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E-BOOK DE DEGUSTAÇÃO

Conteúdo integrante do livro Execução


Trabalhista na Prática, 1 ed., 2020.

©Editora Mizuno - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


As fotos, textos e layout aqui veiculados são de propriedade da EDITORA MIZUNO.
É proibida a utilização total ou parcial sem nossa autorização.
RAFAEL GUIMARÃES
RICARDO CALCINI
RICHARD WILSON JAMBERG
Este e-book é uma versão de degustação da obra "Execução
Trabalhista na Prática". Nele há trechos importantes selecionados
pelos autores; por esse motivo existem lacunas na numeração
de capítulos e tópicos.
APRESENTAÇÃO
É certo que a conceituada Editora Mizuno, ao viabilizar a
publicação deste projeto inédito, cumpre com sua finalidade insti-
tucional de prover recursos e informações da mais alta qualidade
e confiabilidade para o cotidiano de advogados, estudantes, ma-
gistrados, representantes do ministério público, profissionais do
Poder Judiciário, além de professores universitários.
A obra que traz o título “Execução Trabalhista na Prática”
se traduz não apenas em um livro de consulta doutrinário, mas
também, e, sobretudo, num precioso instrumento eminentemente
pragmático, focado na solução de todos e quaisquer entraves que
permeiam a fase executiva no Processo do Trabalho.
E aqui o projeto reuniu algo que parece ser muito distante
nas demais literaturas acerca da temática, pois conferiu aplicabili-
dade e efetividade práticas a institutos apenas conhecidos na teoria.
Na verdade, o presente trabalho foi muito além do campo puramente
acadêmico, se preocupando, preponderantemente, com as proble-
máticas que surgem no dia a dia nos processos executivos trabalhistas.
Neste material degustação que está sendo ofertado aos lei-
tores já é possível concluir que os estudos tradicionais foram revi-
sitados e atualizados, a exemplo da fase de liquidação de sentença
– que trouxe a novidade do PJe-Calc, além das polêmicas em torno
da liquidação por cálculos; e dos procedimentos executivos – que
também inovou a tratar do cabimento de honorários advocatícios
no processo executivo trabalhista em favor do advogado do credor.
De mais a mais, pontos inéditos, nunca antes enfrentados
por livros tradicionais sobre o assunto, igualmente farão parte des-
ta magnífica obra. Temáticas como “audiência em execução traba-
lhista”, “descontruindo a blindagem patrimonial” e “ferramentas
eletrônicas de pesquisa patrimonial”, disponíveis inclusive nesta
versão gratuita do projeto, já trazem uma pequena dimensão da
grandiosidade do mais completo estudo teórico e prático já feito
acerca da execução trabalhista.
Execução Trabalhista na Prática 5

Aliás, fator determinante para o sucesso deste verdadeiro


guia para a solução das execuções na Justiça do Trabalho está rela-
cionada à expertise dos autores responsáveis por sua elaboração.
A partir da vivência e da atuação no âmbito do Poder Judiciário
Trabalhista, além de serem professores e instrutores de cursos e
treinamentos específicos sobre o tema da execução, este livro se
traduz na consolidação da experiência e conhecimento adquiridos
ao longo de anos.
Bem por isso, não se está diante de um mero manual ou de
um clássico livro sobre a execução trabalhista. Ao revés, cada autor
contribuiu para o projeto de acordo com sua efetiva especialidade,
tornando a obra única no meio jurídico dada a compilação, num só
lugar, de todos os principais aspectos teóricos e práticos, inclusive
inéditos, como é o caso das ferramentas eletrônicas, servindo de
leitura obrigatória a todos os profissionais que desejam realmente
solucionar as milhares de execuções trabalhistas em trâmite peran-
te o Judiciário Laboral.
Portanto, é com imensa satisfação que apresentamos este
projeto acadêmico que, ainda que parcial nesta modalidade degus-
tativa, já é indicativo do futuro lançamento do livro que promete se
tornar referência no estudo da execução trabalhista.

Rafael Guimarães
Ricardo Calcini
Richard Wilson Jamberg
SOBRE OS AUTORES
Rafael Guimarães
Juiz do Trabalho no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Ex-Assessor
de Desembargador no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Especialista em
Direito e Processo do Trabalho. Professor Convidado de Cursos Jurídicos.

Ricardo Calcini
Mestre em Direito pela PUC/SP. Pós-Graduado em Direito Processual
Civil (EPM TJ/SP) e em Direito Social (Mackenzie). Professor de Direito do
Trabalho da FMU. Professor Convidado de Cursos Jurídicos e de Pós-Graduação
(FADI, ESA, Kroton, OAB, Damásio e EPD). Coordenador Editorial Trabalhista
da Editora Mizuno. Membro do Comitê Técnico Executivo da Revista SÍNTESE
Trabalhista e Previdenciária. Coordenador Acadêmico dos projetos “Dúvida
Trabalhista? Pergunte ao Professor!” (Jota), “Migalha Trabalhista” (Migalhas)
e "Prática Trabalhista" (Revista Consultor Jurídico - Conjur). Responsável pelas
colunas “Atualidades Trabalhistas” (Portal Empório do Direito) e “Trabalhista
in foco” (Megajuridico). Palestrante e Instrutor de eventos corporativos pela
empresa Ricardo Calcini | Cursos e Treinamentos, especializada na área jurídica
trabalhista com foco nas empresas, escritórios de advocacia e entidades de
classe. Organizador do e-book Coronavírus e os Impactos Trabalhistas (Editora
JH Mizuno, 2020). Coordenador do livro digital Nova Reforma Trabalhista (Edi-
tora ESA OAB/SP, 2020). Organizador das obras coletivas Perguntas e Respostas
sobre a Lei da Reforma Trabalhista (Editora LTr, 2019) e Reforma Trabalhista
na Prática: Anotada e Comentada (Editora JH Mizuno, 2019). Coordenador do
livro digital Reforma Trabalhista: Primeiras Impressões (Editora Eduepb, 2018).
Membro do IBDSCJ, do CEAPRO, da ABDPro, da CIELO e do GETRAB/USP. Con-
tatos: Website www.ricardocalcini.com | E-mail contato@ricardocalcini.com

Richard Wilson Jamberg


Juiz do Trabalho no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Professor de
Direito Processual do Trabalho na Unisuz. Especialista em Direitos Sociais pela Uni-
versidade Presbiteriana Mackenzie e em Direito Processual do Trabalho pela FMU.
sumário
CAPÍTULO I
Introdução........................................................................................... 11

CAPÍTULO II
Liquidação de Sentença.................................................................. 15
1. Conceito e parâmetros...................................................................... 15
2. Formas de liquidação.......................................................................... 23
2.1. Liquidação por cálculos.............................................................. 24
2.1.1. Apuração dos valores dos títulos fixados na coisa julgada. 26
2.1.2. Correção monetária.......................................................... 27
2.1.3. Juros de mora.................................................................... 38
2.1.4. Contribuições previdenciárias........................................... 40
2.1.5. Encargos fiscais.................................................................. 55
2.1.6. PJe-Calc............................................................................. 57
2.2. Liquidação por artigos............................................................... 59
2.3. Liquidação por arbitramento..................................................... 69
3. Procedimentos da liquidação.............................................................. 73
3.1. Início do procedimento: apresentação de cálculos.................... 73
3.2. Contestação de cálculos............................................................ 76
3.3. Perícia Contábil x interpretação do julgado............................... 81
3.4. Sentença de Liquidação............................................................. 84

CAPÍTULO III
Execução no Processo do Trabalho.............................................. 88
1. Introdução.......................................................................................... 88
2. Princípios da execução trabalhista...................................................... 90
2.1. Primazia do credor trabalhista................................................... 90
2.2. Meio menos oneroso ao executado.......................................... 91
2.3. Responsabilidade patrimonial..................................................... 92
2.4. Mitigação do contraditório........................................................ 95
2.5. Impulso oficial............................................................................ 96
8 Execução Trabalhista na Prática

CAPÍTULO IV
Procedimentos Executivos............................................................. 102
6. Cabimento de honorários advocatícios no processo executivo tra-
balhista em favor do advogado do credor......................................... 102
8. Penhora e garantia do juízo................................................................ 106
8.1 Diferença entre penhora, indisponibilidade, arresto e sequestro
de bens ....................................................................................... 110
8.2 Formalização e intimação da penhora........................................ 117
8.2.1 Averbação premonitória.................................................... 119

CAPÍTULO IX
Audiência em Execução Trabalhista............................................ 121
2 Audiência de conciliação na fase de liquidação e na execução. .......... 121
2.1. Audiência na fase de liquidação: conciliação e saneamento
do processo......................................................................... 121
2.2. Designação de audiência de conciliação no curso da execução.
Momento adequado para requerer ao juiz. ............................... 123
2.3. Há consequência processual para o não comparecimento das
partes à audiência de conciliação?............................................... 124
2.4. É possível a renúncia de crédito pelo reclamante em audiência
na fase de execução?................................................................... 128
2.5. Preparando-se para a audiência de conciliação em execução... 134
2.5.1. Checklist do processo....................................................... 134
2.5.2. Depósito recursal.............................................................. 135
2.5.3. Observância do título judicial: limites objetivos da coisa julgada.. 136
2.5.4. Créditos da União. ........................................................... 137
2.5.5. Créditos de terceiros........................................................ 139
2.5.6. Emolumentos cartorários.................................................. 142
2.5.7. Cláusulas do acordo judicial: a questão da cláusula penal e as
salva guardas patrimoniais para cumprimento da avença.......... 142
2.5.8. Efeitos do termo de conciliação celebrado entre as par-
tes e homologado pelo juiz.................................................... 145
Execução Trabalhista na Prática 9

CAPÍTULO X
Desconstruindo a Blindagem Patrimonial.................................. 147
1. Noções conceituais............................................................................ 147
1.1. Superação do misticismo. ......................................................... 147
1.2. Princípio da responsabilidade patrimonial. ............................... 148
1.3. O fenômeno da blindagem patrimonial..................................... 149
1.4. Característica clássica. .............................................................. 149
1.5. Ato ilícito complexo. ................................................................. 150
1.6. Gama de informações na internet. ........................................... 150
1.7. Zona cinzenta. .......................................................................... 151
1.8. Reflexos negativos nos indicadores de efetividade da execução
trabalhista.............................................................................. 152
2. Antídotos jurídico-normativos e jurisprudenciais............................... 153
2.1. Simulação................................................................................... 154
2.1.1. Breves noções conceituais................................................ 154
2.1.2. Elementos característicos................................................. 155
2.1.3. Hipóteses legais................................................................. 157
2.1.4. Proteção dos terceiros afetados: admissibilidade de
prova indiciária...................................................................... 158
2.1.5. Sanção jurídica do ajuste simulatório................................ 162
2.1.6. Estudo de casos práticos................................................... 163
3. Tipologias mais comuns de blindagem patrimonial............................ 168
3.3 Estruturas societárias fraudulentas............................................. 169
3.3.1 Empresa de fachada........................................................... 169
3.3.1.1 Empresa de fachada é uma realidade no cenário
jurídico pátrio. ................................................................ 169
3.3.1.2 Conceito de empresa. .............................................. 169
3.3.1.3 Traçando os contornos da empresa de fachada. ....... 170
3.3.1.4 Empresa de fachada à luz da legislação tributária. .... 171
3.3.1.5. Outras denominações. ............................................ 173
3.3.1.6. Finalidades diversas. ................................................ 174
3.3.1.7. Formas de identificação. .......................................... 174
3.3.1.8. Enquadramento jurídico como hipótese de simulação
absoluta............................................................................ 175
3.3.1.9. Estudo de casos práticos.......................................... 176
10 Execução Trabalhista na Prática

CAPÍTULO XII
Ferramentas Eletrônicas de Pesquisa Patrimonial................... 179
1. Introdução.......................................................................................... 179
2. Principais ferramentas de pesquisa patrimonial.................................. 182
2.4 CNIB........................................................................................... 182
2.4.1. Escopo e funcionalidades.................................................. 182
2.4.2. Abrangência....................................................................... 183
2.4.3. Demais procedimentos e desdobramentos...................... 184
2.4.4. Direito de prelação ou de preferência. ............................ 185
2.5. SERASAJUD............................................................................... 186
2.5.1. Escopo............................................................................... 186
2.5.2. Funcionalidades................................................................. 186
2.5.3. Aplicações práticas............................................................ 187
2.6 INFOJUD.................................................................................... 190
2.6.1. Escopo............................................................................... 190
2.6.2. Funcionalidades................................................................. 191
2.6.3. Comunicação por meio de ofício com a Superintendência
Regional da Receita Federal................................................... 194
2.6.3.1. DECRED – Declaração de operações com cartões
de crédito......................................................................... 196
2.6.3.2. DIMOB – Declaração de informações sobre
atividades imobiliárias........................................... 198
2.6.3.3. E-FINANCEIRA........................................................ 199
2.6.4. Comunicação por meio de ofício com a Receita Estadual..... 201
2.6.5. Estudo de casos práticos................................................... 201
2.16. SISCOAF.................................................................................. 206
2.16.1. Escopo............................................................................. 206
2.16.2. Dinâmica de elaboração do Relatório de Inteligência
Financeira (RIF)...................................................................... 208
2.16.3 Conteúdo do RIF e seus impactos na persecução
patrimonial executiva.......................................................... 209
2.16.4. Maximizando o resultado da pesquisa no SISCOAF........ 216
2.16.5. Marco temporal da requisição e extração de informações
no SISCOAF............................................................................ 216
2.16.6 Aplicações práticas........................................................... 216

REFERÊNCIAS.......................................................................................... 219
CAPÍTULO I
Introdução

O Direito tem por finalidade regular a vida em sociedade, es-


tipulando regras de convivência e sanções para o descumprimento
de tais regras, buscando a harmonia e paz entre as pessoas.
A regulação da vida em sociedade enseja conflitos de interesses
antagônicos no seio da sociedade, sob a alegação de descumprimento
de regras, com a correspondente pretensão da sanção prevista em Lei.
Para dirimir tais conflitos a sociedade elegeu o Estado, abrin-
do mão do exercício de seu livre arbítrio quanto a autotutela, isto
é, o uso da força física ou do poderio bélico individual de cada
pessoa que compõe a sociedade para defesa dos seus interesses.
Na desconcentração do seu poder soberano, o Estado atri-
buiu a tarefa de resolver os litígios a um órgão especializado, o Ju-
diciário, ligado ao próprio Estado, que, através do devido processo
legal, assegurados o contraditório e a ampla defesa, soluciona os
conflitos, fazendo valer a vontade do Estado sobre a vontade dos
particulares envolvidos no litígio, que deverão acatar e se subme-
ter à decisão, mormente quando não mais houver possibilidade de
serem opostos recursos visando rediscutir o conteúdo da decisão.
Esse poder do Estado recebeu nome de jurisdição, que sig-
nifica o poder de dizer o Direito (do latim jurisdictio), consistente
no poder-dever do Estado de solucionar os conflitos surgidos na
sociedade quanto à aplicação do Direito aos casos concretos, fa-
zendo valer a vontade do Estado – que é a distribuição da justiça
– sobre a das partes envolvidas no litígio.
O Direito Processual, ramo específico da ciência jurídica, é
quem estuda as regras que serão utilizadas pelo Estado na solução
dos conflitos, garantindo o devido processo legal, segundo o qual
é estabelecida a autoridade estatal que julgará o litígio e quais os
12 Execução Trabalhista na Prática

procedimentos a serem adotados, para que as partes envolvidas


tenham a garantia de que a questão será resolvida com imparciali-
dade e igualdade de chances, de acordo com as regras preestabe-
lecidas pelo ordenamento.
As regras processuais têm a finalidade de fixar os procedi-
mentos a serem seguidos para solução dos conflitos com justiça,
distribuindo para cada um o que lhe pertence por direito.
Em outras palavras, é através do Direito Processual que
o Direito Material será concretizado, cumprido e efetivado, de
modo que o Direito Processual deve servir apenas como meio de
efetivação do Direito Material, outorgando e entregando a cada
um o que é seu por direito.
É natural, como decorrência da própria condição humana,
que as partes se insurjam contra a sentença que não acolheu inte-
gralmente suas pretensões, pois todos querem ver reconhecidas
pelo Judiciário suas pretensões deduzidas em juízo, motivo pelo
qual a sentença judicial, compreendida em seu sentido amplo,
como a decisão do Estado sobre o litígio, tem crise de legitimida-
de, na medida em que não corresponde integralmente aos anseios
das partes. E não poderia ser diferente, uma vez que a sentença
representa a vontade do Estado para a solução do conflito surgido
entre as partes, característica fundamental da jurisdição.
O comando da decisão proferida pelo Estado na solução de
um litígio deve ser cumprindo voluntariamente pela parte sucum-
bente (dever moral), e, caso isso não ocorra, a outra parte pode
requerer ao juiz que promova a execução forçada da decisão para
que possa obter o direito que foi assegurado pela sentença.
Em se tratando de questões oriundas do conflito existente
entre o trabalho e o capital, normalmente envolvendo a contrapres-
tação pelo labor já realizado, logo, o meio de subsistência do traba-
lhador, imperioso que o conflito seja resolvido dentro do mais breve
espaço de tempo, de forma a tornar efetivo o próprio Direito do
Trabalho, fazendo a entrega da contraprestação devida ao trabalha-
dor por conta dos serviços realizados, quando esta for devida.
Execução Trabalhista na Prática 13

Um título executivo judicial (sentença) sem cumprimen-


to não possui valor algum, deixando não só de contribuir para a
solução do conflito social, mas também esvazia a legitimidade do
Estado-Judiciário no seu papel de pacificador, estimulando o des-
cumprimento sistêmico do ordenamento jurídico pátrio.
Dentro deste contexto, se faz necessária a análise do papel a
que se destina a execução, que se confunde com a finalidade precí-
pua do próprio Direito, que é a distribuição da justiça, entregando
para cada um o que é seu por direito, aferindo se há o direito de
resistência do executado e qual os seus limites.
O objeto de estudo dessa obra, sem a pretensão de exau-
rir o tema e tampouco aprofundar-se nos conceitos teóricos
dos institutos, é se debruçar sobre temas inerentes à execução
judicial trabalhista, para efetivação dos direitos assegurados no
título executivo, sobretudo através de abordagem sob o aspec-
to de ordem prática, com análise dos institutos de acordo com
sua aplicação em relação às questões recorrentes, abrangen-
do todo o procedimento executivo a as questões atuais que se
apresentam, buscando as formas mais eficazes e céleres de se
garantir a entrega real da prestação jurisdicional, sem olvidar do
devido processo legal e dos meios de defesa para o devedor se
afastar de eventuais abusos.
Além disso, esta obra visa sinalizar caminhos para superar
obstáculos que são enfrentados na execução trabalhista, utili-
zando-se de mecanismos modernos, tais como o conhecimento
aprofundado da desconstrução da blindagem patrimonial, o desen-
volvimento de técnicas de investigação patrimonial, o uso efetivo
das ferramentas eletrônicas de pesquisa patrimonial, as técnicas
recursais na execução, e, por fim, as previsões legais do processo
comum e do executivo fiscal, além daquelas já existentes no pró-
prio ordenamento processual laboral, inclusive contrariando dis-
posições específicas da Consolidação das Leis do Trabalho quando
estas se mostram menos eficazes ou mais burocráticas do que as
previstas no Código de Processo Civil.
14 Execução Trabalhista na Prática

Por fim, propõe-se romper barreiras e dogmas construídos


pela doutrina e jurisprudência, apontando vários institutos que po-
dem ser aplicados na execução trabalhista como forma de se obter o
melhor resultado no cumprimento da sentença, fazendo-se uma bre-
ve análise de cada instituto e como adequá-lo à sistemática juslaboral.
CAPÍTULO II
Liquidação de Sentença

1 Conceito e parâmetros
A liquidação visa apurar os valores dos títulos deferidos na
sentença ou acórdão, para proporcionar a execução, não consti-
tuindo ato de execução, mas apenas o aperfeiçoamento da sen-
tença, pois não é praticado nenhum ato de satisfação de crédito,
constrição (penhora) ou expropriação de bens.
Mauro Schiavi nos ensina que

Segundo os ensinamentos obtidos da melhor doutrina, a liquidação tem


lugar quando a sentença ou acórdão não fixa o valor da condenação
ou não individualiza o objeto da execução. A decisão contém a certeza
da obrigação e as partes que são credora e devedora desta obrigação
(an debeatur), mas não fixa o montante devido (quantum debeatur).
A liquidação constitui, assim, uma fase preparatória, de natureza
cognitiva, em que a sentença ilíquida passará a ter um valor
determinado ou individualizada a prestação ou objeto a ser
executado, por um procedimento disciplinado em Lei, conforme
a natureza da obrigação prevista no título executivo1.

Apesar de não se constituir em ato executivo stricto sensu, a


liquidação é parte fundamental da execução, na medida em que esta,
nos termos do artigo 783 do CPC, deve se basear em título executivo
certo, líquido e exigível, e se a coisa julgada não for líquida, faltará um
dos requisitos do título, impondo-se sua prévia liquidação.
Dispõe o artigo 879, “caput”, da CLT, que “sendo ilíquida a
sentença exequenda, ordenar-se-á, previamente, a sua liquidação,
que poderá ser feita por cálculo, por arbitramento ou por artigos”.

1 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 244.
16 Execução Trabalhista na Prática

Em regra, todas as sentenças dependem da liquidação, ainda


que a sentença tenha sido líquida em relação aos valores das parcelas
deferidas (caso comum em sentenças que condenam ao pagamento
de verbas rescisórias), eis que necessária a apuração da atualização
monetária, juros de mora, contribuições fiscais e previdenciárias inci-
dentes sobre as parcelas, exceto se a coisa julgada, além de líquida, já
indicar os valores de tais parcelas, ou se a condenação envolver parce-
las que não ensejam tais apurações, como indenização por danos mo-
rais ou multa do § 8º do artigo 477 da CLT, ou ainda se a condenação
se resumir a obrigações de fazer (anotação da CTPS, por exemplo).
A liquidação da sentença no Processo do Trabalho, como se
trata de mero aperfeiçoamento da coisa julgada, deve ser orde-
nada pelo juiz ex officio, como decorrência do impulso oficial do
processo, determinando a apresentação cálculos nos termos do
artigo 879, § 1º-B, da CLT, que estabelece que “as partes deverão
ser previamente intimadas para a apresentação do cálculo de liqui-
dação, inclusive da contribuição previdenciária incidente”.
O legislador criou uma fase de impugnação desprovida de
garantia do juízo ou de depósito recursal, pois tradicionalmente o
momento processual natural para a impugnação era após a garan-
tia do juízo, quando então poderiam ser opostos os embargos à
execução pelo réu ou apresentada a impugnação de sentença pelo
autor, na forma do art. 884 da CLT, o que, segundo a doutrina, visa
a evitar abusos na liquidação.
Ressalta Wolney de Macedo Cordeiro que o § 2º do artigo
879 da CLT impôs “ao magistrado condutor do procedimento li-
quidatório o dever funcional de permitir, antes da homologação
dos cálculos, o estabelecimento do contraditório, permitindo aos
litigantes a impugnação prévia da conta, inclusive antes de desen-
cadeada a atividade executiva propriamente dita”2.
De fato, a liquidação de sentença não se configura como ato
executivo “stricto sensu”, na medida em que não há nenhum ato cons-

2 CORDEIRO, Wolney de Macedo. Execução no processo do trabalho, 4ª ed.


Salvador: JusPodivm, 2017, p. 204.
Execução Trabalhista na Prática 17

tritivo ou de expropriação de bens do devedor, sendo poder-dever do


juiz determinar a apresentação dos cálculos de liquidação, sem mal-
ferir o disposto no artigo 878 da CLT, que determina que, havendo
advogado, deverá este promover a execução, não ensejando vício de
iniciativa, uma vez que não se trata de ato executório.
Assim, certificado o trânsito em julgado da decisão proferida
na fase de conhecimento, deve o juiz determinar às partes a apre-
sentação dos cálculos de liquidação, sendo vedado ao juiz determi-
nar a apuração dos valores diretamente por perícia contábil, ante
a expressa determinação da Lei de que as partes devem ser pre-
viamente intimadas para apresentarem os cálculos de liquidação.
Na liquidação, qualquer que seja a forma, é vedado discutir
questões já resolvidas na fase de conhecimento, sobre as quais há
coisa julgada. O § 1º do artigo 879 da CLT traz tal vedação: “na li-
quidação, não se poderá modificar, ou inovar, a sentença liquidanda
nem discutir matéria pertinente à causa principal”. No mesmo sen-
tido, o § 4º do artigo 509 do CPC: “na liquidação é vedado discutir
de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou”.
De tais dispositivos são extraídos os parâmetros da liquida-
ção: os estritos termos da coisa julgada. Tal parâmetro, que baliza
a liquidação de sentença, se dá não só pela disposição do §1º do
artigo 879 da CLT, como também em decorrência do princípio do
título executivo, pois não havendo condenação, não existirá um
título executivo para se promover tal execução, já que toda execu-
ção deve se basear em um título executivo (nulla executio sine titu-
lo), princípio basilar da execução positivado no artigo 783 do CPC.
Desta forma, se alguma parcela for inserida na liquidação sem
que haja a condenação correspondente, caracterizará o excesso de
execução, podendo o devedor opor embargos à execução.
Nesse contexto, se uma sentença condenar o réu no pa-
gamento do adicional de periculosidade e horas extraordinárias,
mas na condenação não constar a integração de referido adicional
na base de cálculo das horas extras, na liquidação não poderá ser
apurado o valor das horas extras com a integração do adicional de
18 Execução Trabalhista na Prática

periculosidade na base de cálculo, apesar da natureza salarial da


parcela e do entendimento da integração (Súmula 132, I, TST), por
ausência de condenação.
Ainda que tenha sido postulada tal integração na petição inicial,
não havendo pronunciamento da sentença (sentença citra petita), não
existirá condenação, não podendo ser apurada tal verba na liquidação
e tampouco ser objeto de execução. Cabia à parte, nessa hipótese,
ter oposto embargos de declaração para sanar a omissão do pedido.
Ocorrendo o trânsito em julgado da sentença sem existir condenação
(e por consequência análise do pedido), poderá a parte ingressar com
nova demanda, observado o prazo prescricional3, vez que não houve
pronunciamento judicial sobre aquela demanda específica, não haven-
do, portanto, resolução do mérito daquela questão.
Da mesma forma, se a coisa julgada condenou o réu no paga-
mento de determinada parcela por não comprovada a quitação opor-
tuna, não poderá este alegar em liquidação a quitação desta parcela,
total ou parcial, ao longo do contrato, já que deveria ter apresentado
os comprovantes na fase de conhecimento, sendo vedado ao juiz co-
nhecer de questões já decididas (art. 836 da CLT), por força da eficácia
preclusiva da coisa julgada material, posto que “transitada em julgado
a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as
alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento
quanto à rejeição do pedido” (art. 508 do CPC).
Assim, apenas se o pagamento foi posterior à formação da
coisa julgada, é que pode ser levado a discussão em sede de li-
quidação, ou até mesmo na própria execução, pois representa o
cumprimento da sentença.
3 Na verificação do prazo prescricional, deve ser levada em consideração a inter-
rupção do prazo desde a propositura da ação até o momento em que se operou
o trânsito em julgado em relação a omissão (artigo 11, § 3º da CLT, Súmula 268
do TST e Parágrafo Único do art.202 do Código Civil), isto é, no momento em
que a parte deveria ter oposto embargos de declaração para sanar a omissão
correspondente, de modo que, se tal omissão se deu na sentença de primeiro
grau e a parte não opôs os embargos declaratórios, ainda que tenha havido re-
curso quanto as demais matérias, o trânsito em julgado em relação a tal questão
se operou na publicação da sentença, e não do momento em que certificado o
trânsito em julgado em relação aos recursos.
Execução Trabalhista na Prática 19

Situação diversa se observa, contudo, nas hipóteses em que


a coisa julgada determina a apuração por artigos, ou ainda quando
há omissão na coisa julgada quanto aos parâmetros da condenação,
como, por exemplo, quando há condenação em horas extras e não
há fixação na sentença quanto ao divisor ou percentual do adicio-
nal, o que não impede a fixação em sede de liquidação de sentença,
cuja finalidade é o aprimoramento do título, para lhe permitir a
execução, sem que haja discussão acerca do quanto decidido na
fase de conhecimento.
É discutível, tanto na doutrina quanto na jurisprudência, a
possibilidade de se questionar, em sede de liquidação de sentença,
a condenação ultra petita ou extra petita, visando extirpar o con-
teúdo que excede ao pedido formulado na petição inicial da fase
de conhecimento, diante da vedação do § 1º do artigo 879 da CLT,
tratando-se de matéria que, a rigor, deve ser deduzida por meio de
ação rescisória, em conformidade com a Súmula 298, V, do TST:

Não é absoluta a exigência de pronunciamento explícito na ação


rescisória, ainda que esta tenha por fundamento violação de
dispositivo de Lei. Assim, prescindível o pronunciamento explícito
quando o vício nasce no próprio julgamento, como se dá com a
sentença “extra, citra e ultra petita”

Não obstante, como a liquidação de sentença é a fase de


aperfeiçoamento da coisa julgada, é possível trazer o questio-
namento da condenação ultra ou extra petita, na medida em
que, conforme doutrina e jurisprudência predominantes, tal
condenação é tida por inexistente, porquanto ausente pressu-
posto processual (lide) quanto ao objeto daquela condenação
que extrapola os limites do pedido deduzido na petição inicial4,

4 O pedido corresponde ao mérito da demanda, que formará a lide, de modo que


não existe lide em relação ao que não foi objeto do pedido deduzido no proces-
so, sendo vedado ao juiz, pelo artigo 492 do CPC, “proferir decisão de natureza
diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em
objeto diverso do que lhe foi demandado”.
20 Execução Trabalhista na Prática

tratando-se de matéria de ordem pública que pode ser alegada


e conhecida a qualquer momento e grau de jurisdição. Ademais,
a aferição da ocorrência de julgamento extra ou ultra petita se
dá de forma objetiva, pelo simples cotejo dos termos do pedido
deduzido na petição inicial e o conteúdo da condenação.
Tratando-se de questão de ordem pública e que pode ser
conhecida a qualquer momento, apesar do óbice do §1º do artigo
879 da CLT, é defensável a possibilidade de se corrigir tal vício na
liquidação de sentença, até porque se trata de medida de celerida-
de e economia processual, de constatação simples e objetiva pelo
confronto da petição inicial com a sentença, prevenindo discussões
que poderiam ser trazidas no curso da execução.
Desta forma, exemplificativamente, se o autor requer
horas extras com adicional legal de 50% e a sentença acolher
a pretensão e condenar o réu no pagamento das horas extras
com adicional superior previsto em convenção coletiva, vindo
a transitar em julgado tal decisão, configurando a hipótese de
sentença ultra petita, é lícito ao réu, em sede de liquidação de
sentença, discutir a inexistência da condenação no que supera
ao pedido deduzido na exordial da fase de conhecimento.
Vale destacar não ser aplicável, nessa hipótese, o princípio da
proteção da parte hipossuficiente, que é um princípio de Direito
Material do Trabalho e não de Direito Processual do Trabalho5.
A liquidação de sentença, como já esclarecido, se presta ao
aprimoramento da sentença visando conferir à coisa julgada o re-
quisito da liquidez, pressuposto do título executivo, nos moldes do
artigo 783 do CPC, não se prestando, a rigor, para atender aos
demais pressupostos do título executivo, notadamente a certeza.
5 No Direito Processual do Trabalho o princípio da proteção tem aplicação restri-
ta ao plano da inspiração legislativa, o que vale dizer que a Lei processual traba-
lhista tende a ser protetiva à parte hipossuficiente, não podendo o juiz aplicar tal
princípio no plano processual, devendo aplicar apenas as determinações legais,
sob pena de violar os princípios da isonomia e igualdade de tratamento que deve
dispensar às partes, comprometendo a imparcialidade do juiz.
Execução Trabalhista na Prática 21

Obrigação certa é aquela expressa no título, que diz res-


peito à segurança da existência da obrigação a ser cumprida,
da qual não paira dúvida, exprimindo a natureza da prestação
(modalidade da obrigação: fazer, não fazer, dar coisa certa), ob-
jeto (delimitação da obrigação) e sujeitos (credor e devedor), de
modo que quem se depara com o título executivo não pode ter
dúvidas acerca da existência da obrigação com os seus contor-
nos e a identificação das partes da relação obrigacional.
No caso do título judicial, pode ser uma obrigação de fazer,
não fazer, entregar coisa certa ou pagar, que estará expressa na
sentença, que deve indicar com clareza qual a obrigação a ser cum-
prida pelo devedor e quem deve ser o seu beneficiário. Conforme
dispõe o parágrafo único do artigo 492 do CPC, “a decisão deve ser
certa, ainda que resolva relação jurídica condicional”.
Contudo, há casos em que a sentença, apesar de identificar
os sujeitos e a existência e modalidade da obrigação, não traça to-
dos os contornos, o que, prima facie, lhe retira o caráter de certeza,
requisito do título executivo, como na hipótese de condenação de
uma parcela de cunho salarial com reflexos, sem indicar o julgado
de forma expressa quais serão os reflexos objeto da condenação6.
Nesse caso, se de um lado existe a obrigação reconhecida
na sentença de pagar os reflexos da parcela salarial – que são facil-
mente identificáveis –, de outro lado pode se argumentar que exis-
tem dúvidas quanto ao alcance da condenação, vez que esta não foi
expressa em delimitar os reflexos deferidos, de modo que não é
possível a execução dos reflexos, por não existir condenação certa,
estando o título carente de um de seus requisitos, sendo, portanto,
inexequíveis os reflexos que constam do provimento jurisdicional.

6 A falta de especificação dos reflexos, na petição inicial, leva à inépcia do pedido,


se intimado o autor não sanar o vício (art. 321 do CPC), uma vez que o artigo
840, § 1º, da CLT impõe que o pedido deve ser certo (expressar o que se pre-
tende), determinado (especificar e delimitar o conteúdo da pretensão) e apontar
o valor correspondente.
22 Execução Trabalhista na Prática

A questão que se levanta é: em sede de liquidação de


sentença, é possível corrigir eventuais vícios de certeza da
coisa julgada, para delimitar de forma específica o objeto da
condenação?
A priori, tal vício não deveria existir, posto que, apesar do
descuido do julgado, caberia à parte interessada opor embar-
gos declaratórios para sanar a omissão e corrigir o vício. No
entanto, se a parte também foi negligente, permitindo a ocor-
rência do trânsito em julgado com o vício de falta de certeza
da decisão, o provimento judicial condenatório ainda pode ser
corrigido pela parte interessada por via de remédio processual
adequado, notadamente a ação rescisória por violação de nor-
ma jurídica (art. 966, inciso V, do CPC), porquanto o julgado
afrontou a disposição do parágrafo único do artigo 492 do CPC.
Não obstante, havendo no comando da coisa julgada a
condenação, ainda que padeça de certeza em algum ponto es-
pecífico, é possível a correção em sede de liquidação de senten-
ça, mormente quando o próprio julgado, apesar da improprie-
dade técnica, remete tal questão à fase de liquidação.
A liquidação de sentença como fase de aprimoramento
da coisa julgada é dotada de carga cognitiva apta não só a es-
tabelecer o valor das prestações objeto do decreto condena-
tório, como também permite, em certos casos – notadamente
na liquidação por artigos –, a alegação de fatos e provas para
fixação do quantum debeatur, não se justificando, portanto, que
não possa delimitar o objeto da condenação existente, que de-
verá levar em consideração a limitação do pedido formulado na
exordial e também o direito aplicável ao caso concreto.
Vale destacar que parte da doutrina critica a redação do
artigo 783 do CPC, considerando o elemento certeza como
parte integrante da liquidez, destacando-se, a propósito, o en-
tendimento de Manoel Antônio Teixeira Filho:
Execução Trabalhista na Prática 23

A nosso ver, contudo, há certa impropriedade nessa expressão


legal, pois quando se refere a título: a) líquido; b) certo; e c)
exigível faz supor que existam aí três qualidades distintas, quando
se sabe que a certeza integra o conceito de liquidez. Tanto é
autêntica a assertiva que o Código Civil anterior considerava
líquida a obrigação que fosse certa quanto à sua existência e
determinada quanto ao seu objeto (art. 1.533). Dessa forma,
houve superfetação do legislador ao aludir a título líquido e
certo; bastaria que mencionasse apenas o elemento liquidez, para
entender-se embutido nele o da certeza7.

Nessa seara, não há óbice para que eventuais vícios de falta


de certeza do título executivo judicial venham a ser supridos em
liquidação de sentença.

2 Formas de liquidação
O artigo 879 da CLT prevê que a liquidação de sentença
pode ser feita por cálculo, por arbitramento ou por artigos.
Da mesma forma, o artigo 509 do Código de Processo Civil
prevê as três modalidades de liquidação de sentença, trazendo os
conceitos de cada espécie:

Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia


ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor
ou do devedor:
I - por arbitramento, quando determinado pela sentença,
convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto
da liquidação;
II - pelo procedimento comum, quando houver necessidade de
alegar e provar fato novo.
[...]
§ 2o Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo
aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento
da sentença.

7 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio Teixeira. Execução no processo do trabalho.


São Paulo, 12ª ed. Ltr, 2017, p. 154/155
24 Execução Trabalhista na Prática

No âmbito do Processo do Trabalho, a forma mais comum


é a liquidação por cálculos, em razão da especificidade da matéria,
que envolve a apuração dos valores dos títulos, de acordo com os
parâmetros definidos na coisa julgada, e ainda a apuração de cor-
reção monetária, juros de mora e os encargos previdenciários e
fiscais incidentes sobre as parcelas deferidas.
Quando necessária a adoção dos outros meios de liquidação,
notadamente por artigos, a forma da liquidação será mista, pois,
além da apuração em artigos de questões fáticas, os títulos também
dependerão da fixação de valores.
A modalidade de liquidação por arbitramento é muito rara no
Processo do Trabalho, ocorrendo quando não é possível estabelecer
os valores da condenação por cálculos aritméticos por ausência de
parâmetros ou diante da inviabilidade da liquidação por artigos.
Para ilustrar, na hipótese de ser o empregador condenado
a pagar diferenças de comissões a um vendedor, convencido pela
prova oral de que o empregador maliciosamente ocultava vendas
realizadas, é possível determinar a liquidação por artigos, para, a
partir dos relatórios de vendas, apurar o valor real.
Assim sendo, no curso da liquidação por artigos, verificar-se-
-á a inexistência de tais documentos ou ainda que os documentos
foram manipulados pelo empregador para ocultar vendas, não ha-
vendo outro meio de se apurar senão por arbitramento.
É possível que em uma mesma liquidação sejam utilizadas
as três formas, a depender do objeto da condenação: artigos,
arbitramento e cálculos.

2.1 Liquidação por cálculos


Diferentemente do que ocorre no processo civil, em razão
da complexidade dos cálculos, o “cumprimento” (execução) da
sentença trabalhista não pode ser iniciado de imediato com a jun-
tada da memória de cálculo (art. 524 do CPC), tratando-se de pro-
cedimento complexo, demandando contraditório, por vezes com
Execução Trabalhista na Prática 25

necessidade de realização de perícia contábil, sendo que ao final de


tal procedimento, será prolatada a sentença de liquidação, decisão
interlocutória de cunho declaratório (na qual o juiz vai declarar o
valor das prestações contidas no título executivo).
A liquidação por cálculos resume-se a atribuição de valor a cada
parcela deferida na coisa julgada, e a somatória de todas as parcelas
para se apurar o valor total da execução – o “quantum debeatur” –,
uma vez que os valores são apurados a partir do valor do salário/remu-
neração do trabalhador e quando reconhecidas parcelas de natureza
salarial acabam por repercutir nas demais verbas do contrato.
Os cálculos de liquidação devem englobar também as con-
tribuições previdenciárias e fiscais devidas, que serão deduzidas do
crédito, assim como as contribuições previdenciárias devidas pelo
empregador.
Mauro Schiavi destaca que

Na esfera trabalhista, praticamente, todas as liquidações são


realizadas por cálculos, em razão da própria natureza das verbas
e dos pedidos. Entretanto, os cálculos, ordinariamente, são
mais complexos que no processo civil, envolvendo parcelas de
naturezas diversas e, normalmente, cada parcela deferida tem
repercussão em outras parcelas, o que justifica o procedimento
da liquidação por cálculos de forma mais detalhada, como o faz o
já referido art. 879 da CLT8.

Quando a coisa julgada não for líquida, ainda que se faça ne-
cessária a apuração por artigos, para prova de fatos novos, como
a data de nascimento de filho(a) da empregada gestante que ob-
teve por sentença o direito ao recebimento da indenização dos
salários do período de garantia de emprego da gestante, eis que
tal fato é imprescindível para fixação do termo final da garantia,
será necessária também a apuração dos valores através de cálculos
aritméticos.

8 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 249
26 Execução Trabalhista na Prática

Deste modo, praticamente em todas as liquidações de sen-


tença no processo do trabalho ocorrerá a necessidade de adoção
do critério de cálculos, ainda que cumulada com outras hipóteses.

