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2.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A energia na atualidade

A vida nas sociedades humanas mudou muito nos últimos séculos. Até a
primeira revolução industrial, os trabalhos desenvolvidos pelos seres humanos
dependiam da força humana despendida e utilização da força de animais em uma
atividade. No entanto, isso começou a se modificar com a invenção do motor a
combustão no fim do século XVIII, onde, a partir disso, começou a chamada Primeira
Revolução Industrial. Neste momento era utilizado principalmente carvão como fonte
de energia para realizar o funcionamento mecânico das máquinas a vapor. Além disso,
houve também a invenção do trem a vapor, levando para a área de transportes o
desenvolvimento vindo da Revolução Industrial. Depois deste período, no ano de 1879,
houve outra importante invenção que modificou e levou a humanidade para o estilo de
vida hoje vivido: a lâmpada. Todas estas invenções ajudaram a modificar como as vidas
nas sociedades humanas se desenvolvem e, com isso, aumentando a necessidade de
energia para o desenvolvimento das atividades humanas.
No mundo, atualmente, a energia é produzida de diferentes fontes, e esta energia
é utilizada para o desenvolvimento da vida e atividade humana. Entre elas destacam-se a
energia a partir do movimento de águas (hidráulica), a energia a partir do movimento
dos ventos (eólica), energia dos combustíveis fósseis, energia nuclear, energia solar,
energia geotérmica, entre outras. Destas, muitas são consideradas como energias
renováveis e outras como não renováveis. Entre as do primeiro se destacam energias
como a solar, hidráulica, eólica, e como do segundo tem-se principalmente a energia a
partir de combustíveis fósseis. Estas energias são utilizadas principalmente para o
funcionamento de aparelhos que necessitam de energia elétrica, como combustível para
veículos motorizados, para aquecimento e resfriamento de ambientes, iluminação de
cidades, operações realizadas nas industriais, entre outras.
A energia que tem como fonte os combustíveis fósseis é a mais utilizada para o
desenvolvimento das atividades humanas. Ela se configura como sendo fonte de energia
de mais de 80% da energia consumida atualmente pelas sociedades humanas
(VOLOSHIN et al., 2016). No entanto, existem muitos problemas observados na
atualidade que estão relacionados ao uso deste tipo de fonte de energia. Entre eles se
destaca o grande conteúdo de enxofre que apresentam os combustíveis fósseis, que

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resultam em poluição do meio ambiente, levando, por exemplo, ao problema da chuva
ácida, e em corrosão de diferentes objetos feitos pelo ser humano (SAYDUT et al.,
2016). Além disso, a combustão de combustíveis fósseis libera grandes quantidades de
gás carbônico, monóxido de carbono, hidrocarbonetos e fuligem, todos estes tendo
impacto negativo no meio ambiente e trazendo diversos problemas para a vida e saúde
humana (SILVA et al., 2016).
Desta forma, visto os problemas relacionados ao uso desta fonte de energia, tem
levado a um aumento de pesquisas quanto à produção de combustíveis alternativos
aqueles produzidos a partir de combustíveis fósseis. Com isso, há uma procura cada vez
maior pelos denominados biocombustíveis. Estes são substâncias obtidas a partir de
biomassas que apresentam grande calor de combustão, em que se têm como exemplo os
denominados como biodiesel, bioetanol, biometanol, entre outros (VOLOSHIN et al.,
2016). Dentre estes, o biodiesel é um que tem tido um grande destaque como fonte de
energia alternativa. Isso ocorreu principalmente por características deste combustível,
como o fato de poder ser utilizado normalmente por motores que funcionam a diesel e
por poder ser utilizado como uma mistura de diesel e biodiesel nestes motores
(VEILLETE et al., 2016). Além deste fator, o biodiesel é considerado como um
combustível renovável, o que é uma vantagem frente aos combustíveis a partir do
petróleo, que são não renováveis.
O biodiesel, como mencionado, é definido como sendo uma mistura de ésteres
alquílicos de cadeia longa, que são produzidos a partir de diferentes fontes, como
gordura animal, óleos vegetais, microalgas, óleos de cozinha já utilizados, etc.. As
principais fontes de biodiesel utilizadas atualmente no mundo são o óleo de soja, o óleo
de palmeira, óleo de girassol, óleo de colza, entre outras (SALAM et al., 2016). Além
disso, grandes quantidades de pesquisas estão sendo desenvolvidas para descobrir novas
matérias primas e melhores condições para produção de biodiesel. Na Tabela 1 podem-
se ver estudos que utilizam diferentes tipos de óleos de biomassas para a produção do
biodiesel.
Tabela 1 - Trabalhos da literatura para a produção de biodiesel em diferentes condições
e com diferentes materiais
Autores Matéria prima Tipo de álcool Catalisador Rendimento
Saka et al., 2011 óleo de colza metanol NaOH 95%
Venkanna et al., 2009 óleo de honne metanol H2SO4 e KOH 89%
Li et al., 2009 óleo de Eruca sativa metanol ácido heteropoly 98,10%
Sharma et al., 2010 mistura de óleo de karanja e mahua metanol H2SO4 e KOH 95,71 e 94,0%
Ilkılıç et al., 2011 óleo de cártomo metanol NaOH -

