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INSTUTUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANA

LICENCIATURA EM DIREITO

Impacto Jurídico dos casamentos prematuros: Caso Distrito de Rapale, Posto


Administrativo de Mutivaze (2016 - 2018).

Santana António Huate

ISCED

Nampula, 2020
INSTUTUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADA

Impacto Jurídico dos casamentos prematuros: caso Distrito de Rapale, Posto


Administrativo de Mutivaze (2016-2018).

Monografia científica apresentada ao


Departamento de Ciências Sociais e Humana,
Centro de Recurso de Nampula, como Requisito
Parcial para a Obtenção de Grau de Licenciatura
em Direito.

O Candidato O Supervisor

_________________________ ________________________

Santana António Huate. Dr. Augusto Azevedo Paulo Da Graça

Nampula, 30 de Janeiro de 2020


ÍNDICE

DECLARAÇÃO DE HONRA ......................................................................................................... i

AGRADECIMENTOS .................................................................................................................... ii

DEDICATÓRIA.............................................................................................................................iii

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................... iv

LISTA DE TABELA ...................................................................................................................... v

RESUMO ....................................................................................................................................... vi

CAPITULO I ........................................................................................................... 1
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1

1.1 Contextualização .............................................................................................................. 3

1.2 Localização Geográfica do Distrito de Rapale ................................................................. 3

1.3 Problema de Estudo .......................................................................................................... 3

1.3.1 Formulação de problema ........................................................................................... 3

1.4 Objectivos ......................................................................................................................... 4

1.4.1 Objectivo Geral ......................................................................................................... 4

1.4.2 Objectivos específicos ............................................................................................... 4

1.5 Hipóteses do Trabalho ...................................................................................................... 5

1.6 Justificativa ....................................................................................................................... 5

1.7 Delimitação do tema ......................................................................................................... 6

1.8 Limitações do trabalho ..................................................................................................... 7

CAPITULO II .......................................................................................................... 8
2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................... 8

2.1 Fundamentação teórica ..................................................................................................... 8

2.2 Ritos de iniciação.............................................................................................................. 8

2.2.1 Ritos Pré - liminares .................................................................................................. 8

2.2.2 Período de Margem ................................................................................................. 10


2.2.3 Ritos Pós - Liminares .............................................................................................. 14

2.2.4 Importância dos Ritos de Iniciação ......................................................................... 15

2.2.5 Vantagens e Desvantagens dos Ritos de Iniciação .................................................. 15

2.2.6 Conceituação Básica ............................................................................................... 15

2.3 Violação de Direitos Humanos por Meio de Casamento Prematuro .............................. 16

2.4 Casamento e Seus Efeitos ............................................................................................... 17

2.4.1 Breve Historial da Evolução do Casamento ............................................................ 17

2.4.2 A Promessa do Casamento ...................................................................................... 18

2.4.3 A Natureza Jurídica do Casamento ......................................................................... 19

2.4.4 Pressuposto de Existência do Casamento................................................................ 20

2.4.5 Validade do Casamento ........................................................................................... 20

2.4.6 Capacidade Matrimonial ......................................................................................... 21

2.4.7 O Consentimento ..................................................................................................... 22

2.4.8 Casamento Urgente ................................................................................................. 23

2.4.9 Nulidade do Casamento .......................................................................................... 23

2.4.10 Regime de Nulidade ................................................................................................ 23

2.4.11 Causas de Nulidade ................................................................................................. 24

2.5 Fundamentação Empírica ............................................................................................... 25

2.5.1 Casamentos Prematuros .......................................................................................... 25

CAPITULO III ...................................................................................................... 26


3 METODOLOGIA DO TRABALHO .................................................................................... 26

3.1 Desenho Metodológico ................................................................................................... 26

3.2 Tipos de Pesquisa ........................................................................................................... 26

3.2.1 Quanto aos Objectivos ............................................................................................ 26

3.2.2 Quanto Abordagem ................................................................................................. 26

3.3 Os instrumentos ou Técnicas de Colecta de Dados ........................................................ 27

3.3.1 Entrevista ................................................................................................................. 27

3.3.2 Questionário ............................................................................................................ 27


3.3.3 Universo e Amostra da Pesquisa ............................................................................. 28

3.4 Técnica de Análise de Dados.......................................................................................... 28

CAPÍTULO IV ...................................................................................................... 29
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................ 29

4.1 Organização de Dados .................................................................................................... 29

4.2 Interpretação de Dados do Questionário e da Entrevista Dirigida aos Anciãos, Chefes


Locais e aos Adolescentes iniciados Respectivamente. ............................................................ 29

CAPITULO V ........................................................................................................ 36
5 CONCLUSÕES, CONSTATAÇÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................ 36

5.1 Conclusões ...................................................................................................................... 36

5.2 Constatações ................................................................................................................... 37

5.3 Recomendações .............................................................................................................. 38

CAPÍTULO VI ...................................................................................................... 39
6 Referencias bibliográficas ...................................................................................................... 39

6.1 Legislações recomendadas ............................................................................................. 40

6.2 Glossário ......................................................................................................................... 41

Apêndices ...................................................................................................................................... 42

Anexos ........................................................................................................................................... 45
DECLARAÇÃO DE HONRA

Santana António Huate, filho de Domingos Santana Huate de Martina Paulino Como
Como, nascido em 30 de Abril de 1980, natural de Maputo, Distrito Municipal Ka – Tembe,
Província de Maputo, juro por minha honra, que o presente trabalho é da minha autoria
e é original, excepto as citações e as referencias e resulta de uma pesquisa por mim
realizada, com vista a compilação deste trabalho do fim do curso, para a obtenção do
grau de licenciatura em Direito, pelo Instituto Superior de Ciências e Educação à
Distância.

O Autor
________________________________
/Santana António Huate/

i
AGRADECIMENTOS

Um agradecimento especial aos meus pais, minha esposa, meus filhos e irmãos por sempre me
terem acompanhado e apoiado inteiramente e acreditado em mim. Agradeço com especial apreço
ao dr. Augusto Azevedo Paulo Da Graça pela sua orientação do tema, ajuda prestada e interesse
nesta pesquisa, pela sua disponibilidade, partilha de conhecimento, experiência científica e pelas
críticas e conselhos na elaboração do presente trabalho. Em particular ao Domingos Alberto, pelo
apoio prestado, pela sua disponibilidade e interesse mostrado em ajudar a realizar este trabalho.
Aos meus amigos de sempre quero agradecer pelo companheirismo e diversão nos momentos de
maior tensão, pelo incentivo e amizade de longa data. Gostaria de agradecer a todos que, directa
ou indirectamente, me ajudaram na realização deste projecto, proporcionando – me conhecimento
e crescimento profissional e pessoal. Por fim, agradeço aos meus colegas de curso os bons
momentos passados, as inúmeras experiências, conversas e diversões partilhadas.

ii
DEDICATÓRIA

A minha esposa (Elisa Petrosse Dlate) e aos meus filhos, pelo sacrifício e aconselhamento e
dedicação para o alcance do objectivo de obter o Grau de Licenciatura em Direito. Aos meus Pais,
e Irmãos.

iii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: ilustra adolescentes no final dos ritos de iniciação. ....................................................... 46


Figura 2: ilustra um casal de adolescentes. ................................................................................................ 47

iv
LISTA DE TABELA

Tabela 1: Número de Participantes. .............................................................................................. 29

v
RESUMO

O presente trabalho tem como tema, Impacto Jurídico dos casamentos prematuros na
Província de Nampula: caso Distrito de Rapale, Posto Administrativo de Mutivaze (2016-
2018), visto que o casamento prematuro é endémico em Moçambique, o que quer dizer que, o
casamento prematuro é revelador da discriminação existente e, acima de tudo, da discriminação
na maneira como as famílias e as sociedades tratam as meninas e os meninos. A desigualdade no
tratamento manifesta-se na desproporcionalidade no nível de atenção e investimento entre crianças
dos dois sexos na saúde, na nutrição e na educação. As meninas enfrentam normalmente
enquadramento legal aplicável a Moçambique em relação ao casamento prematuro e a sua
incidência, e discutir uma tentativa de criminalizar os implicados. É neste contexto que se torna
importante, que as referências elencadas no ordenamento jurídico moçambicano sejam
disseminadas na comunidade como referências para o exercício de direitos de cidadania e,
consequentemente, para protecção dos direitos das crianças. Em suma, Moçambique assumiu o
compromisso de adequar as normas de direito interno às da Convenção, para salvaguardar e
promover eficazmente os direitos e liberdades neles consagrados. A partir deste vínculo jurídico
ratifica a Convenção dos Direitos da Criança, instrumento que enuncia um amplo conjunto de
direitos os direitos civis e políticos, sociais e culturais de todas as crianças, bem como as
respectivas disposições para que sejam aplicados. Por outro lado, ao considerar a dimensão que
envolve o género, como indicador do carácter social das diferenças baseadas no sexo, concluiu-se
que associação do género à categoria criança e infância permite perceber que, em Moçambique
como em outras sociedades de ideologia patriarcal, as crianças são consideradas culturalmente
inferiores e posicionam-se na base da hierarquia social.
O casamento prematuro é, por isso, justificado a partir do processo de socialização, assumindo o
marco de integração da rapariga ao grupo (família e comunidade a que pertence).

Palavras-chave: Ritos de Iniciação, Direitos humanos, Casamento Prematuro.

vi
Abstract

The present work has as its theme, Legal Impact of Premature Marriages: the Rapale District case,
Posto Administrativo de Mutivaze (2016-2018), since premature marriage is endemic in
Mozambique, which means that premature marriage reveals the existing discrimination and, above
all, discrimination in the way families and societies treat girls and boys. Inequality in treatment
manifests itself in the disproportionality in the level of care and investment between children of
both sexes in health, nutrition and education. Girls typically face more deprivation and lack of
opportunities. This text intends to review the legal framework applicable to Mozambique in
relation to premature marriage and its incidence, and to discuss an attempt to criminalize those
involved. It is in this context that it is important, that the references listed in the Mozambican legal
system are disseminated in the community as references for the exercise of citizenship rights and,
consequently, for the protection of children's rights. In short, Mozambique has undertaken to adapt
the rules of domestic law to those of the Convention, in order to effectively safeguard and promote
the rights and freedoms enshrined therein. Based on this legal bond, the Convention on the Rights
of the Child ratifies, an instrument that enunciates a wide range of rights to the civil, political,
social and cultural rights of all children, as well as the respective provisions for their application.
On the other hand, when considering the dimension that involves gender, as an indicator of the
social character of differences based on sex, it was concluded that the association of gender with
the category child and childhood allows us to realize that, in Mozambique, as in other societies
with a patriarchal ideology, children are considered culturally inferior and position themselves at
the bottom of the social hierarchy. Premature marriage is, therefore, justified from the socialization
process, assuming the framework of integration of the girl into the group (family and community
to which she belongs).

Keywords: Human rights, Girl, Premature Marriage.

vii
CAPÍTULO I

1 INTRODUÇÃO

A presente monografia subordina-se ao tema: Impacto Jurídico dos casamentos


prematuros na Província de Nampula: caso Distrito de Rapale, Posto Administrativo de
Mutivaze (2016-2018), com propósito de pesquisar, colher, e compilar dados
referentes ao tema acima representado, que surge no momento em que numa das suas
viagens feitas ao Distrito de Rapale tenha se deparado com adolescentes ainda em idade
escolar que estavam a viver maritalmente, com pessoas idosas e as consequências, desde a
gravidez precoce à fistula obstétrica, passando por doenças de transmissão sexual e a mortalidade
materna, facto este em que caso não sejam tomadas as medidas de forma as por fim os casamentos
prematuros, poe em causa as gerações vindouras em especial na rapariga e ainda, surge no âmbito
de refinamento para elaboração da monografia para o curso de licenciatura em direito ISCED,
Delegação de Nampula (2016-2018).

Pretende-se com este tema, o objectivo geral: analisar os ritos de iniciação que influenciam o
surgimento de casamentos prematuros, quanto aos objectivos específicos, visa: Analisar até que
ponto os ritos de iniciação influenciam nos casamentos prematuros, descrever a importância de
ritos de iniciação em consonância com legislação da família em Moçambique e identificar as
vantagens e desvantagens dos ritos de iniciação, discutir sobre casamento prematuro e o seu
impacto Jurídico como uma das expressões pouco percebida de abuso sexual e da violação dos
direitos sexuais e reprodutivos da rapariga. Através da análise documental e de depoimentos das
vítimas inqueridas e representantes das Instituições que actuam na área dos direitos da criança, e
também identificar áreas e mecanismos para a realização de acções estratégicas que, a longo prazo
inibam esta prática, tendo em conta que o casamento prematuro é uma das piores formas de
violência contra meninas. Mais da metade das meninas se casam antes da idade legal, ou seja,
antes de 18 anos. Embora essa forma de casamentos seja ilegal, os seus autores dificilmente são
levados à justiça. O governo tem-se preocupado com a situação nas últimas décadas.

