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Jacobe Mateus Manuel Moiana

A Construção de Palhotas e o Estudo da Circunferência e Círculo: Estudo de Caso


no Distrito de Machaze - Chipudje

Licenciatura em Ensino de Matemática com Habilitações em Estatística

Universidade Púnguè

Chimoio

2021
Jacobe Mateus Manuel Moiana

A Construção de Palhotas e o Estudo da Circunferência e Círculo: Estudo de Caso


no Distrito de Machaze - Chipudje

Projecto de Pesquisa a ser apresentado ao Curso de


Matemática, Faculdade de Ciências Exactas e
Tecnológicas, da Universidade Púnguè-Sede, para
obtenção do grau de Licenciatura em ensino de
Matemática com Habilitações em Estatística.

Supervisor:

Prof. Dr. Evaristo Domingos Uaila

Universidade Púnguè

Chimoio

2021
ÍNDICE

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO..................................................................................................4

1. Contextualização.................................................................................................................4

1.1. Delimitação......................................................................................................................5

1.2. Enquadramento................................................................................................................5

1.3. Descrição da área do estudo.............................................................................................5

1.4. Justificativa e relevância do tema....................................................................................5

1.5. Problematização...............................................................................................................6

1.6. Hipóteses..........................................................................................................................7

1.7. Objectivos........................................................................................................................7

1.7.1. Objectivo geral:............................................................................................................7

1.7.2. Objectivos específicos:.................................................................................................7

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................................8

2. Teorias de base....................................................................................................................8

2.1. Algumas teorias de aprendizagem...................................................................................8

2.1.1. Behaviorismo...............................................................................................................8

2.1.2. Teoria cognitivista: o construtivismo...........................................................................8

2.1.2.1. A teoria da aprendizagem significativa de ausubel..................................................9

2.2. Saber escolar versus saber local.......................................................................................9

2.3. Cultura............................................................................................................................11

2.4. Etnomatemática..............................................................................................................11

2.5. Palhota............................................................................................................................12

2.6. Circunferência e círculo.................................................................................................12

2.6.1. Elementos da circunferência ou círculo.....................................................................13

2.6.2. Construção de uma circunferência.............................................................................14

CAPÍTULO III: METODOLOGIA..........................................................................................15

3. Procedimentos metodológicos...........................................................................................15
3.1. Tipos de pesquisa...........................................................................................................15

3.1.1. Do ponto de vista da sua natureza..............................................................................15

3.1.2. Do ponto de vista de seus objectivos.........................................................................15

3.1.3. Do ponto de vista dos meios ou procedimentos técnicos...........................................15

3.1.4. Do ponto de vista da forma de abordagem do problema............................................16

3.2. População e amostra......................................................................................................16

3.2.1. Delimitação da população..........................................................................................16

3.2.2. Amostra do estudo......................................................................................................16

3.3. Técnicas de recolha de dados.........................................................................................17

3.3.1. Observação directa.....................................................................................................17

3.3.2. Entrevista....................................................................................................................17

3.3.2.1. Formulário..............................................................................................................18

4. Referências bibliográficas.................................................................................................19

APÊNDICE – guião de entrevista dirigido aos construtores de palhotas do bairro mussocossa


– chipudje..................................................................................................................................21
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CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

1. CONTEXTUALIZAÇÃO

De acordo com os factos actualmente observados nas comunidades moçambicanas no dia-a-


dia, é possível notar que algumas comunidades invalidam e não têm interesse pelos
conhecimentos matemáticos ensinados na escola, pois, apesar de sua aplicação prática em
diversos sectores da sociedade, a abordagem académica dada a estes saberes aparenta, ao
aluno, muito distante de sua realidade. Importa salientar que o ensino de matemática, assim
como qualquer campo de conhecimento, precisa de habilidades que criem motivação ao aluno
para a sua aprendizagem, para que possa assimilar a matéria com facilidade. No entanto,
precisa-se de uma firme relação entre conhecimento prévio do aluno e o conteúdo leccionado
em sala de aulas. O presente trabalho busca relacionar alguma prática exercida no dia-a-dia de
alguns alunos e o conhecimento ensinado em sala de aulas.