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Sharon et al., 2012 óleo de palmeira metanol NaOH 87%
Patil et al., 2009 óleo de milho e de canola metanol H2SO4 e KOH 90–95%
Fonte: adaptado de Datta et al (2016).

Além de óleo de biomassa, uma importante etapa da produção de biodiesel é o


método utilizado para a produção do mesmo. A principal delas é a transesterificação
alcalina, que para que possa ocorrer necessita da presença de um álcool, de um
catalisador, que neste caso é uma base. Os álcoois mais utilizados no mesmo são o
metanol, como pode ser observado na Tabela 1, onde todos os experimentos foram
realizados com este álcool, e o etanol, que também é utilizado em trabalhos
(SANTANA et al., 2016). Já quanto ao catalisador, os mais utilizados como
catalisadores alcalinos são o hidróxido de sódio e o hidróxido de potássio, o que se pode
verificar, também, na Tabela 1, onde em três casos diferentes ocorreram o uso de KOH
e NaOH. Esta reação do óleo da biomassa com o álcool utilizado na presença de
catalisador leva a formação do éster alquílico e glicerol. O éster vai ser um metil éster se
for utilizado um metanol como o álcool da transesterificação, ou pode ser um etil éster
se for utilizado o etanol. Desta forma, sabe-se que dependendo do álcool utilizado o
grupo alquil do éster será diferente. Já o glicerol, é um produto que não apresenta
interesse para a indústria produtora de biodiesel. Por conta disso, muitas vezes o mesmo
é estocado, sem utiliza-lo para possíveis ganhos para econômicos, principalmente pela
grande quantidade de poluentes presentes após a produção do biodiesel. Esta reação
pode ser verificada na Figura 1.

Figura 1 - Reação de transesterificação alcalina.


Fonte: adaptado de Santana et al. (2016).
2.2 O glicerol

Glicerol, também conhecido como propano-1,2,3-triol, é um composto


orgânico pertencente à função álcool e ele pode ser visto na figura 2. Ele está presente
em todos os óleos e gorduras de origem animal e vegetal em sua forma combinada, ou

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seja, ligado a ácidos graxos tais como o ácido esteárico, oleico, palmítico e láurico para
formar a molécula de triacilglicerol.
Os óleos de coco e de palma (óleo de dendê) contêm uma alta quantidade (70% a
80%) de ácidos graxos com cadeia carbônica de 6 a 14. Estes rendem muito mais
glicerol do que os óleos contendo ácidos graxos de 16 a 18 carbonos, tais como
gorduras, óleo de algodão, soja, oliva e palma. O glicerol combinado está presente
também em todas as células animais e vegetais, fazendo parte de sua membrana celular,
na forma de fosfolipídios.

Figura 2 - Formula estrutural do glicerol.

