs/medida_8_versao-20l5-06-25.pdf >. Acesso em: 29 dez. 2017): de desobediência previsto no artigo 34714 do Código Eleitoral, restando apenas as
"O art. 49-A proposto prevê a responsabilidade dos partidos políticos pelos atos ilícitos descritos no art. 5° da penalidades político-administrativo, como destacado.
Lei 12.846/2013 e, também, por condutas de "Caixa 2", "lavagem de capitais" e utilização de doações de fontes
vedadas. Ele traz um roteiro para a aplicação das sanções, limitadas, a princípio, à esfera partidária responsável
Registre-se que a Minuta de Resolução para o Pleito de 2018, aprovada na Sessão
pela prática dos atos irregulares. O art. 49-8 descreve a extensão e o modo de cálculo das sanções propostas, e o do TSE de 18.12.201715 e ainda sem publicação, 16 ao contrário da Resolução TSE 23.463/15,
art. 49-C, a legitimação e o rito processual das ações a serem levadas à Justiça Eleitoral.
Propõe-se, também, a alteração da Lei das Eleições, Lei nº 9.504/1997, para tipificar, como crime, a conduta do
"Caixa 2" - art. 32-A - e a variante eleitoral da Lavagem de Dinheiro, art. 32 - B. São situações que apresentam 12
"dignidade penal", em razão de sua grande repercussão nas disputas eleitorais, que podem ser por essa prática Como grande novidade para o pleito de 2018, sendo mais uma fonte de recursos a ser fiscalizado na prestação de
desequilibradas. contas, tem-se a criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (Redação dada pela Lei nº 13.488/17),
Além disso, há insuficiência das sanções extrapenais, como a rejeição das contas de candidatos ou partidos e regulamentado nos artigos 16-C e 16-D da Lei n" 9.504/97.
mesmo a cassação do diploma que, por definição, só alcança candidatos eleitos. A quantidade de pena prevista 13 Para o Nacional, regula o artigo 28, caput e III, da Lei nº 9.096/95.

para a conduta eleitoral de "lavagem" corresponde às penas da Lei nº 12.683, de 9 de julho de 2012, especialmente " RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA n• 562, Acórdão, Relator(a) Min. Carlos Eduardo Caputo Bastos,
para evitar que ilícitos de idêntica gravosidade recebam sanção distinta. Publicação: D/ 16.06.2008, p. 27; RECURSO ESPECIAL ELEITORAL nº 15105, Acórdão, Relator(a) Min. José
Por fim, faz-se a proposição de inclusão de um parágrafo único no artigo 105-A da lei referida, para regulamentar o Eduardo, Publicação: DJ 19/12/1997, p. 145.
procedimento preparatório de alçada do Ministério Público Eleitoral, hoje previsto apenas em normativa infralegal." 15 Disponível em: <http://www.tse.jus.br/im prensa/noticias-tse/2017/Dezembro/tse-aprova-10-resolucoes-sobre­
11 Sendo regras-das-eleicoes-gerais-de-2018>. Acesso em: 29 dez. 2017.
que na existência de recurso pendente de julgamento, a documentação deverá ser preservada até a decisão
final, ainda que ultrapassado aquele prazo. 1
' Disponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/tse-2018-prestacao-contas.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2017.
LLJIZ FUX, LUIZ FERNANIX>C. ?EREIRA, WALBER DE MOURA A GRA (COORO.) • LUIZ EDUARDO PECCININ (ORG.)
212 1 1 213
KAMlLE MOREIRA CASTRO, RICARDO RECIS RODRIGUES DA SltVA
DIREITO PAKTIDARIO PRESTAÇÃO DE CONTAS PAR11DÁRIAS, INEFICIÊNCIAS E LACUNAS

que dispõe sobre a arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos e candidatos e A Ministra Cármen Lúcia, invocando o constitucionalista Canotilho, escreveu
sobre a prestação de contas nas eleições de 2016, traz dispositivo 17 que determina ao partido de sua obra que: "a exigência de anonimato é incompatível não apenas com o dever
político, no caso de julgamento de contas eleitorais como "não prestadas", além da perda de prestar contas mas também com a liberdade interna (' quem paga, diz a música que
do direito ao recebimento da quota do Fundo, a suspensão do registro ou da anotação se deve tocar nos partidos políticos. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e
do órgão de direção estadual ou municipal. Teoria d,a Constituição. 7. ed. 2. reimpr. Coimbra: Almedina, 2003. p. 322)".
Sendo que a Lei n2 9.096/95 determina apenas que a desaprovação das contas do E que a lei, ao ocultar informações, retira a efetividade do controle da justiça
partido não suspende o registro ou a anotação de seus órgãos de direção partidária, nem eleitoral e, por consequência, impede a prestação de contas transparente, representando
toma devedores ou inadimplentes os respectivos responsáveis partidários (art. 37, §2º, grave ofensa aos princípios, direitos e garantias fundamentais (CRFB/88, arts. 1º, caput,
da Lei nQ 9.096/95), bem com que a "desaprovação da prestação de contas do partido 5º, XIV e XXXIII, 14, §92 e 37, caput). Omite-se não só dos órgãos de controle e do eleitor
não ensejará sanção alguma que o impeça de participar do pleito eleitoral" (art. 32, §5º, - que fica impossibilitado de saber quem está financiando o candidato e que interesses
da Lei nº 9.096/95, com redação dada pelo minirreforma de 2015). poderão ser patrocinados pelo mesmo, caso seja eleito, exercendo indevida influência
Ainda em manifesto retrocesso e em ofensa ao art. 17, III, da Constituição Federal na política governamental21 -, como também dos próprios candidatos beneficiados, que
de 1988, a Lei nº 13.165/2015 incluiu o parágrafo doze18 no artigo 28 da Lei nº 9.504/97, ficam impedidos de rejeitar a doação por não saberem sua origem.22
positivando as "doações ocultas" de partidos políticos a candidatos, ao determinar que Válido registrar que o TSE no julgamento do Recurso Especial Eleitoral n2 86348
o registro fosse feito "sem a individualização dos doadores". Entretanto, o STF deferiu, (Relator Min. Luiz Fux, Publicação: D]e, Data 15.03.2016, p. 35-36), referente ao pleito
por unanimidade (ainda sem julgamento definitivo), medida cautelar na ADI nº 5.394, em de 2012, entendeu que a desaprovação das contas de partido, auferidas por fonte
12 de novembro de 2015, para suspender a expressão "individualização dos doadores", vedada pela legislação, não teria o condão de contaminar automaticamente as contas
até o julgamento final da ação, conferindo, por maioria, efeitos ex tunc à decisão. do candidato a quem foi repassada parcela desses recursos e que os tenha empregado
Na ADI nº 5.390, destacou com muita precisão o Relator, Ministro Teori Zavascki, 19 em sua campanha eleitoral.
que: Assentou o Tribunal, por unanimidade, que a contaminação implicaria "indevida
e odiosa hipótese de responsabilidade objetiva na seara eleitoral", que as contas dos
Ao determinar que as doações feitas a candidatos por intermédio de partidos sejam candidatos e partidos "são inconfundíveis, de maneira que a análise de cada uma delas
registradas sem a identificação dos doadores originários, a norma institui uma metodologia deve ocorrer de forma autônoma e independente", e que, a prevalecer o entendimento do
contábil diversionista, estabelecendo uma verdadeira "cortina de fumaça" sobre as
TRE/MG, "todo candidato seria litisconsorte passivo unitário ou, no mínimo, assistente
declarações de campanha e positivando um controle de fantasia.