Espera-se que o resultado do cruzamento das percepções dos inqueridos sobre esta
prática com as normas jurídicas fundamentais pelas convenções internacionais e
políticas, que visam proteger e promover os direitos das crianças, sejam mobilizados
os actores no sentido de promoção da saúde sexual e reprodutiva da rapariga, para que tal
mobilização se efective, torna-se pertinente que, os direitos humanos da rapariga sejam abordados
de forma clara, integrando aspectos específicos na abordagem de género.
O autor considera o estudo ser de grande importância, na medida em que através desta pesquisa,
1
poderá despertar atenção a camada jovem em especial aos adolescentes, a apostarem mais na vida
estudantil em vez de casamentos, por já se considerarem adultos após os ritos de iniciação e
salientar que a problemática dos casamentos , é grande preocupação na sociedade civil, bem como
no governo, ao assumirem casamentos ainda em idade escolar, o que consequentemente contribui
em grande medida para o empobrecimento do país, porque põem em causa aqueles que seriam os
futuros quadros do país e o pesquisador na qualidade do futuro quadro superior em Direito, tem a
referir que há necessidade de se criar medidas de modo a acautelar futuras situações em análise.

A entrevista, o questionário e análise documental, constituirão os instrumentos de colecta de dados


deste estudo.

Na metodologia, irá se usar a pesquisa do tipo explicativo quanto aos objectivos e qualitativo
quanto à abordagem, de forma a compreender a questão dos ritos de iniciação, que tem
influenciado de forma significativa nos casamentos prematuros.

Quanto aos sujeitos alvos desta pesquisa, 60 sujeitos, constituirão o universo desta
pesquisa, dentre eles 4 anciãos, 2 chefes locais e 54 adolescentes. A revisão bibliográfica serviu
para concretização do presente estudo.
De salientar que a monografia obedece a seguinte estrutura: No que tange ao capitulo I, abordar-
se-á a contextualização, do distrito de Rapale (Posto Administrativo de Mutivaze), por ser o local
da preferência para o estudo e ao mesmo tempo o local onde confrontou situações de casamentos
prematuros que é objecto do presente estudo e far-se-á alusão sobre a sua localização,
problematização, objectivos gerais e específicos, hipóteses do trabalho, justificativa, delimitação
do tema e limitação do trabalho. Em diante encontramos o capitulo II, onde se fará alusão de dois
tópicos, mas que para o presente estudo importa saber que é a fundamentação teoria e empírica.

No capítulo III, expõe-se sobre a metodologia do trabalho, onde vai abordar o desenho da pesquisa,
as técnicas adoptadas para colecta de dados e para sua análise.
No capitulo IV, Expõe-se o estudo propriamente dito, onde irá se fazer a organização de dados,
interpretação de dados do questionário e da entrevista dirigida aos anciãos, chefes locais, bem
como aos adolescentes iniciados. No capítulo V, é aqui onde o pesquisador irá fazer as
considerações finais do presente estudo. No capítulo VI, o pesquisador terá a oportunidade de dar
as suas recomendações em conformidade com que tenha confrontado durante a pesquisa.

No último capítulo, que é o VII, apresentar – se – á aquilo que o pesquisador considera


força motriz do trabalho, que são as referências bibliográficas para a realização do
presente trabalho, sem deixar de lado os apêndices e os anexos.

2
De referir que o tema em apreço, foi uma forma encontrada pelo pesquisador para
chamar a consciência do governo moçambicano, bem como a sociedade em geral de modo
encontrar mecanismos para estancar ou evitar esta grave violação dos direitos humanos na medida
em que se submete a rapariga iniciada aos casamentos prematuros ou considera-se livre a vida
sexual.

Para finalizar, o pesquisador pretende com a presente pesquisa, despertar atenção aos
adolescentes, em especial a rapariga, onde através desta pesquisa, sirva de advertência para as
possíveis consequências que possam advir aos adolescentes, em especial a rapariga ao submeter-
se aos casamentos antes que esteja preparada para o efeito e os consequentes casamentos
prematuros.

1.1 Contextualização
Neste capítulo iremos fazer a descrição de um dos distritos da Província de Nampula, Rapale,
concretamente no Posto Administrativo de Mutivaze, a sua localização geográfica que é ao mesmo
tempo um local escolhido para o presente estudo. Com ponto de partida, o pesquisador achou
pertinente situar de princípio ao leitor.

1.2 Localização Geográfica do Distrito de Rapale


É um distrito da Província de Nampula, em Moçambique, como sede na Povoação de Rapale. Tem
limite, ao norte com os distritos de Muecate e Mecuburi, a oeste com distrito de Ribaué, a sudoeste
com o distrito de Murrupula, a sul com o distrito de Mogovolas e a leste com o distrito de Meconta.

1.3 Problema de Estudo


Tomando em consideração que problema é uma questão de ponto de partida, podemos nos apoiar
na definição de GIL (2008), o qual define como qualquer questão não resolvida e que é objecto de
discussão em qualquer domínio de conhecimento. O casamento prematuro é um dos problemas
mais graves do desenvolvimento humano em Moçambique, mas que ainda é largamente ignorado
no âmbito de desenvolvimento que o país persegue, requerendo por isso uma maior atenção dos
decisores políticos.

1.3.1 Formulação de problema


Segundo o termo da lei da família n°22/2019 de 11 de Dezembro de 2019 no artigo 32, (Família
proíbe o casamento antes dos 18 anos de idade). O país encontra – se entre os países que ao nível
mundial, apresentam um maior número destes tipos de uniões forçadas. Várias
acções têm sido levadas a cabo pelo Governo em coordenação com a sociedade civil e
Instituições Religiosas. Entretanto, constitui desafio de todo o reforço das acções de
consciencialização dos vários sectores da sociedade, incluindo as famílias, as crianças,

3
os líderes tradicionais, religiosos, comunitários e das acções para a redução da
vulnerabilidade das famílias como forma de contribuir para o empoderamento da
rapariga e eliminação dos casamentos prematuros. Nesta ordem de ideia coloca – se como
questão de partida:

✓ Quais são os factores que motivam a ocorrência dos casamentos prematuros?

1.4 Objectivos
Segundo o dicionário Aurélio objectivo significa um fim a atingir, uma meta de pesquisa,
propósito de pesquisa, ou seja, é a finalidade de um trabalho de pesquisa, que indica o
que o pesquisador vai desenvolver.

Para Marconi & Lakatos (2002, p.24) “toda pesquisa deve ter um objectivo determinado para saber
o que se vai procurar e o que se pretende alcançar.” Definir objectivos de pesquisa é um requisito
para desenvolver uma pesquisa científica. É necessário ser claro, preciso e coerente com o tema
de pesquisa, pois ele apresenta os motivos para o desenvolvimento da pesquisa, informando assim,
as contribuições que os resultados produzirão.

Os objectivos de uma pesquisa têm o papel de nortear, pois direcionam a leitura do


texto, bem como, permite entender o que o pesquisador fez em seu trabalho. Segundo
as autoras (2002) os objectivos tornam claro o problema de pesquisa, possibilitando ao
pesquisador aumentar seus conhecimentos sobre o assunto ou tema tratado.
Com isto, o presente trabalho desdobra os seguintes objectivos:

1.4.1 Objectivo Geral


A pesquisa tem como objectivo geral fazer uma análise jurídica e rever até que ponto os ritos de
iniciação influenciam nos casamentos prematuros no distrito de Rapale, caso Posto Administrativo
de Mutivaze (2016 – 2018). Trazer em evidência os direitos violados no processo de casamento
prematuro e compreender os factores que influenciam os mesmos.

1.4.2 Objectivos específicos


Especificamente, pretende-se:

✓ Analisar até que ponto os ritos de iniciação influenciam nos casamentos prematuros;
✓ Descrever a importância de ritos de iniciação em consonância com a legislação da família
em Moçambique e identificar as vantagens e desvantagens dos ritos de iniciação;
✓ Descrever os casamentos prematuros;
✓ Identificar as motivações que levam as crianças a casarem cedo;
✓ Fazer levantamento bibliográfico, buscando fundamentação teórica sobre casamento
prematuro e o seu Impacto Jurídico.
4
1.5 Hipóteses do Trabalho
Nesta parte do trabalho, apresentar – se – á as hipóteses que vão ser utilizadas na
investigação tendo em conta que as Hipóteses são as possíveis soluções do problema
da pesquisa.

Para Bello (2005) hipótese é sinónimo de suposição, uma afirmação que tenta responder ao
problema levantado pelo tema escolhido para pesquisa.

Segundo Gil, (1991:35),” Hipótese consiste em fornecer uma solução possível, ou seja,
de uma expressão susceptível de ser declarada verdadeira ou falsa”.

MARCONI e LAKATOS (2002:28) “ Hipótese é uma suposição que se faz na tentativa de


verificar, verdade de resposta existente a um problema.

Para esta pesquisa, formulou – se as seguintes hipóteses:

✓ Baixo nível de escolaridade;


✓ A pobreza;
✓ Factores sócios – culturais (ritos de iniciação).

1.6 Justificativa
Segundo GIL apud IVALA, (2007:15), “Justificativa trata – se de apresentação inicial da
pesquisa”.
Segundo MARCONI e LAKATOS apud IVALA, (2007:22) “justificativa é o único item da
pesquisa que apresenta resposta a questão porque”

A motivação para este estudo surge, pelo facto de o pesquisador ter se deparado com maior número
de adolescentes numa viagem feita ao distrito de Rapale, muito mais nas raparigas, ainda em fase
escolar, terem abandonado escola para se juntarem as pessoas mais velhas ou mesmo rapazes sem
capacidade de responder por si, isto é, sem condição mínima para responder as possíveis
consequências que possam advir da união conjugal. O pesquisador emocionou – se ainda ao se
aperceber que a maior parte dos adolescentes em fase escolar, em especial a rapariga, após os ritos
de iniciação já podem viver como casados e a comunidade local acha disto como algo normal, e é
aceite pela comunidade daquele canto do país, sem ter em conta as consequências que estas
raparigas sofrem, dai que suscita a presente pesquisa.

A realização desta pesquisa é justificada pelo facto de estar inserido num meio cujo
casamentos prematuros tendem a elevar e tentar trazer os direitos das crianças
violados com o casamento prematuro. Compreender as causas dos casamentos
prematuros e as respectivas intervenções dos próprios pais, tornando necessária a

5
adopção de medidas preventivas para a diminuição desses casos. Toda a pesquisa
visa resolver um determinado problema, devendo trazer um contributo valioso, por isso esta
pesquisa vai contribuir na consciencialização das comunidades em geral, em particular das
raparigas, sobre a necessidade de estancar e/ou reduzir os casamentos prematuros.
Com esta pesquisa pretende – se também rever o enquadramento legal aplicável em
Moçambique em relação ao casamento prematuro e a sua incidência, e discutir uma
tentativa de criminalizar os implicados num caso de casamento prematuro (pai, mãe e o homem a
quem foi entregue a criança), e perceber o papel que desempenha as
autoridades comunitárias na prevenção desses factos e os conhecimentos obtidos nas várias
cadeiras tidas ao longo do curso que criaram o desejo de compreender os
aspectos ligados aos “casamentos prematuros” através da conciliação da teoria e a
prática (realidade) em que nos encontramos de modo que as lacunas encontradas ao longo dos
estudos sejam ultrapassadas.

Mas também, na tentativa de poder contribuir com um manancial de conhecimentos


para a sociedade, a camada intelectual (estudantil) acerca do papel desempenhado
pelos Juristas nas sociedades, nos assuntos sociais como os casamentos prematuros.

1.7 Delimitação do tema


O presente estudo tem como o local da pesquisa a Província de Nampula em destaque ao distrito
de Rapale concretamente no Posto Administrativo de Mutivaze, que dista a 60 km da cidade de
Nampula, e subordina-se ao tema: “impacto jurídico dos casamentos prematuros no Distrito de
Rapale concretamente no Posto Administrativo de Mutivaze, no período compreendido entre 2016
a 2018”.

A pesquisa recai neste espaço temporal, porque foi neste intervalo em que o
pesquisador na qualidade de um homem vem notando casos de raparigas em
particular no Posto Administrativo de Mutivaze que na sua fase escolar após a
submissão aos ritos de iniciação já aberto a vida sexual e a consequente vida
conjugal, o que directa ou indirectamente tende violar os direitos da criança. E ao
mesmo tempo os mentores dessas gravidez das raparigas são impunes por se considerar esta prática
algo normal.

A monografia é composta por sete (7) capítulos, o primeiro é a introdução cujo neste capítulo faz
– se a contextualização do impacto jurídico dos casamentos prematuros, colocação do problema,
assim como a justificativa da relevância do tema.

6
O segundo capítulo é a revisão da literatura, está reservado para este capítulo a abordagem dos
ritos de iniciação e impacto jurídico dos casamentos prematuros.

