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1 ÁGUAS RESIDUAIS DOMÉSTICAS

Ao nível das águas residuais domésticas, consideraram-se três diferentes configurações


dos sistemas – Sistemas descentralizados familiares, sistemas descentralizados
comunitários e sistemas centralizados. Estes vão desde soluções simples, que
necessitam de reduzidos recursos e produtos tecnológicos, a soluções mais complexas,
com múltiplas opções e produtos. Nos pontos seguintes apresenta-se a descrição das
opções de configuração dos sistemas consideradas.

1.1 Sistemas Descentralizados familiares

1.1.1 Sistema de Poço Simples

Um Sistema de Poço Simples consiste na utilização de um poço simples para recolha e


armazenamento do excreta, podendo ser utilizado com ou sem água dependendo da
interface utilizada e da disponibilidade de água no local.

Quando o poço estiver cheio deve ser tapado com terra e aberto um novo poço, se a
superestrutura for móvel, ou esvaziado manualmente e retiradas as lamas para
deposição em local adequado, se a estrutura não for móvel.

Na Figura 1 apresenta-se o exemplo de uma configuração de um Sistema de Poço Simples,


neste caso com superestrutura móvel.

Figura 1 - Sistema de Poço Simples (Fonte: IWA, Compendium of Sanitation Systems and Technologies)

O poço simples é um sistema adequado para utilização em áreas rurais e peri-urbanas,


onde existe espaço para escavar continuamente novos poços e, é um dos sistemas mais
económicos ao nível da construção. No entanto, ao nível da manutenção, os custos
podem ser relevantes dependendo da profundidade do poço e da frequência de
esvaziamento. Se o terreno tiver boa capacidade de absorção e o nível freático for baixo
este sistema pode ser escavado a profundidades superiores a 5 m e ser utilizado por
muitos anos.

Para este tipo de configuração de sistema as opções tecnológicas disponíveis são as apresentadas no

Quadro 1.

Quadro 1 - Sistema de Poço simples. Opções tecnológicas

INTERFACE Retrete seca


Retrete com arraste hidráulico
Poço simples
DEPOSIÇÃO INICIAL
Poço simples ventilado
RECOLHA E TRANSPORTE -
TRATAMENTO -
DEPOSIÇÃO FINAL E/OU REUTILIZAÇÃO -

No ponto 1.3 apresenta-se a descrição pormenorizada de cada uma destas opções


tecnológicas.

1.1.2 Sistema sem água com poços alternos

Um sistema sem água com poços alternos caracteriza-se pela existência de dois poços
onde o excreta se acumula. Durante um determinado período a laje da retrete é
colocada sobre uma latrina até ao seu quase enchimento. Nessa altura coloca-se a laje
da retrete sobre o segundo poço, tapando-se o primeiro enquanto decorre o
enchimento do poço em uso. Quando o segundo poço estiver cheio retira-se o eco-
húmus que se formou no primeiro poço, e que resultou da decomposição do excreta,
voltando este a ser utilizado.

Para o processo de decomposição do excreta ser mais eficiente deve-se juntar restos de
material orgânico, cinza ou solo após a utilização da instalação sanitária. Não é
recomendável a introdução de água no poço.

O eco-húmus poderá ser utilizado como fertilizante agrícola.

Na Figura 2 apresenta-se um exemplo de configuração de um sistema sem água de poços


alternos.

Figura 2 - Sistema sem água com poços alternos (Fonte: IWA, Compendium of Sanitation Systems and Technologies)

Sendo o sistema permanente pode ser utilizado em locais onde o espaço é reduzido e,
como o produto é retirado manualmente, o sistema é apropriado para áreas com difícil
acesso de camiões “limpa fossas”. É também especialmente adequado para áreas com
pouca água e onde há possibilidade de se vir a usar o produto retirado (eco-húmus).

O êxito deste sistema depende do período de armazenamento. Se houver


disponibilidade de uma fonte continua e adequada de terra, cinza ou material orgânico
o processo de decomposição é acelerado e, o tempo de armazenamento pode ser
reduzido.

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Para este tipo de configuração de sistema as opções tecnológicas consideradas são
apresentadas no Quadro 2.

Quadro 2 - Sistema sem água com poços alternos. Opções tecnológicas

INTERFACE Retrete seca


DEPOSIÇÃO INICIAL Câmara de compostagem
RECOLHA E TRANSPORTE Manual
TRATAMENTO -
DEPOSIÇÃO FINAL E/OU REUTILIZAÇÃO Aplicação de “eco húmus”/composto no solo

No ponto 1.3 apresenta-se a descrição pormenorizada de cada uma destas opções


tecnológicas.

1.2 Sistemas Centralizados e descentralizados comunitários

1.2.1 Sistema de Tratamento e Rede de Colectores Simplificada

O Sistema de tratamento de águas residuais com rede de colectores simplificados


caracteriza-se pela utilização de uma rede de drenagem de águas residuais que
transporta o efluente líquido, sendo que para tal é necessária uma infra-estrutura que
separe a fracção líquida da sólida. Como o produto transportado é apenas líquido, as
dimensões das tubagens poderá ser menor, sendo os requisitos de limitação de
inclinações menos restritivos.

A profundidade de assentamento das tubagens poderá ser também menor, tendo como
consequência uma maior facilidade de execução e um menor custo de investimento.
Como a probabilidade de entupimentos é mais reduzida as caixas de visita poderão ter
dimensões mais reduzidas, podendo ser substituídas por caixas de inspecção, pré-
fabricadas, em material plástico.

Terá que se prever a remoção periódica das lamas sépticas que se acumulam na fossa.

Na Figura 3 apresenta-se um exemplo de uma configuração de um Sistema de


Tratamento de Águas Residuais com Rede de Colectores Simplificada.

Figura 3 - Sistema de tratamento com rede de colectores simplificada (Fonte: IWA, Compendium of Sanitation
Systems and Technologies)

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Para este tipo de configuração de sistema, as opções tecnológicas consideradas são
apresentadas no Quadro 1.3.

Quadro 1.3 - Sistema de Tratamento e Rede de Colectores Simplificada. Opções tecnológicas

Retrete com arraste hidráulico


INTERFACE
Retrete tanque
DEPOSIÇÃO INICIAL Fossa Séptica
Rede de colectores simplificados
RECOLHA E TRANSPORTE
Rede de colectores por gravidade
Pré-Tratamento + Lagoas de estabilização
Fase líquida - Pré-Tratamento + Tanque Imhoff +
Leitos de macrófitas
Fase sólida - Leitos de Secagem (lamas do
Tanque Imhoff)
TRATAMENTO Fase líquida – Pré-Tratamento + Sistema de
lamas activadas em regime de arejamento
prolongado (reactor biológico + decantador
secundário)
Fase sólida – Espessamento + desidratação de
lamas (leitos de secagem)
Efluente Tratado - Descarga do efluente tratado
em linha de água ou no subsolo.
DEPOSIÇÃO FINAL E/OU REUTILIZAÇÃO Lamas - Aplicação de lamas estabilizadas no solo
Lamas - Deposição de lamas em destino final
(aterro)

No ponto 1.3 apresenta-se a descrição pormenorizada de cada uma destas opções


tecnológicas.

1.2.2 Sistema de tratamento centralizado

O Sistema de Tratamento Centralizado é constituído por uma rede de colectores que


encaminham as águas residuais até a uma instalação de tratamento centralizada.

Na Figura 4 apresenta-se um exemplo de uma configuração de um Sistema de Tratamento


Centralizado.

Figura 4 - Sistema de tratamento centralizado (Fonte: IWA, Compendium of Sanitation Systems and Technologies)

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Para este tipo de configuração de sistema, as opções tecnológicas consideradas são
apresentadas no Quadro 4.