A ideia central que se pretende destacar nesta pesquisa é a de mostrar como, a partir do saber
das comunidades locais, se pode chegar ao conceito mais elaborado do currículo, ou seja, ao
conhecimento oficial.

A construção de palhotas apresenta grande potencial para explorar conceitos e relações


geométricas a partir da construção da sua estrutura, assim como a melhoria da percepção
visual de figuras. Portanto, com esta pesquisa, espera-se que o processo de construção de
palhotas (particularmente das palhotas circulares na base, cilíndricas na parte intermediária e
cónicas no telhado) tenha alguma relação com o estudo da circunferência e círculo.
Entretanto, este trabalho surge como requisito parcial para a conclusão do curso no grau de
Licenciatura em Ensino de Matemática com Habilitações em Estatística. No final de tudo, o
mesmo estará dividido em cinco capítulos: O primeiro é o da introdução, que faz uma
apresentação, contextualizando a temática; em seguida, vem o referencial teórico, que mostra
aspectos teóricos que explicam detalhadamente o atendimento dos objetivos específicos e,
sobretudo, será usado para analisar e interpretar os dados da realidade em estudo; a
metodologia faz parte do terceiro capítulo, onde é descrito e apresentado o instrumento de
colecta de dados; no capítulo seguinte, serão exibidas apresentação e discussão dos resultados
conquistados e com os resultados obtidos chegar-se-á ao capítulo final que é o de conclusões e
sugestões.
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1.1. DELIMITAÇÃO

O presente trabalho será realizado na província de Manica, distrito de Machaze, localidade de


Chipudje, bairro Mussocossa, no período de Novembro de 2021 á Março de 2022.

1.2. ENQUADRAMENTO

O tema em epígrafe faz parte do programa do ensino de Matemática em todas as classes do


ensino primário e na oitava (8ª) classe. Não só, mas também encaixa-se nas cadeiras de
Geometria Euclidiana, de Matemática na História e Etnomatemática e de Estudos
Contemporâneos de Educação Matemática, leccionadas na Universidade Púnguè.

1.3. DESCRIÇÃO DA ÁREA DO ESTUDO

O distrito de Machaze situa-se no Sul da província de Manica, a 325km da capital provincial


Chimoio, estando separado das províncias de Gaza (Massangena) e de Inhambane (Mabote), a
Sul, pelo rio Save. Tem como limites:

 Norte - distrito de Chibabava, da província de Sofala;


 Oeste - República do Zimbabwe e distrito de Mossurize e;
 Este - distrito de Machanga, da província de Sofala.

A cultura local é predominantemente Bantu, falando a língua Ndau (Danda) e o tipo de


habitação modal no distrito é a palhota, com pavimento de terra batida, tecto de capim ou
colmo e paredes de caniço ou paus. Desse modo, as famílias vivem em palhotas.

1.4. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

Existem diferentes formas culturais presentes na humanidade, como por exemplo: diferentes
modos de pensar, de raciocinar e de trabalhar com quantidades e medidas. Estas
características determinam um modo diferenciado de entender o que se chama de Matemática.
Entretanto, se não entendermos que tais características representam a Matemática, então os
conhecimentos não académicos serão considerados incorrectos e por isso, menos valorizados,
pois não saberemos a sua aplicação no âmbito científico. Para evitar esta discrepância, tornou-
se foco deste estudo os saberes que um grupo étnico possui, analisando a Matemática própria
e espontânea desse grupo, motivada pelos seus ambientes naturais, sociais e culturais. Neste
caso, a escolha deste tema parte das motivações pessoais, de afinidade e interesse pelo
assunto, no que tange ao conhecimento de alguma prática cultural que o autor possui como
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nativo e residente do distrito de Machaze. Em alguns manuais, como por exemplo, o de


Zavala e Issufo (2004) são apresentados os elementos da circunferência e a sua construção,
porém não é mostrado o exemplo de um conhecimento tradicional relacionado aos elementos
e a construção da circunferência. Sendo assim, para que esse conhecimento tradicional, em
especial, a construção de palhotas circulares, possa ser transmitida para a geração vindoura,
importa integra-lo nos saberes escolares, valorizando a cultura local e desenvolvendo os
estudos em torno da matemática. Para além disso, os recursos físicos, materiais e saberes
existentes naquele distrito podem contribuir para o avanço dos estudos em torno da Educação
Matemática, no que diz respeito ao estudo da circunferência e círculo. Portanto, importa
aproveitar, neste momento, esses recursos, materiais e saberes disponíveis naquele local.

