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A concepção de nação e nacionalidade:

Thiesse VS Anderson
Nome: Laura Freire
Número de Aluno: 3007282
Cadeira: História Contemporânea Geral
Professor: Frederic Vidal
Ano: 2
Indíce

Introdução.............................................................................................................................. 3
Desenvolvimento.................................................................................................................... 4
O Conceito de Nação........................................................................................................4
União da Nação................................................................................................................. 4
Língua................................................................................................................................ 5
Raízes Culturais................................................................................................................ 6
Conclusão.............................................................................................................................. 8
Introdução

O texto a ser analisado e críticado neste trabalho é A nação como horizonte de Anne-Marrie
Thiesse, investigadora dos estudos literários e historiadora francesa, retirado de seu próprio
livro A Criação das Identidades Nacionais: Europa, séculos XVIII-XX. Este é o primeiro
capítulo da obra, publicado originalmente em francês como La création des identités
nationales: Europe, XVIIIe-XXe siècle no ano de 1999 pela editora Seuil.

O título do livro abrange o seu conteúdo perfeitamente, a autora escreve sobre a criação da
consciência de nação e subsequentemente da consciência de uma identidade
intrinsicamente ligada à nação. Este primeiro capítulo foca nos componentes dessa
identidade nacional: a cultura e história partilhada pelos povos de uma mesma nação, a
educação nacional, o desporto de equipa, a natureza do território nacional e o
conhecimento do cidadão sobre o território nacional.

Este trabalho tem como objetivo comparar a analise de Thiesse com a analise de Benedict
Anderson, historiador e cientista político estadunidense, presente em seu livro
Comunidades Imaginadas. A intenção é de criticar a tese de Thiesse com base na analíse
de Anderson. Aqui será examinada a concepção de nação da autora, assim como a sua
narrativa de como construiram-se as nações europeias nos séculos XVIII-XX.
Desenvolvimento

1. O Conceito de Nação

Thiesse constroi todo a sua tese no entendimento da nação como uma uma construção
identitária e que a idea de nacionalidade “é formulada de ética política sedutora que
mascara os conflitos econômicos e militares em curso na formação dos Estados.”.

Anderson, logo na introdução de Comunidades Imaginadas, diz que nação, nacionalidade e


nacionalismo são conceitos notoriamente difícil de definir. Ele continua por comparar as
conclusões de outros autores, como Hugh Seton-Watson; que diz não existir definições
científicos para estes conceitos e Tom Nairn; que diz a existência destes serem a maior
falha da ideologia Marxista. O autor argumenta contra Nairn antes de dar a sua definição de
nação, “In an anthropological spirit, then, I propose the following definition of the nation: it is
an imagined political community - and imagined as both inherently soverign.”, e a explica: é
imaginada pois os membros de uma mesma nação nunca nem chegam a conhecer todos os
outros mas em suas mentes, eles vivem como uma comunidade; é limitada porque possuí
os limites das outras nações; e é soberana pois foi uma idéia nascida a partir de uma época
onde o Iluminismo e a ideologia liberalista estavão a destruir a legitimidade de dinastias
hierarquicas orientadas por divinidades.

Não há razão em discutir qual definição está certa, considerando que mesmo um dos
autores reconhece a dificuldade em entender o assunto. O que pode-se fazer é comparar
ambas. Na conceição de Thiesse, a nação é um processo de formação de identidades com
um propósito dissimulado, enquanto na de Anderson é algo mais ideológico e optimista. A
melhor descrição para o próposito deste trabalho é a de Anderson. Então com o conceito de
nação definido para o propósito deste trabalho, entramos na questão de como surge a
consciência nacional.

Para Anderson, a nação surge substituição do mundo religioso e reino dinastico, além de
partir de um senso espefíco do tempo - a medida da passagem deste. Para Thiesse, a
nação nasce a partir dos componentes já mencionados e que agora serão trabalhos nas
próximas secções.

2. União da Nação

Para a nação existir na Europa, foi preciso criar uma união entre os povos que já estavam
submetidos a um só governo. Thiesse abre o segundo segmento com o exemplo do czar
Alexandre III e a sua missão de homogenização russa, e os bolchevique que, de acordo
com a autora, “(...) aprendem uma lição: uma União é construída com base em mosaicos
complexos de entidades nacionais com estatudos diverso.”. Ela ainda continua por dizer, “A
diversidade não é portanto contradição da unidade, mas faz a sua riqueza.”. Em suma, ela
diz que diversidade é chave para a construção da nação.