Pior, premia o comportamento elusivo dos participantes do processo eleitoral e dos com sua agremiação". Sobre a relação e comportamento dos candidatos com a prestação
responsáveis pela administração dos gastos de campanha, reverenciando o patrocínio de contas dos partidos, apontou:
eleitoral dissimulado. Isto sem dúvida alguma atenta contra todo um bloco de princípios
constitucionais que estão na medula do sistema democrático de representação popular, Os candidatos ver-se-iam compelidos a fiscalizar previamente as contas de seus partidos, o
como o princípio republicano, o da moralidade e o da publicidade. que, em uma análise realista do desenho institucional, desestimularia, em vez de incentivar,
os cidadãos a lançarem-se na competição eleitoral.
No mesmo julgamento, o Ministro Dias Toffoli, citando doutrina de José Jairo Os partidos, como cediço, percebem recursos dos mais diferentes doadores, não se
afigurando viável discriminar, de maneira precisa, a parcela encaminhada aos candidatos
Gomes, 20 lembrou bem que o financiamento de campanhas eleitorais por particulares
provenientes de fonte lícita daquela originada ilicitamente. Em consequência, exceção
muitas vezes pressupõe o comprometimento do candidato para com os interesses do feita aos casos em que a integralidade da doação se deu mediante fontes vedadas, a
doador, este que por sua vez espera um "retorno" daquele, caso venha a ser eleito. desaprovação automática das contas dos candidatos encerraria medida insipiente e sem
"Retorno" que, algumas vezes, revela-se de "conteúdo econômico-financeiro, angariado amparo jurídico. 23
por meio da corrupção política".
Outra questão que vinha sendo reiteradamente discutida e que está relacionada
a transparência das contas, mas sobre o julgamento efetivo das mesmas, diz respeito
17
"Art. 83. A decisão que julgar as contas eleitorais como não prestadas acarreta: ao prazo para juntada de documentos. Em boa hora, regulamentando em definitivo
I - ao candidato, o impedimento de obter a certidão de quitação eleitoral até o final da legislatura, persistindo os
efeitos da restrição após esse período até a efetiva apresentação das contas; a questão, a minirreforma de 2015 no artigo 37, §11, da Lei nº 9.504/97, estabeleceu a
II- ao partido político, a perda do direito ao recebimento da quota do Fundo Partidário e a suspensão do registro
ou da anotação do órgão de direção estadual ou municipal."
1
• "Art. 28. (omissis)
21
Para os críticos do julgamento, existe o artigo 23, caput e §7", e o art. 27, ambos da Lei nº 9.05/97 como forma de
§12. Os valores transferidos pelos partidos políticos oriundos de doações serão registrados na prestação de contas realizar apoio eleitoral sem a devida contabilização ou efetivo aporte financeiro.
dos candidatos como transferência dos partidos e, na prestação de contas dos partidos, como transferência aos 22 Muito embora no Modelo Representativo estabelecido na nossa Carta Magna, onde não existe o recai/, a avaliação
candidatos, sem individualização dos doadores." dos políticos seja feita nas urnas a cada eleição, pois os "players" eleitos exercem seus mandatos com independência
19 Disponível em <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docfD=11999509>. Acesso em: 29 (deveriam), não se vinculando às suas próprias promessas de campanha (deveriam), nem aos que os elegeram
dez.2017 (pelo menos não deveriam).
'º GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 337. 23
Disponível em:<http://www.tse.jus.br/jurisprudencia/decisoes/jurisprudencia>. Acesso em: 09 jan. 2018.
LUIZ FUX, LUIZ f�RNANDOC. PléREIRA, WALIIF.R DE MOURA AGRA (COORD.) • LUIZ EDU/\RIX) PECCININ (ORG.)
21 4 1 DIREITO PARTIDARIO
KM,,1JLI:: MOREIRA CASTRO, RJCARDO REGIS RODRIGUES DA SILVA
PRESTAÇÃO DE CONTAS PARTIDÁRIAS: INEFICIÊNCIAS E LACUN/\S 1 215

ausência de preclusão no julgamento das contas partidárias ao prescrever que"Os órgãos A prestação de contas rege-se pelo princípio inquisitivo- o juiz pode decidir contrariamente
partidários poderão apresentar documentos hábeis para esclarecer questionamentos à vontade do interessado, não pelo da adstrição - sujeição estrita ao pedido. Nisso divisa-se
da Justiça Eleitoral ou para sanear irregularidades a qualquer tempo, enquanto não a primazia da verdade real sobre a processual.
E permitido, também, que o Juiz decida por equidade (Parágrafo único do art . 723,
transitada em julgado a decisão que julgar a prestação de contas". CPC/2015 - O juiz não é obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em
No âmbito do TRE/CE, 24 nos autos do Processo nº 208-33.2016.6.06.0103, 25 de cada caso a solução que considerar mais conveniente ou oportuna).
Relatoria do Juiz Federal Alcides Saldanha, julgado por unanimidade, entendeu a Corte Nesse contexto, a busca da verdade real e o interesse público, diversamente do entendimento
pela possibilidade de juntada de documentos em grau de recurso (até as instâncias explicitado na decisão recorrida, deve sim justificar a juntada de novos documentos
ordinárias) em processo de prestação de contas de campanha de candidato, estabelecendo probatório com o presente recurso. Não a qualquer tempo ou indefinidamente, mas
a aplicação sistemática dos arts. 6º e 1.014 do CPC/2015, sobretudo pelo fato de o CPC enquanto a causa tramitar nas instâncias ordinária (primeiro e segundo graus de jurisdição).
privilegiar a decisão de mérito, a celeridade processual e a"pro atividade da instância A preclusão, embora seja relevante no processo em geral e no processo eleit<;>ral no
particular, encontra no processo de jurisdição voluntária mitigação excepcional, pois
AD QUEM ordinária."
só secundum eventum probationis (cf. STJ, REsp 689703/AM- 2004/0131459-2, Quarta
Consta do voto o"[... ] entendimento de que nos processos de prestação de contas Turma, ReI. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, pub. DJe 27/05/2010). Isto é, tratando-se
deve-se prestigiar a busca da verdade real, sempre que a prova apresentada permitir a de prestação de contas não há preclusão quando não provado o evento arrecadação/gasto.
conclusão de que as contas se encontram em conformidade com o ordenamento jurídico".