Quadro 4 - Sistema de tratamento centralizado. Opções tecnológicas

INTERFACE Retrete com arraste hidráulico


DEPOSIÇÃO INICIAL -
RECOLHA E Rede de colectores simplificados
TRANSPORTE Rede de colectores gravíticos
Pré-Tratamento + Lagoas de estabilização
Fase líquida - Pré-Tratamento + Tanque de Imhoff + Leitos de
macrófitas;
Fase sólida - Leitos de Secagem (lamas do Tanque de Imhoff)
Fase líquida – Pré-Tratamento + Sistema de lamas activadas em
regime de arejamento prolongado (reactor biológico + decantador
TRATAMENTO
secundário)
Fase sólida – Espessamento + desidratação de lamas (leitos de
secagem)
Lamas sépticas – Pré-tratamento + Tanque de Imhoff + leitos de
Secagem
Lamas sépticas – Pré-tratamento + Digestor + leitos de Secagem
Efluente Tratado - Descarga do efluente tratado em linha de água ou
DEPOSIÇÃO FINAL no subsolo
E/OU REUTILIZAÇÃO Lamas - Aplicação de lamas estabilizadas no solo
Lamas - Deposição de lamas em destino final (aterro)

No ponto 1.3 apresenta-se a descrição pormenorizada de cada uma destas opções


tecnológicas.

1.3 Opções tecnológicas


Neste capítulo são apresentadas as diversas soluções tecnológicas que poderão
constituir o sistema de drenagem de águas residuais domésticas. É apresentada uma
breve descrição do seu funcionamento, materiais e métodos empregues na sua
execução e as vantagens e desvantagens de cada solução apresentada.

1.3.1 Deposição

As infraestruturas de deposição de águas residuais domésticas (ou do excreta, no caso


de soluções a seco) serão divididas em 3 níveis de serviço, apresentados seguidamente:

 Nível de Serviço I (NSI) – corresponde a métodos de deposição em seco, logo


não exige consumo de água. Caracteriza-se por uma fraca protecção da saúde
pública e pela dificuldade de esvaziamento das latrinas;
 Nível de Serviço II (NSII) – corresponde a métodos de deposição à água como
latrinas ou retretes com fossa húmida ou sanitas com sifão hidráulico, ligadas a

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fossa séptica. Neste caso, o excreta fica sujeito a um maior tratamento,
salvaguardando mais a saúde pública;
 Nível de serviço III (NSIII) – corresponde a um sistema de deposição à água com
tratamento e destino final do excreta longe do local da sua deposição. Envolve
a existência de redes prediais e municipais de encaminhamento das águas
residuais para unidades de tratamento centralizadas. É o nível de serviço que
melhor garante a saúde pública.

Os equipamentos enumerados seguidamente são as que as que utilizam tecnologias


que, por um lado garantem o cumprimento das condições mínimas definidas na Política
de Águas (latrina melhorada ou solução mais avançada tecnologicamente) e, por outro
lado, sejam de utilização simplificada e com custos suportáveis por todas as
comunidades, inclusive as de baixa renda.

1.3.1.1 Latrina melhorada de fossa simples (NSI)

A latrina melhorada de fossa simples é a solução que cumpre os requisitos mínimos


definidos na Política de Águas mais utilizada actualmente. O seu baixo custo e o pouco
espaço de que necessita torna-a acessível a comunidades de menor renda.

O seu método de funcionamento é simples. O excreta e o material de limpeza (seja


líquido ou sólido) são depositados no poço aberto debaixo de uma laje em betão. Em
casos em que o solo é instável é recomendável a utilização de um anel de suporte em
madeira, betão ou alvenaria no topo do poço, de modo a impedir o colapso da estrutura
(Figura 1.5).

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Figura 1.5 – Latrina melhorada de fossa simples (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies,
2014)

Durante o enchimento do poço, a urina e a água eventualmente utilizada na limpeza


infiltram-se pela base e pelas paredes do poço, enquanto a acção dos microorganismos
degrada a fracção sólida.

Recomenda-se que o volume do poço seja superior a 1 000 litros, sendo comum que o
poço tenha 1 metro de diâmetro e 3 m de profundidade. Diâmetros maiores aumentam
o risco de colapso do poço.

Uma vez que esta solução permite a infiltração de urina e de água contaminada pelo
excreta, deve-se garantir que a base do poço esteja cerca de 2 m acima do nível freático,
de modo a impedir a contaminação das águas subterrâneas. Pelo mesmo motivo,
recomenda-se uma distância horizontal de 30 m em relaçõ às fontes de captação de
água para consumo humano. Em locais onde o nível freático é elevado e não é possível
garantir a distância mínima, desde a base do poço, pode-se optar pela elevação da
latrina, prevendo um anel de betão ou alvenaria acima da superfície do terreno. A
mesma solução pode ser utilizada em locais frequentemente inundáveis.

A única operação regular de manutenção que a latrina melhorada de fossa simples exige
é a limpeza da laje de topo, a única interface com o utilizador. Quando o poço estiver
cheio, algo que provavelmente levará vários anos, pode-se retirar o excreta do poço de
forma manual ou mecânica ou tapar-se a estrutura do poço, inutilizando-o, e abrindo
um outro poço num local adjacente.

Sendo uma infra-estrutura de Nível de Serviço I, o excreta é sujeito a um tratamento


limitado, havendo, em casos em que a manutenção não seja a mais correcta, algum

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perigo para a saúde pública. Não é incomum a ocorrência de insectos e de odores
desagradáveis nas suas imediações, pelo que se recomenda a sua implantação a uma
distância razoável de habitações.

No Quadro 5 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas a esta infra-


estrutura.

Quadro 5 – Vantagens e desvantagens da latrina melhorada de fossa simples

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Pode ser construída e reparada com  Presença frequente de insectos e odores
materiais disponíveis localmente; desagradáveis;
 Custos de investimento e de manutenção  Baixa redução de CBO e agentes
regular reduzidos, e patogénicos;
 Reduzida área de implantação.  Possibilidade de contaminação das águas
subterrâneas;
 Elevados custos de esvaziamento do
poço, e
 As lamas recolhidas exigem tratamento
secundário ou descarga em local
apropriado.

1.3.1.2 Latrina melhorada de fossa ventilada – VIP (NSI)

Esta solução é um melhoramento da latrina de fossa simples, na medida em que a


ocorrência de insectos e de odores desagradáveis é muito mais reduzida, sendo nos
casos em que a construção é a mais correcta, totalmente eliminada. A tubagem de
ventilação colocada no poço permite a libertação dos odores e actua como armadilha
para insectos.

A diferença de temperatura entre o poço (frio) e a tubagem à superfície (quente. É


recomendável pintar a tubagem a preto para que mais calor seja absorvido) origina um
gradiente térmico que provoca a circulação de ar. A colocação de uma rede mosquiteira
no topo da tubagem de ventilação permite apanhar os insectos que se acumulam dentro
do poço e sobem pela ventilação atraídos pela luz do exterior.

A tubagem de ventilação deve ter um diâmetro mínimo de 110 mm e elevar-se pelo


menos 30 cm acima do topo da estrutura que serve de sanitário, e afastada de árvores,
casas ou outros obstáculos à circulação de ar. A rede mosquiteira deve ter uma malha
suficientemente larga para que não seja colmatada por pó e permita uma fácil circulação
de ar.

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A dimensão do poço e o seu método construtivo é idêntico ao descrito para as latrinas
de fossa simples, como se pode verificar na Figura 6.

Figura 6 - Latrina melhorada de fossa ventilada (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies,
2014)

Tal como acontece para as latrinas de fossa simples, a fracção líquida produzida infiltra-
se no solo, pelo que a distância mínima para o nível freático e para fontes de captação
de água para consumo humano deve ser respeitada.

Em locais com nível freático elevado e/ou onde ocorram inundações frequentes deve-
se optar por elevar a latrina.