2.1.1 Apuração dos valores dos títulos fixados na


coisa julgada
Em regra, as parcelas contempladas na sentença condenató-
ria decorrem de direitos trabalhistas violados no curso da relação
de emprego que são calculados a partir da remuneração do traba-
lhador, observando-se, quando o caso, as proporcionalidades cor-
respondentes, tal como nos casos de saldo de salário, décimo tercei-
ro salário proporcional, férias proporcionais acrescidas de um terço,
aviso prévio proporcional, FGTS (8% das parcelas salariais mensais).
Há outros direitos que decorrem de benefícios sociais a que
faria jus o trabalhador, como o seguro desemprego ou o abono do
PIS, mas que por ato patronal foi lesado o empregado, hipóteses em
que devem ser apurados os valores dos benefícios correspondentes.
Tais cálculos não demandam maiores dúvidas, devendo ser
especificada cada verba, sua proporcionalidade e a indicação do
valor correspondente.
Contudo, os cálculos se tornam mais complexos quando
são reconhecidas parcelas de natureza salarial que integram a re-
muneração e ensejam repercussões em outras parcelas, ou ainda,
quando são reconhecidas várias parcelas salariais, uma incidindo no
cálculo da outra, como na hipótese de reconhecimento, em uma
mesma sentença, de diferenças salariais, adicional de periculosida-
de e diferenças de horas extras, todas com reflexos nas demais
verbas contratuais, de sorte que as diferenças salariais impactarão
o cálculo do adicional de periculosidade e ambas integrarão a base
de cálculo das horas extras, devendo serem deduzidas os valores
das horas extras pagos ao longo do contrato, para depois apurar
todas as demais repercussões destas parcelas em descansos sema-
nais remunerados, aviso prévio proporcional, férias com um terço,
décimo terceiro salários e depósitos do FGTS com multa de 40%.
Execução Trabalhista na Prática 27

Dispõe o artigo 491 do CPC que “na ação relativa à obri-


gação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a
decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de
correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a
periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso”.
Além disso, o §3º do artigo 832 da CLT determina que “as
decisões cognitivas ou homologatórias deverão sempre indicar a
natureza jurídica das parcelas constantes da condenação ou do acordo
homologado, inclusive o limite de responsabilidade de cada parte pelo
recolhimento da contribuição previdenciária, se for o caso”.
Assim, após a apuração dos valores das parcelas principais
que compõem o título executivo, deve ser procedida a apuração
da atualização monetária e apuração dos juros, bem como dos
encargos previdenciários e fiscais incidentes sobre as parcelas de
natureza salarial, que serão deduzidas do crédito do exequente,
devendo ainda ser apurada a contribuição previdenciária que cabe
ao empregador, que também será executada e repassada à Previ-
dência Social, o que será abordado adiante, de forma detalhada.
Normalmente os valores são apurados em planilhas, com
demonstração dos valores correspondentes a cada parcela, totali-
zando-se os valores ao final.

2.1.2 Correção monetária


Na apuração dos valores, como já apontado, deverá ser obser-
vada a correção monetária das parcelas deferidas, o que já ensejou – e
ainda enseja – inúmeras discussões doutrinárias e jurisprudenciais.
A primeira questão diz respeito ao momento a partir do qual
incidirá a correção monetária.
Apesar de nas últimas décadas tal questão resultar em di-
ferenças insignificantes, em razão da estabilização da inflação, no
passado, quando a inflação era alta, chegando em determinados
momentos a alcançar patamares de 30 a 50% ao mês, tal discussão
era de grande importância.
28 Execução Trabalhista na Prática

O Tribunal Superior do Trabalho fixou o entendimento de


que, como o prazo para pagamento dos salários é o quinto dia do
mês subsequente ao trabalhado, a correção monetária se contava
a partir de tal marco. Nesse sentido, a OJ 124 da SDI-1, posterior-
mente convertida na Súmula 381, que tem a seguinte redação:

SÚMULA 381. CORREÇÃO MONETÁRIA. SALÁRIO. ART. 459


DA CLT (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 124 da
SBDI-I) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
O pagamento dos salários até o 5º dia útil do mês subsequente ao
vencido não está sujeito à correção monetária. Se essa data limite
for ultrapassada, incidirá o índice da correção monetária do mês
subsequente ao da prestação dos serviços, a partir do dia 1º. (ex-
OJ nº 124 da SBDI-I - inserida em 20.04.1998)

Assim, em relação às parcelas que devem ser pagas junto


com o salário mensal, tal como horas extraordinárias, a correção
monetária incide a partir do mês seguinte ao trabalhado. Em rela-
ção às demais parcelas, deve atentar-se ao vencimento da obriga-
ção, devendo ser corrigido o valor a partir de tal marco. Exemplos:
décimo terceiro salário: mês de dezembro de cada ano; férias: o
período de gozo, e se indenizadas, por ocasião da extinção do con-
trato (Súm. 7 do TST); verbas rescisórias: décimo dia após o
término do contrato.
Em relação aos danos morais, o Tribunal Superior do Tra-
balho fixou o entendimento de que a correção incide a partir do
momento do arbitramento, isto é, da data da sentença ou acórdão
que fixou o valor, conforme Súmula 439:

DANOS MORAIS. JUROS DE MORA E ATUALIZAÇÃO


MONETÁRIA. TERMO INICIAL - Res. 185/2012, DEJT divulgado
em 25, 26 e 27.09.2012
Nas condenações por dano moral, a atualização monetária é
devida a partir da data da decisão de arbitramento ou de alteração
do valor. Os juros incidem desde o ajuizamento da ação, nos
termos do art. 883 da CLT
Execução Trabalhista na Prática 29

Nos dias atuais, a maior discussão em relação à correção


monetária se dá quanto ao índice aplicável.
A Lei 8.177/91, em seu artigo 39, prevê:

Art. 39. Os débitos trabalhistas de qualquer natureza, quando não


satisfeitos pelo empregador nas épocas próprias assim definidas
em Lei, acordo ou convenção coletiva, sentença normativa ou
cláusula contratual sofrerão juros de mora equivalentes à TRD
acumulada no período compreendido entre a data de vencimento
da obrigação e o seu efetivo pagamento.

A Lei 8.177/91 implantou medidas de indexação da econo-


mia, conhecida como “Plano Collor”, criando a TRD (taxa refe-
rencial diária), que embora não fosse o índice oficial de inflação do
país, acabava por refletir a inflação, sendo adotada como parâme-
tro de atualização monetária em contratos e adotada oficialmente
como critério da correção monetária dos créditos trabalhistas. O
artigo 1º de referida Lei prevê:

O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada


a partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos
depósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos
de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de
investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais,
estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada
pelo Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e
enviada ao conhecimento do Senado Federal.

A Lei 8.660/93 extinguiu a TRD a partir de 01/02/1993, sen-


do substituída pela TR, divulgada mensalmente.
Verificou-se nos últimos anos que a TR não reflete a inflação,
estando, aliás, muito aquém desta, como se vê no quadro compa-
rativo entre os índices acumulados da TR, IPCA-E e INPC, de 2010
a 2019:
30 Execução Trabalhista na Prática

ANO TR IPCA-E INPC

2010 0,6887% 6,75% 6,4652%

2011 1,2079% 6,55% 6,0799%

2012 0,2897% 5,77% 6,1978%

2013 0,191% 5,84% 5,5627%

2014 0,8592% 6,46% 6,2283%

2015 1,7954% 10,70% 11,2762%

2016 2,0125% 6,58% 6,5800%

2017 0,5967% 2,93% 2,0669%

2018 0,0000% 3,86% 3,4340%

2019 0,0000% 3,91% 4,4816%

A partir desta constatação, passou-se a discutir a aplicação


da TR como índice de correção monetária dos créditos trabalhis-
tas, tal como previsto no artigo 39 da Lei 8.177/91.
O Supremo Tribunal Federal, na ADI 493-DF, julgou que “a
taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, re-
fletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos
a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder
aquisitivo da moeda (...)” (Rel. Min. Moreira Alves).
Tendo como pressuposto tal declaração de inconstituciona-
lidade, muitos julgados passaram a adotar outros critérios de cor-
reção monetária. O Tribunal Superior do Trabalho, em incidente
de inconstitucionalidade (ArgInc-479-60.2011.5.04.0231), em
04.8.2015, decidiu que:

ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. EXPRESSÃO


“EQUIVALENTES À TRD” CONTIDA NO ARTIGO 39 DA
LEI Nº 8.177/91. RATIO DECIDENDI DEFINIDA PELO SUPRE-
MO TRIBUNAL FEDERAL. INTERPRETAÇÃO CONFORME A
CONSTITUIÇÃO. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONA-
LIDADE POR ARRASTAMENTO, POR ATRAÇÃO, CONSEQU-
ÊNCIA, DECORRENTE OU REVERBERAÇÃO NORMATIVA.
Execução Trabalhista na Prática 31

INTERPETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO. MODULA-


ÇÃO DE EFEITOS AUTORIZADA PELA INTEGRAÇÃO ANA-
LÓGICA PREVISTA NO ARTIGO 896-C,M § 17, DA CLT, IN-
TRODUZIDO PELA LEI Nº 13.015/2014. RESPEITO AO ATO
JURÍDICO PERFEITO. Na decisão proferida pelo Supremo Tribu-
nal Federal nas ADIs nºs 4.357, 4.372, 4.400 e 4425, foi declarada
inconstitucional a expressão “índice oficial da remuneração básica
da caderneta de poupança”, constante do § 12 do artigo 100 da
Constituição Federal. Mais recentemente e na mesma linha, desta
feita por meio da decisão proferida nos autos da Ação Cautelar
n° 3764 MC/DF, em 24/03/2015, o entendimento foi reafirmado
pela Suprema Corte, e fulminou a aplicação da TR como índice de
correção monetária. A ratio decidendi desses julgamentos pode ser
assim resumida: a atualização monetária incidente sobre obriga-
ções expressas em pecúnia constitui direito subjetivo do credor e
deve refletir a exata recomposição do poder aquisitivo decorrente
da inflação do período em que apurado, sob pena de violar o di-
reito fundamental de propriedade, protegido no artigo 5o, XXII,
a coisa julgada (artigo 5o, XXXVI),  a isonomia (artigo 5º, caput),
o princípio da separação dos Poderes (artigo 2o) e o postulado da
proporcionalidade, além da eficácia e efetividade do título judi-
cial, a vedação ao enriquecimento ilícito do devedor. Diante desse
panorama, inevitável reconhecer que a expressão “equivalentes à
TRD”, contida no artigo 39 da Lei n° 8.177/91, também é inconsti-
tucional, pois impede que se restabeleça o direito à recomposição
integral do crédito reconhecido pela sentença transitada em julga-
do. O reparo, portanto, dessa iníqua situação se impõe e com ur-
gência, na medida em que, ao permanecer essa regra, a cada dia o
trabalhador amargará perdas crescentes resultantes da utilização
de índice de atualização monetária do seu crédito que não reflete
a variação da taxa inflacionária. A solução para a questão emana
do próprio Supremo Tribunal Federal e recai sobre a declaração
de Inconstitucionalidade por Arrastamento (ou por Atração, Con-
sequência, Decorrente, Reverberação Normativa), caracterizada
quando a declaração de inconstitucionalidade de uma norma im-
pugnada se estende aos dispositivos normativos que apresentam
com ela relação de conexão ou de interdependência. A técnica
já foi utilizada pela Corte Maior, em inúmeros casos e, especifi-
camente na discussão em exame, em relação à regra contida no
art. 1o-F da Lei n° 9.494/97, a partir do reconhecimento de que
os fundamentos da ratio decidendi principal também se encontra-
vam presentes para proclamar o mesmo “atentado constitucional”
32 Execução Trabalhista na Prática

em relação a este dispositivo que, na essência, continha o mes-


mo vício. A consequência da declaração da inconstitucionalidade
pretendida poderá acarretar, por sua vez, novo debate jurídico,
consistente em definir o índice a ser aplicável e, também, o efeito
repristinatório de distintas normas jurídicas, considerando have-
rem sido diversas as Leis que, ao longo da história, regularam o
tema. Porém, a simples declaração de que as normas anteriores
seriam restabelecidas, de pronto, com a retirada do mundo ju-
rídico da Lei inconstitucional, ainda que possível, não permitiria
encontrar a solução, diante da extinção da unidade de referência
de cuja variação do valor nominal se obtinha a definição do fator
de reajuste, além de, de igual modo, haver sido assegurado no
comando do STF a indicação do índice que reflete a variação plena
da inflação. Nessa mesma linha de argumentação e como solução
que atenda à vontade do legislador e evite a caracterização do
“vazio normativo”, pode ser adotada a técnica de interpretação
conforme a Constituição para o texto remanescente do dispositi-
vo impugnado, que mantém o direito à atualização monetária dos
créditos trabalhistas. Pretende-se, pois, expungir do texto legal
a expressão que atenta contra a Constituição e, uma vez manti-
da a regra que define direito à atualização monetária (o restan-
te do artigo 39), interpretá-la em consonância com as diretrizes
fixadas na Carta, para assegurar o direito à incidência do índice
que reflita a variação integral da “corrosão inflacionária”, dentre
os diversos existentes (IPC, IGP, IGP-M, ICV, INPC e IPCA, por
exemplo), acolhendo-se o IPCA-E, tal como definido pela Cor-
te Maior. Mas isso também não basta. Definido o novo índice de
correção, consentâneo com os princípios constitucionais que le-
varam à declaração de inconstitucionalidade do parâmetro ante-
rior, ainda será necessária a modulação dos efeitos dessa decisão,
autorizada esta Corte por integração analógica do artigo 896-C, §
17, da CLT, introduzido pela Lei nº 13.015/2014, a fim de que se
preservem as situações jurídicas consolidadas resultantes dos pa-
gamentos efetuados nos processos judiciais em virtude dos quais
foi adimplida a obrigação, sobretudo em decorrência da proteção
ao ato jurídico perfeito, resguardado desde o artigo 5º, XXXVI,
da Constituição, até o artigo 6º da Lei de Introdução ao Direito
BrasiLeiro – LIDB. Em conclusão: declara-se a inconstitucionalida-
de por arrastamento da expressão “equivalentes à TRD”, contida
no caput do artigo 39 da Lei n° 8.177/91; adota-se a técnica de
interpretação conforme a Constituição para o texto remanescen-
te do dispositivo impugnado, a preservar o direito à atualização
Execução Trabalhista na Prática 33

monetária dos créditos trabalhistas; define-se a variação do Índice


de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) como fator de
atualização a ser utilizado na tabela de atualização monetária dos
débitos trabalhistas na Justiça do Trabalho; e atribui-se efeito mo-
dulatório à decisão, que deverá prevalecer a partir de 30 de junho
de 2009 (data de vigência da Lei nº 11.960/2009, que acresceu o
artigo 1º-F à Lei nº 9.494/1997, declarado inconstitucional pelo
STF, com o registro de que essa data corresponde à adotada no
Ato de 16/04/2015, da Presidência deste Tribunal, que alterou o
ATO.TST.GDGSET.GP.Nº 188, de 22/4/2010, publicado no BI nº
16, de 23/4/2010, que estabelece critérios para o reconhecimento
administrativo, apuração de valores e pagamento de dívidas de
exercícios anteriores – passivos – a magistrados e servidores do
Tribunal Superior do Trabalho), observada, porém, a preservação
das situações jurídicas consolidadas resultantes dos pagamentos
efetuados nos processos judiciais em virtude dos quais foi adim-
plida a obrigação, em respeito à proteção ao ato jurídico perfeito,
também protegido constitucionalmente (art. 5º, XXXVI).
(TST-ArgInc-479-60.2011.5.04.0231, Tribunal Pleno, rel. Min.
Cláudio Mascarenhas Brandão, data de julgamento: 04/08/2015)

O min. Dias Toffoli deferiu liminar na Reclamação Constitu-


cional nº 22.012, da Federação Nacional dos Bancos, contra a deci-
são supra do TST, nos seguintes termos: “Ante o exposto, defiro o
pedido liminar para suspender os efeitos da decisão reclamada e da
‘tabela única’ editada pelo CSJT em atenção a ordem nela contida,
sem prejuízo do regular trâmite da Ação Trabalhista nº 0000479-
60.2011.5.04.0231, inclusive prazos recursais”.
Em seguida, o TST julgou embargos declaratórios no inci-
dente de inconstitucionalidade (ArgInc-479-60.2011.5.04.0231),
com a seguinte ementa:

Embargos de declaração em incidente de arguição de


inconstitucionalidade. Atualização monetária dos débitos
trabalhistas. Art. 39 da Lei nº 8.177/91. Declaração de
inconstitucionalidade da expressão “equivalentes à TRD”.
Aplicação do índice IPCA-E. Efeito modificativo. Modulação de
efeitos. O Tribunal Pleno, em sede de embargos de declaração
em incidente de arguição de inconstitucionalidade, decidiu, por
34 Execução Trabalhista na Prática

maioria, conferir efeito modificativo ao julgado para modular os


efeitos da decisão que declarou inconstitucional, por arrastamento,
a expressão “equivalentes à TRD”, contida no art. 39 da Lei
nº 8.177/91, e acolheu o IPCA-E como índice de atualização
monetária dos débitos trabalhistas, para que produza efeitos
somente a partir de 25.3.2015, data coincidente com aquela
adotada pelo Supremo Tribunal Federal no acórdão prolatado na
ADI 4.357. De outra sorte, por unanimidade, em cumprimento à
decisão liminar concedida no processo STF-Rcl-22.012, rel. Min.
Dias Toffoli, o Pleno excluiu a determinação contida na decisão
embargada de reedição da Tabela Única de cálculo de débitos
trabalhistas, a fim de que fosse adotado o índice IPCA-E, visto que
tal comando poderia significar a concessão de efeito “erga omnes”,
o que não é o caso. Vencidos, totalmente, os Ministros Maria de
Assis Calsing, Antonio José de Barros Levenhagen, Maria Cristina
Irigoyen Peduzzi, Dora Maria da Costa e Ives Gandra Martins
Filho, que julgavam prejudicados os embargos de declaração em
razão da liminar deferida pelo STF e, parcialmente, o Ministro
Brito Pereira, que acolhia os embargos declaratórios para prestar
esclarecimentos, sem modular os efeitos da decisão.
(TST-ED-ArgInc-479-60.2011.5.04.0231, Tribunal Pleno, rel. Min.
Cláudio Mascarenhas Brandão, 20.3.2017)

Posteriormente, o E. STF julgou improcedente a Reclama-


ção 22.012, passando a prevalecer o entendimento adotado no
julgamento nos embargos declaratórios, de que aplica-se a TR até
25.3.2015 e a partir de então o IPCA-E.
A Lei 13.467/2017 (reforma trabalhista), em vigor desde
11/11/2017, inseriu o § 7º ao artigo 879 da CLT, prevendo: “a atu-
alização dos créditos decorrentes de condenação judicial será feita
pela Taxa Referencial (TR), divulgada pelo Banco Central do Brasil,
conforme a Lei no 8.177, de 1o de março de 1991.”
Tal disposição legal já nasceu com grande discussão acer-
ca de sua inconstitucionalidade. O legislador teve uma excelente
oportunidade de resolver tal conflito, fixando um índice de cor-
reção monetária, mas preferiu adotar um índice que efetivamente
não faz a correção monetária (conforme quadro demonstrativo),
em manifesto prejuízo ao trabalhador, fomentando a discussão.
Execução Trabalhista na Prática 35

O Tribunal Superior do Trabalho, contudo, diante de tal mu-


dança imposta pela reforma trabalhista, passou a adotar o enten-
dimento de que até 24/03/2015 os débitos devem ser corrigidos
pela TR, de 25/03/2015 a 10/11/2017 pelo IPCA-E e a partir de
11/11/2017, pela TR, conforme julgado transcrito:

CRÉDITOS TRABALHISTAS. CORREÇÃO MONETÁRIA.


ATUALIZAÇÃO PELO IPCA-E. TAXA REFERENCIAL.
APLICAÇÃO DO ARTIGO 39 DA LEI Nº 8.177/91. PARCIAL
PROVIMENTO. Este colendo Tribunal Superior do Trabalho,
em sua composição plena, nos autos do processo n° TST-
ArgInc-479-60.2011.5.04.0231, analisou a constitucionalidade da
diretriz insculpida no caput do artigo 39 da Lei n° 8.177/91, na
parte em que determina a utilização da variação acumulada da
TRD para fins de atualização monetária, à luz da interpretação dada
pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 4357-DF.
Assim, prevaleceu o entendimento do Tribunal Pleno desta Corte
Superior no sentido de que o IPCA-E como índice de correção
monetária para atualização dos débitos trabalhistas somente deve
ser adotado a partir de 25/03/2015. Ocorre que, com a entrada
em vigor da Lei nº 13.467/2017, em 11/11/2017, foi acrescentado
o § 7º ao artigo 879 da CLT, determinando que a atualização
dos créditos decorrentes de condenação judicial deverá ser feita
pela Taxa Referencial (TR). Nesse contexto, de acordo com
voto divergente proferido pelo Ministro Alexandre Luiz Ramos
nos autos do processo nº TST-RR-2493-67.2012.5.12.0034, esta
colenda Turma decidiu, por maioria, adotar o entendimento de que
o IPCA-E somente deverá ser adotado como índice de atualização
dos débitos trabalhistas no interregno de 25.03.15 a 10.11.2017,
devendo ser utilizado a TR como índice de atualização dos débitos
trabalhistas no período anterior a 24.03.2015 e posterior a
11.11.2017 (no termos do artigo 879, § 7º, da CLT). Recurso de
revista de que se conhece e a que se dá parcial provimento.
(TST-RR 10260-88.2016.5.15.0146, 4ª Turma, Rel. Min. Caputo
Bastos, Jgto 09/10/2018).

Em 03/10/2019, o Supremo Tribunal Federal, julgando Em-


bargos Declaratórios no RE 870.947, fixou que a aplicação do IP-
CA-E para correção de débitos da Fazenda Pública desde 2009,
porém não houve modulação dos efeitos da decisão.
36 Execução Trabalhista na Prática

Está em curso no TST o julgamento do ArgInc 0024059-


68.2017.5.24.0000, onde já se firmou maioria para declarar incons-
titucional a aplicação da TR como índice de correção monetária
– com dezessete votos a favor e sete contrários –, determinando
a aplicação do IPCA-E, faltando o voto de três ministros. A conclu-
são do julgamento estava pautada para o dia 29/06/2020, porém
foi sobrestado em razão da decisão proferida em 27/06/2020 pelo
Min. Gilmar Mendes, relator da ADC 58 em curso no STF, que de-
terminou a suspensão de todos os processos trabalhistas em que
há discussão acerca da aplicação da TR:

Ante o exposto, defiro o pedido formulado e determino, desde já,


ad referendum do Pleno (art. 5º, §1º, da Lei 9.882 c/c art. 21 da
Lei 9.868) a suspensão do julgamento de todos os processos em
curso no âmbito da Justiça do Trabalho que envolvam a aplicação
dos artigos arts. 879, §7, e 899, § 4º, da CLT, com a redação dada
pela Lei nº 13.467/2017, e o art. 39, caput e § 1º, da Lei 8.177/91

Em sede de agravo regimental apresentado pela Procu-


radoria Geral da República, o Min. Gilmar Mendes indeferiu em
01/07/2020 a medida cautelar, mas assentou que:

Assim, deve ficar claro que a medida cautelar deferida na decisão


agravada não impede o regular andamento de processos judiciais,
tampouco a produção de atos de execução, adjudicação e
transferência patrimonial no que diz respeito à parcela do valor
das condenações que se afigura incontroversa pela aplicação de
qualquer dos dois índices de correção.
A controvérsia sobre eventuais valores compreendidos no
resultado da diferença entre a aplicação da TR e do IPCA-E
(parcela controvertida) é que deverá aguardar o pronunciamento
final da Corte quando do julgamento de mérito desta ADC.
Ressalta-se que, com a prolação de decisão final do STF nesta
ação, eventuais reflexos da declaração de inconstitucionalidade
das normas sujeitam o exercício das pretensões à sistemática
trazida pelo CPC, acima descrita.
Execução Trabalhista na Prática 37

De tal decisão, considerando os diversos entendimentos já


firmados – muitos com formação de coisa julgada material –, to-
dos os processos em fase de conhecimento ainda não sentenciados
devem relegar para a fase de liquidação a aplicação do índice de
correção monetária, em conformidade com o que vier a ser deci-
dido pelo Supremo Tribunal Federal na ADC-58; para os processos
já sentenciados e que haja a discussão acerca do índice de corre-
ção monetária, em grau recursal, deverão ser sobrestados os jul-
gamentos até o julgamento da ADC 58; para os processos em que
há coisa julgada material acerca do índice de correção monetária,
deve prosseguir a liquidação e execução de acordo com os crité-
rios fixados na coisa julgada; para os processos em que foi relegada
a fixação do índice para a fase de liquidação, deve ser adotada a TR
como índice de correção monetária na liquidação e execução, sem
prejuízo de futura discussão por diferenças em razão do que vier a
ser decidido pelo STF na ADC 58.
Até o fechamento desta edição, não houve o encerramento
do julgamento da ADC 58, que está sendo julgada em conjunto
com a ADC 59, as quais tratam dos critérios de correção dos de-
pósitos judiciais trabalhistas, e ADI´s 5867 e 6021, da mesma te-
mática, faltando o voto do presidente do STF.
No julgamento já se formou maioria para declarar inconsti-
tucional a aplicação da TR, havendo divergência quanto ao índice a
ser adotado, no que se formaram duas correntes, cada qual com o
voto de quatro ministros.
A primeira corrente, capitaneada pelo voto do relator, Minis-
tro Gilmar Mendes, julga parcialmente procedentes as ações decla-
ratórias de constitucionalidade, para conferir interpretação confor-
me à Constituição ao art. 879, §7º, e ao art. 899, §4º, da CLT, na
redação dada pela Lei 13.467 de 2017, no sentido de considerar
que na atualização dos créditos decorrentes de condenação judicial
e na correção dos depósitos recursais em contas judiciais na Justi-
ça do Trabalho deverão ser aplicados, até que sobrevenha solução
legislativa, os mesmos índices de correção monetária e de juros
38 Execução Trabalhista na Prática

que vigentes para as condenações cíveis em geral, quais sejam, a


incidência do IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir da citação, a
incidência da taxa SELIC (art. 406 do Código Civil).
Por sua vez, a segunda corrente, com o voto divergente
do Ministro Edson Fachin, sustenta que o critério adotado pelo
voto do relator vulnera os princípios constitucionais de proteção
da propriedade e da isonomia, porquanto pelos índices da TR ou
SELIC não há a recomposição da desvalorização real da moeda,
na medida em que não refletem inflação acumulada, ferindo o di-
reito à propriedade por não haver a justa reparação do trabalho
humano, além de discriminar as partes processuais mais frágeis ou
vulneráveis, notadamente os trabalhadores.
Com base nestas premissas, o voto divergente arremata no
sentido de que deve ser adotado o IPCA-E, expressamente regis-
trado na Medida Provisória (MP) 905/2019 para a atualização dos
créditos decorrentes de condenação judicial na Justiça do Trabalho
e também no artigo 27 da Lei 12.919/2013, que fixou o IPCA-E
para atualização monetária dos precatórios.

2.1.3 Juros de mora


A liquidação deve abranger, também, os juros de mora, os
quais são de 1% ao mês (§ 1º do artigo 29 da Lei 8.177/91), a partir
da distribuição da demanda (art. 883 da CLT), incidentes sobre o
valor corrigido (Súmula 200 do TST), não havendo controvérsias
jurídicas a respeito:

Artigo 883 da CLT: “Não pagando o executado, nem garantindo


a execução, seguir-se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem
ao pagamento da importância da condenação, acrescida de custas
e juros de mora, sendo estes, em qualquer caso, devidos a partir
da data em que for ajuizada a reclamação inicial.”
Artigo 39, § 1º, da Lei 8.177/91: Aos débitos trabalhistas
constantes de condenação pela Justiça do Trabalho ou decorrentes
dos acordos feitos em reclamatória trabalhista, quando não
cumpridos nas condições homologadas ou constantes do termo
de conciliação, serão acrescidos, nos juros de mora previstos no
Execução Trabalhista na Prática 39

caput juros de um por cento ao mês, contados do ajuizamento da


reclamatória e aplicados pro rata die, ainda que não explicitados
na sentença ou no termo de conciliação.
Súmula 200 do TST:JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA (mantida) -
Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003
Os juros de mora incidem sobre a importância da condenação já
corrigida monetariamente.

Quando o réu for a Fazenda Pública, ou suas autarquias e


fundações, aos juros de mora se aplicam as mesmas regras, isto é,
são devidos desde o ajuizamento da ação e incidem sobre o valor
total corrigido (artigo 883 da Consolidação das Leis do Trabalho e
Súmula 200 do TST), porém o percentual é de 0,5% ao mês até
29.6.2009 (artigo 1º da Lei 9.494/97), e a partir de 30.6.2009, pelos
índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta
de poupança, conforme artigo 5º da Lei 11.960/2009 (Orientação
Jurisprudencial n.º 07 do Pleno do Tribunal Superior do Trabalho9).
Tal benefício se aplica também a Empresa Brasileira de Cor-
reios e Telégrafos (EBCT), posto que a esta empresa pública, por
ter natureza autárquica, porquanto explora monopólio estatal, são
assegurados os mesmos privilégios das pessoas jurídicas de Direi-
to Público, conforme artigo 12 do Decreto-Lei 509/692 e decisão
proferida pelo E. Supremo Tribunal Federal no RE 2209062.
Essa situação, contudo, não se aplica quando a Fazenda Pú-
blica, suas autarquias, fundações ou a EBCT sejam condenadas for-
ma subsidiária a outra empresa privada que lhe prestava serviços,
conforme entendimento firmado na Orientação Jurisprudencial nº
382 da SDI-1 do TST:

9 OJ n.º 07 do Pleno do Tribunal Superior do Trabalho: JUROS DE MORA. CON-


DENAÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA (DJ. 25.04.2007. Nova redação - Res.
175/2011, DJ 27.05.2011). I - Nas condenações impostas à Fazenda Pública,
incidem juros de mora segundo os seguintes critérios: a) 1% (um por cento)
ao mês, até agosto de 2001, nos termos do § 1º do art. 39 da Lei nº 8.177, de
1.03.1991; b) 0,5% (meio por cento) ao mês, de setembro de 2001 a junho de
2009, conforme determina o art. 1º - F da Lei nº 9.494, de 10.09.1997, intro-
duzido pela Medida Provisória nº 2.180-35, de 24.08.2001; II – A partir de 30
de junho de 2009, atualizam-se os débitos trabalhistas da Fazenda Pública, me-
diante a incidência dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à
caderneta de poupança, por força do art. 5º da Lei nº 11.960, de 29.06.2009.
40 Execução Trabalhista na Prática

OJ-SDI1-382 JUROS DE MORA. ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494,


DE 10.09.1997. INAPLICABILIDADE À FAZENDA pÚBLICA
QUANDO CONDENADA SUBSIDIARIAMENTE (DEJT divulga-
do em 19, 20 e 22.04.2010)
A Fazenda Pública, quando condenada subsidiariamente pelas
obrigações trabalhistas devidas pela empregadora principal, não
se beneficia da limitação dos juros, prevista no art. 1º-F da Lei nº
9.494, de 10.09.1997.

A Medida Provisória 905/2019, deu nova redação ao artigo 883


da Consolidação das Leis do Trabalho, que passou a prever que os juros
de mora seriam equivalentes aos aplicados à caderneta de poupança:

Não pagando o executado, nem garantindo a execução, seguir-


se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da
importância da condenação, acrescida de custas e juros de mora
equivalentes aos aplicados à caderneta de poupança, sendo estes,
em qualquer caso, devidos somente a partir da data em que for
ajuizada a reclamação inicial.

Contudo, referida Medida Provisória foi revogada pela MP


955/2020 e como não foi aprovada pelo Congresso Nacional, per-
deu sua eficácia desde a edição (efeito “ex tunc”), conforme art.
62, §3º, da Constituição Federal, não sendo aplicáveis, portanto,
suas disposições.

2.1.4 Contribuições previdenciárias


Nos cálculos de liquidação, devem as partes apurarem tam-
bém as contribuições previdenciárias incidentes sobre os títulos
deferidos, abrangendo as cotas do empregado e empregador,
sendo que a parte que cabe ao empregado será deduzida do seu
crédito, e a parte do empregador será adicionada à execução, e
ao final, caso não haja o cumprimento voluntário da obrigação (re-
colhimento da contribuição previdenciária através de guia própria
– GPS), o montante correspondente à contribuição previdenciária
será repassada ao INSS.
Execução Trabalhista na Prática 41

Nesse sentido, a disposição do § 1º-A do artigo 879 da CLT:


“a liquidação abrangerá, também, o cálculo das contribuições
previdenciárias devidas”.
Desde o advento da Emenda Constitucional nº 20/1998, que
acrescentou o § 3º ao artigo 11410, a Justiça do Trabalho passou a ter
competência material para execução da contribuição previdenciária
incidente sobre as parcelas salariais deferidas em sentença trabalhista.
O procedimento adotado para execução da contribuição
previdenciária foi regulado pela Lei 10.035/2000, que alterou a
Consolidação das Leis do Trabalho, determinando a apuração da
contribuição devida na liquidação, juntamente ao crédito principal
(artigo 879 e §§, da CLT), incluindo-se esta no quantum debeatur.
Impôs ainda mencionada Lei que “as decisões cognitivas ou homo-
logatórias deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas
constantes da sentença ou acordo homologado, inclusive o limite
de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição
previdenciária”, facultando-se ao INSS a interposição de recursos re-
lativo às contribuições que lhe forem devidas (§§ 3º e 4º do artigo 832
da CLT). A mesma Lei incluiu o Parágrafo Único ao artigo 876 da CLT,
determinando a execução ex officio das contribuições previdenciárias
resultantes de condenação ou homologação de acordo.
A Reforma do Judiciário, implementada pela EC 45/2004,
manteve a competência da Justiça do Trabalho para executar as
contribuições previdenciárias, conforme redação do inciso VIII do
art. 114, da CF: “a execução, de ofício, das contribuições sociais
previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes
das sentenças que proferir”.
O inciso I, alínea a, do artigo 195 da Constituição Federal
trata da contribuição social patronal incidente sobre a folha de pa-
gamento e o inciso II fixa a contribuição do trabalhador:

10 § 3º do artigo 114 da Constituição da República, pela redação dada pelo artigo


1º da EC 20/1998: “Compete ainda à Justiça do Trabalho executar, de ofício,
as contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimo legais,
decorrentes das sentenças que proferir.”
42 Execução Trabalhista na Prática

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,


de forma direta e indireta, nos termos da Lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na
forma da Lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício;
[...]
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não
incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo
regime geral de previdência social de que trata o art. 201;

Portanto, desde a vigência da Lei 10.035/00, que regulamen-


tou a execução das contribuições previdenciárias no Processo do
Trabalho, as sentenças trabalhistas devem indicar a natureza das
parcelas deferidas e a responsabilidade de cada parte quanto ao
recolhimento, executando-se ex officio tais contribuições.
As contribuições previdenciárias incidem sobre os títulos deferi-
dos na sentença de natureza salarial, que são estabelecidas pelo artigo
28, incisos I e II, da Lei 8.212/91, que conceitua salário de contribuição:

Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:


I - para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração
auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade
dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título,
durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja
a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma
de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial,
quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à
disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da
Lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de
trabalho ou sentença normativa;
II - para o empregado doméstico: a remuneração registrada na
Carteira de Trabalho e Previdência Social, observadas as normas
a serem estabelecidas em regulamento para comprovação do
vínculo empregatício e do valor da remuneração;
Execução Trabalhista na Prática 43

A apuração da contribuição previdenciária abrangerá as cotas


que cabem ao empregado, que sofrerá a dedução correspondente
de seu crédito, e também as contribuições devidas pelo emprega-
dor, que estão fixadas nos incisos I (contribuição patronal) e II (SAT
– seguro de acidente do trabalho) do artigo 22 da Lei 8.212/91:

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade


Social, além do disposto no art. 23, é de:
I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas
ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados
empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços,
destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma,
inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e
os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços
efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador
ou tomador de serviços, nos termos da Lei ou do contrato ou, ainda,
de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa.
II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58
da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em
razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente
dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações
pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados
empregados e trabalhadores avulsos:
a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade
preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve;
b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade
preponderante esse risco seja considerado médio;
c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade
preponderante esse risco seja considerado grave.

As empresas que optaram pelo regime de substituição tribu-


tária da contribuição previdenciária, recolhendo por alíquota fixa
incidente sobre a receita bruta, nos termos das Leis 12.546/2011 e
13.161/2015, conhecidas como programa de desoneração da folha
de pagamento, comprovando o regime tributário nos autos, esta-
rão isentas da contribuição patronal prevista no inciso I do artigo
22 da Lei 8.212/91 (20% sobre as verbas salariais), mas deverá ser
apurada a contribuição de seguro de acidente de trabalho (SAT),
prevista no inciso II do mesmo dispositivo legal.
44 Execução Trabalhista na Prática

Vale destacar que as pessoas jurídicas de direito público –


União, Estados, Municípios e Distrito Federal –, quando contratam
trabalhadores pelo regime da CLT, que estão sujeitos ao Regime Ge-
ral de Previdência Social, também devem recolher a contribuição pa-
tronal, não estando alcançadas pela imunidade tributária preconizada
pelo artigo 150, VI, a, da Constituição Federal, que se aplica apenas à
modalidade tributária de imposto, como já decidiu o E. STF:

EMENTA Recurso extraordinário. Repercussão geral. Tributário.


Contribuição previdenciária. Imunidade recíproca. Inexistência.
Artigo 195, I, a, e II, da CF, na versão da EC nº 20/98. Lei nº
10.887/04. Exercentes de mandato eletivo. Agentes políticos.
Condição de segurado do RGPS. Incidência das contribuições
previdenciárias do segurado e do patrão. Possibilidade. 1. A
imunidade recíproca do art. 150, VI, a, da Constituição alcança
tão somente a espécie tributária imposto. Na ADI nº 2.024/DF,
Rel. Min. Sepúlveda Pertence, quando decidiu sobre a incidência
da contribuição previdenciária sobre a remuneração paga pelos
entes da Federação aos exercentes de cargo em comissão, a
Corte assentou, mais uma vez, que a imunidade encerrada no art.
150, VI, a, da Constituição não pode ser invocada na hipótese de
contribuição previdenciária. 2. No julgamento do RE nº 351.717/
PR, a Corte entendeu que a Lei nº 9.506/97 teria criado uma nova
figura de segurado obrigatório da previdência, uma vez que, na
dicção do art. 195, II, da Constituição, em sua redação original,
“trabalhador” seria todo aquele que prestasse serviço a entidade de
direito privado ou mesmo de direito público, desde que abrangido
pelo regime celetista. 3. A partir da nova redação dada ao art. 195,
I, a, e II, da Constituição pela Emenda Constitucional nº 20/1998, há
previsão de incidência da contribuição previdenciária sobre a folha
de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados,
a qualquer título, a pessoa física que preste serviço à União, aos
estados ou aos municípios, mesmo sem vínculo empregatício. Não
se verifica, ademais, a restrição de se considerar como segurado
obrigatório da Previdência Social somente o “trabalhador”, já que
o texto constitucional se refere também a “demais segurados
da Previdência Social”. 4. A EC nº 20/98 passou a determinar a
incidência da contribuição sobre qualquer segurado obrigatório
da Previdência Social e, especificamente no § 13 – introduzido no
Execução Trabalhista na Prática 45

art. 40 da Constituição –, submeteu todos os ocupantes de cargos


temporários ao regime geral da Previdência, o que alcança os
exercentes de mandato eletivo. 5. A Lei nº 10.887/04, editada após
a EC nº 20/98, ao incluir expressamente o exercente de mandado
eletivo no rol dos segurados obrigatórios, desde que não vinculado
a regime próprio de previdência, tornou possível a incidência da
contribuição previdenciária sobre a remuneração paga ou creditada
pelos entes da federação, a qualquer título, aos exercentes de
mandato eletivo, os quais prestam serviço ao Estado. Nega-se
provimento ao recurso extraordinário. Tese proposta para o tema
691: ““Incide contribuição previdenciária sobre os rendimentos
pagos aos exercentes de mandato eletivo decorrentes da prestação
de serviços à União, a estados e ao Distrito Federal ou a municípios
após o advento da Lei nº 10.887/2004, desde que não vinculados a
regime próprio de previdência”.
(STF - RE 626837 - Tribunal Pleno – Relator Ministro Dias Toffoli –
Data de julgamento: 25/05/2017)

De outro lado, é de se destacar que o § 7º do artigo 195 da


Constituição Federal, confere imunidade da contribuição patronal
(art. 195, I, CF) às entidades beneficentes de assistência social que
atendam às exigências estabelecidas em Lei, de sorte que, na apu-
ração da contribuição previdenciária de entidades filantrópicas que
atendam aos requisitos da Lei 12.101/2009, tendo a certificação
correspondente, não será incluída a contribuição patronal prevista
no artigo 22 da Lei 8.212/91.
A contribuição social devida a “terceiros” (Sistema S), incidentes
sobre a folha de pagamento, não devem ser alcançadas pela execução,
em relação aos créditos de natureza salarial objeto da condenação,
porquanto tal contribuição social está fundamentada no artigo 149 da
Constituição Federal (na modalidade de contribuição social de interes-
se das categorias profissionais e econômicas), não estando elencadas
no inciso VIII do artigo 114 da Constituição da República dentre as
contribuições cuja competência para execução foram atribuídas à Jus-
tiça do Trabalho. Contudo, tal contribuição será devida e poderá ser
cobrada pelo INSS pelos meios próprios, ensejando, inclusive, multas
administrativas pelo descumprimento.
46 Execução Trabalhista na Prática

Nesse sentido, destaca-se o entendimento do E. Tribunal Su-


perior do Trabalho:

EMENTA: RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE


DA LEI Nº 13.015/2014 E ANTERIOR À LEI 13.467/2017 .
EXECUÇÃO . INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
PARA A EXECUÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
DESTINADA A TERCEIROS (SISTEMA “S”) . O artigo 114, VIII, da
Constituição Federal fixou a competência da Justiça do Trabalho para
executar de ofício as contribuições sociais previstas no artigo 195,
I, “a”, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que
proferir. Contudo, tais dispositivos não estendem essa competência
às contribuições devidas a terceiros (que são destinadas a entidades
de serviço social e de formação profissional), exclusão claramente
explicitada no próprio Texto Constitucional (art. 240), a par de
referida na Lei ordinária (art. 3º, Lei 11.457/2007, por exemplo).
Recurso de revista conhecido e provido.
(TST - RR-47500-22.2010.5.17.0161 - 3ª Turma - Relator Ministro
Mauricio Godinho Delgado - DEJT 03/04/2020).

A apuração da contribuição previdenciária incidente sobre as


parcelas salariais deferidas pela sentença devem ser calculadas mês
a mês, de acordo com a somatória das parcelas salariais, limitando-
-se a contribuição devida pelo trabalhador ao teto do salário de
contribuição vigente à época, deduzindo-se ainda o valor já des-
contado do empregado na época própria, sendo que se nessa hi-
pótese já houver sido efetuado o desconto sobre o teto, nenhuma
contribuição do empregado será devida, conforme regramento do
§ 3º do artigo 43 da Lei 8.212/91, notadamente quanto a contri-
buição previdenciária incidente sobre os créditos decorrentes de
ações trabalhistas.
A atualização monetária das contribuições previdenciárias
deve ser apurada de acordo com os critérios estabelecidos na pró-
pria legislação previdenciária (§4º do artigo 879 da CLT).
A legislação previdenciária não prevê atualização monetária,
dispondo o artigo 35 da Lei 8.212/91 que
Execução Trabalhista na Prática 47

Art. 35. Os débitos com a União decorrentes das contribuições


sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art.
11 desta Lei, das contribuições instituídas a título de substituição
e das contribuições devidas a terceiros, assim entendidas outras
entidades e fundos, não pagos nos prazos previstos em legislação,
serão acrescidos de multa de mora e juros de mora, nos termos
do art. 61 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996.

