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Faculdade Evangélica Raízes
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ATIVIDADE LIVRE 3º VA
O crime à distância (ou de espaço máximo) é aquele que percorre territórios de dois
países, com a conduta em um lugar e o resultado em outro. Sua prática gera conflito
internacional de jurisdição (qual país aplicará sua lei penal?). Como nosso Código Penal
adotou, quanto ao lugar do crime (locus commissi delicti), a teoria da ubiquidade, híbrida
ou mista (art. 6º), sempre que por força do critério da ubiquidade o fato se deva
considerar praticado tanto no território brasileiro como no estrangeiro, será aplicável a lei
brasileira. Esta espécie de crime pode se verificar em diversas situações, como, por
exemplo, no estelionato em que a indução em erro é promovida no Paraguai, mas o
prejuízo é causado e a vantagem é obtida no Brasil; ou no tráfico de pessoas, em que a
vítima é recrutada em um país e a finalidade do tráfico se cumpre em outro.
No caso julgado, a vítima havia sofrido ameaça da parte de um indivíduo com quem
mantivera um relacionamento nos Estados Unidos. A ameaça partiu daquele país e foi
dirigida à vítima no Brasil. A Justiça Estadual declinou da competência sob o argumento de
que compete à Justiça Federal processar e julgar crimes previstos em convenção
internacional, quando iniciado no estrangeiro e o resultado ocorrido no Brasil, conforme
dispõe o art. 109, V, da FC/88. No caso, considerou-se a incidência da Lei Maria da Penha,
fundamentada em tratados internacionais que visam a combater a violência contra a
mulher. A Justiça Federal, por sua vez, também declinou da competência porque, dentre
outras razões, os tratados internacionais que inspiram a Lei Maria da Penha não preveem
conduta semelhante que o Brasil tenha se obrigado a reprimir, mas apenas estabelecem
diretrizes para o combate à violência contra a mulher. O STJ, contudo, deu razão à Justiça
Estadual. Embora tenha concordado que os tratados internacionais dos quais deriva o
sistema de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher não estabelecem
condutas específicas, o tribunal concluiu que a ameaça cometida sob a forma tratada na
Lei 11.340/06, proveniente do estrangeiro para o Brasil, enquadra-se no disposto no art.
109, V, da CF/88 em razão do que já decidiu o STF em relação aos crimes envolvendo
pornografia infantil pela internet. Recordemos que, de acordo com o STF, o julgamento
dos crimes tipificados nos arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/90 é de competência da
Justiça Federal quando tais delitos forem cometidos por meio da rede mundial de
computadores e: a) o fato esteja previsto como crime no Brasil e no estrangeiro; b) o Brasil
seja signatário de convenção ou tratado internacional por meio do qual assume o
compromisso de reprimir criminalmente aquela espécie delitiva; e c) a conduta tenha ao
menos se iniciado no Brasil e o resultado tenha ocorrido, ou devesse ter ocorrido no
exterior, ou reciprocamente (RE 628.624/MG, DJe 09/11/2015). Como lembrou o ministro
Joel Ilan Paciornik – relator do conflito de competência – na ocasião do julgamento do RE
628.624 o ministro Marco Aurélio considerou que a competência deveria recair na Justiça
Estadual porque a Convenção sobre os Direitos da Criança da Assembleia das Nações
Unidas não estabelece condutas específicas que o Brasil tenha se obrigado a reprimir. Mas
foi voto vencido a partir de divergência aberta pelo ministro Edson Fachin, para quem o
sistema de proteção à infância no qual se funda o compromisso de tipificação penal de
condutas relacionadas à pornografia infantil é suficiente para preencher o requisito
estabelecido no art. 109, V, da CF/88.
Segundo o ministro Paciornik, dá-se o mesmo em relação à Lei Maria da Penha e aos
tratados que a fundamentam:
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