Mas se este é o caso, porque tantos sentimentos discrimanatórios estão tão interligados
com o patriotismo performado em nome da nação? A própria Thiesse menciona o anti-
semitismo na Rússia no tempo do czar, mas Anderson possui um capítulo em seu livro
dedicado a ligação entre esse patriotismo e o racismo. Ele ilumina que os intelectuais
progressivos cosmopolitas na Europa tendem a definir o seu nacionalismo com o medo e o
ódio em relação a quem, ou o que, é diferente, mas que “(...) it’s useful to remind ourselves
that nation inspires love, and often profoundly self-sacrificing love.”.

O argumento do autor é que pensar o racismo e anti-semitismo são produtos do


nacionalismo é contraditório pois o indivíduo quando é naturalizado como cidadão de uma
nação é por causa de suas ligações com esta, como a língua e a cultura, e que atributos
físicos, por exemplo, são somente parte da biologia. Porém, ele mesmo reconhece que o
ele denomia como ‘nacionalismo official’ foi uma resposta de grupos dinasticos e
aristocratas sendo ameaçados pelo que ele denomia como ‘nacionalismo vernacular
popular’. Ele escreve, “Colonial racism was a major element in that conception of ‘Empire’
which attempted to weld dynastic legitimacy and national community. It did so by
generalizing a principle of innate, inhereted superioty on which its own domestic position
was (however shakily) based on the vastness of the overseas possessions, covertly (or not
so covertly) conveying the idea that if say, English lords were naturally superior to other
Englishmen, no matter: these other Englishmen were no less superior to the subjected
natives.“. Resumidamente, o Estado colonial utilizava o seu racismo como ferramenta de
manutenção da sua estrutura para incentivar a legitimidade do trono e governante, assim
como a criação de uma comunidade com base na nação.

Mesmo que este sentimento marginalizador não tenha nascido do nacionalismo, ele ainda
tem conexões fortes com o movimento, algo que Thiesse coloca neste seu texto como
questão de hierarquia, escrevendo, “A unificação não implica assim uma negação de
diversidade, ou uma tentativa de erradicação, mas o estabelecimento duma integração
hierarquizante: tudo o que se inclui dentro do territórito do Estado é parte da nação e
qualquer particularismo local é um componente conjunto.”. Esta é um idéia utópica e pode-
se ver isto na atualidade, na maneira como xenofobia e racismo ainda vivem bem na
Europa. Por exemplo, mesmo em Portugal, o jornal Público em 2018 publicou uma matéria
afirmando que as queixas contra ambos haviam atingido recorde no país.

Assim que, sendo possivel criar a ligação de um com outro, não é possivél afirmar que a
unificação de uma nação é dependente da diversidade popular de um povo. Então o que e
o que não mais continui a nação para esta autora?

3. Língua

Este é um aspeto que não é tocado neste primeiro capítulo do livro de Thiesse, mas sim no
segundo, Uma nação, uma língua. É importante trazer-lo para este trabalho porque
enquanto Anderson trata este componente como integral para a formação de nação e
subsequentemente, nacionalismo, Thiesse não o faz.

Em seu texto, a autora critíca a tese de Anderson de que a difusão da língua vernacular terá
constituído um componente do dispertar do sentimento nacionalista, problematizando a
ideía de que a imprensa, de forma geral, criou um novo mercado de letrados, ao trazer
exemplos europeus onde este não foi o caso. Ela escreve, “Mas este fenômeno não pode
ser generalizado ao conjunto da Europa, pois em algumas regiões a difusão da imprensa
em língua vernácula foi muito fraca - por vezes mesmo inexistente.”. Ela continua a explicar
que nos países em que não havia imprensa a altura, criou-se o tipografia durante o
processo de criação da nação. Portanto, para Thiesse, não é que a nação nasce a partir da
língua mas sim que a língua nasce a partir da nação, “Com efeito, quando a ideia nacional
se difunde pela Europa, passamos da afirmação <<A nação existe porque possui uma
língua>> para uma afirmação completamente diferente <<A nação existe, logo é preciso
dar-lhe uma língua>>.”.