O artigo 61 da Lei 9.430/1996 dispõe:

Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos


e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal,
cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1º de janeiro de
1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica,
serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e
três centésimos por cento, por dia de atraso. (Vide Decreto nº
7.212, de 2010)
§ 1º A multa de que trata este artigo será calculada a partir do
primeiro dia subsequente ao do vencimento do prazo previsto
para o pagamento do tributo ou da contribuição até o dia em que
ocorrer o seu pagamento.
§ 2º O percentual de multa a ser aplicado fica limitado a vinte por
cento.
§ 3º Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de
mora calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do
primeiro dia do mês subsequente ao vencimento do prazo até o mês
anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento

A taxa a que se refere o § 3º do artigo 61 é a SELIC.


Assim, às contribuições previdenciárias não quitadas no pra-
zo legal, incidirá juros de mora pela variação da taxa SELIC a partir
do primeiro dia do mês subsequente ao vencimento do prazo até
o mês anterior ao pagamento (art. 35 da Lei 8.212/91, cc. arts. 61,
§ 3º e 5º, § 3º, da Lei 9.430/96), além de juros de 1% ao mês, de
sorte que o valor da contribuição previdenciária deve ser apurada
de acordo com o valor original da verba salarial e acrescido dos
juros fixados em Lei, devendo ser realizada, portanto, apuração de
forma distinta da parcela trabalhista.
48 Execução Trabalhista na Prática

Todavia, no tocante a incidência de multa e juros de mora


incidente sobre as contribuições previdenciárias de créditos tra-
balhistas reconhecidos em juízo, há duas situações, em razão das
alterações promovidas pela Lei 11.941/2009, que alterou os artigos
35 e 43 da Lei 8.212/91.
Antes da vigência da Lei 11.941/2019 não havia previsão legal
quanto ao fato gerador da obrigação previdenciária, prevalecendo
o entendimento de que a contribuição se tornava devida no dia
dois do mês seguinte ao da prolação da sentença de liquidação,
momento em que se consolidava e tornava devido o crédito tra-
balhista, incidindo, a partir de então, a multa e os juros moratórios
sobre as contribuições previdenciárias.
A Lei 11.941/2009, no entanto, acrescentou os §§ 2º e 3º ao
artigo 43 da Lei 8.212/91, que passou a prever:

§ 2o Considera-se ocorrido o fato gerador das contribuições


sociais na data da prestação do serviço.
§ 3o As contribuições sociais serão apuradas mês a mês, com
referência ao período da prestação de serviços, mediante a
aplicação de alíquotas, limites máximos do salário-de-contribuição
e acréscimos legais moratórios vigentes relativamente a cada
uma das competências abrangidas, devendo o recolhimento ser
efetuado no mesmo prazo em que devam ser pagos os créditos
encontrados em liquidação de sentença ou em acordo homologado,
sendo que nesse último caso o recolhimento será feito em tantas
parcelas quantas as previstas no acordo, nas mesmas datas em que
sejam exigíveis e proporcionalmente a cada uma delas.

Com a definição legal do fato gerador da obrigação previ-


denciária dos créditos trabalhistas de natureza salarial reconhe-
cidos em juízo, os juros de mora passaram a incidir a partir da
ocorrência deste11, porém como o pagamento deve ser efetuado
somente a partir da sentença de liquidação, a multa moratória se
torna exigível apenas a partir do término do prazo para pagamen-
to, após a citação do devedor.
11 Em conformidade com a alínea b do artigo 30 da Lei 8.212/91, a contribuição em
relação ao fato gerador deve ser recolhida até o dia 20 do mês subsequente.
Execução Trabalhista na Prática 49

A Súmula 368 do Tribunal Superior do Trabalho é bem didáti-


ca quanto aos critérios de apuração e recolhimento das contribuições
previdenciárias:

SUM-368 DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS. IMPOSTO


DE RENDA. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO
RECOLHIMENTO. FORMA DE CÁLCULO. FATO GERADOR
(aglutinada a parte final da Orientação Jurisprudencial nº 363 da
SBDI-I à redação do item II e incluídos os itens IV, V e VI em sessão do
Tribunal Pleno realizada em 26.06.2017) - Res. 219/2017, republicada
em razão de erro material – DEJT divulgado em 12, 13 e 14.07.2017
I - A Justiça do Trabalho é competente para determinar o
recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça
do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias,
limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos
valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário de
contribuição. (ex-OJ nº 141 da SBDI-1 - inserida em 27.11.1998).
II - É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento das
contribuições previdenciárias e fiscais, resultantes de crédito do
empregado oriundo de condenação judicial. A culpa do empregador
pelo inadimplemento das verbas remuneratórias, contudo, não
exime a responsabilidade do empregado pelos pagamentos do
imposto de renda devido e da contribuição previdenciária que
recaia sobre sua quota-parte. (ex-OJ nº 363 da SBDI-1, parte final)
III – Os descontos previdenciários relativos à contribuição do
empregado, no caso de ações trabalhistas, devem ser calculados
mês a mês, de conformidade com o art. 276, § 4º, do Decreto n
º 3.048/1999 que regulamentou a Lei nº 8.212/1991, aplicando-se
as alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do
salário de contribuição (ex-OJs nºs 32 e 228 da SBDI-1 – inseridas,
respectivamente, em 14.03.1994 e 20.06.2001).
IV - Considera-se fato gerador das contribuições previdenciárias
decorrentes de créditos trabalhistas reconhecidos ou homologados
em juízo, para os serviços prestados até 4.3.2009, inclusive, o
efetivo pagamento das verbas, configurando-se a mora a partir
do dia dois do mês seguinte ao da liquidação (art. 276, “caput”,
do Decreto nº 3.048/1999). Eficácia não retroativa da alteração
legislativa promovida pela Medida Provisória nº 449/2008,
posteriormente convertida na Lei nº 11.941/2009, que deu nova
redação ao art. 43 da Lei nº 8.212/91.
50 Execução Trabalhista na Prática

V - Para o labor realizado a partir de 5.3.2009, considera-se fato


gerador das contribuições previdenciárias decorrentes de créditos
trabalhistas reconhecidos ou homologados em juízo a data da efetiva
prestação dos serviços. Sobre as contribuições previdenciárias não
recolhidas a partir da prestação dos serviços incidem juros de mora
e, uma vez apurados os créditos previdenciários, aplica-se multa
a partir do exaurimento do prazo de citação para pagamento, se
descumprida a obrigação, observado o limite legal de 20% (art.
61, § 2º, da Lei nº 9.430/96)

De outro lado, a Lei 13.876/2019, introduziu os §§ 3º-A e


3º-B ao artigo 832 da CLT, prevendo:

§ 3º-A. Para os fins do § 3º deste artigo, salvo na hipótese de


o pedido da ação limitar-se expressamente ao reconhecimento
de verbas de natureza exclusivamente indenizatória, a parcela
referente às verbas de natureza remuneratória não poderá ter
como base de cálculo valor inferior:
I - ao salário-mínimo, para as competências que integram o vínculo
empregatício reconhecido na decisão cognitiva ou homologatória; ou
II - à diferença entre a remuneração reconhecida como devida na
decisão cognitiva ou homologatória e a efetivamente paga pelo
empregador, cujo valor total referente a cada competência não
será inferior ao salário-mínimo.
§ 3º-B Caso haja piso salarial da categoria definido por acordo ou
convenção coletiva de trabalho, o seu valor deverá ser utilizado
como base de cálculo para os fins do § 3º-A deste artigo.

A primeira interpretação que surgiu da Lei 13.876/19, levan-


do em conta os critérios da interpretação gramatical, foi no sentido
de que, havendo no processo trabalhista pedidos de natureza sala-
rial e indenizatória, a base de cálculo mínima das parcelas salariais
corresponde ao salário-mínimo, ou, havendo, ao piso normativo da
categoria, para cada competência mensal do período de vigência
do contrato de trabalho.
Execução Trabalhista na Prática 51

Todavia, tal interpretação não pode prevalecer, por contra-


riar os demais métodos hermenêuticos, notadamente a interpre-
tação sistemática.12
O § 3º-A do artigo 832 da CLT, inserido pela Lei 13.876/19,
visa, de forma expressa, regulamentar o § 3º do mesmo dispositi-
vo, o qual preconiza que “as decisões cognitivas ou homologatórias
deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes
da condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de
responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição
previdenciária, se for o caso”. O § 3º-B, por sua vez, complementa
o § 3º-A, de sorte que ambos se referem, portanto, ao § 3º.
Desta forma, é imperiosa a interpretação sistemática dos §§
3º-A e 3º-B do artigo 832 da CLT, com o § 3º do mesmo dispositi-
vo, o que afasta, de pronto, aquela primeira interpretação açodada
e equivocada de que, havendo pedido de natureza remuneratória,
não poderá ser feito acordo com indicação de parcela exclusivamente
indenizatória.
De fato, o § 3º do artigo 832 da CLT afirma que a senten-
ça cognitiva e homologatória deve indicar a natureza das parcelas
constantes da sentença. Ora, se em uma determinada lide há pedi-
dos de natureza salarial e indenizatória e o juiz julga improcedentes
os pedidos de natureza remuneratória, acolhendo apenas pedidos
tipicamente indenizatórios, não há como ser aplicado os §§ 3º-A e
3º-B para determinar o recolhimento de contribuição previdenci-
ária. A aplicação de tais dispositivos nesse cenário se mostra des-
cabida, já que não existe nenhuma parcela salarial deferida, não
existindo o fato gerador da obrigação tributária previdenciária.

12 Para maior aprofundamento sobre tal questão, sugere-se a Leitura do artigo “A


interpretação sistemática e as inconstitucionalidades dos §§ 3º-A e3º-B do artigo
832 da CLT, inseridos pela Lei 13.876/19”, de coautoria entre os autores desta
obra, disponível em https://www.migalhas.com.br/depeso/312555/a-interpre-
tacao-sistematica-e-as-inconstitucionalidades-dos-3-a-e-3-b-do-artigo-832-da-
-clt-inseridos-pela-Lei-13876-19
52 Execução Trabalhista na Prática

De outro lado, no tocante à base de cálculo estabelecida pe-


las disposições dos §§ 3º-A e 3º-B, que não deve ser inferior ao
salário-mínimo ou piso normativo, inclusive do período que inte-
gram o vínculo de emprego reconhecido na decisão, o texto legal
afronta a Constituição Federal.
De fato, o E. STF já se pronunciou diversas vezes no sentido
de que as contribuições previdenciárias têm natureza tributária,
aplicando-se a estas as disposições do artigo 146, III, “b”, da Cons-
tituição Federal, reservando questões como prescrição e decadên-
cia à Lei Complementar, declarando inconstitucional os artigos 45 e
46 da Lei 8.212/91, o que ensejou a edição da Súmula Vinculante nº
8, cujo precedente foi o RE 559.943-4 RS (Rel. Min. Cármen Lúcia,
12.6.2008), de sorte que os princípios constitucionais tributários
devem ser respeitados quanto as contribuições previdenciárias.
Dispõe o § 3º-A do artigo 832 da CLT que a parcela referen-
te às verbas de natureza remuneratória não poderá ter como base
de cálculo valor inferior ao salário-mínimo, para as competências
que integram o período de vigência do vínculo de emprego reco-
nhecido, assim como, na hipótese de reconhecimento de diferença
remuneratória, será considerada tal diferença, que também não
poderá ser inferior ao salário-mínimo para cada competência. O
§ 3º-B, por sua vez, preconiza que, havendo piso normativo da
categoria, deverá ser observado este, ao invés do salário-mínimo.
De partida, a disposição do inciso I do § 3º-A do artigo 832
da CLT, ao dispor que dever ser observado o salário-mínimo “para
as competências que integram o vínculo empregatício reconhecido na
decisão cognitiva ou homologatória”, colide com o disposto no artigo
114, inciso VIII, da Constituição Federal, que restringe a competência
da Justiça do Trabalho para execução das contribuições previdenciá-
rias decorrentes das sentenças que proferir, isto é, incidentes sobre
as parcelas de natureza salarial que foram objeto da condenação, não
alcançando os salários do período da vigência da relação de emprego,
ainda que esta seja reconhecida por sentença.
A questão da competência da Justiça do Trabalho já foi examinada
pelo Supremo Tribunal Federal, que editou a Súmula Vinculante nº 53,
com o seguinte teor: “A competência da Justiça do Trabalho prevista no
Execução Trabalhista na Prática 53

art. 114, VIII, da Constituição Federal alcança a execução de ofício das


contribuições previdenciárias relativas ao objeto da condenação cons-
tante das sentenças que proferir e acordos por ela homologados.”
Durante a vigência da Lei 11.457/2007, que alterou a redação
do parágrafo único do artigo 876 da CLT, a competência da Justiça do
Trabalho para execução das contribuições previdenciárias do período
declarado em sentença era defensável13. Contudo, a Lei 13.467/2017
alterou a redação do Parágrafo Único do artigo 876 da CLT, conferin-
do redação similar à da Súmula Vinculante 53 do STF, de modo que
não há mais fundamento para defesa de tal competência.
Destarte, ao impor que para os meses de competência do
período reconhecido em sentença homologatória ou cognitiva deve
ser observado o salário-mínimo, resta claro que pretendeu o legisla-
dor que a Justiça do Trabalho promova a execução das contribuições
previdenciárias do período reconhecido, o que foge à competência
material da Justiça do Trabalho, violando o artigo 114, VIII, da CF e a
Súmula Vinculante 53 do STF.
De outro lado, o estabelecimento de limite mínimo para a base
de cálculo da contribuição previdenciária viola o artigo 195, inciso I,
alínea “a”, da Constituição da República, que estabelece que a con-
tribuição previdenciária incide sobre a folha de salários e demais ren-
dimentos pagos ou creditados ao trabalhador, com ou sem vínculo de
emprego, de modo que, a base de cálculo deve observar estritamente ao
fato gerador fixado pela Carta Magna, ou seja, o valor do salário e demais
rendimentos de natureza remuneratória, pelo respectivo valor.
Ora, se a sentença reconhece que o empregado prestava uma
hora extra por semana, cujo valor é muito inferior ao salário-mínimo,
a tributação de tal parcela com base no valor do salário-mínimo ofen-
de ao texto constitucional.

13 JAMBERG, Richard Wilson. Competência da Justiça do Trabalho para execução da


contribuição previdenciária incidente sobre os salários do período de trabalho decla-
rado em sentença. Revista LTr, São Paulo, v. 74, n. 6, p. 718-728, jun. 2010
54 Execução Trabalhista na Prática

Da mesma forma, quando é deferido o adicional noturno (que


pela CLT correspondente a 20% do valor das horas trabalhadas no
período noturno), saldo de salário de poucos dias, décimo terceiro
salário proporcional, parcelas remuneratórias de contrato de traba-
lho intermitente (nova modalidade de contrato criada pela Reforma
Trabalhista, em que o salário mensal, dependendo da quantidade de dias
trabalhados no mês, pode ser inferior ao salário-mínimo), a base de cál-
culo fixada pela Constituição será inferior ao valor do salário-mínimo, o
que impede a aplicação do limite mínimo fixado pela nova regra.
E não se justifica a instituição de tal base de cálculo ampliando a
arrecadação, sob o argumento de ser possível a instituição de outras
fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade
social, conforme autorizado pelo § 4º do artigo 195 da Constituição
Federal, posto que tal dispositivo determina a obediência ao artigo
154, inciso I, o qual autoriza a instituição, “mediante Lei complemen-
tar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-
-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios
dos discriminados nesta Constituição”, o que não é o caso, visto que a
Lei 13.876/19 é Lei ordinária e já há na Constituição a fixação de base
de cálculo diversa.
Ainda que se cogitasse na instituição de uma nova contribuição
– o que não é, absolutamente, o caso –, dever-se-ia observar o prazo
mínimo de 90 dias para que estas pudessem ser exigidas, conforme
previsão do § 6º do artigo 195 da Constituição da República, não po-
dendo ser aplicada de forma retroativa, mas apenas para os fatos ge-
radores ocorridos a partir de então.
Portanto, a base de cálculo da contribuição previdenciária
incidente sobre as parcelas de natureza remuneratórias reconheci-
das nas sentenças cognitivas ou homologatórias deverá ser o valor
correspondente à somatória das parcelas remuneratórias reco-
nhecidas pela sentença cognitiva ou homologatória, independente-
mente do seu valor, por violar o texto dos §§ 3º-A e 3º-B do artigo
832 da CLT a disposição da alínea “a”, do inciso I, do artigo 195 da
Constituição Federal, não podendo, igualmente, serem executadas
Execução Trabalhista na Prática 55

as contribuições do período contratual reconhecido em sentença


homologatória ou cognitiva, pois transcende à competência material
da Justiça do Trabalho, que é limitada à execução da contribuição
previdenciária incidente sobre as parcelas de natureza remuneratórias
objeto da condenação ou do acordo, em consonância com o artigo 114,
inciso VIII, da Constituição Federal e Súmula Vinculante 53 do STF.

2.1.5 Encargos fiscais


Assim como ocorre em relação à contribuição previdenciária
incidente sobre o crédito trabalhista reconhecido em sentença, haverá
incidência do imposto de renda sobre o crédito do trabalhador, que
será retido na fonte, por determinação legal, e repassado ao erário.
O Imposto de Renda incide sobre os rendimentos tributáveis
que compõem o crédito trabalhista e deve considerar a tabela pro-
gressiva divulgada pela Receita Federal, quando correspondentes
a anos-calendário anteriores ao do recebimento, com tributação
exclusivamente na fonte, no mês do recebimento ou crédito, em
separado dos demais rendimentos recebidos no mês, cujo valor
será deduzido do crédito.
Antes da edição da Lei 12.350/2010, o imposto de renda era
apurado pelo regime de caixa, isto é, incidia sobre o montante das
parcelas tributáveis no momento do pagamento do crédito traba-
lhista, impondo ao trabalhador maior carga tributária sobre o seu
crédito. Nesse sentido, dispunha o artigo 12 da Lei 7.713/88:

Art. 12. No caso de rendimentos recebidos acumuladamente,


o imposto incidirá, no mês do recebimento ou crédito, sobre o
total dos rendimentos, diminuídos do valor das despesas com ação
judicial necessárias ao seu recebimento, inclusive de advogados, se
tiverem sido pagas pelo contribuinte, sem indenização.

Apesar da controvérsia jurídica existente sobre a maior onera-


ção do crédito trabalhista, o Tribunal Superior do Trabalho tinha o en-
tendimento sedimentado quanto à aplicação do regime de caixa, con-
forme Súmula 368, II, do TST (que posteriormente foi alterada à vista
56 Execução Trabalhista na Prática

da nova legislação): “devendo incidir, em relação aos descontos fiscais,


sobre o valor total da condenação, referente às parcelas tributáveis,
calculado ao final, nos termos da Lei nº 8.541, de 23.12.1992, art. 46 e
Provimento da CGJT nº 01/1996. (ex-OJ nº 32 da SBDI-I -inserida em
14.03.1994 e OJ nº 228 da SBDI-I - inserida em 20.06.2001)”.
Contudo, após a Lei 12.350/2010, passou a ser adotado o re-
gime de competência, aplicando-se a tabela progressiva do impos-
to de renda no mês da apuração, multiplicando-se pela quantidade
de meses do período de apuração, tendo atualmente o item VI da
Súmula 368 do TST a seguinte redação:

VI – O imposto de renda decorrente de crédito do empregado


recebido acumuladamente deve ser calculado sobre o montante
dos rendimentos pagos, mediante a utilização de tabela progressiva
resultante da multiplicação da quantidade de meses a que se refiram
os rendimentos pelos valores constantes da tabela progressiva mensal
correspondente ao mês do recebimento ou crédito, nos termos do
art. 12-A da Lei nº 7.713, de 22/12/1988, com a redação conferida
pela Lei nº 13.149/2015, observado o procedimento previsto nas
Instruções Normativas da Receita Federal do Brasil.

Como rendimentos tributáveis deve ser compreendido a to-


talidade das parcelas tributáveis e não a totalidade dos créditos,
de acordo com a interpretação sistemática da legislação que rege
a matéria, não podendo haver incidência tributária sobre parcelas
são declaradas isentas pelo artigo 6º da Lei 7.713/88, tais como
o aviso prévio indenizado, depósitos do FGTS e respectiva multa
rescisória, PIS, seguro desemprego e indenizações por acidente de
trabalho, bem como o ressarcimento do vale-transporte (artigo 2º,
“c”, da Lei 7.418/85), os juros de mora (art. 46, § 1º, inciso I, da Lei
8.541/92 e Orientação Jurisprudencial nº 400 da SDI-1 do TST) e
as férias proporcionais indenizadas (Súmula 386 do C. STJ).
Dos rendimentos tributáveis, devem ser deduzidos os va-
lores decorrentes de pagamento de pensão alimentícia em cum-
primento de decisão judicial ou escritura pública de divórcio con-
sensual, e também as contribuições sociais devidas à Previdência
Execução Trabalhista na Prática 57

Social, podendo ainda ser deduzido o valor das despesas com a


ação judicial, inclusive honorários advocatícios pagos pelo contri-
buinte sem indenização (§§ 2º e 3º do artigo 12-A da Lei 7.713/88).

2.1.6 PJe-Calc
O Conselho Superior da Justiça do Trabalho, através da Reso-
lução 241/2019, instituiu a obrigatoriedade, a partir de 01/01/2020,
da juntada de cálculos a partir do aplicativo Pje-Calc, vedando a
utilização de qualquer outro sistema de cálculo, acrescentando o
§ 6º ao artigo 22 da Resolução 185/2017 do mesmo órgão, que
trata do sistema do Processo Judicial Eletrônico – PJe. A Resolução
249/2019 do CSJT, atendendo a pedido da OAB, adiou o início da
obrigatoriedade da utilização do Pje-Calc a partir de 01/07/2020, e
em razão dos impactos da pandemia do coronavírus nas atividades
relacionadas à capacitação para uso do sistema, a Presidente do
CSJT, através do Ato 89/2020, prorrogou mais uma vez o início da
obrigatoriedade, que deve se dar a partir de 01/01/2021.
A partir da imposição da obrigatoriedade do uso exclusivo
do aplicativo Pje-Calc, verificou-se uma grande preocupação dos
profissionais do Direito que atuam na Justiça do Trabalho, deman-
dando conhecimentos não só do próprio aplicativo, como também
da metodologia de elaboração de cálculos e protocolo no processo
eletrônico no ambiente do PJe, além de discussão quanto a consti-
tucionalidade da obrigatoriedade de uso do sistema.
O sistema PJe Calc é o Sistema de Cálculo Trabalhista desen-
volvido pela Secretaria de Tecnologia da Informação do Tribunal
Regional do Trabalho da 8ª Região, a pedido do Conselho Superior
da Justiça do Trabalho, para utilização em toda a Justiça do Trabalho
como ferramenta padrão de elaboração de cálculos trabalhistas e
liquidação de sentenças, visando a uniformidade de procedimentos
e confiabilidade nos resultados apurados, estando disponibilizado
ao público em geral, especialmente para advogados e peritos, cuja
obrigatoriedade de uso em âmbito nacional se dará a partir de
01/01/2021.
58 Execução Trabalhista na Prática

O objetivo do PJe-Calc é dar maior agilidade não só à liquida-


ção, com redução significativa das perícias contábeis, como também
aos atos da execução, notadamente no trabalho das Secretarias das
Varas, para atualização do sistema e expedição de mandados e alvarás,
vez que os dados econômicos estarão inseridos no próprio sistema
do Processo Eletrônico (PJe), o que poderá dar ensejo a implementa-
ção de novos módulos para automatização da atualização de cálculos
e confecção de alvarás, tarefas estas que atualmente necessitam da
intervenção dos servidores, tornando mais moroso o trabalho, geran-
do como consequência o represamento de trabalho e retardamento
não só da entrega da prestação jurisdicional às partes, como também
maior volume de trabalho interno nas secretarias das varas.
Há duas versões do Pje-Calc: a) PJe-Calc Cidadão, versão
destinada a instalação no computador, com a qual é possível tra-
balhar off line e que é disponibilizada ao público em geral, como
advogados e peritos; b) PJe-Calc tribunais, versão on line, destinada
exclusivamente para uso interno nos tribunais, mediante certifica-
do digital, cujos cálculos ficam gravados em “nuvens”, podendo ser
acessado de qualquer computador ou local.
Algumas vantagens podem ser apontadas pela utilização do
PJe-Calc, como a elaboração de cálculos sem conhecimento de
fórmulas matemáticas, possibilidade de importação de dados de
sistemas eletrônicos de ponto e ficha financeira (arquivos no for-
mato CSV), padronização dos cálculos e redução de discussões na
liquidação, propiciando maior celeridade e economia às partes.
Para instalação do software “PJe-Calc Cidadão”, baste aces-
sar ao sítio da internet dos Tribunais Regionais do Trabalho, nos
quais há o direcionamento para do usuário para a página do TRT
da 8ª Região, onde está disponível o instalador. A última versão
do software é a 2.5.6, cujo instalador tem 206 MB. Os requisitos
mínimos para instalação e funcionamento do Pje-Calc Cidadão são
basicamente os mesmos requisitos para acessar o sistema PJe, isto
é: Windows 7 ou superior e hardware compatível para funciona-
mento de tal sistema operacional, com versões para 32 e 64 bits.
Execução Trabalhista na Prática 59

Após fazer o download do instalador, basta efetuar a instalação,


que é automática e simples, podendo ser efetuada por qualquer pes-
soa, não demandando conhecimentos específicos de informática.
Depois de instalar o software, é necessário fazer a atualização da
tabela, o que deve ser efetuado mensalmente. As tabelas de atualiza-
ção devem ser obtidas no site do TRT em que tramita o processo no
qual será feita a liquidação, pois nas tabelas há informações regionais
que podem ser necessárias para a realização do cálculo.
A utilização do sistema não é muito complexa, com várias
opções ajustáveis de parametrização de cálculo, que possibilitam
adequar o cálculo à decisão proferida. O software conta também
com rotinas de checagem de erros e inconsistências no cálculo
antes de realizar a liquidação, e após finalizada a liquidação, gera
vários relatórios com as informações utilizadas e os parâmetros
correspondentes, permitindo a conferência, e havendo erros, o
usuário pode retornar diretamente na configuração da parcela e
corrigir, realizando novamente a liquidação.
Os relatórios gerados pelo sistema em formato PDF podem ser
anexados diretamente ao processo, sendo gerado também um arqui-
vo com a extensão PJC, que será anexado ao sistema do Processo Ele-
trônico, gerando informações na aba “cálculos/obrigações de pagar”.

2.2 Liquidação por artigos


A liquidação por artigos é empregada nos casos em que são
necessários, para fixação do quantum debeatur, de elementos que
não constam dos autos ou de fatos novos (art. 509, II, CPC).
Sérgio Pinto Martins explica que

Utiliza-se da liquidação por artigos quando haja necessidade de


prova de fatos novos para a fixação do quantum debeatur (art. 608
do CPC). Pressupõe-se, porém, já provada a obrigação, mas não
ainda sua extensão. Na liquidação por artigos, os elementos não
estão integralmente nos autos, sendo que alguns estão fora dos
autos, mas podem ser obtidos14.

14 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25.ª edição. São Paulo:
Atlas, 2006, p. 629
60 Execução Trabalhista na Prática

Por sua vez, Carlos Henrique Bezerra Leite, amparado na


doutrina de Wagner D. Giglio, ressalta que a liquidação por artigos é a
forma mais complexa de liquidação, constituindo um verdadeiro
“processo” de conhecimento, de acertamento positivo, de função
diversa do processo da ação de conhecimento porque não tem
por escopo a formação de uma sentença condenatória, mas
a formação de uma sentença meramente declaratória do que
virtualmente se contém na sentença exequenda15.

Em igual sentido, Homero Batista Mateus da Silva assevera que

é o meio mais raro e trabalhoso, a exigir que a parte deduza fatos


e provas na etapa de liquidação; isso ocorre em geral nos casos de
danos muito complexos de serem mensurados ou arbitrados de
plano pela sentença cognitiva, que opta pelo diferimento dessas
questões, ou seja, reconhece o direito da parte, mas deixa a
quantificação para um segundo momento, que permite até mesmo
produção de provas16.

Questão que se demonstra bastante tormentosa se refere ao


fato novo que pode ser alegado em liquidação por artigos, uma vez
que na liquidação de sentença é vedada a rediscussão de questões
superadas pela res judicata da fase de conhecimento (arts. 789, §
1º, CLT, e 509, § 4º, CPC).
O fato novo a ser provado em liquidação por artigos é aquele
que se verifica em situações excepcionais e que, por ocasião da pro-
lação da sentença, ainda não havia ocorrido, mas que era previsível,
sendo necessário para fixação da extensão do dano e sua apuração,
tanto que a sentença determinará sua apuração em liquidação.
Pode-se citar como exemplo de fato novo a ser apurado em
liquidação por artigos a sentença que condena o empregador a pagar

15 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho, 17ª


ed. São Paulo: Saraiva, 2019 (E-book).
16 SILVA, Homero Batista Mateus da. CLT comentada, 2ª ed. São Paulo, RT, 2018
(E-book), cit. CLT 879, coment. 2.
Execução Trabalhista na Prática 61

os salários do período de garantia de emprego na hipótese de dispensa


de trabalhadora gestante em que há recusa patronal na reintegração,
mas que, por ocasião da prolação da sentença na fase de conhecimen-
to, ainda não havia ocorrido o nascimento da criança, sendo neces-
sário para fixação do termo final da estabilidade a juntada aos autos
da certidão de nascimento da criança, posto que a estabilidade, pela
Constituição Federal, tem como termo final cinco meses após o parto.
Vale ressaltar que muitos exemplos trazidos pela doutrina
quanto ao fato novo alegável em sede de liquidação por artigos
importam em revolver o conteúdo da decisão passada em julgado,
o que não pode ser admitido.
Por fato novo para fins da liquidação por artigos, entende
José Miguel Garcia Medina que se trata daquele

que não foi objeto de prova, no curso da ação condenatória. Pode


tratar-se de fato efetivamente novo, em relação ao ajuizamento da
ação condenatória, como ocorrido no curso daquela ação ou após
a prolação da decisão condenatória, bem como tratar-se de fato
que, embora já tenha sido, de algum modo, referido, só no curso
da liquidação será objeto de prova.
[...]
Fundamentalmente, assim, nova é a prova, não o fato. Essa
orientação coaduna-se com a regra prevista no art. 491, caput,
II do CPC/2015. Pode tratar-se simplesmente de prova “de
realização demorada ou excessivamente dispendiosa” que deixou-
se para se realizar na etapa de liquidação17.

Tal posicionamento comporta crítica, haja vista que, como ema-


na do efeito da coisa julgada (artigo 508 do CPC18), a existência de
prova nova é matéria apta a ensejar ação rescisória, visando a descons-
tituição da coisa julgada, nos termos do artigo 966, VII, do CPC.

17 MEDINA, José Miguel Garcia. Execução: teoria geral, princípios fundamentais, pro-
cedimento no processo civil brasiLeiro, 2ª ed. São Paulo: RT, 2019 (E-book)
18 Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repeli-
das todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimen-
to quanto à rejeição do pedido.
62 Execução Trabalhista na Prática

A prova a que alude o inciso II do artigo 491 do CPC, diz res-


peito exclusivamente à extensão do dano, mas que pressupõe a ocor-
rência do ilícito, podendo ensejar uma perícia contábil, como ocorre
comumente em processos que envolvem diferenças de horas de voo
de aeronautas, que apesar de se reconhecer a existência de incorre-
ções no pagamento de acordo com as provas dos autos, para a fixação
exata da extensão do dano demandaria a realização de perícia contábil
com análise aprofundada de documentos que normalmente não se
encontram nos autos (diário de bordo, dentre outros), tratando-se
de prova que pode ser relegada para a liquidação por artigos19, até
porque antes da sentença o perito não terá parâmetros para realizar
as apurações, não ensejando, contudo, a dedução de fato novo.
De forma precisa, Marcus Vinicius Rios Gonçalves, assim sin-
tetiza o fato novo: “entende-se não necessariamente aquele que
tenha ocorrido depois da sentença, mas o que não foi objeto de
decisão na sentença e esteja relacionado ao quantum”20. O referido
doutrinador ilustra o seguinte exemplo:

Imagine-se, por exemplo, que alguém foi vítima de danos


decorrentes de erro médico. Nos termos do art. 324, §1º, II, do
CPC, será possível ao autor formular pedido genérico, quando não
for possível precisar, de modo definitivo, as consequências do ato
ilícito. Poderá ele postular que o réu arque com todas as despesas
de seu tratamento, e indenize a vítima de todos os prejuízos.
Ao acolher o pedido, o juiz condenará o réu a ressarcir, mas será
necessário apurar, em liquidação, quais os danos e despesas de
tratamento. São fatos novos os diversos itens que compõem o rol de
despesas e prejuízos e que não foram apurados na fase condenatória

De fato, em regra, o pedido deduzido na ação de conhecimento


deve ser certo, determinado e indicar o valor correspondente (art.
840, § 1º, CLT), admitindo-se formulação de pedido genérico quando
não for possível precisar, desde logo, as consequências do ato ilícito,

19 Na verdade, se trata de modalidade de liquidação mista, na qual além das apurações da


prova documental, serão apurados em conjunto os valores das diferenças deferidas.
20 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Curso de direito processual civil, volume 3:
execução, processos nos tribunais e meios de impugnação das decisões, 12ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2019 (E-book).
Execução Trabalhista na Prática 63

notadamente por evento futuro, hipótese em que na sentença, se


ainda não ocorrido o fato, determinará o juiz a sua apuração em
liquidação por artigos.
Se o autor formular um pedido na fase cognitiva sem a sua de-
terminação necessária, ou ainda, que não contiver na causa petendi a
indicação precisa dos fatos que fundamentam de forma lógica a pre-
tensão deduzida, o mesmo não poderá ser conhecido, por inepto.
Sendo o fato controvertido e não havendo a produção de provas, de-
verá o juiz decidir de acordo com as regras de distribuição do ônus da
prova, de modo que, tendo por provados os fatos alegados pelo autor,
estará dotado de elementos para proferir a sentença condenatória,
que deverá ser certa (art. 492, I, CPC), de modo que não comportará
a dedução de novas alegações e provas aptas a ensejar a liquidação por
artigos, podendo dar azo a ação rescisória.
Nesse sentido, os exemplos citados por Carlos Henrique Be-
zerra Leite21 e Mauro Schiavi22, quanto à apuração de extensão de ho-
ras extras deferidas que dependam de apuração em liquidação por
artigos, conquanto discutível antes da reforma trabalhista23, não mais
se justificam, já que o pedido deverá ser determinado, com a indicação
dos fatos que o fundamentam – o que envolve a indicação da jornada
trabalhada –, e a sentença deverá ser certa, fixando a jornada para fins
de apuração das horas extras, de acordo com a prova produzida e o
ônus probatório, o que demandará apenas apuração por cálculos.

21 “se a sentença reconhece a existência de horas extras prestadas pelo obreiro


(fato reconhecido), mas não estabelece o quantitativo de horas prestadas, há ne-
cessidade de apurar esses fatos de investigação complementar” (LEITE, Carlos
Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho, 17ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2019 - E-book).
22 “a condenação apenas determina: uma indenização, horas extras, danos morais
etc. Porém, para apurar o valor, há necessidade de se determinar sua extensão,
por meio de prova de outros fatos constitutivos. Na liquidação por artigos em
que a sentença determina apenas uma indenização, apurar-se-á o montante dos
danos e se fixará o valor devido, após prova dos danos” (SCHIAVI, Mauro. Exe-
cução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr, 2019, p. 253).
23 Mesmo antes da reforma trabalhista, apesar da ausência de rigor do pedido no § 1º
do artigo 840 da CLT, já se exigia, pela aplicação supletiva do CPC, que o pedido
fosse certo e determinado, correspondendo de forma lógica à causa de pedir.
64 Execução Trabalhista na Prática

Em se tratando de relação jurídica continuada, a ocorrên-


cia de fato novo posterior à sentença, tal como a modificação do
ambiente de trabalho que suprimiu as condições de insalubridade
existentes ou alteração de função do empregado, deverão ser dis-
cutidas por meio de ação revisional (art. 505, I, CPC), não com-
portando discussão em sede de liquidação por artigos, posto que a
questão já se encontra superada pela coisa julgada.
Em sentido contrário, Wolney de Macedo Cordeiro defende
a possibilidade, em sede de liquidação por artigos, de discussão de
questões já decididas na fase de conhecimento, ou que ali deveriam
ter sido decididas, permitindo o elastecimento da fase cognitiva
para questões já resolvidas que importam em flexibilização da coi-
sa julgada por via processual inadequada, por meio de decisão que
somente poderá ser impugnada após a garantia do juízo e sem a
mesma amplitude recursal da fase de conhecimento, como a pos-
sibilidade de realização de perícia para apuração do grau de insalu-
bridade, que pode inclusive resultar negativa, contrariando a coisa
julgada que condenou ao pagamento de adicional de insalubridade:

A grande questão que surge no enfrentamento do tema continua a


ser a determinação do conceito de fato novo. Por fato novo devemos
entender aquele que, embora seja indispensável para o arremate da
liquidação, não consta explicitamente do título executivo judicial.
Há, portanto, uma lacuna no julgado capaz de comprometer todo
o procedimento de acertamento do título. Sem aquelas informações
não se torna viável a delimitação da obrigação a ser executada.
É importante destacar que o chamado fato novo não se relaciona
especificamente aos fatos reconhecidos na sentença, mas aqueles
necessários à fixação do quantum debeatur, tampouco se exterioriza
como matéria cronologicamente nova. Trata-se, na realidade, de
lacuna ou omissão capaz de impedir a integral liquidação do julgado.
O manejo da liquidação por artigos representa um pesado
ônus para as partes e deve ser evitado no âmbito da tramitação
processual. Como afirmamos anteriormente, é a mácula do título
executivo que conduz à necessidade do uso dessa modalidade de
liquidação, não sendo admissível que a sentença de forma explícita
e prévia, determine a realização da liquidação por artigos.
Execução Trabalhista na Prática 65

O uso dessa modalidade de liquidação, conforme afirmamos acima,


decorre de uma lacuna intransponível constante do julgado, capaz de
comprometer a sua liquidação. Algumas situações factuais poderiam
ensejar a liquidação por artigos no processo do trabalho, como
por exemplo: a) condenação ao pagamento de horas extras sem o
detalhamento da jornada de trabalho; b) deferimento de diferenças
salariais, mesmo diante da inexistência de declaração da remuneração
efetivamente devida; c) reconhecimento do adicional de insalubridade
sem o estabelecimento do grau respectivo; d) deferimento de
pensionamento mensal decorrente de ação indenizatória de acidente
do trabalho sem a indicação do montante respectivo, ou mesmo
elementos objetivos para fixar os danos emergentes; e) apuração da
média de gorjetas reconhecidas na sentença; entre outros.
São situações nas quais os elementos fáticos constantes do título
executivo judicial não são suficientes para se atingir a plenitude da
liquidez do crédito exequendo. Em tais circunstâncias, a fase de
conhecimento é reaberta, no entanto, com a finalidade exclusiva
de serem apurados os fatos pertinentes à liquidação do julgado.
Nessa reabertura é lícita aos litigantes a produção de qualquer tipo
de meio probatório com a finalidade de demonstrar a veracidade
dos fatos apontados.
Após a realização da instrução processual, na qual será assegurado
o contraditório e ampla defesa (CPC, art. 511), o juiz decidirá a
liquidação, fixando os elementos fáticos necessários, bem como
o valor da obrigação exequenda. A decisão proferida pelo juízo
é de caráter interlocutório, sendo passível de impugnação por
intermédio dos embargos do devedor (CLT, art. 884)24.

Nelson Nery Jr e Rosa Maria de Andrade Nery trazem alguns


exemplos de liquidação por artigos, que podem ser aplicados ao proces-
so do trabalho nos casos que envolvam acidente ou doença do trabalho:

a) Sentença condena o réu a indenizar os danos decorrentes de


acidente, com todas as suas consequências passadas, presentes e
futuras. Caso a vítima tenha de submeter-se a nova cirurgia, não
descrita na petição inicial da ação de conhecimento com um dos
danos já sofridos pelo autor, deverá ser alegada e comprovada

24 CORDEIRO, Wolney de Macedo. Execução no processo do trabalho, 4ª ed.


Salvador: JusPodivm, 2017, p. 209 a 212.
66 Execução Trabalhista na Prática

em liquidação de sentença, para que seu valor possa integrar o


título executivo. Isso não alterará o julgado – alteração proibida
pelo CPC 509 § 4.º –, porque a sentença declarou a existência
do acidente e o réu já foi condenado a indenizar os danos dele
decorrentes. O que se prova na liquidação é o fato novo, isto
é, que essa cirurgia superveniente é um dos danos de que fala
a sentença. b) O réu é condenado a indenizar o dano causado à
saúde da vítima. Diz o CC 949: “No caso de lesão ou outra ofensa
à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento
e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum
outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido”. O pagamento
das despesas até a total convalescença – que pode ocorrer depois
da sentença haver sido proferida – é obrigação ex lege, que
decorre expressamente da Lei. Como a fonte dessa obrigação
é a própria Lei, o ofensor tem de arcar com esse pagamento,
ainda que não conste expressamente da sentença condenatória.
Os fatos novos que o ofendido precisa comprovar nesta espécie
de liquidação são as despesas que teve até sua convalescença25.