As caraterísticas físicas, químicas e nutricionais do glicerol bruto dependem do


tipo de ácido graxo e do tipo de catálise empregada na produção do biodiesel. A
aplicação do glicerol na indústria está condicionada ao grau de pureza, que deve ser
igual ou superior a 95%.
Por ser um composto atóxico pode ser utilizado como matéria prima para a
produção de diversos produtos e também no meio da produção como, por exemplo, em
cosméticos. Por não ter sabor e nem odor, a glicerina vem sendo usada como emoliente
e umectante em diversos produtos, como batom, blush, sombra e afins, essas mesmas
propriedades conferem elasticidade às fibras de tecidos e até evita a quebra das fibras de
tabaco na produção de cigarros, o que é de grande utilidade como lubrificante de
equipamentos processadores de alimentos, por não ter problema em entrar em contato
com o próprio.
O glicerol, como já foi abordado anteriormente, pode ser um subproduto da
fabricação do biodiesel (cerca de 10% da alimentação) que uma vez purificada podem-
se encontrar um grande número de aplicações.

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A aparição no mercado de grandes quantidades de glicerol devido ao crescente
uso do biodiesel como combustível, provocou uma diminuição em seu custo, chegando
a ser mais acessível economicamente que produtos que apresentam semelhanças
fisicoquimicas como bases, lubrificantes, glicóis, entre outros. Estas aplicações podem
ser vistas nas figuras 3 e 4.

Aplicações
do glicerol

Convencionais Potencias

Cosmético Anti-pó
e farmácia
Alimentação
Polióis animal

Resínas
Alquídicas Anticongelante

Alimentos e Substituição de
Bebidas polióis

Tabaco Obtenção de
produtos químicos

Outros Alimentação a
(revestiemento, processos quimicos
explosivo)
Combustivel

Lubrificante

Outros
(revestimentos,
velas)
Figura 3 - Aplicações do glicerol.

Muitas pesquisas são conduzidas a fim de descobrir novas aplicações para este
glicerol gerado na produção de biodiesel. Essa tem sido uma grande preocupação, pois
se não houver o que fazer com toda essa glicerina produzida, acabará se tornando um
fardo para o meio ambiente, indo contra o principal motivo da produção de biodiesel.
Uma linha de pesquisas que vem gerando grandes frutos é a conversão microbiana de
glicerina em produtos de maior valor agregado.

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Figura 4 - Principais setores industriais de utilização do glicerol.

2.3 A purificação do glicerol

Uma vez que para a utilização do glicerol para outras reações em indústrias
depende da purificação do mesmo, como dito anteriormente deve ter 95% de pureza, se
estuda, cada vez mais, meios de se purificar este glicerol vindo do biodiesel. O
principal problema deste glicerol produzido são os seus catalisadores, o metanol e uma
pequena quantidade de biodiesel que estão na mesma fase que o glicerol. Isso faz com
que o glicerol não tenha a qualidade ideal para a utilização do mesmo por outras
indústrias.
A purificação deste glicerol é realizada a partir de diferentes tipos de métodos de
purificação que podem ser aplicadas. Entre estes métodos estão à destilação a vácuo, a
troca iônica, a adsorção utilizando carvão ativado, utilizando filtrações através de
membranas de separação, utilizando tratamento químico, entre outros (ARDI et al.,
2015). Cada um destes métodos realiza a retirada de um determinado contaminante do
glicerol, o que leva a alguns autores a utilizar mais de uma destas técnicas no processo
de purificação do glicerol. Além disso, cada uma destas técnicas está associada a
algumas vantagens e desvantagens do seu uso na purificação do glicerol. Na tabela 2 se
verificam as vantagens e as desvantagens de cada técnica e os contaminantes retirados
por cada uma delas.

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Tabela 2 – Vantagens e desvantagens das técnicas de purificação de glicerol e os
contaminantes retirados por eles.

Técnica Contaminantes Vantagem Desvantagem

- Grande quantidade
Destilação a vácuo - Água, sais e matéria - Glicerol de alta de energia;
orgânica não qualidade. - Manutenção cara e
glicerada. constante.

Tratamento físico- - Catalisador e sabão. - Coproduto de alta - Necessárias outras


químico qualidade. etapas de purificação.

- Remoção
Carvão ativado - Água, metanol e - Redução da cor. insuficiente das
sal. impurezas.

Filtração com - Exclusão por - Pouca energia - Não otimizado para


membrana tamanho do envolvida no a utilização em
contaminante. processo. escala industrial.

