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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

FLUMINENSE – campus Campos - Centro

ECOS DA MACHADINHA: a memória do Quilombo cantada em


pontos de Jongo

Artigo Cientifico apresentado ao Instituto


Federal de Educação, Ciências e Tecnologia
Fluminense (IFF/Campos), como requisito
parcial para conclusão do Curso de Pós-
graduação “Lato Sensu” em Literatura
Memória Cultural e Sociedade.

Orientadora: Professora Drª Vania Cristina


Alexandrino Bernardo

Campos dos Goytacazes - RJ

2013
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O homem é simultaneamente criador e produto da


cultura a que ele pertence. Ele tem de se
reconhecer na imagem, mesmo reduzida a
denominadores comuns das consciências
particulares, que a sociedade lhe apresenta e cuja
construção passa pelo resgate crítico dos valores
profundos determinados pela história.
Jean Baptista Nardi
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ECOS DA MACHADINHA: a memória do Quilombo cantada em


pontos de Jongo1
-------------------------------------------------------------------------------
Echoes of Machadinha: the memory of Quilombo sung in letters
of Jongo
Resumo
O tambor da Machadinha, sua gente e ruínas são partes de um todo histórico e o desafio
deste trabalho é refletir sobre as letras desse tambor, o jongo cantado e dançado pelos
habitantes das antigas senzalas da Fazenda Machadinha. A origem, a história e as
influências culturais da comunidade afrodescendente da Machadinha, num dado
momento, anunciam reminiscências na apresentação dos jongueiros e são esses rastros
de memória que buscamos com primazia nesta pesquisa. O objetivo maior é identificar
momentos, espaços, rupturas, permanências e personagens para compreender
significados e mecanismos de resistência envoltos na relação social dessa comunidade
quilombola e o universo político, econômico e cultural na qual está inserida.
Palavra-chave: Memória, cultura, Fazenda Machadinha, quilombo ressemantizado,
Jongo.

Abstract

the drum of machadinha ,its people and uins are part of historyand the challenge of this
study to reflect on the drum's lyrics,the jongo sung and dancedby inhabitants of old
senzalas (placewhere slaves lived )og farm hatched. at any given time , the roots ,history
and cultural influences of the afrodescent community of machadinha show
reminiscenncesof jongo's performance and those memories tracks are core of this
research our main goal . Our target is toindentify moments ,spaces,ruptures
,permanences and characts whichenableus to understand the meaning and resistance
mechanism ivolved in the relationship between this "quilombo" community and the
political,economical, and cultural in which it is inserted.

Key words: Memory. Culture. Fazenda machadinha. Quilombo's Changing Jongo

1
Ponto de jongo é a forma mencionada da letra cantada, os jongueiros da Machadinha costumam dizer
“puxar o ponto” ou “tirar o ponto”.
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1 Esboço sobre os novos arranjos sociais – a confluência de construtos


na legitimação do Quilombo ressemantizado e o Jongo como Patrimônio
Cultural

Vim de longe minha gente

Vim da terra de Angola

Quando cheguei no Brasil,

Me tornei quilombola.

O negro está em destaque

Demostrando seu valor

Conseguiu se libertar,

Da chibatada do senhor.

(...)

Jongo novo da Machadinha

Este artigo associa os estudos da disciplina "literatura e memória, o texto como


apropriação cultural " e as experiências particulares vividas entre quilombolas. Com
estes viés social de memória individual e coletiva, os estudos empreendidos nesse
trabalho segue a linha de pesquisa que se preocupa em estudar questões que giram em
torno de história e de política, analisando aspectos indenitários e sociais envolvendo
mitos, lendas, enfim pontos que revelem a memória cultural.

O campo de pesquisa aqui focado é a comunidade quilombola da fazenda


Machadinha localizada no município de Quissamã-RJ, que apresenta uma peculiaridade
em relação aos demais quilombos instalados em nosso território: o preservado conjuntos
de senzalas que abriga sua gente e cenário, representativos da história contada entre
ruínas e contemporaneidades. A comunidade objeto desse trabalho compreende o
conceito de quilombo ressemantizado, cabendo ressaltar o redimensionando do conceito
de quilombo a partir da constituição de 1988 é avesso as denominações como: “terra de
preto" ou "lugar de preto”. Nesse documento a cor da pele a raça deixam de ser fatores
determinantes, e de forma conclusiva, Rebeca Campos Ferreira anota os seguintes
caracteres para classificação de grupos remanescentes de quilombos com base na lei de
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88:"além de étnicos devem ser políticos orientados e ativos -essa necessidade relaciona-
se com a questão fundiária ". Para tanto, no eixo desde processo engendrado acumulam-
se :contemplação à diferença e reconhecimento dos direitos étnicos em debate no país
desde 1960, em corroboração à crítica do mito da democracia racial no Brasil.

Então, o conceito de "quilombo ressemantizado ", de acordo com a análise de


Rebeca campos Ferreira, sob a definição da Associação Brasileira de Antropologia em
1994, é acentuado pelos seguintes fatores:"(...)grupos que desenvolveram práticas de
resistências na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos num
determinado lugar", e a identidade como "uma referência histórica comum, construída a
partir de vivências e valores partilhados”. E, assim, completa a antropóloga:

Ressemantizar o quilombo é portanto, abandonar


sentidos que lhe são dados por meio da legislação colonial,
deixar o simbolismo que o cerca, que lhe é dado tanto pela
literatura acadêmica quando por movimentos negros; é
deslocar o conceito de sua significação simbólica original,
que apresenta uma mescla com confronto e emergência de
identidade. (Ferreira ,2010,p.10).