Referido entendimento decorre da jurisdição voluntária desse tipo de processo - Outro ponto a ser considerado com dificuldade nos julgamentos diz respeito à
que justifica, inclusive, as regras dispostas no art. 64 da Resolução do TSE nº 23.463/2015 expressão"elementos mínimos", que deixa a margem da autoridade judiciária examinar
e mantidas no art. 72 para 201826 -, caminhando ao encontro da finalidade precípua do se a ausência de documentos/informações tem ou não relevância de forma a comprometer
processo de prestação de contas, que é realizar um exame mais confiável e aprofundado a regularidade das contas. Trazem as Resoluções que a ausência parcial dos documentos
da arrecadação e dos gastos de campanha. e das informações de que trata a lei ou o não atendimento das diligências determinadas
Conclusões que restaram reafirmadas de forma mais detalhada no Processo nº não enseja o julgamento das contas como não prestadas se os autos contiverem"elementos
269-13, também do TRE/CE, 27 ao dispor que: mínimos" que permitam a análise da prestação de contas.
Ora, o que seriam os "elementos mínimos"? O TSE, considerando a gravidade
Por essa característica a decisão no processo de prestação de contas só produz coisa das consequências jurídicas da não apresentação das contas, vem entendendo que a
julgada formal e não material, admitindo-se que a discussão em tomo de elementos da
ausência teria que inviabilizar em absoluto a aferição da movimentação financeira de
arrecadação ou gasto seja apreciada em outra demanda judicial.
( ... ) campanha, ou seja, constituir óbice para o processamento e a análise das contas pelos
órgãos da Justiça Eleitoral.28 O que ainda enche de conceitos abstratos, até subjetivistas,
a análise das contas.
Indaga-se: será que conceito tão indefinito tem contribuído para um maior
24
Citamos por fazer parte de sua composição e pela rica fundamentação. controle de contas?
Sobre a expressão"erros materiais",29 por exemplo, a doutrina do sempre lembrado
25
RECURSO ELEITORAL n 20833, ACÓRDÃO nº 20833 de 02.08.2017, Relator(a) ALCIDES SALDANHA LIMA,
Publicação: D]e, Tomo 147, Data 07.08.2017, p. 4-5.
26 "Art. 72. Havendo indício de irregularidade na prestação de contas, a Justiça Eleitoral pode requisitar diretamente José Jairo Gomes faz as seguintes e pertinentes indagações:
ou por delegação informações adi cionais, bem como determinar diligências específicas para a complementação
dos dados ou para o saneamento das falhas, com a perfeita identificação dos documentos ou elementos que Entretanto, inexistem critérios normativos seguros que possam balizar o intérprete na
devem ser apresentados (Lei nº 9.504/1997, art. 30, §4º). definição do que sejam pequenos erros materiais. Quais valores podem ser tidos por
§1º As diligências devem ser cumpridas pelos candidatos e partidos políticos no prazo de 3 (três) dias contados
da intimação, sob pena de preclusão.
irrelevantes?
§2º Na fase de exame té cnico, inclusive de contas parciais, a urtidade ou o responsável pela a nálise técrti.ca das Quais parâmetros servem para a realização de cotejo seguro? Uma falha aparentemente
contas pode promover circularizações, fixando o prazo máximo de 3 (três) dias para cumprimento. pouco expressiva pode ser a ponta de uma campanha repleta de irregularidades financeiras,
§3º Determinada a diligência , decorrido o prazo do seu cumprimento com ou sem manifestação, acompanh a dos irrigada com recursos ilícitos. É óbvio que oficialmente só serão levados aos autos os dados
ou não de documentos, os autos serão remetidos para a unidade ou o responsável pela análise técnica para e documentos que não comprometam o prestador.30
emissão de parecer conclusivo acerca das contas.
§4º Verificada a existência de falha, impropriedade ou irregularidade em relação à qual não se tenha dado ao
prestador de contas prévia oportunidade de manifestação ou complementação, a unidade ou o responsável pela
análise técnica deve notificá-lo, no prazo do §2º e na forma do art. 101 desta Resolução.
§5º Somente a a utoridade judicial pode, em decisão fundamentada, de ofício ou por provocação do órgão té cnico,
28
do Ministério Público ou do impugnante, determinar a quebra dos sigilos fiscal e bancário do candidato, dos Cf. TSE - RESPE: 1594-71.2014.6.03.0000, MACAPÁ-AP, Relator: Min. Luiz Fux, Data de Julgamento: 14.06.2016,
partidos politicos, dos doadores ou dos fornecedores da campanha. Data de Publicação: D/e, Data 12.09.2016, p. 35.
§6º Nas diligên cias determinadas na prestação de contas, a Justiça Eleitoral deverá privilegiar a oportunidade "' A legislação e a jurisprudência têm dado especial relevo, ante a dificuldade do sistema de prestação de contas
de o interessado sanar, tempestivamente e quando possível, as irregularidades e impropriedades verificadas, ( complexidade), a não desaprovação por existência de erros formais ou materiais irrelevantes no conjunto, que
identificando de forma específica e individualizada as providências a serem adotadas e seu escopo." não comprometem o seu resultado ou o controle da arrecadação e dos gastos. O que também se verifica quando
27
RECURSO ELEITORAL n" 26913, ACÓRDÃO n" 26913 de 05.09.2017, Relator(a) ALClDES SALDANHA LIMA, ampliou a possibilidade de retifi cação (art. 37, §12 da Lei n2 9.096/95 e art. 30, §§2° e 2°-A, e §4º da Lei nº 9.504/97).
30
Publicação: DJe, Tomo 169, Data 11.09.2017, p. 10/11. GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 12. ed. Atlas, 2016, p. 427.
l,UIZ FUX, LU17. FcRNANOO C. PEREIRA, WALBER DE MOURA AGRA (COORD.) • LUIZ EDUARDO PECCININ (ORC.) KAMILE �1· 0REIRA CASTRO, RICARDO REGIS RúDRIGUf.5 DA SILVA
216 1 DIREITO PARTJDÁRJO PRESTAÇÃO DE CONTAS PARTIDÁRIAS, INEFICl�NCIAS E LACUNAS
1 217

Ainda sobre o julgamento em si das contas, entendemos que se deve evitar Outra questão que se aponta,relativa à normatividade do TSE,foi o Tribunal ter
subjetivismos Quízos de valor), mas também não se pode resumir em uma atividade considerado despesas eleitorais as contratações de contador e de advogado que prestem
jurisdicional bastante formal e abstrata, ou ainda em uma atividade fria de cálculos serviços às campanhas eleitorais (art. 29, §12 e §12-A, da Resolução n2 23.463/2015, e
matemáticos, face à necessária busca da verdade real (embora tenha cada vez mais a art. 37, §12, da Resolução para 2018) e as doações feitas a outros candidatos ou partidos
legislação feito uma espécie de tabelamento quanto aos gastos). E aqui as disposições (!1-rt. 29, XIV e §32, da Resolução nº 23.463/2015, e art. 37, §52, da Resolução para 2018).
do NCPC (Lei n2 13.105/2015), aplicável ao processo eleitoral por força do art. 15,31 em E que a Lei n2 11.300/2006 retirou a expressão "dentre outros" do caput do artigo 26
especial os artigos 489 a 495 e no âmbito dos Tribunais os artigos 926,927 e 932,ganham da Lei das Eleições,sugerindo serem as hipóteses restritas às descriminadas no artigo
relevância,32 ante a base jurisprudencial do Direito Eleitoral.33 (numerus clausus).