- Necessita de
tratamento da água
Troca iônica - Catalisadores e - Pouco custo. utilizada;
ácidos graxos livres. - Custo de
regeneração da
resina.
Fonte: Ardi et al. (2015), Dhabhai et al. (2016) e Shibazaki-Kitakawa et al.
(2013), Lima (2010) e Pinzan (2015).

Dentre estas técnicas, a técnica de tratamento físico-químico do glicerol


proveniente do biodiesel é muito usada como um pré-tratamento do mesmo. Dentro do
tratamento químico, existem diversas técnicas que podem ser utilizadas. Dentre elas está
a neutralização, que é feita a partir da utilização de acido forte com o objetivo de se
retirar catalisador e sabão (ARDI et al., 2014). Outros tratamentos físico-químicos que

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são muito utilizados são a saponificação, a acidificação, a separação de fases e a
extração (DHABHAI et al., 2016). Este tipo de abordagem para a purificação de
biodiesel foi utilizada por Kongjao et al. (2010), onde estudaram o efeito da
acidificação do glicerol, este proveniente da produção de biodiesel a partir de óleo de
cozinha usado. Neste trabalho, na sua metodologia, utilizaram ácido sulfúrico 1,19 M,
até diminuir o pH até o necessário. Depois disso, esperaram a mistura até formar três
fases, uma no fundo com sal inorgânico, uma no topo com ácidos graxos livres e, por
fim, uma central rica em glicerol. Após, foi retirada a camada superior, e a camada rica
em glicerol foi neutralizada, utilizando hidróxido de sódio, e, depois, foi evaporada e
filtrada. Feito isso, misturaram o glicerol com etanol em excesso, para favorecer a
precipitação de sais, fazendo depois uma filtração, para retirada dos sais, e uma
evaporação, para retirada do etanol. Deste modo, eles conseguiram produzir um
glicerol com 93,34% de pureza. Este valor, no entanto, ainda está abaixo do valor
necessário de 95% de pureza para ser utilizado pela indústria.
Além deste estudo, o estudo desenvolvido por Javani et al. (2012), também
utilizou um tratamento químico para purificação do glicerol. Este apresenta uma
diferença em relação à abordagem desenvolvida no estudo anterior. Neste, desejou-se
realizar a purificação do glicerol, mas ligado à produção de fosfato de potássio de alta
qualidade, enquanto purificava o glicerol. Isso é um interessante método, pois permite a
produção de um material de alta qualidade, que pode ser vendido, aumentando os
ganhos da empresa durante a etapa de purificação, que é uma etapa que demanda
bastante custo. Para proceder este estudo, misturaram ao glicerol KOH, para realizar a
saponificação do glicerol. Este glicerol saponificado foi misturado a ácido fosfórico até
chegar ao pH de 9,67, e esta reação levou a formação de K2HPO4. Depois disso, foi feita
uma filtração, com objetivo de retirar do K2HPO4 precipitado. Após, adicionaram ácido
fosfórico até o pH de 4,67, e recuperaram o KH2PO4 por filtração. Depois, adicionaram
álcool isopropílico aos fosfatos produzidos para a produção de tampão fosfato-salino.
Ainda, por fim, realizaram uma neutralização do glicerol com KOH e refinaram o
glicerol com carvão ativo. O esquema do procedimento experimental, está mostrado na
figura 5. Com isso, conseguiram produzir o glicerol, K 2HPO4 e o KH2PO4 com,
respectivamente, 96,08%, 98,05% e 98%.

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Figura 5 – procedimento experimental realizado por Javani et al. (2012).
Fonte: adaptado de Javani et al. (2012).