Toda a generelização tem os seus pontos fracos mas a generalização existe para ter-se
mais claridade. O que Anderson pretendia era apontar que, de forma abrangente, o
aumento da classe alfabetizada na Europa leva a uma unificaçãomais forte da língua, por
exemplo, era as populações urbanas e rurais, então consequentemente, unificando a
população geral. Ele afirma, “ The general growth in literacy, commerce, industry,
communication and state machineries that marked the nineteenth century created powerful
new impulses for vernacular linguistic unification within each dynastic realm.” e “But
everywhere, in fact, as literacy increased, it became easier to arouse popular support, with
the masses discovering new glory in the print elevation of languages they had humbly
spoken all along.”.

Thiesse aponta para algumas nações, como a Albania, onde não se estabeleu o albanês
como língua oficial até o século XX, mas o fato desta língua específica ter-se difundido mais
tarde não significa que não houve uma certa unificação do povo albanês atravês de uma
língua antes do albanês. A autora utiliza exemplos de línguas que estão em vigor nos dias
de hoje somente. Mas uma tentativa pode ter ocorrido antes destas línguas, claramente não
totalmente com sucesso mas ainda sim a criar um processo identitário.

4. Raízes Culturais

A língua faz parte do património cultural da nação, e como já visto Anderson trata esta como
um componente importante para o surgimento da consciência de nação. Mas há outros
componentes culturais também importantes. Para Thiesse, estes são a educação, o
desporto, a natureza nacional. Para Anderson, estes são a comunidade religiosa, o reino
disnástico e o ententimento do tempo. Essencialmente, a diferença é entre conceitos
tangivéis e conceitos mais abstratos.

Os escolhidos por Thiesse são mais visíveis; a educação possuí as escolas, o desporto tem
os estádios e clubes, e a natureza está por toda parte. Os escolhidos por Anderson são
menos; as comunidades religiosas tem os espaços de culto mas o reino dinástico e o
entendimento do tempo são puramente intangíveis. Na base da tese de Thiesse, tem-se
uma conscientização - de história, comunidade, espaço, o que são importantes. Mas eles
por si só falham em abrangir a totalidade da consciência nacional.

Uma religião consegue formar uma comunidade transnacional porque possuí o texto
religioso escrito em uma só língua, então mesmo que os seus devotos fossem de lugares
diferentes, eles ainda tinham uma maneira de se identificaram. Como põem Anderson sobre
o caso do Islão, “(...) if Maguindanao met Berbers in Mecca, knowing nothing of each other’s
languages, incapable of communicating orally, they nonetheless understood each other’s
ideographs, because the sacred text they shared existed only in classic Arabic.”. A
simbologia criava este senso de comunidade entre membros da mesma religião mesmo
sem uma língua falada em comum, muitas vezes através de missionários da religião que
interpretavam os textos para os fiéis analfabetos, tratados em uma hierarquia.

Sobre os reinos dinásticos, são as monarquias antiguas, estados imperiais, que


implementavam não só uma cultura de guerra mas também de políticas sexuais - como os
reis antigos mantendo concubinas em regimes poligâmicos. Anderson concluí, “As late as
1914, dynastic states made up the majority of the membership of the world political system,
but, as we shall be noting in detail below, many dynasts had for some time been reaching for
a ‘national’ cachet as the old principal of Legitimacy withered silently away.”. Com as
revoluções liberais do mundo moderno, a legitimidade já não era o suficiente para sustentar
o reino de um rei, assim portanto levando os novos reis a achar novas formas de justificar o
seu governo. Entra então uma caça por aquilo que inventivaria a conexão entre a figura do
rei e o que viria a ser a nação.