A perspectiva abordada, sobretudo, militância e percepção de valores incandescentes


por mobilidade social que ultrapassa o rigor da luta de classes, da cor da pele, dos
escapes econômicos e poderes políticos. O quilombo aqui estudado não é emblemático
como o palmares (AL), tão pouco lendário como o de Carucango (RJ), mas, de alguma
forma segue "zumbilições" quando conjuga os preceitos de liberdade étnico cultural e
elabora soluções que evocam a memória, a crítica e a identidade, em manifestações do
cotidiano, como compor, dançar e cantar o jongo, por exemplo. O jongo, sob análise
neste trabalho, corresponde ao sentido de dança tradicional afro-brasileira com variantes
regionais ligadas a sua origem, conforme definição elaborada pelo pesquisador
brasileiro Nei Lopes (1996).Segundo esse pesquisador das culturas africanas, em
concordância com o Aurélio Buarque de Holanda, o "Jongo no Sudeste", é Patrimônio
Cultural Imaterial do Brasil, pois pode ser definido como o conjunto de ações para
legitimar e compreender essa manifestação cultural, herança dos grupos africanos de
língua banto, escravizados no Brasil.

Com tais considerações, o trabalho foi dividido: a primeira parte dá conta de


conhecimento gerais sobre a comunidade quilombola da Fazenda Machadinha com
breve alinhamento histórico e apontamento para a memória contida no patrimônio
material e imaterial do quilombo em questão. O segundo momento aborda a memória
dos velhos sob entendimento dos estudos de Eclea Bosi. O terceiro salienta os novos
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tempos com foco no intercurso das políticas públicas, observando a composição das
letras, tendo os jongueiros como personagens sociais, assim como o processo de
cissiparidade que permuta o tempo histórico, a memória sociocultural e ambiente.

2 Candência entre fator social e histórico: partes do todo literário

A composição desse artigo importa aspectos sociais e históricos para


complementariedade da análise proposta. Essa abordagem, no entanto, segue as ideias
de Antônio Candido em literatura e sociedade(2006), quando buscamos perceber as
letras de jongo de machadinha em moldes literários. Nesse contexto, também
priorizamos a questão da memória social, notadamente a dos velhos elaborada por Eclea
Bosi. Em suma, o jongo funciona como um rio, nascido no tempo passado; e seus
afluentes fornecedores de caudaloso enredo acrescido de cultura, via memória social.
Dessa forma, é importante traçar uma panorama histórico com vínculo entre patrimônio
material e imaterial, visto que a produção cultural é de fato condicionada pelas forças
sociais que envolvem o artista,"(...)depende da ação de fatores do meio, que se
exprimem na obra em graus diversos de sublimação, e produz sobre os indivíduos em
efeito prático, modificando a sua conduta e concepções de mundo, ou reforçando neles
os sentidos dos valores sociais"(Candidato,2006, p.30)

Para melhor definição histórica do quilombo em tela, é possível marcar cinco


momentos distintos. Essa passagem no entanto, é por vezes matizadas com momentos
regionais ou de âmbito nacional. Inicialmente, esse percurso é marcado pelo emprego da
mão-de-obra escrava de origem africana. O predomínio da monocultura da cana-de-
açúcar é recorrente desde o séc. XVIII até o ruir das usinas da região, sobretudo, o
Engenho Central de Quissamã. Nesse contexto, o jongo(tambor) de machadinha entra
em decadência na (segunda metade do séc. XX), e por trinta anos, é praticado por um
pequeno grupo de moradores. Nas demais comunidades quissamaenses, o tambor é
extinto. Nos primeiros anos do séc. XXI ocorre a revitalização da cultura afro-brasileira
entre os habitantes da Fazenda Machadinha, quando os jovens são estimulados pelos
mais velhos e iniciados como jongueiros. Nesse período, mais precisamente em 2008, a
comunidade remanescente de escravos, é na forma da lei, reconhecida e titulada
comunidade quilombola.

Os momentos históricos que delineiam esse percurso social podem ser assim
destacados :
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1º - Período áureo da sociedade canavieira e escravocrata quissamaense (de meados do


séc. XVIII a meados do séc. XIX);

2º - Crise do trabalho escravo, mecanização do setor açucareiro e tentativas


introdutórias do trabalho livre (de meados do séc. XIX a início do séc. XX);

3º - Predomínio da monocultura da cana- de- açúcar, modernização agroindustrial /


usinas (de início á segunda metade do séc. XX);

4º - Decadência do setor açucareiro em Quissamã (última década do séc. XX)

5º - Fortalecimento das militâncias negras por direitos étnico raciais. Implantação de


políticas públicas em prol dos remanecentes das comunidades escravas, patrimolização
da cultura imaterial, valorização das manifestações afro-brasileiras e da revitalização
das práticas culturais no Complexo Cultural da Fazenda Machadinha (final do séc. XX
aos dias atuais).

Por assim dizer, a comunidade quilombola da Machadinha se constitui dos


descendentes dos escravos e colonos que desde a abolição permanecem nas antigas
dependências destinadas ao alojamento dos escravizados, as senzalas. A relação com o
setor açucareiro é estabelecida pela proporção do poder econômico. Desta produção
agroindustrial e o emprego da mão-de-obra livre ou escrava nos latifúndios das glebas
quissamaenses, não sendo esta comunidade uma exceção. O vínculo agrário e o
cotidiano rural, na fieira socioeconômica, fazem parte da paisagem apresentada pelos
pontos de Jongo. Na composição das letras, a decadência dessa manifestação é
amenizada pelas novas aspirações, embora seja um fantasma em espectros
contundentes.

O Jongo na Machadinha é, sobretudo, uma palavra nova que concentra antigos


significados. O tambor era a palavra comum da prática cultural no momento da
revitalização da cultura negra desta comunidade, Jongo e/ou Jongueiro substituem as
expressões: tambor e saca no tambor. Nesse sentido, "O Jongo ou tambor, como é
chamado em Quissamã, é uma antiga dança de escravos, muito difundida no estado do
Rio de Janeiro, em especial na zona canaviera”. (CAVALCANTI,1991, p.131). Entre os
praticantes mais velhos (mestres), no entanto, a afirmação é recorrente: "antigamente a
gente falava tambor, é quase a mesma coisa"(Dalma - professora de Jongo e
coordenadora do grupo Jongo de Machadinha). O tambor, Jongo ou caxambu são
variação rítmicas muito parecidas, mas, apresentam entre si, particularidades idênticas
de cada comunidade.
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Tivemos a oportunidade, nesse ano de 2012, de acompanhar o Grupo de Jongo de


Machadinha, num encontro de jongueiros do sudeste na festa do quilombo São José da
Serra, Valença (RJ), em comemoração ao dia 13 de maio (libertação da escravatura) e
verificamos que a batida de jongo, objetivo desse estudo, é diferenciada da dos demais
jongueiros do sudeste. O mestre Leandro Nunes (da Machadinha) explica que a batida
"sempre foi mais repicada "(acelerada)em com palração ás demais. E acrescenta o
cantante:" durante a revitalização do jongo, tentaram mudar a batida, deixar iguais aos
outros, mas a gente não quis porque sempre foi assim".

