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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO………………………………………………………………...……..03

OUVINDO VOZES: NOVAS PRÁTICAS E TRATAMENTOS……......…..…….04

REFERÊNCIAS………………………………………………………………………07
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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como foco de reflexão outras compreensões e


novas práticas das experiências de ouvir vozes vivenciadas por pessoas,
buscando compreender a ajuda que estes diversos métodos podem oferecer a
estes diversos indivíduos e suas famílias fora da assistência psiquiátrica.

Em 1987 foi fundado um movimento que defende o emprego de novas


abordagens, utilizadas e criadas por aqueles que enfrentaram positivamente as
vozes. Para melhor divulgar e promover a discussão da temática da audição de
vozes, foi criada uma organização formal que oferece suporte administrativo e
coordena a ampla variedade de iniciativas em diferentes países, chamada de
Intervoice (The International Network for Training, Education and Research into
Hearing Voices)².

Desde então a organização vem crescendo em todo o mundo e já está


presente em mais de 26 países, este movimento serve como apoio aos
profissionais da área e como alternativa para os viventes da experiência
aprenderem a lidar e conviver com as vozes.

Hoje o ouvir vozes foi resinificado de uma crise de loucura e


comprometimento psicológico para um acontecimento normal, possibilitando o
ouvinte de conviver em meios sociais sem apresentar nenhum tipo de problema
ou incômodo.
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OUVINDO VOZES: NOVAS PRÁTICAS E TRATAMENTOS

Diariamente passamos por diversas experiências ambientais que mexem


com nossos sentidos. Provamos comidas diferentes, sentimos cheiros diversos,
vemos variações de cores e paisagens, sentimos toques e modificações
climáticas, ouvimos tons, músicas e vozes diferentes. Tudo se tornou normal
para a sociedade, ou seja, não nos causa mais espanto pela quantidade de
informações que nosso corpo recebe a cada segundo.

Mesmo os sentimentos estranhos somos capazes de aderir uma causa,


como ficar doentes, ter alergias entre outras coisas que alteram o
funcionamento padrão dos nossos sentidos. Até mesmo sofrer alucinações em
determinado estado pode ser comum no meio social, mas o que acontece
quando isso passa a nos acompanhar diariamente e a todo momento?

Alucinações auditivas são uma característica comum de muitos


transtornos psiquiátricos, como psicose, esquizofrenia e transtorno bipolar. Mas
um estudo recente5 demonstra que a maioria dos ouvintes de vozes são
pessoas sem diagnósticos psiquiátricos.

Normalmente a ideia de ouvir vozes costuma ser perturbadora para a


sociedade e para o indivíduo, o conceito continua vinculado à loucura, que por
sua vez, está associada a exclusão social. Sob o olhar da Psiquiatria
tradicional, a medicalização é a primeira opção na tentativa de eliminar as
vozes.

Para Romme e Escher7, continuamos reféns de uma prática que produz


doentes crônicos, lança à margem do sistema pessoas com sofrimento
psíquico, e entende a própria reabilitação psiquiátrica mais como uma forma de
tornar o “doente mental” menos doente do que como um processo de
maximizar suas potencialidades e inseri-las no convívio social, livres de
qualquer estigma.

Em 1987 foi fundado um movimento por Marius Romme e Sandra


Escher7 de novas abordagens, utilizadas por aqueles que enfrentaram
positivamente as vozes. Começaram a ouvi-las ao invés de tentarem se livrar
delas, deram sentido ao que elas diziam e aprenderam a conviver com elas.
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No Brasil, o movimento já conta com um blog –


intervoicebrasil.blogspot.com.br – e com iniciativas em algumas cidades, como
o Rio de Janeiro².

Alguns dos pressupostos do movimento consistem em: os sujeitos


detêm uma expertise sobre suas experiências; ouvir vozes é uma
experiência singular, não necessariamente de sofrimento e
patologizável (ainda que não se trate de negar a existência de uma
doença); é possível criar estratégias para lidar com as vozes; é
necessário desmedicalizar e romper com os estigmas advindos de
uma leitura psiquiátrica dessas experiências; e é importante
compartilhá-las em grupos de ajuda mútua6.