Há casos ainda mais complexos, como nas sentenças pro-


feridas em ações coletivas (substituição processual), na qual cada
substituído terá que demonstrar, na liquidação, que se enquadra
na situação fática abrangida pela sentença, ou ainda hipóteses de
apuração da manutenção da incapacidade laboral e despesas de
tratamento, mormente em reparação de danos materiais decor-
rentes de acidente do trabalho ou doença do trabalho, como nos
exemplos citados por Nelson Nery.
Outro exemplo simples, porém corriqueiro, se dá quanto à
apuração da multa de 40% do FGTS, para o que é necessário apu-
rar o valor do saldo existente na conta vinculada, informação esta
que muitas vezes não consta dos autos, se fazendo necessária, as-
sim, a produção de prova documental no curso da liquidação, com
a juntada de extrato analítico do FGTS. Tal determinação pode es-
tar contida na sentença proferida na fase de conhecimento, ou não.

25 NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil
comentado, 4ª ed. São Paulo: RT, 2019 (E-book), cit. CPC 509, coment. 17.
Execução Trabalhista na Prática 67

Nesses casos, ocorrerá a liquidação mista, isto é, por artigos,


cumulada com cálculos.
Além das várias situações exemplificativas apontadas, é co-
mum a sentença declarar que a prestação de serviços havida se deu
nos moldes da relação de emprego, por presentes os requisitos
dos artigos 2º e 3º da CLT, conquanto o pagamento fosse efetuado
mediante emissão de notas fiscais pelo trabalhador, determinando
a sentença que a evolução salarial seja apurada de acordo com os
valores das notas fiscais, por meio de liquidação por artigos, com a
determinação de juntada das notas fiscais aos autos.
Assim, na liquidação, deverá o autor promover a juntada das
notas fiscais – que por ele foram emitidas – junto com os cálculos
das parcelas deferidas, podendo o réu, quando intimado para se
manifestar na forma do § 2º do artigo 879 da CLT, poderá apresen-
tar impugnação aos documentos e cálculos, bem como trazer aos
autos as notas fiscais a ele emitidas.
Contudo, há divergência, entendendo Homero Batista Mateus
da Silva26 que tal situação enseja liquidação por arbitramento, na qual,
pela falta dos documentos nos autos, os valores seriam arbitrados.
Ainda que a sentença da fase de conhecimento determine
expressamente a realização de liquidação apenas por cálculos,
sendo necessária a realização de provas para fixar a extensão da
condenação, deverá o juiz, no início, ou no curso da liquidação,
determinar a liquidação por artigos para fazer prova do fato.
No processo civil, a liquidação por artigos ocorrerá segundo
os preceitos do procedimento ordinário da fase de conhecimento
(art. 509, II), prevendo o artigo 511 que “na liquidação pelo pro-
cedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido,
na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que
estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no pra-
zo de 15 (quinze) dias, observando-se, a seguir, no que couber, o
disposto no Livro I da Parte Especial deste Código”.

26 SILVA, Homero Batista Mateus da. CLT comentada, 2ª ed. São Paulo, RT, 2018
(E-book), cit. CLT 879, coment. 2.
68 Execução Trabalhista na Prática

No processo do trabalho, a liquidação, mesmo que por ar-


tigos, será um incidente, onde se fará prova, normalmente docu-
mental, de fato específico e determinado na sentença da fase de
conhecimento, seguido da apuração monetária correspondente.
Assim, ao contrário do processo civil, em que a liquidação por
artigos segue o rito ordinário da fase de conhecimento, no processo
do trabalho, em regra, seguirá o rito do artigo 879 da CLT, devendo
a parte que der início ao procedimento apresentar as provas de-
terminadas na sentença para a apuração por artigos, junto com os
cálculos correlatos, abrindo-se vistas à parte contrária, que poderá
impugnar os artigos e os cálculos, produzindo prova documental,
e caso se faça necessária a produção de prova oral ou técnica, o
juiz designará audiência de instrução ou determinará a realização de
perícia adequada para solucionar a controvérsia, e ao final proferirá
sentença de liquidação, que somente poderá ser impugnada após a
garantia do juízo, nos termos do §3º do artigo 884 da CLT.
Não obstante, em situações excepcionais que se admita a
alegação de fato novo que demande a produção de prova com
grande amplitude, poderá ser adaptado o sistema do CPC ao pro-
cesso do trabalho, submetendo-se a liquidação por artigos ao rito
da fase de conhecimento (ordinário, sumaríssimo ou sumário).
Nesse caso, caberá ao credor, em petição articulada, rela-
cionar os fatos novos a serem provados e que tenham influência
na fixação do quantum debeatur, apresentando a prova documental
ou delimitando outros meios de prova para instrução processual.
Em seguida, intima-se o devedor para apresentar contes-
tação em 5 dias (cujo prazo é adaptado ao prazo trabalhista de
defesa do réu), na qual se poderá impugnar desde a pertinência
da instauração da liquidação por artigos, até a extensão dos fatos
novos, apresentando a prova documental ou delimitando outros
meios de prova para instrução processual.
Havendo necessidade de produção de provas em audiência,
o juiz designará audiência de instrução para colher o depoimento
pessoal das partes e/ou oitiva de testemunhas.
Execução Trabalhista na Prática 69

Por fim, as partes apresentarão razões finais, e frustrada a


possibilidade de conciliação, o juiz proferirá decisão interlocutória
quanto aos artigos, prosseguindo-se a liquidação quanto aos cálcu-
los, pelo rito do artigo 879 da CLT.

2.3 Liquidação por arbitramento


A liquidação por arbitramento, que tem baixa incidência no
Processo do Trabalho, se dá quando não é possível estabelecer va-
lores para os títulos, ou determinado título deferido em sentença,
por ausência de parâmetros na coisa julgada, não sendo possível a
apuração por artigos.
Mauro Schiavi afirma que

No processo do trabalho, raramente se utiliza a liquidação por


arbitramento, pois é mais onerosa, exige a realização de perícia e
provoca mais demora no procedimento. Não obstante, hipóteses
há em que a liquidação por arbitramento se faz necessária, como
na apuração do valor do salário in natura, em que a sentença
determinou a integração de determinada utilidade ao salário.
[...] um exemplo de liquidação por arbitragem seria a hipótese
de cálculo dos salários do reclamante que prestou serviços sem
remuneração e cuja relação de emprego foi reconhecida pela
Justiça do Trabalho, sendo nomeado, para tanto, um árbitro,
cuja função seria realizar pesquisa no mercado de trabalho sobre
a remuneração a ser paga ao obreiro, em virtude do serviço
prestado27.

Segundo Sérgio Pinto Martins, “o arbitramento poderá ocor-


rer, também, quando houver lacuna na prova produzida, por ine-
xistência de documentos ou de dados, sendo determinado segun-
do as diretrizes fixadas pelo juiz. Exemplo será a necessidade de se
arbitrar o salário do empregado (art. 460 da CLT)”28.

27 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 252
28 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25.ª edição. São Paulo:
Atlas, 2006, p. 629
70 Execução Trabalhista na Prática

Complementa Wolney de Macedo Cordeiro que a liquidação


por arbitramento

só se opera quando for necessária a inserção de algum elemento


adicional para a fixação do quantum debeatur, como por exemplo,
estimativa ou avaliação. Neste caso, os parâmetros destinados à
fixação do valor da obrigação encontram-se plenamente definidos
no título judicial, todavia demandam uma operação lógica adicional
a fim de que possam ser vertidos de forma monetária29.

O referido doutrinador, elenca as seguintes hipóteses:

a) estabelecimento de valores de salários ou comissões diante


da inexistência de comprovantes de pagamentos respectivos; b)
fixação de valores devidos a título de direitos autorais, decorrentes
de invenção ou qualquer outro direito decorrente de propriedade
industrial do trabalhador; c) aferição dos limites da perda da
capacidade laborativa do trabalhador, para fins de fixação da
indenização correspondente ou pensionamento; d) determinação
de valores de gratificações que dependam de repasses de
terceiros; e) fixação dos valores das gorjetas reconhecidas pelo
Juiz em sentença30.

Outra situação exemplificativa é o deferimento de indeniza-


ção por descumprimento de obrigação de fazer prevista em ins-
trumento normativo, no qual não haja fixação de valor, tal como
fornecimento de cesta básica.
O intuito da convenção coletiva é atribuir ao empregador
uma obrigação de fazer, que deve ser cumprida no curso do con-
trato, com o dever de fornecer ao empregado a cesta básica, que
conta normalmente com a indicação dos itens que devem a com-
por; descumprida tal obrigação, como não é possível determinar
o cumprimento da obrigação de fazer de forma retroativa, a obri-
gação resolve-se em perdas e danos, com indenização do valor

29 CORDEIRO, Wolney de Macedo. Execução no processo do trabalho, 4ª ed.


Salvador: JusPodivm, 2017, p. 206.
30 Idem, pp. 206/207.
Execução Trabalhista na Prática 71

correspondente; alguns instrumentos normativos preveem deter-


minado valor em substituição ao benefício, o que permite a apura-
ção do prejuízo apenas por cálculos; quando, todavia, não há fixa-
ção de valor no instrumento normativo, impõe-se o arbitramento.
No curso de uma liquidação por artigos, verificando o juiz a
impossibilidade de se apurar a extensão da obrigação, por ausên-
cia de provas, pode determinar, em substituição, que a liquidação
se realize por arbitramento, como na hipótese já citada de ser o
empregador condenado a pagar diferenças de comissões a um ven-
dedor e neste procedimento constata-se a ausência de elementos
para apuração, impondo-se o arbitramento como meio adequado
para solucionar a controvérsia, com designação de perícia.
O perito, nesse caso, fará o levantamento do valor aproxi-
mado das vendas realizadas a partir de diversas informações, como
movimentação de caixa, sistema eletrônico de vendas, faturamen-
to da empresa, quantidade de vendedores, reunindo elementos
para poder apresentar ao juiz a estimativa, a partir da qual serão
apurados os valores das comissões devidas.
Na maioria das hipóteses em que a reparação do dano deve
ser efetuada por arbitramento, este já é efetuado na sentença da
fase cognitiva, tal como na fixação de indenização por danos mo-
rais ou de salário por equivalência, cujo arbitramento do quantum
é feito pelo juiz na própria sentença. Aliás, quando prolata a sen-
tença de mérito da fase de conhecimento, deve o juiz, ao defe-
rir determinada parcela, levar em conta a liquidação da sentença,
e percebendo a necessidade de procedimento de arbitramento,
tanto quanto possível, deve o efetuar na própria sentença, evitan-
do-se assim maiores delongas na liquidação, que onerarão ainda
mais o processo.
Em regra, na liquidação por arbitramento, é determinada a
realização de perícia, estabelecendo o juiz os parâmetros que de-
vem ser seguidos, para que o perito, que tem conhecimento e ex-
periência em sua área de atuação, apresentar laudo com estimativa
de valor, o qual, se acolhido pelo juiz, é homologado.
72 Execução Trabalhista na Prática

Conforme disposição do artigo 510 do CPC, “na liquidação


por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentação de
pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso
não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no
que couber, o procedimento da prova pericial”.
Havendo possibilidade, pode o juiz proceder o arbitramento a
partir de documentos apresentados pelas partes e pareceres técnicos,
sem necessidade de designação de perícia, o que será realizado apenas
quando houver necessidade de conhecimento técnico específico.
Exemplificativamente, na hipótese de liquidação de sentença
penal transitada em julgado31 que condena o empregador – ou os
seus sócios ou diretores – por denunciação caluniosa ao empre-
gado, a execução será precedida de liquidação, na qual o juiz arbi-
trará o quantum de acordo com a extensão do dano, valorando as
provas documentais, sem a necessidade de realização de perícia.
Mauro Schiavi detalha o procedimento da liquidação por
arbitramento:

Conforme o art. 510 do CPC, na liquidação por arbitramento,


o juiz intimará as partes para a apresentação de pareceres ou
documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa
decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no que couber,
o procedimento da prova pericial.
Diante do referido dispositivo legal, aplicável subsidiariamente ao
processo do trabalho, as partes devem apresentar documentos
elucidativos, em prazo razoável fixado pelo Juiz para se chegar
ao valor devido. Caso esses documentos não sejam elucidativos,
o Juiz nomeará perito, fixando prazo razoável para entrega do
laudo. Após a apresentação do laudo pericial, as partes serão
intimadas para impugnação e o Juiz decidirá se acolhe ou rejeita o
laudo pericial32.

31 A sentença penal condenatória é admitida como título executivo judicial no pro-


cesso do trabalho, quando o fato ocorreu no âmbito da relação de trabalho,
ocasionando dano ao trabalhador.
32 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 252
Execução Trabalhista na Prática 73

Rodolfo Pamplona Filho e Tercio Roberto Peixoto obser-


vam que o juiz investindo-se na condição de árbitro, deverá fixar a
quantia que considere razoável para delimitar o quantum debeatur,
podendo, para isso, valer-se de quaisquer parâmetros sugeridos
pelas partes, ou, mesmo, adotados de acordo com sua consciência
e noção de equidade, entendida esta na visão aristotélica de “justiça
no caso concreto”33.
De outro lado, havendo determinação de liquidação por ar-
bitramento na sentença exequenda, pela aplicação supletiva do Có-
digo de Processo Civil, deve intimar as partes para apresentarem
documentos e pareceres, e não sendo possível decidir de imediato,
deverá determinar a realização de perícia, traçando os parâmetros
a serem seguidos, fixando-se prazo para as partes apresentarem
quesitos e para o perito entregar o laudo; vindo aos autos o laudo,
deve o juiz dar ciência às partes, em atenção ao contraditório, e
em seguida, decidir, arbitrando o valor, determinando o prossegui-
mento da liquidação, se o caso, com a apresentação dos cálculos.

3 Procedimentos da liquidação

3.1 Início do procedimento: apresentação de cálculos


Determina o § 1º-B do artigo 879 da CLT, inserido pela Lei
10.035/2000, que “as partes deverão ser previamente intimadas
para a apresentação do cálculo de liquidação, inclusive da contri-
buição previdenciária incidente”.
Assim, certificado nos autos o trânsito em julgado da decisão
da fase de conhecimento, o juiz intimará as partes para apresenta-
rem os cálculos de liquidação, vez que toda liquidação trabalhista,
como visto, abrangerá os cálculos, o que não veda a adoção de
outros meios, como artigos (juntada de provas no curso da liquidação)
ou, se necessário, arbitramento.

33 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; PEIXOTO, Tercio Roberto. Curso de direito pro-


cessual do trabalho, 2ª ed. Saraiva, 2020 (Kindle).
74 Execução Trabalhista na Prática

Todavia, a liquidação pode ser iniciada pela parte interessa-


da, normalmente o autor (exequente), sem que haja determinação
judicial, bastando o trânsito em julgado da decisão.
Há divergência doutrinária e jurisprudencial sobre a pos-
sibilidade da realização da liquidação ex officio pelo próprio Juiz,
determinando que os cálculos sejam realizados de imediato pelo
contador do juízo ou por meio de perícia contábil.
Alguns sustentam que a redação do caput ao utilizar o verbo
“ordenar” com caráter imperativo, associada à compreensão de que
se trata de fase cognitiva, de natureza declaratória, a incidir o impulso
oficial (art. 2º do CPC), chega-se à conclusão de que pode o juiz do
trabalho de ofício realizar os cálculos de liquidação, ao passo que a
corrente contrária defende que o magistrado somente poderá liquidar
a sentença de ofício em casos excepcionais, tais como na hipótese da
parte que não estiver com advogado, valendo-se do jus postulandi34.
Antes da vigência da Lei 10.035/2000, que inseriu o §1º-B
ao artigo 879 da CLT, o qual impõe ao juiz a intimação das partes,
era possível a realização da liquidação ex officio, porém a partir da
vigência de tal norma, tal possibilidade fica restrita apenas na hipó-
tese da parte autora não ser assistida por advogado.
Em consonância com o texto legal, deve o juiz intimar todas
as partes do processo para apresentarem os cálculos, em prazo
comum, o que é compatível com o processo eletrônico, e também
com o princípio da cooperação (art. 6º CPC), pois “todos os su-
jeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha,
em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”, alcançando
a duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII, CF), também a
atividade satisfativa (art. 4º CPC).
Contudo, a rigor, como o interesse de promover a liquidação
cabe ao autor, é praxe forense o juiz determinar a intimação deste
para apresentação dos cálculos, sendo que sua omissão pode ensejar o

34 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 247.
Execução Trabalhista na Prática 75

arquivamento provisório do processo e se decorrer mais de dois anos,


como lhe cabe a iniciativa de promover a execução (art. 878 da CLT),
pode ser pronunciada a prescrição intercorrente (art. 11-A da CLT).
Sendo o reclamante a parte mais interessada em obter rapi-
damente a satisfação de seu crédito, pode este se antecipar ao des-
pacho do juiz e apresentar os cálculos, desde que tenha ocorrido
o trânsito em julgado do processo. Da mesma forma, como o réu
também é parte no processo e pode ter interesse em solucionar
rapidamente o litígio, quitando o que entende devido, é também
legitimada a tomar a iniciativa da liquidação.
Embora não seja comum, é possível ao juiz determinar a in-
timação do réu para que apresente os cálculos, porém a inação
deste não ensejará o transcurso do prazo para prescrição intercor-
rente, que somente começará a fluir do vencimento do prazo do
reclamante, quando devidamente intimado, por inação deste. Vale
ressaltar que, nesse caso, a ausência de apresentação de cálculos
pelo réu não afetará o seu direito de se opor aos cálculos apresen-
tados pela parte contrária, não ensejando a preclusão.
A maior vantagem de se intimar o réu a apresentar os cálcu-
los é a diminuição das discussões na fase de liquidação, pois a expe-
riência empírica, da prática forense, revela que há um alto índice de
concordância dos autores com os cálculos apresentados pelo réu,
principalmente quando os valores já estão depositados.
Situação contrária se verifica comumente quando o autor
apresenta os cálculos, pois é natural que os empregadores, ainda
que concordem com os cálculos do autor, apresentem impugna-
ções para procrastinar o curso do processo.
De outro lado, a intimação do réu para apresentação dos cálcu-
los, proporcionando-lhe a oportunidade de promover o cumprimento
espontâneo da sentença, se revela medida de celeridade e economia
processual, que pode importar em menor custo ao empregador, na
medida em que, não promovendo o cumprimento espontâneo da
obrigação fixada na coisa julgada, estará sujeito a honorários advocatí-
cios da fase executiva, como será tratado adiante.
76 Execução Trabalhista na Prática

Na hipótese do empregador apresentar os cálculos e efetuar


o pagamento do “quantum”, havendo manifestação de concordân-
cia do autor, não será prolatada sentença de liquidação e tampouco
se iniciará a execução, tratando-se de típico caso de cumprimento
espontâneo da obrigação, declarando o juiz satisfeita a obrigação,
extinguindo o processo, em conformidade com o disposto no arti-
go 526, § 3º, do CPC:

Art. 526. É lícito ao réu, antes de ser intimado para o cumprimento


da sentença, comparecer em juízo e oferecer em pagamento o
valor que entender devido, apresentando memória discriminada
do cálculo.
§ 3º Se o autor não se opuser, o juiz declarará satisfeita a obrigação
e extinguirá o processo.

Com a obrigatoriedade de uso do sistema PJe-Calc para


confecção dos cálculos de liquidação, que tem a funcionalidade de
importação de dados de sistemas de cartão de ponto digital, é de
bom alvitre que o juiz, antes de intimar as partes a apresentarem
os cálculos, em sendo reconhecido na coisa julgada os cartões de
ponto como válidos e havendo apurações que demandam tais in-
formações, determine ao empregador, sob pena de configuração
de ato atentatório à dignidade da justiça (CPC, art. 77, IV), o de-
pósito em secretaria de mídia contendo, em um único arquivo de
formato CSV35, todos os registros de ponto do trabalhador, para
facilitar a ambas as partes a confecção dos cálculos de liquidação,
diminuindo, por conseguinte, questionamentos acerca da apuração
do cartão de ponto por possíveis erros de digitação.

3.2 Contestação de cálculos


Apresentada a conta de liquidação por uma das partes, pelo
princípio do contraditório, deve o juiz abrir à parte contrária de

35 O arquivo deve ter a seguinte formatação para ser aceito pelo sistema: “da-
ta;entrada1;saída1;entrada2;saída2;entrada3;saída3;entrada4;saída4;entrada5;-
saída5;entrada6;saída6”
Execução Trabalhista na Prática 77

oito dias para impugnação fundamentada, com a indicação dos


itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão (art.
879, § 2º, CLT, com redação dada pela Lei 13.467/17).
Na impugnação, a parte tem o ônus de apontar de forma
fundamentada os erros dos cálculos da parte contrária, bem como
apresentar os cálculos que entende corretos.
Nesse sentido:

APRESENTAÇÃO DE CÁLCULOS. NECESSIDADE DE IMPUGNAÇÃO


ESPECÍFICA. AUSÊNCIA DE NOVOS CÁLCULOS. PRECLUSÃO. A
impugnação aos cálculos apresentados pelo reclamante deve ser
efetuada através de novos cálculos, não podendo apenas basear-se
na indicação de supostos equívocos por ele praticados. A impugnação
que não observa este parâmetro, leva à preclusão da matéria, o que
torna indevida a apresentação de planilha de cálculos em razões de
embargos à execução. Agravo de petição a que se nega provimento.
(TRT/SP, AP 1000179-58.2015.5.02.0373, 3ª Turma, Rel. Des.
Mercia Tomazinho, DEJT 14/08/2019)

Trata-se a impugnação de cálculos de procedimento que visa


prestigiar o contraditório prévio antes da homologação dos cálcu-
los pelo juiz, visando afastar erros grosseiros, que podem causar
grave prejuízo ao devedor, que precisa garantir previamente a exe-
cução para somente depois a embargar.
Questão tormentosa e bastante controvertida são os efeitos
da preclusão a que alude o § 2º do artigo 879 da CLT.
O primeiro ponto que merece destaque é que a preclusão
é endereçada às partes, não vinculando o juízo, que observando
a dissonância dos cálculos com a coisa julgada, determinará que a
parte refaça os cálculos.
De outra banda, a doutrina e jurisprudência majoritárias en-
tendem que em decorrência da falta de impugnação dos cálculos,
não será mais possível a contestação de valores, inclusive em sede
de embargos à execução, diante da preclusão.
Manoel Antônio Teixeira Filho, defende que a preclusão im-
pede a discussão acerca da conta de liquidação por meio de em-
bargos à execução:
78 Execução Trabalhista na Prática

Maiores serão as dificuldades de ordem prática, entretanto, se o


devedor não se pronunciar sobre os cálculos do contador, no prazo
legal, fazendo com que se forme a preclusão temporal. Nesse caso,
preclusa a matéria, ele não poderá oferecer embargos à execução.
Logo, a solução, para a espécie em exame, não poderá ser idêntica
à sugerida para a hipótese anterior, em que ele falou sobre os
cálculos, impugnando-os. Conquanto o assunto esteja aberto a
controvérsias intensas, pensamos que a preclusão impedirá o
devedor de submeter a matéria concernente aos cálculos ao exame
do Tribunal, em grau de recurso. Afinal, se de preclusão se trata,
isso corresponde a fazer descer um denso véu sobre o tema, exceto
se o pronunciamento jurisdicional ensejar o exercício de pretensão
rescisória. Em suma, a preclusão inibirá o reexame da matéria na
mesma relação processual – salvo se tratar-se de matéria de ordem
pública, que, por isso, o juízo deva conhecer ex officio36.

Igual caminho é seguido por Homero Batista Mateus da Silva,


para quem “uma vez aberto o prazo, a parte que ficar em silêncio não
poderá reavivar a discussão em sede de embargos à execução do art.
884 da CLT. Na oportunidade, ela poderá deduzir alegações sobre
a penhora do bem e outros atos supervenientes à homologação do
cálculo, mas não sobre os critérios de cálculo propriamente ditos”37.
No mesmo sentido, a jurisprudência:

EMENTA: LIQUIDAÇÃO. ABERTURA DE PRAZO PARA IM-


PUGNAÇÃO DOS CÁLCULOS. SELÊNCIO DO EXECUTADO.
PRECLUSÃO. Opera-se a preclusão quando o executado deixta
transcorrer in albis o prazo para impugnar os cálculos, não lhe
sendo autorizado discutir a conta já em fase de execução
(TRT-1 – AGVPET: 647001420065010004 RJ, Relator: Rildo Brito,
3ª Turma, Julgamento 25/10/2013)
EMENTA: CÁLCULOS DE LIQUIDAÇÃO. OPORTUNIDADE
PARA IMPUGNAÇÃO. PRECLUSÃO. NÃO CABIMENTO DE
EMBARGOS À EXECUÇÃO. Conforme consta no art. 879, § 2º
da CLT, elaborada a conta e tornada líquida, o juízo deverá abrir

36 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio Teixeira. Execução no processo do trabalho.


São Paulo, 12ª ed. Ltr, 2017, p. 285
37 SILVA, Homero Batista Mateus da. CLT comentada, 2ª ed. São Paulo, RT, 2018
(E-book), cit. CLT 879, coment. 7.
Execução Trabalhista na Prática 79

às partes prazo comum de oito dias para impugnação fundamentada


sob pena de preclusão. Assim, diante da inércia da agravante é pre-
clusa a oportunidade para apresentação de embargos à execução
(TRT3 - AP 00105077920165030186 - 11ª Turma - Relator
Desembargador Marco Antonio Paulinelli Carvalho - Data de
publicação: 01/08/2019).

Todavia, deve ser observada a existência de choque entre as


duas formas de preclusão na espécie: a que alude o § 2º do artigo
879 da CLT e a força preclusiva da coisa julgada.
De fato, como já apontado, em consonância com o disposto
no § 1º do artigo 879 da CLT, é vedado modificar ou inovar a senten-
ça liquidanda, o que decorre da eficácia preclusiva da coisa julgada e
também do princípio do título executivo, de forma que se uma parte
apresentar cálculos que contrariam a coisa julgada, inserindo ou ex-
cluindo parcelas fixadas na condenação, e deixando a parte contrária
de apresentar a impugnação aos cálculos no prazo fixado por Lei,
vindo os cálculos a serem homologados pelo juízo, haverá a colisão
entre as duas modalidades preclusivas, devendo prevalecer a força
preclusiva da coisa julgada, assegurada como garantia constitucional,
de sorte que não pode ser negado conhecimento aos embargos ou
impugnação à sentença de liquidação, que é o remédio processual
adequado para a discussão de tais questões (art. 884, § 3º, CLT) vi-
sando discutir o excesso de execução e contrariedade à coisa julgada.
Francisco Antonio de Oliveira, em relação à disposição do §
1º do artigo 879 da CLT, acentua que

nesse parágrafo, está contida a proteção da coisa julgada material que


é a máxima preclusão. Nesse comando legal, está dito expressamente
que na liquidação de sentença não poderá haver excesso nem
redução. A liquidação material da sentença deverá conter-se dentro
dos limites objetivos da coisa julgada. Defeso, pois, ao exequente ou
ao executado desrespeitar a coisa julgada reduzindo ou majorando as
verbas e valores contidos nos limites objetivos38.

38 OLIVEIRA, Francisco Antonio de. A execução na Justiça do Trabalho, 9ª ed. São


Paulo: LTr, 2018, p. 692.
80 Execução Trabalhista na Prática

Muitos são os exemplos que podem ser apontados, e que


com frequência ocorrem na liquidação de sentença: inclusão de
reflexos ou integrações na base de cálculo de parcelas que não
deferidas na sentença, adoção de critério de correção monetária
diverso do fixado na coisa julgada (a sentença determinou TR e a
parte apresentou cálculos pelo IPCA-E, ou vice-versa), inclusão ou
exclusão de prestações que não constam da sentença, utilização de
parâmetros diversos dos que foram fixados na coisa julgada (como
na hipótese da sentença deferir adicional de horas extras na forma da
Súmula 340 do TST e os cálculos apurarem horas extras integrais).
É certo, contudo, que a preclusão do § 2º do artigo 879 da
CLT não permitirá à parte a discussão de tal questão dentro da
própria liquidação de sentença, devendo garantir o juízo para apre-
sentar a impugnação por meio da medida adequada.
O que não se pode é vedar o acesso aos embargos para dis-
cutir a violação à coisa julgada, ou ainda o excesso de execução, na
medida em que não existe título executivo em relação às presta-
ções não contempladas no comando da coisa julgada, não se pres-
tando a sentença de liquidação para formação do título executivo,
mas apenas seu aperfeiçoamento.
Como não houve revogação ou modificação do art. 884 da CLT,
mesmo que não haja a impugnação aos cálculos apresentados, as par-
tes continuam com o direito de impugnar a sentença de liquidação,
após a garantia do juízo. Entretanto, não havendo ofensa à coisa julga-
da, tratando-se de discussão que visa tão somente questionar critérios
do cálculo – como no tocante a apuração da quantidade de horas ex-
tras do cartão de ponto –, a preclusão será o fundamento da rejeição
dos embargos ou impugnação à sentença de liquidação no julgamento.
De outro lado, na liquidação, havendo concordância expres-
sa da parte contrária com os cálculos, estando estes em consonân-
cia com a coisa julgada (ou a sentença, em execução provisória), o
juiz prolatará a sentença de liquidação, fixando o quantum debeatur.
Havendo impugnação, em regra, o juiz abre vistas à parte con-
trária para se manifestar, ou ainda, prolatará a sentença de liquidação,
se tiver condições, podendo ainda determinar a realização de perícia
contábil, na hipótese de haver complexidade nos cálculos.
Execução Trabalhista na Prática 81

3.3 Perícia Contábil x interpretação do julgado


Havendo controvérsia quanto aos cálculos, não sendo caso de
interpretação do julgado, mas divergência nos próprios cálculos, e
sendo estes complexos, poderá o juiz determinar a realização de pe-
rícia contábil para liquidação do julgado, conforme preceitua o § 6º do
artigo 789 da CLT: “tratando-se de cálculos de liquidação complexos,
o juiz poderá nomear perito para a elaboração e fixará, depois da con-
clusão do trabalho, o valor dos respectivos honorários com observân-
cia, entre outros, dos critérios de razoabilidade e proporcionalidade”.
De um modo geral, a maior controvérsia na fase de liquida-
ção não diz respeito aos cálculos propriamente ditos, mas sim na
própria interpretação da coisa julgada, notadamente quanto aos
parâmetros das prestações liquidandas, questões estas que devem
ser resolvidas pelo Juiz, e não por perícia contábil.
A rigor, sendo os cálculos questões aritméticas, não have-
ria motivo para ensejar controvérsias, visto que a matemática é
matéria exata. Contudo, como os cálculos envolvem a interpre-
tação do julgado e não apenas simples aplicação de fórmulas ma-
temáticas, surgem as controvérsias que culminam em resultados
absolutamente díspares. Tal problema, ao que tudo indica, não será
solucionado com a adoção do aplicativo PJe-Calc, posto que apesar
de referido software conter as tabelas e realizar as operações arit-
méticas, dependerá da parametrização dos cálculos pelo usuário, a
qual envolverá a interpretação de sentença.
Como já asseverado nos tópicos anteriores, apesar do rigor
imposto pelo §1º do artigo 879 da CLT, que veda a inovação ou redis-
cussão de questões superadas pela decisão da fase de conhecimento,
que na verdade reflete nada mais do que a eficácia preclusiva da coisa
julgada, é muito comum na apresentação dos cálculos as partes ino-
varem, inserindo ou excluindo parcelas na base de cálculo de outras
parcelas, ou alterando os parâmetros da sentença, e ainda que os
cálculos reflitam a aplicação correta do Direito, de acordo com en-
tendimentos sumulados do TST, não refletem o que restou decidido
na fase de conhecimento, cuja observância é obrigatória.
82 Execução Trabalhista na Prática

Exemplificativamente, é comum a sentença condenar o em-


pregador a pagar horas extras além da quadragésima quarta sema-
nal e o autor apresentar cálculos apurando além da oitava diária,
ou, inversamente, a sentença condena a pagar horas extras além da
oitava diária e o réu apura as excedentes da quadragésima quarta
semanal, que normalmente enseja diferenças significativas. Outra
situação bastante comum é a inclusão de parcelas salariais na base
de cálculo de outras parcelas que não foram determinadas pela
sentença, ou o inverso – exclusão de parcelas fixadas na sentença.
Da mesma forma, tendo a sentença fixando este ou aquele
índice de correção, é comum as partes apresentarem com índice
diverso, tentando reabrir a discussão, que é vedada na fase de li-
quidação, exceto se a sentença relegou a fixação do índice de cor-
reção à liquidação.
Não obstante as maiores controvérsias dos cálculos dizerem
respeito à interpretação da sentença, cuja resolução cabe apenas e
exclusivamente ao juiz, é muito comum na prática a determinação
de realização de perícia contábil39, meio pelo qual o juiz, em vez
de solucionar a controvérsia, como lhe cabe, delega tal missão ao
perito, profissional especializado em contabilidade e que apesar de
não ter, em regra, conhecimentos jurídicos, acaba tendo o encargo
de interpretar a coisa julgada, motivo pelo muitos laudos periciais
são impugnados pelas partes, que afirmam que o perito não obser-
vou os termos da coisa julgada, dando ensejo a discussões em sede
de embargos à execução e agravo de petição.
De outro lado, quando a controvérsia gira em torno de apu-
rações tipicamente contábeis, como a apuração de quantidade de
horas trabalhadas a partir dos cartões de ponto, o caminho inevitá-
vel será a determinação de realização de perícia contábil.

39 Não se pretende aqui tecer crítica aos magistrados do trabalho, já que estes
são pressionados pela grande demanda de trabalho existente nas varas do
trabalho, com estrutura funcional inadequada para dar vazão à demanda, além
de cobranças de produtividade dos órgãos de cúpula do Judiciário, fatores que
prejudicam a realização de um trabalho que no geral demanda muito tempo.
Execução Trabalhista na Prática 83

Assim, havendo controvérsia nos cálculos, deve o juiz sanear


o processo e aferir se as controvérsias se referem de fato a ques-
tões contábeis, resolvendo as controvérsias que lhe cabem dirimir
quanto a interpretação do julgado, ou fixação de parâmetros, se o
caso, designando a perícia se estritamente necessário, fixando o
prazo para apresentação do laudo.
Apresentado o laudo pericial, deverá o juiz abrir vistas às
partes pelo prazo comum de oito dias (art. 879, § 2º, CLT), e em
seguida prolatar a sentença de liquidação, salvo se entender neces-
sário requisitar ao perito esclarecimentos adicionais.
Na sentença de liquidação o juiz fixará o valor dos honorários
periciais, observando a complexidade dos cálculos e os critérios da
razoabilidade e proporcionalidade (art. 879, § 6º, CLT), os quais
serão suportados pelo executado, independente do resultado da
perícia (art. 789-A da CLT), uma vez que a este cabia o dever de
cumprir espontaneamente o comando da coisa julgada, não se aplican-
do, neste particular, a disposição do artigo 790-B da CLT e o enten-
dimento da Súmula 236 do TST, como se colhe do seguinte julgado:

HONORÁRIOS PERICIAIS CONTÁBEIS. FASE DE EXECUÇÃO


DE SENTENÇA. RESPONSABILIDADE. É do devedor, executado, a
responsabilidade pelo pagamento dos honorários periciais decorrentes
do trabalho contábil realizado por profissional da confiança do Juízo
na fase de execução para apuração do quantum debeatur. Inteligência
do artigo 789-A, IX, c.c. o artigo 790-B, ambos da CLT.
(TRT15 - AP 00011801620145150132 - 10ª Câmara - Relator
Desembargador Fabio Grasselli - Data de Publicação: 18/12/2019)

No mesmo sentido, dispõe o caput do art. 4º da Recomen-


dação nº 4/2018 da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho:

Art. 4º. Em caráter estritamente excepcional, na hipótese de


inexistência ou impossibilidade da utilização dos serviços de
calculista em atividade na unidade ou contadoria centralizada ou,
ainda, em casos de excesso de demanda ou complexidade dos
cálculos, o Juiz poderá nomear Perito Judicial, nos termos do artigo
156, do CPC, fixando os honorários a cargo da parte reclamada.
84 Execução Trabalhista na Prática

A perícia contábil na fase de liquidação por cálculos não se


confunde com liquidação por arbitramento, decorrendo de neces-
sidade de conhecimento técnico específico em cálculos de gran-
de complexidade, por meio de profissional com graduação em
ciências contábeis, e havendo nos cálculos questões relacionadas
a complementação de aposentadoria, deverá ainda o perito com-
provar especialização em ciências atuariais.

3.4 Sentença de Liquidação


Apresentados os cálculos, observado o contraditório e rea-
lizada perícia, se o caso, estando o Juiz convencido de que os cál-
culos de uma das partes ou do perito estão em consonância com a
coisa julgada, proferirá decisão, homologando o cálculo adequado
e fixando o quantum debeatur, resolvendo o incidente de liquida-
ção, que o § 3º do artigo 884 da CLT denomina de “sentença de
liquidação”, conquanto seja entendimento majoritário de que a de-
cisão que resolve o incidente de liquidação no processo do traba-
lho tenha natureza de decisão interlocutória, com conteúdo decla-
ratório, não comportando recurso imediato (art. 893, § 1º, CLT).
No plano acadêmico e pedagógico tal nomenclatura traz muitos
problemas aos estudantes na graduação, pois têm que entender que
a liquidação da sentença é resolvida pela sentença de liquidação, que
na verdade não é uma sentença, mas sim uma decisão interlocutória.
Contudo, na praxe forense, a nomenclatura de sentença de li-
quidação acabou por se incorporar ao cotidiano de advogados e juízes,
sendo adotada sem maiores questionamentos. Até mesmo a doutrina,
embora com fortes ressalvas, adota a expressão sentença de liquidação
em relação à decisão que resolve o incidente de liquidação de sentença.
Mauro Schiavi ressalta que “ao contrário do que entendem
alguns doutrinadores, a sentença de liquidação não é meramente
homologatória ou declaratória, pois pode ter contornos de deci-
são de mérito, quando, por exemplo, fixa o critério para a época
da correção monetária, ou resolve a questão sobre recolhimentos
fiscais e previdenciários não disciplinados na decisão”40.
40 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 263
Execução Trabalhista na Prática 85

Na sentença de liquidação deve o juiz fundamentar, ainda


que de forma concisa, as razões pelas quais acolhe os cálculos (art.
93, IX, CF), e havendo controvérsias de natureza jurídica, notada-
mente quanto a interpretação da coisa julgada, deve enfrentá-las.
Deve a sentença de liquidação contemplar não só o crédito do
autor, como também todas as parcelas que integrarão a execução,
como custas da fase de conhecimento – caso não recolhidas por oca-
sião da interposição de recurso –, contribuições previdenciárias (cotas
do empregado e empregador), imposto de renda a ser deduzido do
crédito do autor, honorários periciais da fase de conhecimento e de
eventual perícia contábil determinada na própria liquidação.
As partes serão intimadas da sentença de liquidação, que não
importará em ordem de pagamento, podendo, contudo, o deve-
dor efetuar o pagamento do quantum debeatur apurado, se com
esse concordar, sem a necessidade de instauração do procedimen-
to executivo, se eximindo de eventuais honorários advocatícios in-
cidentes na fase de execução. A partir da intimação da sentença de
liquidação, poderá o autor requerer a execução (art. 878 da CLT),
e, estando assistido de advogado, se não o fizer em dois anos, ca-
racterizar-se-á a prescrição intercorrente (art. 11-A da CLT).
Embora o § 1º do artigo 899 da CLT determina a liberação
do depósito recursal ao vencedor, após o trânsito em julgado, o
dever de cautela do juiz impõe que tal medida seja realizado ape-
nas ao término da liquidação, quando estará quantificado o crédito.
Assim, havendo nos autos valores decorrentes de depósito
recursal, que além de pressuposto recursal, se caracteriza como ga-
rantia do juízo (IN 3/1993 do TST), e apurado que o crédito incon-
troverso é inferior ao valor ao depositado, deverá o juiz determinar
o levantamento em favor do credor, cujo montante será deduzido
de seu crédito, executando-se o remanescente; sendo o valor do
depósito superior ao crédito, e não havendo controvérsia em rela-
ção ao valor, determinará a liberação do valor do crédito do autor e
o remanescente ao réu, e havendo controvérsia, por cautela, deve
determinar a liberação da quantia incontroversa, mantendo o valor
86 Execução Trabalhista na Prática

controvertido nos autos até o trânsito em julgado, vale dizer, após o


decurso do prazo de embargos à execução ou impugnação à senten-
ça de liquidação, ou do trânsito em julgado destas decisões.
Cabe ressaltar que a liberação do depósito recursal ao cre-
dor não é ato executivo e deve ser determinado ex officio pelo juiz,
em razão da disposição do §1º do artigo 899 da CLT.
Embora seja irrecorrível de imediato, é possível a oposição
de embargos declaratórios em face da sentença de liquidação,
quando presentes os pressupostos do artigo 897-A da CLT, nota-
damente omissão ou contradição, na medida em que estes são ca-
bíveis em face de qualquer decisão judicial (artigo 1.022 do CPC).
Conquanto seja pacífica a natureza de decisão interlocutória,
impugnável por meio processual específico (art. 884,§ 3º, CLT), o Tri-
bunal Superior do Trabalho entende cabível ação rescisória em face
de sentença de liquidação que resolve controvérsia na elaboração da
conta ou que fundamenta o motivo de ter acolhido os cálculos de uma
parte não impugnados pela outra, conforme Súmula 399, II:

A decisão homologatória de cálculos apenas comporta rescisão


quando enfrentar as questões envolvidas na elaboração da conta
de liquidação, quer solvendo a controvérsia das partes quer
explicitando, de ofício, os motivos pelos quais acolheu os cálculos
oferecidos por uma das partes ou pelo setor de cálculos, e não
contestados pela outra. (ex-OJ nº 85 da SBDI-II - primeira parte -
inserida em 13.03.2002 e alterada em 26.11.2002)

Tal entendimento, data venia, não é o mais acertado, por-


quanto havendo mecanismo processual adequado para impugna-
ção da sentença de liquidação, deve se admitir a ação rescisória
contra a decisão final de mérito que acolhe ou rejeita a impug-
nação, até porque essa decisão que fará coisa julgada, o que não
ocorre na sentença de liquidação.
Ademais, o possível fundamento para rescindir uma sentença
de liquidação seria a violação da coisa julgada da sentença de conheci-
mento (art. 966, inciso IV, CPC), de sorte que, em tese, admitir-se-ia
Execução Trabalhista na Prática 87

a ação rescisória de uma sentença de liquidação que não foi impugna-


da na forma do § 3º do artigo 884 da CLT – o que lhe daria contornos
de “coisa julgada” –, na qual deixou de constar alguma parcela deferi-
da na coisa julgada, que por essa razão não foi executada.
Contudo, nessa situação hipotética, a ação rescisória não po-
deria ser conhecida, por não se enquadrar nas hipóteses de cabi-
mento tratadas no verbete de Súmula, na medida em que nessa si-
tuação, não haveria pronunciamento de mérito do juiz na sentença
de liquidação quanto a parcela que deixou de constar da execução.
Da mesma forma, se o réu foi executado por prestação que
não foi objeto de condenação, violando a sentença de liquidação
igualmente a coisa julgada, deixando de opor embargos à execu-
ção – o que faz presumir a quitação do débito –, tal questão não
poderá ser reavivada por meio de ação rescisória, já que se trata
de hipótese de excesso de execução, arguível por meio de embargos
no momento oportuno, cabendo ao executado, se pretender reaver o
que pagou indevidamente, ingressar com ação de repetição de indébi-
to, conforme entendimento do próprio Tribunal Superior do Trabalho:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. LEI


Nº 13.015/2014. EXECUÇÃO. VALORES PAGOS A MAIOR
AO EXEQUENTE. RESTITUIÇÃO MEDIANTE AÇÃO DE
REPETIÇÃO DE INDÉBITO. É entendimento iterativo desta
Corte que a devolução de valores eventualmente pagos a maior
ao exequente deve ser pLeiteada mediante ação de repetição
de indébito. Precedentes. Incidência da Súmula nº 333 do TST.
Inexistência de ofensa ao art. 5º, LIV, da CF. Agravo de instrumento
a que se nega provimento.
(TST, AIRR 2-40.2014.5.01.0029, 5ª Turma, Rel. Min. Maria Helena
Mallmann, DEJT 01/07/2015)

De outro lado, a SBDI-2 do TST tem entendimento firmado na


OJ 134 no sentido de que “a decisão proferida em embargos à execu-
ção ou em agravo de petição que apenas declara preclusa a oportuni-
dade de impugnação da sentença de liquidação não é rescindível, em
virtude de produzir tão-somente coisa julgada formal”.
CAPÍTULO III
Execução no Processo do Trabalho

1 Introdução
A execução, ou o cumprimento da sentença – nomenclatura
adotada pelo CPC atualmente –, é o meio processual pelo qual o
Estado, no cumprimento de sua função jurisdicional, não havendo
o cumprimento espontâneo do título executivo pelo devedor, tem
o dever-poder de constrangê-lo para que cumpra voluntariamente
a obrigação, através de instrumentos de coerção, e caso assim não
o faça, invade a esfera patrimonial daquele, sub-rogando-se em sua
pessoa, para alienar o patrimônio necessário e com o produto au-
ferido promover a satisfação do crédito do credor.
Mauro Schiavi discorre que “a sentença não voluntariamente
cumprida dá ensejo a uma outra atividade jurisdicional, destinada
à satisfação da obrigação consagrada em um título. Essa atividade
estatal de satisfazer a obrigação consagrada num título que tem
força executiva, não adimplido voluntariamente pelo devedor se
denomina execução forçada”41, e conceitua: “a execução trabalhista
consiste num conjunto de atos praticados pela Justiça do Trabalho
destinados à satisfação de uma obrigação consagrada num título
executivo judicial ou extrajudicial, da competência da Justiça do
Trabalho, não voluntariamente satisfeita pelo devedor, contra a
vontade deste último”42.
Como assinala Sérgio Pinto Martins, “até a antiguidade, a
execução era feita sobre o corpo do devedor. Era pessoal. O deve-
dor poderia ficar como escravo do credor. A partir do ano 1000, a
execução privada acabou sendo desprezada”43.