A memória dos velhos habitantes das senzalas da Machadinha, descendentes dos


escravizados e colonos dessa fazenda (atualmente entre a quinta e oitava geração), dá
conta de muitas práticas culturais, afeitas á tradição africana. Assim entre a culinária,
religião e o artesanato, há destaque para o fado (diferente do fado português), o jongo e
o boi malhadinho. Atualmente, são práticas motivadas pra a valorização da cultura, com
ênfase na conscientização indenitária e unicidade da comunidade local. De forma
paralela as atividades turísticas são agregadas ao conjunto de manifestações culturais.

Então, nos anos de 2007 e 2008, foi realizada a obra de restauração das antigas
senzalas (totalizaram-se 47 unidades habitacionais) com adaptações (quarto, banheiro,
cozinha) aprovados pelo INEPAC (Instituto Estatual do Patrimônio Cultural). Objetivo
foi garantir melhor condição de vida aos moradores sem prejuízo ao patrimônio o físico
original, sendo removido apenas aquele irrecuperável como o madeiramento atacado
por cupins. O complexo cultural Fazenda Machadinha, inaugurada no dia 4 de julho de
2008, compreende: quatro conjuntos d senzalas; uma capela; um armazém; uma casa de
artes; ruínas da casa grande / escoramento e o ruamento (trecho de chão batido, terreiro
coletivo), palco do cotidiano da vida simples há tempos citados por moradores como
delineador social, ou seja, neste espaço, os bem-nascidos não brincavam não
compartilhavam suas experiências. Na casa de Artes, o projeto Raízes do Sabor
contempla a culinária exótica das senzalas que combina farinha de mandioca, peixe seco
e carne -seca na preparação de pratos como: mulato-velho, sopa de leite e capitão de
feijão.

E possível afirmar que a revitalização da cultura local privilegia sustentabilidade e


desenvolvimento sociocultural memória dos velhos é fonte de dados para a manutenção
da cultura e passagem desta aos mais jovens. No jongo a primazia dos mais velhos é
destacada. Estes são os mestres cantantes e orientadores dos mais novos. Sobre os
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mantenedores do tambor dos anos de decadência, muitas das vozes calaram -se pelo
avançar dos anos e imposição da morte. Suas experiências, no entanto, são preservadas
e ilustradas em registros e ponto de jongo, como é o caso da relação entre o tambor e a
D. Guilhermina, a cheiro. " Cheiro incentivou a dança em dupla aos casais no centro da
roda, porque antes não era assim”. (Dalma).

Percebemos que a memória reanimada da Fazenda Machadinha possui a toada dos


mais velhos, não permanece estática, é viva, está em movimento. Existe, no entanto,
forte critica á inclusão de instrumentos (pandeiro, tambor industrializados) pelos
tocantes e a uniformidade das roupas dos dançantes. Para essa última contestação é que
suscita uma considerável associação ao "teatro para turista assistir”. Essa discussão é
válida e importante para compreender a preocupação no entorno da influência da cultura
de massa sobre comunidades quilombolas e suas práticas tradicionais. Nesse trabalho,
não cabe tal desenvolvimento, mas é lançada reflexão sobre o assunto.

O Patrimônio Cultural Imaterial é definido pela UNESCO (Organização das


Nações Unidas para a Educação, a Ciencia e a Cultura) como

As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas


junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais
que lhe são associados - que as comunidades, os grupos e, em
alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de
seu patrimônio cultural (2012).
Essa conceituação compreende dois fatores dois indispensáveis ao construto da
intensidade sociocultural ,focando no patrimônio intangível: a continuidade e a
criatividade ."É transitivo de uma geração a outra "-continuidade-e "é constante mente
recriado pelos grupos"- criatividade (UNESCO,2012).Esse processo se dá "em função
do seu ambiente , de sua interação com a natureza e sua história "(IPHAN, s/d)que
somados, promovem encantamento e respeito á diversidade cultural insubstituível da
ação humana.
O jongo( Patrimônio Cultural imaterial)da Machadinha está registrado em projetos
como Quissamã Memória Viva (Espaço José Carolos Barcellos ), projeto tempo livre
Tempo Livre(SESC/Rio), Projeto Raízes do Sabor , participações em eventos de
expressão e pesquisas acadêmicas realizadas sobre a comunidade quilombola da
Machadinha .de maneira geral , os bens culturais de natureza imaterial ou material
(móvel ou imóvel )do complexo cultural da Fazenda Machadinha de mandam pesquisa
com maior profundidade arqueológica , histórica, social e cultural .Este trabalho
pretende colaborar no preenchimento da lacuna com apontamentos que dizem respeito
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ás questões históricas do grupo em foco.

Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcante (1991)baseia- se nos estudos de Nina


Rodrigues , Artur Ramos e Edison Carneiro para definir as características do jongo
quissamaense . De acordo com o tracejar da pesquisa da prof.ª Maria Laura, podemos
afirmar que o jongo da machadinha é uma herança cultural dos negros de língua banto,
escravos oriundos da África Austral. Esse rastro de lembrança africana é encontrada no
mapeamento das tradições culturais do sudeste (Rio de Janeiro, Minas Gerais e São
Paulo), na região onde predominava as fazendas de café ou cana-de-açúcar. Pra
completar, Manoel Batista do Pedro Junior anota que " Os falantes de línguas banto
possuíam traços culturais em comum e compunham quase totalidade dos escravos
existentes no sudeste "(PRADO Jr., 2001)

Por considerar tais apontamentos, o jongo e a macumba pertencem ao mesmo embrião


ético - cultural, ou seja, são originários da herança cultural de raiz bantu, o jongo e a
macumba fazem parte do mesmo cenário afrodescendente, o preconceito promove
detrimento sobre ambos e popularmente são associados com similaridade. Os jongueiros
da Machadinha, no entanto, afirmam-se apenas como dançadores sem a magia ou ritual,
comum das práticas religiosas. Nesse caso, o "caráter de lazer " elaborado por
Cavalcanti, apresenta maior concordância e assertividade ao analisar o jongo da
machadinha:

Não se trata na realidade de uma dança ritual, e a


possessão por espírito -traço básico de religiões como a
macumba /umbanda(...). A estrutura do jongo (...)
mantem contato com aquelas de processos e práticas
religiosos - como a macumba, o jongo se realiza no
terreiro e a disposição os participantes é circular; em
ambos os casos, tambores marcam o ritmo da forma
musical cantada, chamada aqui como lá de ponto.
(...)No jongo tira ponto, igual a ponto de macumba.
Ponto de tambor é um, de macumba é outro.

(CAVALCANTI ,1991,P.133)

O jongo é, por diversos autores, classificado como dança semirreligiosa, uma


combinação indistinta de elementos divinos e profanos, trânsito entre o imaculado e os
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prazeres dos sentidos. Em Quissamã, entre os munícipes, é recorrente a associação


jongo à macumba são a mesma coisa. Isso porque o jongo se apresenta em roda, o canto
é chamado de ponto, os pés são descalços, o branco é a cor eleita para a vestimenta e o
tambor marca o ritmo para cantorias e evoluções que homenageiam divindades e figuras
metafóricas fazendo a roda girar. Esse conjunto de elementos, carregados de estratégias
simbólicas da identidade negra, é comum no cenário das expressões culturais
afrodescendentes de mesma origem; transporta os caracteres embrionários de cultura em
questões e por gerar similaridade, tais práticas são, por vezes, metidas num enleado
cafundó.

As partes que compõem o enredo do jongo da Machadinha revelam, até certo ponto, a
memória desluzida do quilombo. Os séculos de indiferença de indiferença sociocultural,
impactada sobre as manifestações da comunidade, provocaram desfalecimento de dados
ultrapassa os provocam esfacelamento de dados históricos. Nesse sentido, o patrimônio
imaterial, que se molda, se promove e se mantem; ultrapassa os propósitos políticos e as
amarras econômicos, livremente sobrevive na intensão dos jovens, refugiado na saudosa
memória dos velhos.

3 Nas malhas do conformismo e da resistência

Mas o tambor morre? Não morre não ...


É por nossa Senhora da Conceição

(Letra de jongo da Machadinha)

Por que a tradição oral está novamente valorizada?

A História que estudamos na escola quase sempre não aborda o passado recente e
pode parecer aos olhos do aluno uma sucessão unilinear de lutas de classes ou de
tomadas de poder diferentes forças, afastando, como de menor importância, os aspectos
do quotidiano, os micro comportamentos e as manifestações culturais das minorias,
fundamentais para a psicologia social. A memória oral é um instrumento preciso se
desejamos constituir a crônica do dia a dia. Bossi (1994) questiona esta construção e
responde, alertando para o fato que tal tipo de memória corre risco de cair numa
"ideologização “da história do quotidiano, como se esta fosse o avesso oculto da história
política hegemônica.
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Os velhos, as mulheres, os negros, os trabalhadores manuais, camadas da


população excluídas da história ensinada na escola, tomam a palavra e existem através
dela. O verbo faz o homem, personagem e autor social. A história que se apoia
unicamente em documentos oficiais não pode dar conta das paixões individuais que se
escondem nas entre linhas do tempo, atrás dos episódios formais. A literatura conhecida
já esta prática pelos menos desde o Romantismo: Victor Hugo faz surgir Norte Dame de
Pris num quadro popular medieval que a história oficial havia desprezado (BOSI,2003
p.13-15)

Eclea Bosi (2003), em contribuição à psicologia social, considera a pessoa como


sujeito (aquele que atua em sociedade) e objetivo (aquele que contém a informação a ser
analisada socialmente) social como definida dimensão e embutidos nesse conceito está
o poder da memória, a importância da dignidade e o significado da militância. A
memória dos velhos é abortada e a pesquisadora, então, entra em importantes
observações, elabora o diagnóstico da velhice órfã de humanidade numa sociedade
consumista ávida por juventude a qualquer preço. É válido citar Vera Maria Tietzmann
Silva quando comenta a discussão empreendida por Eclea Bosi a essse respeito.

(...)a própria autora afirma que não se trata de uma obra sobre a
velhice , nem sobre a memória (...) é isso que o livro de Eclea
Bosi faz, da voz aos marginalizados pela idade , convida-os a
exporem suas lembranças mais antigas e , com elas, recupera
um tempo e um modo de viver que , de outra forma , estariam
para sempre.(2003)

E este trabalho foi orientado pela ideia de Bosi, argumentando que há


considerável distancia entre discurso sobre a velhice , que a analisa com variados
sentidos e o significado daquilo que propomos (nesta pesquisa): valorizar iniciativas e
colaboradores que unem forças prol da sociedade , do enriquecimento cultural ,através
de mecanismo genuínos ao alcance , mas que podem sofrer fragmentação como pó até
atingir o esquecimento , causado por movimentos opostos , encarregados de calar e
omitir a manifestação dos marginalizados dentro da concepção de conformismo e
resistência , desenvolvida por Marilena Chauí (2000) .

O grupo de jongo da Machadinha sustenta a preservação da memória e recorre ás


lembranças dos velhos para interagir no tempo, no espaço, na memória e na sociedade.
Assim, nesse ato de militância, emergem à luz faces despercebidas e vozes como o
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vocabulário simples, mas não menos importante e enriquecedor. Então, lembrar


Marilena Chauí é indispensável quando a referência é a cultura popular:" Nossa atenção
estará voltada para as manifestações dos dominados em uma sociedade autoritária(...)
capaz de organizar-se, reivindicar direitos tácitos e prepara-se para penetrar no universo
dos direitos políticos e culturais "(2000, p.20), explicita.

