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Faculdade Evangélica Raízes

Aluna: Kellen Melo Mendonça


5º período

ATIVIDADE LIVRE 3º VA

Conforme se infere do Informativo nº 636 do STJ (Publicado no dia 23 de novembro de


2018) “Compete à Justiça Federal apreciar o pedido de medida protetiva de urgência
decorrente de crime de ameaça contra a mulher cometido, por meio de rede social de
grande alcance, quando iniciado no estrangeiro e o seu resultado ocorrer no Brasil.”

O crime à distância (ou de espaço máximo) é aquele que percorre territórios de dois
países, com a conduta em um lugar e o resultado em outro. Sua prática gera conflito
internacional de jurisdição (qual país aplicará sua lei penal?). Como nosso Código Penal
adotou, quanto ao lugar do crime (locus commissi delicti), a teoria da ubiquidade, híbrida
ou mista (art. 6º), sempre que por força do critério da ubiquidade o fato se deva
considerar praticado tanto no território brasileiro como no estrangeiro, será aplicável a lei
brasileira. Esta espécie de crime pode se verificar em diversas situações, como, por
exemplo, no estelionato em que a indução em erro é promovida no Paraguai, mas o
prejuízo é causado e a vantagem é obtida no Brasil; ou no tráfico de pessoas, em que a
vítima é recrutada em um país e a finalidade do tráfico se cumpre em outro.

Com a popularização da internet, disseminou-se a prática de determinadas condutas que


podem ser classificadas como crimes à distância, como a exploração de pornografia
infantil, infelizmente muito difundida nos mais diversos lugares do mundo e cometida por
redes que se interligam em países diferentes. Também infrações relativas à ofensa à honra
podem ser cometidas à distância – e aliás o são com frequência. Um simples acesso a
redes sociais como Twitter e Facebook pode nos proporcionar inúmeros exemplos de
ofensas proferidas entre pessoas que se encontram em países diversos. Nada impede
também que um residente em determinado país ameace alguém que se encontre em um
país diferente, fazendo-o por meios eletrônicos (e-mail, redes sociais, páginas de internet,
etc.). Uma vez cometido um crime à distância cujo resultado se dê no Brasil, é preciso
estabelecer se a competência interna recai na Justiça Estadual ou na Justiça Federal, como
ocorreu recentemente em julgamento de conflito de competência proferido pelo STJ (CC
150.172/SP, j. 10/10/2018).

No caso julgado, a vítima havia sofrido ameaça da parte de um indivíduo com quem
mantivera um relacionamento nos Estados Unidos. A ameaça partiu daquele país e foi
dirigida à vítima no Brasil. A Justiça Estadual declinou da competência sob o argumento de
que compete à Justiça Federal processar e julgar crimes previstos em convenção
internacional, quando iniciado no estrangeiro e o resultado ocorrido no Brasil, conforme
dispõe o art. 109, V, da FC/88. No caso, considerou-se a incidência da Lei Maria da Penha,
fundamentada em tratados internacionais que visam a combater a violência contra a
mulher. A Justiça Federal, por sua vez, também declinou da competência porque, dentre
outras razões, os tratados internacionais que inspiram a Lei Maria da Penha não preveem
conduta semelhante que o Brasil tenha se obrigado a reprimir, mas apenas estabelecem
diretrizes para o combate à violência contra a mulher. O STJ, contudo, deu razão à Justiça
Estadual. Embora tenha concordado que os tratados internacionais dos quais deriva o
sistema de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher não estabelecem
condutas específicas, o tribunal concluiu que a ameaça cometida sob a forma tratada na
Lei 11.340/06, proveniente do estrangeiro para o Brasil, enquadra-se no disposto no art.
109, V, da CF/88 em razão do que já decidiu o STF em relação aos crimes envolvendo
pornografia infantil pela internet. Recordemos que, de acordo com o STF, o julgamento
dos crimes tipificados nos arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/90 é de competência da
Justiça Federal quando tais delitos forem cometidos por meio da rede mundial de
computadores e: a) o fato esteja previsto como crime no Brasil e no estrangeiro; b) o Brasil
seja signatário de convenção ou tratado internacional por meio do qual assume o
compromisso de reprimir criminalmente aquela espécie delitiva; e c) a conduta tenha ao
menos se iniciado no Brasil e o resultado tenha ocorrido, ou devesse ter ocorrido no
exterior, ou reciprocamente (RE 628.624/MG, DJe 09/11/2015). Como lembrou o ministro
Joel Ilan Paciornik – relator do conflito de competência – na ocasião do julgamento do RE
628.624 o ministro Marco Aurélio considerou que a competência deveria recair na Justiça
Estadual porque a Convenção sobre os Direitos da Criança da Assembleia das Nações
Unidas não estabelece condutas específicas que o Brasil tenha se obrigado a reprimir. Mas
foi voto vencido a partir de divergência aberta pelo ministro Edson Fachin, para quem o
sistema de proteção à infância no qual se funda o compromisso de tipificação penal de
condutas relacionadas à pornografia infantil é suficiente para preencher o requisito
estabelecido no art. 109, V, da CF/88.