Sobre o poder normativo do TSE,destaco que há quem defenda34 que as Resoluções Outro ponto, não menos importante, é o reduzido quadro de servidores, e com
do Tribunal, ou até mesmo alguns dos procedimentos e sanções regulados por aquelas, qualificação específica,para o volume de prestações de contas que devem ser julgadas
são inconstitucionais por ofender a competência legislativa privativa da União,por meio em exíguo prazo, não permitindo análise mais aprofundada e independente da
do Congresso Nacional,pelo fato de o TSE ampliar seu poder regulamentar, infringindo técnica (parecer conclusivo), ou incidindo à prescrição. As dos candidatos eleitos, que
os arts. 22, 22, I, 48, 60, §42, III, e 84, IV, todos da Constituição Federal de 1988. têm informações partidárias relevantes, devem ser julgadas até 3 (três) dias antes da
Aponta-se o procedimento do art. 30 da Resolução nº 23.432/14 e da Resolução diplomação (artigo 30, §1°, da Lei nº 9.504/97). O prazo de prescrição para julgamento
n 23.464/15, que regulamentam o disposto no Título III da Lei n ° 9.096, de 19 de setembro
2
das contas anuais (art. 37,§7'2,da Lei n11 9.504/97) e de campanha (9rt. 68,§511, da Res. TSE
de 1995 - Das Finanças e Contabilidade dos Partidos, por tratar-se de regras de natureza n2 23.463/2015, e art. 77, §62, para 2018) é de 5 (cinco) anos, contados da apresentação
processual. à Justiça Eleitoral.
Para além da observação acima, critica-se o fato de o procedimento de referido São essas também as razões que fazem com que muitos dispositivos legais,como
artigo ser extremamente burocrático, ofendendo, inclusive, o princípio da eficiência e os relativos aos procedimentos de diligências (quebra de sigilo,busca e apreensão etc.),
da celeridade processual (CRFB/88, art. 37, caput, e art. 5º, LXXVIII), e por trata-se de não sejam na prática efetivados ou quando determinados não se conseguir atingir pela
obrigação ex lege e com prazo certo,deveria incidir,35 no caso de não prestação de contas, própria natureza do processo a sua finalidade.
de forma imediata, independe de provocação e de decisão, na suspensão das contas Foram exatamente essas algumas das preocupações narradas na ADI nº 4650
(Lei n2 9.096/95, art. 37, antiga redação36). Dessa forma, vê-se que aqui as alterações - que declarou a inconstitucionalidade dos dispositivos legais que autorizavam as
legislativas dificultaram e postergaram, muitas vezes, a punição. contribuições de pessoas jurídicas-, no voto do Ministro do STF Gilmar Mendes, que
também destacou críticas apontadas pelos auditores do Tribunal de Contas da União
nos autos da Prestação de Contas n12 976-13/DF, nos seguintes termos:
" "Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste
Código U1es serão aplicadas supletiva e subsidia riamente." Em outras palavras, pouco importando a origem dos recursos arrecadados (doação de
32 Para Fredie Didier "qualquer mudança de posicionamento (superação; overrnling) deve ser justificada adequadamente, pessoa física,de pessoa jurídica ou recursos do Fundo Partidário),estávamos diante de um
além de ter sua eficácia modulada em respeito à segurança jurídica (dever de estabilidade)" (DIDIER Jr., Fredie; sério indício de gasto simulado,que não se resolverá com a simples proibição de pessoas
BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processunl civil: teoria da prova, direito jurídicas participarem do processo eleitoral na condição de doadoras.
probatório, ações probatórias, decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 11.ed. Salvador:
JusPodivm, 2016, p. 488). Em todos aqueles casos,fica evidente que os atuais mecanismos de controle e de fiscalização
33
Hoje existem 71 (setenta e uma) súmulas sobre os variados temas de Direito Eleitoral (sete estão canceladas). das contas, o prazo exíguo para exame da contabilidade e da respectiva documentação,
" Margarete de Castro Coelho (COELHO, Margarete de Castro. A democrncia na encruzilhnda: reflexões acerca da relativa à movimentação de vultosas quantias e a reduzida estrutura de servidores não
legitimidade democrática da justiça Eleitoral Brasileira para a cassação de mandatos eletivos. Belo Horizonte: permitem à Justiça Eleitoral analisar, no processo de prestação de contas se,por exemplo,
Fórum, 2015. p. 112), aponta que "[...] as regras eleitorais carecem de ampla discussão parlamentar [...1 e por uma doação aparentemente legal é proveniente de recursos ilícitos -conforme amplamente
diversas razões o Tribunal Superior Eleitoral tem inovado em matéria eleitoral, inclusive com a criação de
direitos e obrigações sem a devida autorização constitucional para tanto (... 1. o que lhe compete é promover
noticiado ou especulado,por exemplo, pelos meios de comunicação-, ou se os serviços
instruções normativas direcionadas aos órgãos da Administração Pública, especificamente à esfera de atuação contratados em campanha foram efetivamente prestados pelo contratado.
administrativa dos seus diversos órgãos e não aos particulares. (... 1 Entretanto, a Justiça Eleitoral tem se dedicado Essa afirmação foi reforçada,inclusive, pelos auditores do Tribuna] de Contas da União
constantemente a inovar em matéria eleitoral, sobretudo através de resoluções e consultas. Tal atividade vem nos autos da Prestação de Contas n2 976-13/DF,nos seguintes termos:
sendo exercida pelo Tribunal Superior Eleitoral com fundamento em um poder regulamentar que não U,e foi "( ...) por mais aperfeiçoado que venham a se tornar o processo e o procedimento de
deferido constih1cionalmente, conforme já se adiantou acima".
composição, análise e julgamento das prestações de contas eleitorais de partidos/
35 Como na anterior Resolução do TSE nº 21.841/2004 (art. 18, que disciplinava "a prestação de contas dos partidos
políticos e a Tomada de Contas Especial"). candidatos/comitês financeiros, algumas das possíveis fraudes ora fartamente veiculadas
36 Ad. 37. A falt11 de preslnção de co11t11s ou sua dc511p10Mçiio totel ou p111dal, .in,plica asuspensão de 110,M quot11s nos órgãos de imprensa dificilmente poderão ser detectadas em feitos da espécie, quer
do fundo p111 tidit1io esujeita os,espo11sá,ei5 à5 penll:5 d11 lei, c11bí,eis 11a espécie, aplicado t11111bé111 odi. sposto 110 pelo requinte dos métodos utilizados, quer pela profissionalização dos protagonistas,
� quer pela dificuldade mesma decorrente do fato de que o dinheiro, mormente quando
Pa:tág:tafo t'mico. AJustiça Eleito,111 pode detc1mim11 diligêJtcins uccc5sá:rias ti con1ple111e11taçiio de i:ttfOJ11111çõcs
ou no M11e11n1e11to de i11egulaxid11dc5u1co11t111da51tas contas dos 6,giios de di1eção pa1tidá1 ia ou de cm,didatos.
em espécie,"não tem carimbo".