Dado que a religião, principalmente a Católica no espaço europeu, era a principal forme de
aprendizado da população analfabeta a altura, o entendimento do tempo é dado somente
por representações religiosas nos espaços sagrados. Anderson menciona especificamente
os vitrais em igrejas medievais e também pinturas de pintores Italianos e Flamencos. E a
representatividade nelas impostas eram de códigos sociais e culturais da
contemporeneidade da época - por exemplo “The shepherds who have followed the star to
the manger where Christ is born bear the features of Burgundian peasants. The Virgin Mary
is figured as a Tuscan merchant’s daughter. In many paintings the commissioning patron, in
full burgher or noble costume, appears kneeling in adoration along side the shepherds.”.
Dando esta consciência ao indivíduo europeu, de que o tempo do passado existe, na arte,
em simultanêo ao tempo presente dele, cria o conhecimento de que o tempo é algo que
poderia ser medido. Anderson escreve, “What has come to take the place of the medieval
conception of simultaneity-along-time is, (...), an idea of ‘homogenous, empty time’, in which
simultaneity is, as it were, transverse, cross-time, marked not by prefiguring and fulfilment,
but by temporal coincidence, and measured by clock and calendar.”.

Tudo culminava numa falta de controlo que a população europeia tinha, dado que o controlo
estava nas mãos ou da Igreja, ou dos monarcas, e quando estas estruturas caíram em
declínio com a insurgência do capitalismo de imprensa, as pessoas encontravam assim
maneiras de pensarem por si próprias e de sentir um senso de igualdade com outros
parecidos com elas.
Na concepção de Thiesse, ela enfatiza o fato da identidade nacional ser coletiva tanto
quanto o Anderson – essa é uma das características mais importantes do nacionalismo, se
não for a mais importante. Porém, a autora ao focar-se em estruturas tangíveis, falha em
considerar porque o sentimento é tão forte, tópica abrangido por Anderson quando ele
investiga conceitos mais abstrators que ligam os seres humanos de uma mesma nação de
forma tão intrínsica.
Conclusão

Não existe uma só definição para o conceito de nação, como já foi previamente visto na
introdução mas a preferivél para a crítica do texto de Anne-Marie Thiesse foi a definição
proposta por Benedict Anderson em seu livro, porque a partir dela pode-se construir
argumentos contra a tesse de Thiesse. Então com isto, pode-se criticar a idéia da autora
sobre a união de uma nação, a língua utilizada nesta nação e as raízes culturais desta
mesma nação.

Apesar de Thiesse ter uma visão bastante cínica de porque a nação e o sentimento
nacionalista nasceram, uma de suas idéias principais sobre o tema é de que ela tem um
contexto de unição apesar da diversidade populacional, união por causa de uma
diversidade populacional. Porém, no capítulo Patriotism and Racism no livro de Benedict
Anderson, mesmo o próprio autor tendo o argumento de que a nação inspira mais amor,
unidade e sacrifício do que o ódio e a divisão, ele ainda reconhece que há uma forte ligação
entre ideologias racistas, xenofóbicas, discriminatórias de forma geral, e o patriotismo
muitas vezes encontrado nas nações ou nos movimentos nacionalistas. Não pode-se
afirmar de todo que a nação surge como a união de um povo diverso quando esta ligação
está tão bem presente e documentada.

No caso da língua, Thiesse não discute esse ponto na parte da construção identitária mas
sim em outro capítulo de seu livro. A irónia é que a autora crítica a tese de Anderson em
Comunidades Imaginadas, ao dizer que há exceções a regre que o autor impõe de que a
imprensa cria um novo mercado de leitores, assim incentivando uma conscientização de
quantas pessoas falam a mesma língua. Mas a generalização de Anderson serve o
propósito de sua tese - identificar a nação como uma comunidade imaginada - e mantêm a
claridade do seu argumento. Além disso, os exemplos de Thiesse são todos de línguas em
vigor atualmente, sem pensar que pode ter acontecido um processo com línguas antigas
anteriormente.

E por fim, temos o tema das raízes culturais. A autora tem essas raízes como projetos
tangíveis - como a educação, o conhecimento da natureza nacional e o desporto de equipa
- que demarcar somente a identificação do indivíduo com a sua nação, sem ter em conta a
idenficação do indivíduo com outros da mesma nação. Os conceitos apresentados por
Anderson como raízes culturais - a comunidade religiosa, o reino dinástico e o entendimento
do tempo - tem essa faceta como a própria base.

Em suma, a visão de Thiessa tem a nação como um processo dissumulado de desvio da


atenção a problemas do povo, mas com a união a partir de diversidade populacional em sua
base, em que a língua falada não constitui parte da criação de uma identidade nacional e
que negligencia como essa identidade nacional é relacionada aos outros membros da
nação. É uma visão que acaba por ser um tanto contraditória.

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