As operações de manutenção regulares exigem, para além da limpeza da laje de topo, a


remoção de insectos mortos, teias de aranha, pó e outros obstáculos que possam
colmatar a rede mosquiteira e impedir uma boa circulação de ar. Quando o poço estiver
cheio, algo que provavelmente levará vários anos, pode-se retirar o excreta do poço de
forma manual ou mecânica ou tapar-se a estrutura do poço, inutilizando-o, e abrindo
um outro poço num local adjacente.

Sendo uma infraestrutura de Nível de Serviço I, o excreta é sujeito a um tratamento


limitado, mas se o sistema de ventilação for o adequado e for sujeita a uma boa e regular
manutenção, não é provável a existência de constrangimentos à qualidade de vida nas
comunidades vizinhas.

No Quadro 6 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas a esta infra-


estrutura.

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Quadro 6 – Vantagens e desvantagens da latrina melhorada de fossa ventilada

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Significante redução de odores  Baixa redução de CBO e agentes
desagradáveis e insectos, quando patogénicos;
comparado com a latrina de fossa simples;  Possibilidade de contaminação das águas
 Pode ser construída e reparada com subterrâneas;
materiais disponíveis localmente;  Elevados custos de esvaziamento do poço, e
 Custos de investimento e de manutenção  As lamas recolhidas exigem tratamento
regular reduzidos, e secundário ou descarga em local
 Reduzida área de implantação. apropriado.

1.3.1.3 Latrina de compostagem (NSI)

Esta é uma solução em todo semelhante à latrina melhorada de fossa ventilada,


existindo neste caso dois poços lado a lado, o que permite o uso contínuo da instalação
sanitária e um esvaziamento mais simples, seguro e económico do poço (Figura 7).

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Figura 7 - Latrina de compostagem (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies, 2014)

Após o enchimento do poço em uso, a superestrutura do sanitário é deslocada para o


topo de um segundo poço. Enquanto se utiliza este segundo poço, o excreta depositado
no primeiro vai reduzindo o seu volume e degrada-se, transformando-se em húmus,
podendo ser removido de forma mais rápida, segura e económica pouco tempo antes
do total enchimento do segundo poço.

De modo a acelerar a degradação do excreta e a sua transformação em húmus, devem-


se adicionar regularmente no poço em utilização resíduos orgânicos, como resíduos de
alimentos, palha, folhas, ervas e solo. Deve-se evitar a introdução de água em
quantidades elevadas, uma vez que a sua presença impulsiona o desenvolvimento de
organismos patogénicos e ocupa os espaços livres do solo, diminuindo as
disponibilidades de oxigénio, necessário às bactérias que degradam o excreta
aerobicamente.

O poço que não estiver a ser usado deverá estar sempre coberto e selado para evitar
que água, lixo, animais e até pessoas possam cair lá dentro.

Esta solução é recomendável para áreas densamente urbanizadas com algum espaço
disponível, onde não seja possível o acesso de um veículo limpa-fossas, uma vez que o
húmus formado a partir da degradação do excreta é facilmente removível de forma
manual.

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Este sistema é também aconselhado em regiões onde o nível freático é elevado, dado
que o seu funcionamento alternado permite um volume mais reduzido de poço, não
havendo necessidade de uma escavação tão profunda.

Devem-se observar as mesmas recomendações de manutenção previstas para a latrina


de fossa ventilada, somando-se a especial atenção em manter o poço inactivo
devidamente selado. Sempre que a latrina for utilizada, o utilizador deve introduzir solo
para dentro do poço. Devem ser introduzidos resíduos orgânicos periodicamente dentro
do poço activo. Ocasionalmente, o material acumulado dentro do poço deverá ser
empurrado para os lados do poço, de modo a optimizar o espaço disponível. Deve-se
impedir categoricamente a introdução de lixo no poço, pois isso impedirá a re-utilização
do húmus como fertilizante.

No Quadro 7 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas a esta infra-


estrutura.

Quadro 7 – Vantagens e desvantagens da latrina de compostagem

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Vida útil quase ilimitada;  Requere remoção manual do húmus;
 Significante redução de odores  Possibilidade de contaminação das águas
desagradáveis e insectos, quando subterrâneas;
comparado com a latrina de fossa simples;  Custos de construção mais elevados que as
 Pode ser construída e reparada com soluções com um único poço;
materiais disponíveis localmente;  Requere uma fonte constante de solo para
 Operação de esvaziamento do poço mais fácil introduzir no poço após a sua utilização, e
e económica;  A introdução de lixo no poço pode impedir a
 Redução significativa de agentes reutilização do húmus como fertilizante.
patogénicos, e
 Possibilidade de utilização do húmus como
fertilizante de solo na agricultura.

1.3.1.4 Fossa séptica (NSII)

A fossa séptica é uma câmara impermeável, construída em betão ou em material


plástico, que efectua o tratamento primário às águas negras e cinzentas. A
sedimentação e alguns processos anaeróbicos que ocorrem no seu interior reduzem a
carga orgânica e sólida do efluente, embora o tratamento seja apenas moderado;

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geralmente consegue-se uma redução de cerca de 50% do material sólido, de 30 a 40%
de CBO e uma remoção significativa da presença de Escherichia coli.

As águas residuais afluem à fossa séptica a baixas velocidades, permitindo a decantação


da fase sólida, que devido ao seu peso se acumulará na base da câmara. Os óleos e as
gorduras, por serem menos densos que a água, ficarão acumulados à superfície. A
tubagem que transportará a fase líquida para uma rede de drenagem de águas residuais
ou para um local onde esta se possa infiltrar em segurança estará instalada a uma altura
que impeça que os óleos e gorduras acumulados à superfície e as lamas depositadas no
fundo entrem para a rede.

A fossa séptica deve ser constituída por dois compartimentos. O primeiro, com um
comprimento que se deve aproximar a dois terços do comprimento total da estrutura,
é onde se deposita a maior parte dos sólidos transportados pelo efluente. A separação
entre os compartimentos deve garantir que o material sólido e os óleos e gorduras não
entrem no segundo compartimento, pelo que o orifício de ligação entre os dois
compartimentos deve estar situado aproximadamente a meia altura.

A estrutura de descarga da fase líquida deve ser em forma de tê, constituindo uma
garantia adicional de que apenas a fase líquida será transportada para fora da fossa
séptica.

Na Figura 8 apresenta-se um corte esquemático de uma fossa séptica comum.

Figura 8 – Fossa séptica (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies, 2014)

O volume da fossa séptica depende do número de utilizadores, da capitação de águas


residuais, da temperatura média anual, da frequência de remoção das lamas e das
características das águas residuais que lá afluem (vide anexo 1).
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Deve-se garantir um tempo mínimo de permanência das águas residuais de 48 horas, de
modo a garantir-se um grau moderado de tratamento.

Deve-se prever a remoção regular (em cada 2-5 anos) das lamas e dos óleos e gorduras
que se acumulam na fossa séptica. Esta remoção deve ser efectuada por veículos limpa-
fossas. A abertura da câmara que constitui a fossa séptica deve ser realizada de forma
cuidada, uma vez que é comum a formação de gases inflamáveis e nocivos no seu
interior, que se libertam aquando da sua abertura. Deve-se verificar regularmente a
estrutura da fossa séptica, de modo a garantir que esta permanece impermeável.

Dado que não há qualquer contacto entre o utilizador dos sanitários e a fossa séptica,
esta tecnologia não apresenta grandes riscos para a saúde pública. Deve-se garantir que
as lamas, os óleos e gorduras e o efluente líquido sejam manejados e transportados com
devidos cuidados, devido à grande presença de agentes patogénicos.

No Quadro 1.8 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas a esta infra-


estrutura.

