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Atlas da História do Mundo - Folha de São Paulo

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As origens do homem

No reino animal, os seres humanos são os que mais se relacionam com os grandes
símios (chimpanzés e gorilas), com a mesma estrutura anatômica básica e constituição
genética similar. Tais semelhanças foram herdadas de um ancestral comum, que viveu,
segundo cálculos baseados em provas fósseis e pesquisa molecular, há cerca de 10 milhões
de anos. Estimulados por mudanças ambientais e outros fatores desconhecidos, símios e seres
humanos seguiram caminhos evolutivos diferentes entre 5 e 8 milhões de anos atrás. Através
dos tempos, algumas características do ancestral comum foram mantidas e outras mudaram
para produzir a espécie conhecida hoje.
Ossos fossilizados e pegadas mostram que a adaptação fundamental do homem ao
bipedalismo (andar ereto) de deu na África há 4 milhões de anos. Vestígios dos primitivos
hominídeos bípedes -os Australopitecíneos ou símios meridionais- foram primeiro descobertos
na África meridional, principalmente no Transvaal, onde sobreviveram entre fragmentos de
rochas de cavernas calcárias. Porém, a mais antiga e segura prova de bipedalismo foi
encontrada na África Oriental, na região do Afar, na Etiópia. Era o esqueleto conhecido como
Lucy, um Australopitecíneo do gênero feminino que vagava pela região há cerca de 3,4 milhões
de anos. Mais notável foi a descoberta de pegadas, preservadas por cinzas vulcânicas, de dois
Australopitecíneos adultos acompanhados por uma cria em Laetoli. A descoberta mostra que
os ancestrais do homem já viviam em núcleos familiares há 3,8 milhões de anos.

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Caça e Coleta: As primeiras atividades humanas

Os primeiros seres humanos eram criaturas da savana africana. O formato dos dentes e
o comprimento do trato digestivo mostram que seguiam dieta mista com sementes e pequenas
frutas silvestres. Talvez também comessem carne, que cresceu em importância à medida que
ferramentas melhores e uma compleição mais robusta os tornou caçadores aptos. Assim, a
Terra foi primeiro povoada por seres que praticavam caça e coleta, atividades que surgiram
pelo menos desde o desenvolvimento dos primeiros instrumentos de pedra, há 2,5 milhões de
anos. Já a agricultura surgiu apenas por volta de 10.000 a.C., após o desaparecimento das
últimas camadas de gelo.
O uso de instrumentos distingue os seres humanos de outros primatas. Os chimpanzés
lascavam a pedra e usavam as pontas afiadas para abrir nozes, mas não tinham tradição de
fabricar ferramentas de pedra, como ocorreu com os primitivos ancestrais do homem. Por isso,
os primórdios dessa atividade, há cerca de 2,5 milhões de anos, são uma linha divisória
significativa no desenvolvimento humano. Instrumentos de pedra eram usados para cavar,
abater ou arrancar plantas; cortar junco ou separar a casca de árvores, na confecção de
esteiras ou cesteiras; e para transformar transformar madeira, osso e outras matérias-primas
em artefatos úteis. A dependência em relação aos instrumentos de pedra deu origem à
denominação de Paleolítica ou Antiga Idade da Pedra e esta fase cultural do desenvolvimento
humano.
[...]
Em alguns sítios, ferramentas de pedra e material residual permaneceram intocados
desde que foram abandonados por seus usuários. A distribuição das ferramentas fornecem um
quadro detalhado das atividades e abrigos de um campo de caça e coleta. Há traços de uma
possível proteção contra o vento na mata, no sítio DK em Olduvai Gorge, que data de 1,8
milhão de anos. Em Terra Amata, no sul da França, a estrutura era constituída por um frágil
abrigo de mato sustentado por um conjunto de varas e, em Kostenki, no sul da Planície Russa,
encontraram-se moradias feitas de ossos de mamute. Tais construções, aliadas ao uso do
fogo, permitiram aos povos primitivos dispersarem-se além de seu lugar de origem tropical e
povoarem as terras mais frias da Europa e Ásia.