1.5. PROBLEMATIZAÇÃO

Partindo da consideração dos saberes locais das comunidades onde a escola se situa podem
ser formados cidadãos capazes de contribuir para a melhoria da sua vida, da vida da sua
família, da comunidade e do país. Na verdade, é possível acreditar que se algumas
características do conhecimento prévio tradicional do aluno se assemelham às do
conhecimento transmitido na escola, então esse conhecimento prévio tradicional pode facilitar
a compreensão do conhecimento moderno escolar.

Basílio (2006) advoga que incluir o currículo local nos programas de ensino ajuda a reduzir a
distância entre a cultura da escola moderna e a cultura tradicional. É notável que muitos
saberes locais podem contribuir no ensino da matemática. O distrito de Machaze é uma das
zonas rurais onde a maior parte da população vive na base dos saberes locais, como é o caso
da construção de palhotas. Contudo, este saber local não é levado a cabo pelos educadores,
fazendo com que o aluno, quando inserido na cultura da escola moderna, se distancie da sua
cultura tradicional. Perante este cenário, coloca-se como questão norteadora da pesquisa, a
seguinte:

Qual é a relação existente entre a construção de palhotas no distrito de Machaze e o estudo


da circunferência e círculo?
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1.6. HIPÓTESES

Lakatos e Marconi (2003, p. 126) aludem que “a hipótese é uma suposta, provável e
provisória resposta a um problema, cuja adequação será verificada através da pesquisa”.

Portanto, são apresentadas as seguintes hipóteses:


 Existe uma correspondência entre os materiais usados na marcação da base de uma
palhota e os usados na construção de uma circunferência;
 Alguns materiais usados na construção de palhotas podem ser idênticos aos elementos
da circunferência;
 Os procedimentos usados na construção de palhotas circulares podem ser aproveitados
para facilitar a compreensão de construção de uma circunferência.

1.7. OBJECTIVOS

Aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma acção “consiste numa descrição clara
dos resultados que desejamos alcançar com a nossa actividade”. (PILETTI, 1991, p. 26).

1.7.1. OBJECTIVO GERAL:

Relacionar a construção de palhotas circulares e o estudo da circunferência e círculo.

1.7.2. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS:


 Identificar os materiais usados na construção de palhotas circulares;
 Apontar os instrumentos utilizados para a marcação da base de uma palhota circular;
 Compreender a marcação da base da palhota circular;
 Descrever o processo de construção de palhotas circulares;
 Ilustrar as partes da palhota correspondentes à circunferência e ao círculo.
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CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2. TEORIAS DE BASE

Para o atendimento dos objetivos específicos, análise e interpretação dos dados da realidade
por estudar, são apresentadas a seguir algumas teorias básicas.

2.1. ALGUMAS TEORIAS DE APRENDIZAGEM

É também importante antes porém, falar de teorias que influencia a aprendizagem no aluno.
Desse modo, são consideradas as seguintes teorias: Behaviorismo e Construtivismo.

2.1.1. BEHAVIORISMO

Segundo Bock (1999), o Behaviorismo dedicou-se ao estudo do comportamento na relação


que este mantém com o meio onde ocorre.

Alguns teóricos que se destacaram no Behaviorismo foram: Ivan P. Pavlov, Edward


Thorndike, Marshall Hall, Pierre Flourens, John B. Watson e B. F. Skinner.

De acordo com esta teoria, os indivíduos podiam ser compreendidos, tomando como ponto de
partida que o comportamento não é casual nem arbitrário, mas é um contínuo que pode ser
descrito considerando o ambiente no qual o individuo está inserido. Portanto, o ambiente onde
o indivíduo se encontra exerce influência no comportamento desse indivíduo, podendo assim
influenciar a aprendizagem.

Desse modo, o papel da educação é transmitir da melhor forma a cultura de uma geração a
outra, cabendo a escola moldar a criança conforme os conhecimentos, valores e práticas
sociais da cultura a qual pertence.