Quadro 1.8 – Vantagens e desvantagens das fossas sépticas

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Tecnologia robusta e simples;  Baixa redução de agentes patogénicos,
 Não necessita de energia eléctrica; carga sólida e orgânica;
 Baixos custos de operação;  Exige regular remoção de lamas, e
 Vida útil prolongada, e  O efluente e as lamas exigem tratamento
 Requere uma área de construção reduzida e complementar e/ou descarga apropriada.
pode ser construída subterraneamente.

1.3.1.5 Rede predial de águas residuais (NSIII)

Uma rede predial de águas residuais é constituída por tubagens instaladas no interior
das habitações, que transportam as águas residuais para dispositivos de transporte e/ou
tratamento situados no exterior. Estes dispositivos podem ser uma fossa séptica
comunitária ou uma rede municipal de águas residuais. Caso não existam estas infra-
estruturas não se recomenda a opção por uma rede predial.

Deve-se garantir um diâmetro mínimo de 110 mm para prevenir eventuais


entupimentos causados por material sólido.

Esta tecnologia não apresenta grandes riscos para a saúde pública.

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No Quadro 1.9 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas a esta infra-
estrutura.

Quadro 1.9 – Vantagens e desvantagens de uma rede predial de águas residuais

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Tecnologia quase sem riscos para a saúde  Não efectua qualquer tipo de tratamento;
pública;  É necessária a existência de uma rede de
 Maior conforto e segurança de uso; drenagem e águas residuais e/ou de uma
 Se não ocorrerem anomalias, os custos de fossa séptica no exterior da habitação;
operação e manutenção são quase nulos, e  Elevados custos de construção, que requere
 Vida útil prolongada. mão-de-obra qualificada, tanto em fase de
projecto, como na fase de construção;
 Necessita de materiais não existentes
localmente, e
 Necessidade de sensibilização e educação
para uma correcta utilização.

1.3.2 Recolha e transporte

Após a deposição é necessário encaminhar o excreta, o efluente líquido, as lamas, ou os


produtos das suas decomposições para uma solução de tratamento que não coloque em
risco a saúde pública e o meio ambiente em geral.

Como tal é necessário estudarem-se as formas mais adequadas, do ponto de vista


técnico, económico e ambiental, para se proceder à sua recolha no ponto de deposição
e posterior transporte ao local de tratamento ou deposição segura.

1.3.2.1 Recolha e transporte manual

A recolha manual constitui a opção mais económica de recolha e transporte de lamas,


excreta ou dos produtos da sua decomposição. Por outro lado é a solução com menores
rendimentos e a que apresenta maiores riscos para a saúde pública.

Existem duas maneiras para se proceder ao esvaziamento manual de poços e fossas


sépticas. A mais rudimentar consiste na entrada do operador no interior do poço a
esvaziar, que executa o seu trabalho através da utilização de pás e baldes.

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A outra opção passa pela utilização de bombas portáteis e operadas manualmente
(existem várias opções patenteadas, como Gulper, Rammer, MDHP e MAPET), que
evitam a entrada do operador no poço ou fossa a esvaziar. A sua operação é similar ao
das bombas hidráulicas comuns e alimentadas a energia eléctrica, consistindo na
introdução de uma tubagem no interior do poço, ligado à bomba. O produto a esvaziar
é transportado para o exterior do poço através dessa tubagem, sendo vertido para barris
ou carrinhos, que posteriormente serão levados, manualmente, para um local de
tratamento. Estas soluções, todas de desenvolvimento recente, têm apresentado
resultados satisfatórios, inclusivamente na vertente económica.

Fotografia 1 – Sistema de bombagem manual MAPET, Congo (retirado de http://www.sswm.info/)

A utilização de pás e baldes deve ser escolhida no esvaziamento das latrinas de


compostagem, uma vez que o húmus a recolher é sólido, com presença muito baixa em
água (não podendo ser bombeado), e tem um risco reduzido para a saúde do operador
do esvaziamento.

Por outro lado recomenda-se a utilização de bombas portáteis e manuais sempre que o
produto a recolher se apresente viscoso ou líquido, pois existe um risco elevado de
colapso do poço, da libertação de gases tóxicos e de exposição a agentes patogénicos.

A solução de recolha e transporte manual é a mais adequada em locais sem rede de


drenagem pública, onde não há possibilidade de acesso a veículos limpa-fossas (zonas
urbanizadas densas e com arruamentos estreitos) ou onde a sua utilização se revela
demasiado onerosa (locais muito afastados do local de tratamento ou de descarga dos
produtos recolhidos).

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Deve-se garantir que os operadores de recolha estejam devidamente protegidos,
devendo vestir um fato-macaco completo, máscaras, luvas e botas. Devem-se proceder
exames médicos regulares e vacinação de todos os trabalhadores que integrem este
processo de recolha.

As bombas portáteis operadas manualmente devem ser limpas, desinfectadas e


eventualmente reparadas diariamente. As mesmas operações devem ser executadas
nos dispositivos de protecção dos operadores.

No Quadro 10 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas a este método


de recolha e transporte.

Quadro 10 – Vantagens e desvantagens da recolha e transporte manual

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Criação de empregos localmente, que geram  Possibilidade de derramamentos que
um aumento dos rendimentos das podem colocar em causa a saúde pública e o
comunidades; bem-estar das comunidades;
 Equipamentos utilizados podem ser  Rendimento muito reduzido - exige muito
construídos e reparados com materiais tempo quando comparado com outras
disponíveis localmente; soluções;
 Baixo custo de investimento, e  Lixo nos poços pode causar entupimentos
 Não exige a construção de canalizações. na tubagem introduzida no interior do poço
(no caso da bombagem manual), e
 Alguns equipamentos podem necessitar de
soldagem.

1.3.2.2 Veículo limpa fossas

O veículo limpa-fossas é geralmente constituído por um tanque e uma bomba


motorizada que permite a recolha e transporte de lamas das fossas sépticas ou de poços
onde o excreta apresenta suficiente viscosidade para ser bombeado. É necessária a
presença de operadores para conduzir o veículo, abrir a fossa e introduzir a tubagem e
operar a bomba, mas não há necessidade de contacto directo entre as lamas e
operadores, sendo assim um processo com baixos riscos para a saúde pública.

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Fotografia 2 – Veículo limpa fossas esvaziando uma fossa séptica, Índia (retirado de http://www.sswm.info/)

O veículo deve ser estacionado o mais próximo possível da estrutura a esvaziar, nunca a
mais de 30 m de distância horizontal. Só permite a recolha de lamas até profundidades
entre 2 e 3 m.

Caso o material a remover se apresente num estado pouco viscoso, pode ser necessária
a introdução de água no interior do poço, apesar de este processo ser pouco eficiente e
pouco recomendável a nível económico.

Habitualmente, o tanque destes veículos tem um volume a variar entre 3 e 12 m 3.


Existem veículos com tanques de menores dimensões, que permitem passar por ruas
mais estreitas, mas que transportam um menor volume de lamas, reduzindo a eficiência
do processo.

Os custos de aquisição de veículos limpa-fossas são bastante elevados, e grande parte


dos materiais que os constituem não são encontrados localmente.

Deve-se proceder à manutenção regular do veículo e do equipamento de bombagem.

No Quadro 1.11 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas a este método


de recolha e transporte.

Quadro 1.11 – Vantagens e desvantagens da utilização de veículos limpa-fossas

VANTAGENS DESVANTAGENS

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 Meio de remoção e transporte mais rápido,  Não permite a recolha de lamas secas ou pouco
seguro e eficiente; viscosas;
 Criação de empregos localmente, que geram  Lixo pode causar entupimentos na tubagem;
um aumento dos rendimentos das  Não permite o total esvaziamento de alguns poços,
comunidades, e com profundidades superiores a 3 m;
 Não exige a construção de canalizações.  Elevados custos de investimento inicial;
 Comunidades de baixa renda podem não ter a
possibilidade de pagar o esvaziamento de poços
deste tipo;
 Nem todos os materiais utilizados estão disponíveis
localmente, e
 Dificuldades de acesso em zonas com arruamentos
mais estreitos.