As condições históricas (sociais, políticas, econômicas) projetam sobre a


sociedade dois lugares: o dia elite que decide as regras sociais e o reservado ao povo.
Embora sejam omitidas as manifestações e ambições econômicas que procedem dos
mais pobres, o desafio imposto socialmente é tomado cada vez mais pela consciência
das minorias e marginalizados (pela cor, idade, gênero). Chauí afirma "A ideologia
autoritária, que naturaliza as desigualdades e exclusões socioeconômicas, vem exprimir
-se no modo de funcionamento da política"(1995).

Na união dessas ideias, é salutar perceber o misto de militância e crédito que


perpassa de uma geração a outra por mecanismos do cotidiano como letras simples e
instrumentos pouco sofisticados. Então, para retornar a ideia inicial: “a memória dos
velhos pode ser trabalhada como um mediador entre a nossa geração e as testemunhas
do passado. Ela é o intermediário informal da cultura(...)"(BOSI,2003, p.15).

4 No intercurso das políticas - Memória, suor e fumaça

A legislação que garante o direto à terra para os remanescentes de


comunidades escravas, somada ao regulamento que define as comunidades quilombolas
e movimentos políticos para patrimonialização da cultura imaterial, geraram fôlego e
expectativas não somente aos praticantes de cultura popular, mas aos estudiosos há
muito engajados e à parcela da sociedade que guardava esse desfecho histórico social.

A dimensão da cultura afro-brasileira, sobre tudo a manifestada no estado do Rio


de Janeiro, é percebida no Projeto da Universidade Federal Fluminense:" Jongos,
Calangos e Folias ". Do informativo bibliografo do Projeto, O homem fluminense,
escrito por Vera de Vives é salutar anotar que

O livro é uma iniciativa do Museu da arte e


tradições populares que visou registrar as
manifestações culturais que estariam em
vias de desaparecimento - pretensamente
provocado pelo avanço da cultura de
massa. Assim, estaria em curso um
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"processo de deformação das expressões


da arte popular" iniciada com a chegada da
"esquadra Cabralina”. (VIVES,1977, p.3)

Outrossim, a abertura democrática no Brasil, na década de 80 do século


passado, fez perecer de menos valor conceitos sobre o negro entesados na escravidão. A
emulação para mobilidade social e alargamento de espaço político, estreitados por
discriminação racial, gerou um rio de reivindicação do movimento negro. Esse rio
desaguou em polêmicas e conquistas: cotas universitárias, ensino sobre história da
África, reconhecimento da cultura popular afro-brasileira, direto à terra dos
remanescentes de comunidades escravas. O artigo 68 das Disposições Transitórias da
Constituição brasileira de 1988 e o decreto 4887 de 20 de janeiro de 2003 garantem
propriedade sobre a terra e regulamentam a definição das comunidades remanescentes
de quilombo. A cultura afro-brasileira comtempla na Constituição de 1988 (art.215)
garante e protege o Patrimônio imaterial. O Jongo do Sudeste em 2005 é tombado
Patrimônio Cultural brasileiro. Desta forma, no campo da políticas públicas, é
instaurado um novo momento histórico, pautando em ações afirmativas e direitos
sociais.

Como revelação a essa manifestação , observamos não só a marcante música ,


mas o importante lugar das letras dos pontos do Jongo da Machadinha, que analisamos
tendo em vista a concepção literária a partir da qual Antônio Candido defende a
complementariedade entre a obra e o ambiente :" o externo(social)importa , não como
causa , nem como significado , mas como elemento que desempenha certo papel na
constituição da estrutura, tornando-se assim , interno "(CANDIDO,2006,p.14) , nesse
contexto, a base histórica , sociológica são componentes de um "fermento orgânico" que
, no entendimento do autor , contribui para uma diversidade maior da obra literária . E,
por assim dizer, o enquadramento social ou histórico não será ilustrativo, mas
explicativo. Então, por esta dimensão partimos, de um todo histórico da Machadinha
para tocar na parte artística, literário e cultura, os pontos de jongo, cantados nesta
comunidade quilombola.

O jongo é uma dança de origem africana na qual participam homens, mulheres e


crianças. Alceu Maynard Araujo (1995) afirma que "...a dança do jongo é sem dúvida a
mais rica herança da cultura negra presente no nosso folclore." A atmosfera de lazer e
arte popular entusiasmam os jongueiros novos da Machadinha. Estudamos o momento
de revitalização e constatamos que o orgulho negro é fator constante. Mas, sabemos dos
anos de decadência e o quanto perdeu o jongo da criatividade e da manifestação
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construída. Notícias sobre sacas frenéticas e utilização de utensílios (como porretes) nos
levam a crer que muito da pratica morreu com os jongueiros dos tempos idos.

Entre uma conversa e outra sobre o cotidiano quissamaenses dos tempos


passados, é comum entre os velhos o relato sobre o jongo. As reuniões eram marcadas
no improviso das fazendas, sem dia e hora planejados. Uma batida, depois outra ...a
função da fogueira ao acender era o típico convite. O som ao longe ia chamar a
vizinhança. Era aniversário, dia de santo, folia comunitária. Não existia motivação
única. Por toda Quissamã, o animava e fazia render gente. “Baco era um danado,
quando cantava: “pau rolo caiu "(D.Maria Antonina- relato sobre o jongo da fazenda
machadinha. Nas demais localidades, no entanto, a decadência o desativou do meio
cultural. Apenas na Machadinha, a manifestação resiste.

A coletânea de letras de jongo da machadinha pode ser dividida em duas fases, a


tradicional ou de raiz como é denominada pelos jongueiros; e nova, do momento de
revitalização. As letras de raiz são cantadas sem referência sobre seus autores ou local
de origem. Em grande parte, são letras de poucos versos e pouco complexas. Os
compositores tradicionais eram homens e mulheres simples que registram o cotidiano,
seus objetivos de maior estima e pessoas da comunidade com forte representação, sendo
extensas e complexasse tendo seus compositores identificados.