2.1.2. TEORIA COGNITIVISTA: O CONSTRUTIVISMO

A teoria cognitivista enfatiza o sistema de conhecimento, a partir do qual o sujeito concede


interpretações à realidade em que se encontra. (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011).

Nessa corrente, destacam-se autores como Piaget, Brunner, Ausubel, Novak (construtivistas),
Kelly e Rogers. O construtivismo considera que a criança passa por estágios para adquirir e
construir o conhecimento. (PIAGET, 1975). Na corrente denominada construtivismo, esta
pesquisa está voltada para a teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel.
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2.1.2.1. A TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL

De acordo com Ausubel (1968 apud Moreira e Masini, 1982, p.7), a aprendizagem
significativa “é um processo através do qual uma nova informação se relaciona de maneira
não arbitrária e substantiva a um aspecto relevante da estrutura cognitiva do indivíduo”.

Portanto, a aprendizagem só será significativa se existir uma interacção entre a nova


informação e aquela já armazenada na estrutura cognitiva do indivíduo. Desse modo, é
importante, no processo de ensino e aprendizagem, considerar o conhecimento prévio do
aluno de tal maneira que haja relação entre tal conhecimento e o conteúdo a ser transmitido na
sala de aulas.

O pensamento mais relevante da teoria de Ausubel e suas implicações para o ensino e a


aprendizagem podem ser sintetizados na seguinte oração:

Se tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a um só princípio, diria o seguinte: o


factor isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe.
(MOREIRA e OSTERMANN, 1999, p. 45).

Portanto, o conhecimento que o aluno possui (seja de motivação das suas práticas quotidianas
associadas ao seu ambiente sociocultural, seja de conteúdos anteriormente transmitidos pelo
professor) é de grande importância na introdução de um novo conteúdo.

2.2. SABER ESCOLAR versus SABER LOCAL

Saber escolar é o saber criado pela escola mediante os processos de intervenção didáctica que
torna ensináveis e assimiláveis os saberes científicos. (VENQUIARUTO; DALLAGO; DEL
PINO, 2014).
Esses autores sublinham a responsabilidade que a escola, como instituição pública e lugar em
que são transmitidos os conhecimentos científicos, possui na formação de uma geração ciente.

Os três autores acima mencionados aduzem que “o saber tradicional/local ou saber popular
consiste no conhecimento produzido pelo indivíduo em sua prática quotidiana dentro de um
grupo social, cultural e económico que garanta sua vivência e sobrevivência”.
(VENQUIARUTO; DALLAGO; DEL PINO, 2014).
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É importante sempre, em sala de aulas, considerar o conhecimento prévio que o aluno possui,
conhecimento oriundo da prática quotidiana do aluno dentro de um grupo social, cultural e
económico que garanta sua vivência e sobrevivência, pois, baseando-se nesse conhecimento o
aluno é capaz de compreender melhor o conteúdo a ser transmitido em sala de aulas, aliás, o
Professor Paulo Freire secunda essa ideia ao apresentar o seguinte interrogatório:
Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva
associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a
violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a
morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma necessária intimidade
entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social
que eles têm como indivíduos? (FREIRE, 1996, p.15).

Portanto, neste contexto, o autor apoia a presença do saber local na produção do saber escolar.
Nesse sentido, ele defende que “ensinar exige respeito aos saberes dos educandos” (IBID.,
1996, p.15). Logo, o professor que faz isso pode ser considerado de um invocado para educar.

A matemática é um componente cultural muito importante, solicitado no desenvolvimento da


inteligência humana. Por outro lado, se pretendemos, por esta componente, conduzir uma
criança à abstrair conceitos, isto terá que ser feito numa pedagogia adequada para essa
finalidade. Acredito que a mais adequada é partindo do saber-fazer do aluno, chegar com ele
na construção do conceito abstrato.

Lyotard (1989 apud Basílio, 2006, p.36-37) alega que


“o saber científico não é só um conjunto de enunciados, mas é também o
saber voltado para a vida quotidiana. A escola tem obrigação de ensinar esse
saber. O saber científico não pode saber e fazer saber que ele é o verdadeiro
saber sem recorrer a outro saber, narrativa, que é para ele o não saber, em
cuja ausência ele é obrigado a pressupor-se a si mesmo, caindo assim no que
condena, a repetição do próprio, o preconceito.”

