Você está na página 1de 6

​ORIENTAÇÕES

PEDAGÓGICAS
​ DATAS COMEMORATIVAS
​E
AÇÕES AFIRMATIVAS
PREFEITURA DE MAUÁ
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS

​ DATAS COMEMORATIVAS E AFIRMATIVAS

As datas comemorativas e/ou afirmativas nos remetem à história individual e coletiva.


São momentos carregados de emoções em contextos diversos como, por exemplo,
nascimento, casamento, lutas de classes, períodos na história da humanidade que deixaram
marcas de lutas e conquistas de diversos grupos.
Além das datas tradicionais, presentes nos calendários comuns, há um calendário
instituído legalmente que deve direcionar nossos olhares para comemorar ou refletir sobre
determinadas questões. As chamadas datas afirmativas resultam de tratados elaborados em
conselhos e organizações internacionais, como a ONU - Organização das Nações Unidas, e
orientam ações desenvolvidas nos países signatários, como o Brasil. Partem do conceito de
equidade expresso na Constituição Federal. Como exemplo de datas afirmativas, podemos
citar o “Dia do Indígena Brasileiro” e “Dia da Consciência Negra” que têm como embasamento
legal as leis 10.639/03 e 11.645/08 e que surgiram pela necessidade de políticas de
reparação. Não se trata unicamente de transformar um foco etnocêntrico europeu por um
africano ou indígena, mas de expandir os currículos e fazer com que a escola tenha base para
conhecer, respeitar e valorizar a diversidade racial e cultural.
Celebrar uma data é uma maneira de refletir sobre as lições ensinadas pelas gerações
anteriores e esse exercício não pode ser visto unicamente como uma comemoração sem
sentido e desconectada do mundo, pois exercitar a memória coletiva é também uma forma de
fundamentar o presente para esboçar o futuro. Nesse sentido, as comemorações podem ser
compreendidas como acontecimentos importantes que marcaram e marcam a vida dos
indivíduos que os celebram e cada grupo os estabelece de acordo com as suas construções
históricas e culturais.
Devemos considerar a participação da criança e do jovem na construção de
conhecimentos e, a partir disso, surge a perspectiva das formas de colaboração dos
estudantes no planejamento em contraposição às pedagogias baseadas na transmissão.

Ostetto (2012) apresenta um pensamento que converge para este entendimento ao


afirmar que a história na qual se baseia o currículo da educação escolar, e da própria educação
infantil, faz parte de uma história maior que “privilegia uma visão ou concepção dominante em
detrimento de tantas possíveis, ignorando e omitindo, na maioria das vezes, as diferentes
facetas da realidade”.
As propostas curriculares da Educação Infantil devem garantir que as crianças tenham
experiências variadas com as diversas linguagens, reconhecendo que o mundo no qual
estão inseridas, por força da própria cultura, é amplamente marcado por imagens, sons,
falas e escritas. Nesse processo, é preciso valorizar o lúdico, as brincadeiras e as culturas
infantis. (CNE/CEB Nº20/2009, p. 15)

A escola, por muito tempo, trabalhou com essas celebrações de maneira


descontextualizada, reproduzindo modelos estabelecidos socialmente sem a devida reflexão e,
desse modo, reforçando estereótipos e aspectos ligados ao consumo. Tornaram-se comuns
práticas como as baseadas em atividades de pintar desenhos que remetiam às datas
comemorativas ou mesmo pintar os rostos das crianças, acreditando-se que, assim, poderia se
garantir a inserção desses indivíduos nos contextos históricos e sociais.
Os livros didáticos ressaltaram esse modelo reprodutivista, pois tinham em sua essência
a enumeração das datas comemorativas. Podemos citar como exemplo os livros de Educação
Moral e Cívica, disciplina presente nas escolas no período de 1969 até 1993, época marcada
por significativas mudanças no país, nas leis e, consequentemente, nas escolas que passaram
a questionar os guias, cartilhas e livros com foco na celebração de datas. Outro exemplo que
pode ser destacado é o fato de que muitas escolas de educação infantil pautavam seu currículo
nestas datas e um “bom professor”, certamente, dispunha de uma bela pasta, fartamente
recheada com desenhos e atividades para colorir.
Quando se fala de datas comemorativas nos momentos de formação, muitas
discussões, dúvidas e questionamentos surgem, revelando a necessidade de abordar o tema.
A Secretaria de Educação de Mauá acredita que tais trabalhos só serão significativos se forem
consideradas a faixa etária e as especificidades das escolas.
É necessário ter clareza do papel da escola, que é o de compreender as mudanças da
sociedade, estar conectada aos acontecimentos do mundo e proporcionar sempre a reflexão
de sua prática. Refletir sobre as tradições não significa abandoná-las, mas propor um novo
olhar, valorizando os aspectos históricos, culturais e afetivos de maneira atual.
Num exercício de pensar sob diferentes pontos de vista, podemos proporcionar uma
abordagem contemporânea a esses momentos na escola, atuando no desenvolvimento de
indivíduos críticos. Nesta perspectiva, uma escola inquieta e atual deve se perguntar: Como
podemos ampliar os conhecimentos dos estudantes e seus familiares com as datas que
escolhemos trabalhar?
Nesse movimento de reflexão é necessário responder a essa questão. Uma das formas
de planejar o trabalho é ter como foco as oportunidades de conhecimento que estarão
presentes na abordagem escolhida.
Diante do que foi exposto, orientamos que, para o trabalho com as datas
comemorativas, as equipes gestoras deverão observar:
● a realidade brasileira e local;
● a contextualização que se configura como situações de aprendizagem, inseridas
nos planos de trabalho;
● o processo de letramento e a interdisciplinaridade;
● os estereótipos relacionados às datas comemorativas como, por exemplo, o
coelho de Páscoa que bota ovo; as fantasias que não representam a diversidade
dos povos indígenas, dentre outros, e trabalhar no sentido de desconstruí-los;
● o consumismo relacionado a algumas datas e trabalhar com a reflexão e
desconstrução;
● as datas afirmativas que discutem as questões de gênero, étnico-raciais, meio
ambiente, dentre outras;
● a restrição alimentar de algumas crianças que, por ocasião de alguma data
comemorativa, possam ser oferecidos alimentos que não constam do cardápio
da Segurança Alimentar.
De acordo com o que foi exposto, este documento tem por objetivo instituir um rol
mínimo de datas que devem ser trabalhadas por todas as escolas do município. Ressaltamos
que outras datas relevantes para o desenvolvimento do Projeto Político Pedagógico da escola
poderão ser trabalhadas, desde que contemplem as orientações contidas neste documento.