A abertura e o encerramento do jongo são similares nas duas fases , é o


momento de expressão espiritual .O estepe africano dessa comunidade , nas letras raiz, é
pouco referenciada .A maioria das letras do período de revitalização , conta o passado
com identidade africana e lembra a saga dos negros que vieram de terra distante
trabalhar e unir a gente miscigenada da machadinha .o orgulho negro coletivo
compreende estampa singular nos pontos novos , algo que permuta superação ,
militância e cidadania. Se as composições tradicionais são recorrentes no canavial, no
ruamento ou nos quitais; os pontos novos nascem do incentivo escolar em cumplicidade
docente, o que tange sensível atribuição aos apelos por consciência e negritude das
últimas décadas.

Sobre autoria e participação, Renato de Alcântara (s/d) observa que "(...)a


autoria dos pontos não é mais importante do que nenhum dos partícipes que precisam
reconhecer nela a força de fazer a roda girar. "Os jongueiros utilizam as expressões
tirar, jogar ou puxar ponto. Daí, Alcântara fazer referência ao procedimento como
"código de coletividade " imposto pela dinâmica que a manifestação exige em
detrimento do solitário e individual.

As apresentações de jongo da machadinha são iniciados com ponto de


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louvação a Deus e nossa Senhora. Em seguida, os metres entoam pontos novos e


tradicionais, é feita uma louvação a Zumbi e finalmente a despedia. São utilizados
tradicionalmente os tambores artesanais, (tronco oco de árvore com couro de boi). Estes
são aquecidos para dilatar o couro e alcançar a sonoridade pretendida. Dançam
descalços, em roda, vestidos de branco e aos pares (casais). Os mestres (velhos)
estimulam os jovens puxarem os pontos e, em suas camisas, uma frase escrita por Bob
Marly é destacada: “Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos,
haverá guerra ".

Ao compor as letras de jongo da Machadinha, os jongueiros e mestres revitalizam a


memória afro-brasileira e alimentam suas próprias lembranças, pois, segundo Bosi
(1994),"lembrar significa aflorar o passado, combinado com o processo corporal e
presente da percepção, misturar dados imediatos com lembranças. A memória permite a
relação do corpo presente com o passado e, ao mesmo tempo, interfere no processo
atual das representações". O canto e a dança encontram no cenário das senzalas, nos
tambores típicos, na fogueira, nos pés descalços, na homenagem a Zumbi, caracteres
materiais e imateriais que complementam o conteúdo indenitário. Na definição de Bose
(1994, estes seriam os objetivos biográficos, aqueles capazes de despertar as lembranças
"(...)envelhecem com seu possuidor e se importaram a sua vida (...)cada um dos objetos
representa uma experiência vivida".

Buscamos rastros de memória no que diz respeito à história, no tracejar das letras de
jongo da Machadinha. Vemos que “a memória coletiva pode ser definida tanto como um
instrumento , quanto como um objeto do poder , na medida em que controlar o passado
consiste em uma das preocupações daqueles que detiveram ou detém o poder nas
sociedades históricas" , conforme anotação de Francineide Santos Palmeira que segue a
definição de memória coletiva elaborada por Roberto Correa dos Santos (1999) o qual,
por sua vez , afirma : Todas (as sociedades ), no entanto unem-se pelo fio comum de um
mesmo trabalho , o do embate com a morte”. A causa do envolvimento dos velhos, as
letras codificadas, a iniciação do jongo mirim, ambos (os velhos e os jovens) se
entrelaçam na magnitude do tempo para resistir ás manipulações que, segundo Le Goff
(1996), tem, no silêncio e no esquecimento da história, seus mecanismos mais
poderosos.

O sujeito que se identifica como jongueiro na Machadinha encontra nas letras de


Jongo um cancioneiro de linguagem própria que enuncia a coletividade na qual está
inserido. Identidade e consciência são aspectos latentes desta construção. Na última
década foi intensa a produção de letras que evocam Zumbi e seu exército de negros
(guerreiros e vitoriosos), sendo caracterizada uma onde orgulho negro que influenciou a
produção literária dos jongueiros da Machadinha. Esse comportamento é visível no
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Grupo de Jongo, mas um tanto opaco nos demais quilombolas da comunidade. A


vibração do tambor e o eco das cantorias alimentam o vigor que permite relembrar o
passado de gerações, fatos, acontecimentos e personagens que compõem a historicidade
do sujeito e da comunidade Quilombola, Objeto dessa pesquisa.

Bosi (1994) anota que "(...) dimensão da aculturação que, sem os velhos, a
educação dos adultos não alcança plenamente :o reviver do que se perdeu, de histórias,
tradições, o reviver dos que já partiram (...)". Percebemos então, a importância da
participação dos velhos na iniciação dos jongueiros, lembrando que as sociedades
ágrafas em África encontraram nos griôs o recurso necessário para manutenção da
memória, tendo a oralidade permitindo a passagem da história entre gerações. A
memória coletiva da antiguidade grega transmitiram fatos históricos, conhecimentos,
personagens, valores e lembranças. É recorrente portanto, a busca das sociedades por
práticas essenciais de transição e resgate da memória. Nesse contexto afirmamos que as
letras de jongo apresentam uma composição de ecos da Machadinha.

A questão da memória não está restrita às sociedades antigas, medievais ou


modernas. As atuais, segundo Le Goff (1996), consideram-na "(...)um elemento
essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma
das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades que envolvem diferentes
grupos sociais ilustram a sede de memória da atualidade.

Nesses termos, constatamos os rastros de memória nos pontos de jongo da


Machadinha. Numa letra como em "O jongo de abertura ", observamos dado sobre a
rotina dos trabalhadores rurais (necessidade de acordar cedo) e vê-se que o sujeito é
descrito como alma, algo que sugere estar além da capacidade humana. Em seguida, é
incorporada à letra a oração à Nossa Senhora, ave Maria, transmitindo a ideia de ajuda
celestial:

Quanto o galo canta

As almas se levemantam

Ave, ave, ave Maria

Ave Maria cheia de graça(...)