O terceiro capítulo está reservado a metodologia do trabalho, fala – se do desenho da pesquisa;


tipo de pesquisa; método de pesquisa; técnica de colecta de dado; amostragem e técnica de análise
de dados.

O quarto capítulo apresenta análise e interpretação dos dados colectados, nele se apresenta os
dados relativos à observação, entrevista dos iniciados, anciãos, chefes locais e a população em
geral. Os dados aqui apresentados resultam das entrevistas feitas no âmbito de processo de colecta
de dados no campo. O quinto capítulo são as considerações finais. O sexto capitulo é das
recomendações e finalmente o último capítulo apresentam – se a bibliografia, glossário, anexos e
apêndices.

1.8 Limitações do trabalho


O pesquisador tem a lamentar profundamente porque pese embora a questão dos
casamentos prematuros é um caso que vem se debatendo constantemente nas mídias com intuito
de desencorajar, mas mesmo assim em diversos cantos da província de Nampula, concretamente
no distrito de Rapale, ainda encontra – se pais que contribuem para o índice da prevalência dos
casamentos prematuros. Neste contexto, o pesquisador, no momento da colheita de informação
necessária para elaboração e compilação deste estudo, encarou dificuldades por que segundo os
nativos daquele ponto de estudo em particular os anciãos bem como os iniciados recusavam – se
a dar informação em estudo alegando ser “MALAVI (Tabú)”. Em que após várias horas de diálogo
com os mesmos, na tentativa de convencer que a informação só será aproveitada para um estudo
científico para obtenção de grau académico de licenciatura no ensino superior, que mesmo assim
para a deliberação de tal informação teve como condição para alguns anciãos assim como alguns
iniciados, a disponibilidade de certos valores monetários, mas mesmo assim, registamos muita
restrição da informação, daí a razão da limitação levantada nesta pesquisa. Com a pesquisa
pretende-se reunir, de forma sucinta, as ideias fundamentais subjacentes à elaboração da
Monografia para a conclusão da Licenciatura. Torna – se pertinente, desde já, apresentar e
justificar o tema escolhido e a metodologia de investigação mais sugestiva para esquematizar o
trabalho da Monografia. Não sendo muito abstracto apoiando – se de Lakatos & Marconi (1992)
citado por Ivala (2007), “Tema é o assunto que se deseja provar ou desenvolver, pode surgir de
uma dificuldade prática enfrentada pelo coordenador, da sua curiosidade científica, de desafios
encontrados na leitura de outros trabalhos ou própria teoria”.

A partir da elocução do autor a pesquisa assenta – se no tema seguinte: Impacto Jurídico dos
casamentos prematuros (estudo de caso Distrito de Rapale, Posto Administrativo de Mutivaze).
7
CAPITULO II

2 REVISÃO DA LITERATURA
Neste capítulo as discussões privilegiam a orientação teórica e conceptual da pesquisa. No ponto
inerente a teoria discute – se as abordagens referentes aos ritos de iniciação, direitos humanos e
casamentos prematuros no distrito de Rapale, elencado pelos autores devidamente citados nesta
monografia.

2.1 Fundamentação teórica


Segundo um dos anciãos entrevistado diz que ritos de iniciação é a passagem de um individuo da
fase inicial da vida para a fase adulta independentemente da idade. Para um dos iniciados afirma
que os ritos de iniciação é uma fase importante da vida, pois tira a pessoa da fase infantil para fase
adulta.

A sociedade macua socializa a passagem da adolescência para o estado adulto, para ambos os
sexos, havendo ritos próprios para os rapazes chamados “MASOMAS” e os ritos para as raparigas,
chamados “EMWALI”, nestes existem ritos para iniciação feminina, em que estes diferenciam –
se a dos rapazes. Até a realização de “EMWALI” a rapariga fica estritamente ligada a mãe, num
ambiente total de confiança e liberdade. (MARTINEZ 2009:93), “EMWALI” realiza – se em
várias etapas bem definidas, separadas, entre si por longos períodos de tempo, pelo que podemos
falar de um amplo processo de inscrição, assinalados ritos mais importantes.

Na iniciação dos jovens “MASOMA” o significado global da iniciação está presente na mente do
povo macua e exprime – se em bastantes fazes e cada uma delas com subfases.

2.2 Ritos de iniciação


Dizer que ambos os ritos comportam três (3) fases nomeadamente: pré – liminares, período de
margem e pós – lineares; neste estudo trataremos separadamente cada uma das respectivas
iniciações. (MARTINEZ 2009:115).

2.2.1 Ritos Pré - liminares


De acordo com (MARTINEZ 2009:117); nas raparigas os ritos preliminares femininos
“EMWALI” não se observa nenhuma fase em quanto que nos rapazes, “MASOMA” obedece duas
fazes que são preparação e tempo de dança chamado “NTATONTO”. Os ritos de iniciação
feminina “EMWALI” não é necessariamente obrigatório que tenha tido a menstruação, por vezes
juntam – se as meninas que não tiveram a primeira menstruação com outras já menstruadas, nesse
caso, durante a instrução “IKANO” são divididas em dois grupos.

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A primeira menstruação “NTTHUPU” que recebe o nome ritual de abrir “OHULA”, de facto com
as primeiras regras começam os ritos de iniciação feminina. Durante o encontro nocturno as
mestres procuram ensinar a rapariga os conhecimentos necessários para esta nova etapa da sua
vida.

Os ensinamentos consistem, fundamentalmente, no seguinte:

✓ Explicação sobre o fulcro fisiológico da menstruação e sobre cuidados higiénicos que a


jovem deve ter dai em diante;
✓ Como se deve comportar com outras pessoas da comunidade, durante a menstruação não
pode falar com homens, deve respeitar todos os adultos de modo particular as mestras de
iniciação;
✓ A forma de vestir, a rapariga não deve usar a mesma roupa todos os dias;
✓ Quanto a alimentação, deve abster – se de certos alimentos como ovos “ NOTXE”
e o peixe “MUCOPO”, devem comer papas de milho “ETXIMA” mal cozidas com
folhas de mandioca e feijão;
✓ Trabalhos caseiros, preparação da comida, limpeza e cuidados da casa;
✓ A proibição de relações sexuais: tratando-se de uma rapariga já casada, ficam
proibidas as relações sexuais durante o tempo de iniciação.

A partir desse momento vive um clima de segregação social. Passará todo esse tempo em sua casa
com sua mãe, e neste intervalo ela deve prestar atenção aos sonhos porque serão interpretados,
podendo ser sorte ou desgraça.

Em quanto que nos ritos de iniciação masculina “MASOMA” contem:

2.2.1.1 Preparação
Os rapazes dos 8-12 anos, os seus responsáveis discutem o problema entre si e apresentam aos
chefes locais, e este anuncia oficialmente a celebração dos ritos de iniciação (MATINEZ 2009:96).

2.2.1.2 Tempo de dança, chamado NTATONTO


O período de dança “NTATONTO” é a fase preliminar do conjunto dos ritos que dura duas ou três
semanas e termina no dia em que tudo esta preparado para o inicio da celebração, durante este
tempo prepara-se o lugar onde decorrerão os ritos.

As palhotas dos iniciados, os instrumentos, os remédios necessários, a comida e tudo aquilo que
possa ser útil (MARTINEZ 2009: 97).

9
2.2.2 Período de Margem
2.2.2.1 Período de margem masculina
Neste período de margem as duas partes: masculina “MASOMA” e feminina “EMWALI” ambas
tem suas subfases:

2.2.2.1.1 Inauguração da iniciação


A inauguração da iniciação começa com o corte de cabelo (OMETXHA) como sinal de
entrada do jovem no período liminar, é a mãe é encarregada de cortar o cabelo do
iniciado. O sacrifício tradicional (MUKUTTHO) aos antepassados oferece um pouco de farinha e
a mesma põe – se nas cabeças dos iniciados.

Na comunidade os familiares continuam com a festa da inauguração da iniciação que é continuação


lógica do sacrifício tradicional. No fogo novo, os iniciados passam a noite sentados a volta da
fogueira, celebrando o começo da iniciação. (MARTINEZ 2009: 97-98)

2.2.2.1.2 O acampamento
Na marcha para o acampamento “NVERA” construídos com antecedência num lugar
escondido na mata, de madrugada os iniciados “ALUKHO” são acompanhados pelos
chefes de família.

Os remédios para a iniciação ficam no centro das instalações do acampamento e é


chamado “NTHUTO”, os remédios tem o nome simbólico de rabo “MILA”. Durante a
realização nenhuma mulher se pode aproximar do acampamento, é uma proibição
tradicional “MWIKHO” que as mulheres devem observar escrupulosamente, e neste
período as mulheres não terão relações sexuais nem usar adornos corporais. (MARTINEZ 2009:1
00).

2.2.2.1.3 A circuncisão
Cada iniciado “LUKHU” acompanhado pelo seu padrinho “POSIYE”, aproxima – se desse mesmo
lugar; quando todos os rapazes se encontram junto dos chefes locais, estes indicam – lhe com a
vara o lugar para onde devem dirigir, correndo com os seus padrinhos. Durante o percurso os
cantores gritam e cantam ao som do tambor e o padrinho tapando – lhe os olhos com a mão para
que o adolescente não veja nada e não dê conta da própria operação.

As gotas de sangue que caem são recolhidas num recipiente e utilizada posteriormente na
preparação de uma comida ritual. O padrinho consola o jovem de tanta dor dizendo que o pior já
passou e que não deve chorar neste momento deixou de ser criança está a se tornar adulto, e os
adultos não desanimam diante de nenhum sofrimento da vida. (MARTINEZ 2009:101).

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De acordo com (MARTINEZ 2009:102 – 103); as proibições “MWIKHO”, os ritos de iniciação
devem observar as seguintes proibições durante o tempo de iniciação:

✓ Não podem tomar banho nem lavar – se, com excepção dos banhos rituais;
✓ Não podem usar a roupa que usam ordinariamente, de facto, vestem-se farrapos e andam
quase nus;
✓ Tem de se abster de comer alimentos preparados por mulher, com excepção da comida do
último dia, que é preparada e enviada aos acampamentos pelas respectivas mães;
✓ O que comem durante o período de iniciação é preparado no acampamento;
✓ Não podem afastar – se do acampamento;

Os pais dos iniciados também são obrigados a observar algumas prescrições rituais:

✓ Não podem tomar banho durante o tempo de iniciação;


✓ Não devem vestir – se com elegância nem usar roupa boa;
✓ Não podem pentear – se;
✓ Não podem manter relações sexuais durante todo o tempo que dura a iniciação.

O banho ritual e outros banhos importantes, acabada a primeira instrução e aos ritos
correspondentes na iniciação abandonam o acampamento, queimando e destruindo as instalações
e dirigem – se ao novo acampamento, construído num lugar não muito longe do anterior. O
instrutor principal NAMUKUMUTOKWENE. É ele quem determina o dia do banho da
purificação dos jovens. (MARTINEZ 2009:108).

A imposição do nome NTTHUVA NSINA, os rapazes vestem – se de tecidos feitos de cascas de


árvores chamados NAKHOTTO, amarado na cintura e recebem um novo nome como sinal do seu
novo estado social. O nome indica ao mesmo tempo, um estado e uma missão que pode relacionar
com anterior vida do jovem, com algum acompanhamento familiar ou com algum pressentimento.
(MARTINEZ 2009:109).

Segundo (MARTINEZ 2009:111), as instruções que os rapazes recebem durante o tempo


que passam no acampamento “ NVERA” são as seguintes:

✓ Aprendem a caçar: durante todo esse tempo correm pela mata e vão a caça com os
instrutores, quando conseguem matar alguns pássaros ou aves cortam – lhes as asas e
colocam – nas como troféu no recinto do acampamento;
✓ Aprendem determinados trabalhos, que lhes servirão no futuro: fazer esteiras, cestos de
bambo e de cana, cordas e outros objectos;

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✓ Aprendem a enterrar os mortos: para este fim servem simbolicamente de alguns animais
que matam no bosque, especialmente a ratazana, chamada RETXE, que faz as vezes de um
cadáver humano.

De acordo com (MARTINEZ 2009, pág. 111); nas proibições rituais, as prescrições rituais
(MWIKHO), nesta fase dos ritos de iniciação masculina, são as seguintes:

✓ Silencio: os rapazes não podem falar com o chefe do acampamento; em caso necessidade,
falarão com o intermédio do padrinho de cada um;
✓ Abstinência alimentar: continua proibição de comer mel, ovos, e comidas com sal ou
picantes; também não podem comer peixes de cor escura nem carne de galinha.

