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“... para ajudar as pessoas a lidar com suas experiências não devemos dar a elas terapia
que não funciona. Devemos deixar as pessoas decidirem por si mesmos o que ajuda ou
não. É preciso tempo para as pessoas aceitarem que ouvir vozes é algo que pertence a
eles.”
Professor Marius Romme
Palavra do Tradutor
Esta apostila foi elaborada como parte de um curso de uma semana, oferecido pelo
Professor Paul Baker e, portanto, está estruturada neste formato. Cada capítulo refere-se
a um dia de aula, contendo informações e exercícios para serem praticados em sala. No
entanto, esta apostila sofreu algumas alterações para poder ser também utilizada como
material de consulta e orientação.
Este é o primeiro material exclusivo de treinamento na Abordagem de Ouvir as
Vozes (Hearing Voices Approach) a ser traduzido para a língua portuguesa, e sua
produção é exclusiva do CENAT - Centro Educacional Novas Abordagens Terapêuticas.
Este curso objetiva tratar sobre os valores, teorias e métodos da abordagem da experiência
de ouvir vozes. Ele irá fornecer uma base sólida para trabalhar ao lado de pessoas que ouvem
vozes, usando a abordagem de ouvir as vozes. O curso foca na investigação e prática de aceitar e
trabalhar com as vozes, e considera maneiras em que você pode conviver com as vozes em sua
vida ou local de trabalho.
Hoje, em trinta países no mundo todo, ouvidores de vozes, enfermeiros, psiquiatras e
psicólogos estão desenvolvendo técnicas para ajudar pessoas que ouvem vozes a concentrarem-
se em suas experiências, conhecendo melhor suas vozes e aprendendo a lidar com elas.
Esta abordagem é desafiadora e inovadora. Ela assume a posição de que não é mais
sustentável pensar em ouvir vozes como parte de uma doença, como a esquizofrenia. Em vez
disso, sustenta que a audição de vozes pode ser considerada como uma experiência significativa
e real, embora, por vezes, dolorosa, terrível e avassaladora. Vozes falam com a pessoa de uma
forma metafórica sobre suas vidas, emoções e ambiente.
Objetivo:
Este curso irá fornecer uma visão geral deste importante trabalho e uma introdução a uma
maneira diferente de pensar sobre o significado da audição de vozes com base em 25 anos de
trabalho feito com ouvidores, pessoas que trabalham na saúde mental e pesquisadores de todo o
mundo, incluindo o trabalho pioneiro do psiquiatra Professor Marius Romme e da Dra Sandra
Escher.
Tópicos
Este curso irá fornecer-lhe muita informação sobre aceitar e trabalhar com vozes.
Capítulo 1: O que causa vozes?
Capítulo 2: O que fazer com as vozes que causam problemas?
Capítulo 3: Como ajudar pessoas que ouvem vozes em sua jornada de recuperação?
Capítulo 4: Como envolver amigos e familiares?
Capítulo 5: Aprendendo a trabalhar com as vozes
Capítulo 6: Introduzindo a abordagem de ouvir as vozes no seu local de trabalho
Resultados de Aprendizagem
Uma compreensão firme sobre o conceito e a prática bem informada de aceitar e trabalhar
com as vozes.
A quem se destina
Este curso é destinado a profissionais da saúde mental e a pessoas que ouvem vozes para
que trabalhem em parceria.
Sobre o Curso
Este curso irá fornecer todas as informações que você precisa para se sentir confiante em
poder apoiar as pessoas que ouvem vozes ou, se você é ouvidor de vozes, ser capaz de
compreender melhor a sua experiência e decidir o que fazer a seguir.
Através de um ambiente interativo de aprendizagem, você será capaz de aprender com os
outros que participam do curso. Você também será apresentado a informações sobre formas de
trabalhar e/ou viver com pessoas que ouvem vozes, além de como trabalhar com grupos.
O curso irá ajudá-lo a entender o que as pessoas que ouvem vozes estão experimentando e
vai poder ajudar essas pessoas a lidar com as vozes quando estas são opressoras. Você também
será capaz de analisar por si mesmo alguns dos potenciais desafios no desenvolvimento de
formas de apoiar as pessoas que ouvem vozes.
O tutor do curso é Paul Baker, que tem vasta experiência nesta área.
Paul Baker foi um dos membros fundadores da Rede de Ouvidores de Vozes (Hearing
Voices Network) na Inglaterra e atualmente é coordenador da Intervoice, o órgão coordenador de
influência do Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes.
Paul já publicou livros, capítulos e artigos para muitas publicações sobre questões de saúde
mental, incluindo o livro “The Voice Inside: Um guia prático para e sobre as pessoas que ouvem
vozes” (2010).
1. Formato do Curso
O curso é ocorrerá ao longo de 6 dias. Cada dia tem um formato semelhante, com base em
informações, vídeos, exercícios e compartilhamento do seu aprendizado em grupos ou duplas.
2. Informações
Uma série de documentos que fornecem embasamento são fornecidos para aprimorar seu
aprendizado.
3. Os visuais
A maior parte das aulas consistirá de apresentações, discussões, textos, áudios e vídeos.
4. Exercícios / Atividades
Cada dia trará exercícios para você empreender. Você pode escrever suas respostas aos
exercícios numa papel ou em um caderno ou usar seu computador. É muito importante que você
faça todos os exercícios.
Capítulo 1: O que causa as vozes
Ouvir vozes geralmente não é uma experiência da qual se fala, pois é conhecida como
socialmente estigmatizante e indesejada. Por causa dessas atitudes predominantes, é importante
ressaltar que, de forma alguma, este é sempre o caso.
Há muitas pessoas que ouvem vozes e que podem lidar com suas vozes e considerá-las
como uma parte positiva de suas vidas. Também não é verdade que as vozes sempre foram
consideradas como uma experiência negativa ao longo da história e ainda hoje há pessoas que
ouvem vozes e que consideram suas vozes inspiradoras e reconfortantes. Estes são fatos difíceis
de conciliar com a forma extremamente negativa que a experiência é considerada pela psiquiatria.
No entanto, também é verdade que as vozes podem e têm um efeito muito perturbador, tanto para
a pessoa que ouve vozes quanto para sua família e amigos. As vozes podem ser hostis,
controladoras e até mesmo procurar minar a auto estima dos que as ouvem.
Muitas pessoas se sentem sobrecarregadas pelas consequências desta experiência e
acabam por procurar assistência médica. Com frequência parece que há pouco que as próprias
pessoas e as pessoas ao seu redor podem fazer para recuperar o controle de suas vidas.
A sensação de impotência que isso pode trazer parece ser uma característica quase
inevitável da experiência e é reforçada pelo fato de que a maioria dos conselhos médicos
pressupõe que a pessoa que sofre a experiência de ouvir vozes é uma vítima passiva da
experiência e geralmente evitam falar das vozes.
A abordagem de ouvir vozes mostrou que este não precisa ser o caso, e nesta parte do
módulo vamos explorar a experiência do ouvir vozes em termos de seu significado e as ideias de
mudança sobre a sua significância. Nós também teremos a oportunidade de experimentar como é
ouvir vozes.
Há muitos níveis diferentes em que a pergunta “O que causa as vozes?” pode ser
respondida. Por exemplo, do nível do ouvidor de vozes que reconhece a voz ou do nível dos
cientistas que querem saber que tipo de problema cerebral é responsável pela experiência de
ouvir vozes, e etc.
O nível preferido consiste de uma combinação de pesquisa epidemiológica (pesquisa
médica sobre a incidência de uma doença ou patologia) e pesquisa qualitativa da experiência dos
próprios ouvidores de vozes. Nesta parte do módulo você pode encontrar mais sobre as duas
formas de pesquisa, e se você quiser saber mais sobre a base da evidência apresentada,
consulte a revisão de literatura incluída nos materiais do curso.
Pesquisas epidemiológicas (2005) concluiram que sintomas considerados indicativos da
psicose e esquizofrenia, particularmente as alucinações, são ao menos fortemente relacionados à
abusos da infância e negligência, assim como muitos outros problemas de saúde mental.
Pesquisas qualitativas concluiram que vozes estão exprimindo, pelo que elas falam e pelo modo
que interagem com o ouvidor de voz, aquilo que aconteceu na vida desta pessoa. Destes dois
níveis de pesquisa surge a clareza de que as experiências traumáticas constituem parte
importante do desenvolvimento das experiências de ouvir vozes.
Conclusões
A maioria dos ouvidores de vozes que se recuperaram são bastante claros sobre a relação
causal entre as suas vozes e suas experiências traumáticas. No entanto, as vozes expressam o
que aconteceu com a pessoa de diferentes maneiras: por suas características; pelo que elas
dizem - em metáforas ou diretamente; pelos gatilhos que as disparam e assim por diante.
É muito importante explorar as ligações entre as vozes, o trauma e as emoções envolvidas
que se encontram nas raízes da experiência de ouvir a voz. Aprender a lidar com essas emoções
é mais relevante para o processo de recuperação do que aprender a lidar com as vozes.
Obter mais controle sobre as vozes, no entanto, abre a porta de entrada para atingir os
problemas socioemocionais que estão nas raízes. Vozes servem como um mecanismo de defesa,
evitando o confronto com esses problemas e as emoções envolvidas. Lidar com esses problemas
e emoções é necessário para levar uma vida plena.
1. Formar um grupo de três pessoas: a primeira pessoa será a "voz", a segunda o ouvidor
de voz, e a terceira uma pessoa com quem o ouvidor de voz está conduzindo uma conversa
"real". A "voz" se posicionará perto de um dos ouvidos do ouvidor de voz, enquanto os outros dois
se encontram sentados em cadeiras frente a frente.
2. Por dois minutos a "voz" falará com o ouvidor de voz, enquanto ao mesmo tempo o
ouvidor de voz conduzirá uma conversa com a terceira pessoa. A "voz" será instruída a fazer
observações pessoais e de menosprezo para o ouvidor com uma voz clara e tentará atrair a
atenção do ouvidor de voz. No final de dois minutos os três papéis serão trocados, até que todo
mundo experimente ser um ouvidor de voz.
3. No final do exercício, os trios serão reunidos e será pedido para que descrevam o que se
sentiu ao ouvir vozes (i.e. confusão, frustração, irritação, raiva, depressão, cansaço); como isso
afetou sua habilidade de manter uma conversa (i.e. perda de atenção e concentração); que
estratégias foram empregadas para reduzir a intrusão da voz (i.e. tentar ignorá-la, responder de
volta, mudar de posição física). Outras questões incluem perguntar o que eles sentiriam e fariam
se a voz fosse permanente? (depressão, sentimentos suicidas, um desejo de evitar as pessoas,
se esconder, falar mais com as vozes?). Também questionar a outra pessoa que participou da
conversa sobre como foi conduzir uma conversa com um ouvidor de voz.
4. Listar todas os pontos levantados pelos participantes e, em seguida, compará-los com
aqueles descritos nas três fases de ouvir a voz. É freqüente o caso de não-ouvidores de vozes
listarem exatamente os mesmos sintomas e formas de tentativas de resposta.