41 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 23
42 Idem, pág. 25
43 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25.ª edição. São Paulo:
Atlas, 2006, p. 636
Execução Trabalhista na Prática 89

Mauro Schiavi nos ensina que

A legislação vigorante na Roma antiga era extremamente rigorosa


em relação a pessoa que deixasse de cumprir a obrigação assumida:
ao contrário do que ocorre nos tempos atuais, porém, os credores
romanos não podiam fazer com que a execução incidisse no
patrimônio do devedor, pois as medidas previstas naquela legislação
prisca tinham como destinatária, em regra, a pessoa do próprio
devedor. A execução era, portanto, corporal e não patrimonial.
Atualmente, com o avanço da sociedade, a execução não mais
incide sobre a pessoa do devedor, e sim sobre seu patrimônio
(princípio da humanização da execução que tem início em Roma,
no século V, com a Lex Poetelia). Diz-se que a execução tem
caráter patrimonial. Nesse sentido, é o que dispõe o art. 789
do CPC, in verbis: “O devedor responde, para o cumprimento
de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros,
salvo as restrições estabelecidas em Lei”44.

A execução do julgado é um dos maiores problemas enfren-


tados no Judiciário em todas as esferas, conforme indicativos do
CNJ publicados periodicamente, inclusive na Justiça do Trabalho, o
que gera a sensação de impunidade, estimulando o descumprimen-
to das Leis, culminando no descrédito popular nas instituições, em
especial do Judiciário.
Apesar de a Justiça do Trabalho ter um destaque nos indicati-
vos de sucesso de execução dentre os demais ramos do Judiciário,
sendo alvo de críticas do segmento empresarial por seus meios
executivos rotulados de “pouco ortodoxos”, o que culminou, nos
últimos anos, em constantes alterações legislativas visando dificul-
tar as atividades executivas pela Justiça do Trabalho – em manifesta
contramão da legislação processual civil –, além de vários movi-
mentos visando a extinção deste órgão do Judiciário, em razão da
forte influência do poder econômico nos meios políticos, os re-
sultados ainda são considerados insatisfatórios, havendo muitos
credores trabalhistas que não conseguem a satisfação efetiva de
seus direitos violados ao longo da relação de emprego, gerando o

44 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 21
90 Execução Trabalhista na Prática

bordão muito utilizado de “ganha, mas não leva”, ou seja, obtêm a


procedência de seus pLeitos, mas não logram obter a efetiva repa-
ração da violação, por não conseguir executar o título.
Mauro Schiavi destaca que “mesmo a CLT, prevendo um
procedimento simplificado para a execução, a cada dia vem per-
dendo terreno para a inadimplência, contribuindo para falta de cre-
dibilidade da jurisdição trabalhista”45.
As razões para o insucesso da execução trabalhista são vá-
rias, destacando-se a ausência de patrimônio do devedor – notada-
mente de pequenas empresas, empresários individuais e emprega-
dores domésticos –, adoção de manobras ardilosas de devedores
para ocultação de patrimônio com prática de atos fraudulentos e
dissimulações (fenômeno da blindagem patrimonial, que é aborda-
da em capítulo dedicado ao assunto), legislação arcaica e ultrapas-
sada e desconhecimento de vários mecanismos que permitem a
identificação de fraudes patrimoniais e localização de bens.
Assim, visando a obtenção de melhores resultados com a exe-
cução trabalhista, torna-se imperiosa a adoção de meios que possam
outorgar maior efetividade à execução trabalhista, sem violar o devido
processo legal, como pretende-se fazer ao longo deste trabalho.

2 Princípios da execução trabalhista


Os princípios atinentes à execução trabalhista são os mes-
mos que regem a execução no processo comum, assim como os
princípios gerais de Direito Processual, merecendo destaque, con-
tudo, os princípios específicos que regem o processo de execução
trabalhista, que deverão ser conciliados e aplicados de forma har-
mônica com os demais princípios.

2.1 Primazia do credor trabalhista


A execução se faz no interesse do credor (art. 797 do CPC), de
modo que os atos executivos devem ser direcionados para o cumpri-
mento da obrigação contida no título executivo, revelando, de outro
lado, o prestígio do poder jurisdicional de fazer cumprir suas decisões.

45 Idem, p. 22
Execução Trabalhista na Prática 91

Como bem pontuado por Mauro Schiavi, “esse princípio


deve nortear toda a atividade interpretativa do Juiz do Trabalho
na execução. Por isso, no conflito entre normas que disciplinam
o procedimento executivo, deve-se preferir a interpretação que
favoreça o exequente”46.
Em se tratando de execução de crédito trabalhista, cuja na-
tureza é alimentar, tal princípio deve nortear toda a atividade judi-
cial executiva, e havendo colisão com outros princípios, deve sem-
pre ser buscada a conciliação dos princípios conflitantes no sentido de
se dar a maior efetividade a satisfação do crédito alimentar trabalhista.

2.2 Meio menos oneroso ao executado


Quando a execução puder ser realizada por diversas formas,
deve ser efetuada pelo meio menos gravoso ao devedor, visando
proteger a dignidade do devedor.
Tal princípio está expresso no artigo 805 do CPC: “quando
por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz
mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado”,
ressalvando o parágrafo único do dispositivo que “ao executado
que alegar ser a medida executiva mais gravosa incumbe indicar
outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manu-
tenção dos atos executivos já determinados”.
Este princípio deve ser conciliado com o princípio da primazia
do credor, adotando-se o meio menos gravoso, porém que tenha a
mesma eficácia para a execução, cabendo ao devedor que invocar tal
proteção, indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos.
Vale lembrar que o meio menos gravoso da execução ao de-
vedor é efetuar o pagamento da dívida, sem a necessidade de prá-
tica de atos executivos, até porque representa o meio mais eficaz e
célere e com menos dispêndio de recursos, de modo que não en-
seja prejuízo ao devedor, que apenas está cumprindo a obrigação
reconhecida no título, isto é, obrigação que deveria ter sido adim-
plida pelo executado sem a necessidade da intervenção judicial.

46 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 30
92 Execução Trabalhista na Prática

Cumprindo o executado a obrigação contida no título exe-


cutivo, evitará possível alienação judicial de seu patrimônio, efetu-
ada por meio de Leilão, que importa em significativa redução do
valor do bem, posto que o bem é vendido pelo maior lanço, nor-
malmente não superior a 50% do valor da avaliação, além do que
a prática de atos executivos importam em custos ao processo que
serão suportados pelo devedor (art. 789-A da CLT).
A execução judicial será sempre guiada pelo binômio formado
entre os princípios da primazia do credor e do meio menos gravoso ao
devedor, que podem ser resumidos no seguinte postulado: a execução

2.3 Responsabilidade patrimonial


A execução não incide sobre a pessoa do devedor, como era
no passado, mas sobre os bens deste, presentes e futuros. Deste
princípio decorre, por exemplo, a impossibilidade de prisão civil
por dívidas, admitida no sistema brasileiro apenas no caso de pen-
são alimentícia.
Constitui efeito direto do título executivo a sujeição do pa-
trimônio do devedor à atuação coativa da Jurisdição Executiva para
satisfação do crédito exequendo.
A norma fundamental que rege a responsabilidade patrimo-
nial do devedor é o artigo 789 do CPC: “O devedor responde com
todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de
suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em Lei.”
O sistema jurídico consagrou como um dos pilares para a
efetividade da tutela executiva o princípio da responsabilidade pa-
trimonial, segundo o qual o patrimônio do devedor responde por
suas obrigações com todos seus bens presentes e futuros.
Por meio desta norma-princípio, o Estado-juiz pode expro-
priar o patrimônio do devedor, independentemente do seu con-
sentimento, com vistas a satisfazer o crédito exequendo.
Disso decorre que a disponibilidade do patrimônio do de-
vedor é limitada e deve ser pautada pela boa-fé, razão pela qual,
constatando-se a fraude, os bens desfalcados do acervo patrimonial,
em franco prejuízo dos credores, estão sujeitos à tutela executiva.
Execução Trabalhista na Prática 93

Entende a doutrina que o artigo 789 do CPC traz a respon-


sabilidade patrimonial primária, pois, inicialmente, “o primeiro pa-
trimônio exposto aos meios executórios é o do devedor, a um só
tempo obrigado e responsável”47.
Os casos de responsabilidade primária são os previstos nos
incisos III, V e VI:

Art. 790. São sujeitos à execução os bens:


III - do devedor, ainda que em poder de terceiros;
V - alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução;
VI - cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada
em razão do reconhecimento, em ação autônoma, de fraude
contra credores;

O inciso III refere-se ao caso de bens do devedor em poder


de terceiro, que é complementado pelo art. 845, caput: “efetuar-
-se-á a penhora onde se encontrem os bens, ainda que sob a posse,
a detenção ou a guarda de terceiros”.
A doutrina especializada de Araken de Assis apresenta o se-
guinte exemplo:

Quem estiver na posse, detenção ou guarda do bem do executado,


por todos os títulos concebíveis – v.g., o locatário –, não se
envolverá no processo executivo, exceto por via reflexa e posterior
à alienação coativa (v.g., realizada a alienação coativa, ao adquirente
assiste o direito de retomá-la), permanecendo, para todos os
efeitos, “terceiro” no que tange à relação processual pendente. Fica
claro, então, a penhora não lhe afeta a posse imediata ou a relação
porventura preexistente com o executado, nem ostenta direito a
opor-se contra a penhora, em princípio, fundado no art. 674 do
NCPC. Ao contrário, cabe-lhe adimplir perante o depositário.
Também se legitima a consignar os alugueis perante o arrematante. A
posse do locatário, e, a fortiori, dos demais possuidores do bem
penhorado, a qualquer título, resolver-se-á após a alienação coativa,
perante o novo proprietário, nos casos legais48.

47 DE ASSIS, Araken. Manual da execução, 20ª ed. São Paulo: RT, 2018 (E-book).
48 Idem
94 Execução Trabalhista na Prática

As hipóteses inscritas nos incisos V e VI refere-se à vincu-


lação do bem ao processo executivo alienado em fraude contra a
execução e contra credores, a primeira disciplinada no art. 792 do
CPC, e a segunda nos artigos 158 a 165 do Código Civil, matérias
que serão tratadas no Capítulo X.
Além do devedor primário, o CPC, em seu art. 790, sujeita
outras pessoas e seus patrimônios respectivos à tutela executiva,
assim denominada de responsabilidade patrimonial secundária.
Conforme muito bem delineado por Araken de Assis,

explica-se essa circunstância através do corte entre responsabilidade


e obrigação. Embora sob o ângulo subjetivo em geral coincidam
(em geral, a pessoa é responsável, porque deve), não se afigura rara
a hipótese de atribuição de uma e de outra a pessoas diversas (há
pessoas que respondem pela dívida, embora não devam). O art. 790
do NCPC possui a virtude de apontar os casos mais comuns dessa
dicotomia, chamada de responsabilidade secundária49.

Portanto, “os bens de terceiros, por vezes, sujeitam-se à


execução por dívida alheia. Há aí responsabilidade (Haftung) sem
débito (Schuld). Quando a responsabilidade patrimonial recai so-
bre aquele a quem se imputa o débito, há responsabilidade primá-
ria; do contrário, quando se imputa responsabilidade a quem não
tem o débito, há responsabilidade secundária”50.
Com efeito, o art. 790 do CPC traz hipóteses tanto de res-
ponsabilidade primária, quanto de responsabilidade secundária,
aplicáveis no âmbito da execução trabalhista.
Cabe destacar que a regra de responsabilidade patrimonial
secundária permite a inclusão das pessoas identificadas como cor-
responsáveis pela satisfação da dívida contraída pelo devedor pri-
mário no processo executivo, sem que haja necessidade de partici-
pação na fase de conhecimento.

49 DE ASSIS, Araken. Manual da execução, 20ª ed. São Paulo: RT, 2018 (E-book).
50 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO Daniel. Código
de processo civil comentado, 4ª ed. São Paulo: RT, 2018, cit. CPC 790, coment. 1.
Execução Trabalhista na Prática 95

Alguns dos casos de responsabilidade secundária também


estão expressos no artigo 790 do Código de Processo Civil, os
quais serão analisados adiante, no Capítulo V (Extensão Subjetiva
do Alcance da Execução).

2.4 Mitigação do contraditório


O princípio do contraditório é garantia constitucional implí-
cita prevista no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal, que
dispõe que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
O artigo 9º do Código de Processo Civil positivou o princí-
pio do contraditório, preconizando que “não se proferirá decisão
contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida”.
Contudo, em regra, no procedimento executivo não há decisão
judicial a demandar a instauração do contraditório, porquanto apenas
há o cumprimento da obrigação líquida, certa e exigível expressa no
título executivo, sendo os meios de defesa do devedor, na fase de exe-
cução, excepcionais, tendo este o dever de cumprir o título.
Por definição legal do artigo 203 do CPC, no curso do pro-
cesso, o juiz pratica os seguintes atos: a) sentença, onde resolve
o processo com ou sem resolução do mérito (arts. 485 e 487 do
Código de Processo Civil), no primeiro deixando de se pronunciar
sobre o direito material postulado em razão da existência de algum
vício processual, e no segundo enfrentando as questões controver-
tidas e aplicando o Direito ao caso concreto; b) decisão interlocu-
tória, onde resolve questão incidente no curso do processo, com
conteúdo decisório; c) despachos, que consistem em atos que se
destinam a dar andamento ao processo, sem conteúdo decisório.
De acordo com a teoria tripartição dos poderes de Montes-
quieu, todos os poderes estatais executam funções típicas e atípicas.
No âmbito do Judiciário, a função típica consiste em dizer o Direito
aplicável ao caso concreto, o que se concretiza pela sentença.
96 Execução Trabalhista na Prática

Os atos praticados pelo juiz na fase de execução, onde se


utiliza das ferramentas disponibilizadas pelo ordenamento jurídico
para garantir a satisfação do direito material reconhecido, em re-
gra, estão inseridos em uma das funções atípicas do Judiciário, cuja
natureza é de ato administrativo vinculado. Apenas no julgamento
de medidas de defesa, notadamente nos embargos do devedor, é
que o juiz exercerá a função típica judiciária, julgando o incidente.
Com efeito, os atos praticados pelo juiz no curso da execu-
ção, notadamente visando a constrição de bens, são meros despa-
chos, sem conteúdo decisório, que visam dar andamento ao pro-
cesso com a prática dos atos necessários para garantia da satisfação
do direito do exequente, iniciando a expropriação de bens do de-
vedor, prerrogativa que cabe apenas ao Estado.
Como nos despachos que visam dar andamento à execução
não há conteúdo decisório, torna-se desnecessária a oportunida-
de ao contraditório, o que apenas importará retardamento nos
procedimentos.
Assim, definindo a Lei de forma expressa os meios de de-
fesa possíveis na fase de execução, notadamente nos embargos à
execução, que no processo do trabalho só poderão ser praticados
após a garantia do juízo pelo devedor, ou ainda o incidente de des-
consideração da personalidade jurídica – IDPJ, o contraditório, por
ser excepcional, será mitigado, tendo espaço apenas nos atos que
comportarem pronunciamento judicial de mérito, não se aplicando
aos despachos que se destinam a dar andamento ao processo com
medidas executivas.

2.5 Impulso oficial


No processo do trabalho, antes da reforma trabalhista, a
execução poderia ser iniciada por quaisquer dos interessados ou
ex officio, como dispunha o artigo 878 da CLT: “a execução poderá
ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio pelo pró-
prio Juiz ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do
artigo anterior”.
Execução Trabalhista na Prática 97

Com o advento da reforma trabalhista (Lei 13.467/17), o ar-


tigo 878 da CLT passou a ter a seguinte redação: “a execução será
promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou
pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não
estiverem representadas por advogado”.
Em relação aos processos em que a parte exequente atua
no jus postulandi, dúvidas não existem acerca do poder do juiz em
praticar todos os atos executivos ex officio.
Em razão de tal alteração legislativa, discute-se se o princípio
do impulso oficial foi suprimido na fase executiva do Processo do
Trabalho, quando a parte estiver assistida por advogado.
A primeira corrente de entendimento, capitaneada pelo
Enunciado nº 113 da II Jornada de Direito Material e Processual da
ANAMATRA, afirma que se a Justiça do Trabalho tem competência,
por mandamento constitucional, de executar ex officio as contribui-
ções previdenciárias incidentes sobre as parcelas salariais deferidas
na sentença, que é uma parcela acessória, mantém-se, por con-
seguinte, a competência para promover a execução da prestação
principal, que é o crédito trabalhista.
Não obstante o correto silogismo do referido Enunciado, tal
interpretação deixa de considerar que a execução ex officio das
contribuições previdenciárias somente ocorrerá com a execução
do crédito trabalhista, em razão da característica acessória, que so-
mente se torna exigível a partir do pagamento do crédito principal,
conforme inteligência do § 3º do artigo 43 da Lei 8.212/91: “deven-
do o recolhimento ser efetuado no mesmo prazo em que devam
ser pagos os créditos encontrados em liquidação de sentença ou
em acordo homologado”. Assim, não sendo requerida a execução
pelo credor trabalhista, não se iniciará a execução previdenciária,
pois não fixado prazo para pagamento do crédito trabalhista.
Por sua vez, a segunda linha de entendimento sustenta que a
partir da vigência da Lei 13.467/2017, com a nova redação do arti-
go 878 da CLT, não poderá mais o juiz do trabalho praticar nenhum
ato executivo ex officio, prescindindo de requerimento da parte.
98 Execução Trabalhista na Prática

Mauro Schiavi afirma que

A nova redação do art. 878, da CLT impede que o Juiz do


Trabalho, caso o autor advogado, inicie e promova a execução
a execução de ofício. Trata-se de alteração no processo do
trabalho, pois o princípio do impulso oficial já está arraigado na do
Trabalho e tem dado resultados satisfatórios. O próprio Código
de Processo avançou em nesse sentido, ao majorar os poderes do
Juiz de Direito na condução execução, conforme os artigos acima
mencionados.51

Arrematando, referido doutrinador assenta que

De nossa parte, diante da alteração do art. 878, da CLT, os atos


executivos devem ser promovidos pelo exequente, mas há espaço
para atos de ofício do Juiz do Trabalho, como a conferência da
exatidão dos cálculos, a avaliação da liquidez e ordem preferencial
dos bens penhorados, determinação de pesquisa patrimonial,
dentre outros.

Não obstante tal entendimento ser majoritário, defendemos


que a alteração legislativa importou apenas em alteração no ato
de iniciativa do procedimento executório, não afetando o impulso
oficial, posto que, em consonância com o artigo 2º do Código de
Processo Civil, “o processo começa por iniciativa da parte e se
desenvolve por impulso oficial”.
Desta forma, apesar de não mais poder o juiz dar início ao
procedimento executivo ex officio, quando a parte estiver assistida
por advogado, a nova Lei não tolheu do juiz a condução dos atos
do processo, notadamente no tocante a pesquisa patrimonial, es-
tando em vigor o artigo 765 da CLT que dispõe que os juízos terão
“ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamen-
to rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência ne-
cessária ao esclarecimento delas”.

51 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 57.
Execução Trabalhista na Prática 99

Neste sentido, ao comentar o alcance do art. 765 consolida-


do, pontua Homero Batista Mateus da Silva que:

O dispositivo não limita a liberdade de atuação do juiz à fase de


conhecimento. Logo, algumas determinações tomadas em fase de
execução, como a elaboração dos cálculos de liquidação, a marcação
da hasta pública ou a pesquisa patrimonial em bancos de dados oficiais,
podem encontrar guarida nesse artigo, diante da nova redação dada
ao art. 878 pela Lei 13.467/2017, que, aparentemente, desejou que
o juiz assumisse posição de inércia nos casos de desaparecimento ou
omissão de bens por parte do executado52.

Vale destacar que no âmbito do processo civil, assim como


vigente atualmente no processo do trabalho, a execução depen-
de de requerimento do exequente (art. 523 do CPC), no entanto
o impulso oficial dos atos executivos serão promovidos pelo juiz,
como expressa o artigo 782 do CPC, prevendo ainda o artigo 830
do CPC a possibilidade do oficial de justiça praticar atos de constri-
ção de bens sem necessidade de autorização do juiz:

Art. 782. Não dispondo a Lei de modo diverso, o juiz determinará


os atos executivos, e o oficial de justiça os cumprirá.
Art. 830. Se o oficial de justiça não encontrar o executado, arrestar-
lhe-á tantos bens quantos bastem para garantir a execução.

Ainda, o § 1º do artigo 835 do CPC permite ao juiz, inde-


pendente de requerimento do exequente, alterar a ordem de pe-
nhora, à exceção da que recair sobre dinheiro, de acordo com as
circunstâncias do caso concreto.
Por fim, interessante ressaltar que igual interpretação é dada
no âmbito da execução civil acerca do caráter inquisitorial nes-
te módulo processual, conforme lições de Araken de Assis, para
quem “à semelhança do processo de conhecimento, a relação pro-
cessual cujo objeto é a pretensão originada do efeito executivo da

52 SILVA, Homero Batista Mateus da. CLT comentada, 2ª ed. São Paulo, RT, 2018
(E-book), cit. CLT 765, coment. 3.
100 Execução Trabalhista na Prática

sentença condenatória, ou de documento a ela equiparado (art.


784 do NCPC), inicia por demanda da parte e se desenvolve pelo
impulso do juiz (art. 2.º)”53. E prossegue:

É indubitável que o “cumprimento” de título judicial se subordina


a “requerimento” do vitorioso (art. 513, § 1.º), ressalva feita
às sentenças de força executiva (infra, 120). Dessa maneira, os
atos subsequentes ao ajuizamento da inicial, no procedimento
in executivis, dentre eles os atos executivos aqui tratados,
submetem-se ao princípio inquisitório.
Em outras palavras, uma vez veiculada a pretensão a executar,
nenhum estímulo externo do exequente requer-se para a
emanação e a prática de qualquer ato, sejam quais forem o alcance
e a consequência do provimento do juiz. Desejando trancá-lo, o
credor dele pode desistir explicitamente, como lhe assegura o art.
775, caput, do NCPC, instituindo direito subjetivo do exequente.
Se, porém, o exequente almeja modificá-lo, na hipótese em que
a Lei não estipulou forma rígida, porque inconveniente e difícil
a conformação prévia, basta invocar a faculdade prevista no art.
798, II, a. A inércia do exequente põe o juiz à vontade para prover
segundo a arte do seu ofício.
Exatamente, nesse ponto, avultam os poderes de direção do
juiz, que, em largueza e em profundidade, desconhecem limites
precisos. O papel do órgão judiciário na realização do programa
constitucional, aqui como alhures, afigura-se essencial54.

Vale ressaltar que todos estes dispositivos se aplicam de for-


ma subsidiária e supletiva à execução trabalhista, diante da omis-
são da CLT e da Lei de execuções fiscais, em consonância com o
disposto nos artigos 889 da CLT, 1º da Lei 6.830/80 e 15 do CPC.
No mesmo sentido, a CLT prevê no artigo 883 que “não
pagando o executado, nem garantindo a execução, seguir-se-á
penhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da im-
portância da condenação”, não condicionando referida disposição
legal a requerimento prévio do exequente.

53 DE ASSIS, Araken. Manual da execução, 20ª ed. São Paulo: RT, 2018 (E-book).
54 Idem.
Execução Trabalhista na Prática 101

De outra banda, os atos executivos que visam a extensão


subjetiva do alcance da execução, com inclusão de outros respon-
sáveis patrimoniais secundários que dependam do prévio incidente
de desconsideração da personalidade jurídica, necessitará de re-
querimento do exequente, na medida em que a Lei (art. 133 do
CPC) exige expressamente a iniciativa da parte, não decorrendo,
portanto, do impulso oficial da execução.
Nesse sentido, aliás, dispõe o artigo 13 da IN nº 41/2018
do TST: “a partir da vigência da Lei nº 13.467/2017, a iniciativa do
juiz na execução de que trata o art. 878 da CLT e no incidente de
desconsideração da personalidade jurídica a que alude o art. 855-A
da CLT ficará limitada aos casos em que as partes não estiverem
representadas por advogado”.
Nos demais casos de devedores solidários em que não seja
necessária a observância do incidente de desconsideração da per-
sonalidade jurídica, poderá o juiz determinar, ex officio, a inclusão
no polo passivo da execução, seguindo-se as medidas executivas
pertinentes.
Destarte, a despeito das respeitosas opiniões contrárias, o
princípio do impulso oficial da execução trabalhista subsiste mes-
mo após a reforma trabalhista, sendo vedado apenas ao juiz a prá-
tica, ex officio, de dar início à execução, o que caberá à parte inte-
ressada, quando assistida por advogado.
CAPÍTULO IV
Procedimentos Executivos

6 Cabimento de honorários advocatícios no processo


executivo trabalhista em favor do advogado do credor.
A questão dos honorários advocatícios no processo do traba-
lho foi trazida pela reforma trabalhista, através da Lei 13.467/2017,
sendo que até então somente eram devidos honorários de sucum-
bência quando o empregado estava assistido pelo sindicato da ca-
tegoria, que tinha o múnus público de prestar, graciosamente, a
assistência judiciária aos trabalhadores, conforme disciplinado na
Lei 5.584/70, com entendimento nas Súmulas 219 e 329 do TST,
admitindo-se também a condenação sucumbencial na verba ho-
norária nos casos que não decorriam da relação de emprego, em
decorrência da ampliação da competência da Justiça do Trabalho
pela EC 45/2004, conforme IN nº 27 do TST.
A Lei 13.467/2017 inseriu na CLT o artigo 791-A, que dispõe
que “ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos
honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco
por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor
que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico ob-
tido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado
da causa”.
Contudo, não há nenhuma previsão na CLT quanto a fase
processual em que são devidos os honorários advocatícios, isto é,
se na fase cognitiva ou executiva, ou ambas, ensejando omissão le-
gislativa a permitir a aplicação supletiva do CPC, ante a ausência de
disposição sobre tal questão na Lei 6.830/80, em que se aplica tam-
bém os honorários advocatícios conforme disciplinado pelo CPC,
de acordo com pacífico entendimento jurisprudencial, conforme
julgados abaixo transcritos:
Execução Trabalhista na Prática 103

EXECUÇÃO FISCAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO


NO DESPACHO INICIAL. ART. 652-A DO CPC. 1. O arbitramento
de honorários advocatícios na decisão positiva de admissibilidade
da petição inicial da execução fiscal tem respaldo no art. 652-A do
CPC. 2. Inexistindo encargo válido e específico previsto em Lei a
título de honorários ou em substituição a estes, o juiz deve fixá-los,
já no despacho inicial, de modo que os eventuais atos constritivos já
considerem a necessidade de satisfação de tal ônus.
(TRF4,”cus AC 5005093-86.2010.4.04.7200, 2ª Turma, Relator
RÔMULO PIZZOLATTI, data de julgamento 17/04/2015)
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AÇÃO DE EXECUÇÃO
FISCAL. HONORÁRIOS INICIAIS. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA
DO CPC. GRADAÇÃO LEGAL DO ART. 85, § 3º, DO CPC.
NORMA ESPECIAL. OMISSÃO. PREQUESTIONAMENTO. 1. Os
embargos de declaração encontram limites na norma estabelecida
no art. 1.022 do CPC, sendo cabíveis nas hipóteses de acórdão
maculado por obscuridade, contradição, omissão, ou, ainda,
erro material.2. Os aclaratórios não se prestam à rediscussão
de matéria que haja se formado no julgamento, porque não se
pode rediscutir nos embargos de declaração o inconformismo
de que, embora subsista norma geral acerca da fixação da verba
honorária inicial nas execuções por quantia certa, disciplinada no
art. 827 do CPC, nas causas em que a Fazenda Pública é parte, há
regramento especial tratando do tema, conforme se observa no
art. 85, § 3º, do CPC. 3. O acórdão fundamentou que agiu com
acerto o magistrado singular, ao receber a petição inicial e fixar a
verba honorária provisória na execução com base no artigo 85, § 3º,
do CPC, em detrimento do artigo 827, caput, do mesmo normativo,
por ser norma específica aplicável às causas envolvendo a Fazenda
Pública, resguardando, assim, o princípio da isonomia processual,
não havendo que se falar em efeitos infringentes para o fim de
provimento do agravo de instrumento, tampouco em aclaração dos
presentes embargos de declaração.4. O artigo 1.025 do CPC passou
a acolher a tese do prequestionamento ficto, ficando o atendimento
desse requisito condicionado ao reconhecimento, pelos Tribunais
Superiores, de que a inadmissão ou a rejeição dos aclaratórios na
origem violou o artigo 1.022 do mesmo diploma legal. EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO CONHECIDOS E REJEITADOS.
(TJGO, Agravo de Instrumento 5171809-83.2019.8.09.0000, Rel.
FÁBIO CRISTÓVÃO DE CAMPOS FARIA, 3ª Câmara Cível, data
de julgamento 28/07/2020)
104 Execução Trabalhista na Prática

Deste modo, diante da omissão da CLT e da Lei 6.830/80


quanto a fixação de honorários advocatícios iniciais na fase de
execução, aplicáveis as disposições do Código de Processo Civil,
observando-se, entretanto, a aplicação apenas para as execuções
iniciadas na vigência da Lei 13.467/2017, eis que antes de tal Lei,
além de não existir previsão legal de honorários advocatícios, a
execução poderia ser impulsionada ex officio pelo juiz, não necessi-
tando da intervenção de advogado.
O § 1º do artigo 85 do Código de Processo Civil dispõe que
“são devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumpri-
mento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida
ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente”.
Os honorários advocatícios decorrem da relação de causali-
dade, sendo que aquele dá causa à ação, seja pelo descumprimento
de obrigação na fase cognitiva, seja pelo descumprimento espon-
tâneo decorrente da obrigação contida em título executivo, fica
obrigado a pagar honorários do advogado da parte contrária.
A interpretação sistemática dos artigos 878 e 791-A da CLT
e 85, § 1º, do CPC, conduz à conclusão de que, não havendo o
cumprimento espontâneo da coisa julgada pelo devedor, deverá o ad-
vogado do credor trabalhista promover a execução, o que ensejará a
imposição de honorários advocatícios iniciais na fase executiva.
Com efeito, a Lei 13.467/2017 ao mesmo tempo que im-
pôs ao credor trabalhista o ônus de promover a execução, tam-
bém previu a incidência de honorários advocatícios, de modo que,
havendo necessidade de trabalho adicional ao advogado da parte
exequente, deverá ser remunerado pela prestação corresponden-
te, uma vez que o executado deu causa à execução, na medida em
que não cumpriu espontaneamente a coisa julgada.
Dispõe o § 1º do artigo 523 do CPC que não efetuado o
pagamento do crédito no prazo, além da multa de 10%, será o
valor acrescido também de honorários advocatícios de 10% do
montante em execução.
No processo do trabalho o devedor tem a oportunidade de
cumprir espontaneamente a coisa julgada quando é intimado da
Execução Trabalhista na Prática 105

sentença de liquidação que fixa o quantum debeatur, ocasião em


que pode promover o depósito da quantia correspondente, evitan-
do a promoção da execução pelo credor.
Situação diversa, contudo, ocorre no processo civil, em que,
transitada em julgado a decisão da fase cognitiva, cabe ao credor
promover o cumprimento da sentença, instruindo o pedido com a
memória de cálculo (art. 524 CPC), tendo o devedor a oportuni-
dade de promover o cumprimento quando intimado, na forma do
artigo 523 do CPC, razão pela qual a legislação processual comum
prevê o acréscimo dos honorários advocatícios apenas após o de-
curso do prazo para o cumprimento voluntário, o que não ocorre
no processo do trabalho, em que ao devedor foi oportunizada a
possibilidade de saldar a dívida antes da promoção da execução.
Por essa razão, não se aplica o disposto no § 1º do artigo 523
do CPC no tocante aos honorários advocatícios iniciais da execu-
ção, devendo estes serem fixados de plano pelo juiz ao deferir o
pedido de execução, aplicando-se, de forma supletiva, o disposto
no artigo 827 do CPC, que estabelece que “ao despachar a inicial,
o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento,
a serem pagos pelo executado”, aplicando-se igualmente a redu-
ção para o percentual de 5% a que alude o § 1º de referido texto
legal quando o pagamento for realizado pelo devedor dentro do
prazo que lhe foi assinalado55, assim como a majoração até 20% na
hipótese de rejeição dos embargos à execução.
Nas execuções em face da Fazenda Pública não haverá incidên-
cia de honorários advocatícios pelo não cumprimento voluntário da
obrigação, eis que há regime próprio para execução, havendo inci-
dência apenas se rejeitados eventuais embargos à execução opostos,
em consonância com o § 7º do artigo 85 do Código de Processo Civil.

55 Vale destacar que o prazo para pagamento da execução por título extrajudicial é
de três dias (art. 829 do CPC), razão pela qual a redução ocorre em igual prazo
(§ 1º do art. 827 do CPC), o que trazendo para a realidade do processo do
trabalho, implica em prazo de 15 dias (art. 523 do CPC), cujo resultado prático
será similar ao do § 1º do artigo 523 do CPC.
106 Execução Trabalhista na Prática

8 Penhora e garantia do juízo


A penhora é o ato pelo qual se faz a apreensão de bens do
devedor, visando sua posterior alienação para satisfação do crédi-
to exequendo. Contudo, a penhora não incide apenas sobre bens,
podendo recair também sobre direitos do devedor.
Segundo Francisco Antônio de Oliveira:

A penhora traduz meio coercitivo exercitável por meio do Estado


do qual se vale o exequente para vencer a resistência de devedor
inadimplente e renitente à implementação do comando judicial.
Citado o devedor, a constrição de bens faz-se sobre o seu
patrimônio como força coercitiva a empurrar para a satisfação
do crédito insatisfeito, sendo somente obstada pela satisfação da
obrigação (quitação), ou apaziguada pela garantia da execução, quer
pelo depósito do valor objeto da execução, quer pela nomeação
de bens suficientes para responder por seu cumprimento.
Esse poder de coerção é dado ao Estado-juiz, o que não deixa de
ser reminiscência da manus injectio, retirada da parte e colocada
nas mãos do Estado. E esse poder coercitivo se projeta até a
venda do bem em hasta pública (arrematação), pela remição (art.
651, CPC (art. 826, NCPC) e art. 13 da Lei n. 5.584/1970) ou
adjudicação (art. 888, § 1º, CLT); ou, antes da hasta pública, pela
adjudicação (art. 685-A, CPC, art. 876, NCPC), pela alienação por
iniciativa do exequente ou corretor credenciado ou pela remição
da execução (art. 651, CPC, art. 826, NCPC)56.

A penhora desenvolve papel essencial à execução forçada,


constituindo-se no principal ato desta, notadamente porque é o
meio pelo qual o credor terá a garantia patrimonial para a satisfa-
ção de seu crédito, garantindo a efetividade do procedimento.
A garantia do juízo se dá mediante o depósito em conta judi-
cial da quantia em execução para viabilizar a oposição de embargos
à execução ou com a penhora de bens com valor suficiente para a
quitação integral da execução, abrangendo o crédito principal (tra-
balhista) e acessórios (encargos fiscais e previdenciários, honorá-
rios periciais e de sucumbência e custas processuais).
56 OLIVEIRA, Francisco Antonio de. A execução na Justiça do Trabalho, 9ª ed. São
Paulo: LTr, 2018, p. 214
Execução Trabalhista na Prática 107

O artigo 882 da CLT prevê que “o executado que não pa-


gar a importância reclamada poderá garantir a execução median-
te depósito da quantia correspondente, atualizada e acrescida das
despesas processuais, apresentação de seguro-garantia judicial ou
nomeação de bens à penhora, observada a ordem preferencial es-
tabelecida no art. 835 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 -
Código de Processo Civil”, e, não o fazendo, “seguir-se-á a penho-
ra dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da importância
da condenação, acrescida de custas e juros de mora”.
No mesmo sentido, o §3º do artigo 523 do CPC: “não efe-
tuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido,
desde logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos
de expropriação”.
Assim, decorrido o prazo assinalado ao executado para cum-
primento de sua obrigação, não efetuando este o pagamento ou
garantia do juízo, seguir-se-á a penhora de bens, que poderá ser
determinado ex officio pelo juiz, como decorrência do princípio
do impulso oficial, que poderá também realizar pesquisa de bens
através dos convênios disponíveis, cabendo ao credor, de forma
concorrente, indicar bens do devedor ou requerer a realização de
pesquisas específicas, até porque este, em regra, tem informações
do devedor que são desconhecidas do juiz, dispondo o Código de
Processo Civil que a indicação de bens deverá ser feita no ato do
requerimento da execução (art. 524, VII e 789, II, c).
Não será realizada a penhora, contudo, “quando ficar evi-
dente que o produto da execução dos bens encontrados será to-
talmente absorvido pelo pagamento das custas da execução” (art.
836 do CPC), ou seja, quando os bens a serem penhorados tive-
rem valor insignificante, não será realizada sua penhora.
Tal dispositivo, contudo, demanda interpretação restritiva,
isto é, apenas não se realizará a penhora quando o bem for de valor
ínfimo que será absorvido pelas custas da execução – disciplinadas
pelo artigo 789-A da CLT –, pois se o valor da execução for eleva-
do e o valor do bem for insuficiente para satisfação do débito, deve
108 Execução Trabalhista na Prática

ser realizada a penhora e alienação, promovendo-se o pagamento


parcial do crédito, sob pena de se prestigiar o mau pagador que
contrai dívida elevada e sem bens para sua garantia.
A penhora sobre um bem o torna indisponível para o pro-
prietário, importando, em regra, na perda da posse do mesmo,
pela apreensão deste, que será levado a depositário judicial (arts.
839 e 840 do CPC), ficando, contudo, em poder do executado nos
casos de difícil remoção ou de anuência do credor (§ 2º do artigo
840 do CPC).
Demais disso, são efeitos da penhora também o direito de
preferência sobre os bens penhorados (art. 797 do CPC), além de
prevenir possível fraude à execução quando devidamente averba-
da, estabelecendo presunção absoluta de conhecimento por ter-
ceiros da constrição realizada (art. 844 do CPC).
Havendo várias penhoras sobre o mesmo bem, cada exe-
quente conservará o seu título de preferência de acordo com a
ordem de realização da penhora, de sorte que, mesmo que o bem
venha a ser alienado por juízo diverso do que realizou a primeira
penhora, na entrega do produto da alienação do bem para satisfa-
ção do crédito, deve ser observada a ordem de penhora, confor-
me se infere da interpretação do parágrafo único do artigo 797 do
CPC e do artigo 908 do CPC:

Art. 797. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que


tem lugar o concurso universal, realiza-se a execução no interesse
do exequente que adquire, pela penhora, o direito de preferência
sobre os bens penhorados.
Parágrafo único. Recaindo mais de uma penhora sobre o mesmo
bem, cada exequente conservará o seu título de preferência.
Art. 908. Havendo pluralidade de credores ou exequentes, o
dinheiro lhes será distribuído e entregue consoante a ordem das
respectivas preferências.
[...]
§ 2º Não havendo título legal à preferência, o dinheiro será
distribuído entre os concorrentes, observando-se a anterioridade
de cada penhora.
Execução Trabalhista na Prática 109

Assim, concorrendo várias penhoras sobre um mesmo bem,


não há impeditivo de que seja determinada a realização de nova
penhora e tampouco de alienação por quaisquer dos juízos, con-
tudo, uma vez alienado o bem, a ordem de pagamento deverá ob-
servar a ordem cronológica das penhoras, caso não existam outras
hipóteses de preferência.
Nesse sentido, os seguintes julgados do TRT da 1ª Região:

EMENTA: MÚLTIPLAS PENHORAS SOBRE O MESMO BEM.