A1t. 37.lr falta de p1est11çiio de contas ou sua desep10,11çiio 10111! ou pe1ci11l implica asuspe11siio de 1to,as colM 11. Como exemplo de situação difícil de ser detectada em processo de prestação de
do Fu11do Ptt:ttidáJ.io e sujeita os 1cspo1tsá,cis ás pe11M da lei. (Redação dada pela Lei 11º 9.693 de 1998) contas partidárias ou eleitorafo, por mais aperfeiçoados que sejam os métodos de análise,
KAMILE MOREIRA CASTRO, RICARDO REGIS RODRIGUES DA SILVA
218 1
LUIZ rux, LUJZ l:ERNJ\NDO e !)E.REIRA, \•VALBER OE MOURA AGRA (COORD.). LUIZ EDUARD<) PECCININ (ORG.)
PRESAÇÃO DE CONTAS PARTIDÁRIAS: JNEFICltNCIAS E LACUNAS
1 219
DIREITO PAR IDÁRIO
T
T

p o d eríamo s citar o que r ece ntem ente f oi n oticiado na impre nsa de que dinh�iro d e O TCU e o TSE, e já percebemos no âmbito dos processos julgados do pleito de
corrupção teria sido "lavado" por m eio de doação oficial a partid os políticos. [E o que 2016 no TRE/CE, identificaram vários indícios de irregularidades nas prestações de
relata o TCU em seu re latório técnico ] contas apresentadas em 2016 (principalmente de candidatos), relativas à existência de
• Ora, p or mais verdad eiro que isso p ossa ser, a dinâmica do pr ocessamento das prestações pessoas físicas inscritas no Programa Bolsa Família que fizeram doações, doação de
de contas, mesm o que ve nha a ser ap erf eiçoada, dificilmente permite a col eta de provas pessoas físicas que integram quadro societário, contratação de empresa em que o sócio
cabais do ilícito. Isto porque, por exempl o, suponham os que um grande doador, com
figura como beneficiário de programa social, doadores cuja renda é incompatível com o
faturamento anual de bilhões de re ais, tenha doado, hipoteticamente, R$30 milhões para
determinado partido e que t enha contabilizado e emitido cheque nesse valor (débito
valor doado, doadores inscritos como beneficiários dos programas sociais do Governo
constante no extrato bancário). Suponhamos também que o partido beneficiado t enha e cujo vínculo empregatício é desconhecido nos 60 dias antecedentes à doação, doador
emitido o comp etente recibo ele itoral e também co ntabilizado o aporte. Ora, se o doador sócio ou dirigente de empresa que recebeu recursos da administração pública, doadores
diz e prova que doou e se o partido beneficiário rec ebeu e prova que o fez, emitindo o sem aparente capacidade financeira, contribuições de doadores falecidos, doadores de
e xigíve l recibo el eitoral, formalme nt e a doação é l e gal. Suponhamos, n o entanto, q ue campanha sem emprego formal declarado (desempregados), entre outros.
inve stigações de órgãos policiais, do Ministério Públic o ou de órgãos de controle externo Na prática, o procedimento para identificação e apuração das citadas ilicitudes,
ou interno, tenham ap ontado que o d oador mencionado tenha rec ebido por contrato apesar de terem prioridade (Instrução Normativa nº 18, editada pelo TSE em 16 de
manjfestamente sup erfaturado pagamentos, digamos de R$ 300 milhõe s, mas que tenha,
efetivamente, entr egue os be ns o u serviços co ntratados. Logo, em tal sup osição, ape nas
agosto de 2016) e serem dotados de instrumentos diligenciais, ainda possuem prazos
uma parte do val or recebido se ria ilegal, já qu e a outra corre sponderia ao valor r eal da
largos e entraves burocráticos, impedindo uma efetiva e real punição dentro ainda do
c ontraprestação . Sup onham o s também que e sse grande forneced or-doador tenham [sic] processo eleitoral. Ademais, após o cumprimento das diligências ou a certificação do
recebido diverso s valores de outros c ontrato s e efetuado inúm eras de sp esas, além da decurso do prazo, o Juiz Eleitoral, ante os elementos probatórios obtidos, encaminhará
doação, inclusiv e eventuais pagamentos aos agentes envolvidos na cadeia da corrupção. o feito ao Ministério Público Eleitoral ou, 1'/e entender necessário, à autoridade policial
Diante disso tudo, cremos, é de se p ergu ntar, em face da mistura de dinheiro "limpo" competente para instauração de inquérito (§4º do art. 211). E, na forma do §5º, havendo
com dinheiro "sujo" e da diversidade dos momentos de entradas e de saídas, se é possível indícios de irregularidades relativas ao financiamento da campanha, os elementos
de alg um modo tecnicam ente provado afirmar-se que realmente o dinheiro doado para
probatórios serão juntados aos autos da prestação de contas e aí analisados.
a campanha seja de fato decorr ente do ato de c orrupção, muito e mbora, também nos
parece aceitáve l, que até mesmo a inteligência mediana do homem comum possa assim Assim, apesar de todas as críticas, certo é que também tivemos inovações no campo
intuir'". (Fls. 581-582). da Prestação de Contas.38 Destaco em particular a obrigatoriedade de constituição de
advogado e profissional da contabilidade (Resolução TSE nº 23.406/2014) e as alterações
Foi justamente a especificidade da matéria e por ter a Justiça Eleitoral reduzido referentes ao caráter jurisdicional do exame da prestação de contas dos órgãos partidários
quadro capacitado na matéria relativa à contabilidade, que o Plenário do TSE para o (art. 37, §6 º, da Lei nº 9.096/95).39
pleito de 2016 aprovou a Resolução nº 23.439, que trata do Planejamento Estratégico da Como novidade ainda, em 2016 pela primeira vez, as prestações de contas foram
Justiça Eleitoral para o quinquênio 2015/2220, que entre outras ações visou ao combate divulgadas durante o curso da eleição, uma vez que os recursos em dinheiro recebidos
à corrupção, bem como instituiu o Núcleo de Inteligência que atuou, em especial, no para financiamento de campanha eleitoral devem ser entregues e divulgadas a cada 72
financiamento das campanhas eleitorais. Referido núcleo é formado por representantes horas à Justiça Eleitoral (art. 28, §4º, I, da Lei nº 9.504/97), dando efetividade à Lei de
do Tribunal Superior Eleitoral, dos Tribunais Regionais Eleitorais, do Ministério Público Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011).