1.3 - Eu ouço o que você não ouve. Uma animação sobre a audição de voz
Assista "Eu ouço o que você não ouve". Esta uma uma animação sobre o ouvir vozes
produzido por ouvidores da Holanda. É um relato muito acessível e agradável de 10 minutos
sobre a abordagem de ouvir vozes. Pense sobre as questões levantadas na animação. Converse
com outras pessoas que você conheça ou que trabalham com você.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qnlvkJ0pmHM
1.4 Entrevista com Ron Coleman - Você pode viver com as vozes?
São vozes reais - ou são apenas alucinações auditivas e sinal de doença mental?
É melhor tentar controlar-se e livrar-se das vozes - ou ouvi-las e descobrir o seu significado?
Depois de ter sido abusado sexualmente por um padre e em luto com a morte de sua
primeira esposa, o advogado escocês Ron Coleman começou a ouvir vozes. Foi rotulado como
um esquizofrênico crônico e passou seis anos em hospitais psiquiátricos. Ron descreve sua
notável recuperação, e como ele se tornou um professor de renome e líder treinador com o
movimento de ouvidores de vozes no Reino Unido.
Este é um relato inspirador de uma jornada individual de recuperação. Ele também mostra o
potencial dentro das pessoas que ouvem vozes para superar o sofrimento causado por suas
vozes e para começar a viver suas vidas de novo.
Se você ouve vozes, pode usar suas próprias experiências, nos seus próprios contatos com
os serviços, com profissionais de saúde mental que você confia e com outras pessoas que ouvem
vozes para começar a falar e ouvir experiências de outras pessoas.
Se você é trabalhador de saúde mental, pode começar por aceitar esta experiência como
uma realidade e perguntar o que aconteceu na vida do ouvidor de voz que poderia estar
relacionado aos seus problemas, para começar a explorar o problema da vida ou a denúncia que
primeiro levou às experiências.
Neste módulo, vamos explorar maneiras pelas quais pessoas com vozes opressoras podem
desenvolver modos de viver e aceitar as vozes como parte de si mesmas.
Você Sabia
• Estudos descobriram que entre 4% e 10% das pessoas em todo o mundo ouvem vozes.
• Entre 70% e 90% das pessoas que ouvem vozes começam a ouvi-las após eventos
traumáticos.
• As vozes podem ser do sexo masculino, do sexo feminino, sem discriminação de gênero,
criança, adulto, humano ou não-humano.
• As pessoas podem ouvir uma só voz ou muitas. Algumas pessoas relatam centenas de
vozes, embora em quase todos os casos relatados uma delas domine sobre as outras.
• Vozes podem ser experimentadas na cabeça, nos ouvidos, fora da cabeça, em alguma
outra parte do corpo, ou no meio ambiente.
• Vozes refletem muitas vezes aspectos importantes do estado emocional do ouvidor -
emoções que muitas vezes não são expressas por ele.
2. No entanto, ouvir vozes em si não é um sintoma de uma doença, mas ocorre em 2-4% da
população. Algumas pesquisas dão estimativas mais altas, e ainda mais pessoas (cerca de 8%)
têm as chamadas "convicções pessoais peculiares", que às vezes são chamadas de "delírios", e o
fazem sem estar doentes. Muitas pessoas que ouvem vozes as consideram úteis ou bondosas
(Romme & Escher, 1993). Em um estudo de larga escala com 15.000 pessoas, verificou-se que
houve uma prevalência de 2.3% de pessoas que ouvem vozes com freqüência em contraste com
a prevalência de 1% de pessoas com esquizofrenia (Tien, 1991).
Bentall e Slade (1985) constataram que até 15,4% de uma população de 150 estudantes do
sexo masculino estava disposta a endossar a afirmação "No passado, eu tive a experiência de
ouvir a voz de uma pessoa e, em seguida, descobrir que ninguém estava lá". Eles acrescentam:
"... nada menos que 17,5% dos indivíduos estavam preparados para marcar o item “Muitas vezes
ouço uma voz falando meus pensamentos em voz alta” como “Certamente se aplica”. Este último
item é geralmente considerado como um sintoma de primeira linha da esquizofrenia...”.
3. Embora uma em cada três das pessoas que ouvem vozes se torne um paciente
psiquiátrico, duas em cada três podem lidar bem com isso e não tem necessidade de atendimento
psiquiátrico. Nenhum diagnóstico pode ser dado porque estas duas em cada três pessoas que
ouvem vozes são muito saudáveis e funcionam muito bem. É muito significativo que em nossa
sociedade há mais pessoas que ouvem vozes e que nunca foram pacientes psiquiátricos do que
pessoas que ouvem vozes e se tornam pacientes psiquiátricos. (Romme & Escher, 2001).
4. Green e McCreery (1975) constataram que 14% dos 1.800 indivíduos auto-selecionados
relataram uma alucinação puramente auditiva e, destes, quase metade envolvia a audição de
sons humanos articulados ou inarticulados. Um exemplo do primeiro seria o caso de um
engenheiro diante de uma decisão difícil profissional, que ao sentar-se em uma sala de cinema,
ouviu uma voz dizendo em voz alta e clara: “Você não pode fazer isso, você sabe”. Ele
acrescenta: "Foi tão clara e ressonante que eu me virei e olhei para o meu companheiro que
estava olhando calmamente para a tela. Fiquei surpreso e um pouco aliviado quando se tornou
evidente que eu era a única pessoa que tinha ouvido.” Este caso seria um exemplo do que Posey
e Losch (1983) chamam de "ouvir uma voz reconfortante ou conselho que não é percebido como
sendo os próprios pensamentos". Eles estimaram que cerca de 10% de sua população de 375
estudantes universitários americanos tiveram este tipo de experiência.
6. Em um estudo realizado por Honig e outros (1998), sobre a diferença entre os ouvidores
de vozes pacientes e não-pacientes, esta não foi encontrada na forma de ouvir vozes, mas no
conteúdo. Em outras palavras os não pacientes ouviam vozes, tanto dentro como fora da sua
cabeça, assim como fizeram os pacientes, mas ou o conteúdo era positivo ou o ouvidor tinha uma
visão positiva da voz e se sentia no controle dela. Em contrapartida, o grupo de pacientes tinha
mais medo das vozes e as vozes eram mais críticas (maldosas), além de eles se sentirem menos
no controle delas. (Honig et al, 1998).
10. Em investigação específica com pessoas que ouvem vozes, verificou-se que, em 77%
das pessoas diagnosticadas com esquizofrenia, a audição de vozes estava relacionada a
experiências traumáticas. Essas experiências traumáticas variaram de abuso sexual, abuso físico,
ser extremamente depreciado por longos períodos quando criança, ser negligenciado por longos
períodos ainda jovem, ser tratado de forma muito agressiva no casamento, não ser capaz de
aceitar a identidade sexual, etc. (Romme & Escher 2006)
11. Ouvir vozes em si não está relacionado com a doença da esquizofrenia. Em pesquisa
populacional apenas 16% de todo o grupo de ouvidores de vozes pode ser diagnosticado com
esquizofrenia. (Romme & Escher 2001)
Introdução
Como resultado desta pesquisa, realizada por meio de questionários e entrevistas, foi
descoberto que as vozes são acionadas quando há o enfrentamento de certas emoções
ameaçadoras ou de conflitos, tais como:
• Insegurança
• Medo
• Agressão
• Próprios sentimentos sexuais
• Sentimentos sexuais dos outros
• Perda de controle, ou confronto com certas situações ou novas situações,
• Situações inesperadas
• Companhia de novas pessoas
• Situações que criam estresse
• Sentimentos dos outros na mesma sala
• Fadiga
Ouvidores podem lidar com suas vozes, não por causa do conteúdo da experiência de voz
(que pode ser abusivo e desvalorizador, ou orientador e inspirador, ou ambos), mas como um
resultado do tipo de relacionamento que se tem com as vozes. Resumindo, isso significa que, se
você acreditar que as vozes estão no controle, você não poderá lidar com elas. Se você acreditar
que é mais forte do que as vozes, você poderá lidar com elas.
A fase da surpresa
* A maioria dos ouvidores descreve o início da experiência como sendo bastante súbita,
surpreendente e provocadora de ansiedade, e pode lembrar-se do momento preciso em que pela
primeira vez ouviu uma voz.
* A idade do início da experiência inicial de vozes varia amplamente, assim como a
intensidade da fase surpreendente, que parece ser mais grave quando ocorre durante a
adolescência. A confusão parece ser menor quando as vozes são ouvidas desde criança, ou
aparecem antes da adolescência. (de acordo com uma pesquisa, 6% das pessoas ouvem as
vozes antes dos 6 anos; 10% entre 10 anos e 20 anos; 74% depois dos 20 anos).
* As vozes são muitas vezes desencadeadas por eventos traumáticos ou emocionais, tais
como acidentes, divórcio, falecimento, doenças, e sessões de psicoterapia.
Ouvidores muitas vezes ficam confusos com suas vozes e querem escapar delas. Para
alguns, esse impulso dura apenas um curto período de tempo (semanas ou meses), para outros,
muitos anos.
No entanto, para chegar a um acordo com as vozes em qualquer nível ou para organizá-las
com sucesso, é necessária alguma forma de aceitação. Negar as vozes não funciona. Durante
esta fase, ouvidores, compreensivelmente, procuram maneiras de controlar ou lidar com as vozes.
Estratégias Incluem:
- Ignorar as vozes (distração)
- Ouvi-las seletivamente
- Entrar em diálogo com as vozes
- Marcar encontros com elas
Tentativas de distrair e de ignorar a vozes raramente funcionam, apesar de ser uma
estratégia que muitos ouvidores tentam, porque o esforço envolvido muitas vezes leva a uma
restrição severa de estilo de vida.
Não é de surpreender que os sentimentos iniciais de pânico e impotência são substituídos
por um período de raiva das vozes, mas essa raiva não parece ser parte de uma estratégia de
enfrentamento útil. A estratégia mais útil descrita por ouvidores de vozes é a seleção das vozes
positivas e o ouvir e falar somente com elas, tentando compreendê-las.
Um elemento importante para lidar com sucesso com as vozes é aceitá-las. Isto parece
estar relacionado a um processo de crescimento do ouvidor em tomar responsabilidade por suas
decisões. Você tem que aprender a pensar de uma forma positiva sobre si mesmo, suas vozes e
seus próprios problemas.
Outra estratégia é estabelecer limites e estruturar o contato com as vozes, por vezes
acompanhada de rituais ou ações repetidas.
A fase da estabilização
As pessoas podem, e de fato aprendem, a lidar com as suas vozes e encontrar uma espécie
de equilíbrio. Neste estado de equilíbrio, as pessoas consideram as vozes como parte de si
mesmas e de suas vidas, e capazes de uma influência positiva. Durante esta fase, o indivíduo é
capaz de escolher entre seguir os conselhos das vozes ou suas próprias ideias.