2.2.2.2 Período de margem feminina


2.2.2.2.1 Entrada
Depois de se arranjar um número suficiente de jovens constrói – se uma cabana fora da povoação
com materiais precários para o início da cerimonia de ‘EMWALI” cujo esta é feita de madrugada.
Em casa de cada uma das raparigas oferecem sacrifícios tradicionais para pedir aos antepassados,
após o sacrifício tradicional, organiza – se em casa de cada uma das iniciadas uma festa com
danças, a noite cada grupo familiar acompanha a rapariga que vai participar nos ritos de iniciação
“OTUKUTHERIA”, ali passarão 7 a 10 dias retiradas do resto da sociedade, realizando os ritos, é
o período de máxima segregação social. Aos homens é absolutamente proibida a entrada na casa
de iniciação durante o tempo dos ritos. (MARTINEZ 2009:118-119)

2.2.2.2.2 Instrução (OLAKA)


A instrução que começa com a primeira fase de iniciação, o que continuará após a conclusão dos
ritos, especialmente na gravidez e na celebração do casamento, isto é, nesta segunda fase, é mais
intensiva adquire uma tonalidade mais formal e abrange a educação em todos aspectos da vida.

As mestras “ANAMUKU” no seu esforço educativo usam uma linguagem simbólica acompanhada
de gestos, reorientações mimicas e danças, serve – se de sentenças, provérbios, enigmas, cânticos,
formas literárias que ajudam as jovens a fixar os ensinamentos recebidos. (MARTINEZ 2009:119)

As raparigas “ATXIMWALI” aprendem cumprimentar os adultos, os superiores e todas as outras


pessoas, e sempre que entregar algo uma deve ficar de entrega de joelhos. (MARTINEZ 2009:120)

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Como sinal corporal, no primeiro dia de permanência na casa de iniciação a mestra principal
(NAMUKO MULUPALE) reúne todas as iniciadas no pátio da casa, em quanto que outras mestras
tocam tambor com muita força para abafar o choro das raparigas durante a operação que se seguira
acompanhadas com as madrinhas, seguram os braços das afilhadas e tapam – lhes os olhos, em
quanto que a mestra com um pauzinho bem afiado faz uma pequena incisão no clitóris da rapariga
derramando algumas gotas de sangue. Esta ferida vai curando com remédio preparado
anteriormente e as raparigas passam o resto do dia em silêncio ao anoitecer recebem instruções de
dormir com cuidado para não se aleijarem, (MARTINEZ 2009:122).

Na prova de comportamento e procura de remédios, a mestra principal reúne todas raparigas e


explica – lhes como se procura remédio (OTIPELIYA MURETTE), este rito é feito na mata e tem
por finalidade demostrar simbolicamente o comportamento social das meninas, elas dirigem em
terrenos meios pantanosos a procurar raiz de uma planta chamada NXILEYA MWALI, se
encontrarem e esta não estiver enrolada noutras raízes o remédio é bom “MURRETE WORERA”
e sendo o resultado da prova positiva, o comportamento das meninas será bom, pelo contrário se
a encontrada for bifurcada e estiver enrolada noutras raízes, então o remédio é mau (MURRETE
WONANARA) e o resultado da prova é negativo, pelo que o comportamento das meninas foi mau.

A mestra (NAMUKO) felicita ou repreende as raparigas conforme os resultados das provas que
tiverem, o resultado negativo devem confessar as próprias falhas (OPAPHUELELA) as mestras
de iniciação (MARTINEZ 2009:122-123). Na iniciação sexual, as jovens vão sendo
progressivamente instruídas na vida sexual, instrução esta, que vai ser completada na altura do
casamento, são lhes ensinadas a anatomia, as relações entre os sexos, a proibição do incesto e a lei
de exogamia (não casar com estrangeiros).

Dedica – se particular atenção a pratica de alargar os lábios valvulares (OTHUNA), para este fim
fricciona – se com um preparado oleoso, obtidas as cinzas de um fruto chamado IPHITXI de uma
árvore silvestre chamada NATXORA, todas mulheres iniciadas mantem esta pratica e guardam
com cuidado e no maior segredo o referido unguento. (MARTINEZ 2009:123)

Para MATOS (1999:425); no banho ritual, durante este período as meninas tomam vários banhos,
o qual para além do seu valor higiénico simboliza a purificação do tempo passado e nascimento
social.

2.2.2.2.3 Tratamento do corpo


Unções (OTXIKITXHELIWA NI MAKHURA), as mestras untam o corpo das raparigas com óleo
vegetal e unguento, estas unções são ritos de agregação com as quais se prepara o regresso da
rapariga a sociedade. (MARTINEZ, 2009: 124).

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A tatuagem (ENEPO), as iniciadas recebem no corpo os sinais do seu novo estado social, as partes
do corpo da rapariga mais comumente escolhidas para tatuagem são para alem da cara, o peito, a
barriga e as púbis.

O rito de ornamentação da cabeça realiza – se aproximadamente dois meses após o começo da


segunda fase de iniciação e tem uma duração de 4 dias consiste em cortar o cabelo da cabeça da
iniciada em forma de coroa e colocando – lhe depois ornamentos. (MARTINEZ, 2009:124).

2.2.2.2.4 Imposição do novo nome (OVAHA NSINA NANANO)


A semelhança dos rapazes, também as raparigas recebem um novo nome na indicação, com que
se indica a nova realidade individual, comunitária e o lugar que ocupam após realização destes
ritos de passagem. Este nome é anunciado no dia da festa do encerramento da iniciação.
(MARTINEZ, 2009:125).

2.2.3 Ritos Pós - Liminares


2.2.3.1 Ritos Pós - Liminares masculino
Os ritos pós – liminares masculina segue – se o seguinte:

✓ Ritos finais: na destruição do acampamento “NVERA”, durante a vigília da saída, no dia


seguinte de madrugada os padrinhos por ordem do instrutor principal incendeiam o
acampamento, queimando o recinto e todos instrumentos usados durante os ritos, durante
a queimada os jovens estão proibidos de virar para trás para ver o fogo e tudo que viveram
lá devem guardam em segredo;
✓ Os jovens passam o dia inteiro no bosque, preparando cada qual uma vara, que recebe o
nome de “KAKALA”, símbolo do homem novo e já formado. Chegada a noite dormem
perto da povoação esperando o dia seguinte para entrada na aldeia. (MARTINEZ, 2009:
111 -112).

2.2.3.2 Ritos pós - Liminares Feminino


Nos ritos Pós – liminares feminino, “EMWALI” não se observa nenhuma fase, somente
nos ritos de prenda “OVELELA” consistem oferecer a madrinha da recém iniciada uma prenda
como agradecimento pelo seu trabalho ao longo de todo tempo de iniciação. Nesta festa de
encerramento, esta preparação dura 8 dias que é o tempo mínimo para preparar bebidas e comidas
comunitárias, organiza – se danças de madrugada, no dia de festa as jovens recéns iniciadas
preparam – se para apresentação ao publico. Diante de todo o povo reunido apresentam – se as
iniciadas às suas famílias e as madrinhas comunicam o novo nome de afilhadas. Os presentes
correspondem em aplausos e gritos de alegria. As mulheres aclamam com um grito palatal
chamado “ELULU” e homens aplaudem. Acaba a apresentação pública, esta família reúne – se em

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casa da iniciada para participar na refeição comunitária, a refeição prolonga – se a tarde toda. A
noite organizam danças finais que duram até as primeiras horas da madrugada do dia seguinte.
(MARTINEZ, 2009:126).

2.2.4 Importância dos Ritos de Iniciação


Segundo CARVALHO (2009) os ritos de iniciação é de extrema importância nas sociedades
recônditas uma vez que a partir destes ritos eles tomam consciência da sua própria identidade e
lugar que lhes compete na comunidade, o seu papel na produção agrícola e nas tarefas domésticas.

2.2.5 Vantagens e Desvantagens dos Ritos de Iniciação


No que toca aos factos da vida nas comunidades periféricas, todas as actividades desenvolvidas no
seio destas comunidades, elas são um conjunto de procedimentos que muitas das vezes os
detentores dos mesmos olham apenas nas vantagens mediante aos objectivos por eles a alcançar,
em torno dos ritos de iniciação, é de salientar que estes têm vantagens e desvantagens.
(CARVALHO, 2009:32).

2.2.5.1 Vantagens dos Ritos de Iniciação


Segundo LIGIO (2010:45), os ritos de iniciação têm grande vantagem no seio da sociedade tais
como:

✓ Higiene individual;
✓ Ensinamento aos jovens sobre os passos para a vida futura;
✓ Maneiras de se comportar perante os mais velhos na sociedade ou comunidade;
✓ Participar em algumas actividades que os adultos na comunidade ou sociedade têm feito;

2.2.5.2 Desvantagens dos Ritos de Iniciação


Segundo LIGIO (201 0:46), os ritos de iniciação também têm desvantagens tais como:

✓ As instruções dadas durante os ritos não têm observado as idades dos iniciados, o que em
momento algum depois dos ritos eles ficam curiosos em praticar o que aprendem,
culminando com gravidez indesejada, fistulas obstétricas ou casamento prematuro;
✓ Os iniciados se acham de adultos e que estão abertos a tudo que um adulto pode usufruir;
✓ Incentivo ao casamento prematuro, por estes se acharem adultos;
✓ Tratamento igual a de um adulto e como cuidar de um lar.

2.2.6 Conceituação Básica


2.2.6.1 Análise
Análise consiste no exame detalhado sobre determinada matéria ou assunto, observando todos os
pormenores que forma cada parte de um todo. Análise é um estudo detalhado sobre algo, podendo

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ser aplicada em diferentes áreas do conhecimento como forma de observar minuciosamente
determinado tema, (http://www.significados.com.br/analise/).

2.3 Violação de Direitos Humanos por Meio de Casamento Prematuro

A negação do direito à educação interfere com o direito das crianças à educação, mas também com
o desenvolvimento da sua personalidade, a sua preparação para a idade adulta e as possibilidades
e oportunidades de emprego. Perderá igualmente importantes espaços de socialização e de fazer
amizades, pelo que provavelmente será uma adulta que viverá em maior isolamento do que as
outras.
Por isso, quando em presença de um casamento prematuro, há matéria legal para intervir no sentido
de proteger a criança e criminalizar todos os responsáveis envolvidos:

✓ Os pais ou responsável legal que entregou a criança;


✓ O adulto que recebeu a criança e a mantém para fins de exploração laboral e sexual.

Segundo Bruce (2002) citado por FNUAP (2003), que direitos estão a ser negados com o
casamento prematuro? Se nos guiarmos pela Convenção sobre os Direitos da Criança, são os
seguintes:

✓ O direito à educação (artigo 28);


✓ O direito a ser protegida contra todas as formas de violência física ou mental, dano ou
abuso, inclusive sexual (artigo 19) e de todas as formas de exploração sexual (artigo 34);
✓ O direito ao gozo do mais alto nível possível de saúde (artigo 24);
✓ O direito à informação escolar e profissional e orientação (artigo 28);
✓ O direito de procurar, receber e transmitir informações e ideias (artigo 13);
✓ O direito ao descanso e lazer, e de participar livremente na vida cultural (artigo 31);
✓ O direito de não ser separada de seus pais contra a sua vontade (artigo 9);
✓ O direito à protecção contra todas as formas de exploração que afectem de qualquer modo
o bem – estar da criança (artigo 36).

Quanto mais as crianças se encontram em situações desfavorecidas (zonas rurais com pouco acesso
à escola e com menores níveis de rendimento, com menor investimento tanto na esfera económica
como socio – cultura), menos oportunidades têm de gozar dos seus direitos. Portanto, falar em
casamento prematuro é falar em discriminação.

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Discriminação das raparigas em relação aos rapazes e discriminação entre as crianças de sexo
feminino, consoante, entre outros, o nível de rendimentos da sua família e a sua escolarização.
Segundo o relatório de UNICEF:

As raparigas que vivem nestas uniões forçadas, para além de se


verem impossibilitadas de gozarem dos seus direitos, sofrem
severas consequências no que diz respeito ao seu bem-estar
psicológico e emocional, à sua saúde reprodutiva e às suas
oportunidades educativas e na vida como adultas.

Portanto, a ideia de educação para a cidadania não pode partir de uma visão da sociedade
homogênea, como uma grande comunidade, nem permanecer no nível do civismo nacionalista.
Torna – se necessário entender educação para a cidadania como formação do cidadão participativo
e solidário, consciente de seus deveres e direitos e, então, associá – la à educação em direitos
humanos. Só assim teremos uma base para uma visão mais global do que seja uma educação
democrática, que é, afinal, o que desejamos com a educação em direitos humanos, entendendo
“democracia” no sentido mais radical – radical no sentido de raízes – ou seja, como o regime da
soberania popular com pleno respeito aos direitos humanos.

Não existe democracia sem direitos humanos, assim como não existe direitos humanos sem a
prática da democracia. Em decorrência, podemos afirmar o que já vem sendo discutido em certos
meios jurídicos como a quarta geração, ou dimensão, dos direitos humanos: o direito da
humanidade à democracia. Esta educação formal na escola, resultará mais viável se contar com o
apoio dos órgãos oficiais, tanto ligados diretamente à educação como ligados à cultura, à justiça e
defesa da cidadania.