1.3.2.3 Estações de transferência de águas residuais

Uma estação de transferência de águas residuais consiste num tanque em que se


acumulam as lamas, onde os operadores de recolha e transporte manual e os veículos
limpa-fossas podem colocar os produtos recolhidos, sem necessitarem de percorrer
longas distâncias até à instalação de tratamento. A existência destas infra-estruturas,
localizadas em pontos estratégicos de um bairro ou cidade, pode reduzir drasticamente
a deposição ilegal de lamas, uma vez que reduz significativamente os custos do seu
transporte.

19
Figura 9 – Estação de transferência de águas residuais (retirado de Compendium of Sanitation Systems and
Technologies, 2014)

A entidade exploradora do sistema de saneamento deve cobrar uma taxa para cada
entrega de lamas na estação de transferência. Essa taxa visa permitir a sustentabilidade
do serviço (custos de operação e manutenção, transporte das lamas da estação de
transferência à instalação de tratamento), mas deve ser o suficientemente baixa para
encorajar o seu uso por parte de toda a comunidade.

Quando o tanque da estação de transferência estiver cheio a entidade exploradora


procede ao seu esvaziamento e transporta o material recolhido para a instalação de
tratamento. Esta centralização da recolha de resíduos permite reduzir os custos de
transporte, uma vez que a população e os veículos dos operadores de recolha e
transporte de lamas apenas percorre a distância entre o local de recolha e a estação de
transferência e os veículos da entidade exploradora apenas percorrem a distância entre
a estação de transferência e a instalação de tratamento quando o reservatório está
cheio, ou seja com muito menor frequência.

A localização das estações de transferência deve ser cuidadosamente estudada, pois é


possível a produção de odores desagradáveis, especialmente se a sua limpeza e
manutenção forem negligenciadas.

No recinto da estação de transferência deve existir um local de estacionamento que


acomode um veículo limpa-fossas de grandes dimensões, um ponto de conexão para as
tubagens do referido veículo e um tanque onde se acumulam as lamas. Esse tanque
deverá ser impermeável para evitar a infiltração das águas residuais no solo e a entrada
de água subterrânea dentro dele. Deve ser prevista a ventilação do reservatório, uma
grelha de remoção de sólidos de grandes dimensões e equipamento que permita a
limpeza dos veículos que transportam as lamas de e para a estação de transferência.

20
Pode-se optar por ligar o reservatório da estação de transferência à rede de drenagem
de águas residuais públicas, para onde seria encaminhado o efluente líquido e alguns
componentes sólidos em suspensão. Esta opção permitiria reduzir a quantidade de
esvaziamentos e posterior transporte à instalação de tratamento.

As estações de transferência devem estar equipadas com equipamento digital que


permita registar a identidade dos operadores que descarregam efluentes líquidos e/ou
lamas no seu reservatório.

A localização das estações de transferência deve ser de fácil acesso, próxima dos eixos
viários principais. Apesar de produzir alguns odores desagradáveis, oferece um maior
bem-estar às comunidades vizinhas, sendo uma melhoria em relação à deposição ilegal
das lamas a céu aberto.

As grelhas da estação de transferência devem ser frequentemente limpas. Material


sólido, como areia e lamas consolidadas, deve ser retirado periodicamente do interior
do tanque. O recinto da estação de transferência deve ser limpo frequentemente de
modo a minimizar odores desagradáveis e a existência de insectos.

No Quadro 12 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas a este método


de recolha e transporte.

Quadro 12 – Vantagens e desvantagens das estações de transferência

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Maior eficiência no transporte de lamas à  Exige mão-de-obra qualificada para
instalação de tratamento; projectar e construir a estação de
 Redução da deposição ilegal de lamas a céu transferência, e
aberto;  Pode gerar odores desagradáveis,
 Pagamento de taxa de entrega de lamas que principalmente se não se proceder a
promove a sustentabilidade do sistema de regular manutenção.
saneamento, e
 Criação de empregos localmente, que geram um
aumento dos rendimentos das comunidades.

1.3.2.4 Rede municipal de drenagem de águas residuais

Uma rede de drenagem de águas residuais recolhe os efluentes (águas negras, cinzentas
e, eventualmente, pluviais) ao longo de toda a sua extensão e transporta-os até ao seu
destino final, geralmente uma instalação de tratamento centralizada.

21
É geralmente dividida em rede primária, constituída pela rede de colectores instalados
sob os principais eixos viários da localidade e pela rede secundária, constituída por
algumas ramificações de menor diâmetro e das ligações às habitações e outros edifícios
que produzam águas residuais.

As tubagens são geralmente constituídas por material plástico (PVC, PEAD, GRP),
podendo ser em alguns casos excepcionais em Ferro Fundido Dúctil ou em betão.
Devem-se prever caixas de visita separadas por uma distância inferior a 60 m e em todas
as mudanças de direcção, de modo a permitir a inspecção do interior das tubagens e a
sua desobstrução em caso de entupimento.

O aterro da vala que rodeia a tubagem deve ser constituído por material fino, de modo
a não danificar a sua parede. De modo a evitar assentamentos diferenciais, deve-se
proceder à compactação deste material.

O traçado dos colectores deve permitir o escoamento gravítico do efluente, garantindo


que a sua velocidade de escoamento respeite um valor mínimo de modo a garantir a
auto-limpeza do interior dos colectores. As tubagens a implantar sob arruamentos com
tráfego automóvel devem ser instaladas a profundidades superiores a 1 m de modo a
não serem afectadas pelas cargas rolantes transmitidas.

Caso não seja possível transportar o efluente graviticamente devem-se prever sistemas
elevatórios de águas residuais, que permitam bombear as águas residuais para um
ponto alto, onde entram numa nova rede, numa estação de transferência ou numa
instalação de tratamento.

O principal componente de um sistema elevatório é a estação elevatória, onde estão


instalados os grupos electrobomba e todos os acessórios e equipamentos necessários
ao seu funcionamento. A água residual que aflui à estação elevatória é acumulada num
poço que permite a regularização do caudal, e de onde as bombas extraem a água que
vão elevar.

A partir da estação elevatória estende-se a conduta elevatória, constituída por material


plástico ou metálico, com a resistência suficiente para poder transportar água sob a
pressão necessária para atingir o seu destino final.

No Quadro 1.13 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas a este método


de recolha e transporte.

Quadro 1.13 – Vantagens e desvantagens das redes municipais de drenagem de águas residuais

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Possibilidade de transportar águas cinzentas  Elevados custos de investimento;
e pluviais;

22
 Pode transportar caudais líquidos e sólidos  Requere uma velocidade mínima de
elevados, e escoamento para evitar a deposição de
 Custos de operação mais baixos (no caso de material sólido nas tubagens;
ser um sistema gravítico).  Exige escavações profundas;
 Embaraço ao tráfego;
 Exige mão-de-obra qualificada para
projectar e construir a rede de drenagem, e
 Risco de infiltração de água subterrânea no
interior dos colectores;
 Custos de operação elevados (no caso de não
ser um sistema gravítico)
 Elevados custos de amnutenção

1.3.3 Tratamento e deposição

1.3.3.1 Considerações gerais

Como já foi referido anteriormente, é necessário encaminhar o excreta, o efluente


líquido, as lamas sépticas, ou os produtos resultantes das suas decomposições para uma
Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR).

As operações unitárias e os processos de tratamento que integram a fase líquida de uma


ETAR podem agrupar-se em quatro categorias, nomeadamente:

 Tratamento preliminar ou pré-tratamento;

 Tratamento primário;

 Tratamento secundário ou tratamento biológico;

 Tratamento terciário ou de afinação.