NB: As informações contidas nesta seção foram extraídas dos resultados de questionários
enviados a ouvidores de vozes e das entrevistas que se seguiram (ver “Aceitando as vozes “por
Marius Romme e Sandra Escher)
2.3 Significado da Voz - TED Talk com Eleanor Longden
Ouvir vozes está fortemente relacionado a experiências traumáticas, mas são as vozes um
mal funcionamento do cérebro ou uma estratégia criativa para a proteção? A psicóloga inglesa
Eleanor Longden sobreviveu a um diagnóstico de esquizofrenia paranóica e passou a ser uma
das principais pesquisadoras da experiência de ouvir vozes, trauma e dissociação. Ela é pioneira
no movimento de entender as vozes como uma experiência humana normal - e realmente ajudar
as pessoas pela cura do trauma.
Ouça a entrevista clicando no arquivo de áudio abaixo. Considere o que Eleanor disse em
termos de implicações para o diagnóstico e do impacto que estas podem ter sobre as vozes que
as pessoas ouvem.
Disponível em: http://www.ted.com/talks/eleanor_longden_the_voices_in_my_head?
language=pt-br
2.4 - Relações entre a experiência de vida e ouvir vozes
O que ouvidores de vozes dizem sobre a relação entre as vozes e as suas vidas? Nesta
parte do módulo nós investigaremos as relações entre o que as vozes dizem, suas características,
sua função e sua relação com traumas passados.
Os links são:
1. O que aconteceu no surgimento das vozes: Sentir-se ameaçado; suportar altos níveis de
estresse; sofrer uma experiência de abuso traumatizante, negligência emocional, ou bullying; etc.
Mieke (ouvidora de voz) diz:
“Eu começo a ouvir vozes quando estou em uma situação de risco. As vozes expressam
minha luta emocional entre querer enfrentar os meus problemas e querer voar para longe.”
6. O uso de vozes: Vozes podem ser uma estratégia de sobrevivência ou, em linguagem
psicoterapêutica, um mecanismo de defesa contra as emoções negativas esmagadoras ou
específicas.
Jolanda diz:
“Nina chora muito, mas também se apresenta imediatamente quando outras pessoas, ou eu
mesmo, querem ter contato corporal. Naquele momento Nina define as regras. Ela não fica com
raiva, mas ela assume o controle sobre mim e se comporta como uma criança de 7 anos de idade.
Eu posso até acabar dizendo coisas que vêm de Nina. Se algo acontece que eu não quero, eu
ouço Nina chorando.”
Esta sessão explora maneiras pelas quais você pode começar a usar os métodos e técnicas
fornecidas aqui para lhe dar a confiança em começar a trabalhar com as pessoas que ouvem
vozes ou a mudar seus relacionamentos com suas próprias vozes.
Existe uma relação entre as vozes ouvidas, a história de vida do indivíduo e a forma como
este é capaz de lidar com suas vozes. Ouvidores descrevem vários elementos que são indicativos
dessa relação: identidade, características, história, gatilhos, conteúdo e infância.
Juntos, esses elementos fazem sentido das vozes para o ouvidor de voz e para outras
pessoas envolvidas com o ouvidor de voz, como a família e terapeuta.
Leia o seguinte artigo sobre como dar sentido às vozes através do desenvolvimento de um
“construto”.
Gatilhos
Para Nina, gatilhos são as visitas aos pais da Jolanda, quando se fala de assuntos de
família e há confrontos sobre a sexualidade em sua vida. Gatilhos para Eva são quando Jolanda
tem que tomar uma posição, mas tem medo de fazê-lo, e muitas vezes quando Jolanda visita sua
família ou entra em contato com os homens, porque Eva não quer que ela se relacione com os
homens. Hannah vem quando as outras vozes, especialmente Eva, são agressivas e quando
Jolanda tem medo delas ou contempla fazer aquilo que Eva diz a ela para fazer.
História da infância
Jolanda teve uma educação super protegida, em que ela não aprendeu a se defender e sua
raiva foi rejeitada.
Construto
O que as vozes representam? As vozes de Nina e Eva não representam pessoas reais, mas
as emoções de Jolanda em relação ao abuso sexual. Hannah representa a própria Jolanda.
Quais os problemas que as vozes representam? Jolanda concorda que toda a informação
coletada aponta para sua dificuldade em lidar com o abuso sexual de seu passado. Ela está de
acordo com o construto sobre as vozes. A voz de Nina representa suas reações emocionais ao
abuso e, mais tarde, sua raiva com a sua família, que parecia preferi-la como paciente e não
vítima. A relação com a história de vida lhe permitiu mudar seu relacionamento com suas vozes,
mas isso não foi um processo fácil. Jolanda começou a desenvolver-se. Ela começou um curso de
pedagogia e tornou-se mãe orgulhosa de um filho. Ela encontrou o seu caminho para a
recuperação.
Quebrando o código
Quebrar o código não é atividade exclusiva do profissional, mas a colaboração entre o
ouvidor de voz e o profissional, ou mesmo entre o ouvidor de voz e um grupo, quando a
elaboração do construto é realizada em um grupo. Nesse grupo, outros ouvidores e profissionais
podem ajudar provendo associações que podem ser muito relevantes para o indivíduo na
compreensão do significado de suas vozes. Ouvidores experientes podem ser de grande apoio e
atuar como ajudantes profissionais.
1. Reunir-se com alguém que tenha interesse no ouvidor de voz como uma pessoa
Don (ouvidor de voz) diz a seu terapeuta:
“Falaram comigo como se eu fosse alguém, eu me tornei uma identidade. Você estava
interessado em uma peça de teatro que eu tinha escrito. Antes disso, eu era tratado como um
paciente; vivendo na terra de ninguém. Eu havia parado de sentir. Quando você diminuiu a minha
medicação eu acordei e minha mente ficou finalmente clara.”
7. Realizar mudanças
Jeanette (ouvidora de voz) diz:
“Minha primeira opção foi manter-me viva, o que teve conseqüências, por exemplo cuidar de
mim mesmo. A próxima escolha foi descobrir que eu estava bem. Comecei a pensar: "Por que eu
tenho expectativas tão elevadas sobre mim mesma; o que é tão ruim sobre mim?"
Auto Aceitação
Jeanette (ouvidora de voz) diz:
“Minha primeira escolha era permanecer viva. Essa foi uma decisão importante, já que eu
havia decidido não viver. O passo seguinte foi ver como eu me sentia bem sobre mim mesma. O
psiquiatra pensou que eu estava bem, e disse: "Eu não entendo por que você pensa de forma tão
negativa sobre si mesmo, porque se há alguém com a capacidade aqui é você."
Ponderei que, se isso é verdade, por que eu não acredito que eu sou alguém? Depois disso,
eu comecei a pensar lentamente sobre o que eu estava fazendo comigo mesma. “Por que eu
tenho expectativas tão elevadas sobre mim mesma; o que é tão ruim sobre mim? Por que eu não
tenho nenhum direito? “
Um dia que o psiquiatra perguntou: "Quem é você realmente?" Eu me apavorei. Entrei em
pânico. Mais tarde, comecei a pensar sobre isso, por que eu havia me tornado uma pessoa com
medo de observação. Então eu pensei: "Eu sou absolutamente nada. Isso é o que me aconteceu.
Quem eu sou são as minhas vozes, que são quem eu sou, e nada mais." Eu não sabia o que eu
estava sentindo, o que vinha das vozes e o que vinha dos outros. Por causa da paciência do
psiquiatra aprendi a sentir emoções como raiva e tristeza como pertencentes a mim, e que eu
poderia tê-las.”
Mien (ouvidor voz) diz:
“Tem tudo a ver com a forma como eu me percebo. Por anos eu tinha vivido com a idéia de
que era totalmente minha culpa, que eu era um filho do diabo e condenado desde o nascimento.
Essa convicção eu tive que mudar.”
As pessoas que ouvem vozes dizem que apoio dos membros da família e de amigos
desempenha um papel muito importante em ajudá-los em sua jornada de recuperação.
Infelizmente, há poucas informações sobre a abordagem do ouvir de vozes disponíveis para as
famílias; e muitas vezes os serviços não procuram envolvê-los. É útil para a pessoa que ouve
vozes, e sua família e amigos, que eles estejam cientes das causas e significado de ouvir vozes e
de que forma eles podem ajudar.
Neste módulo, vamos estudar modos de auxiliar membros da família e amigos a tornarem-
se parte da jornada de recuperação.
4.1 - Como a maioria das pessoas reage quando seu familiar ou amigo fala sobre ouvir
vozes?
4.2 - Plano de Ação para Ajudar um Membro ou Amigo da Família que Ouve Vozes
4.3 - Links
4.1 - Como a maioria das pessoas reage quando seu familiar ou amigo fala que ouve
vozes?
Quando um membro da família ou amigo descobre que o seu parente ouve vozes, isso pode
ser devastador. No livro sobre as crianças que ouvem vozes, os autores Sandra Escher e Marius
Romme dizem que alguns membros da família disseram que "parecia que todo o meu mundo
tinha desmoronado." Eles dizem que essa reação é compreensível, pois todo mundo é
naturalmente muito protetor em relação aos membros da família e não querem vê-los
angustiados, feridos ou confusos. No entanto, há uma pergunta crucial que Sandra e Marius
dizem precisar ser feita.
Por que reagimos desta maneira quando descobrimos que um membro da família ou amigo
está ouvindo vozes?
A razão subjacente para as reações dos membros da família é que esta se baseia em
informações sobre o significado de ouvir vozes principalmente baseadas em premissas postas
pela sociedade, especialmente a crença generalizada de que ouvir vozes é o mesmo que ter uma
doença mental chamada "esquizofrenia".
A boa notícia é que essa crença não está correta. Embora seja verdade que ouvir vozes
aparece em cerca de 60% das pessoas que foram diagnosticadas com esquizofrenia, o oposto
não é verdade! Se você ouve vozes isso não significa que você tem esquizofrenia.
Há uma questão ainda mais importante que eles podem não estar cientes: ouvir vozes em si
é normal, mas é possível tornar-se doente ao ouvir vozes, caso você não consiga lidar com elas.
Isso significa que o problema está em como se lida com as vozes e não simplesmente ouvi-las.
A maioria das pessoas que vivem bem com suas vozes tem pais suportivos na família que
moram perto e que aceitam a experiência como parte de quem seu filho é. Leia o plano de ação a
seguir e considere como você pode implementá-lo ao trabalhar com um ouvidor de voz, sua
família e amigos.
• Tente não ter uma reação exagerada - embora você fique compreensivamente
preocupado, controle-se para não comunicar a sua ansiedade para o seu familiar/amigo.
• Aceite a realidade da experiência de voz de seu familiar/amigo - pergunte-lhes sobre as
suas vozes, quanto tempo eles ouvem vozes, quem ou o que elas são, se elas têm nomes, o que
elas dizem, etc.
• Esteja pronto para ouvir se eles quiserem falar sobre suas vozes e use desenho, pintura,
teatro e outras formas criativas para ajudá-los a descrever o que está acontecendo com eles.