Outra técnica muito utilizada para a purificação de glicerol é a utilização de


carvão ativado para a adsorção de contaminantes. O carvão ativado apresenta uma
grande capacidade de adsorção, sendo um dos mais conhecidos adsorventes do mudo.
Esta sua capacidade de adsorção esta ligada principalmente a estrutura interna de seu
poro, a sua área superficial e os seus grupos funcionais (HU et al., 2017). O estudo
desenvolvido por Manosak et al. (2011), explorou a utilização desta técnica para a
purificação de glicerol proveniente da produção de biodiesel com óleo de cozinha
usado. Nele utilizaram um pré-tratamento químico, dividido em duas etapas, e por fim
utilizou o carvão ativo.
No melhor resultado obtido por Manosak et al. (2011), adicionaram o ácido
fosfórico até pH de 2,5, levando a formação de 3 fases, depois de 12 horas em repouso,
com as mesmas características descritas do experimento de Kongjao et al. (2010).
Depois disso, separaram a fase superior por uma lenta decantação e a do fundo por
filtração. Após, neutralizaram a amostra e utilizaram C3H7OH para como solvente para
se extrair o glicerol. Isso formou duas fases, uma no fundo, composta de sais
cristalizados, e uma superior, composta de glicerol. Essa a fase superior foi separada por
decantação e evaporada para separação do glicerol. Feito isso, o glicerol, a razão de 200
g/l, foi misturado a 1 g de carvão ativado a 200 rpm durante 3 horas, e depois filtrado

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para retirada do carvão ativo. Através desta técnica, conseguiram uma purificação do
glicerol de 95,74%, além de ter uma redução da cor do glicerol em 99,7%.
Já o método utilizando filtração através de uma membrana, permite a separação
de partículas com determinado tamanho. Ele permite reduzir grandemente a energia
utilizada e, desta maneira, reduzir os custos da purificação do glicerol. Dois tipos de
filtração com membrana se destacam, a ultrafiltração e a nanofiltração (SERVAES et
al., 2016). Dhabhai et al. (2016) estudaram a utilização de uma filtração com membrana
como uma segunda etapa de purificação do glicerol. Além dessa etapa, utilizaram o
tratamento físico-químico como um pré-tratamento e, ao fim do uso da filtração com
membrana, realizaram uma adsorção com carvão ativo.
Primeiramente, eles realizaram uma reação de saponificação, misturando o
glicerol com KOH, e, depois, misturou HCl até pH um. Por conta disso, formaram-se
duas fases, uma superior contendo ácidos graxos livres, e outro rico em glicerol. Depois
disso, separaram os dois em um funil de separação, levando, logo após, a fase rica em
glicerol a uma neutralização. Este glicerol foi levado para um tanque, e ocupou dois
terços do mesmo. Nele foi aquecido e pressurizado, e, chegando à temperatura desejada,
as válvulas foram abertas liberando o glicerol a entrar em contato com a membrana.
Após um período de 30 minutos, coletaram 15 mL do filtrado. O esquema dessa
segunda etapa de purificação do glicerol se encontra na figura 6. Depois, levaram esse
filtrado para evaporação, para retirada de água e metanol, e, por fim, retiraram a cor e
outras impurezas usando carbono ativo. Como resultado dessa metodologia utilizada,
conseguiram um glicerol com 97,5% purificado, resultado esse que está acima do
necessário para ser utilizado pela indústria.

Figura 6 – Purificação do glicerol através de filtração por uma membrana.