Desse modo, a abordagem que o autor acima traz é de que o saber científico, para além de ser
constituído por um conjunto de enunciados, depende também da vida quotidiana, ou seja, o
saber só se considera saber científico recorrendo ao saber local.
Portanto, o professor, na qualidade de educador e artista deve estar munido de saberes locais.
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2.3. CULTURA

No entender de Tylor (1817 apud Laraia, 2006, p.25) "tomado em seu amplo sentido
etnográfico [cultura] é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral,
leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro
de uma sociedade".
Dessa forma, a cultura representa o patrimônio social de um grupo sendo a soma de padrões
dos comportamentos humanos e que envolve: conhecimentos, experiências, atitudes, valores,
crenças, religião, língua, hierarquia, relações espaciais, noção de tempo, conceitos de
universo. Ela é repassada através da comunicação ou imitação às gerações seguintes.

2.4. ETNOMATEMÁTICA

A Etnomatemática é a “arte ou técnica (techné = tica) de explicar, de entender, de se


desempenhar na realidade (matema), dentro de um contexto cultural próprio (etno) ”.
(D’AMBRÓSIO, 1991, p.9).

Para conceituar a Etnomatemática, D’Ambrósio usou a etimologia dessa palavra. Desse


modo, a Etnomatemática compreende o estudo comparativo de técnicas, modos, artes e
modelos de explicação e compreensão, assim como o modo de aprendizagem decorrente da
realidade, que é expressa em diferentes contextos culturais e naturais.

D´Ambrósio (1985) e Gerdes (1989) corroboram a mesma ideia ao afirmarem que a


Etnomatemática é um subconjunto da Educação, que contém a Matemática como
subconjunto.

Figura 1: Concepção de D´Ambrósio e de Gerdes.

Fonte: Elaborada pelo pesquisador (2021), baseada na ideia de D´Ambrósio e Gerdes.


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Portanto, é função da escola usar Etnomatemática como base para transmitir o conhecimento
matemático, pois, todos os povos em diferentes culturas sejam eles tribos indígenas ou
comunidades rurais possuem formas de lidar com o conhecimento matemático que lhes são
próprios.

2.5. PALHOTA

Soares (2009) definiu palhotas ou casas tradicionais como as que têm as seguintes
características: Paredes feitas com caniço, varas, madeira ou tiras de bambu, cobertas de lama
ou cobertas com grama ou palha, e telhados de colmo com grama, juncos ou palha.
Ainda Salema et al. (1992) definem palhota como casa ou habitação de negros em África. Na
sua definição, salientam o facto de esta servir para os homens do campo se protegerem da
chuva durante suas actividades diárias. Contudo, é possível consideramos pejorativa a forma
como o autor faz a definição do termo e de certa forma com traços racistas. Discordamos do
facto de a palhota servir apenas aos negros pois, é provável que também os turistas, que no
caso de Moçambique são maioritariamente estrangeiros, de diferentes raças, tenham
preferência em alojarem-se em palhotas.

Tanto Soares (2009) como Salema et al. (1992) têm algo em comum nas características que
atribuem às casas tradicionais e palhotas, respectivamente: o facto de serem feitas com
material não convencional e terem cobertura de palha ou colmo, mesmas características que
atribuem-se às palhotas tratadas neste trabalho.

2.6. CIRCUNFERÊNCIA E CÍRCULO

Para Pesco e Arnaut (2010, p.73), “circunferência é o conjunto de todos os pontos de um


plano cuja distância a um ponto fixo desse plano é uma constante positiva”.
“Círculo é a reunião de uma circunferência com o seu interior.” (IBID., 2010, p.73).

Consideremos as duas figuras seguintes, em que uma figura representa uma circunferência γ
de centro em O e raio de medida R e a outra figura representa um círculo γ de centro em O e
raio de medida R.
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Figura 2: Circunferência (a esquerda) e círculo (a direita).

Fonte: Pesco e Arnaut (2010).