• Oferecer um ouvido amigo - isto significar permitir à pessoa expressar seus sentimentos,
incentivando-a a fazê-lo. Tente não interromper ou reagir criticamente ou defensivamente ao que
está sendo dito.
• Ria - você nem sempre têm que ficar sério para mostrar que se importa, fazer algo
divertidamente leve pode ajudar a aliviar a tensão, por exemplo, ver um filme de comédia,
lembrando experiências engraçadas.
• Dê a pessoa que ouve vozes espaço e tempo sozinho quando eles precisarem.
• Tranquilize seu membro da família/amigos quando ele ouvir vozes.
• Enfrente problemas com toda a calma e objetividade possível.
• Não negue a experiência porque você sente pena da pessoa, mas incentive-a a falar.
• Deixe-os saber que muitas pessoas ouvem vozes e é possível encontrar formas de viver
com elas ou de mandá-las embora.
• Mesmo que as vozes não desaparecem, seu familiar/amigo pode aprender a viver em
harmonia com elas.
• É importante quebrar seu senso de isolamento e diferenciação de outras pessoas. Eles
são especiais, talvez incomuns, mas normais.
• Encoraje alguma atividade e contato social a cada dia (cuidado com o equilíbrio entre o
estresse de interação social e não deixá-lo isolado).
• Tente descobrir por que eles estão ouvindo vozes.
• Descubra o máximo de informação possível sobre audição de voz, maneiras de aprender a
lidar, medicação e efeitos colaterais.
• Descubra se eles têm dificuldades ou problemas que eles estão encontrando dificuldade
para lidar e trabalhe na tentativa de corrigir esses problemas.
• Tente lembrar quando as vozes começaram: o que estava acontecendo quando ele ouviu
pela primeira vez as vozes? Quando é que as vozes surgirm pela primeira vez? Havia algo
incomum ou estressante que pode ter ocorrido?
• Ajude a pessoa a sentir-se mais forte do que as vozes e dê a ela oportunidade de falar
sobre suas vozes.
• Falar sobre e com as vozes ajuda muitos ouvidores a lidar melhor com elas.
• Pergunte à pessoa o que ela acha que reduz as vozes, por exemplo, ficando ocupada, e
descobra se ela gostaria de ajuda com isso.
• Ajude a capacitar o ouvidor de voz:
- Ajudando-os a pensar e planejar o que querem.
- Ajudando-os a recuperar um sentido de comando de sua vida.
- Advogando. Ajude-os a lutar por seus direitos, a obterem o melhor apoio. Seja tão
favorável quanto possível, sem assumir para si as coisas que pessoas podem fazer
por si mesmos.
- Informando-se sobre grupo de ouvidores de vozes e vendo se o seu familiar ou
amigo ouvidor de voz está interessado em participar do grupo. Leve-o a uma reunião.
- Dando ajuda prática: às vezes, no dia-a-dia, as tarefas podem tornar-se
extremamente difíceis para as pessoas. Essa pressão pode ser aliviada pela ajuda de
um amigo, mas não assuma a tarefa. Incentive-o a fazer algumas tarefas ou ajude-o a
fazé-la.
• Se você acha que precisa de ajuda externa, encontre um terapeuta que esteja disposto a
aceitar a experiência deles e trabalhar de forma sistemática para melhor compreensão e manejo
das vozes (por exemplo, no uso do Workbook já mencionado).
• Viva a sua própria vida.
• Siga em frente com sua vida e tente não deixar a experiência com a voz tornar-se o centro
da sua vida ou do seu familiar.
• Cuide de si mesmo - isso é extremamente importante, dê-se algum tempo e espaço para
relaxar. Informe-se sobre serviços de assistência temporários para que você tenha férias.
• Reduza o estresse na família, ao reconhecer e combater as causas do stress.
• Evite protege-lo excessivamente. Não faça tudo pela pessoa.
• Tente aceitar que o ouvidor de voz pode não ser capaz de expressar seu amor e gratidão
em troca.
• Tente oferecer calor ouvidor voz e apoio. Evite ser crítico.
• Aprenda a dizer "não" quando necessário, buscando ajuda profissional, aconselhamento e
apoio se você precisar.
• Procure ajuda profissional para definir limites no comportamento difícil.
• Reduza o seu sentimento de isolamento ao reunir-se com outras pessoas que passam
pela mesma situação.
• Certifique-se que você e o ouvidor de voz estão recebendo os benefícios de direito!
4.3 - Links
Aqui estão alguns links úteis, que abordam questões relacionadas aos membros da família e
amigos. Dê uma olhada nos sites e discuta.
*Nota do Tradutor: Os materiais disponíveis a seguir encontram-se na língua inglesa. O
único livro disponível em português é “Na Companhia das Vozes”, de Sandra Escher e Marius
Romme, pela Editoral Estampa, Coleção Novos Rumos.
1. Don´t Panic If Your Child Hears Voices, Sandra Escher, INTERVOICE. (Não entre em
pânico se o seu filho ouve vozes). Disponível em: http://www.intervoiceonline.org/children-and-
young-people/for-parents-supporters
2. Hearing voices: Responding helpfully to a child or young person who appears to be
hearing voices Hands On Scotland. (Ouvir vozes: Respondendo de forma útil a uma criança ou
jovem que pareça estar ouvindo vozes). Disponível em: http://www.handsonscotland.co.uk/topics/
unusual/voices.html
3. Coping with Voice Hearing: Tips for Carers, Friends and Family Gloucestershire Hearing
Voices & Recovery Groups. (Lidar com ouvir vozes: Dicas para os cuidadores, amigos e
familiares). Disponível em: http://www.hearingvoices.org.uk/info_resources10.htm
4. Experiences of psychosis: Support and challenges: Support from family, friends and
partners Youth Health Talk. (Experiências de psicose: Apoio e desafios: o apoio da família, de
a m i g o s e p a r c e i r o s ) . D i s p o n í v e l e m : h t t p : / / w w w. h e a l t h t a l k . o r g / m e n t a l _ h e a l t h /
experiences_of_psychosis/Topic/3938/
5. For Parents and Carers, Voice Collective. (Para pais e educadores). Disponível em: http://
www.voicecollective.co.uk/voices/voices_carers_main.html
Capítulo 5: Trabalhando com vozes
Como:
• Desenvolver atitudes positivas para com os ouvidores, respeitando os seus
conhecimentos e experiências como válidos;
• Compreender o papel do trauma de infância, especialmente o abuso e a negligência no
desenvolvimento de vozes;
• Desenvolver habilidades de modo a trabalhar com ouvidores e com vozes.
Após a conclusão desta sessão, você estará familiarizado com os conceitos e técnicas
empregadas para ajudar um ouvidor de voz a trabalhar com as suas vozes.
Introdução
Grupos de Ouvidores de Vozes oferecem um lugar seguro para falar sobre suas
experiências. Ouvidores podem sentir que, por vezes, essas experiências são muito angustiantes
e esmagadoras, mas compartilhá-las pode ajudar.
Ouvir vozes pode ser tanto um ataque à identidade pessoal quanto uma tentativa de mantê-
la intacta. A solução não está em suprimir o conflito, mas em aceitá-lo, e ter em mente que é
normal ser diferente. Nenhum de nós responde a situações da mesma forma e enfrentar o
contexto é essencial para a compreensão do comportamento e facilitação do apoio.
Grupos de Ouvidores de Vozes podem ser um trampolim muito eficaz para a recuperação. A
seguir, leia mais sobre esta abordagem.
Nota: Essas informações foram obtidas a partir dos sites da INTERVOICE, do Hope
Hearing Voices Network NSW (Rede Esperança para Ouvidores de Vozes) e do Hearing
Voices Australia (Ouvidores de Vozes).
5.2 - Como criar e dar suporte aos grupos
Resumo
Pessoas que ouvem vozes angustiantes podem estar presas em diálogos repressivos com
suas vozes, que limitam suas vidas. Conversar com as vozes como descrito neste artigo é uma
técnica que reforça uma relação mais frutífera entre as vozes e o ouvidor voz. Este trabalho é
inspirado pelo “Diálogo com as Vozes” (Voice-Dialogue), um método desenvolvido por Hal e Sidra
Stone. Este quadro metódico será explicado brevemente. A técnica e a atitude necessárias para
falar com as vozes serão apresentadas. Indicações e contra-indicações serão mencionadas.
Quatro exemplos esclarecerão os potenciais desta abordagem.
Para desafiadora:
Voz: "Essas pessoas não gostam de você".
Pessoa: "Você não tem nada melhor a dizer?"
Para submissa:
Voz: "Você não deve sair hoje à noite"
Pessoa: "Tudo bem, então eu não vou."
Muitos ouvidores experimentam suas vozes como uma poderosa e consumidora influência -
como se eles tivessem que obedecer a tudo o que elas dizem, pois as vozes dizem a verdade
suprema. Vozes também podem ameaçar o ouvidor de voz com "castigos" por não obedecer seus
comandos, tanto para a própria pessoa quanto para amigos e familiares.
Em nossa abordagem, que é derivada de uma técnica conhecida como "Diálogo com as
Vozes", tentamos explorar os motivos das vozes, para que a pessoa possa encontrar novas
estratégias para lidar com elas. Trabalhar com vozes dessa maneira pode criar uma posição mais
independente, a partir da qual um indivíduo pode fazer suas próprias escolhas. Algumas vozes
podem até mesmo tornarem-se auxiliadoras.
Princípios Básicos
O princípio mais importante é não tentar mudar as vozes, nem eliminá-las da vida da
pessoa. O que estamos tentando fazer é explorar sua relação com o ouvidor de voz. Fazer este
trabalho ajudará o indivíduo a ganhar uma perspectiva diferente sobre o que as vozes estão
tentando dizer; e se a pessoa desenvolver uma atitude mais forte, então as vozes são capazes de
mudar. Nosso objetivo não é livrar-nos das vozes, mas tornar sua relação com o ouvidor mais
equilibradas ao ajudar a pessoa a retomar o controle.
“Essas vozes não são experimentadas como "partes". Elas são as outras pessoas que falam
comigo, elas não têm nada a ver comigo! Elas podem atacar, elas podem arruinar a minha vida!
Elas me proibem de fazer as coisas. Eu tenho medo delas. Elas desafiam tudo o que eu quero.
Dizem-me para fazer o que eu não quero. Elas têm poder total sobre mim! Este "Diálogo com as
Vozes" é outro truque terapêutico para me convencer de que minhas opiniões são erradas. Eu
quero me livrar das minhas vozes! Elas são meus inimigos.”
Mas você não pode negar que suas vozes são suas. Você já as possui. Você tem um
relacionamento com elas. Eles vieram em sua vida num momento difícil. Não há nenhum truque
mágico que você pode usar para se livrar delas. Você vive com elas. Isso é uma realidade.
É como um parceiro abusivo que não vai deixar: você não gosta dele, mas você não pode
se divorciar. Você não pediu isso, mas ele não vai parar. Você quer lutar contra isso, mas é muito
forte. Então é melhor você encontrar maneiras de suportá-la, e então você poderá melhorar suas
habilidades de se relacionar com ela.