2.4 Casamento e Seus Efeitos


2.4.1 Breve Historial da Evolução do Casamento
Sob o ponto de vista sociológico o casamento é um fenómeno humano muito antigo que se
formalizava sem qualquer acto solene.

No direito romano distinguia-se o casamento do simples concubinato pela affection maritalis,


elemento subjectivo que evidenciava o propósito comum de convivência duradoura entre o homem
e a mulher. Era, pois, um acto voluntário que começou com vontade dos 2 e poderia terminar com
o repúdio universal ou bilateral - é muito parecido com a figura da união de facto. Na idade média
e com a influência do cristianismo o casamento passou a ser encarado como um sacramento em
que intervinha a vontade divina, o casamento revestia - se de forma canónica e era o ministro do

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culto que autorizava a celebração. Só a partir do Concilio de Trento do século XVI em que o
sacerdote passou a intervir na sua celebração.

Com a separação da igreja criou-se o advento do protestantismo e seu predomínio nalguns países
Europeus como a Inglaterra, retirou a igreja o controlo do casamento submetendo o ao Estado. Foi
só com a revolução francesa, no final do século XVIII que se passou a adoptar a concepção do
casamento como um acto meramente civil, como um contrato, baseado na vontade dos nubentes e
sem estar sujeito à intervenção obrigatória da Igreja, surgindo assim o casamento de natureza laica
de competência dos representantes do Estado e independente do casamento religioso.

Nos termos do artigo 8 LF:

O casamento “a união voluntária entre um homem e uma


mulher, formalizada nos termos da lei, com o objectivo de
estabelecerem uma plena comunhão de vida”.

É importante notar que existem vários elementos essenciais, a saber:

✓ O elemento subjectivo da voluntariedade por parte, dos nubentes, homem e mulher;


✓ A necessidade da sua formalização, segundo a forma estabelecida na lei, que é o que
distingue da união de facto;
✓ A finalidade legal do casamento que é o estabelecimento da plena comunhão de vida.

2.4.2 A Promessa do Casamento


Normalmente o casamento tem preliminares, é antecedido por uma promessa recíproca de
casamento por parte dos noivos (nubentes).

Actualmente nos países mais desenvolvidos a importância do noivado diminuiu embora na


sociedade tradicional angolana a promessa de casamento tenha ainda uma acentuada importância
sobretudo no que respeita as entregas feitas pelos noivos á família da noiva, Alembamento. Em
geral os diversos sistemas jurídicos não consideram como relevância a promessa do casamento
sob o ponto de vista de obrigar a contrair casamento.

A promessa de casamento é um acto de importância social, realizado com seriedade entre os noivos
e conhecido entre os seus familiares e o meio social.

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A lei de família vem confirmar no seu art. 21:

A ineficácia jurídica da promessa, ou seja, esta não dá


direito a exigir a celebração de casamento. Já quanto aos
donativos feitos pelo promitente a antiga lei considerava o
direito á restituição dos bens entregues, o que constitui uma
omissão voluntária da lei para impedir que haja coacção
sobre os nubentes, e dando assim primazia legal á liberdade
pessoal dos nubentes sobre o interesse patrimonial daquele
que tiver feito estas ofertas.
Trata-se, pois, de uma obrigação natural que não é juridicamente exigível. É uma obrigação
fundada em meros diversos de justiça e que não é exigível juridicamente.

Já quando o direito de indemnização art. 24, nº 2 é exigível é, mas só nos termos restritos deste
artigo. É necessária uma ruptura injustificada por parte dos nubentes, há que analisar estas rupturas
em termos objectivo. O direito de indemnização circunscreve-se aos próprios nubentes e os seus
limites estão circunscritos às obrigações contraídas com acordo de outro nubente e só podem ser
indemnizações patrimoniais.

A promessa do casamento vem constituir também elemento de facto preponderante para a decisão
judicial a tomar em acção para o estabelecimento da filiação.

2.4.3 A Natureza Jurídica do Casamento


Segundo o art. 8:

O casamento é caracterizado como sendo um acto ou negócio jurídico,


solene mediante o qual um homem e uma mulher aceitam voluntária e
reciprocamente estabelecerem convivência de carácter duradouro.

Tem duas vertentes: - Casamento como acto, cerimónia que se celebra - como acto em si.
Casamento como estado familiar, em que os nubentes se vão encontrar a pois a cerimónia é
consequência da cerimónia como estado. O casamento como estado é um vínculo jurídico
composto por um conjunto complexo de direito e deveres. Como um acto e na doutrina civilista
predomina a concepção de casamento como um contrato.

Segundo VARELA:

"O casamento como um contrato solene em que intervém duas declarações de


vontade que são contrapostas, mas são harmonizadas, caracteriazado pela
diversidade de sexo que tem como conteúdo e como fim a plena comunhão de vida.”

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Que tem uma outra visão do casamento. Assim, este entende que “o casamento é a união voluntária
e singular entre um homem e uma mulher, com o propósito de constituir família, mediante
comunhão plena de vida”

O nosso código de família quis deixar de reconhecer o casamento como um contrato para passar a
reconhecê-lo como uma união, embora reconheça nele um negócio jurídico em que a declaração
da vontade dos nubentes vai produzir unicamente os efeitos jurídicos previstos na lei e que são de
natureza imperativa. A sua autonomia da vontade circunscreve-se aos dois pontos, considerados
como pertinentes aos direitos fundamentais da pessoa humana:

✓ Cada pessoa é livre de casar ou não;


✓ Cada pessoa é livre de escolher a pessoa de outro sexo com quer casar. O casamento deve
ser definido como um negócio jurídico familiar e bilateral, com a natureza de um pacto,
celebrado entre os nubentes. É o acto jurídica condição de aceitação do estado de casado,
que dele decorre, estado esse que se estabelece reciprocidade entre 2 nubentes.

Fica, portanto, afastada a hipótese do casamento como um contrato civil, pois a vontade do Estado
intervém no acto do casamento, antes da sua celebração, através do conservador do registo civil,
cuja intervenção tem a natureza certificativa e a sua participação é indispensável à própria
existência do acto jurídico.

2.4.4 Pressuposto de Existência do Casamento


O casamento é um acto jurídico cujo a celebração e validade exigem que se verifique previamente
a existência de certos pressupostos e ainda certas condições legais. O casamento para ter existência
jurídica necessita de três pressupostos sem os quais a sanção é de inexistência ou a de anulabilidade
do casamento.

2.4.5 Validade do Casamento


O casamento como negócio jurídico bilateral e solene é constituído por elementos de natureza
substancial e de natureza formal. São condições de fundo:

✓ Aptidão natural para contrair o casamento, diferença de sexo. Idade púbel, saúde física,
inexistência de impedimento previstos na lei, vontade de contrair o casamento, capacidade
das partes;
✓ Capacidade matrimonial (idade núbil e ausência de impedimento);
✓ Mútuo consentimento;
✓ Condições de forma reportam – se ao processo preliminar que antecede o casamento e a
forma solene e públicada celebração. O direito da família está ligado ao direito
constitucional, a norma constante do nº2 do artigo 119 CRM, protege de forma
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constitucional a família, e a protege através das normas existentes - é fundamental no que
se refere á regulação do casamento, mas carece de normas da família que a ampliem e
limitem.

2.4.6 Capacidade Matrimonial


Historicamente a capacidade matrimonial varia de época para época e de cultura para cultura e tem
havido medidas discriminatória, como por ex. o apartheid, a igreja católica que proibia o
casamento com outras religiões. Modernamente estas prescrições opõem-se a direitos
fundamentais do homem que são hoje nulas.

A capacidade matrimonial, que não coincide com a capacidade de celebrar negócios jurídicos de
outros ramos de direito, obedece aos fins específicos do casamento e aptidão para casar revela-se
por condições de maturidade física e psíquica assim como por restrições impostas a pessoas ligadas
por vínculos familiares por razões de ordem moral e até de eugenia. São, portanto, necessários os
seguintes requisitos:

a) Idade Núbil: a maturidade sexual é a condição biológica para celebração do casamento


assim como há ainda que ter em conta a maturidade psíquica. A idade núbil atinge-se aos
18 anos, sendo excecionalmente permitido o casamento com a idade inferior quando tal se
mostrar preferível, sendo necessário autorização do representante ou representante legais
do menor, e quando o homem tenha pelo menos 16 anos e a mulher no mínimo 15 anos,
sendo assim a menoridade de 18 anos uma incapacidade relativa.

No entanto a lei, por uma questão de preservação do casamento, e em caso de incapacidade


matrimonial, não se fere de nulidade absoluta estes casamentos, permitindo mais tarde a sua
convalidação. Quanto ao estado de saúde dos nubentes, o nosso código não faz referência a esse
assunto pelo que não dá que fazer prova de aptidão física para o casamento.

b) Impedimentos Matrimoniais

São proibições de carácter excepcional art. 31 LF:

A lei exige legalmente a circunstância negativa de que não se verifiquem em relação aos nubentes
qualquer impedimento matrimonial, ou seja facto jurídico que obstam a realização do casamento,
e que podem ser classificados como impedimento dirimentes (absolutos e relativo) que são aqueles
que dirimem, destroem os efeitos do casamento e dos impedimentos não dirimentes ou meramente
impedientes, são aquela cuja existência obstam a realização do casamento, mas não afecta a sua
validade.

21
Impedimento Dirimentes Absolutos 32 LF: dizem-se absolutos porque impedem a pessoa de se
casar com quem quer que seja: a demência: proibição de se casar para dementes funda-se em duas
razões uma que é evitar que alguém que celebre o casamento não tendo a capacidade de
discernimento para compreender esse acto e seus efeitos e a outra impedir que pessoas portadoras
de taras psíquicas as vão transmitir à sua descendência. Este tipo de incapacidade abrange não só
a interdição decretada por sentença judicial, mas ainda a demência notória. O nosso código proíbe
o casamento por demência quando esta seja notória ou no caso de interdição ou inabilitação por
anomalia psíquica.

Impedimento Dirimentes Relativos art. 33 LF; embora designados de relativos estes


impedimentos impedem absoluto o casamento dando origem à sua anulabilidade, mas impede
unicamente que duas pessoas casarem uma com a outra, mas não impedem que casem com outrem.

Impedimento Impedientes: o nosso código eliminou a referência a estes impedimentos embora,


no entanto no seu artigo 34 LF ao referir - se à capacidade matrimonial menciona não só os
impedimentos previstos no código como ainda aqueles que venham a constar de lei especial,
deixando-se assim em aberto a possibilidade de outras leis virem a condicionar o direito de contrair
casamento.

No código civil esses impedimentos impedientes eram os seguintes:

Prazo Internupcial art. 35 LF: como espaço de tempo que decorria entre a dissolução, declaração
de nulidade ou anulação de um casamento e a data a partir da qual se podia celebrar novo
casamento. Este prazo era de 180 dias para homens e 300 dias para mulher. A razão de ser deste
impedimento fundava-se em razões de ordem social, para evitar que uma pessoa casasse logo de
seguida a pôs ter terminado um casamento com outro. Em relação à mulher invocam-se razões
como a incerteza a verdadeira paternidade do filho nascido nos 300 dias. O nosso código estabelece
relativamente a este assunto uma presunção relativa de que a paternidade é do marido do
casamento celebrado em último lugar.

2.4.7 O Consentimento
É o segundo elemento consubstancial que integra o acto do casamento é o elemento psicológico e
subjectivo: a vontade do nubente. O consentimento tem de ser dado pela pessoa do nubente,
ninguém pode ser substituído, mesmo em caso do o nubente ser menor, apesar de para isso ter de
estar autorizado. No entanto é permitido que um dos nubentes esteja representado por um
procurador, a lei impõe que a procuração seja de natureza especial, válida tão-somente para o acto
de casamento, devendo mencionar expressamente o nome do outro nubente, art. 44, nº 2 LF e
nunca se pode fazer representar os dois nubentes no mesmo tempo. O nosso sistema não admite

22
os casamentos arranjados pela família pois, este tem de ser contraído com base na vontade dos
nubentes. Não se admitem no casamento condições ou termos pois o casamento tem natureza
imperativa e autonomia da vontade esgota – se com a escolha de casar ou não casar e com quem,
casar. Para ser válido tem de ser actual, ou seja, no momento da celebração.

2.4.8 Casamento Urgente


Tem natureza excepcional, art. 46 LF-, e só nas situações que o legislador o admita:

✓ Fundado receio de morte próxima de um ou dois nubentes;


✓ Haja iminência de parto.

Posteriormente terá de averiguar a capacidade matrimonial dos nubentes e o casamento urgente só


é válido após despacho de homologação pelo funcionário do Registo Civil. Se não houver
homologação o casamento é inexistente.

2.4.9 Nulidade do Casamento


Aqui a regra é de que o casamento existe só que foi contraído com a violação de certas regras, e
enquanto não for decretado nulo ele produz efeitos jurídicos.