Coleman3 relata que enquanto a psiquiatria tradicional enfatiza a


erradicação e supressão das vozes, o movimento dos ouvidores de vozes
oferece uma abordagem alternativa que valoriza a audição de vozes como
significativa e originada dentro do contexto da história de vida da pessoa,
favorecendo a procura por caminhos positivos para se comunicar com elas.

O primeiro passo em direção ao convívio pacífico com as vozes é a


aceitação, o indivíduo precisa entender que aquilo faz parte dele agora e nem
sempre diz respeito a uma doença patológica, e que isso irá incapacita-lo de
viver no meio social. Para Corstens et al. 4, a psiquiatria, frequentemente,
destitui a audição de vozes como um fenômeno patológico sem sentido, com
nenhuma relevância para as circunstâncias emocionais ou sociais de um
indivíduo e, desta forma, os profissionais da área são geralmente encorajados
a não se engajarem com as experiências de audição de vozes de seus clientes.

Abordagens eficazes hoje consistem em conversar com as vozes,


reforçando a relação com o ouvidor e tentando explorar os motivos das
mesmas, encontrando novas estratégias e técnicas positivas para lidar com a
experiência.6
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Para as pessoas diagnosticadas com esquizofrenia ou outras formas de


psicose existe o método do diálogo aberto, oferecendo uma forma diferente de
experiência para pessoas que vivem uma crise mental e seus familiares6.

O objetivo do método é estabelecer um diálogo aberto a todos os


envolvidos, propondo apoio imediato. É focado em ajudar a melhorar as
relações sociais como chave para a recuperação, esclarecendo na rede social
a mudança de comportamento e como ela funciona8.

O Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes detectou que muitas


pessoas que ouvem vozes conseguiram encontrar maneiras próprias para lidar
com a experiência fora da assistência psiquiátrica, significando que pessoas
que ouvem vozes continuam saudáveis.

No entanto há também os casos de ouvidores que não conseguem


suportar os aspectos negativos e incapacitantes da experiência, impedidos
dessa forma a viver uma vida plena na sociedade, levando a ter uma qualidade
de vida ruim.

Para que isso não ocorra, o diálogo é de extrema importância gerando


um novo sentido para as vozes e seus ouvidores, podendo assim conviverem e
aprenderem com o que essas vozes querem dizer. Junto a isso vem um maior
conhecimento da sociedade perante o problema, sendo possível a inclusão e o
convívio sem julgamentos.
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REFERÊNCIAS

1. BARROS, Octávia Cristina; SERPA JR, Octavio Domont de. Ouvir vozes: um
estudo netnográfico de ambientes virtuais para ajuda mútua. Physis, Rio de
Janeiro, v. 27, n. 4, p. 867-888, Dec. 2017.

2. ________. Ouvir vozes: um estudo sobre a troca de experiências em


ambiente virtual. Interface, Botucatu, v. 18, p. 557-569, jul. 2014. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-
32832014000300557&script=sci_abstract&tlng=pt>.

3. COLEMAN, R. Recovery: an alien concept? United Kingdom: Handsell


Publications, 2011.

4. CORSTENS, D.; ESCHER, S.; ROMME, M. Accepting and working with


voices: the Maastricht Approach. In: MOSKOWITZ, A.; SCHAFER, I.; DORAHY,
M. J. (Eds.). Psychosis, trauma and dissociation: emerging perspectives on
severe psychopathology. Oxford, UK: Wiley-Blackwell, 2008. p. 319-331.

5. Experiences of hearing voices: analysis of a novel phenomenological survey


Woods, Angela et al. The Lancet Psychiatry Volume 2, Issue 4, 323 – 331
Disponivel em: https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-
0366(15)00006-1/abstract

6. KANTORSKI, Luciane Prado et al. Grupos de ouvidores de vozes:


estratégias e enfrentamentos. Saúde debate, Rio de
Janeiro, v.41, n.115, p.1143-1155, Dec. 2017.

7. ROMME M, Escher S. Na companhia das vozes: para uma análise da


experiência de ouvir vozes. Lisboa: Editorial Estampa; 1997.

8. SEIKKULA, J., & OLSON, M. The Open Dialogue Aproach Acute. Family
process. Wiley Online Library, 2003.

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