Em nossa experiência vozes querem ser ouvidas. Escutadas. Elas querem se expressar.
Muitas vozes estão com raiva, ou até mesmo maldosas: mas as pessoas com raiva querem
desabafar sua raiva, expressar por que elas estão tão irritadas. A raiva está mais conectada com
repressão. Você não consegue o que quer, ou você era incapaz, ou proibido, de dizer o que
queria. E, em alguns aspectos, as vozes são como pessoas comuns. Elas têm sentimentos,
motivos, deficiências, possibilidades e opiniões. Elas não usam estratégias racionais, mas reagem
por frustração.
Ao falar com vozes, utilizamos essencialmente a mesma atitude de não-julgamento que é
necessário na prática do “Diálogo com as Vozes”. É claro que estamos em desacordo com as
atitudes destrutivas que algumas vozes têm: não queremos que as pessoas a se machuquem.
Mas, normalmente, há uma razão para estas atitudes, e estes são os motivos que estamos
tentando explorar. O que acontece na vida do ouvidor de voz para fazer aparecer vozes de uma
forma negativa? Queremos discutir os eventos que frustraram a voz e apoiar o ouvidor de voz a
se tornar mais equiparado às vozes. Geralmente, nem a voz e nem o ouvidor de voz estão feliz
em seu conflito mútuo. Portanto, pretendemos melhorar o entendimento entre ambas as partes e
lutar para ajudar o indivíduo a desenvolver estratégias e técnicas positivas para lidar melhor com
a sua experiência. Se há vozes positivas, nós encorajamos o apoio delas também.
Um Exemplo
Jacob ouvia uma voz, que era extremamente destrutiva e constantemente lhe pedia para
tirar a própria vida. Ele comentava incessantemente sobre tudo que Jacob pensava ou dizia, e
finalmente destruiu a sua qualidade de vida. Compreensivamente, Jacob estava apavorado com a
voz e se ressentia de sua presença. Quando o facilitador falou com a voz, ela era extremamente
hostil e expressava uma grande quantidade de raiva e frustração para com Jacob. De acordo com
a voz, Jacob merecia morrer: ele nunca se levantou contra as injustiças contra ele, era fácil de
manipular e nunca assumiu a liderança em qualquer situação. A voz passou a dizer ao facilitador
que passava o dia todo com raiva de Jacob. “—Isso deve ser muito cansativo”, disse o facilitador.
Na verdade, a voz disse, ela estava ficando cansada disso. Ela queria que Jacob fosse mais
forte, mas todos os seus comentários só serviam para deixar Jacob mais ansioso e hesitante. O
facilitador mencionou que a voz parecia querer que Jacob ficasse mais forte. Estava ele correto?
Sim, era isso. “—É esta maneira pela qual você estava tentando ajudar Jacob eficaz?”. Não: ela
só faz Jacob se sentir fraco. “—Quando é que Jacob se torna menos ansioso?”, perguntou o
facilitador. “—Quando ele é apoiado.”, a voz respondeu. “Você sabe como fazer isso?”. Ela não
sabia. Então, o facilitador contou à voz sobre como ela havia aprendido a apoiar as pessoas
ansiosas. A voz estava intrigada. Será que ela gostaria de se tornar "professora" de Jacob? Esta
idéia atraiu a voz e, a partir desse momento, ela começou a evoluir de um valentão destrutivo para
um companheiro solidário que tentou ajudar Jacob expressar o que ele precisava. Nas sessões
seguintes, o facilitador sugeriu maneiras em que a voz poderia melhorar suas qualidades de
apoio, e desde este dia até hoje, a voz nunca retornou à sua atitude crítica, censurante anterior.
Jacob tinha adquirido, em última análise, um verdadeiro amigo.
Começando a sessão
O facilitador começa a seção perguntando ao ouvidor de voz como ele e as vozes se
sentiriam em falar diretamente com ele, explorando por que o ouvidor de voz e as vozes acham
esta uma boa idéia ou não. Ele, então, dá uma descrição detalhada do método e suas finalidades,
e enfatiza que as vozes devem dar sua permissão para falar com ele. Se as vozes não
concordam, então é importante explicar que vantagens podem existir, mas o facilitador nunca irá
forçar um ouvidor ou as vozes a fazerem este trabalho. Todas as três partes (o facilitador, o
ouvidor de voz e as vozes) devem concordar e se sentir seguros com ela. Esta é uma condição
vital, e se não for preenchida, não adianta ir a uma sessão. Há muitas outras maneiras de
trabalhar juntos e alcançar um melhor relacionamento com as vozes, e estas podem ser
discutidas como alternativas mais adequadas.
O facilitador pode tentar estimular o interesse tanto do indivíduo quanto das vozes,
descrevendo exemplos de experiências positivas com o método. Em todos os momentos, o
facilitador se comporta como se estivesse falando com os membros individuais presentes no
grupo e todo o grupo deve dar o seu consentimento. Algumas vozes estão mais entusiasmadas do
que outras, e algumas não querem se envolver em tudo, e se este for o caso, o facilitador
pergunta quais podem ser as conseqüências. A situação que queremos alcançar é que ambas as
partes comecem a entender melhor uns aos outros, e que a relação da pessoa com as vozes
melhore.
Durante o interrogatório, o ouvidor repete comentários e palavra-por-palavra do que for dito
pelas vozes, quase como se elas estivessem falando a partir de um fone de ouvido ou um
telefone. Se a pessoa prefere manter-se dominante, o facilitador pode falar indiretamente com as
vozes, fazendo perguntas que são formuladas pelo ouvidor de voz como intérprete. Isto pode ser
usado como um exercício de aquecimento, ou o único método, dependendo do que deixa a
pessoa mais confortável. Se possível, no entanto, é preferível que o ouvidor repita diretamente o
que as vozes estão dizendo, pois dá uma oportunidade mais direta para elas se expressarem.
Durante este processo, o facilitador se envolve com a voz em particular de uma forma
aberta e comprometida e, após as questões terem sido respondidas, agradece à voz pelas suas
explicações.
Quando o facilitador e/ou ouvidor de voz desejar terminar o diálogo, o facilitador pergunta se
a voz gostaria de fechar a conversa, e talvez retornar à conversa em outro momento. Depois que
a voz tiver dado o seu consentimento, o facilitador se despede da voz e, possivelmente, faz um
elogio ou comentário positivo sobre isso. Em seguida, retorna para o ouvidor da voz, que retorna à
cadeira que estava usando no início da sessão.
Atitudes
1. O ouvidor voz é o dono da situação
A qualquer momento o ouvidor de voz pode interromper a entrevista. O facilitador afirma o
quanto é importante para o ouvidor de voz não se desligar completamente da sessão. É vital para
ele lembrar e aprender com o processo, e eles devem permanecer no cargo e assumir a
responsabilidade por isso.
2. O facilitador não é inimigo das vozes
A psiquiatria tradicional tem a opinião predominante de que as vozes devem ser eliminadas:
você deve manter-se distraído, ignorando o conteúdo de voz, e independente do que acontecer,
não se envolver com elas. Um dos resultados dessa abordagem é que a experiência real de ouvir
a voz não é reconhecida de forma positiva. É claro, queremos reduzir a influência das vozes, mas
mandá-las embora não é o nosso objetivo. É muito provável que você chegue a um ponto em que
as vozes naturalmente retiram-se, ou porque já cumpriram o seu propósito ou porque os
problemas subjacentes / razões da sua presença foram resolvidos.
3. Não julgue, relaxe
Os facilitadores são treinados para não julgar, e não para entrar em um debate com as
vozes. O facilitador não pode trabalhar com as vozes se ele tem medo delas. Embora seja um
esforço empolgante falar com as vozes, ele deve ser capaz de se sentir confiante e relaxado.
4. O facilitador quer conhecer a voz
O facilitador irá manifestar interesse em como você e as vozes estão juntos. Muitas vezes,
as vozes não estão satisfeitas com o emaranhamento em que estão presas, e o facilitador
expressa empatia para que ele, as vozes e o ouvidor-voz possam trabalhar juntos para resolver a
situação.
5. O facilitador é respeitoso, mas não submisso
O facilitador deve ter uma atitude respeitosa para com as vozes e o que elas podem falar.
No entanto, ele permanece em firme oposição a quaisquer comandos negativos ou declarações
que a voz possa fazer. O facilitador quer estimular a autonomia, não a submissão, por parte do
ouvidor de voz.
6. Postura assertiva quando desafiando as vozes, e não argumentativa
O facilitador se recusa a ser contestado ou levado a um argumento. Ele permanece firme,
mas não tem um ponto de vista moral - respeito é o princípio ético.
Quem poderia achar o método útil?
A técnica é particularmente benéfica para aqueles com experiência prévia em comunicar-se
com as vozes. Nem todos os ouvidores estão cientes de que o diálogo com vozes é possível, ou
já tenha tido, anteriormente, medo de tentar. Se este for o caso, o facilitador pode dar uma ajuda,
conselho e apoio no estabelecimento de comunicação direta. No entanto, alguns ouvidores não
podem ou não querem se comunicar com suas vozes e para estes este método não é apropriado.
A pessoa tem que se sentir segura o suficiente para fazer o exercício. Mais uma vez, o
facilitador ajuda a pessoa a sentir-se à vontade com este exercício novo e, muitas vezes,
emocionante. O ouvidor permanece no controle: o facilitador foca isso. E o ouvidor de voz é
responsável por permanecer presente: o facilitador, por incentivá-lo.
O tempo deve ser gasto de forma colaborativa com o ouvidor de voz para o planejamento de
perguntas adequadas para fazer às vozes. É importante planejar o que você quer alcançar e
expressar quaisquer preocupações que você possa ter com antecedência. Você pode já ter idéias
muito específicas sobre questões ou problemas que você deseja explorar com as vozes, e o
facilitador pode discutir isso com você e sugerir maneiras de proceder. Deverá ser dada ao
ouvidor a oportunidade de conversar com as vozes diretamente usando as cadeiras. Isso permite
que o indivíduo para ensaiar falar com as vozes em um ambiente seguro e com confiança de que
possa ser capaz de fazer isso de forma independente.
Quando o ouvidor-voz sente que pode não ser capaz de manter o controle durante a
entrevista
Se o facilitador sentir que este é o caso, ele deve pedir ao ouvidor de voz para voltar à sua
cadeira e imediatamente interromper a entrevista com a voz (não com a pessoa). A importância de
ter alguma forma de controle é imperativa, e se o ouvidor de voz não pode permanecer no
controle, então as razões precisam ser discutidas. É muito importante que tanto o ouvidor de voz
quanto o facilitador estejam confiantes de que o ouvidor de voz pode assumir a qualquer
momento. Se necessário, o facilitador não prosseguirá falando com as vozes até que tanto ele
quanto o ouvidor estejam convencidos de que o controle é possível na próxima vez. Outro
trabalho pode ser feito com antecedência para preparar o caminho.