Segundo o art. 58 LF - sem ser declarada ela não é invocável, vício da nulidade terá, portanto, de
ser declarado em acção judicial de natureza impugnativa.

A doutrina distingue consoante os vícios do acto:

✓ Nulidade absoluta: afecta aqueles casamentos celebrados com violação de impedimento


dirimentes absolutos ou relativo - este tipo de nulidade é invocável pelos cônjuges, por
terceiro cujo interesse esteja protegido por lei e o Ministério Público porque violou um
princípio de ordem pública. Exemplos casamentos incestuosos, de bigamia e de
conjugicídio;
✓ Nulidade relativa ou mera anulabilidade: os casamentos celebrados com violação de
disposição meramente proibitiva e ou com falta ou vicio de vontade - só os cônjuges e os
representantes do menor ou de interdito podem pedir a declaração de nulidade, embora o
casamento mesmo ferido de nulidade pode ser validado. São os casamentos que contenham
o vício de demência e de impuberdade.

O critério de distinção dos dois tipos de nulidade é a de mais larga ou mais restrita a legitimação
para a propositura da acção de anulação assim como de uma maior ou menor dilatação do prazo
para a acção ser proposta.

2.4.10 Regime de Nulidade


Art.75- a sentença de nulidade poderá ter duas espécies de natureza:

23
✓ Natureza constitutiva, porque apesar do casamento ser declarado nulo este produz ainda
alguns efeitos, art. 75 LF - no caso de o casamento putativo;
✓ Natureza meramente declarativa a sentença sem que se produza quaisquer efeitos. Os casos
de anulabilidade vêm previstos no art. 64 LF.

2.4.11 Causas de Nulidade


2.4.11.1 Falta de Capacidade Matrimonial
Falta de idade núbil: art. 31 LF- fixa a ideia núbil aos 18 anos e embora haja excepções estas têm
de obedecer a lei. O casamento do menor não núbil está ferido de nulidade absoluta.

✓ Falta o vício da vontade: art. 64 LF são vícios que ferem um dos pressupostos de casamento
que é o do mútuo consentimento;
✓ Prazos: o prazo de anulação revela também que a lei procura salvaguardar tanto quanto
possível a estabilidade do casamento mesmo ferido de nulidade. Os prazos de invocação
de nulidade são mais dilatados ou mais diminutos consoante a natureza e gravidade do
vício art.67 LF.

2.4.11.2 Validação do Casamento


É uma mão estendida da lei a favor de um casamento que foi celebrado com vícios com vista a
salvaguardar a estabilidade da família assente no casamento, art. 62 LF.

2.4.11.3 Efeitos da Anulação do Casamento


2.4.11.3.1 O Casamento Putativo (art. 75 LF)
É o casamento celebrado nulo ou anulado, mas cujos efeitos dessa nulidade ou anulabilidade não
são retroactivos e só se fazem sentir após sentença transitada em julgado.

✓ Efeito em relação os filhos a declaração de nulidade do casamento são aqui juridicamente


irrelevantes art.167 LF;
✓ Efeitos em Relação a Terceiros (art. 76 n.°1 da LF): torna extensivo á terceiros os efeitos
do casamento putativo tal como é aplicado ao cônjuge de boa fé.

Hoje em dia e por se terem alargado os fundamentos da dissolução de casamento por divórcio, as
acções de anulação de casamento são em número cada vez menor, até porque estas são mais difícil
de provar, no entanto os efeitos de uma e de outra figura são muito parecidos.

2.4.11.4 Casamento Prematuro


O casamento prematuro “é qualquer tipo de união marital que envolve uma pessoa menor de 18
anos. A lei moçambicana proíbe o casamento prematuro”. UNICEF Moçambique.

24
2.5 Fundamentação Empírica
De acordo com MATTAR (2008) afirma que o senso comum é também denominado
conhecimento popular ou empírico e define o como todo aquele que todo ser humano desenvolve
no contacto directo diário, com a realidade é utilizado, em geral para objectivos próprios.

De acordo com o autor acima, o pesquisador, no local do estudo, isto é, com os sujeitos alvos
encarou outra visão diferente dos doutrinários bem como a legislação acima citado, em que na
perspectiva dos sujeitos alvos desta pesquisa definem ritos de iniciação, casamentos prematuros,
casamento da seguinte forma:

2.5.1 Casamentos Prematuros


Um dos anciãos considera “casamento prematuro quando numa união de duas pessoas, existe uma
delas que ainda não passou ou quando os dois não tenham passado dos ritos de iniciação. Em
relação ao assunto um dos iniciandos diz que casamento prematuro é união de duas pessoas em
que uma delas ou os dois não passaram pelos ritos de iniciação, independentemente da idade entre
o casal.”

O outro ancião da comunidade define “casamento é união de um homem e uma mulher, em que
neste casamento, os filhos estão isentos de negar a outra parte seja esposa ou marido. Um dos
iniciandos diz que se considera casamento quando os pais são quem procuram marido ou esposa
para seu filho ou folha, independentemente da vontade, idade de cada um deles, desde que os pais
estejam de acordo com os interesses deles.”

25
CAPITULO III

3 METODOLOGIA DO TRABALHO
3.1 Desenho Metodológico
De acordo com LAKATOS apud IVALA, (2007:27), “Metodologia é explicação minuciosa,
detalhada, rigorosa e exacta de toda acção desenvolvida no método de trabalho de pesquisa “

Nesse caso, escreve-se os processos seguidos, o universo e o tamanho da amostra e esclarece-se


todo o procedimento metodológico utilizado na pesquisa.

O trabalho será fruto de investigação de campo através da pesquisa explicativa, o


pesquisador vai realizar o seu estudo na base de documentos e obras relacionadas
com o tema, visando fundamentar no máximo toda informação disponível acerca do
assunto a ser desenvolvido.

Igualmente far-se-á recolha de dados através de leitura e interpretação de obras


encontradas nas bibliotecas. Também se privilegia as consultas do tipo entrevistas destinadas a
colecta de informações aos anciões bem como os jovens iniciandos, segundo os questionários que
serão elaborados atempadamente para a população alvo.

3.2 Tipos de Pesquisa


3.2.1 Quanto aos Objectivos
De acordo com o trecho acima desenvolver-se-á uma pesquisa do tipo explicativa, em que segundo
MARCONI e LAKATOS, (2008:6), “A pesquisa explicativa se caracteriza por seu interesse
prático, isto é, que os resultados sejam aplicados ou utilizados indirectamente na solução de
problema que ocorre na realidade”.

No decurso do desenvolvimento desta pesquisa, ajudará na redução dos casamentos prematuros


no distrito de Rapale.

3.2.2 Quanto Abordagem


Segundo GIL, (2003:53), “a pesquisa qualitativa é aquela que tem por finalidade analisar os
fenómenos em estudo da sua própria natureza real”.

Basear-se-á na pesquisa qualitativa que permitirá a analise reflexiva sobre os ritos de iniciação que
influenciam nos casamentos prematuros.

A palavra qualitativa implica uma ênfase nas qualidades das entidades e nos processos e
significados que não são experimentalmente examinados ou medidos em termos de quantidade,
densidade ou frequência.

26
Pesquisadores qualitativos enfatizam natureza socialmente construída da realidade, a relação
intima entre o pesquisador e o que é estudado e as restrições situacionais que moldam a
investigação (DENZIN, 2000).

Para melhor abordagem deste estudo também realizar-se-á uma pesquisa bibliográfica, na qual
serão consultados diversos materiais bibliográficos, para a sua sustentabilidade.

3.3 Os instrumentos ou Técnicas de Colecta de Dados


Para colecta de dados, usar-se-á os seguintes instrumentos ou técnicas de colecta de dados:
entrevista, questionário e análise bibliográfica.

3.3.1 Entrevista
A escolha desta técnica deve-se ao tipo de pesquisa (Explicativa) que se utilizou na
pesquisa. Segundo UCM (2006:52), “Entrevista constitui um procedimento usado para colecta de
dados efectuados face a face. É um encontro entre duas ou mais pessoas a fim de obter informações
acerca de certo assunto”.

Sendo assim, aos residentes do distrito de Rapale concretamente no posto Administrativo de


Mutivaze serão submetidos a uma entrevista, semi - estruturada que terá um roll de perguntas de
forma organizada e não se limitará simplesmente a estas perguntas para pesquisa, com isto, abrir-
se-á oportunidade a outras questões que se acharem pertinentes no momento da entrevista.

O uso desta técnica de colecta de dados terá como objectivo, colher opiniões, sentimentos,
situações explicativas de como mitigar a problemática dos casamentos prematuros.

3.3.2 Questionário
É mais uma técnica que se usou na pesquisa, segundo MARCONI e LAKATOS, (1999:100),
“Questionário é um instrumento de colecta de dados, constituído por uma série ordenada de
perguntas, que devem ser respondidas por escrito sem presença do entrevistador”. GIL (2002:124)
define questionário como sendo “Uma técnica de investigação composta por um número mais ou
menos elevado de questões apresentadas por escrito a pessoas, tendo por objectivo o conhecimento
de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas.

A escolha desta técnica teve como objectivo fundamental, garantir o anonimato e a


liberdade dos questionados, uma vez que estes preencherão na ausência do
pesquisador. Assim, usar-se-á o questionário de perguntas mistas para que cada um
dos inquiridos exprimirão livremente as suas opiniões assim como evitar limitar as
suas ideias de forma a alcançar a realidade em estudo, este será redigido a população-alvo (alguns
iniciados e alguns anciãos na matéria dos ritos, e alguns chefes locais).

27
3.3.3 Universo e Amostra da Pesquisa
3.3.3.1 Universo
Segundo IVALA at all. (2007), “Universo ou população é o conjunto de seres animados ou
inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum”.

Na presente pesquisa, constituirá como universo deste estudo os anciãos bem como os
adolescentes iniciados de Rapale concretamente no posto administrativo de Mutivaze.

3.3.3.2 Amostra
Tem que ter em conta que nem sempre é possível pesquisar todos os sujeitos do grupo que se
deseja estudar.

RICHARDSON (2008:1 58), “Amostra é qualquer subconjunto do conjunto universal ou da


população”. Na presente pesquisa, constituirá como amostra do estudo 60 sujeitos, dentre eles os
anciãos chefes locais e adolescentes iniciados, sendo 4 anciãos, 2 chefes locais, 54 adolescentes
iniciados dentre homens e mulheres, estes últimos sendo 20 e 34 respectivamente.

3.4 Técnica de Análise de Dados


As técnicas de análise de dados que se seguem: análise bibliométrica, análise de conteúdo, análise
de discurso, análise de domínio, análise de redes sociais, análise documental etc., o autor do
presente estudo privilegiara a técnica de análise de conteúdo.

De acordo com BARDIN (2009) “Analise de conteúdo, enquanto método torna-se um


conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e
objectivos da discrição de conteúdo das mensagens”. Com base na definição acima, o pesquisador
tendo em conta as técnicas usadas para colecta de dados que são a entrevista, questionário e análise
bibliográfica, para presente estudo privilegia análise de conteúdo como técnica de análise de dados
por esta se adaptara um campo de aplicação muito vasto, isto é, esta técnica permite fazer análise
de qualquer tipo de comunicação.

28
CAPÍTULO IV

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Neste capítulo a presente análise do conteúdo do questionário feito aos sujeitos alvo desta pesquisa
que são: anciãos, chefes locais e da entrevista dirigida aos adolescentes indiciados (rapazes e
raparigas) todos do Posto Administrativo de Mutivaze.

4.1 Organização de Dados


Antes referir que os resultados da pesquisa serão feitos de forma alternada por ter sido as mesmas
questões feitas a todo sujeito alvo da pesquisa. Na organização que segue iremos referir em
primeiro lugar o parecer dos anciãos, em seguida o parecer dos chefes locais e por fim dos
adolescentes já iniciados.

A pesquisa envolveu um total de 60 sujeitos, dentre estes se destacam-se: 4 anciãos que variam
entre os 45 a 60 anos de idade, 3 chefes locais que variam entre os 35 a 50 anos de idade e 54
adolescentes que variam dos 12 a 25 anos de idade, cujo o seu todo, os sujeitos alvos, o nível de
escolaridade varia entre a 1° ao nível superior.

Tabela 1: Número de Participantes.

Número de participantes por Técnica de colecta de dados Identificação


categoria
4 Anciãos Questionário 1° Ancião até o 4°
2 Chefes locais Questionário 1° Chefe local até o 2°
54 adolescentes iniciados Entrevista 1° adolescente até 54°
Total de participantes 60
Fonte: adaptado pela autora, 2018

4.2 Interpretação de Dados do Questionário e da Entrevista Dirigida aos Anciãos, Chefes


Locais e aos Adolescentes iniciados Respectivamente.
Este espaço reserva – se simplesmente para análise e interpretação de dados que
resulta do questionário dirigido aos anciãos e aos chefes locais e da entrevista dirigida aos
adolescentes iniciados.