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A memória do cativeiro é retratada em:" Ai mamãe eu tenho pena /ou mamãe eu tenho
dó/de vê o galo preto apanha do carijó" ou " Vovó não quer casca de coco no terreiro/
pra não lembrar o tempo do cativeiro ".

Os pontos novos apresentam temática ideológica da origem africana. O cantante


expressa o fato de ser remanescente no sentido vitorioso e acrescenta a escravidão -fato
verídico - sem ficcionalização e a letra distingue as gerações, como pode ser percebido
no ponto " navio negreiro"

Eu vim de longe
Comigo veio muita gente
Hoje moro em Machadinha
Porque sou remanescente.
No tempo da escravidão
Imagina o desespero
Daquele povo chegando
Em um grande Navio negreiro.

Os pontos de raiz ou tradicionais desprezam a condição remanescente enquanto citam


outros valores dentre os quais estão a condição de gênero e as práticas religiosas de
origem africana:
No morro da Piedade
Encontrei três velas acesas
Quem manda mulher é homem
Mulher não se faz vontade
("Morro da Piedade")
A Mestra Dalma compôs outra versão para "Morro da piedade ", cantada pelas
meninas jongueiras. Tal exercício representa mobilidade das letras que não são estáticas
no tempo. A figura feminina contesta a condição submissa alocada na letra anterior,
distingue o tempo passado através da comparação tecnológica (fogão e lenha), objeto
ultrapassado que também caracteriza o espaço doméstico dedicada à mulher (cozinha
/fogão). Fala do tempo presente, expressando gratidão pela conquista da lei Maria da
Penha:"(...)Isto tudo aconteceu no tempo do fogão a lenha /Agora tudo mudou /Graças a
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lei Maria da Penha."


Os pontos tradicionais revelam a vaidade e necessidade básica dos cantantes. Os
escravizados não possuíam sapatos, só os "bem nascidos “. Toalha de renda era artigo
de luxo nas casas mais humildes. Por isso, objetos tão simples, mas de grande
representatividade, ganharam espaço na voz dos jongueiros :

O meu sapato
Eu comprei no Guriri
Achei tanta novidade que ele não está aqui.
("Sapato")

Toalha de renda
Eu tenho uma toalha de rendada de bico
Pega laranja no chão tico-tico.
("Toalha de renda")

Alguns pontos são comuns em outros quilombos. O ponto "Perereca e


marimbondo" tem características denunciativas, não revela o nome da Fazenda; tão
pouco, dos trabalhadores. Descreve a alimentação deficiente e o cantante se diz
envergonhado de tal condição. O ponto "Paraíba ", é uma homenagem ao Rio Paraíba
do Sul e enuncia o quanto vale o cantante, após a morte. Vejamos fragmentos do
primeiro:

Trabalhei numa fazenda que não tem trabalhador


Perereca corta cana
Marimbondo é moedor
(...)
Trabalhei numa Fazenda
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Tenho vergonha de contar


Canjiquinha no almoço
Pela égua no jantar.

Em "minha mãe é uma sereia” o cantante recorda conhecimento das tradições e


costumes ao mesmo tempo, ratifica seu pertencimento ao mundo de crenças de origem
africana.
Minha mãe é uma sereia
Mora no fundo do mar
Eu também sou filho dela
Moro no mesmo lugar.

As lembranças dos conflitos no dia a dia entre vizinhos quilombolas envolvendo


suas criações e plantação são registradas em letras como no ponto" Cundê: Cundê
,cundê/ Eu não tô/Pra boi dos outros cume."
O jongo da machadinha também evidencia a proximidade entre o jongueiro e as
práticas canavieiras, as queimadas. Encontramos, por exemplo, em "Toco cru ": "Toco
pegando fogo no canaviá(bis)."
A letra de "Eu sou negro" ilustra a ideia de que a memória é uma fenômeno
construído, ou seja, destaca-se a questão do coletivo. Nesta composição. O
remanescente relembra a condição de exclui e faz referência ao patrono da liberdade
negra, Zumbi. O sujeito colabora enfrentando por meio da afirmação e descreve-se
subjetivamente como guerreiro, dado ficcional que remete à herança de seus ancestrais.
A eleição do objetivo," estranha", quando cita sua terra de origem, demonstra que ela é
desconhecida; mas logo vem o complemento com o determinante " dos quilombos de
Zumbi". Vejamos:
(...)
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Eu sou negro, eu sou negro


Eu sou negro, estou aqui
Eu vim de terra estranha
Dos quilombos de Zumbi

O autoritarismo político é lembrado nas letras de jongo. No fragmento


abaixo, o jongueiro fala do tempo vivido e recorda experiência não protagonizada por
ele, mas vivenciada pela geração anterior. O cantante fala do passado e do presente nos
dois tempos, emergindo a presença da autoridade política como figura controladora - "o
mandante”.

(...)
Quando saí da Machadinha
Tudo era diferente
Quem mandava era o coronel
Hoje quem manda é o prefeito
Senhor Armando Carneiro
(...)

Os ecos da Machadinha falam de sua gente simples e festeira. A


participação dos velhos mestres que fizeram a fazem a roda girar está registrada em
letras como em “Maria”. Neste ponto, observamos a referência ao canto do galo que é
recorrente em diversas letras, sempre no sentido marcado do tempo, característica das
comunidades rurais. Maria é a popular “cheiro”, figura emblemática na Machadinha,
dedicou a vida ao tambor e foi uma das precursoras na formação dos jongueiros novos.
Lemos essa memória na estrofe: “Deu meia noite / O galo já cantou / Eu quero ver
Maria dando saca no tambor”.
É importante observar que, nas senzalas, os velhos escravos jongueiros
mantiveram restrita a participação das crianças. Isto, ao longo do tempo, colaborou com
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a decadência do Jongo porque não havia continuidade ou incentivo entre as gerações,


ficando a roda cada vez menor, com a morte dos velhos. As crianças eram proibidas de
participar das rodas porque eram vistas como delatoras em potencial, fosse pela
inocência ou medo dos castigos. Lembrando que as letras muitas vezes eram utilizadas
pelos escravos como instrumento de mensagem codificada e combinada para auxiliar
nas mais diversas fugas da escravidão. A introdução dos jongueiros novos pelos
jongueiros velhos acontece na Machadinha, no momento de revitalização do Quilombo
e, a partir de então, observamos tratamento diferenciado ã memória: os velhos se
apresentam como encarregados de passar conhecimentos e os jovens responsabilizados
pela manutenção destes, como diz a letra:
Salve o tambor
Salve jongueiro velho que veio pra ensinar
Salve jongueiro novo
Salve o terreiro
Salve todos os jongueiros.