Karen
Karen é uma mulher de 28 anos de idade que esteve internada em um hospital psiquiátrico
por quatro anos. Grande parte desse tempo foi gasto na sala de isolamento para impedir que ela
obedecesse aos comandos de suas vozes e ferisse a si mesma. Karen foi fortemente medicada,
mas isso não a livrou das vozes ou reduziu o poder destas sobre ela.
Karen estava determinada a viver por conta própria, e resolveu parar de autoflagelar-se, a
fim de alcançar este objetivo. Ela conseguiu esse objetivo com sucesso e casou-se, mas apesar
desse progresso ainda se sentia extremamente restringida pelas vozes. Elas estavam
constantemente presentes, criticavam, comentavam e ordenavam a ela que se machucasse.
Ignorar as vozes era uma batalha constante para Karen, que tornou-se cada vez mais
desgastante e desmoralizante.
Na primeira entrevista de Karen tornou-se evidente que ela ouvia quatro vozes, todas do
sexo masculino e críticas em relação a ela e suas ações. Ao longo da sessão, as vozes
manifestaram a sua indignação com Karen e descreveram a história de seu relacionamento com
ela, assim a seguinte história surgiu.
As vozes primeiras entraram na vida de Karen quando ela tinha cerca de quatro anos e foi
vítima de abuso. Neste momento, as vozes eram uma fonte de enorme apoio e companheirismo
para Karen e, durante toda a infância e adolescência, ela saudou o seu apoio, tendo uma relação
positiva para com elas.
Quando tinha 20 anos, Karen tornou-se membro de uma seita religiosa, um ambiente em
que ela se sentia segura e apoiada, a ponto de se sentir à vontade para discutir suas experiências
com audição de voz. Infelizmente, a resposta não foi aquela que Karen havia previsto: os outros
membros da seita sentiram que as vozes eram instrumentos do diabo e pediram a Karen para se
livrar deles. Foi neste ponto que a batalha entre Karen e as vozes foi iniciada, e as vozes
transformadas de uma presença cuidadora positiva a uma que era malévola e ameaçadora. Foi
também o início da jornada de Karen com a psiquiatria.
Surpreendentemente, Karen tinha pouca memória desta história comum que as vozes
descreveram, tendo-se tornado tão absorvida pela negatividade das vozes que ela tinha
esquecido o seu relacionamento passado com ela. Ninguém nunca havia discutido a história das
vozes com Karen. Tanto nas clínicas psiquiátricas quanto no hospital, os profissionais só tinham
se concentrado em livrar-se das vozes, um exercício que nunca tinham conseguido.
O facilitador encorajou as vozes a explicarem o sentimento de frustração, e logo ficou claro
que a sua intenção original era apoiar Karen ao invés de persegui-la. Elas descreveram essa
frustração em grande detalhe, e Karen foi capaz de apreciar os seus sentimentos. Após a sessão,
Karen iniciou diálogos intensos com as vozes em casa, de uma forma mais construtiva. Na sessão
seguinte, um mês depois, ela relatou que duas das vozes tinham desaparecido. Duas sessões
foram suficientes para restaurar a relação entre Karen e os restantes duas vozes (agora vozes
positivas). Parecia que Karen havia se desenvolvido em uma pessoa independente, com menor
necessidade de apoio. As vozes desapareceram e se distanciaram, e Karen sentiu-se confiante
em começar a reduzir a sua medicação. Dois anos depois, ela ouve apenas uma voz de apoio
(que ela não quer que se vá) e leva uma vida plena, com quase nenhuma medicação.
Em última análise, falar com as vozes permitiu-lhe transformá-las de novo em sua forma de
apoio inicial. No final, Karen não precisa mais delas - e elas puderam retirar-se.
Judith
Judith tem 25 anos e começou ouvir vozes quando tinha 18 anos de idade. Ela tinha
acabado de sair de casa pela primeira vez para estudar na universidade, e apesar de inicialmente
gostar dessa experiência, tinha começado a sentir-se progressivamente isolada, ansiosa e
solitária. Por causa disso, ela considerava suas vozes reconfortantes e sociáveis, e foi capaz de
continuar seus estudos com sucesso considerável.
Depois de mencionar casualmente as vozes a um amigo, Judith, foi levada a atenção dos
serviços psiquiátricos. Porque ela não estava disposta a cumprir com o tratamento médico, Judith
acabou por ser isolada, e mais tarde recebeu um diagnóstico de esquizofrenia.
Sendo encorajada a ver as vozes como sintomas da doença, Judith tornou-se cada vez mais
hostil e temerosa em relação a elas. Isto por sua vez serviu para deixar as vozes mais fortes e
mais agressivas.
Judith tornou-se alvo da hostilidade de seus colegas, uma vez que a notícia de seu
diagnóstico se espalhou, e seu senso de desespero e paranóia fez as vozes crescerem mais
fortes ainda. No prazo de três meses de seu contato com a psiquiatria, Judith tinha ido de uma
boa aluna a alguém com psicose aguda e debilitante. Ela iria passar os próximos quatro anos em
hospitais psiquiátricos.
Judith estavaa inicialmente cética sobre falar com as vozes, já que ninguém nunca tinha
dado crédito a elas como cheias de propósito, mas apenas como um sintoma da esquizofrenia.
Judith tinha uma voz especial, muito mais dominante do que qualquer outra, na qual ela e o
facilitador se concentraram inicialmente.
A voz expressava enorme hostilidade para com Judith, e reiterou o seu desejo de que ela
fosse punida. Ela também deu advertências sobre sua morte iminente. Parecia como se nunca
poderia haver qualquer coisa remotamente positiva ou construtiva sobre esta voz: sua agenda
parecia ser puramente causar destruição, mutilação e morte.
No entanto, depois de falar longamente com a voz, Judith e o facilitador começaram a
perceber que os seus motivos não eram tão negativos como parecia inicialmente. Judith veio a
entender que o que a voz estava, de fato, fazendo era refletir como ela realmente se sentia sobre
si mesma. Representava sentimentos inconscientes de auto aversão: o desprezo e ódio eram um
produto de seu subconsciente e só mudariam quando ela mudasse.
Judith decidiu que a voz estava revelando aspectos não confirmados de seu estado
emocional, coisas que ela tinha sido incapaz de expressar diretamente. Desta forma, a voz tinha o
potencial de fornecer informações valiosas sobre os conflitos com os quais ela precisava lidar.
Judith nunca tinha tido a oportunidade de explorar os sentimentos de baixa auto-estima,
insegurança e ansiedade que tinham inicialmente causado problemas para ela na universidade.
Porque estas questões nunca tinham sido resolvidas, elas haviam se externalizado como vozes.
Juntos, Judith e o facilitador descobriram que a voz queria ajudar Judith a tornar-se forte, e
lembrá-la de que se pudesse lidar com este tipo de experiências angustiantes, então não haveria
nada que a impedisse de continuar a sua licenciatura e retomar sua antiga vida.
A voz sentiu que ela desvalorizada seu próprio potencial, e ficou irritada com isso. Ela
também tornou evidente que, quando a voz falava para Judith morrer, não queria dizer isso de
uma forma literal, ao invés disso, que se ela não se afirmasse, continuaria a ser uma paciente
psiquiátrica pelo resto de sua vida, e, nesse sentido, iria "perder a vida" que ela deveria ter.
Judith disse mais tarde que as vozes, enquanto assustadoras, também eram simbólicas e
significativas, e representaram pontos de relevância pessoal. Eles só pareciam más porque ela
nunca tinha tido a oportunidade de compreendê-las e aceitá-las. Ao reconhecer e tolerar as vozes,
sua intensidade e intromissão começou a diminuir. Judith já vive há quatro anos sem medicação e
retornou à universidade para estudar para um doutorado. Enquanto ela ainda ouve vozes, elas
perderam seu poder de devastá-la. Ela afirma que apenas fazendo as pazes com as vozes ela
tem sido capaz de fazer as pazes com ela mesma.
Tina
O diálogo com as vozes pode ajudar alguém a separar o seu eu pessoal das suas vozes, e
assim retomar o controle de sua vida. Tina foi uma paciente que teve uma longa história de
autoflagelação. Ela tinha dito a funcionários que se sentia obrigada a obedecer uma voz que lhe
dizia para fazer coisas destrutivas para consigo mesma. Ela concordou em tentar uma sessão de
diálogo de voz para saber mais sobre os motivos da voz.
Ela explicou que ouvia uma voz chamada Paul, que ela reconheceu como um vizinho que
tinha abusado dela sexualmente na infância. Na primeira entrevista, a voz foi questionada sobre
quando apareceu pela primeira vez na vida de Tina (como voz). Paul explicou que tinha aparecido
há onze anos, no mesmo tempo em que Tina tinha divulgado a um conselheiro sobre o abuso que
ele havia cometido. Paul disse que tinha sido muito ameaçado por essa exposição e tinha
procurado controlar Tina, incentivando-a a autoflagelação.
Paul foi perguntado por que tratava Tina tão mal, e afirmou que era porque ela era uma
mulher. Quando o facilitador perguntou a Paul se ele achava que todas as mulheres eram de
segunda categoria e dignas de abuso, Paul concordou. O facilitador comentou que os homens
precisavam de mulheres como mães, e Paul afirmaram que sua mãe tinha batido nele e abusado
dele emocionalmente. O facilitador perguntou Paul como aquilo o fazia sentir: ele chorava? Paul
disse que se ele gritasse apanhava mais. O facilitador então perguntou a Paul se ele estava em
busca de vingança pelos seus próprios maus-tratos por abusar de meninas como Tina. Paul
concordou que este era o caso. Paul não estava arrependido por seu tratamento de Tina e disse
que estava determinado a continuar tentando controlá-la e feri-la. A entrevista com a voz foi então
concluída e discutida com Tina.
O facilitador comentou sobre a bravura que Tina tinha mostrado no início para falar sobre o
abuso. Ele também observou que era porque Paul estava com medo desse poder que ele tinha
procurado intimidá-la e controlá-la. Tina concordou com isso. Ela não tinha tido conhecimento da
própria infância difícil de Paul e este conhecimento sobre sua própria vulnerabilidade fez a voz
parecer menos poderosa. A experiência de falar com vozes deu a Tina renovada confiança em
seu próprio poder e capacidade de erguer-se contra Paul. Ela rapidamente recebeu alta do
hospital já que sua auto-lesão não era mais um problema.
Steven
Steven tinha estado nos serviços de saúde mental por 11 anos, e no ano anterior tivesse
feito enormes progressos, tendo um trabalho voluntário e iniciado um curso universitário.
Na primeira reunião, Steven descreveu uma voz chamada Gerald, que ria dele de uma
forma depreciativa, o chamava de nomes abusivos e dizia que ele nunca ia ter sucesso em
qualquer coisa. Durante as entrevistas Gerald começou a reconhecer algumas das realizações de
Steven, até mesmo concordando em mudar o seu comportamento. No entanto, entre as sessões
ele voltava à sua atitude abusiva de costume. Com o incentivo do facilitador, Steven começou a
falar assertivamente com Gerald, e isso pareceu ajudar a voz a reconhecer a nova confiança e as
realizações de Steven.