Seguem reflexões sobre as datas que costumam compor as atividades escolares:


Movimento Livro e Leitura
Este movimento está presente em todas as escolas da Rede Municipal de Ensino,
Trata-se de uma das ações do Plano Municipal de Educação para incentivar o gosto pela
leitura.
Por que o mês de abril? Essa data foi instituída no calendário escolar da Rede Municipal
de Ensino em 2013, tornou-se uma cultura curricular no sentido de fomentar a formação de
leitores. No mês de abril comemoram-se o Dia Internacional do Livro Infantil, Dia Nacional do
Livro Infantil e o Dia Mundial do Livro.

Páscoa e Natal solidários


A Páscoa e o Natal são datas religiosas, celebradas por diversas denominações, mas
como a escola pode abordá-las? É importante ressaltar nestas duas datas os princípios que as
permeiam como solidariedade, respeito ao próximo, dentre outros.

Festa Junina
A festa Junina é uma das comemorações mais tradicionais no Brasil. Essa festa traz
uma representação da zona rural e, por muito tempo, ela realmente acontecia onde os
agricultores residiam e costumavam comemorar a colheita do que se produzia. Exemplo:
colheita do milho, amendoim e outros.

Dia da Família e Dia da Criança


A estrutura familiar vem se alterando com o passar do tempo e outros modelos
familiares estão presentes nas comunidades brasileiras, todos merecendo respeito, visando
lidar e compreender a diversidade. A família precisa ser celebrada e não apenas alguns
membros. Essa comemoração é importante no sentido de buscar referências positivas para os
estudantes, valorizando a ideia de pertencimento e a busca de núcleos potentes que possam
apoiar o pleno desenvolvimento dos bebês, crianças, jovens e adultos.

Dia do Professor e do Funcionário Público


O que comemorar? O que mobilizar nessas datas tão especiais? É importante deixar
claro que esses indivíduos tornam possível o funcionamento da instituição escolar. Os
profissionais da educação buscam aprimorar os fazeres administrativos e pedagógicos para
melhor acolher e atender os munícipes. Nessa perspectiva cabe comemorar, agradecer e
reverenciar esses profissionais que dedicam-se a atender com qualidade os munícipes.

Considerações finais

● O planejamento escolar é o instrumento que orienta a ação educativa na escola. O


momento de planejar é de pesquisa, reflexão e tomada de decisão. Para sua
elaboração, devemos refletir se as ações da escola estão levando à aprendizagem dos
estudantes, para mantê-las ou mudá-las.
● Refletir por que elas estão existindo; que valores estão sendo destacados e se vale a
pena mantê-los. O importante é que a equipe saiba por que a escola continua a
comemorar algumas datas.
● Refletir sobre as tradições proporcionando um olhar mais amplo e democrático,
valorizando aspectos históricos e culturais, sem focar necessariamente em ideologias, é
um meio de mudar a forma como lidam com algumas datas comemorativas.
● Nesse contexto, é imprescindível pensar e discutir o assunto de forma conjunta com os
pais, professores e estudantes, com o objetivo de desenvolver um senso comum a
respeito de como todos os envolvidos no processo educacional se sentem em relação à
abordagem dessas datas e suas possíveis mudanças.

Um bom trabalho a todos e todas!

Equipes de Supervisão e Formação


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Câmara dos Deputados. Datas Comemorativas e Outras Datas Significativas. 2012.
Disponível em: <bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/.../datas_comemorativas_outras.pdf>
Acesso em: 28 fev. 2018.

CUNHA, Maria de Fátima. Cantando o Brasil pós-64. IN: Revista do laboratório do Ensino de
História/UEL. Editora UEL: n°2, 1996

DUTRA, Soraia Freitas. As crianças e o desenvolvimento da temporalidade histórica. IN: Dez anos
de pesquisas em ensino de História. VI Encontro Nacional de Pesquisadores de Ensino de História.
José Miguel Arias Neto (ORG). Londrina: Atrito Art, 2005.

HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: Uma história. 2009. Disponível em:
<http://noosfero.ucsal.br/articles/0010/3268/hunt-lynn-a-inven-o-dos-direitos-humanos-.pdf> Acesso em:
27 fev. 2018.

https://educacao.estadao.com.br/blogs/escola-eduque/datas-comemorativas-uma-pratica-ressignificada/
Extraído em 20/03/2018

https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/acoes-afirmativas.htm Acesso em: 21/06/2022

https://justica.sp.gov.br/index.php/coordenacoes-e-programas/coordenacao-de-politicas-para-a-diversida
de-sexual/calendario-de-datas-afirmativas/ Acesso em: 21/06/2022

OSTETTO, L. E. Planejamento na educação infantil: mais que a atividade, a criança em foco. In:
Ostetto, Luciana Esmeralda (org.). Encontros e encantamentos na educação infantil. 10ª edição.
Campinas – SP: Papirus, 2012.

Você também pode gostar