Considerações finais:

Refletindo a respeito das letras de Jongo da Machadinha, evidenciou-se que os


jongueiros desta comunidade têm contribuído positivamente para o avanço das questões
relacionadas aos afro-brasileiros. Sobre a manipulação da memória segundo Achugar
(2006), “A memória exerce-se e avalia-se, sempre, a partir de uma posição ou a partir de
um posicionamento em relação ao poder e à autoridade”. A história afrodescendente
enfrenta, no alinhamento dos século, a questão do apagamento e do esquecimento. A
oralidade quilombola preenche essas lacunas formadas pela manipulação e os rastros de
memória enunciados nas letras de Jongo pontuam um caminho alternativo para melhor
conhecer a história de um grupo, excluído e apartado socioculturalmente.
Tendo essas considerações como pano de fundo, como pensar num esboço de
novas trilhas sob reflexos da ressemantização?
O conteúdo deste trabalho prioriza o momento de revitalização da cultura
brasileira de origem africana da comunidade quilombola da Fazenda Machadinha.
Partimos do todo histórico para refletir sobre a geração de negros, jongueiros do
séc.XXI, da Fazenda Machadinha. Quais mecanismos seriam necessários para atrair os
mais jovens para o Jongo? Como explicar a revitalização do Jongo após trinta anos de
decadência? E afinal, que negro é esse?
Durante o desenvolvimento desse trabalho, compilar os pontos de Jongo e
recorrer ao conjunto de entrevistas realizadas com os jongueiros e velhos apreciadores
quissamaenses, foi insuficiente para perceber a magnitude dessa manifestação cultural.
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Para alcançar a complexidade do Jongo, acompanhamos o Grupo em três grandes


eventos, sendo dois, em diferentes comunidades quilombolas. Acompanhar o Grupo
permitiu observar expressões silenciadas, pontuações que a convivência permite
ponderar. Nesse sentido, há um diagnóstico significativo: os jongueiros desconhecem o
conceito de patrimonialização da cultura afro-brasileira o valor latente sobre a questão
quilombola. A revitalização é de certa forma, sentida como se forças- externas (pessoas
de fora da Machadinha) tivessem se empenhado para realizá-la, desconsiderando o real
caminho de lutas e os militantes desses eventos. Este cenário compreende o Movimento
Negro, as investiduras desde a década de 1970, e a resistência de um grupo
emblemático, natural da Machadinha que, durante trinta anos, garantiu a continuidade.
Cabe, nessa oportunidade, citar algumas dessas pessoas: Seu Gilsom, Seu Cici, Cheiro e
D. Preta. Tais indivíduos cumprem o que prescreve a UNESCO (2012) no que diz
respeito a uma característica essencial no Jongo, como Patrimônio Imaterial: a memória.
Essa Organização diz que esse tipo de Patrimônio: se transmite de geração em geração,
através de pessoas (praticantes da cultura) engajadas e comprometidas”.
O conceito de Quilombo Ressemantizado, implica diretamente o direito
fundiário. Esta é a característica principal. A cor da pele é fator decisivo apenas, em
coloniais. Na Machadinha, a questão fundiária, contraria a previsão do Art. 68 do Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal, “Aos
remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é
reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhe os títulos
respectivos.” Aos moradores das antigas senzalas foi expedido um tipo de concessão,
válida por quinze anos e renovável por mais quinze, referente à moradia apenas. Sobre
os lotes de terra não há consideração. Alguns moradores, no entanto, se recusaram a
assinar tal documento. A legalização de Terras quilombolas no Brasil compõe um triste
enredo de episódios. Nesse sentido, observamos o ceifar dos Direitos étnicos pela
administração pública. O direito é camuflado e a tutela patriarcal autoritária do Estado
atua ferindo a Lei que protege e assegura “propriedade definitiva”, baseada no
“reconhecimento” e na “identidade”.
O menos importante seria buscar africanidades. Porque a África está na cor da
pele; na história de família de cada um ou na ausência desta; no Jongo, na batida do
tambor; na edificação das senzalas e em tudo mais à sua volta na Comunidade
quilombola da Machadinha. A escola e a formação de negros da comunidade
impactaram na valorização e sensibilidade dando créditos à cultura local. O poder
público criou mecanismos legais, resposta aos anseios e críticas do Movimento Negro.
Mas é perceptível a necessidade de vínculo histórico, algo que seja superior à história
tradicional. Se os quilombolas olharem para o passado, para trás, seus antepassados são
negros e escravos. A generalização esconde dados que o tempo e o descaso político
insistem7ceifar. A história da África e do Negro no Brasil se mostram urgentes para
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deslanchar a consciência da gente da Machadinha. Então, poderemos responder tantas


questões, as pessoais e as da coletividade. Que Negro é esse?
O desdobramento deste artigo fez perceber que a revitalização é o presente. O
comprometimento dos jongueiros com a manutenção da cultura sem a participação do
poder público (remuneração) é um fator preocupante. Contudo, a criatividade e
percepção sobre o poder da cultura de massa são trabalhadas, intensamente pelos
metres. Nesse contexto, o trânsito entre os jovens e os velhos é mantido pelo diálogo e
respeito: no jongo, os velhos são os mestres; e os jovens, a vitalidade, a energia motriz.
Assim, a oralidade é promovida e a memória celebrada.

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