Em uma ocasião, Gerald foi perguntado se ele tinha algum conselho para Steven. Sua
resposta foi que Steven não deveria se deixar vencer pelo luto. O facilitador então discutiu os
sentimentos de Steven para com a sua mãe, que morreu quando ele era jovem. Steven tinha sido
muito próximo de sua mãe e disse que, ocasionalmente, ouvia a voz dela.
Decidiu-se que a voz da mãe de Steven seria convidada a participar das sessões, o que ela
fez proporcionando muito incentivo e conselhos para Steven no processo. Por sua vez, isso deu
Steven a confiança necessária para enfrentar a hostilidade de Gerald e, gradualmente, sua
intromissão começou a reduzir.
(Conforme: Stone, H. & Stone, S. (1993). Embracing Our Selves: The Voice Dialogue
Training Manual. California: Natural Publishing.)
5.4 - Criação de um construto
Leia este trecho de “Listening to Voice Hearers” (2011), no português “Ouvindo Ouvidores de
Vozes”, um artigo escrito por Bob Sapey, voltado para assistentes sociais, mas relevantes para
todas as pessoas que trabalham com ouvidores de vozes, por fornecer uma introdução útil para a
abordagem de Maastricht.
Em linhas gerais, a abordagem Maastricht para trabalhar com ouvidores de voz consiste de
alguns elementos-chave. A primeira delas é uma entrevista estruturada que é usada para saber
mais sobre as vozes e criar um construto em relação à sua identidade e significado.
A entrevista deve ser realizada sem a imposição de qualquer compreensão especial sobre
as perguntas e respostas, que podem levar a fazer suposições erradas cedo para a entrevista.
Romme e Escher recomendam uma abordagem jornalística para a entrevista, em vez de uma
abordagem expert-profissional, que pode levar a fazer suposições de diagnóstico.
A entrevista tem como objetivo saber mais sobre as vozes e o passado do ouvidor de voz
concentrando-se em cinco áreas principais (Romme e Escher):
• A identidade das vozes
• As suas características (incluindo conteúdo)
• A história
• Os gatilhos (incluindo o impacto)
• Infância e adolescência
Eleanor Longden, uma ouvidora de voz, descreveu como se sentia quando seu novo
psiquiatra apresentou-a a abordagem Maastricht:
Havia uma grande barreira entre mim e o futuro, e esta era a voz. Tinha me tornado tão
desmoralizada e atormentada por ela que tentei abrir um buraco na minha testa, na tentativa de
tirá-la. Mas Pat me contou sobre a filosofia de Marius Romme e Sandra Escher, e sobre o Hearing
Voices Network, e que ouvir vozes é apenas a experiência humana normal, além da importância
de conceituá-la do meu próprio jeito. Essas experiências são tão complexas e tão significativas.
Isso não acontece em um vácuo social, emocional ou espiritual. Existe um contexto para que isto
possa ser interpretado e decifrado.(Longden, 2010)
Após a entrevista, o terapeuta cria um construto, que se torna um meio de partilhar as idéias
entre terapeuta e o ouvidor de voz. Ao criar uma ponte, o terapeuta está perguntando "como" as
vozes começaram, não "porque" como no diagnóstico médico, que visa encontrar uma explicação
de doença. Longden e seus colegas descrevem o construto como "uma formulação dinâmica,
psicossocial que explora possíveis interpretações da situação original que solicitaram o
surgimento da voz". Enquanto os processos psicológicos que causam a audição de voz não são
totalmente compreendidos, ela é conceituada como “a manifestação de uma manobra defensiva
vital pelo qual transformar o conflito emocional em vozes é psicologicamente vantajoso” (Longden
et al, 2011:. 3).
Após a entrevista, intervenção é definida em três fases, de curto, médio e longo prazo.
Técnicas de curto prazo destinam-se a ajudar as pessoas a obter maior controle sobre as vozes e
sobre a forma como eles afetam a vida do ouvidor de voz. Dez técnicas utilizadas nesta fase,
advindas de ouvidores de vozes (Romme e Escher, 2000):
1. Responder às vozes
2. Designar um tempo definido e uma duração para as vozes
3. Dispensar as vozes por um determinado período
4. Escrever o que as vozes dizem e querem dizer
5. Verificar se o que as vozes dizem é verdade
6. Criar fronteiras
7. Adiar ordens
8. Substituir diferentes ordens e aprender a expressar a raiva
9. Antecipar a voz
10. Falar com alguém sobre as vozes
Trevor Eyles, um terapeuta profissional que trabalha com estas técnicas na Dinamarca, diz
que ele sente que é importante, no início do trabalho com um ouvidor de voz, tranquilizar as vozes
que ele não tem a intenção de livrar-se delas. Não só isso é uma abordagem diferente
intencionalmente ao tratamento tradicional com drogas, ele ilustra um aspecto importante do
trabalho com ouvidores - que isso também significa trabalhar com as vozes. Corstens et al.
descreve o que as pessoas acharam sua experiência de falar com vozes.
Estes indivíduos experimentaram esta como uma forma segura de aumentar a compreensão
sobre suas vozes, através da disponibilização de estruturas de normalização e insights sobre as
razões subjacentes para o surgimento de voz, ultimamente atuando como um catalisador para o
estabelecimento de relações mais produtivas entre ouvidor e voz. Além disso, a abordagem pode
melhorar o funcionamento social de ouvidores que estão presos em padrões de comunicação
destrutivos com as suas vozes (Corstens et al, 2011)
Técnicas de médio prazo incluem a normalização, que diz respeito a mostrar como
alucinações e paranóia são respostas normais a uma gama de experiências estressantes e
traumáticas, ao invés de parte de uma doença incurável, e melhorar as estratégias de
enfrentamento. Isto inclui reautorizar vidas ao desautorizar as vozes, para que elas sejam menos
poderosas. Ao personalizar as vozes de pessoas têm sido capazes de vê-las como menos
misteriosas e, portanto, menos poderosas. É também nessa fase que Romme e Escher (2000)
acreditam que Grupos de Ouvidores de Vozes podem ser mais favoráveis.
A longo prazo, as pessoas podem precisar de apoio na manutenção do que eles têm
conseguido, a fim de intensificar a recuperação de cada um.
Fazer uso de novas abordagens terapêuticas nas interações administrativas diárias com
ouvidores impactará suas vidas e mudará a sua experiência de serviços de saúde mental. Uma
mudança na prática do trabalho social em qualquer um destes espaços, muda o serviço.
5.6 - Exercício: Trabalhando com um ouvidor de voz
A abordagem de ouvir a voz propõe a examinar com maior detalhe que quadro de referência
e estratégias de enfrentamento parecem ser mais úteis para as pessoas que ouvem vozes; ao
fazê-lo, nós acreditamos que você será capaz de apoiar e ajudar ouvidores de forma muito mais
eficaz em suas tentativas de lidar com as suas experiências. Aqui estão algumas maneiras em
que você pode ajudar:
Aceite a experiência do ouvidor de vozes, as vozes são freqüentemente sentidas como
mais intensas e reais do que percepções sensoriais.
Tente entender as diferentes linguagens utilizadas pelo ouvidor voz para descrever e
explicar as suas experiências, bem como a língua falada pelas próprias vozes. Muitas vezes
existe um mundo de símbolos e sentimentos envolvidos; por exemplo, uma voz pode falar de luz e
escuridão ao expressar amor e agressão.
Considere ajudar o indivíduo a se comunicar com as vozes. Isto pode envolver questões
de diferenciação entre vozes boas e ruins para o ouvidor e suas próprias emoções negativas.
Esse tipo de aceitação pode contribuir fundamentalmente para a promoção da auto-estima.
Incentive o ouvidor de voz a conhecer outras pessoas com experiências semelhantes e ler
sobre a experiência de ouvir vozes, a fim de ajudar a superar o isolamento e o tabu.
Normalize a experiência através de uma abordagem educativa para reduzir a ansiedade e
dar às pessoas informações e formação sobre as formas mais eficazes de lidar com as vozes
além das que possam estar usando.
Concentre-se nas vozes, examinando as características das vozes e da relação das vozes
com a pessoa que as ouve.
Reautorize a vida. Ajude o ouvidor de voz a apropriar-se da experiência de escrever a sua
própria história de vida, especialmente em relação às vozes. O livreto “From Victim to Victor” (De
vítima a vencedor) é um bom exemplo desta abordagem.
Busque soluções ativas para os problemas sociais e emocionais que estão na raiz de
muitas experiências com a audição de voz. Procure não só influenciar os métodos utilizados para
lidar com as vozes, mas também mudar a maneira com a qual a pessoa lida com os seus
problemas de vida diária e suas emoções.
Influencie a crença. Esta técnica incentiva ouvidores a verificar seu sistema de crenças
sobre o significado das vozes e de decidir por si a validade do significado. Esta é uma maneira de
se afastar da disputa "minha crença/sua ilusão" em um diálogo aberto sobre a origem e finalidade
das vozes.
Exercício: Um ouvidor de voz com quem você trabalha lhe diz que está ouvindo vozes
muito agressivas e exigentes. Usando a abordagem de ouvir vozes, a partir das informações
acima, o que você faria para tranqüilizá-las e, em seguida, ajudá-las a encontrar maneiras de
começar a ganhar domínio sobre suas vozes?
Capítulo 6: Introduzindo as vozes para você abordar em seu local de trabalho
Enquanto você chega ao final do curso, gostaria que você pensasse em como poderia
desenvolver um plano pessoal de “primeiros passos” para trabalhar com as suas vozes ou com as
pessoas que estão ouvindo vozes. Nós também vamos guiá-lo através do desenvolvimento de um
Plano de Ação para as tomadas decisões.
Nós incluímos um vídeo de Paul Baker e Ron Coleman discutindo a abordagem de ouvir
vozes em uma reunião aberta na cidade de Eugene, em Oregon, nos Estados Unidos. Isto irá
proporcionar uma conclusão útil para o curso.
6.1 - Ron Coleman e Paul Baker falam sobre como trabalhar com as vozes
6.2 - Exercício - Desenvolvimento de um Plano de Ação
6.1 - Ron Coleman e Paul Baker falam sobre como trabalhar com as vozes
Assista o vídeo de Paul Baker e Ron Coleman falando sobre como trabalhar com vozes em
uma reunião pública nos EUA:
- Ron Coleman e Paul Baker, domingo, 14 de novembro, 2010, 18:30, LILA Peer Support
Group, 990 Oak St., Eugene, Oregon. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=dbiMyR5aCmY&list=PL8BA3FFD3ACAD40CE&index=15
Juntando toda a sua aprendizagem das seis sessões, e escreva um Plano de Ação,
conforme descrito abaixo. Lembre-se, agora, que a dinâmica já começou, é importante que você
faça o Plano de Ação, positivo e possível. Tenha certeza também de mantê-lo.