Na circunferência acima temos: γ= { P ∈ γ :OP=R } e no círculo acima temos:


γ= { P ∈ γ : OP ≤ R }.

2.6.1. ELEMENTOS DA CIRCUNFERÊNCIA OU CÍRCULO

Zavala e Issufo (2004) apontam os seguintes elementos da circunferência:

 Raio – segmento de recta cujas extremidades são o centro da circunferência e um


ponto qualquer da circunferência.
 Corda – segmento de recta que une dois pontos da circunferência.
 Diâmetro – corda que passa pelo centro da circunferência. É o dobro do raio.
 Arco – uma parte da circunferência delimitada por dois pontos pertencentes a ela.

Figura 3: Círculo e seus elementos.

Fonte: Pesco e Arnaut (2010).

No círculo acima temos:

 AO – é o raio.
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 AB – é o diâmetro (corda maior).


 CD – é a corda.
^ D– é o arco.
 CM

2.6.2. CONSTRUÇÃO DE UMA CIRCUNFERÊNCIA

Zavala e Issufo (2004) mencionam três passos de construção de uma circunferência de forma
rigorosa, usando o compasso, lápis e régua:

1º – Marca-se o centro da circunferência.

2º – Escolhe-se um raio e abre-se o compasso na régua de distância correspondente ao raio da


circunferência.

3º – Finalmente, coloca-se a ponta seca do compasso no centro e traça-se a circunferência, de


acordo com o seu raio.
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CAPÍTULO III: METODOLOGIA

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

“A Metodologia é a aplicação de procedimentos e técnicas que devem ser observados para


construção do conhecimento, com o propósito de comprovar sua validade e utilidade nos
diversos âmbitos da sociedade.” (PRODANOV e FREITAS 2013, p. 14)

A metodologia a ser utilizada na elaboração do presente trabalho, constará, essencialmente, da


revisão bibliográfica de trabalhos realizados por alguns estudiosos da matemática e, dentre
eles, farão parte alguns autores moçambicanos. Esses estudos constam dos livros e artigos.

3.1. TIPOS DE PESQUISA

Relativamente ao tipo de pesquisa, há várias formas de classificar e caracterizar as pesquisas,


como podemos ver:

3.1.1. DO PONTO DE VISTA DA SUA NATUREZA

Sob o ponto de vista da sua natureza, a pesquisa pode ser: Básica ou aplicada. Para este estudo
é realizada uma pesquisa aplicada, que “objectiva gerar conhecimentos para aplicação prática
dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais”.
(PRODANOV; FREITAS, 2013, p.51).

3.1.2. DO PONTO DE VISTA DE SEUS OBJECTIVOS

Quanto aos objetivos, uma pesquisa pode ser: descritiva, exploratória ou explicativa. Neste
trabalho é efectuada uma pesquisa exploratória, a qual Gil (2008) considera como aquela que
inclui o levantamento bibliográfico e entrevistas com pessoas experientes no problema
pesquisado. Geralmente, assume a forma de pesquisa bibliográfica e estudo de caso.

3.1.3. DO PONTO DE VISTA DOS MEIOS OU PROCEDIMENTOS TÉCNICOS

Quanto à maneira pela qual são adquiridos os dados essenciais para a elaboração da pesquisa,
a pesquisa pode ser: bibliográfica, documental, experimental, ex-post-facto, o levantamento, o
estudo de caso, a pesquisa-ação e a pesquisa participante. Como forma de obter os dados nesta
pesquisa, são usados a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso.

De acordo com os destaques de Lakatos e Marconi (2003, p.183),


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a pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública


em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, até meios de comunicação orais: rádio,
gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o
pesquisador em contacto directo com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado
assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma
forma, quer publicadas, quer gravadas.

“O estudo de caso consiste em coletar e analisar informações sobre determinado indivíduo,


uma família, um grupo ou uma comunidade, a fim de estudar aspectos variados de sua vida,
de acordo com o assunto da pesquisa”. (PRODANOV; FREITAS, 2013, p.60).