O tratamento terciário tem como objectivo a afinação do efluente tratado, com vista a
alcançar um nível de tratamento compatível com o destino final, podendo englobar uma
etapa de desinfecção à saída da ETAR para remoção da carga microbiana, ou consistir
na remoção de nutrientes, nomeadamente o azoto e o fósforo. Esta etapa de
tratamento não é muito comum em países em desenvolvimento, excepto quando se
pretende efectuar a re-utilização do efluente.

23
1.3.3.2 Tratamento preliminar ou pré-tratamento

O tratamento preliminar tem por objectivo a remoção de sólidos grosseiros flutuantes


e em suspensão no efluente a tratar, sendo a sua finalidade retardar a acumulação de
sólidos nos órgãos de jusante e minimizar bloqueios subsequentes. A etapa de pré-
tratamento pode também reduzir a abrasão dos equipamentos electromecânicos
instalados a jusante e prolongar a vida útil da infra-estrutura de tratamento.

Em ETARs de reduzida dimensão, o tratamento preliminar consiste numa obra de


entrada, eventualmente seguida de um desarenador, destinado à remoção de areias. A
inclusão de um desarenador não é indispensável, embora seja aconselhável nas zonas
onde as águas residuais poderão transportar maiores quantidades de areia.

A obra de entrada normalmente é constituída por um sistema de gradagem, constituído


por uma grade de retenção de sólidos, uma ligação ao colector de recurso e um
descarregador de tempestade.

A grade compõe-se de um conjunto de barras ou varões em aço, colocados


longitudinalmente em relação ao fluxo de águas residuais e inclinadas a 40º em relação
ao fundo da caleira. Os sólidos mais grosseiros ficam retidos na malha filtrante do
equipamento. O espaçamento entre barras varia entre 15 a 40 mm, dependendo dos
padrões de limpeza.

Figura 10 – Gradagem (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies, 2014).

A malha de grade pode ser limpa manual ou mecanicamente. Em estações de reduzida


dimensão, as grades a instalar serão de limpeza manual, sendo os sólidos removidos
com o auxílio de um ancinho e colocados sobre um tabuleiro de fundo perfurado,
instalado transversalmente, de modo a permitir que as escorrências drenem novamente
para o interior do canal. Os sólidos escorridos são retirados para um contentor de lixo e

24
enviados a destino final (aterro controlado/aterro sanitário) ou, em alternativa, serão
enterrados numa vala aberta junto do recinto.

O desarenador permite efectuar a remoção das partículas essencialmente inorgânicas


existentes no efluente a tratar, enquanto as partículas mais leves, as substâncias
orgânicas, permanecem em suspensão.

Figura 11 – Desarenador/desengordurador (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies, 2014)

Todas as instalações de pré-tratamento devem ser regularmente monitorizadas e limpas


para assegurar o seu funcionamento adequado.

Quadro 14 – Vantagens e desvantagens das soluções de pré-tratamento

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Capital investido e custos de exploração  Exige manutenção frequente, e
relativamente baixos;  A remoção de sólidos e gorduras não é
 Redução do risco de abrasão nos agradável.
equipamentos electromecânicos de jusante,
e
 Aumento da vida útil e durabilidade dos
equipamentos de jusante.

1.3.3.3 Tratamento primário

Decantação primária

25
A decantação primária é a primeira etapa do processo de tratamento de uma ETAR. É
um tratamento físico e/ou químico que é projectado por forma a remover os sólidos
mais facilmente decantáveis, em suspensão no efluente a tratar, por sedimentação. Em
geral, este tratamento reduz a DBO5 (demanda bioquímica de oxigénio medido em cinco
dias) em, pelo menos, 20-30% e os sólidos suspensos totais (SST) em, pelo menos, 50%.

Figura 12 – Decantador primário (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies, 2014).

Os decantadores são normalmente tanques circulares ou rectangulares que estão


tipicamente dimensionados para um tempo de retenção hidráulico entre 1,5 a 2,5 horas,
devendo garantir um bom funcionamento ao caudal de ponta.

A remoção de lamas pode ser feita por bombagem, sistema de “air-lift”, bomba de
vácuo, por gravidade ou através de um camião limpa fossas.

A eficiência do decantador primário depende de vários factores como:

 Características do efluente;

 Tempo de retenção;

 Taxa de remoção de lamas.

A escolha do tipo de decantador é feita com base no tipo e dimensão da infra-estrutura


de tratamento, no tipo de operação e no tipo de tratamento biológico de jusante
(aeróbico ou anaeróbico). Muitos tipos de tratamento biológico necessitam de um
decantador a montante de modo a funcionar correctamente.

Em pequenas infra-estruturas de tratamento com sistema de lamas activadas, a operar


em regime de baixa carga, esta etapa de decantação primária pode ser omitida. No

26
entanto, se o tratamento biológico for efectuado numa infra-estrutura de tratamento
constituída por material filtrante este órgão a montante possui um papel fundamental.

De modo a prevenir a libertação de odores desagradáveis, deverá ser efectuada com


alguma frequência a remoção das respectivas lamas.

No Quadro 15 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas à etapa de


decantação primária.

Quadro 15 – Vantagens e desvantagens da decantação primária

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Tecnologia simples e robusta;  Exige uma frequente extracção de lamas, e
 Remoção eficiente de sólidos suspensos, e  O efluente, as lamas e as escumas
 Capital investido e custos de operação produzidos requerem tratamento adicional.
relativamente baixos.

Tranque de Imhoff

O tanque de Imhoff é um tipo de decantador primário desenhado para efectuar, num só


órgão, a separação sólido/líquido e a digestão das lamas sedimentadas. Em geral, o
tanque de Imhoff reduz os sólidos suspensos totais (SST) em, pelo menos, 50-70% e a
DQO (demanda química de oxigénio) em, pelo menos, 25-50%.

O tanque de Imhoff deverá ser sempre precedido pelo tratamento preliminar, a


montante tendo a jusante, em regra, um tratamento biológico associado. É uma boa
solução técnica, especialmente indicada para tratamento de águas residuais de
aglomerados populacionais de grande dimensão, por incluir na mesma instalação tanto
a câmara de decantação como a câmara de digestão anaeróbica, tal como se representa
esquematicamente na figura seguinte.

27
ZONA DE

Figura 13 – Tanque de Imhoff (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies, 2014).

As águas residuais afluentes entram directamente na câmara de decantação, que dispõe


de dois deflectores, um à entrada e outro à saída, para tranquilização do escoamento.

A câmara de decantação deverá ser dimensionada para um tempo de retenção entre 2


a 4 horas, tempo de retenção suficiente para se verificar a ocorrência dos fenómenos
físicos de sedimentação dos sólidos em suspensão e de flotação dos sobrenadantes, que
originam, respectivamente, a acumulação dos sólidos mais pesados no fundo do tanque
de Imhoff, sob a forma de lamas, e alguma acumulação dos sólidos menos densos à
superfície, sob a forma de escumas.

As lamas provenientes da decantação primária passam pela abertura da câmara de


decantação para a câmara de digestão, onde ocorre um processo de tratamento
biológico por digestão anaeróbica, em que parte da matéria orgânica é convertida em
matéria mineral, com libertação de gases, havendo uma apreciável redução do volume
de lamas produzidas.

No Quadro 1.16 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas ao tanque de


Imhoff.

28
Quadro 1.16 – Vantagens e desvantagens do tanque de Imhoff

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Separação sólido-líquido e digestão das  Infraestrutura alta ou com profundidade
lamas sedimentadas combinado num só elevada, pode haver problemas em zonas de
órgão; nível freático elevado;
 Resistente a pontuais cargas orgânicas  Requer especialistas quer para a concepção,
elevadas afluentes; quer para a construção;
 Necessita de uma pequena área de  Baixa redução de agentes patogénicos;
implantação, e  O efluente não é séptico (com ligeiro odor),
 Custos de operação relativamente baixos.  O efluente, as lamas e as escumas
produzidos requerem tratamento adicional.

