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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
17 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 51
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 CONTRIBUIÇÕES DE BION
Fonte: pt.slideshare.net
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As relações interpessoais mais intimas são caracterizadas pelo vinculo
sadomasoquista.
Uso excessivo de dissociações e identificações projetivas patológicas
Uso excessivo de projeções, sentimentos e pensamentos persecutórios.
Grande ódio à realidade interna e externa, com preferência pelo mundo
das ilusões.
Ataque aos vínculos de percepção e aos de juízos críticos, resultando
num prejuízo do pensamento verbal, da formação de símbolos e do uso
da linguagem.
A onipotência, a onisciência e a imitação substituem o processo de
aprender com experiência. O orgulho dá lugar à arrogância, o
desconhecimento leva a estupidez e a curiosidade se transforma em
intrusividade.
A pouca capacidade de descriminação leva a uma confusão entre o
verdadeiro e o falso, tanto do próprio self como do que está fora.
Fuga a verdade, prevalecendo à negação através de distorções.
Camuflagens, omissões ou mentiras deliberadas.
Ao construir a proposição da existência de uma parte psicótica da
personalidade, Bion não se referia à equivalência de um diagnóstico psiquiátrico, mas
sim, a um espectro quantitativo e qualitativo acerca da área da mente em contrapartida
à área não psicótica preservada. Isso se refere muito mais ao tipo de angústia e
características do estado mental do que a manifestações clinicamente psicóticas com
grau máximo de ruptura com a realidade. Refere-se a um modo de funcionamento
mental coexistindo com outro modo de funcionamento (Bion, 1991a, 1991b, 1991c,
1992). No entendimento e nas palavras de Grinberg (1973), Bion explica que “todo
indivíduo, mesmo o mais evoluído, contém potencialmente funcionamentos mentais e
respostas derivadas da personalidade psicótica e que se manifestam como uma séria
hostilidade contra o aparelho mental, a consciência e a realidade interna e externa”
(p. 45).
Zimerman (2004a), em seu livro dedicado à obra de Bion, descreve
mecanismos característicos do funcionamento dessa parte psicótica da mente que se
encenam tanto na prática analítica diante das angústias e do crescimento mental
quanto no cotidiano, diante das frustrações e da realidade:
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Qualidade das identificações projetivas:
De acordo com Bion (1991b), é de uma disposição constitucional com
predomínio pulsional destrutivo, capaz de forte inveja e voracidade, aliada ao baixo
limiar de tolerância à frustração, que nasce, em determinados bebês, uma pré-
condição de atacar tudo de que ele depende, de tal modo que um pêndulo psicótico
começa a tocar já na relação com o seio materno.
Por conta do ataque invejoso já destinado ao seio gratificador, alguns bebês
deixam até de mamar, mas para não morrer de fome, disparam na mente o emprego
de uma defesa primitiva, através do mecanismo de dissociação (splitting) voltam a
depender do seio-leite, mas congelam a relação com o seio-amor, promovendo uma
lacuna entre necessidade material e gratificação psíquica (Grinberg, 1973).
Esse funcionamento mental primitivo, como revela Grinberg (1973), é
reconhecido, na clínica psicanalítica, em pacientes que, tratam de conseguir
comodidades materiais de uma maneira insaciável sem gozar delas nem reconhecer
a existência dos seres vivos de quem dependem para obter tais benefícios. Não
podem experimentar gratidão nem interesse por eles e os tratam como objetos
inanimados (p. 62).
Não obstante, voltando a compreender a gênese deste funcionamento nos
primeiros meses de vida, Bion explica que é a capacidade de continência materna,
através da qualidade de rêverie1, a essas angústias projetadas tão cedo na mãe, que
se dará destino à força destas pulsões agressivas no universo mental do bebê.
Delouya (1998), em referência à teoria de Bion, lembra que, se a mãe dispõe desta
condição de rêverie, a qual, por meio da metabolização psíquica, permite transformar
as angústias em sentir e pensar, o bebê não só ingere as angústias transformadas,
mas também introjeta o modelo de continência e transformação, construindo seu
próprio aparelho de pensar os pensamentos.
Nas palavras de Hartke (2005) sobre esta tarefa materna como chave das
compreensões de Bion acerca do funcionamento psíquico, essa função é descrita
como a atividade mental, desempenhada nos primeiros tempos pela mãe em relação
ao bebê, de transformar em pensamentos as impressões sensoriais e emoções brutas
que emergem com as vivências.
Assim, para Hartke (2005, p. 51), a falha nessa atividade faz com que tais
impressões sensoriais e emoções permaneçam como fatos não digeridos
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psiquicamente, que servem apenas para evacuação por identificação projetiva,
gerando atuações, fenômenos psicossomáticos e alucinações.
Grinberg (1973), ainda se apoiando nas compreensões de Bion, ressalta, por
outro lado, que a capacidade de tolerância à frustração também é uma condição inata
do bebê, portanto influi na responsividade da personalidade à carga pulsional
destrutiva e às condições de continência do ambiente. O autor acrescenta que
devemos considerar então, no desenvolvimento do funcionamento psicótico, uma
disposição destrutiva primária, assim como também a relação com uma mãe que foi
incapaz de realizar sua função de receber, conter e modificar as violentas emoções
projetadas pela criança” (p. 53).
Nesse contexto, as condições psicóticas se inauguram pela flacidez ou
privação do continente mental materno diante das excessivas cargas agressivas
projetadas pelo bebê, de modo que, ou elas não puderam ser suportadas e
simbolizadas pela, ou a própria mente do bebê, pela ação do ódio e da inveja, não
permitiu à mãe exercer está estruturante função continente.
Assim, as emoções brutas voltam a habitar a mente do bebê pela mesma via
pela qual foram expelidas, e muitas vezes acrescidas das angústias da própria mãe,
com os afetos agressivos, sem representação e destino, atacando os vínculos afetivos
e perceptivos.
Como decorrência, as identificações projetivas são empregadas como forma
de defesa primitiva, não verbal, de comunicar o registro que foi impresso sem nome e
sem palavra no psiquismo, porque não foi pensado e significado, e como forma de
descarregar de maneira evacuativa as ideias e angústias intoleráveis para a condição
mental.
As identificações projetivas equiparam-se aos acting, trocando pensamento por
ação, já que se formou de maneira muito rudimentar o aparelho para pensar os
pensamentos, ficando então o uso excessivo destas a serviço da parte psicótica da
personalidade (Bion, 1991c).
Desta maneira, como lembra Grinberg (1973), compreende-se a intersecção
que Bion destacou entre a capacidade de tolerar frustração e a capacidade de
transformá-la em pensamento, ou, no reverso, sob o domínio da parte psicótica, de
evadir-se da frustração e abortar a capacidade de pensar os pensamentos.
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Clinicamente, como explica Zimerman (2004b), a necessidade desta descarga
projetiva pode, por meio de sucessivos splittings, dar origem a outro produto: as
somatizações, no campo do corpo, e aos sentimentos persecutórios, no campo da
psique. Isto significa que nesse funcionamento psíquico, conforme esclarece
Sapienza (1992), pelo impacto das defesas de dissociação e identificação projetiva,
os objetos internos e externos ficam distorcidos em polos de idealização e
persecutoriedade e as relações [ficam] calcadas em vivências paranoides e soluções
homicidas (p. 309).
Grinberg (1973) acrescenta que na identificação projetiva utilizada pela parte
psicótica predominam a inveja e a voracidade, despojando a própria personalidade de
vitalidade; ou seja, um psiquismo trabalhando sob o motor ávido de inveja acidenta a
satisfação amorosa e a gratidão, enquanto se intoxica e prolifera na personalidade,
sendo, comparável a um ‘câncer’ mental [que corrói] as bases da sanidade mental
(Sapienza, 1992, p. 309).
Cumpre, por outro lado, não perder de vista que a proposição de Bion (1991a)
admite que, enquanto a parte psicótica opera sob o sistema de defesa da cisão e
identificação projetiva, a outra parte da personalidade, sob o funcionamento neurótico,
emprega a repressão para dar conta dos conflitos do ego. Isso significa, conforme
explica Grinberg (1973), que a parte psicótica da personalidade coloca no mundo real
o que a parte não psicótica reprimiu, caracterizando a dinâmica e a
multidimensionalidade da mente.
A respeito desta ideia, já em um dos seus primeiros textos de referência, “O
Gêmeo Imaginário”, subsidiado pela teoria kleiniana, Bion (1994b) explica o
funcionamento cindido da personalidade como um sistema de dupla imaginária:
enquanto uma parte da personalidade se relaciona com elementos arcaicos do próprio
paciente, a outra trancafia seus processos intrapsíquicos e lança mão do uso maciço
de identificações projetivas. Pela incapacidade de tolerar realidades psíquicas
internas que coexistam em si, está nega não só a realidade interna, mas também a
realidade externa.
Ataques aos vínculos:
Sandler (2009), outro autor brasileiro de importante referência dedicado ao
estudo da obra de Bion, coloca que, na psicose do cotidiano, a personalidade
conserva uma parte preservada pela amorosidade, realidade e tolerância, mas
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apresenta também uma porção de seu funcionamento estéril, imaturo e por vezes
cruel, ou seja, na parte da personalidade que funciona psicoticamente, o ódio, além
de ser destinado à realidade externa, é também voltado aos sentidos, às emoções e
à própria vida.