Federal, da Polícia Federal, do Tribunal de Contas da União, da Receita Federal do A minirreforma de 2015 também incluiu o inciso II no §411 do art. 28 da Lei nº
Brasil e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). 9.504/97, dispondo que os partidos, coligações e candidatos devem divulgar no dia 15
As ações integradas desses órgãos visam identificar situações de movimentações
atípicas relacionadas com questões eleitorais, tratadas na prestação de contas. Daí foram
definidas uma série de batimentos, buscando indícios de situações irregulares por meio
de tipologias definidas pelo Núcleo de Inteligência.37 38
Entre outros avanços tem-se: a obrigação das instituições financeiras identificar o CPF/CNPJ dos doadores nos
Percebe-se, portanto, que tem a Justiça Eleitoral visado cada vez mais a integração extratos bancários (art. 22, §1°, inciso II da Lei n º 9.504/97); o fim dos comitês financeiros (Lei nº 13.165/15);
obrigatoriedade que as doações a candidatos e partido sejam feitas mediante recibo (art. 23, §2º, da Lei nº 9.504/97);
de órgãos de controle das movimentações financeiras dos partidos e candidatos, comercialização de bens e/ou serviços, ou promoção de eventos de arrecadação realizados diretamente pelo
objetivando dar transparência, coibir cada vez mais os ilícitos e a realizar sua identificação candidato ou pelo partido político (art. 23, §4º, V, da Lei nº 9.504/97); ampliação do rol de fontes de financiamento
em tempo quase real e não mais após a efetiva prestação de contas (após eleições). vedadas (art. 24 da Lei n° 9.504/97); introdução do sistema simplificado de prestação de contas (art. 28, §§9° e 10, da
Lei nº 9.504/97); a alteração do caput do art. 34 da Lei n• 9.096/95 para suprimir a fiscalização sobre a escrituração
Entretanto, apesar de um verdadeiro intercambio de dados, não se tem conseguido contábil dos partidos políticos; definição dos gastos eleitorais sujeitos a registro e aos limites fixados em lei (art.
impedir as ilicitudes eleitorais. 39, §52, da Lei n• 9.096/95, e art. 26 da Lei nº 9.504/97) etc.
39 Apesar de a Lei nº 12.034/09 não ter se referido às contas de campanha, entende-se que, pela lógica processual, elas
também podem ser encaradas como de natureza jurisdicional, ainda mais pela obrigatoriedade de apresentação
37
Essa integração poderia se estender, por exemplo, para alguns servidores lotados nas assessorias de juízes e de instrumento de mandato para constituição de advogado e indiretamente pela inclusão através da minirreforma
controle interno, garantindo-os maior capacitação e participação na área de fiscalização e julgamento das contas, do §5 ° no art. 30 da LE, autorizando a interposição de recurso especial nos processos de exame de contas de
já que ligados à área fim das Cortes. campanha (ALVIM, Frederico Franco. Curso de direito eleitoral. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2016. p. 392).
LUIZ FUX, LUIZ FERNANDO C. PEREIRA, WALBER OÊ MOURA AGRA (COORD.) • LUIZ EDUARDO PECCINlN (ORG.)
220 1
DIREITO PARTIDARIO
KJ\MlLE MORE.IRA CASTRO, RJCARDO REGJS RODRJGUES DA SILVA
PRESTAÇÃO DE CONTAS PARTlDÃRIAS INEFlCIÊNCIAS E LACUNAS
1
221

de setembro, relatório discriminando as transferências do Fundo Partidário, os recursos pode ser adotado para as partidárias, aponta ainda, exemplificando, que as intervenções
em dinheiro e os estimáve is em dinheiro recebido s, bem como os gastos realizados, da Justiça Eleitoral podem, em outras hipóteses, assumir "carát er de verdadeira ficção
Procedimento mantido para 2018 (artigo 50, I e II, e §22, da minuta, incluindo contábil":
também o Fundo Especial de Financiamento de Campanha - FEFC), permitindo maior
fisca lização pelos candida tos, partidos e socie dade. Esta que agor a tem, ainda no A Justiça Eleitoral, não obstante, mercê, como já se disse antes, do maior rigor de fiscalização,
tra nscorrer das ele ições, com a maior publicidade das contas, mais um instrumento tem intervindo no próprio valor eventualmente informado e comprovado pelo candidato,
o que merece ser examinado com a maior cautela, além de outras situações que parecem
para avalia r seus candidatos e pa rtidos, podendo, inclusive, alterar seu voto, a tempo.
desvirtuar o objetivo da prestação de contas.
Porém, aqui merece as seguintes observações: a) no inciso I, deixou-se de exigir a Um deles é o questionamento do valor da mercadoria adquirida ou do serviço prestado.
identificação dos doadore s e valor es, impedindo no curso da campanha a identificação (... )
real de doadores; b) não foi estabele cida sanção específica para os dois incisos e m caso Cuida-se, a tal avaliação do bem ou serviço doado, de informação sujeita a questionamento
de descumprimento, não obstante o que dispõem os §§62 e 7º do artigo 43 e §§62 e 72 altamente subjetivos, que não podem sofrer grandes interferências, sob pena de a prestação
do artigo 50, respectivamente, das Resoluções de 2016 e 2018, acerca da verificação do de contas dos candidatos de transformar em processo penoso de verificação de preço de
ato no julg amento da prestação de contas final.
mercadorias e de serviços.
Ademais, se a verificação de custos de qualquer mercadoria ou produto ou serviço fosse
Outro avanço foi implantado pela Portaria do TSE n2 l.143/2016 que obrigou pela
tão simples assim, não haveria necessidade de procedimentos licitatórios para a sua
primeira vez os diretórios nacionais dos partidos políticos a apresentar suas pr estações aquisição, por exemplo, pela Administração Pública.
de contas anuais de forma on-line por meio do Processo Judicial Eletrônico (PJe). O Por isso, a consulta telefônica pela Justiça Eleitoral a respeito de preços de revistas não
Sistema de Prestação de Contas Anuais (SPCA), também obrigatório, deve ser utilizado pode ser suficiente e eficaz para glosar o documento fiscal emitido pela gráfica contratada.