1.3.3.4 Tratamento secundário

Esta etapa de tratamento tem como objectivo principal reduzir a matéria orgânica,
através de sistemas aeróbicos, de biomassa suspensa ou fixa, e de sistemas aquáticos
por biomassa suspensa.

Os principais objectivos do tratamento biológico consistem na oxidação dos


constituintes biodegradáveis, na retenção de sólidos suspensos ou coloidais não
sedimentáveis e na transformação ou remoção de nutrientes, nomeadamente azoto e
fósforo.

Leitos de macrófitas

Os leitos de macrófitas (“constructed wetlands”) constituem, em regra, em paralelo com


as lagoas de estabilização, soluções sustentáveis para o tratamento de águas residuais,
desde que exista disponibilidade de área.

As plantas a que se recorre neste tipo de sistema são as macrófictas emergentes,


submersas e flutuantes. As plantas a colocar são sobretudo plantas emergentes,
nomeadamente os géneros Scirpus, Phragmites, Tipha e Iris.

O sistema de leitos de macrófitas que mais se adequa à realidade de Moçambique, é o


sistema cujo escoamento é sub-superficial horizontal, por forma a evitar a proliferação
de odores e de moscas/mosquitos.

29
Figura 14 – Leitos de macrófitas (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies, 2014)

Um sistema de leitos de macrófitas de escoamento sub-superficial horizontal depende


da quantidade e da qualidade do efluente a tratar, bem como da qualidade a exigir ao
efluente tratado. A eficiência de remoção de um leito de macrófitas é função da área
superficial, sendo considerado em média, uma área de cerca de 5 a 10 m2 por habitante
equivalente.

De notar que o sistema de leitos de macrófitas requer a montante uma etapa de pré-
tratamento seguida de decantação primária.

No Quadro 1.17 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas aos leitos de


macrófitas de fluxo sub-superficial horizontal.

Quadro 1.17 – Vantagens e desvantagens dos leitos de macrófitas de fluxo sub-superficial horizontal

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Elevada redução de DBO5, SST e agentes  Necessita de uma área de implantação
patogénicos; elevada;
 Não tem o problema dos mosquitos que os  Baixa remoção de nutrientes;
leitos de macrófitas de fluxo em superfície  Risco de colmatação, dependendo do pré-
livre possuem; tratamento e/ou tratamento primário a
 Não necessita de energia eléctrica, e montante;
 Custos de operação relativamente baixos.  Arranque demorado até conseguir operar à
capacidade máxima de dimensionamento, e
 Requer especialistas quer para a concepção
quer para a construção.

30
A solução de leitos de macrófitas apresenta as seguintes vantagens em relação à solução
clássica de lagoas de estabilização, embora possa ser uma solução eventualmente
menos económica, visto exigir sedimentação primária a montante e a plantação de
espécies vegetais adequadas:

 inexistência de algas em suspensão e alguma remoção de nutrientes (azoto) no


efluente final;

 redução dos riscos de libertação de odores e redução de riscos de septicidade


da massa líquida;

 melhor integração no ambiente, e

 proporcionar um ecossistema favorável em termos de desenvolvimento e


protecção de variadas espécies animais, sobretudo da avifauna.

Lamas activadas

O tratamento biológico por lamas activadas permite converter grande parte da matéria
orgânica solúvel e coloidal, que permanece após o tratamento primário, em formas
inorgânicas estáveis e massa celular. No processo de lamas activadas, a água residual é
encaminhada para um reactor que contém uma determinada concentração de
população microbiana aeróbica em suspensão, e os microrganismos, ao degradarem a
matéria orgânica, crescem e têm tendência a formar flocos biológicos. Na figura
seguinte apresenta-se esquematicamente um reactor de lamas activadas.

Figura 15 – Lamas activadas (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies, 2014).

O arejamento no reactor biológico tem um papel importante, nomeadamente para


garantir o oxigénio indispensável ao processo biológico de depuração, a homogeneidade
da mistura e evitar a sedimentação dos sólidos. Este arejamento pode ser efectuado

31
através de hidroinjectores submersíveis, de agitadores mecânicos ou de sistemas de
injecção de ar difuso.

Os flocos (aglomerados de partículas de lama), que se formam no reactor biológico


(tanque de arejamento), são posteriormente removidos no decantador secundário por
sedimentação gravítica. Parte desta lama produzida é reciclada a partir do decantador,
entrando novamente no reactor biológico (recirculação de lamas). As lamas em excesso
são encaminhadas para o espessamento de lamas.

O decantador secundário é frequentemente o último órgão da cadeia de tratamento,


antes da rejeição no meio receptor, devendo ser correctamente dimensionado por
forma a garantir uma qualidade adequada do efluente tratado.

As águas residuais afluentes penetram directamente na zona central do decantador, que


dispõe de um deflector anelar para tranquilização do escoamento, sendo obrigadas a
efectuar um escoamento vertical descendente facilitando a decantação. O tempo de
retenção no decantador secundário deve ser suficiente para se verificar a ocorrência dos
fenómenos físicos de sedimentação dos sólidos em suspensão e de flotação dos
sobrenadantes, que originam, respectivamente, a acumulação de lamas no fundo do
decantador e a eventual acumulação de escumas à superfície. Deste modo, utilizam-se,
para caudais de ponta, tempos de retenção de cerca de 1,5 a 2h.

O reactor biológico pode ser dimensionado com nitrificação biológica e desnitrificação,


bem como com remoção biológica de fósforo (tratamento terciário).

O dimensionamento deverá ser efectuado tendo em consideração as características do


efluente a tratar e os caudais afluentes ao sistema de tratamento. A eficiência do
tratamento pode ser severamente comprometida se a instalação fica sub ou sobre
dimensionada. Dependendo da temperatura, a retenção de sólidos no reactor (SRT)
varia entre 3 a 5 dias para a remoção de DBO5 e de 3 a 18 dias para a nitrificação.

As lamas em excesso produzidas necessitam de tratamento, de modo a reduzir o seu


teor de água e a sua fracção orgânica, de forma a obter um produto estabilizado e com
características compatíveis com a sua aplicação ou deposição final.

Por forma a obter valores específicos de remoção de DBO5, azoto e fósforo, poderão ser
feitas modificações/adaptações ao esquema convencional de lamas activadas.

Estas alterações podem ser:

 SBR (Sequencing batch reactor);

 Vala de oxidação;

 Arejamento prolongado;

32
 Bioreactor de membrana, e

 entre outros.

O sistema de lamas activadas é apropriado apenas para soluções de tratamento


centralizadas com a presença de pessoal bem treinado, electricidade constante e um
bom sistema de gestão, de modo a assegurar a correcta operação, manutenção e
sustentabilidade da instalação.

O sistema de lamas activadas é adequado para qualquer tipo de clima. No entanto, a


capacidade de tratamento diminui em ambientes mais frios.

No Quadro 18 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas ao sistema de


lamas activadas.

Quadro 18 – Vantagens e desvantagens do sistema de lamas activadas

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Resistente a pontuais cargas orgânicas e  Elevado consumo de energia, sendo
caudais elevados; necessária uma fonte constante de energia;
 Pode ser operada de acordo com as cargas  Capital investido e custos operacionais
orgânicas e caudais afluentes; elevados;
 Elevada remoção de DBO5 (99%) e agentes  Requer operação e manutenção por pessoal
patogénicos; qualificado;
 Elevada remoção de nutrientes, e  Propenso a problemas químicos e
 Pode ser modificado o funcionamento do microbiológicos complicados;
reactor em função de limites de descarga  Nem todos os equipamentos e materiais
específicos. podem estar disponíveis localmente;
 Requer especialistas, quer para a
concepção, quer para a construção;
 Exige tratamento das lamas produzidas, e
 Nova etapa de tratamento ou descarga
apropriada do efluente tratado.