- Caça : Após 200.000 a.C / sem vestígio anteriores, podem ter sido feito ferramentas que
se degradam ou simplesmente a caça ser uma habilidade complicada de se
desenvolver, mais a segunda opção
[...]
Nos primórdios do Paleolítico, a última fase da Antiga Idade da Pedra (aproximadamente
35.000 a.C. na Europa), produziram-se ferramentas de pedra muito sofisticadas. Eram feitas de
lâminas estreitas de sílex, cuidadosamente moldadas para formar cabeças de arpão, facas e
outras ferramentas. Às comunidades também dispunham de uma gama extensa de artefatos
de osso e chifre, incluindo arpões farpados, anzóis, apitos de osso ou simples flautas. O
caçador não precisava mais ficar próximo à pressa, uma vez que arremessadores de arpão e
de arco e flecha permitiam acertar a presa com precisão mortal, mesmo à distância.
Neste período, a prática de enterrar cuidadosamente os mortos também se difundiu na
Europa, África, Ásia, e Austrália. A evidência de sepultamento intencionais e gravações em
objetos e paredes de cavernas e rochas que serviam de abrigo mostram uma vida cultural e
espiritual muito mais rica do que em qualquer estágio de desenvolvimento humano anterior.
Entre 100.000 e 10.000 a.C., seres humanos plenamente modernos povoaram todos os
continentes, exceto a Antártida. Seu sucesso derivou-se da capacidade de adaptar o estilo de
vida de caça e coleta a ambientes diferentes. Em algumas áreas, a adaptação foi tão
bem-sucedida que, durante muitos milênios, o estilo de vida pouco mudou. O sucesso dos que
faziam a caça e a coleta dependia de inteligência e destreza manual, bem como da capacidade
de trabalhar em conjunto e confiar uns nos outros. Por volta de 10.000 a.C., ao final da última
Idade de Gelo, uma das espécies de maior dispersão e sucesso no mundo era a do homem
moderno.
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O mundo da idade do Gelo

Por volta de 10.000 a.C., os seres humano modernos haviam povoado quase todo o
mundo então habitável, desde os úmidos trópicos até as bordas dos desertos áridos e vastas
geleiras avançavam e recuavam periodicamente, e floresta temperadas se alternavam com a
tundra congelada. Esse período -Pleistoceno- começou há cerca de 1,6 milhão de anos. Não
foi o primeiro episódio de clima frio na história: 35 milhões de anos atrás, um grande bloc de
gelo se formou na Antártida. As temperaturas caíram novamente entre 14 e 11 milhões de anos
atrás. Finalmente, grandes geleiras começaram a avançar pela América do Norte e Eurásia
setentrional há cerca de 3,2 milhões de ano.
[...]
A África, habitat original do homem primitivo, ficava longe do alcance das geleiras. Ainda
assim foi afetada pelas mudanças de clima ocorridas na Idade do Gelo. À medida que a
dilatação e a contração das calotas de gelo alternavam as temperaturas -com expansão dos
desertos em épocas frias e aumento das chuvas nas áridas savanas quando a temperatura
voltava a subir- o homem adaptava seu estilo de vida e utensílios. Por volta de 40.000 a.C.,
chuvas menos intensas deram origem a uma vegetação tropical reduzida e permitiram que os
grupos que faziam utensílios de pedra se estendessem pelas florestas tropicais. Inversamente,
nos séculos chuvosos de 20.000 a.C., habitantes do Magreb, que faziam arco e flecha,
povoaram o Saara anteriormente árido.
A capacidade de fazer e usar o fogo como proteção e fonte de calor foi importante na
adaptação a ambientes frios. O uso do fogo talvez já fosse conhecido na África há 1,5 milhão
de ano e certamente já era usado pelo habitantes da caverna Chou- K’ Outien na China
setentrional há 1 milhão de anos. No início do último avanço do gelo na Europa, por volta de
73.000 a.C., os musterianos, moradores das cavernas da Dordonha, com braseiros para
cozinhar, agulhas de osso e instrumentos para raspar e modelar peles, estavam bem
equipados para sobreviver ao inverno. Cada vez que o gelo se retraía, os povos europeus e
asiáticos cresciam e se desenvolviam.

● Povoamento da América

A água congelada reduziu o nível dos mares, formando pontes terrestres que ligavam as
principais áreas e inúmeras ilhas isoladas em um único continente. Em 50.000 a.C., pela
primeira vez alguns povos alcançaram Austrália a Tasmânia, atravessando um estreito braço
de mar. O Estreito de Bering, entre Ásia Oriental e Alasca, tornou-se uma estrada seca e
possibilitou a migração de povos e animais. Então, por algum tempo, as camadas de gelo da
América do Norte expandiram-se e fecharam a rota para o sul. Um corredor sem gelo abriu-se
outra vez em 12.000 a.C e os caçadores da Sibéria penetraram nas ricas terras de caças das
planícies americanas.