por todos o s níveis de direção partidária, permitindo um amplo monitoramento das E a situação fica ainda mais grave quan1o a Justiça Eleitoral supõe ou presume que, em
movim e ntações fina nceiras pela Justiça Eleitoral. virtude da suposta redução de preços, essa diferença deve ser levada à conta de omissão
Outro instrume nto é a disponibiliza ção pelo TSE em seu Porta l na internet da de gastos ou, pior, de que a gráfica, na verdade, estaria efetuando doação da diferença
Divulgação de Candida turas e Contas Ele itorais, com consulta ao financiamento da não declarada pelo candidato, com repercussões gravíssimas, inclusive sobre o mandato
conquistado nas urnas.41
ele ição municipal, bem como de formulário s par a que os cidadãos informem, não
compulsoriame nte, as doações ou contratação de bens e serviços fornecidos a partidos e
Não esqueçamos que é crucial a participação da sociedade no processo le gislativo
candidatos na campanha, visando comparar os dado s das prestações de contas eleitorais
e um maior fortalecime nto das instituições para que tenhamos eleições se guras, trans­
com os enviados por doadores e fornecedores.
pare ntes e livre, ga rantindo-se a transparência das cont as e uma política governamental
Como se pode ver, tivemos muitas reformas na legislação eleitoral, quiçá mais até
séria, indepe ndente e livre de abusos.
que eleições propriamente ditas, mas em sua maior pa rte sem qualquer relação entre
si. Entretanto, chegamos mais perto da realidade contábil, e a Justiça eleitoral teve um
grande papel na regulamentação, controle e publicidade . 3.3 Conclusão
Defensor da maior aplicação do siste ma de prestação de contas simplificada -não
pode ndo ser, a princípio, um simple s "livro caixa" -, e, mais precis ame nte, de um Com dito, tivemos em termos de regulamentação de "prestação de contas" muitos
simplifica do entendime nto e juízo de valor pelos que analisam e julgam as contas, a vanços, mas também retrocessos, se ndo válido tr anscrever o posicionamento extraído
acre dita ndo a ind a que o le gisla dor procurou simplificar a accountability para que o do voto proferido pel o Ministro Teori Zavaski, por ocasião do julgamento d a ADI nº
candida to possa de dicar m ais te mpo e e sforços com a campanha, o ex-ministro do 9364, quando afirm a que "os resulta dos práticos dess as reformas for am úteis pelo
TSE Arnaldo Versiani, defende que "[, ... ] o ex ame das contas pode e deve ter o aspecto menos para revelar outras fra gilidades do modelo" e que "para c ada aprimo rame nto
pe da gógico e educativo, volta do a o ape rf eiçoame nto do sistema e à instrução dos do sist ema de controle social, a astúcia a da ptativa do ilícito produz uma respost a
candidatos e partidos, e não apenas à aplicação de sanções". 40 correspondente". E acrescenta:
Entende o ex-Ministro que, com a complexidade das normas de prestação de contas
e com a redução do temp o de campanh a, as desaprovações de contas têm aume ntado
Embora essas leis tenham propiciado avanços no controle da arrecadação e dos gastos
de forma excessiva e os candida tos ga stam m aior parte do te mpo pre ocupa ndo-se eleitorais, elas evidentemente não solveram todas as inconsistências do sistema. Mas, ainda
que não tenham sido tão satisfatórios como se poderia esperar, os resultados práticos dessas
mais com ela s do que com a campanha e a busca de votos. Crítico da forma como são reformas foram úteis pelo menos para revelar outras fragilidades do modelo, que acabaram
analisadas a s prestações de contas, em especial as dos candidato s, o que em paralelo sendo aproveitadas para o encobrimento de possíveis irregularidades no financiamento

"' VERSIANI, Arnaldo. Prestação de contas de candidatos. ln: NORINHA, João Otávio de; KIM, Richard Pae (Coord.). 41
VERSIANI, Arnaldo. Prestação de contas de candidatos. ln: NORINHA, João Otávio de; KlM, Richard Pae (Coord.).
Sistema político e direito eleitoral: estudos em homenagem ao Ministro Dias Toffoli. São Paulo: Atlas, 2016, p. 106 a Sistema político e direito eleitoral: estudos em homenagem ao Ministro Dias Toffoli. São Paulo: Atlas, 2016, p. 112 a
116. 116.
222 223
LUIZ FUX, LUIZ FERNANIX>C. rEREIKA, WALBER DE MOlJRA AGRA (COORD.) • LUlZ EDUARDO PECCININ (ORC.)
1 1
KAMILE MOHEIRA CASTRO, RICAROO REt;1$ RODRIGUES DA SILVA
DIK.EITO PARTIDÁRIO PR[STAÇÃO DF. CONTAS PAKTIDÁRIAS, INEFICIÊNCIAS E LACUNAS

de campanhas do conhecimento da sociedade e da Justiça Eleitoral. Trata-se de capítulo o postulado da segurança jurídica como princípio da anterioridade ou anualidade em
natural na crônica civilizatória de qualquer sociedade: para cada aprimoramento do sistema relação à alteração da jurisprudência do TSE.
de controle social, a astúcia adaptativa do ilícito produz uma resposta correspondente. Isto O Supremo Tribunal Federal concluiu que as decisões do Tribunal Superior Eleitoral
é singularmente verdadeiro na seara eleitoral, em que a aplicação da legislação reclama que, no curso do pleito eleitoral (ou logo após o seu encerramento), impliquem mudança
constante supervisão por parte das instâncias estatais e da sociedade. de jurisprudência (e dessa forma repercutam sobre a segurança jurídica), não têm
aplicabilidade imediata ao caso concreto e somente terão eficácia sobre outros casos no
Adverte acertadamente o Ministro que: "O que se verificou foi mais uma prova pleito eleitoral posterior.
da aptidão que o dinheiro possui de se fazer clandestino". A decisão do Supremo Tribunal Federal, dotada de todos os efeitos próprios do instituto
da repercussão geral, impõe uma nova diretriz para a atuação da Justiça Eleitoral, fundada
Walber de Moura Agra, 42 ao tratar do financiamento e gastos de campanha
no respeito incondicional à segurança jurídica corno postulado do Estado de Direito.
eleitoral, destaca que nenhum sistema de financiamento de campanha é imune a fraude Contribui, portanto, para a estabilidade e legitimidade dos processos eleitorais, em mais
"devido as mudanças no seio social, na cultura, no procedimento eleitoral e no ciclo um passo importante no aperfeiçoamento da democracia no Brasil. 43
vicioso da troca de interesses."