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Além destas mencionadas anteriormente, a técnica utilizando resina de troca
iônica consiste na remoção de íons indesejados no glicerol, para poder, assim, realizar a
purificação do mesmo. A reação de troca iônica é definida como a troca reversível de
íons da fase sólida (resina) com os íons da fase líquida (RIANI, 2008). Sobre o uso
desta técnica, Shibasaki-Kitakawa et al. (2013) estudaram a produção de alta qualidade
de biodiesel e glicerol utilizando resinas de troca iônica a partir de óleo de pinhão
manso. Em sua metodologia, adicionaram o glicerol produzido na produção de biodiesel
na coluna com a resina de troca iônica. Com a passagem da mistura com glicerol pela
coluna, a concentração de glicerol foi entre 60% e 80%, não chegando ao valor
necessário para a utilização pela indústria. Apesar disso, os autores informam que ainda
seria necessário realizar a remoção do metanol, como, por exemplo, utilizando
evaporação. No entanto, a amostra final foi sem cor e transparente, não apresentando
catalisador ou pigmento escuro, presente na matéria prima.
Outro estudo visando a utilização de troca iônica foi o desenvolvido por Lopes
et al. (2014). Nesse trabalho, eles tinham o objetivo de purificar o glicerol da produção
de biodiesel a partir de óleos residuais. Nele, primeiramente, realizaram uma pré-
purificação com tratamento químico, realizando uma lavagem do glicerol com hexano
em um funil de separação, para a retirada de ésteres e triacilgliceróis presentes no
glicerol. Depois, fizeram uma acidificação utilizando ácido sulfúrico, que levou a
mistura a formar duas fases, uma superior, contendo principalmente ácidos graxos
livres, e uma inferior, com a glicerina. Eles realizaram uma centrifugação para separar
as duas fases, e fizeram a neutralização da amostra. Por fim, realizou um ‘Salting-out’
para separar o precipitado utilizando etanol. Depois disso, utilizaram o carvão ativo para
retirar íons metálicos presentes em sua amostra e o separaram por filtração a vácuo.
Após, estudaram três diferentes modos de utilizar a troca-iônica para a purificação do
biodiesel. Apenas o terceiro modo gerou o melhor resultado, chegando a produzir
glicerol com 94,19% de pureza. O método utilizado que obteve maior purificação do
glicerol está mostrado na figura 7. No entanto, em nenhum dos dois estudos abordados,
o valor de 95% de pureza de glicerol, para o mesmo ser utilizado pela indústria para
produzir outros materiais. Isso indica que nenhum dos dois processos utilizando a troca
iônica não foram suficientes para a purificação ideal do glicerol.

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Figura 7 – tratamento realizado na purificação do glicerol no trabalho de Lopes et al.
(2014).
Fonte: adaptado de Lopes et al. (2014).

Por fim, o método utilizando a destilação a vácuo que é utilizado em detrimento


da destilação à pressão atmosférica. Isso ocorre, por conta de que acima de 200 °C o
glicerol pode se decompor ou polimerizar-se. Por conta disso, deve-se utilizar vácuo
para poder realizar a destilação numa temperatura menor do que 200 °C. Assim,
normalmente se utiliza vácuo de 600 a 1330 Pa absoluto, para que se possa realizar a
destilação a cerca de 190 °C (MENDES et al., 2012). No entanto, para realizar a
destilação à vácuo demanda gasto de muita energia, e, consequentemente, de um
elevado gasto de dinheiro. Por isso, Oppe (2008) decidiu utilizar a destilação
azeotrópica para a purificação do glicerol. Na operação da coluna, o vapor de tolueno
sobe através da coluna para entrar em contato com a mistura de glicerol e água, e o
ponto de azeótropo da mistura é de 94 °C a pressão atmosférica. Com isso, pelo topo da
coluna é extraído o tolueno e a água, que são imiscíveis. O tolueno retorna a coluna pelo
refluxo e a água é retirada. Já no fundo da coluna, dois líquidos, também imiscíveis, irão
se apresentar: o tolueno e o glicerol. O tolueno é retirado para o refervedor para, assim,

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voltar à coluna, enquanto o glicerol é retirado. A partir disso, consegue-se o glicerol
purificado com 92% em massa, e utilizando, apenas, 57,72% da energia da destilação à
vácuo, normalmente usada para purificação de glicerol.
A partir dessas técnicas mencionadas, pode-se purificar o glicerol de diferentes
formas com a preocupação, algumas vezes, de que esse processo não seja muito oneroso
para a empresa. Com isso, é possível a utilização deste glicerol produzido a partir do
biodiesel nas mais diversas indústrias. Entre elas, estão às indústrias de papel, fármacos,
alimentos e para a produção de outros produtos na indústria química. Ele pode até
mesmo ser utilizado para a produção de hidrogênio, em reações de fermentação. Dessa
maneira, se observa a grande quantidade de aplicações que este glicerol purificado pode
ter, podendo ajudar a empresa produtora de biodiesel a vendê-lo e não mais necessitar
estoca-lo.