Como residente deste Posto Administrativo, já ouviu falar dos ritos de iniciação?

Aos anciãos: feita esta questão aos 04 anciãos equivalente a 100%, afirmaram da existência de
ritos de iniciação que são submetidos aos adolescentes naquele Posto Administrativo.
Aos chefes locais: a esta questão foi colocada 02 chefes locais, equivalente a 1 00%, em que
confirmam a existência desse ritual.
29
Aos adolescentes indiciados: colocada questão a 47 adolescentes equivalente a 88.9%
confirmaram ter ouvido sobre ritos de iniciação e os restantes 06 equivalentes a 11,1 % nem sabem
dizer o que isto significa.

Das respostas obtidas neste questionário bem como da entrevista, o pesquisador conclui que os
anciãos, os chefes locais bem como os adolescentes indiciados confirmaram a existência dos ritos
de iniciação naquele Posto Administrativo.

O que entende por ritos de iniciação?

Aos anciãos: esta questão os 04 anciãos equivalente a 100%, conceitualizaram de


acordo com MARTINEZ, pesa embora cada um tenha definido segundo seu ponto de vista, mas
verificou-se a uniformidade das ideias ao dizerem que:

“Ritos de iniciação são cerimónias de carácter tradicional, que vigora na sociedade macua, que
visa a passagem de um indivíduo da fase infantil para fase adulta, independentemente da idade
do indivíduo”.

Aos chefes locais: os 02 equivalente a 100%, também foram unânimes com o conceito acima ao
afirmarem que:

“Ritos de iniciação são cerimónias que vigoram na região norte do país, concretamente no Poeto
Administrativo de Mutivaze, com intuito de transformar a vida do homem do pequeno para o
adulto”.

Aos adolescentes iniciados: destes 45 equivalente a 83,3%, mesmo com ideias um pouco
diferenciados, mas afirmaram que:

“Ritos de iniciação são cerimónias que é submetido a toda pessoa que nasce neste Posto
Administrativo com a finalidade de passagem de criança para adulto “.

Os restantes 09 sujeitos equivalente a 16,7% nada disseram a respeito da questão colocada,


alegando que não sabem como iniciar ou o que dizer a respeita do assunto.

Contudo, o pesquisador ao fazer esta pergunta procura descobrir se há prática constante dessas
cerimónias ou se ao menos entendem o que isto significa, mas foi possível apurar que os anciãos,
os chefes locais bem como os adolescentes iniciados tem uma noção positiva do tema em análise
porque estas cerimónias são uma realidade no Distrito de Rapale.

Quais são as condições necessárias para que um adolescente seja submetido aos ritos de
iniciação?

30
Aos anciãos: questionados os quatro anciãos correspondente a 100%, afirmaram de forma unânime
o seguinte:

“Para os adolescentes serem submetidos aos ritos de iniciação, somente tem como condição a
idade no caso dos rapazes e nas raparigas após a primeira menstruação”.

Aos chefes locais: os dois chefes locais equivalente a 100%, sem fugir muito da posição dos
anciãos, responderam da seguinte maneira:

“As condições necessárias para submeter os adolescentes aos ritos de iniciação são a idade do
rapaz que é 12 anos, e em algum momento chega a era submetido aos ritos antes da idade acima
estabelecida, e nas mulheres depende do primeiro ciclo menstrual independentemente da idade
delas”.

Aos adolescentes iniciados: dos 35 adolescentes entrevistados, equivalente 64,8%, responderam a


entrevista dizendo que os rapazes não tem condição, com qualquer idade o rapaz pode, enquanto
que a rapariga tem como condição primeiro período menstrual, e aos restantes 19 equivalente a
35.2% se absterão da questão alegando não ter nada a dizer a respeito.
Dos dados apurados, o pesquisador conclui que para a rapariga tem como condição
sine qua non o primeiro ciclo menstrual em quanto que para os rapazes estabeleceu-se uma certa
idade, mas que certos pais encaminham aos ritos dependendo da sua vontade.

É constante a submissão dos adolescentes aos ritos de iniciação neste distrito?

Aos anciãos: dos 4 anciãos equivalente a 1 00%, responderam em unanimidade da seguinte


maneira:
“sim, mas com maior frequência nas férias do final de ano”.

Aos chefes locais: um dos chefes local correspondente a 50%, afirmou o seguinte:

“sim é frequente, mas depende muito mais da disponibilidade dos pais”

E para o outro chefe local, correspondente a 50%, afirmou que:

“Para nossa tradição é de carácter obrigatório que a rapariga logo o primeiro ciclo
menstrual seja submetido aos ritos, em quanto que para os rapazes tem muito a ver
com a disponibilidade dos pais”.

Aos adolescentes iniciados: dos 29 adolescentes entrevistados equivalente a 53,7% responderam


o seguinte:

“Sim é constante, mas no período de férias”.

E aos restantes 25 adolescentes entrevistados equivalente a 46,3%, responderam o seguinte:


31
“É constante sim, mas muitas das vezes não respeitam o período lectivo, principalmente nas
raparigas”.

De acordo com a pesquisa acima feita, o pesquisador concluiu que, havendo opiniões pouco
diferentes, mas todos estão na mesma ideia ao afirmar que os adolescentes para serem iniciados
tem sido com maior frequência no período de férias, mas havendo situações em que não se pode
esperar esse período quando há maior numero de raparigas já com ciclo menstrual iniciado.

Concorda que os adolescentes, após os ritos de iniciação já podem casar?

Aos anciãos: cerca de 3 anciãos equivalente a 75%, confirmaram o seguinte:

“Quanto ao casamento do adolescente após os ritos de iniciação, respondeu de forma positiva”.

E o restante, 1 ancião equivalente a 25% respondeu o seguinte:

“Que já pode, mas sim, deve depender da sua vontade”.

Aos chefes locais: destes 2 chefes locais, equivalente a 100%, responderam de forma positiva.

Aos adolescentes iniciados: destes 39 adolescentes iniciados, equivalente a 72,2% concordaram


com os casamentos prematuros.

Aos restantes 1 5, correspondentes a 27,8%, responderam de forma negativa.

Tendo em conta o questionário e a entrevista acima feita, o pesquisador concluiu que os


adolescentes independentemente da idade após os ritos de iniciação já são aceites pelos seus pais
ou até obrigados a se casarem.

Se a resposta anterior é sim porquê?

Aos anciãos: cerca de 3 anciãos equivalente a 75%, confirmaram o seguinte:

“Quanto ao casamento do adolescente após os ritos de iniciação, respondeu de forma positiva


justificando que já se trata de um adulto “.

E o restante, 1 ancião equivalente a 25%, respondeu o seguinte:

“Que já pode, mas que não pode ser de carácter obrigatório, mas sim deve depender da sua
vontade “.

Aos chefes locais: destes 2 chefes locais correspondentes a 100%, disseram o seguinte:

“Podem, alegando que o facto de os jovens serem submetidos aos ritos lhes da o direito de casar
pois são adultos”.

Aos adolescentes iniciados: destes 39 adolescentes iniciados, equivalente a 72,2%, responderam


da seguinte forma:
32
“Concordaram com o casamento após os ritos de iniciação por que já são considerados adultos
e capazes de administrar a sua própria vida”

Os restantes 15 correspondentes a 27,8%, responderam da seguinte forma:

“Que não podem se casar só porque foram aos ritos de iniciação, mas sim porque se sentem
capazes dessa vida conjugal”.

Olhando os ideais de cada sujeito questionado e entrevistado, o pesquisador concluiu que pode
haver certo grupo que já tem noção que a submissão do casamento só porque já foram nos ritos de
iniciação, sem antes estarem preparados seria uma pratica prejudicial para sua vida futura, mas a
maioria foi unânime em afirmar que assim que foram submetidos aos ritos de iniciação já são
adultos e livres de administrar a sua vida conjugal.

Neste caso confirmaram que há adolescentes que após os ritos de iniciação se casam antes
dos 1 8 anos?

Aos anciãos: feita esta questão aos 3 anciãos equivalente a 75%, afirmam de forma unânime da
seguinte maneira:

“Neste distrito, quanto à questão dos adolescentes após a passagem dos ritos de
iniciação é frequente aparecimento de casamentos antes dos 1 8 anos de idade”.

O restante, equivalente a 25%, disse o seguinte:

“Nos tempos de hoje que já se diferem dos tempos passados, a situação dos casamentos dos
adolescentes após os ritos de iniciação, tem de depender da educação de cada adolescente que é
influenciado pelos pais”.

Aos chefes locais: esta questão foi colocada a 2 chefes locais, equivalente a 1 00%, em que
afirmaram o seguinte:

“A situação dos casamentos após os ritos de iniciação para a nossa realidade cultural, chega até
a ser de carácter obrigatório, isto é, tem havido em maior numero de casos de adolescentes que
se casam após esse ritual”.

Aos adolescentes iniciados: colocada a questão aos 48 adolescentes equivalente a 88,9%,


confirmaram o seguinte:

“Aqui no distrito é muito frequente os adolescentes se casarem logo após os ritos de


iniciação”.
E aos restantes 6 equivalente a 11,1%, nem sabem explicar a respeito da questão.

33
Das respostas obtidas no questionário, bem como da entrevista, o pesquisador
concluiu que pese embora haja divergência dos discursos, confirma – se a existência de muitos
casos em que menores de 18 anos casam depois dos ritos de iniciação.

Já ouviu falar de casamentos prematuros?

Aos anciãos: feita esta questão aos 2 anciãos equivalente a 50%, disseram da seguinte forma:

“Temos acompanhado na rádio e por algumas pessoas que tem aparecido no distrito a fazer
palestras”.

Aos restantes 2, equivalente a 50%, responderam da seguinte maneira:

“Para a nossa realidade, aqui no distrito, temos acompanhado nas palestras da saúde”.

Aos chefes locais: a esta questão foi colocada 2 chefes locais, equivalente a 100%, em que
afirmaram o seguinte:

“Já ouvimos porque tem se falado constantemente”.

Aos adolescentes iniciados: colocada a questão aos 50 adolescentes equivalente a


92,6% confirmaram o seguinte:

“Já ouvimos falar com os professores, e algumas pessoas que tem andado nas comunidades”.

E os restantes 4 equivalente a 7,4%, nem sabem dizer o que isto significa.

Das respostas obtidas neste questionário bem como da entrevista, o pesquisador concluiu que os
anciãos, os chefes locais bem como os adolescentes iniciados confirmaram ter ouvido sobre os
casamentos prematuros.

Alguma vez já assistiu ou fez parte de um casamento de uma adolescente que tenha
abaixo de 18 anos de idade?

Aos anciãos: feita esta questão aos 4 anciãos equivalente a 100%, afirmaram de forma positiva.
Aos chefes locais: a questão foi colocada 2 chefes locais, equivalente a 100%, em que afirmaram
que sim já ouviram.

Aos adolescentes iniciados: colocada a questão aos 54 adolescentes equivalente a


100%, de uma forma unânime, confirmaram ter participado varias vezes casamentos de
adolescentes que não tenham atingido os 18 anos de idade.

Após uma profunda discussão, na tentativa de colher, dos sujeitos alvos acima mencionados, se já
fizeram parte ou assistiram casamento de adolescentes antes dos 18 anos, o pesquisador conclui

34
que todos sem excepção de ninguém já presenciaram sobre casamentos dos adolescentes abaixo
dos 18 anos de idade.

Do seu ponto de vista, qual seria o mecanismo adequado a se implementar para que
não haja casamentos prematuros?

Aos anciãos: feita a questão aos 3 anciãos equivalente a 75%, disseram que:

“Será difícil estancar esta situação neste distrito, mas entendo desde já que há
necessidade de se mudar de estratégias na educação dos nossos adolescentes nas
cerimónias dos ritos de iniciação”.

O restante, equivalente a 25% disse:

“Nada sei e nem estou preparado para responder à questão”.

Aos chefes locais: a esta questão foi colocada a 1 chefe local, equivalente a 50%, em que afirmou
o seguinte:

“Eu na qualidade de chefe, pessoa que tem dado maior apoio na educação do adolescente, nas
cerimónias dos ritos de iniciação, as ideias a se implementarem implica, mudar uma parte da
educação submetida a toda pessoa que tem participado”.

O outro chefe local, equivalente a 50% disse:

“Nada tem a se fazer porque tudo que fizemos é desde a origem dos nossos antepassados “.

Aos adolescentes iniciados: colocada a questão aos 50 adolescentes, equivalente a 92,6% disseram:

“Para nos na qualidade de adolescentes, na fase escolar ou que abandonamos a escola para se
juntarmos com os nossos maridos, como somos aceites apos os ritos de iniciação, há uma
necessidade dos mestres dos ritos, bem como a comunidade em geral, adoptar outras formas de
educação do adolescente, isto é, sem incentivar os casamentos”.