Apesar disso, como discorrido, na busca de uma maior efetivação da democracia e O Ministro, por ocasião do seu voto no RE nº 637.485, 44 chamando atenção para
da representação real das escolhas dos eleitores, tivemos um significativo aperfeiçoamento a necessidade de cuidadosa reflexão sobre as consequências de mudanças radicais,
legislativo e uma grande modernização dos mecanismos, de forma a garantir um maior assinalou que não só o STF, mas também o TSE "deve adotar tais cautelas por ocasião
e efetivo controle das condutas e eventual responsabilização. Entretanto, é certo, ainda das chamadas 'viragens jurisprudenciais' na interpretação dos preceitos constitucionais
a um longo caminho a percorrer, mas sem necessidade de experiências ou grandes que dizem respeito aos direitos políticos e ao processo eleitoral".
inovações, pois não será uma reforma que resolverá, por si só, as graves distorções na Porém, não esqueçamos que mudanças devem contar com a total participação
escolha dos governantes e na estrutura dos partidos. da sociedade45 (informada e educada sobre as temáticas políticas) e desestimular o
E neste ponto, temos que reconhecer que muitos desses avanços decorreram da enriquecimento ilícito e os desvios de dinheiro público, fazendo renascer a confiança
participação do Poder Judiciário, que contribuiu (apesar das mais diversas críticas acerca dos cidadãos nas instituições e resgatando a finalidade dos partidos políticos, que
do ativismo/voluntarismo) significativamente com a normatização desse complexo possuem como sua maior função a de representação.
sistema de controle e fiscalização. Já dizia Kelsen:46 "Só a ilusão ou a hipocrisia pode acreditar que a democracia
De toda sorte, acerca da legislação e da jurisprudência eleitoral, e destacando a seja possível sem partidos políticos".
"necessária preservação da segurança jurídica que deve lastrear a realização das eleições,
especialmente a confiança dos cidadãos candidatos e cidadãos eleitores", ante o que
dispõe o art. 16 da Constituição Federal e da força normativa dos atos judiciais do TSE, Referências
assinalou o Ministro do STF e atual Presidente do TSE, Gilmar Mendes:
AGRA Walber de Moura. Manual prático de direito eleitoral. Belo Horizonte: Fórum, 2016.

Aqui não se pode deixar de considerar o peculiar caráter geral ou quase normativo dos atos ALMEIDA NETO, Manoel Carlos de. Direito eleitoral regulador. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
judiciais emanados do Tribuna] Superior Eleitoral, que regem todo o processo eleitoral. ALVIM, Frederico Franco. Curso de direito eleitoral. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2016.
Mudanças na jurisprudência eleitoral, portanto, têm efeitos normativos diretos sobre os
pleitos eleitorais, com sérias repercussões sobre os direitos fundamentais dos cidadãos BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI nº 4650, Relator(a): Min. UJlZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em
(eleitores e candidatos) e partidos políticos. No âmbito eleitoral, portanto, a segurança 17.09.2015, D}e-034 DIVULG 23-02-2016 PUBLIC 24.02.2016.
jurídica assume a sua face de princípio da confiança para proteger a estabilização das BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI n• 5394 MC, Relator(a): Min. TEOR! ZAVASCKI, Tribunal Pleno,
expectativas de todos aqueles que de alguma forma participam dos prélios eleitorais. julgado em 12.11.2015, DJe-239 DIVULG 09-11-2016 PUBLIC 10.11.2016.
A importância fundamental do princípio da segurança jurídica para o regular transcurso
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE n• 637485, Rclator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno,
dos processos eleitorais está plasmada no princípio da anterioridade eleitoral positivada julgado em 01.08.2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-095 DIVULG
no art. 16 da Constituição. Essa norma constitucional afirma que qualquer modificação 20-05-2013 PUBLIC 21.05.2013.
normativa que altere o processo eleitoral poderá entrar em vigor na data de sua publicação,
mas não poderá ser aplicada à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. O CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo código de processo civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
Supremo Tribunal Federal fixou a interpretação desse artigo 16, entendendo-se como uma
garantia constitucional (1) do devido processo legal eleitoral, (2) da igualdade de chances
e (3) das minorias (RE 633.703).
Em razão do caráter especialmente peculiar dos atos judiciais emanados do Tribunal 43 MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2014,
p. 799.
Superior Eleitoral, os quais regem normativamente todo o processo eleitoral, é razoável 41
DisponJvel em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&dodD=3823598>. Acesso em: 02
admitir que a Constituição também alberga uma norma, ainda que implícita, que traduz jan. 17.
45 Afinal "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição" (CRFB/88, art. 1°, parágrafo único).
42 AGRA, Walber de Moura. Manual prático de direito eleitoral. Belo Horizonte: Fórum, 2016, p. 185. "' KELSEN, H. A democracia. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 40.
LUIZ FUX, LUIZ 1:�RNANDO C. PEREIRA, WALBER DE MOURA AGRA (COORO.) • LUIZ EDUARDO PECCININ (ORC.)
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Um dado fático inquestionável que deve servir de substrato para o presente estudo
consiste na constatação de que a luta contra a corrupção ocupa, presentemente, espaço
de centralidade nas reflexões sobre democracia travadas nos mais diversos países do
mundo. No Brasil, especificamente, esta realidade não é diferente.
Informação bibliográfica deste texto, corúorme a NBR 6023:2002 da Associação BrasiJeira de Normas
Técnicas (ABNT): Nesse sentido, vem de ser liberado, em 02/2018, o IPC- índice de percepção da
corrupção-, a revelar que o Brasil recuou, no ano de 2017, 17 posições relativamente
CASTRO, Kainile Moreira; SILVA, Ricardo Regis Rodrigues da. Prestação de contas partidárias: ao ano anterior, tendo conquistado apenas 37 pontos, numa escala em que a pontuação
ineficiências e lacunas. ln: FUX, Luiz; PEREIRA, Luiz Fernando Casagrande; AGRA, Walber de Moura
(Coord.); PECCININ, Luiz Eduardo (Org.). Direito Pnrtidário. Belo Horizonte: Fórum, 2018. p. 207-224. zero revela altíssimo sentimento de corrupção e que a nota 100 denota sólida percepção
(Tratado de Direilo Eleitoral, v. 2.) ISBN 978-85-450-0497-4.
de integridade.
Associado ao sentimento nacional de que a corrupção contamina de modo
sensível as relações entre particulares e os poderes públicos (ou sobretudo em razão
deste sentimento), igualmente ganhou corpo na sociedade a percepção de que a política
e os partidos políticos estão associados ao cometimento de ilicitudes, dando ensejo ao
que doutrinadores denominam de "criminalização da política". 1
Nesse cenário, que é, em linhas gerais, comum às grandes nações democráticas,
vem ganhando espaço, agora especificamente no Brasil, a discussão sobre a aplicabilidade,
ou não, às agremiações partidárias, das políticas de compliance, tais como previstas na
Lei nº 12.846/2013 (Lei de Organizações Criminosas) e no Decreto nº 8.420/2015.
Os debates, é bom que se diga, ainda são embrionários, e a grande maioria dos
textos já produzidos a respeito e das entrevistas já concedidas sobre a temática passa ao
largo de uma reflexão mais profunda sobre as peculiaridades que qualificam o estatuto
jurídico constitucional das agremiações partidárias e sobre a necessidade de um regime
jurídico específico, que, consideradas tais peculiaridades, possibilite a institucionalização

1 AIETA, Vania Siciliano. Criminalização da Política, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.

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