Nessa perspectiva, na personalidade psicótica predominam os impulsos
destrutivos. O produto mental evacuado, entendido como destroços egoicos e
superegoicos, torna-se persecutório e distorce, contamina a percepção do real. A
parte psicótica da personalidade emprega esse produto mental evacuado e
reintrojetado como material para formar o pensamento (Grinberg, 1973).
A respeito disto, para Junqueira de Mattos (1992a), Bion contribuiu de maneira
inovadora com a psicanálise ao aperceber-se de que as vivências psicóticas estão
sob o primado do princípio do “antipensamento” (p. 325), por “(...) evadir-se do
conhecimento” (p. 459).
Assim, tanto a qualidade do pensamento como a do pensador, isto é, do
aparelho para pensar, ficam comprometidas, de modo a converter o desenvolvimento
do pensamento de estado dinâmico em um estado estático. O ataque extensivo à
consciência e ao aparelho das percepções, para Sandler (2009), obstrui estas
capacidades, configurando-as com um traçado rudimentar e imobilizando o
pensamento para permanecer em uma só perspectiva, promovendo falhas na
“capacidade da mente de vincular pensamentos” (p. 23).
Rezende (1995) sintetiza esse entendimento na proposição: psicotizando é que
absolutizo, não vendo outras possibilidades” (p. 28), e mais: a versão psicótica,
quando não inverte o sentido, privilegia um sentido só, absolutizando-o de maneira
unívoca e sem saída (p. 31).
Ademais, Rezende (1997) também explica que o pensar psicótico distorce o
princípio da realidade de modo a coincidir com o princípio do prazer, negando a
frustração. É por isso que, com o predomínio dos mecanismos psicóticos, o contato
com a realidade fica contaminado e impossibilitado de fazer, experiência da verdade
enquanto correspondência ao real” (p. 330).
Nos termos de Junqueira Filho (2009, p. 57, grifo do autor), essa “distorção do
entendimento” opera como armadilha que dissimula a verdade e se constitui como
barragem de defesa para lidar com o impasse criado pelo confronto com o real.
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Desse modo, em análise pode-se perceber que o paciente tem uma relação
parcial consigo mesmo, realizando ataques destrutivos ao elo entre ele e a realidade,
ou entre diferentes aspectos de sua própria realidade interna, tornando-se um
desconhecido de si mesmo e avesso ao conhecimento das próprias verdades. Esse
mecanismo, descrito por Bion como ataques aos vínculos, produz inibições na
capacidade do pensamento, linguagem e conhecimento e na formação de símbolos
(Bion, 1991b).
Bion, levado pela influência kleiniana, ressaltou em muito sua compreensão
acerca da intersecção entre a onipotência e a atividade de pensar psicoticamente, de
tal modo que chegou a firmar que a onipotência é o contrário da gratidão e que, em
tese, nas palavras de Rezende (1995, p. 224), “o onipotente é invejoso”.
Assim, segundo Grinberg (1973), no estado mental psicótico se desenvolverá
a onipotência e a onisciência como substitutos do processo de aprendizagem e não
existirá uma função ou uma atividade psíquica que possa discriminar entre o
verdadeiro e o falso; tão pouco haverá um tipo de pensamento capaz de autênticas
simbolizações (p. 54).
Da mesma forma, a função do superego, na sua porção construída de
fragmentos primitivos de destrutividade, alcança tamanha severidade que prevalece
uma superioridade moral no trato com o outro, marcada pela arrogância e estupidez
em substituição ao juízo crítico, à inteligência e ao orgulho sadio. Desse modo,
inscreve e impõe leis próprias não só ao próprio ego, mas também aos demais, ficando
tomado de cólera quando contrariado, visto que está na perspectiva de que tudo sabe,
pode, condena e controla.
Contribuindo com esse sentido, Rezende (2003) lembra a proposição de Bion
de que o orgulho, quando associado à pulsão de vida, sinaliza autovalorização, mas,
se associado à pulsão de morte, converte-se em arrogância.
Assim também, Rezende (1995) afirma que, na versão psicótica “‘as coisas têm
que ser do jeito que eu quero que sejam’” (p. 176), e carente de pensamento e dotado
de intolerância, o agir psicótico adiciona vivências na seguinte equação: “quanto mais
intolerante, mais atuante; quanto mais atuante, mais frustrado” (p. 179).
Para Grinberg (1973), Bion compreendeu que a parte com funcionamento
psicótico se organiza com um superego que rege sua moral sob critérios de uma
“superioridade destrutiva” (p. 52), privando o outro (o não-eu) de existência própria.
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Nesse estado, a função do superego alcança enorme severidade e prevalece, na
dinâmica psíquica do paciente, como uma superioridade moral no trato com o outro,
marcada pela arrogância e estupidez em substituição ao juízo crítico, à inteligência,
ao orgulho sadio e à criatividade.
Além do ataque ao ego e à matriz de pensamento, esse mecanismo de
funcionamento do Superego ataca também a capacidade de reparação, de modo que
transforma o sentimento de culpa normal em patológico, pelo aspecto cruel de culpa
persecutória extrema. Segundo Sapienza (1992), este Superego aterroriza tanto o ego
que lhe impõe o peso de “ sacrifícios melancolizantes e trilhas suicidas” (p.309).
A serviço deste funcionamento, a curiosidade se transforma em intrusão, e a
linguagem, para evacuar a ansiedade, faz par com acting-out e, pela via da
identificação projetiva, produz efeitos dissociativos e confusionais no outro também.
Com a capacidade de pensamento comprimida, o símbolo é substituído pela
equação simbólica, de modo que os pensamentos, palavras e sentimentos são
distorcidos enquanto capazes de causar danos reais, e então precisam ser expulsos
para fora do psiquismo como em uma evacuação mental.
Em sucintas palavras, Zimerman (2004a), apresentando as ideias de Bion,
explica que esta área de hipertrofia mental está sob o primado do funcionamento
mágico, do “pensamento vazio” e do estado psíquico de angústia batizado como
“terror sem nome” (p. 133, grifos do autor).
Neste sentido, Sapienza (1992), fazendo referência à teoria psicanalítica de
Bion, explica que na parte psicótica da mente, predominam configurações de fantasias
primitivas inconscientes” que produzem jogos mentais “esterilizadores” e “atividades
mentais predatórias e degenerativas” entre os objetos internos, imperando um
“pandemônio de relações objetais impregnadas de desespero e malignidade
vampiresca”. Além disso, “a atividade desse vetor favorece a dispersão, negativação
de vínculos emocionais”, sobretudo ataca os vínculos de amor e conhecimento, pois
“opõe-se à simbolização”.
Promove uma confusão entre objetos internos fragmentados e mortos, que
procuram “vorazmente existência, com momentos de intenso estupor e violência
impulsiva”, e disto se faz a argamassa emocional que constrói a “barragem defensiva”
que interrompe o “livre trânsito da oscilação dinâmica” entre a parte psicótica e não
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psicótica da personalidade. (Sapienza, 1992, p. 303, grifos do autor). Em outro
trabalho, Sapienza (2009) caracteriza esse estado como “inércia psíquica” (p. 37).
Não obstante, como continua o mesmo autor (1992), no estado de
funcionamento mental não psicótico prevalecem forças mentais de fertilidade e
criatividade entre os objetos internos, de modo que qualidades de confiança,
restauração e simbolização arquitetam uma construção interna de crescimento.
Esse estado, conforme explica Sapienza (2009), alberga um fluxo dinâmico de
transformação dos vínculos estabelecidos entre os objetos internos, de tal forma que
lhes confere condições cíclicas equivalentes a questões humanas universais, as
quais, assim como os vínculos, podem nascer, viver, crescer, ligar-se, desligar-se,
morrer e renascer.
4 TEORIA DE GRUPO
A teoria dos grupos de Bion parte de uma distinção inicial, existe o que é
denominado de grupo de trabalho de grupo refinado ou grupos de base, ou
mentalidade grupal, ou ainda de grupo de pressupostos básicos.
Grupo de trabalho: Diz respeito a reunião de pessoas para realizar uma tarefa
específica, cada um dá sua contribuição de acordo com o que tem a oferecer, assim
consegue – se manter um bom espírito de grupo.
Mentalidade de grupos: É definida por Bion como “ a expressão unânime da
vontade do grupo, à qual o indivíduo da vontade do grupo, à qual o indivíduo contribui
por maneiras das quais ele não se dá conta, influenciando desagradavelmente sempre
que ele pensa ou se comporta de um modo que varie desacordo com os pressupostos
básicos, ou seja, o indivíduo contribui com o grupo não percebendo quando pensa se
comporta favoravelmente a vontade do grupo.
Pressupostos básicos: Bion identificou três tipos de padrões de
comportamento próprios dos fenômenos de mentalidade de grupo, denominados
como dependência, acasalamento e luta – fuga. O primeiro diz respeito da
necessidade que o grupo tem por um líder, podendo ser uma ideia, pessoa ou história
do grupo. O segundo, o acasalamento, é que o grupo futuro atenderá ás necessidades
pessoais de seus membros, como um grupo melhorado, uma esperança no futuro.
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O terceiro pressuposto básico está relacionado a luta – fuga, ou seja, o grupo
junto pode escolher lutar com alguma coisa ou fugir.