33
Lagoas de Estabilização

As lagoas de estabilização são largamente utilizadas no tratamento de águas residuais,


para aglomerados populacionais acima dos 100 000 habitantes, constituindo uma
importante alternativa às soluções de tratamento convencionais, sendo especialmente
indicadas na reutilização do efluente tratado na agricultura, dado que a lagoa de
maturação permite a remoção de microrganismos patogénicos, por acção dos raios U.V..

Estas instalações são projectadas de forma a equilibrar os volumes de escavação e de


aterro, sendo precedidas de uma obra de entrada e normalmente constituídas por um
conjunto de três lagoas dispostas em série (uma anaeróbia, uma facultativa e uma de
maturação), que permitem obter rendimentos de depuração elevados, não só no que
respeita à carga orgânica como também aos coliformes.

Figura 1.16 – Lagoas de estabilização (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies, 2014)

As lagoas de estabilização são constituídas por bacias com toalhas de água de pequena
profundidade relativa, com taludes em terra, em que as águas residuais são tratadas por
processos inteiramente naturais, envolvendo bactérias e algas. Estes sistemas têm uma
tendência natural a ser aplicados em climas quentes, mas podem ser encontrados em
todas as latitudes.

As águas residuais provenientes da obra de entrada são conduzidas à lagoa anaeróbia,


onde ocorre uma redução significativa da carga poluente em termos de DB05 (eficiência
de 50 a 85%) e de sólidos em suspensão, por decantação das lamas no fundo e sua
posterior digestão. Esta primeira lagoa, com cerca de 3 m de profundidade média (2 – 5
metros), tem um papel importante pela grande redução de carga poluente, embora seja
susceptível de libertação de odores difíceis de controlar, em particular na fase de
arranque da instalação ou quando se verifica a ocorrência de septicidade nos colectores
e condutas elevatórias do sistema de drenagem.

34
A jusante da lagoa anaeróbica, o efluente aflui à lagoa facultativa. Esta lagoa é
constituída por três camadas: uma zona inferior anaeróbia de acumulação de lamas;
uma camada intermédia onde predominam as bactérias facultativas e uma camada
superior aeróbia, onde a oxigenação é conseguida pela actividade fotossintética das
algas (sob influência dos raios solares) e pelo vento, através das trocas gasosas entre o
meio liquido e a atmosfera. A lagoa facultativa, de cerca de 1,5 m de profundidade
média (1 a 2,5 metros) e tempo de retenção entre 5 a 30 dias, assegura remoções
consideráveis em relação à DB05: de 80 a 95% aproximadamente.

De seguida, o efluente aflui à lagoa de maturação (lagoa aeróbica), onde se processa


principalmente a redução dos agentes patogénicos, entre eles os coliformes fecais,
embora se verifique também um acréscimo na redução da carga poluente em termos
de DB05 (eficiência de 60 a 80%). Esta lagoa, com uma profundidade que varia entre 0,5
e 1,5 m, contribui para que o efluente final atinja uma elevada qualidade por forma a
ser descarregado no meio receptor.

No Quadro 19 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas ao sistema de


lamas activadas.

Quadro 19 – Vantagens e desvantagens do sistema de lagoas de estabilização

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Resistente a pontuais cargas orgânicas e  Necessita de uma área considerável de
caudais elevados; implantação;
 Elevada remoção de SST, DBO5 e agentes  Necessita de custos elevados de
patogénicos; investimento, dependendo do custo do
 Elevada remoção de nutrientes se combinada terreno;
com a aquacultura;  Requer especialistas, quer para a
 Custos de operação relativamente baixos; concepção, quer para a construção, e
 Não necessita de energia eléctrica, e  As lamas produzidas necessitam de ser
 Se a manutenção e operação for feita com removidas e posteriormente tratadas.
regularidade e adequadamente não existem
problemas com insectos e odores.

1.3.3.5 Estabilização, desidratação e destino final de lamas

Leitos de Secagem

Os leitos de secagem são frequentemente utilizados para reduzir o teor em humidade


das lamas estabilizadas biologicamente, por digestão anaeróbica (i.e., em tanques de

35
Imhoff) ou por estabilização aeróbica (em valas de oxidação ou tanques de arejamento
de baixa carga). O teor em humidade destas lamas varia entre 94 e 99%, consoante a
origem.

Os leitos de secagem convencionais são constituídos por tanques rectangulares


descobertos e contíguos onde são descarregadas as lamas digeridas, numa camada com
cerca de 0,20 - 0,40 m de espessura, através de um circuito, comandado por válvulas de
seccionamento localizadas junto de uma das paredes dos leitos.

As lamas digeridas desidratam-se por evaporação e por infiltração de parte da água por
elas contida nas camadas de material inerte que constituem o fundo dos leitos: uma
camada superior de areia e uma inferior de brita. As lamas devem permanecer nos leitos
de secagem, em média, mais de 20 - 30 dias.

Depois de secas apresentam um teor de humidade entre 50 e 80 %, aspecto consistente


com fissurações à superfície e cor cinzenta, sendo removidas e eventualmente utilizadas
na agricultura. As escorrências produzidas deverão ser também tratadas
adequadamente, de acordo com o meio receptor onde serão descarregadas.

Figura 17 – Leitos de Secagem (retirado de Compendium of Sanitation Systems and Technologies, 2014).

O dreno do leito de secagem encontra-se normalmente coberto por 3-5 camadas de


gravilha/areia. A camada inferior deverá ser de gravilha grossa e a superior de areia
(cerca de 0,1 a 0,5 mm de diâmetro efectivo). A camada superior de areia deverá ser de
0,25 a 0,30 m de altura dado que alguma areia será removida com a remoção das lamas
desidratadas.

Por forma a optimizar o processo de desidratação de lamas, a aplicação de lamas a


desidratar deverá ser feita alternadamente entre 2 ou mais leitos. A entrada do efluente
deverá ser protegida com uma lajeta de betão de modo a evitar a erosão da camada de
areia e a permitir uma distribuição uniforme da lama a desidratar.

Os leitos de secagem são uma forma efectiva de redução de volume de lamas que é
essencialmente importante quando estas necessitam de ser transportadas para outro
local, por forma a serem tratadas, reutilizadas ou depositadas em destino final.

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Esta tecnologia não é eficiente em termos de estabilização da matéria orgânica presente
nas lamas ou na redução dos agentes patogénicos presentes.

Os leitos de secagem são apropriados para pequenas a médias comunidades com


populações até 100 000 habitantes. São mais adequados para zonas rurais e peri-
urbanas onde existem terrenos mais baratos e espaço disponível, afastados das
populações. Trata-se de uma solução de baixo custo que pode ser instalada na maioria
dos climas quentes e temperados.

Por forma a garantir o adequado funcionamento da instalação é necessário pessoal


qualificado para efectuar a sua operação e manutenção.

No Quadro 20 apresentam-se as vantagens e desvantagens associadas aos leitos de


secagem.

Quadro 20 – Vantagens e desvantagens dos leitos de secagem

VANTAGENS DESVANTAGENS
 Boa eficiência de desidratação,  Necessita de uma grande área de terreno;
especialmente em climas quentes e secos;  São normalmente perceptíveis os odores
 Pode ser construído e reparado com desagradáveis e as moscas;
materiais disponíveis localmente;  Períodos de armazenamento longos;
 Capital investido e custos de operação  Remoção intensiva de lamas;
relativamente baixos;  Estabilização limitada da matéria orgânica e
 Operação simples, apenas uma infrequente redução de agentes patogénicos;
manutenção é necessária, e  Requer especialistas, quer para a
 Não necessita de energia eléctrica. concepção, quer para a construção, e
 As escorrências produzidas necessitam de
tratamento posterior.

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