Os restantes 4, equivalente a 7,4% dizem:

“Deve-se aconselhar os adultos a parar de casar com os adolescentes que não são da sua idade”.
Tendo em conta as respostas colhidas na entrevista bem como no questionário, o pesquisador
concluiu que há necessidade de mudar a forma de educar ou a ter um pouco mais de cuidado com
certas informações que são transmitidas aos adolescentes, como incentivo aos casamentos
prematuros e declara-los na qualidade de adultos.

35
CAPITULO V

5 CONCLUSÕES, CONSTATAÇÕES E RECOMENDAÇÕES


5.1 Conclusões
O casamento prematuro como legitimação do abuso sexual de menores na agenda de
desenvolvimento de Moçambique foi o objecto de estudo da presente pesquisa. Esta questão foi
analisada com base em duas abordagens, a sociocultural e a política.

A nível sociocultural a problemática dos casamentos prematuros é percebida como uma réplica de
eventos culturalmente aceites e legitimados que estabelecem uma coesão e pertença a um
determinado grupo social.

É impossível se fazer a análise do casamento prematuro em Moçambique sem se considerar os


contextos históricos, sociais e culturais, na medida em que a cultura como um sistema hierárquico
e complexo, define o papel social de cada um na comunidade.

Sob o ponto de vista político, foram arroladas as estratégias adoptadas, as leis existentes e as
ratificações assinadas por Moçambique com vista a erradicação deste mal. O casamento prematuro
é um dos maiores problemas de desenvolvimento existente no país, todavia, ainda é largamente
ignorado pelos fazedores da justiça e decisores políticos.

O país neste momento necessita de uma estratégia multifacetada, onde a coordenação entre as
famílias, comunidades, o Governo, as organizações internacionais e a sociedade civil em geral vão
ajudar na prevenção e eliminação dos casamentos prematuros. Não podemos com isso nos
esquecer que é preciso urgentemente de uma reforma legal adequada que toma atenção as
mudanças culturais e medidas que visam a fortalecer a educação, a saúde da rapariga e a melhorar
as oportunidades económicas das mesmas.

Neste sentido, de acordo com o que foi acima descrito, pode-se concluir que os objectivos
inicialmente propostos para a realização do trabalho, foram alcançados de forma integral, na
medida em que foi possível trazer o debate sobre a matéria, onde por intermédio da revisão
bibliográfica foi possível fazer um estudo da problemática. Quanto ao teste de hipóteses, os dados
aqui arrolados permitiram validar a hipótese, na medida em que as teorias aqui trazidas permitiram
descrever como alguns costumes tradicionais nocivos podem sobrepor o sistema judicial e legal,
fazendo com que sobre o pretexto de casamento o abuso sexual seja legitimado, ou seja, a nível
das comunidades existe uma interligação entre o abuso sexual e o casamento prematuro.

36
5.2 Constatações
Os casamentos prematuros constituem uma situação ilegal e de irregularidade, isto porque é
composto por pelo menos um individuo menor de idade, sendo que o seu elo de ligação é o
objectivo de constituir família. A tomar em consideração que esta união é constituída por um
individuo com idade inferior de 18 anos, a união constitui uma violação de direitos humanos e
sexuais e pode ser configurado um abuso sexual.

O combate e a prevenção de casamentos prematuros vêm para dar resposta a uma problemática de
carácter social e económica, como a luta contra discriminação baseada no género, pobreza no seio
das mulheres e a violência doméstica. Para a erradicação deste mal o Governo moçambicano na
sua agenda de desenvolvimento aderiu a várias convenções que tem como um dos objectivos a
preservação dos direitos da criança, o combate aos casamentos prematuros e o respeito a igualdade
dos direitos humanos. Contudo, a erradicação dos casamentos prematuros, a busca pela igualdade
de género, o respeito e a preservação dos direitos da criança ainda constituem um desafio no dia-
a- dia de muitos moçambicanos, com especial enfoque as regiões rurais.

O casamento prematuro é resultado de acordos familiares, com bases socioculturais que conferem
uma legitimidade e violam alguns princípios fundamentais dos direitos da criança, aliado a não
existência de uma lei específica sobre os casamentos prematuros, contribuindo dessa forma para o
aparecimento de casos de casamentos prematuros.

Para dizer que existe uma grande necessidade de reforço e implementação de regras mais rígidas
ao quadro político- legal existente, por forma a permitir a protecção da rapariga contra todas as
formas de violação estejam assentes na nova lei, a qualificação do casamento prematuro como
crime buscando desencorajar a prática, a estipulação de medidas de apoio as vítimas de casamentos
prematuros, conjugação dos diversos sectores em prol de mudanças socioculturais e a adopção de
um quadro jurídico alinhado com as normas internacionais e regionais de prevenção contra o
casamento prematuro.

37
5.3 Recomendações

✓ A questão dos casamentos prematuros como legitimação do abuso sexual colocada de


forma sólida, explícita e prioritária na agenda de desenvolvimento ao mais alto nível do
Governo, tomando em consideração todas as medidas necessárias para a prevenção e
eliminação dos riscos dos casamentos para as gerações vindouras de Moçambique;
✓ Reforço e reforma do quadro legal adequado a desencorajar a prática dos casamentos
prematuros, através da tipificação do casamento prematuro como crime de abuso sexual e
de violação dos direitos dos menores;
✓ Reforçar a consciencialização e envolvimento dos diversos sectores (Governo, ministérios,
organizações da sociedade civil, famílias, crianças, líderes tradicionais, religiosos e
comunitários) nas acções de combate e prevenção dos casamentos prematuros;
✓ Implementar de forma efectiva a Estratégia Nacional de Prevenção e Eliminação dos
casamentos prematuros;
✓ Palestra sobre sensibilização e desencorajamento das práticas de casamentos prematuros e
suas consequências, como forma de prevenção e dotação de ferramentas necessárias para
a identificação dos sinais de violação dos seus direitos sexuais e direitos humanos;
✓ Criação de encontros que tem como principal missão apoiar os clubes de raparigas
desencorajando o início precoce de relações sexuais, o casamento prematuro e a gravidez
precoce;
✓ Criar condições no terreno e mecanismos de assistência as raparigas adolescentes
propensas ou vítimas de casamentos prematuros;
✓ Promoção e divulgação dos direitos da criança;
✓ Fortalecimento da educação da rapariga visando alargar as suas oportunidades;
✓ Criação de estratégias que permitam o empoderamento feminino o que lhes vai conferir
um rendimento económico;
✓ Consciencialização de todos actores sociais para uma mudança de atitude com relação ao
papel da criança em especial a rapariga como um sujeito de direitos;
✓ Adopção de instrumentos internacionais e regionais relativos a eliminação dos casamentos
prematuros de forma efectiva;

38
CAPÍTULO VI

6 Referencias bibliográficas

[1] ARAÚJO, Aneide Oliveira; OLIVEIRA, Marcelle Colares. Tipos de pesquisa. Trabalho de
conclusão da disciplina Metodologia de Pesquisa Aplicada. São Paulo, 1997.

[2] Andrade, M. (2000). Introdução à Metodologia do Trabalho Científico, 7ª edição, Atlas,


São Homo, D. J. (2017). A participação da Sociedade Civil na formulação e
Implementação de estratégia Nacionais de Prevenção e combate dos casamentos
Prematuros. Monografia do fim do curso. UEM, Maputo.

[3] Artur, M. J. (2010). O casamento prematuro como violação dos direitos humanos. Um
exemplo que vêm da Gorongosa. Outras Vozes.
Bassaino V. & Lima C. A. (2018). Casamentos prematuros em Moçambique: causas e
consequências do abandono Escolar. Universidade Federal do Mota Grosso.

[4] BELLO, José Luiz de Paiva. Metodologia Científica: manual para elaboração de textos
académicos, monografias, dissertações e teses. s/ed. Rio de Janeiro. 2005.

[5] CHILAULE. A. Z. (2016). Direitos Humanos e casamentos prematuros no ordenamento


jurídico Moçambicano. Monografia. Universidade católica de Moçambique, Tete.

[6] GIL, António Carlos. Como elaborar projectos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.

[7] Huda, S. (2007). Relatório da Relatora Especial sobre tráfico de pessoas, em particular
mulheres e crianças no Conselho de Direitos Humanos, Doc. ONU.

[8] IVALA, Zacarias Adelino et tal. Orientação para elaboração de projectos e monografias
científicas.1ª ed. Nampula. 2007.

[9] LAKATOS. Eva Maria e tal. Metodologia de Trabalho Científico. Editora Atlas. São
Paulo. 1992.

[10] MALUNGA e MUZZI. Casamentos Prematuros Instrumentos Internacionais,


Regionais Africanos, Legislação nacional em países Africanos e em Moçambique.2014.

Pinto. X. S. (2017). Casamentos Prematuros no contexto dos Ritos de Iniciação Femininos,


praticados pela etnia Macua. Dissertação de mestrado. Universidade Aberta, Lisboa.

UNICEF. (2014). Situação das Crianças em Moçambique.

39
6.1 Legislações recomendadas

✓ Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, ratificada pela Resolução nº 9/88 de
25 de Agosto.

✓ Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada pela Resolução n.º 19/90 de 23 de


Outubro;

✓ Carta Africana dos Direitos e do Bem- Estar da Criança, ratificada pela Resolução n.º 20/98
de 26 de Maio;

✓ Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembleia Geral da


Organização das Nações Unidas, 1948;

✓ Lei da Promoção e Protecção dos Direitos da Criança, aprovada pela Lei n.º 7/2008 de 9
de Julho;

✓ Lei da Organização Tutelar de Menores, aprovada pela Lei n.º 8/2008 de 15 de Julho
(Assembleia da República);

✓ MOÇAMBIQUE, Código Civil, actualizado pelo Decreto-Lei nº 3/2006 de 23 de Agosto,.


Maputo, Plural Editores, 2006;

✓ MOÇAMBIQUE, Lei da Família, aprovada pela Lei nº 10/2004 de 25 de Agosto, 2004;

✓ República, A. d. (2004). Constituição da República de Moçambique. Maputo: plural


editora;

✓ Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada pela Resolução


n.º 43/2002 de 28 de Maio.

40
6.2 Glossário

✓ ISCED – Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância.


✓ IPAJ – Instituto do Patrocínio e Assistência Jurídica.
✓ ONG – Organização não Governamental;
✓ UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
✓ Art. – Artigo;
✓ CC – Código Civil;
✓ CCA – Código Civil;
✓ CP – Casamento Prematuro;
✓ LF – Lei de Família;
✓ SS – Seguintes;
✓ DUDH – Declaração Universal dos Direitos Humanos;
✓ UCM – Univerdade Católica de Moçambique;
✓ CRM – Constituição da República de Moçambique;
✓ DL Decreto-Lei BR Boletim da República;
✓ PA Posto Administrativo;
✓ CPP Código do Processo Penal;
✓ CP Código Penal
✓ LF lei da família;
✓ CRM Constituição da Republica de Moçambique
✓ GF Grupo Focal;
✓ IPAJ Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica;
✓ SERNIC Serviço Nacional de Investigação Criminal.

41
Apêndices

42
INSTUTUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANA

Agradeço profundamente a todos os anciãos, iniciados bem como aos chefes locais abrangidos
neste questionário, a sua colaboração no que tange as questões abaixo mencionada. Adverte –se
também que a vossa colaboração no respeitante a resposta somente servira de base para a
elaboração do trabalho do fim do curso.

Questionário

1. Como residente deste distrito, já ouviste falar de ritos de iniciação?

R: _____Sim; Não ____.

2. O que entendes por ritos de iniciação?

R:________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_______________________.

3. Quais as condições necessárias para que um adolescente seja submetido aos ritos de
iniciação?

R:______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________.

4. Concorda que os adolescentes, apos os ritos de iniciação já podem casar?

R: _____Sim; Não ____.

5. Se a resposta anterior é “Sim” porque?

R:______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________.

6. Já ouviu falar dos direitos humanos?

R: _____Sim; Não ____.

7. Já ouviu falar de casamentos prematuros?

R: _____Sim; Não ____.


43
8. Alguma vez já assistiu ou fez parte de um casamento de uma adolescente que tenha abaixo
de 18 anos?

R: _____Sim; Não ____.

9. O que entendes por gravidez precoce?

R:______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________.

10. Do seu ponto de vista, qual seria o mecanismo adequado a se implementar para que não
haja casamentos prematuros?

R:______________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________.

Nampula, aos _____de Janeiro de 2020

NB: agradeço profundamente a vossa colaboração, comprometo – se que das respostas obtidas
neste questionário, somente servirão de ajuda para elaboração do trabalho de fim do curso em
DIREITO.

44
Anexos

45
Figura 1: ilustra adolescentes no final dos ritos de iniciação.

Fonte: adaptado pelo autor.

46
Figura 2: ilustra um casal de adolescentes.

Fonte: adaptado pelo autor.

47

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