Cultura de grupos – o grupo reage aos efeitos da mentalidade do grupo
elaborando uma cultura própria sua. Bion usou essa expressão para descrever os
aspectos que nasciam do conflito entre a mentalidade do grupo e as vontades dos
indivíduos.
Como Bion dedicou pouco esforço ao entendimento dos grupos de trabalho,
algumas questões ficaram sem respostas, como por exemplo: os fenômenos próprios
da mentalidade de grupo ocorrem em grupos de trabalho onde existe um objetivo claro
uma agente e uma liderança formal? Não foi possível descobrir também como evitar
ou reduzir a perturbação que os pressupostos básicos impõem aos grupos de trabalho
na redução do conceito de cultura de grupo a mentalidade de grupos pois com essa
redução, Bion reduz seu estudo da cultura dos grupos de trabalho a dos grupos
organizados. Outra questão diz respeito a redução das relações de poder a uma
perspectiva psicológica, incidindo então em reducionismo psicológico.
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Ele se expressava em uma linguagem clara e direta, fazendo-se compreender
por todos os membros do grupo. Eric Trist (citado por Bléandonu, 1993) afirma que
suas intervenções eram raras e concisas e poder-se-ia guardá-las na memória,
porque ele esperava um volume de evidências razoável antes de fazê-las. Se um
membro do grupo as fizesse, ele se abstinha de fazê-la.
Destes grupos Bion retirou o material empírico para constituir a sua teoria de
funcionamento dos grupos.
A teoria dos grupos de Bion parte de uma distinção inicial. Existe o que o
psicanalista inglês denominou de grupo de trabalho ou grupo refinado e os grupos de
base, ou mentalidade grupal ou ainda grupos de pressupostos básicos.
Grupo de Trabalho
Por grupo de trabalho entende-se a reunião de pessoas para a realização de
uma tarefa específica, onde se consegue manter um nível refinado de comportamento
distinguido pela cooperação. Cada um dos membros contribui com o grupo de acordo
com suas capacidades individuais, e neste caso, consegue-se um bom espírito de
grupo. Por espírito de grupo, Bion (1975, p. 18) entende que se trata de:
A existência de um propósito comum
Reconhecimento comum dos limites de cada membro, sua posição e sua
função em relação às unidades e grupos maiores
Distinção entre os subgrupos internos
Valorização dos membros individuais por suas contribuições ao grupo
Liberdade de locomoção dos membros individuais dentro do grupo
Capacidade de o grupo enfrentar descontentamentos dentro de si e de
ter meios de lidar com ele
Um grupo se encontra em trabalho terapêutico quando ele adquire
conhecimentos e experiências sobre os fatores que contribuem para o
desenvolvimento de um bom espírito de grupo.
Na visão deste autor, o grupo é "essencial para a realização da vida mental de
um homem, tão essencial para isto quanto para a economia e a guerra" (p. 46).
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Entretanto, os grupos que ele foi observando na sua experiência clínica não se
comportavam desta forma. Eles pareciam mobilizados por forças estranhas, que
levavam seus participantes a agirem de forma diversa à que era esperada deles na
busca da realização dos objetivos em torno dos quais eles próprios concordaram em
reunir-se. Este fenômeno levou-o a observar atentamente aquilo que ele denominou
inicialmente como mentalidade de grupos.
Mentalidade de Grupos
A mentalidade de grupos é "a expressão unânime da vontade do grupo, à qual
o indivíduo contribui por maneiras das quais ele não se dá conta, influenciando-o
desagradavelmente sempre que ele pensa ou se comporta de um modo que varie de
acordo com os pressupostos básicos" (Bion, 1975, p. 57). Ela funcionaria de forma
semelhante ao inconsciente para o indivíduo.
Ela seria responsável pelo "fracasso dos grupos" que Bion reputa à "expressão
num grupo de impulsos que os indivíduos desejam satisfazer anonimamente e a
frustração produzida no indivíduo pelas consequências que para si mesmo decorrem
desta satisfação" (p. 46).
Em suas observações ele destaca diversas situações onde o grupo parece
estar mobilizado pela mentalidade de grupo. Conversas fúteis, ausência de juízo
crítico, situações "sobrecarregadas de emoções" a exercerem influências sobre o
indivíduo, estímulo às emoções independentemente do julgamento, em suma:
"perturbações do comportamento racional do grupo" (p. 31).
Desta forma, os grupos seriam como uma moeda, que possui duas faces, uma
voltada à consecução dos seus objetivos e uma outra regida por impulsos dos seus
membros, impulsos estes que se manifestariam quando se está reunido em um grupo
de pessoas.
Um dos termos que Bion utiliza para definir a mentalidade dos grupos é "padrão
de comportamento". Humbert (1985) afirma que o termo "pattern of behavior", foi
desenvolvido pelos biólogos e que havia sido incorporado por Jung para a definição
dos arquétipos. Este conceito articula a ideia de herança genética às contribuições
dadas pela cultura, diferentemente do conceito de instinto, muito empregado por
psicólogos do século XIX. Este conceito assemelha-se também à ideia de estrutura.
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Ao prosseguir seus estudos, Bion foi distinguindo três padrões distintos, mas
intercambiáveis, que seriam uma constante na mentalidade de grupos. Ele os
denominou pressupostos básicos (basic assumptions).
A teoria dos pressupostos básicos possui suas raízes na teoria freudiana, que
tenta explicar os fenômenos grupais a partir da libido (instinto sexual). No seu famoso
estudo intitulado "A Psicologia de Grupo e Análise do Ego" ele abandona a proposta
de Trotter, que formulara a existência de um instinto gregário primário e inato para
explicar os fenômenos de grupo, para sustentar a hipótese psicanalítica de que os
fenômenos grupais possuem como origem um investimento afetivo sobre um objeto
que não pode ser obtido, seguido pela identificação com os supostos "rivais".
O pai da psicanálise ilustra seu ponto de vista com o nascimento de um
segundo filho na família (que gera inveja no primeiro, e que é punida pelos pais,
gerando uma identificação e um sentimento de comunidade, como forma possível de
conviver com esta ambivalência), a identificação entre as fãs de um cantor ou pessoa
de destaque e a competição pelo favoritismo entre as crianças na escola, seguida de
uma ênfase e exigência de igual tratamento.
Para Freud, o que "posteriormente aparece na sociedade sob a forma
de Gemeingeist, esprit de corps, espírito de grupo etc., não desmente a sua derivação
do que foi originalmente inveja" (Freud, 1921/1969b). Há, portanto, na origem do
sentimento social, segundo a psicanálise freudiana, a "influência de um vínculo
afetuoso comum com uma pessoa fora do grupo". Ele é uma "formação reativa contra
atitudes hostis de rivalidade".
No pós-escrito deste artigo, Freud afirma que os impulsos diretamente sexuais
são desfavoráveis à formação de grupos, e ilustra sua posição com a busca de
privacidade do casal, a sua autossuficiência enquanto enamorados e os sentimentos
de ciúme. Em outro trabalho conhecido, "O mal-estar na civilização", Freud
(1930/1969a) trata dos instintos agressivos, argumentando pela existência de
situações onde eles se manifestam de forma associada aos instintos eróticos.
Os casos de sadismo e masoquismo são ilustrativos. Os trabalhos de Bion,
entretanto, possuem um enfoque e interesses diferentes aos do pai da psicanálise.
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Pressupostos Básicos
À medida que vai observando os grupos, Bion identifica três tipos de "padrões
de comportamento" próprios dos fenômenos de mentalidade de grupo. Ele
denominou-os como dependência, acasalamento e luta-fuga. Bléandonu (1993, p. 52)
destaca a semelhança entre estes três tipos e a teoria de um dos mestres de Bion, o
médico e psicólogo Hadfield.
Hadfield diferenciava uma tríade de pulsões, a saber: a libido-sexual, a
agressão ou afirmação de si mesmo, e a dependência. (notar-se-á, de passagem, a
semelhança com os três pressupostos básicos propostos por Bion).
Um dos primeiros fenômenos observados por Bion (1975) foi a demanda que
seus grupos apresentavam por um líder, capaz de satisfazer aos seus membros. “O
grupo é bastante incapaz de enfrentar as emoções dentro dele, sem acreditar que
possui alguma espécie de Deus que é inteiramente responsável por tudo o que
acontece" (p. 30).
Este pressuposto básico é o de que "existe um objeto externo cuja função é
fornecer segurança para o organismo imaturo". Este objeto pode ser uma pessoa,
uma ideia ou a história do grupo.
O líder que age segundo este pressuposto básico se comporta como se fosse
"onipotente" ou "onisciente", características próprias de uma divindade. Qualquer
pessoa que queira ocupar o lugar de líder, uma vez já ocupado (ou pelo menos
atribuído pelos membros do grupo), pode ser rechaçada, desdenhada ou
menosprezada. Quando o suposto líder se recusa a agir segundo o papel que se
espera dele, cria-se um mal-estar no grupo, que pode recorrer a explicações
fantasiosas para manter-se coeso.
Os membros do grupo, agindo segundo este padrão de comportamento,
disputam a atenção do líder e podem sentir "culpa pela voracidade" com que o fazem.
Eles frequentemente consideram suas experiências insatisfatórias e insuficientes para
lidar com a realidade, desconfiam da sua capacidade em aprender pela experiência.
Seus sentimentos mais frequentes são os de inadaptação (à vida, às suas
experiências etc., e não apenas ao grupo) e de frustração.