- Descreva o seu sonho de como você gostaria que seu relacionamento fosse com suas
vozes, ou se você é um profissional, como você gostaria de estar trabalhando com ouvidores.
- Imagine-se daqui a um ano - escreva o que foi alcançado, lembrando-se de torná-lo
realista.
- O que é positivo e possível?
- Descreva quem pode ajudá-lo com suas vozes, ou se você é um profissional, como você
pode ajudar a desenvolver o trabalho com as pessoas que ouvem vozes.
- Elabore uma lista de metas que pretende alcançar em 9 meses a partir de agora e do que
você precisa fazer para alcançá-las.
- Elabore uma lista de metas que pretende alcançar em 6 meses a partir de agora e do que
você precisa fazer para alcançá-las,
- Elabore uma lista de metas que pretende alcançar em 3 meses a partir de agora e do que
você precisa fazer para alcançá-las.
- Descreva onde você está agora. Que recursos você tem?
- Descreva o que vai fazer agora - na próxima semana - para dar o primeiro passo para
começar a trabalhar com suas vozes ou, se você é um profissional, como você irá apresentá-lo
em seu local de trabalho.
- Elabore uma lista de metas que você irá cumprir na próxima semana para ajudar no que
você deseja alcançar daqui a 9 meses.
Avaliação
Por favor, forneça um feedback sobre o curso. Estamos sempre interessados em saber o
que você achou do nosso curso, para que possamos continuar a fazer alterações e melhorar.
Accepting Voices (1993) por Marius Romme e Sandra Escher. Publicado por MIND.
(Aceitando as Vozes). Neste livro 13 pessoas descrevem suas experiências de ouvir vozes. O livro
mostra que muitas pessoas ouvem vozes, no entanto nem todas são pacientes psiquiátricos, pois
existem formas de enfrentamento, que permitem às pessoas reconciliarem-se com a sua
experiência. Centra-se em técnicas para lidar com as vozes, enfatizando que o crescimento
pessoal deve ser estimulado em vez de inibido.
Making Sense of Voices - A guide for professionals who work with voices hearers
(2000) por Marius Romme and Sandra Escher. (Dando senso às vozes - Um guia para os
profissionais que trabalham com ouvidores de vozes). Pouco menos de 10 anos antes deste livro
ser publicado, os autores desencadearam uma mudança sísmica na compreensão da audição de
vozes. Eles defenderam o poder de aceitar e validar as próprias interpretações feitas pelas
pessoas sobre suas vozes, e mostraram como tais interpretações muitas vezes permitiram que as
pessoas pudessem viver com elas de forma muito mais eficaz do que as abordagens médicas.
Este manual para os profissionais baseia-se nesse trabalho. Ele combina exemplos com
orientações sobre os diversos processos envolvidos em auxiliar os ouvidores a lidarem com suas
vozes e levarem uma vida ativa e plena.
Living with Voices: 50 stories of recovery (2009) by Marius Romme, Sandra Escher,
Jacqui Dillon, Dirk Corstens & Mervyn Morris. Birmingham City University: PCCS Books.
“Na Companhia das Vozes”, de Sandra Escher e Marius Romme, pela Editoral Estampa, Coleção
Novos Rumos. Desde que Marius Romme e Sandra Escher revolucionaram a experiência de ouvir
vozes há mais de 20 anos atrás, a abordagem de aceitar e dar sentido às vozes fora do modelo
de doença tem se desenvolvido. Este livro oferece 50 histórias de ouvidores em todo o mundo,
constituindo a evidência para esta nova abordagem bem-sucedida para trabalhar com ouvidores.
The Voice Inside: A practical guide for and about people who hear voices (2010) por
Paul Baker. (A Voz Interior: Um guia prático para e sobre as pessoas que ouvem vozes) Este guia
prático fornece uma introdução ao trabalho de ouvir as vozes que tem sido realizado ao longo dos
últimos 20 anos. O livro considera a pesquisa, a experiência de ouvir vozes e as aplicações
práticas, tais como o desenvolvimento de grupos de auto-ajuda. Apresenta ao leitor novas
informações sobre como lidar e dar sentido às vozes e fornece aos profissionais novas formas de
ajudar ouvidores a lidar melhor com as vozes angustiantes.
Working with Voices: Victim to Victor Workbook (2nd Edition), Ron Coleman & Mike
Smith. (Livreto Trabalhando com as Vozes: de Vítima a Vencedor). Desde a sua primeira
publicação em 1997, este livro foi traduzido para 17 línguas, incluindo francês, italiano, alemão e
holandês. O livro foi recentemente avaliado como uma ferramenta de recuperação clinicamente
efetiva. Este livro oferece a oportunidade para a pessoa iniciar o processo de mudança de vítima
a vencedor escrevendo sua própria história de vida com a audição de voz, e em seguida,
avançando para outros exercícios de crescimento positivo. Este livro irá estimular a pessoa a
planejar seu próprio futuro e vida novamente, e é especialmente útil para aqueles que estão
atualmente sentindo-se muito dominados por suas vozes, para tornarem-se seu mestre.
Raising Our Voices (2001) Adam James. (Erguendo Nossas Vozes). Neste livro
abrangente, Adam James traz à vida a filosofia e a luta da Rede de Ouvidores de Vozes (Hearing
Voices Network). Neste livro envolvente, a história da rede, desde o trabalho de Julian Jaynes na
mente bicameral, ao desenvolvimento da Hearing Voices Network do Reino Unido como uma
pseudo organização dominante, é explicada em termos que qualquer um pode entender. O livo
invoca uma multitude de emoções, de alegria a tristeza, de júbilio à raiva. Mas o mais importante,
James consegue levar o leitor a compreender de forma inovadora como é a vida dos que ouvem
vozes, dentro e fora dos serviços psiquiátricos.
Knowing You, Knowing You (2011) Eleanor Longden. DVD (Conhecendo Você). Neste
relato comovente, Eleanor Longden conta sua própria história de recuperação e descoberta: sua
jornada pelo sistema psiquiátrico, desde ouvir que ela teria mais chance de recuperação se ela
tivesse câncer; até se tornar uma premiada psicóloga que trabalha na área da saúde mental.
Neste DVD, Eleanor fala abertamente sobre suas experiências de abuso, auto-mutilação e
audição de voz. Este DVD é desafiador, inspirador e cheio de esperança para as pessoas que têm
este tipo de experiências, suas famílias, amigos e trabalhadores.
How to Set Up and Run a Hearing Voices Group (2011) Working to Recovery. DVD.
(Como criar e gerir um grupo de ouvir vozes - Trabalhando para a recuperação). Por meio de
entrevistas que são apresentadas no decorrer deste curso, este DVD/CD foi produzido para ajudar
qualquer pessoa interessada na criação ou execução de um Grupo de Ouvidores de Vozes. O
DVD abrange uma série de questões que irão ajudar os facilitadores e aqueles que desejam se
tornar facilitadores. Se você quiser manter uma cópia das entrevistas e discussões apresentadas
neste curso, então recomendamos que você compre este DVD/CD.
Hearing Voices: A common experience (1998) John Watkins. (Ouvir vozes: Uma
experiência comum). Este livro visa proporcionar um entendimento para as pessoas que ouvem
vozes e aquelas que procuram ajudá-los. Um livro extremamente útil e bem escrito. Ele cobre tudo
o que você poderia querer saber sobre este assunto. Se você é um ouvidor de voz ou têm
pensamentos intrusivos, este livro é para você. Muitas pessoas têm descrito este livro como um
ponto de virada para chegar a um acordo com as suas experiências. O livro contém uma riqueza
de informações de grande valor prático para as pessoas que ouvem vozes, bem como aquelas
que desejam ampliar sua compreensão deste fenômeno fascinante. Ele inclui uma descrição
detalhada de uma grande variedade de experiências de vozes, uma visão geral das teorias e
abrangente conjunto de estratégias práticas para lidar com vozes indesejadas ou perturbadoras.
Guias e folhetos informativos sobre enfrentamento e compreensão da experiência de
ouvir vozes
Rede Internacional
INTERVOICE website – Focado em soluções que melhoram a vida das pessoas que ouvem
vozes, em especial aqueles que sofrem com esta experiência. http://www.intervoiceonline.org
INTERVOICE FaceBook – Junte-se a nós se você tem uma conta no Facebook e quer ficar
ligado nas últimas novidades e desenvolvimentos do movimento de Ouvidores de Vozes. https://
www.facebook.com/groups/intervoice
INTERVOICE Twitter - Junte-se a nós se você tem uma conta no Twitter e quer ficar ligado
nas últimas novidades e desenvolvimentos do movimento de Ouvidores de Vozes. https://
twitter.com/VoicesUnLtd
Hearing Voices Forum - Este fórum de discussão online é administrado pelo Fórum de
Saúde Mental em associação com a INTERVOICE http://www.mentalhealthforum.net/forum/
forum36.html
Hearing Voices Network -Australia (HVNA) - Trabalha para promover recuperação, aceitação
e educação. http://hvna.net.au
Hearing Voices – Aoteroa New Zealand - Provê suporte e informação sobre Ouvir Vozes na
Nova Zelândia. http://www.hearingvoices.org.nz
Hearing Voices Network USA - Representa uma parceria entre indivíduos que ouvem vozes
ou tem outras experiências extremas e incomuns, profissionais e aliados da comunidade, todos
trabalhando para juntos mudar as presunções feitas sobre estes fenômenos e criar oportunidades
de suporte, aprendizado e cura para pessoas em todo o país. http://www.hearingvoicesusa.org
Stemmen horen/Hearing Voices http://www.hearing-voices.com
Outros Recursos sobre Ouvir Vozes
Ron Coleman website - Ativo no campo da saúde mental desde 1991, quando passou por
sua própria recuperação de enfermidade mental, é treinador, consultor e pioneiro do movimento
internacional de Ouvidores de Vozes. http://www.workingtorecovery.co.uk/ron-coleman.aspx
Dirk Corstens website – Presidente da INTERVOICE e psiquiatra, dá palestras, cursos,
workshops e tratamento individual sobre ouvir vozes. http://www.dirkcorstens.com
Jacqui Dillon website - Escritor, defensor e instrutor internacional, especializado em audição
de vozes, trauma e dissociação. http://www.jacquidillon.org
Will Hall Website- Co-fundador da Hearing Voices Network dos Estados Unidos. Conselheiro
de diversidade mental e consultor com um escritório particular de terapia em Portland, Oregon.
http://willhall.net
Gail Hornstein website - Co-fundador da Hearing Voices Network dos Estados Unidos.
Professor of Psicologia no Mount Holyoke College em South Hadley, Massachusetts (USA) http://
www.gailhornstein.com
Rufus May website - Para informar pessoals que tenham visto o filme “The Doctor Who
Hears Voices”. http://www.rufusmay.com
Website de Marius Romme e Sandra Escher – Fundadores de uma nova abordagem na qual
aceitar e dar sentido à experiência de ouvir vozes torna possível a recuperação para pacientes
que ouvem vozes. http://www.hearing-voices.com