Segundo o ministro Paciornik, dá-se o mesmo em relação à Lei Maria da Penha e aos
tratados que a fundamentam:

“Destarte, à luz do entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal – STF,


embora as Convenções Internacionais firmadas pelo Brasil não tipifiquem ameaças
à mulher, a Lei Maria da Penha, que prevê medidas protetivas, veio concretizar o
dever assumido pelo Estado Brasileiro de proteção à mulher.”

Diante disso, a competência se estabeleceu na Justiça Federal.

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− STJ/636 – Competência justiça federal. Crimes praticados pela internet. É de


competência da Justiça Federal julgar os crimes praticados pela internet. A Terceira Sessão
do STJ decidiu que “compete à Justiça Federal apreciar o pedido de medida protetiva de
urgência decorrente de crime de ameaça contra a mulher cometido, por meio de rede
social de grande alcance, quando iniciado no estrangeiro e o seu resultado ocorrer no
Brasil”. Na decisão salientou-se que, segundo o art. 109, V, da Constituição Federal, aos
juízes federais compete processar e julgar “os crimes previstos em tratado ou convenção
internacional, quando iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter
ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente”. Encontrando-se o suposto autor das
ameaças em território estrangeiro, uma vez que não se tem notícia do seu ingresso no
país, tem-se um possível crime à distância, tendo em vista que as ameaças foram
praticadas nos EUA, mas a suposta vítima teria tomado conhecimento do seu teor no
Brasil. Observe-se que, de fato, não se tem, propriamente, crime previsto em tratado ou
convenção internacional. Isto porque, embora o Brasil seja signatário de acordos
internacionais que asseguram os direitos das mulheres, tais convenções não descrevem
tipos penais. Em outras palavras, referidas convenções apenas apresentam conceitos e
recomendações sobre a erradicação de qualquer forma de discriminação e violência
contra as mulheres. Entretanto, em situação semelhante ao caso concreto, o argumento
de ausência de tipificação em convenção internacional foi derrubado pelo Supremo
quando da análise de crimes de pedofilia na Internet (RE 628.624). Segundo a tese
vencedora, o Estatuto da Criança e do Adolescente é produto de tratado e convenção
internacional subscritos pelo Brasil. Dessarte, à luz do entendimento firmado pelo
Supremo Tribunal Federal, embora as convenções internacionais firmadas pelo Brasil não
tipifiquem ameaças à mulher, a Lei Maria da Penha, que prevê medidas protetivas, veio
concretizar o dever assumido pelo Estado Brasileiro de proteção à mulher. Assim, é
evidente a internacionalidade das ameaças que tiveram início nos EUA, por meio de rede
social de grande alcance, o que resulta na competência da Justiça Federal. (CC 150.712-SP,
Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, por unanimidade, julgado em 10/10/2018, DJe 19/10/2018)

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