Bion (1975) acredita que as pessoas aceitam estar em um grupo de
dependência para "evitar experiências emocionais peculiares aos grupos de
acasalamento e de luta-fuga" (p. 72).
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O segundo pressuposto básico identificado por Bion é que "está por vir um novo
grupo melhorado" ou que o grupo futuramente atenderá às necessidades pessoais de
seus membros e o autor às vezes se refere a este pressuposto como "esperança
messiânica", mas o denominou como "acasalamento" em uma clara acepção à origem
psicanalítica do termo.
O grupo de acasalamento foi inicialmente observado em pares que
conversavam assuntos diversos, à parte, sem que o grupo se incomodasse com eles
ou chamasse a sua atenção, aceitando-os. Eles pareciam-se com casais de
namorados, embora não tratassem de nenhum assunto de conteúdo explicitamente
sexual.
O líder do grupo, neste pressuposto básico, está por nascer, e pode ser uma
"pessoa ou ideia" que salvará o grupo. Bion entende que está "salvação" é, na
verdade, dos sentimentos de ódio, destrutividade e desespero com relação ao seu
próprio grupo ou a outro (daí a referência ao messias).
Os membros de um grupo que está agindo sob a influência deste pressuposto
básico, de forma geral, não estabelecem conversas com o "líder formal" ou chefe do
grupo. A emoção mais presente no grupo de acasalamento é a esperança, e a atenção
de seus membros, acha-se voltada ao tempo futuro.
O terceiro pressuposto básico é o de luta-fuga e pode ser exposto da seguinte
forma: "estamos reunidos para lutar com alguma coisa ou dela fugir".
Os membros do grupo discutem sobre pessoas ausentes (que são um perigo
para a coerência do grupo), estão tomados pela sensação de que a adesão do grupo
é um fim em si mesmo, eles ignoram outras atividades, que não sejam este debate
infrutífero, fogem delas. Eles acreditam, ou agem como se acreditassem, que o bem-
estar individual é menos importante que a continuidade do grupo.
O líder reconhecido como tal por este grupo é o que concede oportunidades
para a fuga (que é a mesma coisa que a luta das discussões infrutíferas em torno da
conservação do grupo). É ignorado quando não atua desta forma.
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Assim como Freud, ele se atém à igreja, afirmando que se trata de um grupo
especializado de trabalho sujeita à interferência de fenômenos de grupo de
dependência. O segundo qual estaria sujeito a fenômenos de grupo de luta-fuga.
Ele considera a aristocracia como um grande grupo mobilizado por fenômenos
de acasalamento. Conclui-se, portanto, que neste momento de sua obra ele considera
válida a aplicação dos conceitos relacionados à dinâmica dos grupos de base às
grandes organizações, não estando muito atento aos problemas que se criam ao se
retirar conceitos do seu território de origem.
Cultura de Grupos
Como o grupo reage aos efeitos de uma mentalidade de grupos? Ele elabora
uma cultura característica sua.
Bion (1975) empregou o termo cultura de grupo de forma intencionalmente
vaga como mostra a citação abaixo:
Expressão que empreguei para descrever aqueles aspectos do comportamento do
grupo que pareciam nascer do conflito entre a mentalidade do grupo e os desejos do
indivíduo. (p. 47)
No início do seu trabalho ele emprega metáforas genéricas para descrever as
culturas de grupo, como "teocracia em miniatura" e "cultura de pátio de recreio". À
medida que ele vai desdobrando o conceito de mentalidade grupal nos seus três
padrões de comportamento ele associa a cultura a estes últimos, referindo-se a ela
como "cultura de luta-fuga" ou "cultura de grupo dependente".
Infelizmente o psiquiatra inglês se ateve pouco ao grupo de trabalho,
focalizando sua análise sobre cultura na mentalidade de grupos.
Ele crê que a intervenção nos grupos fortemente influenciados pela
mentalidade de grupo se dá através de uma prática clínica. O terapeuta de grupo vai
interpretando as manifestações da mentalidade de grupos à medida que elas se
manifestam, evitando ocupar o lugar de líder que seria desejado pelo grupo
influenciado por um padrão de comportamento. Ele deve lidar com emoções
desagradáveis, algumas vezes agressivas, que surgem.
20
5 A TEORIA DO CONHECIMENTO
Fonte:pt.slideshare.net
21
na mãe são obrigadas a retornar a ela sob a forma de um “terror sem
nome”, o qual gera mais angústia e mais ódio.
No lugar de K forma-se um vínculo – K, ou um não K, que são os casos
mais extremos em que a mãe externa não contém e não dá significado,
sentido e nome às identificações projetivas do bebê.
É importante salientar que a função K não se refere somente à posse de
um conhecimento ou saber, mas sim a um enfrentamento do “não
saber”. Assim, o saber será o resultado da tarefa do descobrimento e do
aprendizado com as experiências da vida: as boas e as más. A função
do conhecimento está intimamente ligada à da formação de símbolos,
sendo esses que permitem uma evolução da criança à condição de
poder conceituar, generalizar e abstrair, expandindo o seu pensar e o
seu conhecer.
Para Bion, uma teoria é um produto de um processo de pensar e,
simultaneamente, é uma preconcepção que espera realizações que se
aproximem dela. A preconcepção é análoga ao pensamento vazio
kantiano. A concepção é a junção de uma preconcepção com uma
realização e o pensamento surge da união de uma preconcepção com
uma frustração. Os conceitos têm nome, são concepções ou
pensamentos firmados.
O eixo central da formação do Conhecimento e do Pensamento é a
maior ou menor capacidade do ego da criança em tolerar as frustrações
decorrentes das privações. A criança tanto pode fugir dessas
frustrações, criando mecanismos que evitem conhecê-las (ela evita o
problema, mas não evita a angústia), como pode aprender a modificar a
realidade, através da atividade do pensar e do conhecer.
O desenvolvimento cognitivo da criança será mais ou menos exitoso
dependendo de três fatores: de como a mãe real utiliza o seu próprio
pensar e conhecer e de como contêm as angústias do seu filho. Da
capacidade da criança quanto à formação de símbolos, do desejo de
conhecer a respeito dos conteúdos mentais como estando intimamente
relacionado com as emoções de amor e ódio.
22
O termo vínculo designa uma experiência emocional pela qual duas ou
mais pessoas, ou duas partes de uma mesma pessoa estão
relacionadas entre si.
5.1 Vínculos L, H, K
23
Se a capacidade de reverie da mãe for suficiente a criança terá condições de
fazer uma aprendizagem com as experiências das realizações positivas e negativas
impostas pelas privações e frustrações e, neste caso, ela desenvolve uma função K.
Se a capacidade de reverie da mãe for insuficiente a criança desenvolve um
vínculo –K (a mãe é introjetada pela criança como uma pessoa que a destitui de seus
objetos bons e a obriga a ficar com os objetos maus), ou pode resultar num vínculo
“não K”.
6 MEMÓRIA E DESEJO
Bion traz a sua conhecida proposta de “sem memória sem desejo” ancorada
em vários pressupostos. Diz que como registradora dos fatos acontecidos, a memória
pode ser enganadora, pois é distorcida pela influência de forças inconscientes e os
desejos interferem na operação do julgar, pela ausência de mente onde ao mais
importante é a observação, já que os desejos distorcem o julgamento suprimindo o
material a ser julgado.
Para Bion a sessão de psicanálise não deve ter história nem futuro, a única
importância para ele na sessão é o desconhecido. Ainda traz como sugestão para o
psicanalista que não traga a memória às questões abordadas nas sessões anteriores
priorizando uma melhor concentração do que está acontecendo na sessão corrente.
Em relação ao desejo Bion, diz que o psicanalista não deve apresentar desejo
de fim da terapia, da semana ou do ano, assim como desejos de resultados, de “cura”
ou mesmo de compreensão. Agindo desta forma o psicanalista terá no início muita
ansiedade, mas que com o passar do tempo adquirirá a certeza de que cada sessão
se completa por si própria.
Bion em sua visão de tratamento pontua que não se deve polemizar com o
paciente e nem contrapor a sua verdade com a do analista e sim abrir novos caminhos
para visualizar um fato em comum, porque através disso ele possibilita o paciente a
refletir. Com relação ao setting analítico, ele nos dá a entender que não se refere
somente a horários, espaço físico e honorário, mas a um campo analítico, onde
analista e paciente vão interagir, influenciando e sendo influenciado um pelo outro.
Podendo assim a encontrar novas soluções.
24
Bion atribui importância relevante a dor psíquica, pois através do fato de sentir
dor e, é necessário sofrê-la, poderá crescer com a experiência. Todo processo de
mudança de um indivíduo no processo de análise, sempre virá acompanhada de dor
e sofrimento, sendo que o mesmo pode fugir da dor ou enfrentá-la, sendo que este
último caminho é o que traz a transformação.
Para Bion um paciente está em condições de terminar sua análise quando
adquiriu uma função psicanalítica, ou seja, longe fisicamente de seu analista
consegue dialogar com suas diversas partes. Segundo a psicanálise não deveria ficar
só nos consultórios, pois é uma prática de vida. Por isso que não existe uma crise da
psicanálise, pois a função analítica é inerente ao ser humano e enquanto existir o
homem existirá a psicanálise.