2.3 Aplicações do glicerol purificado


Uma vez que o glicerol é purificado, este pode ser usado como matéria prima
para produzir produtos e assim economizar em certo modo a produção do biodiesel.
O glicerol obtido da produção do biodiesel, uma vez que foi purificado pode ser
usado como alimento para animais, já que é um produto rico em energia (4320 kcal/Kg
de glicerol puro), já que o glicerol e um composto comum no metabolismo animal (é
produzido pela lipólise do tecido adiposo ou pelas lipoproteínas do sangue) muitos
estudos foram desenvolvidos em suínos, gado, ovelhas entre outros para determinar os
efeitos do glicerol no crescimento destes animais. Mas este glicerol deve ser purificado
antes de ser utilizado como suplemento alimentício para animais já que um glicerol com
uma pureza inferior a um 80% pode conter contaminantes que vem da produção de
biodiesel, como o metanol, que não é seguro para a saúde quando se tem um valor
acima de 150 ppm (Dasari, 2007).
Na tabela 3 se apresentam estudos realizados em diferentes tipos de animais para
diferentes porcentagens de glicerol as vantagens e as desvantagens de cada técnica e os
contaminantes retirados por cada uma delas.

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Tabela 3 – Vantagens e desvantagens das técnicas de purificação de glicerol e os
contaminantes retirados por eles.

Porcentagem de
Tipo de Animal Observação
glicerol (%)
Não modificou o desempenho do crescimento
5
dos suínos
Não modificou a qualidade de crescimento, mas
Suínos 9 os suínos apresentam maior ganancia de peso
em etapas decrescimento
5 Não modificou o desempenho e qualidade do
crescimento
Carneiros Se teve deficiências na qualidade de
10
alimentação e crescimento
Não se teve problemas com o crescimento, se
1,5 tem melhor digestão de matéria seca e melhor
degradação de fibra
Gado Reduz a ingestão de matéria seca em um 17% e
13%
se alterou a qualidade do leite apresentando
menores níveis de gordura e proteína
O peso e crescimento dos frangos não foram
alterados
Frangos 7,5% Os ovos produzidos não tinham alterações em
tamanho e peso, mas a presença de colesterol
na gema foi maior
Fonte. Della Casa et al. (2009), Berenchtein (2008), Terre et al. (2011), Osborne et al.
(2009), Wang et al. (2009), Yalcin et al. (2010)

Dentre estes estudos os animais que apresentaram melhor adaptação a uma


alimentação adicionando glicerol na sua dieta diária foram os suínos, o glicerol pode ser
usado como ingrediente energético de alimentação para suínos em crescimento e
terminação até um nível de 9% sem afeitar sensivelmente o desempenho, as
características de carcaça e a qualidade da carne (Berenchtein, 2008). Para carneiros a
alimentação com glicerol não deve exceder um 5% para não afeitar sensivelmente o
crescimento destes (Terre et. Al, 2011), para o gado a maior alteração se viu na
produção de leite quando se incluiu 13% de glicerol na dieta destes, diminuído

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levemente seus níveis de gordura e proteína (Osborne et al. 2009), para frangos uma
adição de 7,5% de glicerol na dieta deste, afeito as características da gema do ovo,
aumentando a porcentagem de os ácidos palmítico, palmitoleico e linoleico e
diminuindo a porcentagem de ácido oleico (Yalcin et al. 2010)
Além de alimento animal o glicerol pode ser usado na produção de Biogas, devido ao
elevado conteúdo de C orgânico do glicerol onde este age como substrato em processos
de fermentação, como ser a fermentação para a produção de hidrogênio, este possui o é
maior teor energético por unidade de peso comparado com outros combustíveis e é
menos contaminante já que o único produto de sua combustão é agua
Este método oferece vantagens significativas à produção convencional de
hidrogênio porque requere menor inversão, condições de operação simples, menor
contaminação do meio ambiente (Ren et al.2009)

Grau de purificação Microrganismo Rendimento (mol


do glicerol H2/mol glicerol)
Escherichia coli CECT432 0,61
Escherichia coli CECT432 0,47
Enterobacter Cloacae CM2/1 0,37
Mistura de Escherichia coli CECT432 1,26
99
e Entorobacter SPH11
Thermotoga neapolitana 2,73
Thermotoga maritima 2,84
Lama anaeróbia 1,45
Glicerol sem Lama anaeróbia 2,44
tratamento
Fonte. Maru et al. (2016), Maru et al (2013), Ngo et al. (2011), Faber et al. (2016)