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Da caça ao cultivo da terra: as origens da agricultura
Porém o cultivo levou algumas espécies à completa dependência do homem. É o caso dos
cereais, os principais alimentos que sustentaram o crescimento populacional desde a última
Idade do Gelo. A produção dos cereais cultivados tornou possível o estabelecimento de
comunidades humanas maiores e pela primeira vez permitiu povoamentos que podem ser
descritos como vilarejos ou cidades. Como a produção vinha de uma área limitada, era
possível sustentar uma população crescente convertendo mais terras ao cultivo. E a
produtividade podia crescer graças a técnica intensivas, como a introdução de terraços em
encostas íngremes ou irrigação.
A agricultura intensiva requer alto nível de organização social e política, e existia uma
tendência natural para o desenvolvimento de sociedades mais complexas à medida que a
população crescia. Mas as origens reais da agricultura continuam pouco compreendidas.
Certamente, ao fim da última Idade do Gelo, as comunidades humanas tinham organização
social e tecnológica mais complexa do que antes, e estavam mais bem equipadas para
corresponder ao desafio das mudanças ambientais à medida que a geleiras derretiam, o nível
dos mares subia e as florestas voltavam a cobrir a paisagem. Seja qual for a razão, a mudança
fundamental no estilo de vida humano foi a maior confiança, em certas partes do mundo, na
plantação de cereais, abundantes no contrafortes das montanhas, e a seleção inconsciente de
certas variedades que podiam ser cultivadas nas terras baixas e tinham potencial nas colheitas.

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Antes das primeiras cidades: o Oriente Próximo de 8000 a 4000 a.C., originaram, pela primeira
vez, comunidades grandes e suficientemente permanentes para desenvolver uma arquitetura
de tijolo e pedra. Os restos destes vilarejos construídos de tijolo de barro -hoje formando
morros destacados, resultado de sucessivas reconstruções- são a característica comum de
uma paisagem de terras baixas, especialmente onde abundantes nascentes tornavam a área
privilegiada para povoamento. A maioria das línguas do Oriente Próximo dispões de uma
palavra para descrever estes antigos vilarejos: “tell”, em árabe; “huyuk”, em turco
Os primeiros sítios habitados não ficavam longe das serras, lugar de origem das
espécies selvagens de trigo e cevada. Todos estavam dentro do limite crítico de precipitação de
chuvas de 300 mm por ano, necessário para a agricultura, ou (o que era menos comum) em
oásis, onde na planície aluvial a lavoura era possível.

Maiores sítios
- Telles-Sulta (Jérico) no vale do Jordão
- Çatal Huyuk na planície central da Turquia

Embora estes dois sítios fossem os maiores da época, é duvidoso classificá-los como
cidades. E embora servissem como importantes centros regionais, eram predominantes
agrícolas. Tampouco há continuidade entre esses primeiros centros populacionais e os centros
administrativos e manufatureiros da civilização urbana posterior, construídos ao redor de um
templo, com elite culta e arquitetura monumental. Tal desenvolvimento foi possível graças
apenas às técnicas agrícolas intensas introduzidas nos milênios subsequentes.
[...]
Mas, nos 5° e 4° milênios, permitiu a colonização de regiões áridas, antes fora do
alcance das comunidades agrícolas. Em consequência, inúmeros pequenos povoados
surgiram às margens da planície fluvial da Mesopotâmia, área de enorme potencial agrícola,
mas escassa de matérias-primas com madeira e pedra dura para utensílios e armas. Era
preciso suprir os novos povoamentos de materiais básicos que só podiam ser obtidos em áreas
elevadas e distantes. Isso requeria alto nível de organização social e econômica. Sob tal
pressão, os primeiros vilarejos agrícolas da Mesopotâmia começaram a caminhar para a
urbanização. A religião desempenhava papel preponderante e centros religiosos regionais
deram lugar a unidades administrativas baseadas em templos. Sítios como Eridu, na
Mesopotâmia meridional, produziram culturas urbanas letradas no fim do 4° e no 3° milênio,
originando o padrão clássico das civilizações do Oriente Próximo.
Neste período formativa surgiu a metalurgia do cobre. Embora a princípio o metal
tivesse significado prático limitado, passou a desempenhas papel cada vez mais importante; e
a experiência de trabalhar o cobre levou ao conhecimento das propriedades de outros
materiais.
[...]
Como a tecnologia das primeiras aldeias já envolvia o uso controlado do calor, para
queimar cerâmica e assar pão em fornos de tijolos, a combinação de matéria-prima e da
habilidade prática propiciou ao homem meio adequado para as primeiras experiências em
metalurgia. Mas só no 5° milênio desenvolveram-se técnicas eficazes de fusão e foi possível
fabricar pontas de lança fundida, machados e similares. Armas, símbolos hierárquicos e
objetos de culto foram os primeiros produtos da nova tecnologia, seguidos mais tarde por
artefatos de uso prático.

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