25
uma teoria da relação analítica baseada na transferência e de uma teoria
do desenvolvimento mental baseada em Édipo.
26
As transformações em ser ou tornar-se a realidade (diferenciando,
assim, os movimentos para conhecer e ser daqueles próprios à gênese
do pensar). Temos aí uma teoria do funcionamento mental, mais
sofisticada e bem mais abrangente que as do funcionamento neurótico
e psicótico.
A teoria do conhecimento de Bion (1962/1966, 1963/2004 a 1965/2004b) é uma
teoria do desenvolvimento mental. Podemos mesmo afirmar tratar-se da mais
sofisticada teoria sobre o conhecer já surgida no campo psicanalítico.
E também percebê-la como uma teoria sobre fenômenos mentais ainda
anteriores aos edípicos como descritos por Freud e Klein; é igualmente fácil perceber
que no conceito de vínculos de amor, de ódio e de conhecimento (Bion, 1962/1966)
estão contemplados os três vínculos presentes na proposta freudiana do Complexo
de Édipo. De forma convergente, Bion também trouxe contribuições originais à nossa
compreensão do mito edípico e do Complexo de Édipo, como os conceitos de situação
edípica e de preconcepção edípica.
8 TEORIA DO PENSAMENTO
27
Bion introduz a noção de que é necessária uma distinção entre elementos do
pensamento e os pensamentos propriamente ditos. Para Bion, “o pensar é um
desenvolvimento forçado sobre o psiquismo, pela pressão dos elementos dos
pensamentos, e não o contrário”.
Na realização positiva há uma confirmação de que o objeto necessitado está
realmente presente e atende às suas necessidades. Na realização negativa, o lactante
não encontra um seio disponível para a satisfação e essa ausência é vivenciada como
a presença de um seio ausente e mau dentro dele.
Para Bion todo objeto necessitado, em princípio, é sentido como sendo mal
porque se ele o necessita é porque não tem posse dele; logo, esses objetos são maus
porque a sua privação provoca muito sofrimento.
Se a capacidade inata do ego para tolerar as frustrações for suficiente, a
experiência do “não seio” torna-se um elemento do pensamento (protopensamento) e
se desenvolve um aparelho psíquico para “pensá-lo”. Se a capacidade inata para
tolerar as frustrações for insuficiente, o “não seio” mau, deve ser evadido e expulso
pelo emprego de maciças identificações projetivas.
As experiências de realização negativa são inerentes e indispensáveis à vida
humana, e elas podem seguir dois modelos de desenvolvimento:
Se o ódio resultante da frustração não for excessivo à capacidade do ego do
lactante em suportá-lo, o resultado será uma sadia formação do pensamento, através
da “função α”, a qual integra as sensações e as emoções. A função α é a primeira que
existe no aparelho psíquico e é ela quem vai transformar as sensações e as primeiras
experiências emocionais em elementos α.
Os elementos α são processados pela função α, são utilizados pela mente para
a formação de sonhos, recordações e para as funções de simbolizar. Os elementos
α formam um conjunto denominado de “barreira de contato” que resulta do conjunto
formado pelos elementos α, demarca a fronteira de contato e de separação entre o
consciente e o inconsciente.
Se o ódio resultante da frustração for excessivo, os elementos do pensamento
que se formam, denominados “elementos β”, não se prestam para a função de serem
pensados e precisam ser imediatamente aliviados, portanto, descarregados pela
criança. Os elementos β são protopensamentos, ou seja, experiências emocionais e
sensoriais primitivas e que, portanto, não puderam ser pensadas até um nível de
28
conceituação ou de abstração, elas devem ser expulsas e evacuadas para fora. Os
elementos β formam um conjunto denominado de “pantalha ou tela β” a qual não
possibilita uma diferença entre o inconsciente e o consciente, entre a fantasia e a
realidade e nem a elaboração de sonhos.
A essência da formação dos pensamentos úteis depende não só da capacidade
de tolerância às frustrações, como também da capacidade em suportar as
depressões, ou seja, vai depender basicamente do modo da passagem da posição
esquizo-paranóide para a posição depressiva.
A relação entre o pensador e o pensamento, sob o modelo continente-
conteúdo, foi estudada por Bion e, segundo ele, adquire três formas:
A primeira é a forma parasitária: Na qual o pensador e o pensamento novo
se desvitalizam, se destroem entre si e se nutrem de mentiras que funcionam como
uma barreira contra a verdade.
A segunda é a forma comensal: Em que o pensador convive com o seu
pensamento sem grandes atritos e, se não impede a evolução, também não possibilita
grandes mudanças.
A terceira é a forma simbiótica: Pela qual o pensador e o pensamento se
harmonizam e se beneficiam mutuamente entre si.
29
vínculo implícito entre essas atividades, dado por algo de essencial no modo de Bion
pensar e elaborar suas ideias.
Esse modo levará autores como Donald Meltzer a buscar, nas diferentes
facetas do estilo de Bion, uma linha de inteligibilidade para seu método de exposição
teórica e o objetivo subjacente a ele. Acredito que uma característica essencial dessa
faceta seja o modo como a alteridade se apresenta em seu pensamento.
Em linhas gerais, o conceito de função-alfa representa uma qualidade da
personalidade para lidar de modo criativo e pessoal com os dados de uma experiência
emocional que, sem essa função, permaneceriam presentes, mas não assimilados
pelo eu.
Os dados não trabalhados por essa função, nomeados de elementos beta, são
associados por Bion na forma de uma analogia à matéria não digerida e tóxica do
processo digestivo. Assim, a operatividade da função-alfa está diretamente
relacionada com esses dados e não pode ser pensada independentemente deles –
seja por sua existência, seja por características do processo de conversão da matéria
bruta em alimento, ou melhor, em uma abstração. Essa função age no início do
processo de sofisticação do pensamento, modificando o que há de concreto na
experiência com o mundo interno ou externo, em direção à formação do pensamento
simbólico.
Pode-se afirmar, então, que essa função pressupõe a presença de uma
alteridade, por vezes radical, e seu bom funcionamento implica admissão e
sustentação psíquica e emocional da mesma. Prosseguindo com associações
abstraídas do trato digestivo, a assimilação de dados de uma experiência não é, para
Bion, o mesmo que dissolver ou eliminar algo de sua alteridade, e representa os
primeiros passos para que esta venha a ser tratada como tal.
Guardadas as devidas proporções, as características da personalidade ligadas
à função-alfa estão relacionadas à maneira como Bion desenvolve e apresenta suas
próprias ideias. A observação da proximidade existente entre essas características,
seu estilo e suas elaborações mais abstratas pode facilitar a apreensão do conceito e
o contato com sua teoria. Para esse autor, há uma via de mão dupla constante entre
as abstrações teóricas e a prática, ainda que ela nem sempre esteja clara em suas
discussões.
30
Como diz Lansky, “em termos de formação de teoria, o trabalho de Bion
sempre lida com o concreto, não importa o quão abstrato e matemático pareça ser”.
Minha proposta será, portanto, destacar o que há de essencial no conceito de função-
alfa e formar uma ideia sobre aquilo que tornou necessária sua concepção.
O processo de criação desse conceito em particular e as teorizações de Bion
em geral estiveram intimamente ligados a um interesse filosófico pelos fundamentos
da Psicanálise e do processo analítico, assim como à caracterização de seus
elementos essenciais. Em sua teoria, são frequentes as reflexões sobre o método e
as condições de possibilidade para o acesso da personalidade à realidade de uma
experiência emocional, tanto do lado do paciente quanto do lado do analista.
O conceito de função-alfa procurou dar conta de descrever a maneira como a
realidade se tornaria psiquicamente disponível e, além de ser um dos principais
componentes de sua teoria do pensar, é um dos dispositivos que levaram à
elaboração dessa mesma teoria. Para desenvolver essa ideia proponho que, em vez
de entrarmos em um terreno mais característico da filosofia, realizemos uma
aproximação com algumas questões que a prática clínica colocava aos psicanalistas
naquela época.
Bion destacou a dimensão do desconforto, da incerteza e do desamparo do
analista, associada à dispersão e à fragmentação dos dados da experiência clínica.
Contudo, seus relatos de caso também evidenciam uma franca disposição para
suportar situações de intensa pressão emocional, por meio da qual podemos
apreender algo do lugar e do modo de ser analista.
Seu artigo “On arrogance”, de 1957, ilustra bastante bem a situação precária
vivida pela dupla analítica em um determinado momento da análise, quando as
interpretações conhecidas não serviam mais e o paciente mal podia articular-se
verbalmente. Aos poucos, apresenta a saída inusitada a que consegue chegar com a
ajuda do paciente, a partir da sensação de estar perdido, e ainda assim ser capaz de
sustentar (stand) a situação.
Vale a pena conferir no dicionário a riqueza de sentidos da palavra inglesa
stand, presente no texto original e utilizada por Bion para descrever seu estado mental
durante a sessão. Em trabalhos posteriores, serão amplamente desenvolvidas as
características das funções analíticas, como a capacidade de conter e de sonhar, na
31
sessão, experiências primárias como essa. Foi com base nesse tipo de situação que
o conceito de função- alfa foi desenvolvido.
Uma das principais inquietações de Bion diz respeito ao que é feito ou como se
reage ao novo e ao desconhecido, procurando, com isso, chamar a atenção dos
psicanalistas para a experiência de intolerância às emoções e ao estranhamento e
desconforto gerado pelo encontro com o outro e com o outro de si mesmo.