POSSIBILIDADE. A pluralidade de penhoras sobre o mesmo imóvel é
possível, conforme art. 797, parágrafo único, do CPC, resguardada a
preferência de cada credor, na forma do art. 908 do mesmo diploma
legal. Por fim, a ordem de indisponibilidade do bem é direcionada ao
proprietário ora executado, não havendo impedimento para a hasta
pública. (TRT1 - AP 0010761-21.2013.5.01.0022 - Rel. Des. Marcos
Pinto da Cruz - data de julgamento: 11/02/2020)
EMENTA: AGRAVO DE PETIÇÃO DO EXEQUENTE. MÚLTIPLAS
PENHORAS SOBRE O MESMO BEM. POSSIBILIDADE. Havendo
duas ou mais execuções movidas contra o mesmo devedor é
possível que haja pluralidade de penhoras sobre o mesmo bem
imóvel e a sua posterior alienação judicial, devendo, apenas,
observar-se a ordem de prioridade de pagamento. Com efeito,
as penhoras realizadas sobre o bem imóvel não obstam que
outras sejam feitas, haja vista que o bem pode responder por
várias execuções, conforme dispõe os artigos 797 e 908 do CPC.
Verifica-se, inclusive, que na Justiça do Trabalho, não raro tal
acontece, tendo em vista que muitas vezes os bens da empresa
garantem diversas execuções trabalhistas. Agravo a que se dá
provimento. (TRT1 - AP 0011391-11.2013.5.01.0044 - Rel. Des.
Mario Sergio Medeiros Pinheiro - data de julgamento: 16/04/2019)
EMENTA: AGRAVO DE PETIÇÃO. MÚLTIPLAS PENHORAS
SOBRE O MESMO BEM. ARREMATAÇÃO. SATISFAÇÃO
DO CRÉDITO EXEQUENDO. ORDEM DE PAGAMENTO.
PREFERÊNCIA DO CRÉDITO TRABALHISTA. O crédito
trabalhista deve ter sua preferência preservada, competindo
à Justiça Comum definir a ordem de satisfação dos créditos
remanescentes. Dado parcial provimento ao agravo. (TRT1 - AP
0008300-30.1996.5.01.0521 - Rel. Des. Alexandre Teixeira de
Freitas Bastos Cunha - data de julgamento 25/07/2017)
110 Execução Trabalhista na Prática

Portanto, havendo várias penhoras sobre um mesmo bem,


todas relativas a execuções de créditos trabalhistas, com a aliena-
ção do bem, para que sejam efetuados os pagamentos, deve se
observar a ordem cronológica das penhoras, e, concorrendo pe-
nhoras de diversas naturezas (trabalhista, tributária e cível), deve
se estabelecer a ordem de prioridade dos respectivos créditos,
preferindo o trabalhista aos demais, depois o tributário e, por fim,
o cível, e a partir dos critérios de preferência, aferir a ordem cro-
nológica das respectivas penhoras dos créditos da mesma nature-
za, para se fazer os pagamentos.

8.1 Diferença entre penhora, indisponibilidade, ar-


resto e sequestro de bens
Os institutos da indisponibilidade, penhora, arresto e se-
questro de bens, em que pese inseridos no mesmo universo de
constrição patrimonial, guardam diferenças conceituais, normati-
zação e efeitos processuais específicos.
Os três primeiros institutos estão reunidos no art. 828 do
CPC, que trata da averbação premonitória, ao dispor que “o exe-
quente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo
juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de
averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens
sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade”.
Iniciamos o estudo com o instituto da penhora que se trata
de ato judicial de apreensão dos bens de devedor, para assegurar
o pagamento da dívida ou da obrigação executada, mediante a
alienação do bem.
Por sua vez, a indisponibilidade de bens do devedor em exe-
cução é medida de natureza cautelar, que visa impedir que o deve-
dor promova a transferência de titularidade, mas não assegura ao
credor a constrição do bem e tampouco o direito de preferência,
o que deve ser efetuado pelo meio processual adequado, que é a
penhora.
Execução Trabalhista na Prática 111

A indisponibilidade não deixa de ser uma consequência na-


tural do procedimento executivo, na medida em que a alienação
de bens do devedor, no curso do processo executivo em que não
houve o pagamento da dívida, implica na nulidade do ato de aliena-
ção por fraude à execução.
Todavia, a indisponibilidade não é automática, necessitando
de pronunciamento judicial e averbação nos órgãos que promo-
vem o registro e transferência de bens, cuja medida impedirá que
o devedor promova a transferência de titularidade do bem, o que
tende a prevenir sua alienação.
Trata-se de medida cautelar bastante utilizada no âmbito das
ações de improbidade administrativa (artigo 7º, parágrafo único,
da Lei n. 8429/9257), bem como na jurisdição penal, conjuntamente
com o sequestro, com a finalidade de impedir que o réu promova
a dilapidação dos bens oriundos do ilícito penal.
No âmbito do processo executivo comum, há tímida previ-
são no art. 854 do CPC de indisponibilidade temporária e episódi-
ca de ativos financeiros do devedor, ao prever que, sem dar ciência
prévia do ato ao executado, o juiz “determinará às instituições fi-
nanceiras, por meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade
supervisora do sistema financeiro nacional, que torne indisponíveis
ativos financeiros existentes em nome do executado, limitando-se
a indisponibilidade ao valor indicado na execução”.
Esta norma processual é operacionalizada na prática pelo
atual SISBAJUD, que substituiu o BACENJUD 2.0, abordado no ca-
pítulo dedicado às ferramentas eletrônicas de pesquisa patrimonial.
Assim, através da ferramenta eletrônica SISBAJUD, o primeiro
ato praticado é o bloqueio de numerário na conta, que se torna indis-

57 Lei n. 8429/92. Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimô-


nio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade administrativa
responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibi-
lidade dos bens do indiciado. Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere
o caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o integral ressarcimento
do dano, ou sobre o acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.
112 Execução Trabalhista na Prática

ponível ao titular da conta, consolidando-se a penhora apenas quando


há a ordem judicial para transferência do montante à conta do juízo,
como se infere do procedimento fixado pelo artigo 854 do CPC.
No âmbito da recuperação do crédito tributário, a indisponi-
bilidade de bens do devedor está prevista no artigo 185-A do CTN,
aplicável ao processo do trabalho por força do artigo 889 da CLT,
nos seguintes termos:

Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente


citado, não pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal
e não forem encontrados bens penhoráveis, o juiz determinará a
indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão,
preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades
que promovem registros de transferência de bens, especialmente
ao registro público de imóveis e às autoridades supervisoras
do mercado bancário e do mercado de capitais, a fim de que,
no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial.
(Incluído pela LCP nº 118, de 2005)
§1º. A indisponibilidade de que trata o caput deste artigo limitar-
se-á ao valor total exigível, devendo o juiz determinar o imediato
levantamento da indisponibilidade dos bens ou valores que
excederem esse limite. (Incluído pela LCP nº 118, de 2005)
§2º. Os órgãos e entidades aos quais se fizer a comunicação de
que trata o caput deste artigo enviarão imediatamente ao juízo
a relação discriminada dos bens e direitos cuja indisponibilidade
houverem promovido.

Além do CTN, a medida cautelar de indisponibilidade de


bens está positivada no art. 4º da Lei 8.397/1992, que institui a
medida cautelar fiscal:

Art. 4° A decretação da medida cautelar fiscal produzirá, de


imediato, a indisponibilidade dos bens do requerido, até o limite
da satisfação da obrigação.
§ 1° Na hipótese de pessoa jurídica, a indisponibilidade recairá
somente sobre os bens do ativo permanente, podendo, ainda, ser
estendida aos bens do acionista controlador e aos dos que em
razão do contrato social ou estatuto tenham poderes para fazer a
empresa cumprir suas obrigações fiscais, ao tempo:
Execução Trabalhista na Prática 113

a) do fato gerador, nos casos de lançamento de ofício;


b) do inadimplemento da obrigação fiscal, nos demais casos.
§ 2° A indisponibilidade patrimonial poderá ser estendida em
relação aos bens adquiridos a qualquer título do requerido
ou daqueles que estejam ou tenham estado na função de
administrador (§ 1°), desde que seja capaz de frustrar a pretensão
da Fazenda Pública.
§ 3° Decretada a medida cautelar fiscal, será comunicada
imediatamente ao registro público de imóveis, ao Banco Central do
Brasil, à Comissão de Valores Mobiliários e às demais repartições
que processem registros de transferência de bens, a fim de que,
no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a constrição judicial.

Trata-se de poderoso instrumento em prol da efetividade


da execução trabalhista, estando apoiado no princípio-mor da res-
ponsabilidade patrimonial executiva, e permite avançar com a tu-
tela executiva contra o patrimônio do executado de forma ampla
e geral, ensejando um verdadeiro bloqueio permanente e universal
dos bens e direitos do executado, no limite do crédito tributário
em cobrança judicial, quando restar infrutífera a pesquisa e cons-
trição patrimonial por meio do SISBAJUD e RENAJUD, conforme
entendimento consagrado pelo STJ na Súmula 560:

Súmula 560. A decretação da indisponibilidade de bens e direitos,


na forma do art. 185-A do CTN, pressupõe o exaurimento das
diligências na busca por bens penhoráveis, o qual fica caracterizado
quando infrutíferos o pedido de constrição sobre ativos financeiros
e a expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do
executado, ao Denatran ou Detran.

Esta normatização processual tributária tem o claro deside-


rato de assegurar a solvabilidade da execução fiscal, mediante o
resultado frutífero do resgate do crédito exequendo tributário.
O mecanismo de indisponibilidade de bens em destaque é mui-
to mais severo do que o mero bloqueio on-line de ativos financeiros
realizado pelo atual SISBAJUD, porquanto impõe uma obrigação per-
manente das instituições financeiras de manterem o congelamento de
114 Execução Trabalhista na Prática

todos os ativos financeiros do executado e da cadeia de corresponsá-


veis patrimoniais, bem como o dever de comunicação imediata à au-
toridade judicial que decretou esta medida cautelar (§2º do art. 185-A
do CTN), sob pena de responsabilidade civil solidária pelos prejuízos
causados à execução trabalhista (art. 186 e 942 do CC).
A fim de dar concretude ao art. 185-A do CTN foi criada
a CNIB - Central Nacional de Indisponibilidade de Bens que visa
dar cumprimento às ordens de indisponibilidade de bens imóveis,
a qual é tratada em detalhes no capítulo dedicado às ferramentas
eletrônicas de pesquisa patrimonial, que remetemos o leitor.
Cabe destacar que, no ato de lavratura de escrituras de com-
pra e venda de imóveis, o tabelião deve verificar a existência de re-
gistro de indisponibilidade na CNIB, podendo praticar o ato apenas
se não houver nenhum registro.
É certo, ainda, que a CNIB se trata de mecanismo específi-
co apenas para registro de indisponibilidade de bens imóveis, não
permitindo a averbação de penhoras ou arrestos, o que deve ser
realizado posteriormente.
Além da CNIB, há outra ferramenta eletrônica de pesquisa
patrimonial58, que permite promover o registro de indisponibili-
dade, notadamente o RENAJUD, que realiza não só a penhora e
arresto de veículos, mas também implementa a indisponibilidade,
mediante registro de vedação de transferência e circulação de ve-
ículos automotores.
Tecidos os contornos da penhora e da indisponibilidade de
bens, trataremos do terceiro instituto que é o arresto.
Com efeito, trata-se o arresto de uma medida protetiva,
preventiva e provisória, de natureza cautelar, que consiste na apre-
ensão judicial dos bens do devedor, visando assegurar que não
ocorra a dilapidação patrimonial enquanto não presentes os requi-
sitos para penhora, a qual, confirmados os demais atos, converte-
-se em penhora, permitindo a alienação. No arresto, conquanto se

58 Será analisada no capítulo dedicado às ferramentas eletrônicas de pesquisa patri-


monial.
Execução Trabalhista na Prática 115

trate de medida executiva, tem os mesmos efeitos da penhora, não


sendo, contudo, permitida a alienação judicial do bem, tratando-se
de medida apenas protetiva.
Vale destacar a possibilidade de ser promovido o arresto de
bens do devedor antes mesmo de sua citação/intimação na execu-
ção, quando o devedor não é encontrado ou se oculta, tal como
previsto nos artigos 830 do CPC e 7º, III, da LEF, denominado
como arresto executivo ou pré-penhora, medida de grande im-
portância para o sucesso da execução nesses casos.
Assim como ocorre com o instituto da indisponibilidade de bens,
o arresto executivo traduz-se em ato preparatório que visa preservar
os bens localizados do devedor contra atos de dilapidação e fraude
patrimonial, elevando, assim, o standard de efetividade da execução.
O arresto executivo, a rigor, tem cabimento na execução de
título extrajudicial, quando não se consegue citar o devedor para
pagamento, sendo aplicado também no cumprimento de senten-
ça, quando o devedor não tem advogado constituído nos autos e
depende de intimação pessoal para o cumprimento (art. 513, II,
CPC), mas não é localizado.
O arresto executivo é aplicável também no processo do tra-
balho, tratando-se de medida executiva de grande eficácia execu-
tiva, passível de aplicação tanto na execução em face do devedor
principal, como também em sede de desconsideração da persona-
lidade jurídica, quando não se localiza o sócio, como se infere da
jurisprudência trabalhista:

EMENTA: Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica.


A evidência de atos típicos de fraude (como a alteração do quadro
societário, insolvência, acordo judicial não cumprido, citação
executória frustrada, não localização do sócio administrador)
justifica os atos excepcionais de cautela com a constrição de bens,
ainda que na modalidade de pré-penhora, arresto ou mesmo
penhora (CPC, art. 830), especialmente considerando-se o não
decurso do prazo de dois anos da retirada do sócio do quadro
societário (CC, art. 1.003).
(TRT2 - AP 1001561-88.2016.5.02.0070 - 6ª Turma - Des. Rel.
Rafel Edson Pugliese Ribeiro - data de julgamento 25/09/2018)
116 Execução Trabalhista na Prática

O STJ admite o arresto executivo na modalidade on line, isto é,


pela adoção dos instrumentos eletrônicos para constrição de bens, in-
clusive de dinheiro em contas bancárias, conforme o seguinte julgado:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE EXECUÇÃO.
TEMPESTIVIDADE. SUSPENSÃO DO EXPEDIENTE FORENSE
NO TRIBUNAL DE ORIGEM. COMPROVAÇÃO. EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU
OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. ARRESTO EXECUTIVO.
TENTATIVA DE LOCALIZAÇÃO DO EXECUTADO
FRUSTRADA. ADMISSIBILIDADE. 1. Julgamento sob a égide
do CPC/73. 2. A comprovação da tempestividade do recurso,
em decorrência de feriado local ou suspensão de expediente
forense no Tribunal de origem, pode ocorrer por meio de agravo
interno. Precedente. 3. Ausentes os vícios do art. 535 do CPC/73,
rejeitam-se os embargos de declaração. 4. Frustrada a tentativa
de localização do executado, é admissível o arresto de seus bens
na modalidade executiva (on-line). Precedentes. 5. Agravo interno
provido. Agravo em recurso especial conhecido. Recurso especial
parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.
(STJ - AgRg no AREsp 804.468/BA - 3ª Turma - Relatora Ministra
Nancy Andrighi - data de julgamento: 16/05/2017)

Cabe destacar que o registro da penhora, do arresto e da


indisponibilidade dos bens do devedor estabelecem a presunção
absoluta de conhecimento por terceiros (art. 844 do CPC), im-
pedindo a alienação do bem pelo devedor em fraude à execução,
assegurando também a ordem de preferência do parágrafo único
do artigo 797 do CPC. Nesse sentido, trilha a jurisprudência:

EMENTA: O artigo 844 do CPC estabelece que para a presunção


absoluta de conhecimento por terceiros, cabe ao exequente
providenciar a averbação do arresto ou penhora no registro
competente, o que foi providenciado pelo Agravante que
registrou o arresto antes da penhora determinada neste processo.
A medida cautelar de arresto objetivou resguardar o bem para
garantir todas as execuções trabalhistas em face das Rés, inclusive
a presente demanda, razão pela qual os créditos existentes
possuem a mesma natureza e, portanto, um não tem preferência
Execução Trabalhista na Prática 117

sobre o outro e, nesse caso, há que se respeitar o princípio da


anterioridade das constrições, consoante o artigo 908, § 2º, do
CPC. Assim, a anterioridade do arresto há de conferir ao credor
previdente, que primeiramente levou a efeito o ato de constrição
do bem, primazia sobre a penhora posteriormente efetuada
(TRT1 - AP 0103400-80.2008.5.01.0039 - Des. Rel. Theocrito
Borges dos Santos Filho - data de julgamento: 14/11/2018)

Por fim, o sequestro é medida de natureza cautelar para as-


seguração do direito, quando houver dúvida ou discussão quanto à
titularidade de um bem específico e risco de dano ou perecimento
à coisa. Trata-se de medida cautelar normalmente concedida na
fase cognitiva, podendo ser adotada em execução, notadamente
na execução contra a Fazenda Pública, quando verificada a preteri-
ção da ordem de pagamento dos precatórios ou descumprimento
da ordem de requisição de pequeno valor, nos termos da OJ 01
do Tribunal Pleno do TST e do art. 15 da Instrução Normativa nº
32/2007 do TST59.

8.2 Formalização e intimação da penhora


A penhora será realizada por auto ou termo nos autos, de-
vendo ser efetuada no local onde se encontram os bens (art. 845
do CPC), e se tratando de bens móveis, fará o oficial de justiça
sua apreensão e depósito destes, lavrando os autos correspon-
dentes (art. 839 do CPC), do qual será o executado intimado
(art. 841 do CPC).
O auto de penhora deve conter a indicação do dia, horário
e local em que realizada, os nomes do exequente e executado, a
descrição dos bens penhorados com suas características e esta-
do de conservação e a nomeação do depositário dos bens (art.
838 do CPC).

59 Art. 15. As requisições de pequeno valor - RPV encaminhadas ao devedor de-


verão ser pagas no prazo de 60 (sessenta) dias. Parágrafo único. Na hipótese
de não-cumprimento da requisição judicial, o Juiz determinará o sequestro do
numerário suficiente ao cumprimento da decisão.
118 Execução Trabalhista na Prática

Em se tratando de bens imóveis, se apresentada a certidão


da respectiva matrícula, ou veículos automotores, se apresentada
certidão que ateste sua existência, a penhora será realizada por
termo nos autos (§ 1º do art. 845 do CPC).
A grande vantagem de se adotar a penhora a termo é o seu
alcance para além da circunscrição do juízo, conforme resta claro
da primeira parte do §1º do art. 845, ao preceituar que “a penhora
de imóveis, independentemente de onde se localizem [...]”.
A penhora a termo é bem mais simplificada do que o manda-
do judicial de penhora, bastando a lavratura de uma certidão feita
pela própria secretaria do juízo, conforme modelo abaixo:

Nesta data, eu, Diretor de Secretaria, abaixo assinado e


identificado, em cumprimento à determinação judicial, a favor de
[...], em face do(s) executado (s), para pagamento da importância
de R$ [...], depois de preenchidas as formalidades legais, procedi à
penhora do bem imóvel, conforme a seguir: [...]

Com o termo de penhora ou arresto torna-se possível a


rápida averbação no bem constrito, evitando-se, deste modo, a
ocorrência de dilapidação patrimonial em fraude à execução.
O §2º do artigo 886 da CLT prevê que a avaliação dos bens
será realizada após o julgamento da subsistência da penhora, com
ou sem o julgamento dos embargos.
O artigo 887 da CLT prevê que a avaliação será efetuada
por avaliador escolhido em comum acordo pelas partes, ou não
havendo tal acordo, será designado livremente pelo juiz, o qual
perceberá as custas (honorários) arbitradas pelo juiz, sendo veda-
da a designação de servidor da Justiça do Trabalho. Tal dispositivo,
contudo, foi tacitamente revogado pela Lei 5.442/68, que deu nova
redação ao artigo 721 da CLT, criando o cargo de oficial de justiça
avaliador nos quadros da Justiça do Trabalho, o qual tem a incum-
bência de fazer a avaliação dos bens (§ 3º, art. 721, CLT).
Execução Trabalhista na Prática 119

O artigo 888 da CLT estabelece o prazo de dez dias para


avaliação. Não obstante, nos atos em que a penhora é feita por
oficial de justiça, por medida de economia e celeridade processual,
a avaliação é efetuada no mesmo ato da penhora, constando do
auto de penhora o valor da avaliação, o que permite inclusive, que
o executado possa se opor à avaliação em sede de embargos à
execução (art. 525, § 11, CPC).
Em se tratando de bens que possuam registro, como os imó-
veis, automóveis, aeronaves e barcos, a averbação do registro da
penhora poderá ser feita por meio eletrônico (art. 837 do CPC).

8.2.1 Averbação premonitória


É facultado ao exequente, nos termos do artigo 828 do
CPC, se tiver conhecimento de bens de propriedade do executa-
do, promover a penhora premonitória de tais bens, que consiste
na averbação no registro competente, para os bens sujeitos a re-
gistro (como imóveis, veículos automotores, barcos, aeronaves),
mediante a apresentação de certidão do processo de execução em
que conste o valor da causa, a identificação das partes e o recebi-
mento da execução pelo juiz, prevenindo-se, assim, de possíveis
fraudes com alienação patrimonial antes de promovida a penhora
dos bens, implicando em fraude à execução (§ 4º do art. 828).
O exequente tem o prazo de 10 dias da concretização de
tais averbações para comunicar ao juiz, e quitada a execução ou
penhorados outros bens suficientes para garantia do juízo, deverá
o exequente promover o cancelamento das averbações no prazo
de 10 dias, e na omissão, o juiz, ex officio ou a requerimento, deter-
minará o cancelamento.
Trata-se de procedimento pouco utilizado no processo do
trabalho, pois em regra o credor trabalhista não tem conhecimen-
to dos bens do executado. Não obstante, dispondo dessa informa-
ção, poderá o exequente adotar a averbação premonitória como
forma de coibir eventual fraude à execução até a consumação da
penhora.
120 Execução Trabalhista na Prática

Vale destacar que na fase cognitiva, tendo o autor informa-


ção da existência de bens do réu e da situação de pré-insolvência,
pode também requerer ao juiz, como medida cautelar visando a
prevenção de possível fraude contra credores, o registro de pro-
testo contra alienação de bem, na forma do artigo 301 do CPC.
CAPÍTULO IX
Audiência em Execução Trabalhista

2 Audiência de conciliação na fase de liquidação e na


execução.
2.1. Audiência na fase de liquidação: conciliação e
saneamento do processo.
A fase processual de liquidação de sentença tem potencial
para deflagrar uma espiral de conflitos entre as partes, que pode ir
desde a divergência na própria forma de se interpretar o título judi-
cial liquidando (a exemplo da omissão de algum elemento da base
de cálculo para apuração das horas extras ou ausência de clareza
na fixação dos parâmetros de pensão mensal vitalícia nos casos de
acidente do trabalho), até mesmo na definição de qual espécie de
liquidação deve ser adotada no caso concreto ou, ainda, de quem é
a responsabilidade pelos honorários do perito contábil.
Nesse contexto, a audiência de conciliação apresenta-se
como uma grande oportunidade para as partes encerrarem a fase
de liquidação, apresentando transação mediante a fixação do crédi-
to devido ao trabalhador, através de concessões mútuas, chegando
num denominador comum. E com isso torna-se possível, de forma
célere, dar início à fase de cumprimento consensual da obrigação
estabelecida no título judicial.
No dia a dia é comum as varas do trabalho inserirem nas
pautas as audiências de conciliação na fase de liquidação, quando
se constata divergência de cálculos entre as partes, com resultados
bastante satisfatórios.
Na mesa de conciliação, torna-se possível ao magistrado en-
tender no que consiste a controvérsia, através de diálogo concilia-
dor com as partes, de modo a acondicionar as questões e interes-
ses divergentes, e identificar as propostas aproximando-as.
Desse modo, após entrar num consenso, chega-se oral e in-
formalmente numa sentença de liquidação que se materializa no
termo de conciliação.
122 Execução Trabalhista na Prática

No mesmo sentido, pontua Mauro Schiavi que “a audiência


na fase executiva torna o processo do trabalho mais democrático,
possibilita maior conhecimento da causa tanto pelas partes como
pelo juiz, imprime maior responsabilidade ao devedor e potenciali-
za os meios para a satisfação do crédito trabalhista” 60. E prossegue:

A oralidade, que é um dos grandes princípios do processo


trabalhista, não deve ficar adstrita à fase de conhecimento. Na
medida do possível, deve ser implementada na execução, pois, em
muitos casos, nesse estágio processual, as partes perdem contato
entre si, e também o juiz perde o contato com as partes, tornando
o processo mais técnico e menos humanizado”61.

Além da conciliação, a designação de audiência pode ter


como finalidade sanear o processo, sendo muito útil para superar
impasses que podem acarretar considerável atraso na prolação da
sentença de liquidação, ou até mesmo ensejar custos financeiros,
caso seja designada perícia contábil e consequente encargo com
os honorários periciais, além da necessidade de contratação pelas
partes de assistentes técnicos.
Pondera, mais uma vez, Mauro Schiavi que “a audiência na
fase executiva pode ser realizada não só para a tentativa de conci-
liação, mas, também, para saneamento do processo, diálogo direto
do juiz com as partes, repressão e prevenção de atos atentatórios
à dignidade da justiça, e resolução de incidentes processuais. Além
disso, trata-se de momento apropriado para exortar a colaboração
das partes, principalmente, do devedor”62.
Conforme abordado no tópico relativo aos procedimentos
da liquidação, a maior controvérsia desta fase processual é a inter-
pretação do julgado, cuja questão deve ser dirimida pelo juiz, e no
contato direto com as partes, facilita-se na identificação do ponto
de divergência. Com isso, torna-se possível a conciliação, ou, en-
tão, o saneamento da liquidação, dando as diretrizes para que as
partes refaçam os cálculos.
60 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 109.
61 Idem, ibidem.
62 Idem, ob. cit. p. 110.
Execução Trabalhista na Prática 123

Em suma, na dinâmica da oralidade em contato direto com o


juiz, as partes podem superar consensualmente as divergências, de
modo a viabilizar a rápida solução da fase de liquidação da senten-
ça sem onerar ainda mais o processo com a designação de perícia
contábil, por exemplo.

2.2. Designação de audiência de conciliação no curso da


execução. Momento adequado para requerer ao juiz.
A execução forçada implica avanço da tutela executiva no
patrimônio do devedor e dos corresponsáveis patrimoniais, o que
de igual modo constitui matéria-prima perfeita para uma série de
conflitos e incidentes no curso da execução trabalhista.
É justamente quando a tutela executiva recai, por exemplo,
sobre determinado bem do devedor ou atinge patrimônio dos cor-
responsáveis patrimoniais, mostra-se oportuna a designação de
audiência de conciliação, com grandes chances de as partes chega-
rem a um bom termo.
Basta imaginarmos as situações em que a penhora recai so-
bre os seguintes bens:

(a) bem imóvel, com possibilidade de discussão sobre seu


enquadramento como sendo bem de família.
(b) ativos financeiros com origem nos proventos do devedor, com
possibilidade de debate em torno de sua impenhorabilidade ou
relativização no âmbito da execução trabalhista.
(c) veículo registrado em nome do consorte do sócio executado, a
deflagrar embate em torno da responsabilidade executiva do cônjuge.
(d) faturamento da empresa, com possibilidade de discussão
acerca da excessiva onerosidade da execução e pertinência sobre a
substituição da penhora sobre outros bens, principalmente pela regra
de flexibilização do art. 835, §1º, do CPC, e também pela incidência
do art. 866 do CPC, que prevê sua série de requisitos para viabilizar a
penhora de percentual de faturamento de empresa.
(e) alienação antecipada de bens e a discussão em torno do seu
cabimento no caso concreto (art. 852, I, do CPC).
124 Execução Trabalhista na Prática

Em todos estes exemplos pode haver incidentes processuais


com potencial de retardar a execução trabalhista, com a oposição
de embargos à penhora ou ajuizamento de embargos de terceiro,
além dos recursos para a instância superior.
Desse modo, em razão do estado de incerteza sobre qual
será o posicionamento do juiz ou do Tribunal em grau recursal
acerca da licitude destas constrições judiciais, é possível que haja
confluência de interesses, aparentemente antagônicos, de um lado,
o interesse do credor de ver o desenlace da execução de forma
mais breve possível e, de outro lado, do devedor de ver afastada a
penhora ou excluída a responsabilidade do seu cônjuge.
Em várias oportunidades relacionadas a casos concretos
similares aos apresentados, tem-se notícia de experiências exi-
tosas na designação de audiência de conciliação no decorrer da
execução forçada.
Para ilustrar, num determinado caso concreto, a penhora re-
caiu sobre os proventos do sócio executado que era diretor esta-
tutário de uma sociedade anônima, e na conciliação este apresen-
tou plano de pagamento do crédito exequendo.
Em outra situação concreta, a penhora recaiu sobre parte
significativa do faturamento da empresa devedora. Na audiência de
conciliação, as partes consensualmente acordaram o percentual do
faturamento penhorado para satisfazer o crédito trabalhista.

2.3. Há consequência processual para o não compa-


recimento das partes à audiência de conciliação?
O questionamento decorre da polêmica em torno da aplica-
ção subsidiária do §8º do art. 334 do CPC na execução trabalhista:

O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência


de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça
e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem
econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da
União ou do Estado.
Execução Trabalhista na Prática 125

Esta norma ressalta a relevância da conciliação em detrimen-


to da litigiosidade, erigindo o comportamento da parte que não
comparece à audiência ao patamar de ato atentatório à dignidade
da justiça, com sujeição à multa processual. Com isso, prestigia-se
a efetividade deste importante ato processual.
A doutrina defende sua plena aplicação na execução trabalhista:

[...] vale acrescentar apenas a possibilidade de convocação das


partes pelo juiz à audiência de conciliação, com a cominação
de sanção. Conforme o art. 334, § 8º, do CPC, “o não
comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de
conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça
e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem
econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor
da União ou do Estado”. Embora o CPC se refira à audiência de
conciliação na fase de conhecimento, entendemos ser possível
a convocação das partes para audiência de tentativa de acordo
na fase executória, podendo, inclusive, o magistrado ouvir as
partes sobre questões relativas à dívida, como sobre eventual
pagamento nessa oportunidade. Convocando as partes para
audiência de conciliação, com expressa cominação de multa,
poderá o magistrado, a seu critério, impor a sanção à parte
faltante, consoante previsto no diploma processual civil, aplicável
subsidiariamente63.

A jurisprudência trabalhista é dividida sobre o assunto.


De um lado, destaca-se acórdão do TRT da 15ª Região que
manteve a aplicação da multa processual imposta pela primeira
instância:

[...] 2. Multa por ausência em audiência de conciliação


Sustenta a recorrente que a audiência de conciliação é “faculdade
das partes” e a recusa não pode ser apenada, mormente se a
audiência foi designada de ofício.

63 SOUZA JÚNIOR, Antonio Umberto de; SOUZA, Fabiano Coelho de; MARA-
NHÃO, Ney. AZEVEDO NETO, Platon Teixeira de. Manual prático das audiên-
cias trabalhistas, São Paulo: RT, 2018 (E-book)
126 Execução Trabalhista na Prática

A executada foi devidamente notificada a comparecer a audiência,


não apenas em razão da possibilidade de conciliação, mas para
“encaminhamentos que visem a efetividade e o trâmite do processo
em tempo razoável, como preconizado pelo artigo 5º, inciso LXXVII,
da Constituição da República”. Além disso, foi alertada de que a
ausência injustificada, poderia implicar na imposição de multa.
E, conforme já constou acima, na audiência também foram
homologados os cálculos e, assim fixado o montante do valor
devido, além de ser expedida ordem para o respectivo pagamento,
ou seja, não era uma audiência apenas para tentativa de conciliação,
mas um ato complexo de impulso processual.
Não bastasse, incumbe as partes o dever de colaboração com o
Judiciário, sendo o primeiro deles o de atender as notificações para
cumprimento das determinações judiciais e regular andamento do
processo.
Assim, descumprida determinação judicial de comparecimento à
audiência designada, é de se manter a condenação ao pagamento
de multa de 2% do valor líquido da execução por litigância de má-
fé, com fundamento no art. 334, § 8º, do CPC:
[...]
Assim, a recusa injustificada de comparecimento da executada é
litigância de má-fé e deveria mesmo ter sido apenada.
Nego provimento.
(TRT15 - AP: 00117749520145150130 - 6ª Câmara - Relatora
Desembargadora Maria da Graca Bonanca Barbosa, - Data de
Publicação: 10/02/2020)

Em sentido oposto, trilha o acórdão do TRT da 2ª Região que,


amparado na doutrina de Manoel Antonio Teixeira Filho, concluiu pela
inaplicabilidade deste dispositivo no processo do trabalho:

[...] Dispõe o caput e o parágrafo 8º, do artigo 334 do CPC que:


“Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e
não for ocaso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará
audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima
de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20
(vinte) dias de antecedência.
§ 8o O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à
audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade
da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da
vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida
em favor da União ou do Estado.”
Execução Trabalhista na Prática 127

No entanto, considero que o artigo acima transcrito não se aplica


nesta Justiça especializada. Por oportuno, cite-se Manoel Antonio
Teixeira Filho ao comentar o parágrafo 8º, do artigo 334, do CPC:
“A despeito do objetivo que levou o legislador a introduzir essa
norma do CPC, entendemos que ela não se aplica ao processo do
trabalho. Em primeiro lugar porque , como já referimos, o réu
poderá estar atuando sem advogado, de tal modo que a sanção
processual prevista no sistema do CPC poderá soar a violência. A
admitir-se a incidência desse dispositivo somente quando o réu
estivesse representado por advogado acabaríamos por incorrer
em discriminação, criando classes distintas de réus para efeito de
aplicação dessa penalidade. Em segundo lugar, as partes, na Justiça
do Trabalho, estão vinculadas, há muito tempo, a uma sólida cultura
de conciliação, sendo, por esse motivo, dispensável a adoção
de mecanismos coercitivos destinados a fazer com que o réu
compareça à audiência. Aliás, o réu já está motivado a comparecer
à audiência pelo próprio sistema do processo do trabalho, pois
sabendo-se que aqui não há a designação de audiência específica
para a conciliação, senão que de audiência una, ou de audiência
inicial e de instrução (e, também, para julgamento), nas quais
a conciliação será tentada, o não comparecimento das partes
acarretar-lhes-á consequências processuais previstas no próprio
sistema (CLT, art. 844) ou na jurisprudência (TST, Súmula nº 74, I).
Mesmo em relação às “Semanas Nacionais de Conciliação”
não vemos necessidade de adoção supletiva do § 8º do
artigo  331, do CPC, haja vista o elevadíssimo número de
conciliações obtidas nessas oportunidades - sem nenhum aparato
coercitivo dirigido a assegurar o comparecimento das partes às
audiências”. (in Comentários ao Novo Código de Processo Civil sob a
perspectiva do Processo do Trabalho. SP: LTr, 2015, p. 386).
Saliente-se que, quando da designação da audiência de conciliação
para o dia 30/10/2018, não restou consignado qualquer cominação
no caso de não comparecimento.
Reformo, pois, para afastar a aplicação da multa do artigo 334, §
8º, do CPC .
(TRT2 - RO 10017937520175020261 SP - 1ª Turma - Relatora
Desembargadora Lizete Belido Barreto Rocha - Data de
Publicação: 19/02/2020)
128 Execução Trabalhista na Prática

A par desta controvérsia, e para evitar surpresas desagradáveis


para a parte, recomenda-se que os advogados informem ao juízo, de
forma prévia e justificadamente, o não comparecimento à audiência
de conciliação; ou, ainda posteriormente, por exemplo, na hipótese
em que a parte tiver substituído o patrono e a publicação da designa-
ção da audiência tenha saído em nome do antigo procurador.

2.4. É possível a renúncia de crédito pelo reclamante


em audiência na fase de execução?
Outra tormentosa questão que se encontra relacionada
diretamente com a dinâmica das audiências na fase de execução
consiste em saber se é possível o reclamante renunciar, ainda que
parcialmente, ao seu crédito trabalhista de caráter alimentar.
Com efeito, a palavra renúncia importa um abandono ou
uma desistência voluntária, ou seja, o titular de um direito deixa de
usá-lo ou anuncia que não o deseja utilizar. Como se trata de um
ato unilateral, deve incidir sobre direito presente ou atual, isto é,
sobre direito existente.
A polêmica reside na aplicação (ou não) do princípio da irrenun-
ciabilidade dos direitos trabalhistas em sede de execução trabalhista.
Este princípio impede que o trabalhador abandone um direito, de for-
ma definitiva, que já está incorporado ao seu patrimônio jurídico64..
Para parcela da doutrina, o referido princípio permeia tan-
to o direito material, quanto o direito processual do trabalho, de
modo que o juiz não poderia homologar o ato de renúncia do
crédito exequendo.
Todavia, prepondera o entendimento doutrinário e jurispru-
dencial de que é compatível com a execução trabalhista o art. 924,
inciso IV, do CPC, que prevê a extinção da execução quando o
exequente renunciar ao crédito, porém deve o juiz ter cautela re-
dobrada na homologação por sentença (art. 925 do CPC), com o
intuito de se evitar fraudes, consoante o disposto no art. 9º da CLT.

64 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho, 9ª ed. São Paulo: LTr,
2015, p. 503.
Execução Trabalhista na Prática 129

Nessa ordem de ideais, muito embora a irrenunciabilidade


constitua um dos princípios basilares do Direito do Trabalho, a
renúncia vem sendo admitida, em caráter excepcional, quando o
empregado se manifesta livremente e de forma expressa perante
o Juízo, despojando-se de um direito que lhe é assegurado por
norma imperativa.
A questão encontra-se sumulada, à guisa de ilustração, no
TRT da 1ª Região, nos seguintes termos:

SÚMULA Nº 63. EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO. RENÚNCIA


TÁCITA AO CRÉDITO TRABALHISTA. IMPOSSIBILIDADE.
A renúncia ao crédito trabalhista há de ser expressa, não se
admitindo como tal o silêncio do exequente.

Neste sentido, assinala Mauro Schiavi que o referido dispo-


sitivo deve ser visto “com reservas no Processo do Trabalho, em
razão do caráter alimentar do crédito trabalhista, da irrenunciabi-
lidade do crédito trabalhista e da hipossuficiência do reclamante.
[...] deve o Juiz do Trabalho ter extrema cautela e verificar quais
os motivos que levaram o autor a renunciar ao crédito”65. E pros-
segue:

Se necessário, deve designar audiência para tal finalidade e tomar


a decisão, à luz dos elementos de prova que colheu nos autos.
Como já mencionamos anteriormente, o Juiz do Trabalho não
está obrigado a homologar acordo ou renúncia no Processo do
Trabalho66.

Situação que pode ensejar a discussão em torno da renúncia


do crédito trabalhista na execução é quando o termo de concilia-
ção prevê prazo, por exemplo, de 5 dias, para o reclamante reque-
rer a execução do crédito inadimplido, sendo que este apenas no
sexto dia denuncia o descumprimento do acordo.

65 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 485.
66 Idem, ibidem.
130 Execução Trabalhista na Prática

Para ilustrar, transcreve-se trecho de uma ata de audiência


de conciliação hipotética da situação retratada: “A parte reclaman-
te deverá informar o inadimplemento no prazo de 5 dias, a contar
da última parcela, sob pena de ser considerada quitada a avença,
com o consequente arquivamento do feito”.
No exame desta questão, a jurisprudência trabalhista, em
que pese admitir a aplicação do instituto da renúncia do crédito,
estabelece que deve ser de forma expressa, não admitindo a re-
núncia tácita na forma retratada acima:

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO. PRINCÍPIO DA


FUNGIBILIDADE RECEBIMENTO COMO AGRAVO DE
PETIÇÃO. EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO. A renúncia ao crédito
trabalhista, como autorizadora da extinção da execução, há
de ser expressa, por se tratar de ato volitivo que não admite
interpretação extensiva, sob pena de violação não apenas dos
princípios da irrenunciabilidade do crédito trabalhista (art. 468,
da CLT) e da vedação do enriquecimento sem causa (art., 884,
do Código Civil), como também do estabelecido nos arts. 5º,
XXXV e LIV, e 7º, XXIX, da Constituição Federal. Não se pode
considerar que a demora do credor em requerer a execução do
crédito inadimplido, deixando escoar o exíguo prazo de cinco
dias estabelecido no acordo judicial, corresponda ao desinteresse
em receber o que lhe é devido. Não há que se falar, no caso,
em renúncia presumida ao crédito trabalhista e nem em plena
quitação ao objeto da inicial. Recurso a que se dá provimento.
(TRT1 - RO 00102771120155010321 RJ - Primeira Turma –
Relator Desembargador Mario Sergio Medeiros Pinheiro - Data
de Julgamento: 10/09/2019 - Data de Publicação: 27/09/2019)

Sobre a questão, entendemos que não exprime propriamente


uma renúncia no sentido estrito da palavra, mas apenas a presunção
relativa de pagamento, nada impedindo a execução. Contudo, caso
não haja denúncia pela parte autora do inadimplemento no prazo de 2
anos, haverá a incidência da prescrição da pretensão executiva.
A par da discussão em torno da renúncia total, é bastante
comum a renúncia parcial do crédito trabalhista exequendo, por
meio de transação judicial.
Execução Trabalhista na Prática 131

A hipótese encontra amparo no §3º do art. 764 da CLT que


estabelece: “É lícito às partes celebrar acordo que ponha termo ao
processo, ainda mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório”.
Portanto, a CLT admite conciliações judiciais, sem maiores
referências à problemática da renúncia parcial.
No cotidiano forense é comum haver renúncia dos juros de
mora ou da multa decorrente de acordo não cumprido, a fim de que
o credor trabalhista possa receber ao menos o valor principal nas si-
tuações em que a empresa executada está com situação financeira
precária, ou, quando esta faliu, recaindo o passivo trabalhista sobre o
patrimônio do sócio executado, que de igual modo não possui condi-
ções de quitar todos os créditos trabalhistas em sua integralidade.
Neste sentido, Homero Batista Mateus da Silva analisa o as-
sunto, delineando as situações mais comuns de renúncia parcial de
crédito trabalhista:

Conciliação em execução é admitida pelo processo do trabalho


e tem expressa referência no art. 764, § 3º. Todavia, sempre foi
causadora de controvérsias, porque para muitos a conciliação em
execução, se não representar o pagamento à vista de 100% da
dívida, é renúncia. Afinal, na etapa da execução definitiva, já temos
a certeza do direito e a quantificação do direito, não havendo
mais razão para concessões recíprocas. A afirmação é correta de
maneira geral, mas não leva em consideração o risco de a parte
obter o reconhecimento do direito, para, depois, ver frustrada a
concretização do direito por problemas de várias ordens, como
falências, recuperações judiciais, desaparecimento do empregador,
insolvência, excesso de penhoras preferenciais etc. Então, fica difícil
sustentar que um trabalhador não possa aceitar negociar algum tipo
de parcelamento ou abatimento de juros e correção monetária para
poder receber o valor, digamos, de uma empresa em recuperação
judicial ou com diversos pedidos de protesto e falência distribuídos.
Mas o debate não se encerrará tão facilmente, porque parte da
responsabilidade pelo êxito da execução é do Poder Judiciário e não
do trabalhador propriamente dito. A CLT toma partido a favor da
conciliação em execução sem nem ao menos fazer especificação
sobre limite do deságio ou número de parcelas67.