Dentre dos estudos de produção de hidrogênio de Maru et al (2013) por meio da


fermentação do glicerol com thermotoga maritima, obteve um rendimento de 2,84
molH2/mol de glicerol, superando o rendimento do microrganismo Thermotoga
neapolitana que deu um rendimento de 2,73 mol H 2/mol glicerol no estudo feito por
Ngo et al (2011). Maru et al. (2016) demostrou que as bactérias Escheria coli CECT
432, CECT 432, Enterobacter cloacae CM2/1 não conseguem ter um rendimento
satisfatório em relação aos microrganismos da família Thermotoga, mas quando estas
são misturadas pode-se chegar a obter um maior rendimento como com a mistura de
Escherichia coli CECT 432 com Enterobcter SPH11 que teve um rendimento de 1,26
mol H2/mol de glicerol.

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Faber et al. (2016) produziu hidrogênio por fermentação escura utilizando lama
anaeróbia da estação de tratamento de esgoto de Rio de Janeiro e glicerol que vem da
produção de biodiesel com tratamento e purificado, o procedimento que teve melhor
rendimento foi o que utilizou glicerol sem tratamento prévio chegando a um rendimento
de 2,44 mol H2/mol de glicerol, melhorando em um 43% o rendimento do procedimento
com glicerol purificado, este resultado pode se dever a presença de nutrientes, como
ácidos graxos, potássio e sais de sódio, este resultado confirma que é possível produzir
hidrogênio utilizando glicerol sem tratamento prévio de purificação.
O glicerol tem mais utilidades além de ser utilizado alimento animal ou para
gerar energia, também pode ser usado na indústria química, como para produzir acido
cítrico, por fermentação microbiológica. Kamzolova et al (2015) com o uso da cepa Y.
lipolytica VKMY 2373 e um glicerol com um 80% mediante, no mesmo estudo
obtiveram citrato de sódio adicionando NaOH, produto que é o principal componente de
detergentes sintéticos
Outro produto que pode-se conseguir através do glicerol é a Acroleina, que é um
composto intermediário para produção de ácido acrílico e pode ser usado como
pesticida de controle para algas marinhas, plantas aquáticas, moluscos, bactérias e é
produzida a partir do glicerol por desidratação catalítica, Alhanash et al. (2010)
demostrou que a desidratação do glicerol com sal heteropoly de Cs como catalisador,
consegue uma conversão de 98% de glicerol em acroleina. Liu et al. (2016) estudou a
desidratação do glicerol bruto produto da produção de biodiesel com H3PW12O40/CS-
SBA como catalisador e demostrou que a presença de íons álcali metálicos provoca a
desativação do catalisador, é por isso que este glicerol deve ser purificado e de
salinizadoz previamente, chegando a obter um rendimento de 85% de conversão de
acroleina.

Outro produto que se pode obter a partir do glicerol é o 1,3-propanodiol, que é


um composto orgânico simples que pode ser usado na produção de polímeros,
cosméticos, alimentos, lubrificantes e remédios médicos e pode ser produzido a partir
do glicerol por fermentação ou pela hidrogenolise com a presença de um catalisador e
hidrogênio. Nakagawa et al. Este processos em médio aquoso com oxido de renio
modificado como catalisador, de 38% a 81% de glycerol foi convertido em acroleina
por este método.

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Na atualidade o glicerol tem inúmeras aplicações industriais, como ser a
farmacêutica onde pode ser usado viscosificante de remédios líquidos, solvente
umectante, recobrimento de pastilhas, no âmbito medico pode ser usado como
emoliente e demulcente em compostos usados na pele, além de diurético osmótico para
o controle de edema cerebral, diminuir a pressão da medula espinhal, e reduzir a pressão
ocular. Além o glicerol é o principal composto em pastas de dentes para prevenir a
secagem e endurecimento destes e também pode ser utilizado como composto
amolecedor de pão, carne, queijo e doces, para preservar a frescura do tabaco, regular
o conteúdo de cinza para eliminar a irritação das vias respiratórias

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