Desse modo, em vez de a dimensão do desconforto, da frustração e da
incerteza revelar uma dificuldade de ordem exclusivamente pessoal do analista ou um
problema do paciente e de suas psicopatologias, ela expressa algo da dinâmica
psíquica na relação analítica, compondo parte das reflexões de Bion sobre as
consequências de se investigar a vida mental, suas emoções e seus distúrbios.
É possível considerá-la uma presença ora silenciosa, ora ruidosa, que marca
grande parte das elaborações teóricas do autor, influencia as discussões
epistemológicas e metodológicas e, inclusive, transborda para o estilo de sua escrita
e de suas comunicações.
É desde seu trabalho com grupos que se pode notar um posicionamento clínico
e uma atitude mental de curiosidade e de abertura a certas particularidades dos
fenômenos, referentes a seus aspectos primitivos. Bion percebeu, nos grupos, uma
simultaneidade entre comunicações verbais e não-verbais, que o levou a sugerir a
existência de uma mentalidade grupal de origem protomental ou proto-somática, onde
o físico e o psíquico estariam indiferenciados.
Em cogitações, Bion cunha usa o termo “trabalho onírico alfa”, para representar
a atividade mental que armazena e que torna disponível ao conhecimento, à
recordação, ao pensamento inconsciente e ao trabalho onírico, tal como descrito por
Freud, os dados da experiência emocional. Do contrário, estes permaneceriam
presentes, porém desconhecidos e tóxicos.
O termo “alfa” é uma incógnita que serviu para enfatizar a elaboração de um
postulado, ou de uma hipótese teórica acerca de uma atividade mental em si mesma
desconhecida, e que, para Bion, exigia uma formulação conceitual.
O “trabalho onírico alfa” foi mais tarde nomeado de “função-alfa”, para que não
fosse confundida com o trabalho de sonho, tal como Freud o compreendia. Essa
função representou tanto uma estratégia do pensamento de Bion quanto uma função
32
da personalidade para lidar com eventos que pediam compreensão e que, portanto,
estariam dispersos e fragmentados (os elementos-beta).
As incógnitas alfa e beta indicam que os termos são, em si mesmos,
incognoscíveis, mas passíveis de adquirirem significado na experiência; eles foram
propostos com a intenção de evitar que os termos fossem associados a significados
definitivos e, desse modo, permanecem abertos ao desconhecido da experiência.
Segundo o autor, a cristalização do pensamento na psicose poderia ser análoga ao
risco que os analistas correm ao se apegarem, demasiadamente, a certos conceitos,
dando a eles uma concretude que dificulta a flexibilidade que precisariam ter em cada
situação.
Bion evidencia a existência da incógnita no pensamento analítico e, no caso da
função-alfa, na própria personalidade; ela representa, assim, a condição de abertura
ao impensado de si e do outro, ao desconhecido e ao que está para ser sonhado e
pensado.
Ela é mais do que uma função metodológica da personalidade para a
investigação e para observação da realidade; a função-alfa converte as impressões
em material onírico e estabelece ligações entre os elementos da experiência
emocional, de modo a suprir a mente de realidade, do que parece ser verdadeiro e de
existência.
A alteridade é uma presença constante no pensamento de Bion e está
entranhada nas peculiaridades do estilo, na teoria e na prática desse autor. Com o
conceito de função-alfa, ele encontrou um modo de se aproximar do mundo bizarro e
idiossincrático do psicótico e de elaborar as condições para essa aproximação com
base nessa mesma experiência, sem ignorar o que é desconhecido ou evitar o que é
intolerável, e admiti-lo enquanto tal.
Nós temos, como analistas, ao menos a possibilidade de encontrar na obra
desse autor intuições profundas sobre a importância e sobre o significado de sustentar
e de estar aberto ao desconhecido, e sobre o quanto essa atitude pode representar
para vida emocional de nossos pacientes.
33
10 BION E A CAPACIDADE DE PENSAR
Fonte:almapapel.com
35
Assim, no curso de uma análise, tudo o que o analista pode fazer é possibilitar
ao paciente "sonhar sonhos não sonhados e choros interrompidos" (Dream
undreamed dreams and interrupted cries) na acepção de Ogden (2010).
O analista precisa ter a capacidade e a responsabilidade de reinventar a
psicanálise para cada paciente e continuar a reinventá-la durante o curso da análise
e a cada nova sessão, pensando e sonhando, aprendendo e esquecendo (Thinking
and dreaming, learning and forgetting) (Ogden, 2009).
Com efeito, de acordo com André Green (1977), a análise não se constitui
meramente como um método de tornar consciente o inconsciente, de remover o
recalque e libertar o afeto daquilo que produziu o sintoma, pelo contrário. A análise
trata de uma intimidade a dois, por meio da qual o analista "cuida" (care) do seu
paciente e o sustenta (holding) durante o seu processo. O sentido dado a "cuidar"
(care), refere-se a bem mais do que isso.
Trata-se de um cuidado especializado, dar atenção, importar-se, inquietar-se
ou preocupar-se com o sujeito que tem diante de si. Isso é possível, quando o analista,
na sua prática clínica, ajuda o paciente a se constituir como sujeito, servindo-se, às
vezes, de ego auxiliar por meio da regressão em análise. O objetivo aqui não é apenas
o de promover a cura do paciente.
Lembremos, pois, que todo paciente é fiel ao seu sintoma. De acordo com o
próprio Winnicott, com certa frequência, temos que nos contentar em deixar o paciente
ter de manipular a sintomatologia, sem tentar curá-lo do seu adoecimento (Winnicott,
1994g). Essa afirmação também é compartilhada por Masud Khan (1989) quando ele
afirma que, no trabalho clínico, algumas vezes é mais importante sustentar (holding)
uma pessoa viva do que livrá-la da sua doença. Na maioria das vezes, uma análise
pode proporcionar ao indivíduo o desenvolvimento da capacidade de cuidar de si
mesmo. Em vez de rejeitar os pacientes cuja estrutura psíquica não consegue se
adaptar ao enquadramento, cabe ao enquadramento modificar-se em função da
estrutura do paciente. Os objetivos do tratamento serão também modificados. Não se
trata tanto de "curar" o paciente, mas de torná-lo apto a tratar de si mesmo, a
encarregar-se de si mesmo. O que equivale a dizer que o tratamento fornecerá ao
paciente o enquadramento que lhe falta para conter seus conflitos. Isso não quer dizer
reprimi-los, mas permitir-lhes o desaparecimento dos sintomas que o despertar e a
conservação da vitalidade psíquica (Green, 1977, p. 8).
36
Se o enquadre pode mudar em função do sofrimento do paciente, logo, o seu
silêncio pode ser compreendido em uma perspectiva diversa daquela da psicanálise
clássica. De acordo com Green (1977), em alguns casos é preciso que o analista
abandone a neutralidade típica com o objetivo de promover a verbalização do
paciente, para que este aceite a plasticidade do objeto de transferência sem que o
analista seja silencioso o que não significa promover a "tagarelice" do analista em sua
face mais ativa. O silêncio do analisando, no mais das vezes, permite que o analista
tenha acesso à sua dor e ao seu sofrimento psíquico, dando a medida exata do seu
desespero. Seu negativo não é a fala, mas o grito, e daí a importância da vitalidade
do analista em certos momentos da análise.
Assim, o analista pode proporcionar ao paciente a capacidade para poder
pensar e elaborar as experiências vividas dentro do seu mundo interno.
37
relação amorosa, continente e conteúdo se harmonizam e beneficiam mutuamente da
relação (Symington & Symington, 1999; Zimerman, 1995).
Para Bion as díades mãe-bebê que interagem desta maneira formam um par
pensante cuja atividade ♀ - ♂ é introjetada como aparelho para pensar, enquanto
parte integrante da função α, resultando no crescimento de ambos e na co-criação de
novos significados. Este ato de criação partilhada resulta da inseminação do
continente com experiências emocionais por processar, na expectativa que este as
pense, transforme e as devolva passíveis de serem pensadas e sonhadas.
Associações impulsionadoras do desenvolvimento (Bion, 1997, cit. por Brown, 2011).
Considerando a importância da interação mãe-bebê no desenvolvimento do
aparelho psíquico do bebê e o postulado que os pensamentos e as emoções são
indissociáveis então, de acordo com Bion, teria de haver na mente uma função que
concedesse sentido e significado às experiências. À elaboração da vivência emocional
que digere a experiência e nutre o pensamento, Bion designou de função α (Martins,
2005). No período inicial de vida, a experiência mental do bebê é regida por
impressões sensoriais desprovidas de sentido ou sensações sem nome que causam
frustração – elementos β.
Estes, não digeridos, são sentidos como corpos estranhos na mente, como a
coisa-em-si mesmo apenas adequadas para serem evacuadas para o exterior, por
meio da identificação projetiva, por não serem pensadas. Através da função α, os
elementos β são transformados em elementos α, elementos com significado psíquico
passíveis de serem pensados e sonhados. Devido à imaturidade do seu aparelho
mental, quando o bebê nasce ainda não possui a capacidade de transformar o
conteúdo do sistema protomental, a experiência emocional sensorial numa
representação conceptual, sendo através da intervenção da mãe que o bebê
desenvolve a sua própria função α (Symington & Symington, 1999).