3.1.4. DO PONTO DE VISTA DA FORMA DE ABORDAGEM DO PROBLEMA

Tendo em conta a abordagem do problema, uma pesquisa pode ser qualitativa ou quantitativa.
Conforme supracitado nas passagens anteriores, pretende-se relacionar o processo de
construção de palhotas e o estudo da circunferência e círculo. Portanto, trata-se de pesquisa
qualitativa, que “não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a
fonte directa para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave”. (IBID., 2013, p.70)

3.2. POPULAÇÃO E AMOSTRA

Para permitir conhecer a entidade que fará parte deste estudo será necessário delimitar a
população e a amostra.

3.2.1. DELIMITAÇÃO DA POPULAÇÃO

Lakatos e Marconi (2003, p.223) advogam que “universo ou população é o conjunto de seres
animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum”. As
mesmas autoras acrescentam que “a delimitação do universo consiste em explicitar que
pessoas ou coisas, fenômenos […] serão pesquisados, enumerando suas características
comuns.” (IBID., 2003, p. 223).

O pesquisador trabalhará com um conjunto de artesãos locais de construção de palhotas.

3.2.2. AMOSTRA DO ESTUDO

De acordo com Lakatos e Marconi (2003) a amostra do estudo, é uma parte da população ou
do universo escolhida aleatoriamente ou não, de modo a representar o universo no estudo.
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O pesquisador trabalhará com 5 artesãos locais para realizar o seu estudo, identificados com
base na ajuda da liderança local (secretário do bairro). Para a sua escolha, será usada uma
amostragem probabilística, onde a amostra será aleatória simples e os artesãos serão
escolhidos por meio de um sorteio.

3.3. TÉCNICAS DE RECOLHA DE DADOS

Lakatos e Marconi (2003) chamam de técnicas ao agrupamento de princípios ou


procedimentos de que se serve uma ciência, […] é a parte prática de colecta de dados.

Para a colecta de dados, o pesquisador usará uma observação directa e uma entrevista
estruturada, na forma de um formulário.

3.3.1. OBSERVAÇÃO DIRECTA

A observação é uma técnica de recolha de dados para aquisição de informações, usando os


sentidos na aquisição de determinados aspectos da realidade. (LAKATOS; MARCONI,
2003).

O autor utilizará uma observação sistemática ou estruturada, participante, individual e


realizada na vida real (trabalho de campo). Portanto, o autor nem só verá e ouvirá, mas
também examinará factos ou fenômenos que deseja estudar, neste caso precisará de descrever,
observando os passos de construção de palhotas circulares e fazer ilustrações do que
corresponde a circunferência e círculo e como nas palhotas são construídas estas figuras, os
materiais e instrumentos usados nesse processo.

3.3.2. ENTREVISTA

Entende-se por entrevista ao “encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha
informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza
profissional”. (LAKATOS; MARCONI, 2003, p.195).

A entrevista padronizada ou estruturada

é aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido;


as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza de acordo
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com um formulário elaborado e é efetuada de preferência com pessoas


seleccionadas de acordo com um plano. (IBID., 2003, p.197).

Neste contexto, serão submetidos a entrevista os 5 artesãos locais, de tal maneira que se
obtenha informações referentes ao processo de construção de palhotas circulares.

3.3.2.1. FORMULÁRIO

Selltiz (1965 apud Lakatos e Marconi, 2003) afirma que o formulário é o conjunto de
perguntas feitas e registadas por um entrevistador ou pesquisador numa situação face a face
com outra pessoa – o entrevistado.