67 SILVA, Homero Batista Mateus da. CLT comentada, 2ª ed. São Paulo, RT, 2018
(E-book), cit. CLT 764, coment 3.
132 Execução Trabalhista na Prática

Por sua vez, Marcelo Moura traz as distinções entre os institu-


tos da conciliação e da transação, para defender uma postura mais as-
sertiva do juiz, que não pode homologar toda e qualquer composição,
sem observar as circunstâncias que permeiam o caso concreto:

[...] o principal ponto de distinção está na iniciativa quanto à


solução por acordo: na transação a iniciativa é das partes, e na
conciliação o juiz toma a iniciativa. Não significa dizer que o juiz
deve homologar, cegamente, a vontade das partes na transação.
Seu papel como agente do Estado o obriga a inquirir sobre as bases
da transação, questionar quanto ao interesse das partes, proteger
a livre manifestação de vontade dos transatores e frustrar o fim
ilegítimo que se possa pretender com tal ato, como ocorrem nas
‘lides simuladas’, criadas com o intuito de se conseguir a quitação
geral quanto ao contrato de trabalho. A negativa do juiz em
homologar a transação que considera em desacordo com a ordem
jurídica ou lesiva aos interesses de um dos litigantes se insere em
seu poder discricionário […]68.

Assim como ocorre com a renúncia total, na renúncia parcial


também a jurisprudência trabalhista tem analisado seu cabimento
casuisticamente.
Para ilustrar, destaca-se situação concreta em que o exequente
aceitou transação com renúncia de 50% do crédito exequendo, que
não foi aceita pelo juízo, pois restou verificado o precário estado de
saúde do reclamante, enquadrando-se no vício de vontade porque ca-
racterizada a lesão (art. 157 do CC e art. 51, IV, do CDC):

EMENTA: Execução. Homologação de acordo. Faculdade do


juiz. Inteligência da Súmula 418, do C. TST. Transação em 50%
do valor do crédito reconhecido na coisa julgada. Princípio da
proteção e da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas. Precário
estado de saúde do exequente. Configuração da situação prevista
no art. 157 do Código Civil. Art. 51, IV, do CDC. Não aceitação do

68 MOURA, Marcelo. Consolidação das Leis do Trabalho para Concursos. Doutri-


na, Jurisprudência e Questões de Concursos, 5ª ed. Salvador: JusPodivm, 2015,
p. 807.
Execução Trabalhista na Prática 133

complemento parcelado da prestação, pelo executado. Correção


da decisão que não homologa a transação. 1) A homologação
de acordo constitui faculdade do juiz, a ser verificada
criteriosamente mediante as condições concretas do caso,
sob a égide do princípio da proteção ao hipossuficiente
e da irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas. 2) Além
de violação ao princípio da irrenunciabilidade, verifica-se
também, no presente caso, que a aceitação da proposta
elaborada pelo Executado ocorreu em condições de
premente necessidade, em razão do estado de saúde do
Exequente, configurando-se a situação prevista no art. 157,
do Código Civil de 2002, e no art. 51, IV, do CDC.  3) Por
outro lado, o Executado, após instado pelo E. Juízo a quo a
complementar a prestação, recusou-se a aceitar a sua proposta
e conciliar-se mediante o parcelamento do restante do crédito
devido, razão pela qual deve ser mantida a r. decisão proferida. 
(TRT1 - AP 932001519965010401/RJ - Quinta Turma - Relator
Desembargador Rogério Lucas Martins - Data de Julgamento:
06.02.2013 - Data de Publicação: 21/02/2013) (destacamos)

Cabe mencionar, ainda, outra situação concreta de renúncia


parcial concernente a uma Ação Civil Coletiva tendo com objeto o
pagamento de verbas rescisórias aos trabalhadores demitidos em
massa, decorrente do encerramento de todas as unidades de um
grupo empresarial.
Na audiência de conciliação, com a chancela do Ministério
Público do Trabalho, houve a homologação do acordo judicial em
que os trabalhadores demitidos aceitaram receber 80% das verbas
rescisórias, no contexto de total encerramento das atividades do
grupo empresarial e do seu estado de insolvência.
Para cumprir o acordo, um dos sócios autorizou o envio de
imóvel particular à hasta pública, cujo produto da arrematação ga-
rantiu o integral cumprimento do acordo.
Desta situação concreta, conclui-se que houve renúncia par-
cial do crédito dos obreiros, em percentual razoável, plenamente
justificada no contexto geral do precário estado financeiro do de-
vedor trabalhista.
134 Execução Trabalhista na Prática

2.5. Preparando-se para a audiência de conciliação


em execução.
No dia a dia forense, os advogados das partes comparecem à
audiência de conciliação muito focados no tema central da transa-
ção, que sem sombra de dúvidas é a melhor forma de solver o dé-
bito trabalhista. Contudo, a audiência de conciliação em execução
exige do advogado muito mais do que isso. Existem vários outros
aspectos e dados do processo que o causídico deve ter domínio
antes de compor a mesa de audiência.
Neste desiderato, foi desenvolvido um roteiro básico, um
passo a passo capaz de auxiliar, na maioria dos casos, o advogado
na preparação para a audiência de conciliação.

2.5.1. Checklist do processo.


O primeiro passo é revisitar os atos do processo, começan-
do pelo sumário dele, para identificar alguns elementos que impac-
tam na conciliação e que devem ser previamente mapeados antes
de dar início à audiência de conciliação, tais como:

cdecisão liminar → deve-se observar a existência de


decisão liminar fixando obrigação de fazer tal como
(hipóteses mais comuns) baixa da CTPS e entrega das
guias para habilitação no seguro-desemprego e saque
do FGTS ainda pendente de cumprimento. Outro dado
relevante é atentar-se para a fixação de astreintes e seus
efeitos no tempo. Não é incomum, após a homologação
da conciliação, o advogado requerer a adequação do
termo para inserir este ponto.

cdesignação de perícia → no caso de perícia realizada


no processo, é importante verificar como restaram
fixados os honorários do perito e a quem foi atribuída a
responsabilidade pelo pagamento.
Execução Trabalhista na Prática 135

cpluralidade de réus → é importante prestar atenção


no título judicial se houve (ou não) condenação de todos
os demandados (caso de pluralidade de réus), bem como
a forma fixada da responsabilidade trabalhista, solidária
ou subsidiária. Geralmente, os responsáveis subsidiários
são aqueles que possuem, tão ou mais, condições de
garantir a solvabilidade da execução, de modo que não se
recomenda sua exclusão do acordo na fase de execução,
tampouco em eventual novação dos termos do acordo
anteriormente celebrado.

catualização dos cálculos do débito exequendo


→ as partes devem estar munidas de planilha de
cálculos atualizada em audiência, a fim de evitar que
ocorra discussão desnecessária sobre a extensão dos
juros de mora incidentes até o dia da audiência. Muitas
vezes, o advogado do reclamante somente percebe
em audiência que a planilha de cálculo constante do
processo está desatualizada, acarretando com isso
atraso na audiência.

Portanto, é de suma importância a realização de uma leitura


prévia do processo para dar segurança na audiência de conciliação.

2.5.2. Depósito recursal.


Dentro do checklist do processo, destaca-se a verificação de
existência de depósito recursal nos autos, para que seja contem-
plado no acordo ou levantado pela reclamada.
Este elemento no processo merece atenção redobrada, pois,
segundo dados do TST em matéria veiculada a seguir, somente no
ano de 2019 foi identificada a cifra de 2 bilhões de reais esquecidos
em contas judiciais, referentes a depósitos recursais, honorários
periciais e alvarás que não foram sacados por empresas, advogados
ou peritos em processos antigos.
136 Execução Trabalhista na Prática

Matéria veiculada no site do TST em 06/02/2020:

Projeto Garimpo identifica R$ 2 bi “esquecidos” em contas judiciais


06/02/20 - Criado em fevereiro de 2019 pelo Conselho Superior
da Justiça do Trabalho (CSJT) e pela Corregedoria-Geral da Justiça
do Trabalho (CGJT), o Projeto Garimpo permitiu a identificação,
no ano passado, de cerca de R$ 2 bilhões em contas judiciais de
empresas e de trabalhadores “esquecidas” no Banco do Brasil e
na Caixa Econômica Federal. Aproximadamente R$ 183 milhões
foram liberados após a identificação de seus donos.
O sistema adotado no projeto foi desenvolvido pelo Tribunal Regional
do Trabalho da 21ª Região e disponibilizado pelo CSJT aos demais
órgãos da Justiça do Trabalho. A ferramenta localiza valores referentes
a depósitos recursais, honorários periciais e alvarás que não foram
sacados por empresas, advogados ou peritos em processos antigos,
muitos deles arquivados. Processos com decisão definitiva da Justiça
do Trabalho, mas que continuam em aberto por falta de iniciativa das
partes, que, mesmo notificadas, não comparecem às Varas ou aos
Tribunais para sacar seus alvarás, também são filtrados pelo sistema69.

2.5.3. Observância do título judicial: limites objeti-


vos da coisa julgada.
Não há impedimento legal para a realização de acordo após
o trânsito em julgado de sentença condenatória. Ao contrário, con-
forme já exposto, o §3º do art. 764 da CLT estimula a concilia-
ção em qualquer momento processual: “É lícito às partes celebrar
acordo que ponha termo ao processo, ainda mesmo depois de en-
cerrado o juízo conciliatório”.
Porém, uma vez superada a fase de conhecimento, não há mais
liberdade ampla para as partes transigirem sobre o objeto do proces-
so, devendo ser respeitado os limites objetivos da coisa julgada.
Além disso, o §6º do art. 832 da CLT é expresso ao preco-
nizar que “o acordo celebrado após o trânsito em julgado da sen-
tença ou após a elaboração dos cálculos de liquidação de sentença
não prejudicará os créditos da União”.

69 http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/projeto-garim-
po-identifica-r-2-bi-esquecidos-em-contas-judiciais. Acesso em 17/05/2020.
Execução Trabalhista na Prática 137

É bem de ver que, no acordo na fase de execução, as partes


não podem se afastar da natureza jurídica das parcelas constantes
da sentença.
Desse modo, “havendo acordo, na execução, após o trânsito
em julgado da decisão, as partes não poderão alterar a natureza
jurídica das parcelas, pois a parcela previdenciária que incide sobre
tais verbas não pertence às partes do processo, não estando mais
sobre a livre disposição destas por meio da transação”70.
Para melhor compreensão, são mencionadas algumas situa-
ções práticas muito comuns no cotidiano forense:
(1) no caso de sentença declaratória de vínculo de emprego,
não é possível alterar o resultado deste provimento jurisdicional, fi-
xando no acordo que as partes reconhecem que não houve relação
de emprego e que o trabalho realizado foi de natureza autônoma.
(2) se na sentença ou acórdão houve fixação apenas de con-
denação no pagamento de diferenças salariais, não podem as par-
tes modificar a natureza do título condenatório, estabelecendo que
o acordo envolve indenização por dano moral, por exemplo.
(3) se na sentença ou acórdão restou fixado que o contra-
to de trabalho foi rescindido a pedido do reclamante ou, ainda,
que houve dispensa com justa causa, também não é permitido que
as partes se conciliem no sentido de que a terminação contratual
operou-se sem justa causa para, com isso, o reclamante acessar o
FGTS e o seguro-desemprego.

2.5.4. Créditos da União.


A proteção dos créditos da União constitui outro limite ao
acordo na fase de execução, tendo como fundamento normativo
o §6º do art. 832 da CLT, do qual se extrai que o acordo não pode
neutralizar os efeitos da coisa julgada, principalmente em relação a
terceiro, especificamente a União, que se torna titular do crédito
tributário no processo.

70 SCHIAVI, Mauro. Execução no processo do trabalho, 11ª ed. São Paulo: LTr,
2019, p. 567.
138 Execução Trabalhista na Prática

A respeito, pontua Gustavo Borges da Costa que

é lícita a conciliação em qualquer fase do processo, inclusive na de


execução, hermenêutica que se faz do art. 764, § 3.°, da CLT; ocorre
que esse acordo não pode ter a faculdade de substituir a sentença
e todos os seus efeitos, mas apenas parte da obrigação proveniente
daquele título judicial, nos estritos termos transacionados e desde
que não prejudique os créditos da União, a qual possui peculiar
status, pois se torna parte do processo com os direitos e obrigações
provenientes de tal desiderato assim que o fato gerador dos créditos
previdenciários é confirmado em sentença71.

Basicamente, devem ser respeitados os seguintes créditos


tributários da União na conciliação em execução: as custas proces-
suais e as contribuições fiscais e previdenciárias.
Custas processuais. No que tange às custas processuais, deve
a parte reclamada, sucumbente, recolher o valor fixado na sentença no
prazo a ser estabelecido pelo juiz ao final da homologação do acordo.
Contribuições fiscais e previdenciárias. Já com relação às
contribuições fiscais e previdenciárias, as partes devem observar
o art. 832, §3º, da CLT, o qual estabelece que na decisão homo-
logatória do acordo as partes deverão sempre indicar a natureza
jurídica das parcelas constantes do acordo homologado, inclusive
o limite de responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da
contribuição previdenciária, se for o caso72.
Este dispositivo é complementado pela OJ 376 da SDI-1 do
TST que dispõe:

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ACORDO HOMOLOGA-


DO EM JUÍZO APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA SEN-
TENÇA CONDENATÓRIA. INCIDÊNCIA SOBRE O VALOR
HOMOLOGADO. (DEJT divulgado em 19, 20 e 22.04.2010)

71 COSTA, Gustavo Borges da. Acordo na fase processual de execução e seus efei-
tos nos créditos previdenciários. Revista de direito do trabalho, São Paulo, SP, v.
38, n. 145, p. 75-92, jan./mar. 2012.
72 O tema é abordado de forma mais aprofundada no tópico específico da execu-
ção da contribuição previdenciária, que remetemos o leitor.
Execução Trabalhista na Prática 139

É devida a contribuição previdenciária sobre o valor do acordo


celebrado e homologado após o trânsito em julgado de decisão
judicial, respeitada a proporcionalidade de valores entre as
parcelas de natureza salarial e indenizatória deferidas na decisão
condenatória e as parcelas objeto do acordo.

Assim sendo, o acordo na fase executória passa a substituir


o título executivo anterior (sentença ou acórdão), com igual força,
contanto que observe a proporcionalidade entre as verbas indeni-
zatórias e salariais fixadas na primeira decisão.
Por sua vez, a Súmula 368 do TST, em seu item II, atribui ao
empregador a responsabilidade pelo recolhimento das contribuições
previdenciárias e fiscais, resultantes de crédito do empregado oriundo
de condenação judicial, o qual deve ser observado na conciliação.

2.5.5. Créditos de terceiros.


Além dos créditos da União, as partes não podem transigir
sobre os seguintes créditos de terceiros:

(a) Honorários do perito judicial.


As partes não podem transigir sobre os honorários do perito
judicial, devendo efetuar o pagamento na forma fixada na sentença.
A alteração do montante devido ao perito somente pode ser
feita com sua aceitação expressa, podendo a parte interessada, in-
clusive, fazer acordo diretamente com o perito.
Na praxe forense, é comum o juiz permitir a dilação do pra-
zo de pagamento dos honorários periciais, a depender das circuns-
tâncias do caso concreto, sem que haja ofensa à coisa julgada.

(b) Honorários advocatícios sucumbenciais.


Os honorários advocatícios sucumbenciais representam crédito
de terceiro, razão pela qual somente podem ser objeto de transação
na conciliação caso haja aquiescência do titular do crédito.
140 Execução Trabalhista na Prática

Neste diapasão, preceitua o art. 24, § 4º, da Lei nº 8.906/94


(Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil):

Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e


o contrato escrito que os estipular são títulos executivos e
constituem crédito privilegiado na falência, concordata, concurso
de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.
[...]
§ 4º O acordo feito pelo cliente do advogado e a parte contrária, salvo
aquiescência do profissional, não lhe prejudica os honorários,
quer os convencionados, quer os concedidos por sentença.

Sobre a amplitude do vocábulo aquiescência, o TST recente-


mente decidiu que uma simples concordância detectável do patro-
no, como, por exemplo, a sua assinatura no acordo, em que não
houve previsão do pagamento dos honorários sucumbenciais, já se
mostra suficiente para que o acordo dê quitação tanto da obriga-
ção principal, quanto da verba honorária acessória.

EMENTA: RECURSO DE EMBARGOS. HONORÁRIOS SUCUM-


BENCIAIS PREVISTOS EM SENTENÇA TRANSITADA EM JUL-
GADO. ACORDO HOMOLOGADO POSTERIORMENTE. VER-
BA NÃO CONTEMPLADA NO AJUSTE. O acordo celebrado, ao
prever os encargos processuais da CAPEF, limitou-os expressa-
mente ao pagamento das custas, atribuindo o pagamento de ho-
norários advocatícios pelas partes aos seus respectivos advogados.
Nesse contexto, o acordo limitou o pagamento dos honorários
advocatícios à modalidade contratual, excluindo-se, por corolário,
os honorários sucumbenciais. A c. Turma havia consignado que tal
acordo, em que há cláusula expressa acerca do pagamento dos
honorários advocatícios contratuais, fora assinado pelo advogado
como representante do reclamante, restando atendida a exigência
do 24, § 4º, da Lei nº 8.906/94 acerca da aquiescência do profis-
sional no ajuste. Recurso de embargos conhecido e desprovido.
(TST - E-ED-RR 2253408319985070010 - SBDI-1 - Redator
Designado Ministro Breno Medeiros - Data de Julgamento:
13/02/2020)
Execução Trabalhista na Prática 141

Por fim, cabe mencionar que a jurisprudência tem admitido


a redução proporcional dos honorários advocatícios na conciliação,
em razão da própria repactuação do valor principal devido ao exe-
quente, por se tratar de verba meramente acessória. Logo, tendo
sido repactuado o valor devido ao exequente (objeto principal),
naturalmente o será o importe devido a título de honorários (obje-
to acessório), por aplicação analógica da OJ 376 da SBDI-1 do TST.

EMENTA: HONORÁRIOS ASSISTENCIAIS DEVIDOS AO


SINDICATO DO EXEQUENTE. ALTERAÇÃO DO VALOR
HOMOLOGADO PELO JUÍZO NA FASE DE LIQUIDAÇÃO.
CONCILIAÇÃO ENTRE AS PARTES. MANUTENÇÃO DO
PERCENTUAL ESTABELECIDO NA DECISÃO EXEQUENDA.
REGULARIDADE DO PROCEDIMENTO. Por força do artigo
764, caput e § 1º, da CLT, os dissídios individuais ou coletivos
submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre
sujeitos à conciliação, cabendo aos juízes e Tribunais do Trabalho
empregar os seus bons ofícios e persuasão no sentido de uma
solução conciliatória dos conflitos. A conciliação levada a
efeito pelas partes perante o Juízo, com alteração do valor
líquido devido ao exequente, implicará a alteração do
montante fixado a título de honorários assistenciais, ainda
que anteriormente homologado, por se tratar de verba
meramente acessória a teor do que dispõe o artigo 92 do
Código Civil. Logo, tendo sido repactuado o valor devido ao
exequente (objeto principal), naturalmente o será o valor
devido a título de honorários assistenciais (objeto acessório).
Mais se avulta a regularidade do termo de acordo quando se constata
que restou observado o percentual fixado no título exequendo para o
cálculo dos honorários, aplicando-se analogicamente à hipótese o que
preconiza a OJSBDI-1 nº 376 do col. TST.
(TRT10 - AP 00015472320145100021 DF - Redator Designado
Desembargador Mario Macedo Fernandes Caron - Data de
Julgamento: 10/07/2019) (grifamos)

(c) Despesas com leiloeiro.


Na hipótese em que a conciliação em execução tenha ense-
jado o cancelamento da hasta pública de bem penhorado do deve-
dor, subsiste o crédito do leiloeiro, referente às despesas compro-
vadas por este com os trâmites da hasta pública.
142 Execução Trabalhista na Prática

Desse modo, as partes não podem conciliar sobre os crédi-


tos do leiloeiro, subsistindo a responsabilidade do executado pelo
pagamento das despesas realizadas por este.

2.5.6. Emolumentos cartorários.


Os emolumentos cartorários correspondem ao ressarcimen-
to das despesas provocadas aos cartórios judiciais e extrajudiciais,
para a obtenção de traslados, certidões, averbação de penhora etc.
Portanto, trata-se de mais um crédito de terceiro que não
pode ser objeto do acordo entre as partes.
De acordo com a jurisprudência trabalhista, “a responsabi-
lidade pelo pagamento dos emolumentos relativos ao registro ou
cancelamento de penhora é da executada, na medida em que é
causadora da medida executiva, devendo assumir o ônus de sua
inadimplência. Aplica-se, por analogia, o artigo 789-A, da CLT”.
(TRT15 - AP 00233000520095150043 - 4ª Câmara - Relatora De-
sembargadora Larissa Carotta Martins da Silva Scarabelim - Data
de Publicação: 12/07/2019)

2.5.7. Cláusulas do acordo judicial: a questão da


cláusula penal e as salvaguardas patrimoniais para
cumprimento da avença.
Ao lado da obrigação principal, a cláusula penal constitui o
alicerce que confere sustentação à efetividade do cumprimento da
transação judicial, e tem amparo no art. 846, §1º, da CLT, e no art.
408 do Código Civil:

CLT. Art. 846, §1º. Se houver acordo lavrar-se-á termo, assinado


pelo presidente e pelos litigantes, consignando-se o prazo e
demais condições para seu cumprimento.
CC. Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula
penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou
se constitua em mora.
Execução Trabalhista na Prática 143

Não adianta as cláusulas que integram a obrigação principal


estarem muito bem definidas, e a parte negligenciar justamente na
salvaguarda patrimonial do acordo.
Na construção da cláusula penal existem elementos básicos
que merecem atenção, a saber:

cfixação da multa penal → costumeiramente o


percentual da multa penal oscila entre 50% até o
limite de 100%, em atenção ao art. 412 do CC, que
prevê que “o valor da cominação imposta na cláusula
penal não pode exceder o da obrigação principal”.

cforma de incidência → as partes precisam estabelecer


se a multa penal incidirá somente sobre as parcelas em
atraso; ou, se com a mora no cumprimento do acordo,
ensejará o vencimento antecipado das parcelas
vincendas, com incidência da multa sobre todo o saldo
devedor do acordo.

cprevisão de correção monetária e juros de mora →


é importante que haja previsão expressa da incidência
de juros e correção monetária sobre as parcelas em
atraso, para evitar incidentes infundados na execução
e dar maior clareza aos termos avençados. Deve-se
ter em mente que não existe condição implícita em
matéria de acordo judicial.

csuperação da formalidade do art. 880 da CLT →


dispõe o art. 880, caput, da CLT, que, uma vez requerida
a execução de acordo descumprido, haverá expedição
de mandado judicial do devedor para pagamento73.
Para dar verdadeiro salto de celeridade, sugere-se que

73 Em relação à citação por oficial de justiça prevista no artigo 880 da CLT, reme-
temos o leitor à análise aprofundada do tema nos tópicos 4 e 5 do Capítulo IV,
acerca do erro técnico legislativo da expressão “citação” e da aplicação supletiva
do artigo 523 do CPC.
144 Execução Trabalhista na Prática

se contemple no termo do acordo que “na eventual


execução, a reclamada sai citada, desde já, na forma do
artigo 880 da CLT”. Desse modo, com a denúncia pelo
credor do acordo descumprido, basta intimar a parte
reclamada, por meio do seu patrono, para comprovar o
pagamento da parcela do acordo. Não se desincumbindo
deste encargo, torna-se possível deflagrar imediatamente
a execução forçada com a rápida constrição patrimonial
do executado inadimplente.

Ao lado destes elementos, enfatiza-se o seguinte elemento


específico que pode compor a cláusula penal, sendo capaz de con-
ferir grande celeridade em futuro resgate do crédito exequendo:

cautorização para desconsiderar a personalidade


jurídica da empresa reclamada → é possível
constar na cláusula penal que as partes concordam
com a desconsideração da personalidade jurídica da
empresa reclamada, para que haja cobrança solidária
dos seus sócios. Com esta previsão na transação,
em caso de descumprimento do acordo, a execução
forçada pode ser instaurada já incluindo os sócios no
polo passivo.

Com o somatório destes elementos, chega-se no seguinte


modelo de cláusula penal:

As partes convencionam a seguinte cláusula penal:


Em caso de inadimplemento de acordo noticiado pela parte
reclamante, faz-se incidir a multa de 50% sobre o valor
das parcelas vencida e vincendas, sem prejuízo de juros e
correção monetária. Na eventual execução, a reclamada sai
citada, desde já, na forma do artigo 880 da CLT, bem como
concorda com a desconsideração de sua personalidade
jurídica, para que haja cobrança solidária dos sócios.
Execução Trabalhista na Prática 145

Outrossim, o advogado da parte autora precisa estar atento


para a possibilidade de contemplar outras salvaguardas patrimo-
niais na cláusula penal, tais como:

cautorização do sócio, que já esteja no polo passivo da


execução, para que haja penhora de seus proventos,
com averbação em folha de pagamento do percentual
mensal, por exemplo, de 30% do valor líquido dos
proventos, para pagamento de eventual saldo devedor
do acordo.

cautorização do sócio, que já esteja no polo passivo


da execução, para que haja expropriação do seu
bem imóvel residencial, com vistas ao pagamento de
eventual saldo devedor do acordo.

cconcordância da empresa devedora de penhora de


seu faturamento, em percentual a ser definido no caso
concreto.

Por fim, cabe destacar que, a fim de reforçar a garantia de


cumprimento do acordo, especialmente nas conciliações ainda na
fase de liquidação, o advogado do credor precisa diligenciar ex-
trajudicialmente sobre a existência de bens do devedor, conforme
tópico dedicado à investigação patrimonial.

2.5.8. Efeitos do termo de conciliação celebrado en-


tre as partes e homologado pelo juiz.
A homologação de acordo constitui faculdade do juiz, con-
forme Súmula 418 do TST. Assim sendo, nas circunstâncias do caso
concreto, o magistrado pode deixar de homologar a transação, se
perceber que seus termos são lesivos ao exequente ou que as par-
tes estão em conluio fraudulento para lesar outros credores.
146 Execução Trabalhista na Prática

Por outro lado, uma vez homologado pelo juiz, o termo de


conciliação passa a ter o mesmo valor de sentença irrecorrível e
imutável, que se submete aos amplos efeitos da coisa julgada mate-
rial, em todos os seus termos, constituindo título executivo judicial,
na forma do art. 831, parágrafo único, da CLT74, c/c o art. 487, III,
alínea “b”, do CPC75, e Súmula 100, item V, do TST76.

74 CLT. Art. 831 - A decisão será proferida depois de rejeitada pelas partes a proposta
de conciliação. Parágrafo único. No caso de conciliação, o termo que for lavrado
valerá como decisão irrecorrível, salvo para a Previdência Social quanto às contribui-
ções que lhe forem devidas. (Redação dada pela Lei nº 10.035, de 2000)
75 CPC. Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: [...] III - homologar:
[...] b) a transação.
76 TST. Súmula 100, item V: O acordo homologado judicialmente tem força de
decisão irrecorrível, na forma do art. 831 da CLT. Assim sendo, o termo conci-
liatório transita em julgado na data da sua homologação judicial.
CAPÍTULO X
Desconstruindo a Blindagem Patrimonial

1 Noções conceituais.
1.1 Superação do misticismo.
Sabemos que a execução trabalhista passa por uma profun-
da crise existencial. Políticas judiciárias são implementadas, metas
de redução do acervo processual são fixadas pelo CNJ, convênios
e termos de cooperação técnica são firmados, novas versões das
ferramentas eletrônicas são desenvolvidas (ex. BACENJUD 2.0 e,
atualmente, o SISBAJUD), tudo com vistas à melhoria da efetivida-
de da jurisdição executiva.
Contudo, os resultados não são satisfatórios, basta dialogar com
qualquer advogado que atua na recuperação do crédito trabalhista
para concluir que o modelo tradicional, linear e burocrático de con-
dução da execução trabalhista não entrega os resultados esperados.
É necessário perceber que há um crescimento vertiginoso da
blindagem patrimonial pelo devedor e dos meios e ardis emprega-
dos para a ocultação patrimonial, que leva ao enfraquecimento da
execução trabalhista.
No meio jurídico trabalhista, verifica-se certo misticismo e
desconhecimento em torno da temática, cujo enfrentamento se faz
necessário diante do cenário de crise de efetividade que assolapa a
jurisdição.
É chegada a hora de o credor trabalhista aprofundar seu co-
nhecimento técnico acerca do fenômeno da blindagem patrimonial,
saber manejar os antídotos jurídico-normativos e jurisprudenciais
regentes, além de dominar as tipologias mais comuns, como forma
de, no caso concreto, rastrear o patrimônio do devedor capaz de
adimplir o crédito exequendo.
Este é o propósito do presente capítulo.
148 Execução Trabalhista na Prática

1.2 Princípio da responsabilidade patrimonial.


O sistema jurídico consagrou como um dos pilares para a
efetividade da tutela executiva o princípio da responsabilidade pa-
trimonial, segundo o qual o patrimônio do devedor responde por
suas obrigações com todos seus bens presentes e futuros (arts. 391
e 957 do CC77 e 789 do CPC78), ainda que em poder de terceiros
(art. 790, III, do CPC).
Araken de Assis define a responsabilidade patrimonial do
executado como sendo o “efeito do título executivo, e à primeira
vista, consiste em possibilitar a sujeição do devedor à ação exe-
cutória [...]. Ante o inadimplemento da obrigação, documentada
no título, o órgão judiciário atuará, coativamente, os meios legais
para satisfazer o crédito, meios que recairão, de ordinário, sobre o
patrimônio do executado”79.
Portanto, com base nesta norma-princípio, há um estado de
sujeição de todos os bens do devedor perante a tutela estatal exe-
cutiva, de modo a permitir a atuação coativa do Estado-juiz através
da implementação de medidas de execução forçada em face do pa-
trimônio do devedor, independentemente do seu consentimento,
com vistas a satisfazer o crédito exequendo.
Por força do princípio da responsabilidade patrimonial, os bens
do devedor constituem garantia geral do cumprimento de sua obriga-
ção. Disso decorre que a disponibilidade do patrimônio do devedor é
limitada e deve ser pautada pela boa-fé, razão pela qual, constatando-
-se a fraude, os bens desfalcados do acervo patrimonial, em franco
prejuízo dos credores, estão sujeitos à tutela executiva.

77 CC. Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do
devedor.
Art. 957. Não havendo título legal à preferência, terão os credores igual direito
sobre os bens do devedor comum.
78 CPC. Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros
para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei.
79 DE ASSIS, Araken. Manual da execução, 20ª ed. São Paulo: RT, 2018 (E-book).
Execução Trabalhista na Prática 149

Ademais, a responsabilidade patrimonial permite que recaia


a tutela executiva sobre outros corresponsáveis, ainda que não te-
nham participado da relação processual na fase de conhecimento e
não estejam no título judicial exequendo, sem que haja, com isso,
ofensa à coisa julgada.

1.3 O fenômeno da blindagem patrimonial.


Para frustrar o princípio da responsabilidade patrimonial,
percebe-se cada vez mais o crescimento do fenômeno da blinda-
gem patrimonial, que constitui um dos principais óbices à efetivida-
de da execução trabalhista, sendo considerada como mecanismo
de proteção e de ocultação de bens do devedor.
Através da blindagem patrimonial é criado um envoltório
protetivo em torno de bens, direitos e valores do devedor, de
modo a inviabilizar a respectiva identificação e consequente cons-
trição judicial, frustrando, assim, a justa satisfação do crédito
exequendo.
Afirmam Gladston Mamede e Eduarda Cotta Mamede que
“em sua esmagadora maioria, os procedimentos de blindagem pa-
trimonial não são construídos para realizar uma estruturação lícita
do patrimônio das pessoas. Em oposição, seguem a mesma equa-
ção: buscam definir meios pelos quais se possam retirar fraudu-
lentamente bens do patrimônio ativo do devedor, colocando-os
a salvo dos mecanismos de garantia geral, isto é, evitando possam
ser alcançados pelos credores”80.

1.4 Característica clássica.


A característica clássica da blindagem patrimonial é a atribui-
ção da titularidade formal da propriedade a interpostas pessoas,
fazendo com que desapareça o liame entre o devedor e o seu
patrimônio.

80 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Blindagem patrimonial e plane-


jamento jurídico. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2015 (E-book).
150 Execução Trabalhista na Prática

1.5 Ato ilícito complexo.


Sua utilização está associada, costumeiramente, à frustração
do adimplemento das dívidas trabalhistas, à sonegação tributária, à
prática de negócios jurídicos simulados ou em fraude contra credo-
res e à execução trabalhista, e, por fim, ao cometimento de diver-
sos ilícitos penais, tais como: delitos de falsidade ideológica e do-
cumental (Capítulo III do Título X, do CP); crimes contra a ordem
tributária (Lei nº 8.137/1990); crimes contra o sistema financeiro
nacional (Lei nº 7492/86); crime de lavagem de dinheiro (art. 1º da
Lei nº 9.613/98); crime de frustração a direitos trabalhistas (art.
203 do CP); crime de sonegação de contribuição previdenciária (art.
337-A do CP); e crime de associação criminosa (art. 288 do CP).
No mesmo sentido, Gladston Mamede e Eduarda Cotta Ma-
mede pontuam que “a blindagem patrimonial é um ato ilícito com-
plexo, ou seja, envolve a prática de diversos atos que são conside-
rados ilegais por disciplinas jurídicas diversas: ilícitos civis, ilícitos
tributários e ilícitos penais, entre outros. Assim, tanto os profissio-
nais, quanto os clientes, podem ser responsabilizados, inclusive por
meio de processo criminal”81. E prosseguem:

apesar da gravidade dessas consequências, o que habitualmente


se vê são operações grosseiras, sustentadas na certeza da
impunidade. Os empresários que embarcam nessas canoas furadas
encantam-se por discursos ardilosos que asseveram as maravilhas
de intervenções protetivas do patrimônio, mas omitem todos os
riscos que estão envolvidos, inclusive a possibilidade de condenação
criminal, e as próprias fragilidades das medidas tomadas82.

1.6 Gama de informações na internet.


Infelizmente, se pesquisarmos nos sites de pesquisa na inter-
net a expressão “blindagem patrimonial”, teremos acesso a uma
gama de informações de como ocultar o patrimônio. É inegável que
o devedor inescrupuloso consegue ter acesso a toda uma rede de
81 Idem, ibidem.
82 Idem, ibidem.
Execução Trabalhista na Prática 151

informações e de assessoria especializada voltadas para se esquivar


da sua responsabilidade pelo pagamento das dívidas contraídas.
O referido mecanismo pode ser apresentado no mundo cor-
porativo-empresarial e em cursos e treinamentos, disponíveis na
rede mundial de computadores, com diversas denominações, tais
como “proteção patrimonial”, “planejamento societário e sucessó-
rio”, “restruturação corporativa” e “contenção de danos”.

1.7 Zona cinzenta.


As tipologias diuturnas de blindagem patrimonial situam-se,
em boa parte delas, numa zona cinzenta entre o exercício aparente
da autonomia privada e a fraude patrimonial, tais como:

(a) o adiantamento da legítima aos filhos;


(b) a colocação de bens em nome de familiares (ex. a doação
de imóvel);
(c) a constituição de empresa despida de “affectio societatis”;
(d) a criação de holding patrimonial; ou
(e) operações bancárias ou financeiras aparentemente lícitas,
porém com capacidade de frustrar a persecução patrimonial.

Sobre o assunto, Alexandre Santos Sampaio preleciona que


“o que se busca na blindagem, portanto, é evitar que o patrimônio
do sócio se dissolva na atividade empresarial [...]. [...] a doutrina e
a legislação, conforme visto, evoluíram e a simples existência da
pessoa jurídica não é mais uma blindagem eficiente contra avanços
no patrimônio dos sócios. A teoria da desconsideração possibilitou
o descortinamento da pessoa jurídica para responsabilizar dire-
tamente as pessoas físicas que estão por detrás da personalidade
jurídica”83. E prossegue:

83 SAMPAIO, Alexandre Santos. A blindagem patrimonial por interposta pessoa.


Rio de Janeiro: Processo, 2020, pp. 192/193.
152 Execução Trabalhista na Prática

Assim, a criatividade humana buscou novos meios de defender o


patrimônio dos sócios. Um dos mecanismos é através das offshore
companies que se trata de participação societária em empresas
sediadas em outro país, geralmente com ações ao portador, o que
dificulta a identificação dos sócios e o do patrimônio existente
na empresa alienígena. É um instrumento, a princípio, legítimo
e legal, visando inicialmente uma lucratividade maior através da
diferença na tributação das receitas entre os países. [...] Não são
necessariamente fraudulentas, mas podem servir como todas as
demais sociedades, de instrumento para fraudes ou abusos.
[...]
Outra forma de proteção patrimonial é a holding que se traduz
em uma empresa gestora de um conglomerado de outras
empresas o que também visa, dentre outros objetivos, dificultar o
esvaziamento patrimonial dos integrantes da mesma.
[...]
Verifica-se, portanto, que a blindagem patrimonial é um gênero que
abarca várias espécies de modalidades de mecanismos utilizados
pelos sócios para proteger seu patrimônio. Pode ser dividida também
em lícitas e ilícitas. Assim, quando determinado empreendedor
procura aportar parte dos seus recursos em uma holding empresarial,
por exemplo, é uma espécie, a princípio, de mecanismo lícito para
dificultar uma execução futura contra o seu patrimônio pessoal. [...]
Entretanto, há movimentações societárias que são completamente
maculadas com o intuito de ludibriar o credor e ter seus bens
totalmente livres de execuções. São, desde o início, fadadas a ilicitude
por visar levar ao engodo o credor. É o caso da criação de uma
empresa com utilização de interposta pessoa como sócio aparente da
empresa. É conhecido como “testa de ferro” ou ‘laranja’”84.

1.8 Reflexos negativos nos indicadores de efetividade


da execução trabalhista.
O alto grau de sofisticação do devedor trabalhista para ocul-
tar seu patrimônio e, com isso, fugir do alcance da persecução
patrimonial executória reflete (direta ou indiretamente) nos indi-
cadores do anuário JUSTIÇA EM NÚMEROS 2020 do Conselho
Nacional de Justiça – CNJ85, que apontam média nacional de taxa

84 Idem, pp. 194/196.


85 https://www.cnj.jus.br/pesquisas-judiciarias/justica-em-numeros/. Acesso em
27/08/2020.
Execução Trabalhista na Prática 153

de congestionamento na fase de execução no percentual de 82%,


equivalente ao percentual de alguns Tribunais Regionais do Trabalho.
Os indicadores apresentados revelam que a execução traba-
lhista se encontra em profunda crise de efetividade, a provocar no
credor trabalhista reflexão sobre a necessidade de aperfeiçoamen-
to contínuo do conhecimento sobre os mecanismos de ocultação
patrimonial profissionalmente utilizados pelos executados e, con-
sequentemente, de adoção de meios para neutralizá-los.

2 Antídotos jurídico-normativos e jurisprudenciais.


Visando combater a blindagem patrimonial, com vistas a ga-
rantir a preservação da patrimonialidade do devedor como salva-
guarda do crédito trabalhista, neste tópico são apresentados os an-
tídotos jurídico-normativos e jurisprudenciais mais eficazes contra
as fraudes patrimoniais perpetradas do devedor.
Acerca da relevância na compreensão destes institutos como
forma de coibir, eficazmente, as fraudes patrimoniais, afirmam Gilber-
to Gomes Bruschi, Rita Dias Nolasco e Rodolfo da Costa Manso Real
Amadeo que “nosso sistema contempla institutos aptos à recomposi-
ção do patrimônio do devedor: a fraude contra credores (vício social
do negócio jurídico), a fraude à execução e a fraude de bem constrito
judicialmente (que é uma espécie de fraude de execução). O objetivo
de tais institutos é impedir que atos fraudatórios de dissipação dos
bens do executado possam frustrar a satisfação do crédito não adim-
plido voluntariamente, que, consequentemente frustrará a própria tu-
tela jurisdicional executiva”86. Ressaltam, ainda, que

a fraude é inegavelmente um problema crescente no Brasil.