Sendo um aspecto da personalidade responsável por compreender a realidade
emocional e dar significado afetivo às percepções, a função α desenvolve-se numa
coreografia única com o seu par, a mãe (Bino, 1962, cit. por Brown, 2011). Assim, e
de forma implícita, Bino atribui a função α a uma produção do ego responsável por
atribuir significado emocional à experiência, possibilitando o desenvolvimento do
pensamento (Brown, 2011).
38
A função α decorre da ação da mãe em receber a evacuação dos conteúdos
angustiantes projetados pelo seu bebê elementos β, contê-los, tolerá-los, processa-
los e por fim, devolvê-los transformados de modo a que a criança os possa tolerar
elementos α.
Se a capacidade de rêverie da mãe lhe permitir responder adequadamente às
identificações projetivas do seu bebê, este sentir-se-á compreendido e reconfortado,
recebendo a parte de si que foi evacuada numa versão melhorada, acompanhada da
experiência de um objeto que já é capaz de tolerar e de pensar sobre ele. O bebê
começa então a ser mais capaz de se tolerar a si mesmo, apreender-se a si e ao
mundo em termos de significado e a sua experiência emocional adquire sentido e
significado psíquico.
Introjetada a função α da mãe, os elementos, outrora intoleráveis dado o seu
carácter ambíguo e desconhecido, são dotados de significado psíquico e como tal,
passíveis de serem sonhados e pensados, permitindo ao bebê a possibilidade de
enfrentar novos desafios e de aprender com a experiência. Assim, o desenvolvimento
da capacidade do bebê de pensar encontra-se dependente não só a capacidade de
rêverie da mãe para colocar ordem na experiência caótica, mas também na sua
disponibilidade como objeto predisposto a ser internalizado.
A introjeção do objeto continente e da sua função α, habilita o bebê de ele
próprio, começar a elaborar a sua própria experiência emocional (Zimerman, 1995).
Assim, a relação continente-conteúdo tem um papel preponderante na organização
do espaço mental, não só através da relação precoce mãe-bebê, mas também pela
introjecção da função α., porém, se o ódio do bebê pela frustração for maior que a
capacidade do seu ego em suportá-la, assiste-se a um movimento de fuga à realidade
angustiante, com o bebê a recorrer a mecanismos que o impeçam modificar a
realidade a partir da aprendizagem com a experiência (Jardim, 2012).
Bion faz ainda referência a situações em que, apesar de já se ter iniciado o
desenvolvimento da função α, a dor psíquica é de tal forma intensa que se assiste
uma reversão da função α com a criação de objetos bizarros, i.e., de elementos β,
diferentes dos elementos β originais, compostos por fragmentos do ego e do superego
que são descarregados ou pela ação ou para dentro do corpo pelos órgãos dos
sentidos (Zimerman, 1995).
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No caso de se verificar uma disfuncional idade na introjecção da função α, a
formação da barreira de contato pode ocorrer com falhas, comprometendo o
desenvolvimento de um espaço de troca e de comunicação no qual a constituição do
processo dialético continuo, essencial à criação do pensamento, entre
fantasia/realidade, Eu/não-Eu, símbolo/simbolizado, continente/conteúdo, em que
cada polo cria, dá forma e nega o seu oposto, fornecendo os alicerces e continentes
para a formação da identidade não se elabora.
O aparecimento da barreira de contato é crucial para o funcionamento psíquico.
É a sua tripla função de diferenciar e mediar o contato entre instâncias psíquicas, entre
o consciente e o inconsciente, entre o que pertence ao indivíduo e o que pertence ao
exterior e entre o que são as representações e as coisas em si, que possibilita a
criação de novos objetos internos e externos e a recriação do indivíduo e de objetos
com novas qualidade e novas características (Cabral, 1998, cit. por Soares &
Marques, 2009).
Para além da capacidade do bebê em suportar as frustrações, falhas na
introjecção da função α também podem decorrer da capacidade de rêverie da mãe
uma vez que, quando a mãe é incapaz de conter e dar significado, sentido ou nome
às identificações projetivas do bebê e as devolve acrescidas das suas próprias
frustrações, os conteúdos geradores de ódio e angústia permanecem na mente do
bebê, conteúdos esses para os quais o bebê ainda não desenvolveu a capacidade de
conter e nomear, resultando em dificuldades acrescidas no desenvolvimento do
aparelho de pensar, na simbolização e na comunicação, impossibilitando a
aprendizagem através da experiência.
Nos casos em que a capacidade de rêverie da mãe é insuficiente, i.e., em que
as angústias e as projeções, carregadas de elementos β, que o bebê evacua na mãe
são lhe devolvidas sob a forma de um “terror sem nome”, desenvolve-se um ego
fragilizado com enormes dificuldades em discernir entre o bom e o mau (Bion, 1962-
91). Por outro lado, quando é o estado mental da mãe que se encontra fechado para
albergar as identificações projetivas do seu bebê, reagindo de forma negativa às suas
projeções, verificar-se a inversão da rêverie cujo resultado é o desenvolvimento de
um tipo particular de superego patológico, em que a principal característica é o ódio
por qualquer desenvolvimento da personalidade (Ferro, 2002).
40
Assim, a rêverie reflete a capacidade de sonhar o Outro, um tipo especial de
sensibilidade ao outro. É a capacidade de permanecer numa atitude que permite
receber, acolher, descodificar, significar, nomear as angústias do outro e só as
devolver quando devidamente desintoxicadas (Zimerman, 1995). É um estado de
receptividade e ressonância emocional que permite à mãe receber quaisquer objetos
do seu objeto amado.
É a capacidade de acolher as identificações projetivas do bebê,
independentemente de estas serem sentidos por ele, como boas ou más (Bion, 1962,
cit. por Brown, 2011).
Sendo uma parte da função α da mãe, a rêverie é uma atitude mental da mãe
que, sem negar nada, tenta descobrir e acrescentar mais sentido e outros sentidos ao
conteúdo do seu bebê de maneira a que, quando devolvidos, haja uma catarse nela e
no bebê. São os pensamentos da mãe que vão proporcionar ao bebê o
desenvolvimento do seu aparelho para pensar e o fortalecimento do seu "Eu" uma vez
que, devido à intervenção materna, os maus conteúdos evacuados são transformados
em bons conteúdos, permitindo assim ao bebê aprender não só que as coisas podem
ser transformadas, mas que a mãe exerce um importantíssimo papel nessa
transformação.
A capacidade de rêverie da mãe é apropriada quando está cria as condições
adequadas para que o seu bebê faça uma aprendizagem com as suas experiências,
positivas e negativas, resultantes das privações e frustrações. Em contrapartida, é
insuficiente quando a mãe deixa o bebê sem capacidades de dar significado aos
conteúdos psíquicos e sensoriais provenientes da sua experiência, resultando num
colapso da criação mútua da intersubjetividade, subjacente a uma identificação
projetiva saudável (Bion, 1962-91).
Considerando a rêverie como o motor da vida mental e saúde psíquica através
da qual é possível aceitar, processar e transformar os estímulos da realidade externa,
Ferro (2006) apresenta três fontes de trauma decorrentes da relação com os objetos
primários que podem comprometer o desenvolvimento do funcionamento mental: um
defeito na função α do cuidador, incapacitando-o de transformar os elementos β do
bebê em elementos α, inabilitando a introjecção do bebê de ferramentas essenciais
para a gestão básica da vida psíquico e para o desenvolvimento da capacidade de
simbolizar e sonhar, um continente inadequado impedindo ao bebê a introjecção de
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um continente para acolher e conter as emoções e os pensamentos, potenciando o
recurso a mecanismos de defesa como a clivagem e a letargia de estados emocionais
sentidos como intoleráveis; e um excesso de estímulos (elementos β) que se
acumulam como "factos não digeridos" que aguardam a sua transformação.
Nas palavras de Meltzer (1981), o desenvolvimento e saúde mental são
decorrentes das relações íntimas na medida em que os eventos primordiais destas,
as experiências emocionais, possibilitam imbuir os conflitos de significado emocional
que, ao serem pensados e compreendidos, contribuem para o crescimento e
desenvolvimento da mente. Como tal, a aquisição dos fundamentos básicos da vida
mental, tal como a função α, responsável pela elaboração da experiência emocional,
é resultante da intensa profundidade, intimidade e reciprocidade entre a díade mãe-
bebê vivenciada na experiência da primeira relação.
Assim, quando se verificam interferências na relação ♀ - ♂, seja por uma falha
da função de rêverie da mãe, por esta não ser um continente adequado aos conteúdo
do seu bebê, seja pelo ódio e inveja do bebê que impeçam a mãe de exercer a função
de continente, o vínculo mãe-bebê é quebrado, resultando numa grave perturbação
na pulsão epistemofílica da qual depende o desenvolvimento e a aprendizagem
(Ferro, 2002), evidenciando-se assim a intersubjetividade enquanto base estruturante
do mundo intrapsíquico, onde os vínculos que se estabelecem assumem um papel
preeminente na organização dos fenómenos psíquicos e processos mentais, e na
forma como estes se relacionam nas suas relações com o objetos, internos e externos
(Rezende, 1995).
12 TRANSFERÊNCIA E TRANSFORMAÇÕES
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Em relação à contratransferência (1912) Freud diz:
“A contransferência se instala no médico, devido ao poder que o paciente exerce sobre
o seu inconsciente”. É necessário que o psicanalista possa detectá-la e dominá-la.
