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Ignorado pelo rádio e pela televisão, o movimento, que impactou a história cultural do
país e chegou ao fim há 30 anos, tem reflexos até hoje na cultura brasileira
O Lira Paulistana
Em frente à Praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros, estava o espaço que viria
a se tonar a sede cultural da cena artística que tomava forma. “O Lira não era balada, era um
espaço onde o foco principal era aquilo que estava acontecendo no palco. Era o artista, não
outras coisas. As pessoas não ficavam conversando, não tinha garçom”, conta Wilson Souto Jr.,
um dos sócios-proprietários do Lira à época.
Ele, que atualmente prefere ser chamado de agitador ou animador cultural, lembra que,
quando músico, sentia a necessidade de um local em que novas propostas pudessem se
manifestar. Surgia aquele que seria o denominador comum da Vanguarda Paulista. “O cenário
era de pós-ditadura. As pessoas buscavam um espaço onde se sentiriam livres para mostrar o
próprio trabalho. O bacana foi que os jornais aderiram às tentativas de linguagens novas. A
participação das pessoas também fez com que o espaço tivesse essa aura artística bastante
grande. Havia lançamento de discos, de livros, exposições de quadros... Tudo isso num galpão
de 450 metros quadrados”. Mais tarde, o Lira se tornaria um selo independente, com lançamento
de diversos discos, inclusive o clássico Beleléu, Leléu, eu, de Itamar Assumpção e Isca de
Polícia.
Gênio incompreendido
A artista Anelis Assumpção, filha de Itamar, lembra que o pai nunca ambicionou fazer
uma música de vanguarda. “Ele nunca disse: ‘agora sou vanguardista, vou fazer uma música
assim ou assado’; ele sempre continuou fazendo o que ele fazia, da forma como achava que
tinha que acontecer. Eu ainda vejo a dimensão do movimento da vanguarda acontecendo depois.
Agora, embora ainda seja pouco consumido e valorizado, ele está sendo dimensionado”.
Para Wilson Souto Jr, “Itamar Assunção é uma descoberta para muita gente no Brasil
inteiro. As pessoas até têm referência, mas não têm o conhecimento mais profundo da proposta
artística dele, do Rumo. Na verdade, isso não atingiu o grande público”. O produtor afirma que
ainda há pessoas à procura das obras de Itamar nos catálogos da gravadora. “Até hoje vende.
Mantenho todos os discos aqui, é uma referência extremamente moderna”, afirma. Segundo a
cantora brasiliense Gaivota Naves, que conta ter sido influenciada pela Vanguarda Paulista,
“Itamar Assumpção é o cara mais injustiçado da música brasileira. Ele trouxe poesia para a
música, foi genial. A maior característica da vanguarda foi essa busca por uma linguagem
múltipla”.
A recusa de mídias como rádio e televisão e o surgimento de outros espaços físicos
que fizeram frente ao Lira Paulistana acabaram por lançar a vanguarda e seus integrantes à
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margem do imaginário popular. Aquilo que era tido por movimento foi tomando por outras
direções. Apesar de nunca ter, de fato, sido uma música das massas, a produção musical de
diversos artistas “vanguardistas” se manteve ao longo dos anos, até dias atuais. Seja pela voz
própria, dos filhos ou pela influência de três décadas atrás, a Vanguarda Paulista ainda mostra
suas múltiplas faces e há de ser compreendida.
Mistura
Principais grupos e artistas para se entender a Vanguarda Paulista:
Arrigo Barnabé
Itamar Assumpção (e grupo Isca de Polícia)
Premeditando o Breque (“Premê”)
Grupo Rumo
Língua de Trapo
Fonte: Correio Brasiliense – acervo: Vanguarda Paulista: um movimento que marcou a cultura do Brasil
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-
arte/2015/04/21/interna_diversao_arte,480126/vanguarda-paulista-um-movimento-que-marcou-a-cultura-do-
brasil.shtml. Postado em 21/04/2015 07:35 / atualizado em 24/09/2020 12:19. Acessado em 14/03/2021.