Assim sendo, o formulário é caracterizado pelo contacto face a face entre o pesquisador
(entrevistador) e o informante (entrevistado) e pelo roteiro de perguntas que, durante a
entrevista, o entrevistador preenche.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Basílio, G. Os saberes Locais e o Novo Currículo do Ensino Básico. São Paulo, 2006.
p. 36 - 37.
2. BOCK, Ana; FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria. Psicologia: Uma Introdução ao
Estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 38-47.
3. D’AMBROSIO, Ubiratan. Matemática. Ensino e Educação: Uma Proposta Global.
Temas & Debates: SBEM, São Paulo, ano IV. n.3, 1991. P. 1-15.
4. ------. Ethnomatematics and its place in the History of Pedagogy of Mathematics - For
the Learning of Mahthematics, 1985.
5. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa.
25ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. p. 15.
6. Gerdes, P. Sobre o Conceito de Etnomatemática: Estudos em Etnomatemática. ISP
(Maputo): KMU, 1989.
7. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
8. LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A. Fundamento de Metodologia Científica. 5ª ed.
São Paulo: Atlas. 2003. p. 126 – 223.
9. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um Conceito Antropológico. 19ª ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 25.
10. MOREIRA, Marco António; MASINI, Elcie F. Salzano. Aprendizagem Significativa:
A Teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982. p. 7.
11. MOREIRA, M. A.; OSTERMANN, F. Teorias construtivistas. Porto Alegre: UFRGS,
1999. P. 45.
12. OSTERMANN, Fernanda; CAVALCANTI, Cláudio José de Holanda. Teorias de
Aprendizagem. Porto Alegre: Evangraf, UFRGS, 2011.
13. PESCO, Dirce Uesu; ARNAUT, Roberto Geraldo Tavares. Geometria Básica. v.1.
2.ed. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. p. 73.
14. PIAGET, Jean. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar,
1975.
15. PILETTI, C. Didáctica Geral. 23ª ed. Belém: Afiliada, 1991, p. 26.
16. PRODANOV, C. C; FREITAS, E. C. Metodologia do Trabalho Científico: Métodos e
Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2ª ed. Novo Hamburgo: Feevale,
2013. p. 14-70.
20

17. SALEMA, Álvaro, et al. Dicionário Enciclopédico Alfa. Lisboa: Alfa Publicações,
1992.
18. SOARES, Daniel Bernardo: The Incorporation of the Geometry Involved in the
Traditional House Building in Mathematics Education in Mozambique: The Cases of
Zambézia and Sofala Provinces. Maputo, 2009.
19. VENQUIARUTO, L. D; DALLAGO, R. M; DEL PINO, J. C. Saberes Populares
Fazendo-se Saberes Escolares: Um Estudo Envolvendo o Pão, o Vinho e a Cachaça.
Curitiba: Appris, 2014.
20. ZAVALA, Cardoso Armando Mahachane; ISSUFO, Dáuto Sulemane. A Maravilha
dos Números: Matemática – 7ª Classe. 1ª ed. Maputo: Texto Editores, 2004.
21

APÊNDICE – Guião de entrevista dirigido aos construtores de palhotas do bairro


Mussocossa – Chipudje

UNIVERSIDADE PÚNGUÈ – MANICA

CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE MATEMÁTICA COM HABILITAÇÕES


EM ESTATÍSTICA

Guião de entrevista dirigido aos construtores de palhotas do bairro Mussocossa –


Chipudje

Caros senhores construtores de palhotas do bairro Mussocossa - Chipudje:

O Presente guião faz parte de um trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em Ensino


de Matemática, contendo quatro (4) questões de natureza aberta e de interesse local. O Senhor
não será identificado.

Essa pesquisa tem como objetivo adquirir conhecimento sobre a construção de palhotas
circulares, procurando relacionar tal conhecimento com o estudo da circunferência e círculo,
ensinados nas escolas, nas aulas de Matemática, visando a formação de uma geração ciente.
Pede-se a sua colaboração e disponibilidade nas respostas face às questões que serão de
grande valor para o estudo.

Perfil básico do entrevistado

1. Idade: A. Abaixo de 30 anos B. Entre 30 á 45 anos C. Acima de 45 anos


2. Naturalidade…………………… Morada…………………. Bairro………………...
3. Ocupação ------------------------ Há quanto tempo ---------------------------

Leia com atenção e responda com clareza e sinceridade às questões que se seguem.

1. Quais são os materiais usados na construção de palhotas circulares?


 Esta questão permite identificar os materiais usados na construção deste tipo de
casa.
22

2. Que instrumentos se usam para a marcação da base de uma palhota circular?

 O interesse desta questão é de apontar os instrumentos utilizados para marcar a base


desta palhota.

3. Como é marcada a base da palhota circular?

 Importa, nesta questão, compreender a forma de marcação da base deste tipo de casa.

4. Quais são os passos da construção de uma palhota circular?


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 Procura-se, neste caso, descrever o processo de construção de uma palhota circular.

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