Cada psicanalista só chega até onde permitem seus próprios complexos e
resistências interior. A única maneira de controlar o fenômeno da contratransferência
é a análise de próprio analista”.
Melanie Klein (1946) amplia o conceito clássico de transferência ao introduzir a
noção de identificação projetiva. A identificação projetiva irá em Klein substituir este
conceito. Para a autora a transferência está enraizada nos estágios mais iniciais do
desenvolvimento e nas camadas profundas do inconsciente.
Sua concepção é mais abrangente e envolve uma técnica através da qual os
elementos inconscientes da transferência são deduzidos a partir da totalidade do
material apresentado. Com a noção de identificação projetiva e da transferência como
situação total, a psicanálise passa a se ocupar, não apenas com o conteúdo do que o
paciente diz, mas também, pela maneira como diz, para o uso da linguagem e para
as suas ações dentro do consultório. (p. 78)
Com Bion (1962 a), o conceito de identificação projetiva é também ampliado,
passando este a ser considerado como um método de comunicação primordial entre
mãe e bebê, do mesmo modo que seria a relação entre analista e analisando. Bion
passa a adotar a noção de continente-contido para se referir a este tipo de
configuração.
Bion ao longo de sua obra propõe diferentes modelos teóricos. Ele propõe
(1957) a presença de partes psicóticas e não psicóticas da personalidade, ponto de
partida para que outras partes pudessem também ser destacadas, como é o caso da
parte autística da personalidade introduzida por Tustin (1990, 1992). Bion sugere
(1962ª) que o campo de trabalho do analista na sessão é o do aprender com a
experiência emocional e a teoria de transformações (1965) uma teoria de observação
dos fenômenos mentais compartilhados pela dupla analítica na sessão.
Transformação implica em invariância, ou seja, para que haja a transformação
de uma experiência, alguns elementos da situação original não podem variar, devem
se manter invariantes; caso contrário não seria uma transformação, mas sim outra
situação.
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Para Bion, o contato com a emoção em si, (O) não é acessível. Assim, as
apreensões do analista, como as comunicações do paciente são consideradas
transformações pessoais das emoções em curso de cada um deles.
Entendo que com Bion o conceito da transferência clássica se modifica. A partir
de Transformações passa a ser englobado no campo analítico, também os
movimentos da mente do analista, o que significa que o fenômeno observado irá se
alterar pelo próprio ato de observação. Abandona-se a ideia de uma visão absoluta
do fenômeno, passando a abordagem do analista a ser apenas uma das
possibilidades a serem consideradas.
Quanto à contratransferência, Bion (1979) diz que está se refere à sentimentos
inconscientes do analista, portanto não disponíveis à função analítica. A
contratransferência seria a transferência não analisada do analista em relação ao seu
paciente.
Bion em Transformações propõe diferentes grupos de transformações:
transformações em movimento rígido, projetivas, em alucinose, em K, -K e em O. Bion
expande o campo analítico de conhecer a realidade; K, para “ser” a realidade, O. As
transformações em movimento rígido abarcam o campo da transferência clássica de
Freud. Nas transformações projetivas predominam o mecanismo de spliting e
identificação projetiva.
Cabe ao analista acolher as projeções de partes indesejáveis do self do
paciente, projetadas sobre a sua mente, transformá-las em algum significado de modo
a possibilitar que seu conteúdo passe a ser mantido na mente e não mais expelido.
Nas transformações em alucinose, a experiência emocional vivenciada com a
figura do analista como um objeto real, é substituída por uma outra figura criada pelo
analisando, independente da sua existência real. Bion (1965) diz: “rivalidade, inveja,
avidez, roubo, juntamente com o seu sentido de ser inocente, são consideradas como
invariantes sob alucinose (p.157).
Para Bion a alucinose é um mecanismo bastante frequente em pacientes
neuróticos, os quais quando submetidos à forte pressão operam com transformações
psicóticas (projetivas e em alucinose). Ele menciona que o conceito de alucinose
necessita ser ampliado para englobar um número de configurações que não são
reconhecidas como pertencentes a ele.
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13 O FENÔMENO AUTÍSTICO
Fonte: br.depositphotos.com
14 O UNIVERSO AUTÍSTICO
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enquanto o objetivo das psicoterapias psicanalíticas seria a reorganização parcial da
estrutura psíquica num contexto de mudanças sintomáticas significativas.
A literatura a respeito dos objetivos terapêuticos para a psicoterapia
psicanalítica é escassa e desatualizada, ao passo que a literatura sobre esse tema
em análise é abundante. Assim, o psicoterapeuta psicanalítico pode se beneficiar da
literatura disponível sobre análise para formular objetivos terapêuticos para a sua
prática. Para justificar a validade da importação dos conceitos da técnica analítica para
a prática psicoterápica, recorre-se a Green:
Vemos bem que o polimorfismo da população de pacientes que estão em
psicoterapia com psicanalistas e que não se contentam em receber ajuda de outros,
a não ser de analistas, constitui uma população original e única em que um autêntico
trabalho psicanalítico pode, às vezes, se dar. Pode-se concluir que o aprendizado da
psicoterapia exercida por um psicanalista é uma necessidade nova na formação do
mesmo.
Nas diferenciações entre a análise propriamente dita e a psicoterapia
psicanalítica, sabe-se que a primeira se caracteriza por ser um processo mais longo
e profundo de autoconhecimento, o qual promove mudanças estruturais para a vida
toda. Já a psicoterapia psicanalítica trata de pontos de urgência, é mais breve e
promove mudanças circunstanciais.
De qualquer maneira, como o próprio Green mencionou acima, mesmo em uma
psicoterapia, um trabalho autenticamente psicanalítico pode às vezes se dar. Para
ele, a psicoterapia nasce essencialmente da impossibilidade de se pôr em prática uma
situação que respeite as exigências do modelo. E isso pode ocorrer por diagnóstico,
problemas financeiros, ou pelo simples desejo do contratante. Pesquisas de
resultados têm demonstrado a efetividade de ambas as formas de tratamento para os
distúrbios emocionais.
A separação conceitual entre o que seria uma psicanálise "propriamente dita"
e uma psicoterapia de orientação analítica vem sendo tratada de forma cada vez
menos radical nos meios psicanalíticos. Os critérios externos utilizados para definir a
psicanálise (uso compulsório do divã, mínimo de quatro sessões semanais, emprego
sistemático de interpretações transferenciais...) estão cedendo lugar a critérios
intrínsecos (acessibilidade do paciente a seu inconsciente e capacidade de processar
mudanças psíquicas, por exemplo).
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Embora existam diferenças óbvias entre psicanálise e psicoterapia a zona de
interseção entre ambas vem se ampliando notoriamente. Sendo assim, não parece
haver motivo suficiente para que um psicoterapeuta psicanalítico não possa se munir
de postulados teóricos da psicanálise e de suas recomendações, embora fique a
ressalva de que não se trata de tratamentos indiferenciados.
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O aprender com a experiência desenvolve justamente essa capacidade
criadora de pensamentos, bem como o aparelho capacitado para pensá-los,
propiciando a aquisição de um estilo de vida promotor de saúde emocional.
Bion entende que as relações se passam não em termos de simples amor
versus ódio, mas entre emoção e ante emoção, ou seja, entre a normalidade e a
patologia do amor, do ódio e do conhecimento. Esses vínculos estão presentes o
tempo todo e em todas as relações, sendo eles os marcadores do tipo de
funcionamento mental e psicológico de cada pessoa em cada momento. As
transformações seriam o objetivo principal de todo o tratamento emocional, devendo-
se buscar a evolução dos diversos estágios da capacidade de pensar.
As principais transformações propostas se referem a: transformar
conhecimento (K) em O, que seria a origem, a coisa em si mesma, e, nesse
movimento, haver sempre a possibilidade da inversão de sentido - O em K ,
transformar elementos chamados beta (ideias coisificadas, protopensamentos
destinados à evacuação) em elementos alfa (que permitem sonhos, criam capacidade
para pensar e instauram a barreira consciente/inconsciente), transformar quantidade
em qualidade, não objetivando liquidar a dor, mas aumentar a capacidade do paciente
para sofrer. Para Bion, uma identificação bem-sucedida com a pessoa real do analista
é de fundamental importância para o bom andamento do tratamento e para que os
resultados alcançados adquiram o status de crescimento mental.
A expressão "função psicanalítica da personalidade" remete ao aprender com
a experiência, no caso, com a experiência terapêutica. O grau de sucesso de um
tratamento depende de algo ter se criado e seguido em andamento, em construção e
em expansão na mente do paciente mesmo depois que a terapia/análise esteja
encerrada.
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17 BIBLIOGRAFIA
BION, W. R. (1994). Clinical seminars and fous papers. London: Karnac Books.
REZENDE, A. M. (2003). Depois de Freud, Bion nos ajuda a trabalhar com Édipo.
Revista Brasileira de Psicanálise, 37(2/3), 539-546.
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SANDLER, P. C. (2009). Uma obra em metáfora. Viver Mente & Cérebro: Memória
da Psicanálise, 6,18-27.
ZIMERMAN, D. E. (2004). Bion: Da Teoria à Prática (2. ed.). Porto Alegre, RS:
Artmed.
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