Sabemos que enquanto houver negócios, haverá fraude, todavia,
pode-se reduzir o risco de fraude. Assim, além dos esforços para
manter a lealdade e a boa-fé nos negócios, é imperativa a existência
de meios eficazes de combate à fraude. A fraude contra credores,
a fraude à execução e a desconsideração da personalidade são

86 BRUSCHI, Gilberto Gomes; NOLASCO, Rita Dias; AMADEO, Rodolfo da Costa


Manso Real. Fraudes patrimoniais e a desconsideração da personalidade jurídica
no código de processo civil de 2015, 1ª ed. São Paulo: RT, 2016 (E-book).
154 Execução Trabalhista na Prática

institutos de grande relevância e precisam ser fortalecidos para que


possam coibir de forma eficaz as fraudes. O enfraquecimento de tais
institutos de repressão à fraude enfraquece todo o sistema jurídico
brasileiro, atingindo a economia brasileira e os valores sociais87.

Faremos uma imersão nos seguintes institutos civis e pro-


cessuais nesta ordem: simulação, fraude contra credores, fraude
à execução, desconsideração inversa da personalidade jurídica e
fraude ao sistema legal de caráter cogente.
Estes remédios jurídicos se bem aplicados no caso concreto
podem solucionar a execução trabalhista com a recuperação do
crédito exequendo.
O objetivo deste capítulo é apresentar um vasto arcabouço
normativo em torno de tais institutos, sempre com viés prático e
inter-relacionando com estudo de casos práticos, como forma de
maior compreensão desta temática.

2.1 Simulação.
2.1.1 Breves noções conceituais.
Conquanto esteja relacionado ao direito material, o instituto
da simulação encontra-se diretamente conectado com a execução
trabalhista, pois o ajuste simulatório trata-se de uma das formas
mais comuns da blindagem patrimonial e, consequente, esvazia-
mento da garantia do crédito exequendo.
Com efeito, a licitude dos negócios jurídicos pressupõe o
respeito aos requisitos de validade dos atos jurídicos em geral. Dis-
so decorre que o negócio celebrado em descompasso com tais
requisitos incorrerá na antijuridicidade com a respectiva sanção de
nulidade ou anulabilidade, a depender da gravidade.
Entre as condutas antijurídicas, destaca-se a simulação que
é um vício social de formação do negócio jurídico, sendo consi-
derada a ausência de conexão entre a aparência e o conteúdo do
negócio jurídico, com motivo determinante ilícito, nos termos dos
seguintes artigos do Código Civil:

87 Idem, ibidem.
Execução Trabalhista na Prática 155

CC. Art. 166, caput. É nulo o negócio jurídico quando: III - o


motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito.
CC. Art. 167, caput. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá
o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.

Para Clóvis Beviláqua, a simulação ocorre se e quando hou-


ver “declaração enganosa da vontade, visando a produzir efeito
diverso do ostensivamente indicado”88.
Representa, pois, uma teia de falsidades tecida em conluio
entre os envolvidos no pacto simulatório, visando a fraude ou, se-
gundo Francesco Ferrara, “esse negócio, pois, é destinado a pro-
vocar uma ilusão no público, que é levado a acreditar na sua exis-
tência ou na sua natureza, tal como aparece declarada, quando,
na verdade, ou não se realizou um negócio ou se realizou outro
diferente do expresso no contrato”89.
Por sua vez, Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade pontu-
am que a simulação “consiste na celebração de um negócio jurídico
que tem aparência normal, mas que não objetiva o resultado que
dele juridicamente se espera, pois há manifestação enganosa de
vontade. O propósito daqueles que simulam o negócio jurídico e
estão em concerto prévio é enganar terceiros estranhos ao negó-
cio jurídico ou fraudar a lei”90.
Finaliza Francesco Ferrara, asseverando que o ato simulado
constitui na produção de um fantasma jurídico91.

2.1.2 Elementos característicos.


A partir desses contornos conceituais, extraem-se os seguintes
elementos da simulação: (i) divergência intencional entre a manifesta-
ção de vontade e a declaração; (ii) concurso de pessoas; e (iii) objeti-
vo de induzir a erro terceiros estranhos ao negócio jurídico.

88 BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria geral do direito civil. 3ª ed. Rio de Janeiro: MJN,
1966, p. 239.
89 FERRARA, Francesco. A simulação dos negócios jurídicos. São Paulo: Saraiva,
1939, p. 51.
90 NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil comentado, 3ª
ed. São Paulo: RT, 2019 (E-book), cit.CC 167, coment. 5.
91 FERRARA, Francesco, ob. cit, p. 53.
156 Execução Trabalhista na Prática

Estas são as características da simulação absoluta, diferindo


basicamente da simulação relativa apenas no que tange à existência
de um quarto elemento, notadamente o contrato efetivo (real),
também denominado de oculto ou dissimulado.
Realizando uma sintética comparação, na simulação absoluta
nenhum negócio jurídico se deseja praticar, ao passo que, na si-
mulação relativa, realiza-se um negócio (simulado) ostensivo para
conhecimento de terceiros, quando outro se deseja praticar, que
é o contrato dissimulado, assim considerado o verdadeiro negócio
querido pelos contratantes, que permanece oculto.
Acerca da simulação relativa, apresentam-se os Enunciados
das Jornadas de Direito Civil promovidas pelo Conselho da Justiça
Federal (CJF/STJ):

Enunciado 153 da III Jornada de Direito Civil. Na simulação


relativa, o negócio simulado (aparente) é nulo, mas o dissimulado
será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a terceiros.
Enunciado 293 da IV Jornada de Direito Civil. Na simulação
relativa, o aproveitamento do negócio jurídico dissimulado
não decorre tão-somente do afastamento do negócio jurídico
simulado, mas do necessário preenchimento de todos os requisitos
substanciais e formais de validade daquele.

Na jurisprudência, elenca-se o seguinte exemplo prático de


simulação relativa (negócio jurídico dissimulado):

EMENTA: CIVIL. CONTRATO DE MÚTUO COM CLÁUSULA


DE GARANTIA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. [...] SIMULAÇÃO
DO NEGÓCIO JURÍDICO. NULIDADE. [...] O contrato de
financiamento do automóvel, objeto da presente ação, se limitou
ao aspecto meramente formal; o negócio jurídico latente,
porém verdadeiramente querido pelas partes, foi a contratação
de empréstimo para viabilizar o ingresso do irmão do apelado
no quadro social da empresa da família, sendo que o montante
emprestado prestar-se-ia a cobrir dívida do espólio. Nulidade
do contrato de financiamento mediante alienação fiduciária,
negócio jurídico aparente, simulado, que não representa a real
Execução Trabalhista na Prática 157

vontade dos contratantes. Validade do ajuste dissimulado, isto é,


do contrato de empréstimo levado a cabo pelo apelado e pelo
seu irmão, a fim de viabilizar o ingresso deste no quadro social
da firma supracitada, nos termos do artigo 167, do Código Civil,
e de acordo com o Enunciado nº 153, aprovado na III Jornada de
Direito Civil promovida pelo Conselho da Justiça Federal.[...]
(TRF3 - AC 19621 SP 1999.03.99.019621-0 - Primeira Turma -
Relatora Desembargadora Vesna Kolmar - Data de Julgamento:
08/02/2011)

2.1.3 Hipóteses legais.


Estabelecidos os contornos conceituais e fixados os elemen-
tos que distinguem a simulação absoluta da relativa, passa-se à aná-
lise das hipóteses legais de simulação previstas no §1º do art. 167
do CC:

Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:


I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas
daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não
verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-
datados.

Na primeira hipótese, está-se diante de simulação por in-


terposição de pessoa, na qual se apresenta um sujeito diverso da-
quele que efetivamente deveria figurar como contraente. Portan-
to, nesta modalidade é celebrado um negócio jurídico real, porém
com uma parte figurante – figura conhecida do “testa de ferro” ou
“laranja” –, ficando oculta a parte verdadeira ou “pessoa real”.
Já a segunda modalidade refere-se à celebração de ne-
gócio jurídico não verdadeiro, tal como ocorre, por exemplo, na
constituição e transferência da titularidade da empresa para “laran-
jas”, por meio de alteração fraudulenta de cláusula contratual, ou
na celebração de empréstimo inexistente, ambas as situações com
o desiderato de lesar os credores.
158 Execução Trabalhista na Prática

Por fim, a terceira hipótese pode ser ilustrada quando os con-


traentes simuladores, com o espoco de situar o negócio jurídico em
período temporal inverossímil, antedatam ou pós-datam o documento.

2.1.4 Proteção dos terceiros afetados: admissibilida-


de de prova indiciária.
Realizado breve delineamento das hipóteses legais, avança-
-se na questão relativa à proteção dos terceiros afetados, especial-
mente os credores trabalhistas, frente ao negócio jurídico simulado.
O sistema jurídico assegura que os credores não sejam pre-
judicados com a transferência fictícia do patrimônio do devedor,
que constitui a garantia de adimplemento do crédito exequendo.
Nada obstante, é importante destacar que – diante da natureza
insidiosa, sorrateira do pacto simulatório prévio à celebração do negó-
cio jurídico simulado e geralmente verbal, e de difícil demonstração de
sua existência no processo – os credores prejudicados, na maioria das
vezes, somente conseguirão desvelar a simulação por meio de indícios
e presunções, com amparo nos artigos 369 e 375 do CPC:

CPC. Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os


meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que
não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos
em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na
convicção do juiz.
CPC. Art. 375. O juiz aplicará as regras de experiência comum
subministradas pela observação do que ordinariamente acontece
e, ainda, as regras de experiência técnica, ressalvado, quanto a
estas, o exame pericial.

Bem por isso que se exige apenas a verdade provável da


ocorrência da simulação extraída da combinação dos elementos
indiciários de prova, devendo-se observar a natureza do negócio,
a reputação dos envolvidos no pacto e o contexto fático em sua
realização. Neste sentido, conforme doutrina abalizada de Carlos
Roberto Gonçalves, “tendo em vista a dificuldade para se provar o
Execução Trabalhista na Prática 159

ardil, o expediente astucioso, admite-se a prova da simulação por


indícios e presunções (... CPC/2015, arts. 369 e 375)”92.
Em reforço, Araken de Assis obtempera que “as naturais di-
ficuldades de produzir prova hábil dessas maquinações, em geral
dissimuladas (dissimulação fraudulenta), obriga o largo emprego de
indícios para formar o convencimento do órgão judicial, a exemplo
da transmissão do bem a quem não ostenta condições financeiras
para adquiri-lo [...]”93.
Em igual sendeiro, o TST vem decidindo que “doutrina e
jurisprudência são uníssonas em reconhecer que a prova indiciá-
ria constitui elemento de convicção apto a surpreender tal vício.
É que os atores envolvidos nessa trama, agindo com unidade de
desígnios, criam situação de aparente legalidade para ocultar a real
intenção buscada com o embuste. Assim, como ninguém passa re-
cibo de fraude, sobre ela não se pode exigir prova inconcussa”94.
Dada a sua relevância, transcreve-se o seguinte trecho do
acórdão proferido pelo TRF da 3ª Região, que muito bem delineou
a admissibilidade de prova indiciária no contexto de ajuste simula-
tório no fenômeno da blindagem patrimonial, citando as lições do
civilista Sílvio de Salvo Venosa:

[...] Não existem documentos e testemunhas demonstrando


cessão ou transferência gratuita explícita de ativos entre pessoas.
Não há confissão específica da simulação absoluta e nenhuma
prova singela demonstra, por si, os fatos alegados pela Fazenda
Nacional. Mais isso é óbvio e já seria de se esperar; porque
ninguém que pratica uma fraude pretende deixar vestígios desse
ato ilícito. Por isso, a prova indiciária sempre assume especial
importância nesse contexto processual.
[...] É patente que o ato simulado, por essência, será tão mais bem
sucedido quanto menores forem os vestígios por ele deixados. Melhor
será a simulação quanto mais verdadeiro parecer o ato simulado.

92 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral, 17ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2019 (E-book).
93 DE ASSIS, Araken. Manual da execução, 20ª ed. São Paulo: RT, 2018 (E-book).
94 TST - RO: 455003720105030000 - Subseção II Especializada em Dissídios Indivi-
duais – Relator Min. Luiz José Dezena da Silva - Data de Julgamento: 19/11/2019
- Data de Publicação: DEJT 29/11/2019.
160 Execução Trabalhista na Prática

Ninguém realiza uma simulação para que ela seja descoberta pelas
autoridades. Portanto, a simulação só é provada por indícios e
por provas indiretas; especialmente em hipóteses como a destes
embargos, em que há especial dificuldade na apuração da origem
dos ativos da embargante pelo fato de ser ela integrada por empresa
sediada em paraíso fiscal (Ilhas Virgens Britânicas).
De acordo com o magistério do professor Sílvio de Salvo Venosa:
É difícil e custosa a prova da simulação. Por sua própria natureza, o
vício é oculto. As partes simulantes procuram cercar-se de um manto
para encobrir a verdade. O trabalho de pesquisa da prova deve ser
meticuloso e descer a particularidades.
Raramente, surgirá no processo a chamada “ressalva” (contracarta
ou contradocumento, documento secreto), isto é, documento que
estampa a vontade real dos contratantes e tenha sido elaborado
secretamente pelos simulantes. Em razão disso, devem as partes
prejudicadas recorrer a indícios para a prova do vício.
O intuito da prova da simulação em juízo é demonstrar que há ato
aparente a esconder ou não outro. Raras vezes, haverá possibilidade
da prova direta. Os indícios avultam de importância. Indício é rastro,
vestígio, circunstância suscetível de nos levar, por via de inferência, ao
conhecimento de outros fatos desconhecidos. A dificuldade da prova
nessa ação costuma desencorajar os prejudicados.
[...] O estatuto processual [...] Reza, porém, seu art. 332: “Todos
os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos
fatos, em que se funda a ação ou a defesa”.
Acrescenta, a propósito, o art. 335: “Em falta de normas jurídicas
particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas
pela observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras da
experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial”.
Como vemos, é ampla a possibilidade de o juiz valer-se dos indícios
para pesquisar a simulação. A presunção também é outro meio de
prova útil no caso. Presunção é a ilação que o julgador tira de um fato
conhecido para chegar a um fato desconhecido.
É importante, para concluir pela simulação, estabelecer um quadro,
o mais completo possível, de indícios e presunções. São indícios
palpáveis para a conclusão positiva de simulação: parentesco ou
amizade íntima entre os contraentes; preço vil dado em pagamento
para coisa valiosa; falta de possibilidade financeira do adquirente (que
pode ser comprovada com a requisição de cópia de sua declaração
de Imposto de Renda); o fato de o adquirente não ter declarado na
relação de bens, para o Imposto de Renda, o bem adquirido.
Um dos principais indícios de simulação é a pesquisa da causa
simulandi. A primeira pergunta que deve fazer o julgador é: possuíam
Execução Trabalhista na Prática 161

os contraentes motivo para praticar um ato simulado? Assim como o


criminoso tem um móvel para o crime, os simuladores têm um móvel
para a prática do negócio viciado.
A segunda pergunta que se deve fazer no exame de um caso de
simulação é: possuíam os contraentes necessidade de praticar o
negócio simulado? Tal necessidade pode ser de variada natureza. O
caso concreto dará a resposta.
A resposta afirmativa a essas duas questões induz o julgador a decidir
pela existência da simulação.
Outros indícios, porém, formarão o complexo probatório: alienação
de todo o patrimônio do agente ou de grande parte dele; relações já
citadas de parentesco ou amizade íntima entre os simuladores, bem
como relação de dependência hierárquica ou meramente empregatícia
ou moral; antecedentes e a personalidade do simulador; existência
de outros atos semelhantes praticados por ele; decantada falta de
possibilidade financeira do adquirente: preço vil; não-transferência de
numerário no ato nas contas bancárias dos participantes; continuação
do alienante na posse da coisa alienada; o fato de o adquirente não
conhecer a coisa adquirida. (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil:
parte geral. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2003. pp.483-4).
(TRF3 - Ap 00235141120154039999 SP - Sexta Turma - Relator
Desembargador Johonsom Di Salvo - Data de Julgamento:
28/02/2019)

Para ilustrar a dificuldade de comprovar cabalmente os ne-


gócios jurídicos simulados, confira-se, ainda, a jurisprudência dos
demais Tribunais pátrios:

EMENTA: RECURSO ESPECIAL. CIVIL, EMPRESARIAL E PRO-


CESSUAL CIVIL. AÇÕES. COMPRA E VENDA. PODER DE
CONTROLE. ACORDO DE ACIONISTAS. DIREITO DE PREFE-
RÊNCIA. DESCUMPRIMENTO. SIMULAÇÃO. AQUISIÇÃO POR
INTERPOSTA PESSOA. NEGÓCIO JURÍDICO. NULIDADE. 1.
Ação ordinária por intermédio da qual se busca a declaração de
nulidade da compra e venda de ações efetuadas em possível des-
cumprimento a acordo de acionistas e mediante simulação. [...] 3.
Há simulação, causa de nulidade do negócio jurídico, quando, com
o intuito de ludibriar terceiros, o negócio jurídico é celebrado para
garantir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se
conferem ou transmitem. […] Diante da enorme dificuldade
de produção de prova cabal e absoluta da ocorrência de
162 Execução Trabalhista na Prática

simulação, é facultado ao julgador valer-se das regras de


experiência, bem como de indícios existentes no processo
para considerar presente o vício que invalida o negócio jurí-
dico. 8. Recurso especial provido.
(STJ - REsp 1620702/SP - 3ª Turma - Relator Ministro Ricardo
Villas Bôas Cueva - Data de publicação: 29/11/2016) (grifamos)

EMENTA: EMBARGOS DE TERCEIRO. FRAUDE À EXECUÇÃO.


Hipótese em que evidenciada a fraude na transferência de veículo
após a citação do executado no feito originário. A colusão e a
simulação, por se constituírem fatos de difícil comprovação,
não exigem prova cabal e exaustiva, podendo-se entender
configuradas pela presença de indícios que apontem para a
sua ocorrência.
(TRT4 - AP 0000506-38.2012.5.04.0771 – Relator Desembargador
George Achutti - Data de Julgamento: 11/12/2012) (grifamos)

EMENTA: RECURSO INOMINADO. EMBARGOS DE TERCEI-


RO. PENHORA DE VEÍCULO AUTOMOTOR. ALEGAÇÃO DE
IMPENHORABILIDADE. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE
QUALQUER CAUSA IMPEDITIVA À PENHORA. Havendo indí-
cios de simulação da venda entre mãe e filho que, inclusive,
culminou no reconhecimento de fraude à execução, e ine-
xistindo provas que justifiquem a impossibilidade de que sobre o
bem recaia penhora, a constrição deve prevalecer, como forma de
garantir o cumprimento da execução. [...]
(TJRS - Recurso Cível: 71006484075 RS - Segunda Turma -
Relatora Desembargadora Elaine Maria Canto da Fonseca - Data
de Julgamento: 13/09/2017) (grifamos)

2.1.5 Sanção jurídica do ajuste simulatório.


Uma vez caracterizada a simulação no curso da execução,
que se trata de questão de ordem pública, de relevante interesse
social, aplica-se a sanção jurídica mediante a declaração de nuli-
dade do negócio jurídico simulado e avança-se com a execução
trabalhista em face do bem objeto da avença invalidada.
Ressalta-se que, por se tratar de hipótese de nulidade abso-
luta do negócio jurídico, é possível o reconhecimento incidental da
Execução Trabalhista na Prática 163

nulidade no processo, que pode se dar por decisão “ex officio” do


juiz ou por iniciativa da parte exequente, veiculando a pretensão
desconstitutiva do negócio simulado por meio de petição simples95.
Neste diapasão, preconiza o parágrafo único do art. 168 do
CC que “as nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando
conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar
provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requeri-
mento das partes”, complementado pelo art. 169, segundo o qual
“o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem con-
valesce pelo decurso do tempo”.
A respeito, dispõe o Enunciado 578 da VII Jornada de Di-
reito Civil promovida pelo Conselho da Justiça Federal (CJF/STJ)
que “sendo a simulação causa de nulidade do negócio jurídico, sua
alegação prescinde de ação própria”.

2.1.6 Estudo de casos práticos.


• Exemplo 1:
Dentre as situações fáticas comuns de simulação que afetam
diretamente a persecução patrimonial executória, pode-se elencar
a prática de negócio jurídico fictício, isto é, sem substância econômica
ou motivação negocial, envolvendo pessoa que não possui condições
materiais de assumir posições jurídicas, com vistas a remover ou dimi-
nuir a garantia patrimonial dos credores do agente simulador.
Exemplo prático bastante comum na praxe forense é a simu-
lação de compra e venda de bem imóvel com objetivo de ocultar o
patrimônio do devedor e, com isto, fraudar a execução trabalhista.
No caso concreto, em breve síntese, a empresa executada alie-
nou no curso da execução trabalhista seu imóvel sede para suposto
terceiro de boa-fé. Ocorre que o suposto comprador, figurando como
terceiro embargante contra a penhora realizada sobre o referido bem
imóvel, em verdade, era sócio minoritário numa sociedade empresa-
rial, na qual possuía como sócia majoritária a filha dos proprietários da
empresa executada, sendo certo, ainda, que o terceiro embargante
não tinha sequer lastro patrimonial para efetuar a transação.

95 NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade, ob. cit. CC 166, coment. 4.
164 Execução Trabalhista na Prática

A respeito, transcreve-se trecho do acórdão96 do TRT da 2ª


Região que detalha a simulação do mencionado negócio jurídico:
Além disso, como bem pontuou o MM. Juízo de origem:

“(...) o terceiro embargante, THIAGO DA COSTA, não é


estranho às relações empresariais das executadas METALÚRGICA
DANIELA e DIVINO APARECIDO EPP, tampouco agiu de boa-fé.
Com efeito, em consulta aos convênios eletrônicos (INFOJUD) e
considerando os extratos da JUCESP apresentados pelo embargado
e contido nos autos principais, constata-se que uma das sócias da
Metalúrgica Daniela, MARIA JOSÉ MARTINS DOS SANTOS GARCIA
é genitora da Sra. DANIELA MARTINS GARCIA, a qual é sócia,
juntamente com sua genitora, na empresa MADELAJE COMÉRCIO
DE MATERIAIS PARA CONSTRUÇÕES LTDA (p. 53 do PDF - ID
d91232c), cujo objeto social é complementar aos das executadas.
Ademais, a sra. Daniela, filha dos sócios da METALÚRGICA
DANIELA - que alienou o imóvel sub judice - também é sócia
do terceiro embargante Thiago da Costa, na empresa OXMAD
OXIGENIO LTDA, com atividade econômica principal de
comércio de ferragens, também com objeto social correlato ao da
executada na execução principal (metalurgia de alumínios e ligas,
fabricação de ferramenta, máquinas para metalurgia - ID 11b02f1
do PJE 1002136-90.2015.5.02.0342).
Prosseguindo no deslinde da querela, em consulta ao sistema
INFOJUD, verifica-se que a evolução patrimonial informada pelo
terceiro embargante à Receita Federal, no ajuste anual do IRPF,
revela que este não detém condições financeiras para quitar à vista
o valor de R$ 160.000,00, como constou na escritura de compra e
venda do imóvel (p. 16 do PDF - ID 6976aaf).
Isso porque seu rendimento anual declarado em 2017, relativo
ao exercício de 2016, era de apenas R$ 26.780,00, perfazendo o
rendimento médio por mês de R$ 2.231,66.
Já no que tange ao ano de 2015, declarado em 2016, a sua renda
anual limitou-se a R$ 27.650,00, com média mensal de R$ 2.304,16.
Ainda de acordo com suas declarações de IRPF, não consta
qualquer outro patrimônio (ex. de aplicações financeiras, bens
móveis ou imóveis, títulos mobiliários etc.) que gerasse condições

96 TRT da 2ª Região - Agravo de Petição nº 10005111620185020342 SP - 3ª Turma


- Relatora Desembargadora Margoth Giacomazzi Martins - Data de Publicação:
30/04/2019.
Execução Trabalhista na Prática 165

financeiras para o desembolso do valor para compra do imóvel,


sequer há eventual declaração de empréstimo bancário para
desembolsar o montante de R$ 160.000,00.
A única fonte de renda do terceiro embargante limita-se aos
dividendos decorrentes das cotas sociais da empresa Oxmad
Oxigenio Ltda, ressaltando-se que sua participação societária é
assaz diminuta, notadamente no importe de R$ 200,00.
Portanto, segundo as máximas de experiência do que ordinariamente
acontece (arts. 8º e 375, do CPC), a renda comprovada do terceiro
embargante é absolutamente incapaz de gerar a aquisição de um
imóvel com 2.500 metros quadrados, que era sede de uma empresa
metalúrgica, com mais de 170 empregados, como informado nos
autos principais (p. 493 do PDF - ID 240741c).
Ademais, pela dimensão do prédio comercial - 2.500 metros
quadrados - o valor da venda (R$ 160.000,00) não se revela compatível
com o ordinariamente praticado no mercado imobiliário.
E, por fim, o embargante não comprovou que efetivamente pagou
pelo imóvel adquirido e o meio pelo qual efetuou a quitação -
cheque, transferência bancária, dentre outros, situação que
robustece sobremaneira a fraude descortinada.
Pelo quadrante fático traçado, é patente que houve a simulação
do negócio jurídico de transmissão de imóvel, tendo a empresa
executada o claro intuito de frustrar o crédito exequendo,
restando caracterizada não só a intenção de dilapidar o patrimônio,
induzindo à insolvência, como também o conluio da executada
com o suposto terceiro - Thiago da Costa - sócio da filha dos
proprietários da empresa alienante, com relação comercial
intrínseca com estas e sem lastro patrimonial para desembolsar a
vultosa quantia de R$ 160.000,00 à vista.
Em suma, é bem de ver que o “modus operandi” da empresa
executada METALÚRGICA DANIELA traduz-se na prática de
blindagem, dilapidação e ocultação patrimonial, na medida em que
faz desaparecer o liame entre o executado e o seu patrimônio,
objetivando vincular seu patrimônio a interpostas pessoas, a fim
de dissimular sua propriedade, mediante a transferência de seu
patrimônio para pessoas componentes de seu círculo próximo,
com vistas a dificultar identificação de patrimônio passível de
expropriação para saldar dívida de natureza alimentar.
Trata-se, portanto, o embargante de terceiro de má-fé” (ID.
8156cbf, pág. 4/6 - fl. 79/81 do PDF).
A manutenção da r. sentença de origem é, pois, medida que se
impõe.
166 Execução Trabalhista na Prática

• Exemplo 2:
Como segundo exemplo prático, menciona-se a hipótese em
que o devedor no intuito, a um só tempo, de ocultar seu patrimônio
e mantê-lo na sua esfera familiar, lança mão da simulação por interpo-
sição de pessoa, com vistas a criar uma segunda camada de invólucro
na fraude levada a cabo, tornando mais complexa sua identificação.
Nesta situação fática, o devedor celebra contrato de compra
e venda de bem imóvel com parte figurante (“testa de ferro”), a
qual exerce apenas a função de ponte para concretização do real
negócio jurídico do devedor alienante.
Ato contínuo, o “testa de ferro” outorga escritura de com-
pra e venda com familiar do devedor, por ex. ascendente ou des-
cendente, que é o real destinatário do bem objeto da transferência
patrimonial. Resta, pois, concluída a operação de ocultação patri-
monial por meio de simulação.
Como é patente a má-fé dos contraentes em ambos os ne-
gócios jurídicos, cujo motivo determinante é ilícito e simulado, po-
derão ser invalidados de forma incidental no curso da execução
trabalhista de ofício ou por iniciativa do credor exequente prejudi-
cado, permitindo assim a constrição do bem independentemente
do ajuizamento de ação autônoma.

• Exemplo 3:
Terceiro exemplo extraído da doutrina especializada é a hipó-
tese de simulação para encobrir a real data do negócio. Detalha Ita-
mar Gaíno que “com o mesmo objetivo de liberar seu patrimônio em
relação aos direitos do credor, o devedor firma negócio quando já
consumada a sua dívida ou quando já iniciado o processo de ação con-
denatória ou de ação executiva, fazendo-o, porém, com data falsa (an-
tedata), com isso criando a aparência de um negócio anterior, em tese
não suscetível de invalidação por terceiros credores”97. E prossegue:

97 GAÍNO, Itamar. A simulação dos negócios jurídicos, 2ª ed. São Paulo: Saraiva,
2012 (E-book).
Execução Trabalhista na Prática 167

[...] Uma vez provada a antedatação, considera-se o negócio –


efetivamente realizado – como fraude à execução e, pois, ineficaz
perante o processo executivo. Esse negócio pode subsistir entre as
partes, caso a dívida venha a ser paga durante o trâmite do processo.
Isto não acontecendo (o pagamento), a execução prosseguirá sobre
os bens transmitidos, para a satisfação do direito do credor. E uma vez
que esses bens sejam adjudicados ou arrematados, a carta respectiva
ingressará no registro por ordem judicial, invalidando-se eventuais
registros que já existam em nome do simulador-adquirente98.

• Exemplo 4:
O quarto exemplo extraído também da doutrina especializada é
a simulação da promessa de compra e venda de imóvel do devedor ce-
lebrada com pessoa de sua confiança, com objetivo de lesar o credor.
Neste caso, explica Itamar Gaíno que “a simulação eviden-
cia-se, normalmente, por indícios, como a ausência de registro do
compromisso de compra e venda no cartório competente, a au-
sência de reconhecimento das firmas das partes e das testemunhas,
a ausência de prova de pagamento do preço, a ausência de provas
documentais relacionadas ao exercício da posse, como contas de
consumo de energia elétrica, água etc” 99. E finaliza:

É possível a complementação de provas como essas por provas


orais, especialmente depoimentos de testemunhas.
A simulação é reconhecida nos próprios autos dos embargos de
terceiro. A sentença a declara, como premissa lógica da rejeição
dos embargos, e determina o seguimento da execução sobre o
bem que fora objeto do negócio fictício100.

• Exemplo 5:
Por fim, o quinto e último exemplo prático de simulação
refere-se ao seguinte caso concreto, no qual restou constatada em
juízo a transferência de praticamente todos os bens do proprietá-
rio da empresa para sua ex-esposa, por meio de escritura pública
de divórcio, visando frustrar o pagamento de crédito tributário:

98 Idem, ibidem.
99 Idem, ibidem.
100 Idem, ibidem.
168 Execução Trabalhista na Prática

EMENTA: TRIBUTÁRIO. AÇÃO CAUTELAR FISCAL. LEI


8.397/92. INDISPONIBILIDADE DE BENS. GARANTIA DE CRÉ-
DITO TRIBUTÁRIO. [...] TRANSFERÊNCIA DE BENS À EX ES-
POSA. ESCRITURA DE DIVÓRCIO. SIMULAÇÃO. [...] 1. A Lei
8.397/92 instituiu a medida cautelar fiscal para que a Fazenda Pú-
blica, diante da possibilidade de ver frustrado o pagamento de seus
créditos fiscais, dela se utilizasse para resguardar o patrimônio dos
responsáveis pela dívida. [...] 5. A medida cautelar fiscal pode ser
direcionada não só contra o sujeito passivo do crédito expressa-
mente indicado, mas também contra terceiro que, em princípio,
não figurava do processo administrativo. 6. No caso concreto, o
auto de infração, lavrado em face de empresa individual, apurou
créditos a título de IRPJ (omissão de receita) que ultrapassam 30%
do patrimônio conhecido do administrador da empresa. 6. Em se
tratando de empresa individual, os bens do proprietário respon-
dem integralmente pelos débitos da pessoa jurídica, não haven-
do que se falar em separação jurídica entre seus bens pessoais
e os seus negócios. 7. Os fatos e provas indicam a transferência
de bens do proprietário da empresa à sua esposa, com redução
significativa do patrimônio, o que resultou na inexistência de bem
ou direito a integrar o ativo circulante da empresa, o que poderia
inviabilizar a cobrança da dívida, no valor de mais de 8 milhões de
reais. 8. A transferência de praticamente todos os bens ocorreu por
meio de escritura pública de divórcio, ocorrida logo após à notificação
enviada ao contribuinte do Termo de Início de Procedimento Fiscal da
empresa. 9. Presença de fortes indícios de irregularidades e fraude.
Caracterizada simulação visando elidir pagamento de débitos origina-
dos com as atividades da empresa. [...].
(TRF3 - ApCiv 00030329720154036133 SP - Sexta Turma -
Relatora Desembargadora Consuelo Yoshida - Data de Julgamento:
28/11/2019) (destacamos)

3 Tipologias mais comuns de blindagem patrimonial.


Compreendidos os antídotos jurídico-normativos e juris-
prudenciais, adentra-se no exame minucioso das tipologias mais
comuns de blindagem patrimonial no contexto da execução tra-
balhista, quais sejam: interposição de pessoas; negócios jurídicos
fraudulentos; estruturas societárias fraudulentas; e instrumentos
de blindagem patrimonial de natureza financeira.
Execução Trabalhista na Prática 169

3.3 Estruturas societárias fraudulentas.


Neste tópico, daremos enfoque a duas estruturas societárias
fraudulentas comumente utilizadas para lesar os credores traba-
lhistas, sendo consubstanciadas em empresa de fachada e socieda-
de holding.

3.3.1 Empresa de fachada.


3.3.1.1 Empresa de fachada é uma realidade no cenário
jurídico pátrio.
A constituição de empresa de fachada é uma realidade no
cenário jurídico, conforme trouxe à tona o Ministro RICARDO
LEWANDOWSKI, em seu voto no julgamento da ADC 16, em
24/11/2010, que tratou acerca da possibilidade ou não de conde-
nação subsidiária da Administração Pública, quando figurar como
tomadora de serviços terceirizados, ao pagamento das obrigações
trabalhistas inadimplidas pela empresa contratada:

Na verdade, eu tenho acompanhado esse entendimento do


Ministro Cezar Peluso , no sentido de considerar a matéria
infraconstitucional, porque, realmente, ela é decidida sempre em
um caso concreto, se há culpa ou não , e cito um exemplo com
o qual nós nos defrontamos quase que cotidianamente em
ações de improbidade. São empresas de fachada, muitas
vezes constituídas com capital de mil reais, que participam
de licitações milionárias e essas firmas, depois de feitas ou
não feitas as obras objeto da licitação, desaparecem do
cenário jurídico e mesmo do mundo fático. E ficam com
um débito trabalhista enorme. O que ocorre, no caso? Está
claramente configurada a  culpa in vigilando e in eligendo da
Administração. [...]. (destacamos)

3.3.1.2 Conceito de empresa.


Segundo o art. 966 do Código Civil, “considera-se empresá-
rio quem exerce profissionalmente atividade econômica organiza-
da para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”.
170 Execução Trabalhista na Prática

A partir da definição legal do que seja empresário, a doutri-


na chega na conceituação da empresa, assim compreendida como
uma “atividade econômica organizada de produção e circulação de
bens e serviços para o mercado, exercida pelo empresário, em
caráter profissional, através de um complexo de bens”101.
Portanto, a empresa é formada pelo seguinte tripé: pessoa
(empresário), bens (estabelecimento empresarial) e atividade eco-
nômica (com vistas à produção ou circulação de bens ou serviços).
Disso se extrai sua composição: elementos humanos, materiais, fi-
nanceiros e técnicos (fatores de produção).

3.3.1.3 Traçando os contornos da empresa de fachada.


Com a amparo na definição de empresa e no estudo dos
seus elementos característicos, extraímos os contornos da empre-
sa de fachada, a qual é considerada aquela que não se destina à ex-
ploração de atividade econômica de forma lícita, afastando-se dos
requisitos para a sua definição como empresa, de modo que deve
ser reprimida pelo sistema jurídico.
Nessa ordem de ideais, a empresa de fachada constitui mo-
dalidade de engenharia societária fraudulenta, pois não tem ativida-
de econômica. Serve única e exclusivamente para ocultação do pa-
trimônio do devedor, mediante simulação de diversos serviços, de
operações comerciais com emissão de notas fiscais fraudulentas,
de intermediação de negociatas, como exemplo comum a realiza-
ção de operações simuladas de mútuo, formando, assim, um com-
plexo emaranhado de transações comerciais e financeiras voltadas
a dificultar a rastreabilidade do patrimônio do devedor.
Para conferir ares de licitude de tais operações comerciais
e financeiras, e consequentemente desenvolver de forma artificial
atividade econômica, as empresas de fachada apresentam-se como
parceiros comerciais, clientes ou prestadores de serviços do devedor.

101 NEGRÃO, Ricardo. Curso de direito comercial e de empresa, volume 1: teoria


geral da empresa e direito societário, 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019 (E-book).
Execução Trabalhista na Prática 171

A empresa de fachada pode ser constituída já com a fina-


lidade fraudulenta, ou derivar do aproveitamento de sociedades
empresariais inativas.
Esta engenharia societária fraudulenta provoca a ruptura do
rastro financeiro, embaraçando, assim, a identificação de seu be-
neficiário final102. Trata-se, pois, de mais uma forma de blindagem
patrimonial, uma vez que propicia o mascaramento do patrimônio
do devedor em pessoas jurídicas fraudulentamente constituídas.
Geralmente, estas sociedades empresariais utilizam o me-
canismo de interposição de pessoas, sendo, pois, constituídas em
nome de familiares, “laranjas” ou testas de ferro. Ademais, pos-
suem duração limitada no tempo, ou seja, vão sendo descartadas
na medida em que se tornem conhecidas dos aparelhos estatais
(ex. Fisco e Judiciário).

3.3.1.4 Empresa de fachada à luz da legislação tributária.


A legislação tributária enquadra a empresa de fachada como
hipótese de simulação tributária, tendo como consequência jurídi-
ca a declaração de nulidade da inscrição estadual e responsabiliza-
ção dos envolvidos na fraude.
Neste sentido, a título de ilustração, o RICMS/SP – Regulamen-
to do ICMS do Estado de São Paulo, em seu art. 30, considera nula a
inscrição no Cadastro de Contribuintes do ICMS, nas situações em
que, mediante procedimento administrativo, for constatada:

I - simulação de existência do estabelecimento ou da empresa;


II - simulação do quadro societário da empresa;
III - inexistência do estabelecimento para o qual foi concedida a
inscrição;
IV - indicação incorreta da localização do estabelecimento;
V - indicação de outros dados cadastrais falsos.

102 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Roteiro de atuação: persecução patrimonial


e administração de bens. Brasília: MPF, 2017.
172 Execução Trabalhista na Prática

Por sua vez, o §1° do referido art. 30 dispõe que se considera


simulação:

1 – a existência do estabelecimento ou da empresa quando:


a) a atividade relativa a seu objeto social, segundo declaração do
contribuinte, não tiver sido ali efetivamente exercida;
b) não tiverem ocorrido as operações e prestações de serviços
declaradas nos respectivos registros contábeis e fiscais.
2 – relativamente ao quadro societário, quando a sociedade ou
entidade for composta por pessoa interposta, assim entendidos os
sócios, diretores ou administradores que:
a) não sejam localizados nos endereços informados como sendo
de sua residência ou domicílio;
b) não disponham de capacidade econômica compatível com as
funções a eles atribuídas;
c) sejam constatadas pelo fisco evidências da qualidade de pessoa
interposta.

Mais adiante, o art. 31, em seu caput, disciplina as hipótese


de cassação da eficácia da inscrição do contribuinte no Cadastro de
Contribuintes do ICMS, cabendo destacar a hipótese prevista no
inciso II: prática de atos ilícitos que tenham repercussão no âmbito
tributário.
O §2º do referido dispositivo elenca, entre as situações de
atos ilícitos, “a participação em organização ou associação consti-
tuída para a prática de fraude fiscal estruturada, assim entendida
aquela decorrente da implementação de esquema de evasão fiscal
mediante artifícios envolvendo a simulação ou dissimulação de atos,
negócios ou pessoas, e com potencial de lesividade ao erário;”.
Detalhando as ocorrências fiscais relacionadas à empresa de
fachada, a Portaria CAT 95/2006, que dispõe sobre a suspensão,
cassação e nulidade da eficácia da inscrição no Cadastro de Con-
tribuintes do ICMS do Estado de São Paulo, estão as práticas frau-
dulentas de simulação de estabelecimento ou de quadro societário
ou com a indevida emissão de documentos fiscais, conforme §2º
do art. 3º:
Execução Trabalhista na Prática 173

§ 2º - Nas hipóteses do inciso III e do item 2-A do § 1º, caso


seja constatado, ainda que por meios indiciários, que a
inatividade do contribuinte de algum modo se vincula
a práticas fraudulentas tais como a simulação de
estabelecimento ou de quadro societário ou com a indevida
emissão de documentos fiscais, será aplicada ao caso, entre
outras medidas determinadas pela administração tributária, a
disciplina constante do Capítulo II, sem prejuízo da suspensão de
que trata esta seção. 

Já o art. 25, §2º, da Portaria CAT 95/2006 define a fraude


fiscal estruturada como sendo:
1 - aquela decorrente da implementação de sistema ou esque-
ma de evasão fiscal mediante artifícios envolvendo a dissimulação de
atos, negócios ou pessoas, e com potencial de lesividade ao erário; e
2 - sistema ou esquema de evasão fiscal aquele formado pela
associação de duas ou mais empresas, de existência real ou simula-
da, para o fim de planejar e executar práticas de caráter dissimula-
tório objetivando indevida redução ou supressão de tributo.
Por fim, outro ilícito tributário relacionado diretamente à
empresa de fachada é a inadimplência fraudulenta, assim consi-
derada a transferência de recursos financeiros a coligadas, contro-
ladas ou sócios impossibilitando o recolhimento do imposto (art.
35, item, da Portaria CAT 95/2006).

3.3.1.5. Outras denominações.


A empresa de fachada encontra outras denominações, tais
como:

(a) empresa albergue ou abrigo → a finalidade é tão somente


receber ativos a proteger do devedor.

(b) empresa de prateleira → empresa constituída previamente


por escritórios especializados e deixada sem atividade, ficando na
“prateleira” para ser vendida aos interessados, com vistas a blindar
o patrimônio e as operações realizadas por estes.
174 Execução Trabalhista na Prática

(c) empresa-espelho → sociedade criada com o escopo de dar


continuidade à própria atividade econômica da empresa devedora,
mediante o desvio clandestino dos ativos da empresa devedora e
de sua atividade negocial. Conforme lembram Gladston Mamede e
Eduarda Cotta Mamede, “em alguns casos, a operação fraudatória
passa, inclusive, pela falência da sociedade devedora, a partir de
uma crise financeira artificial, abrupta ou paulatinamente urdida
que resulta da iniciativa de constituição e consolidação fraudulenta
da atividade negocial desenvolvida pela sociedade­espelho”103.

3.3.1.6. Finalidades diversas.


A constituição de empresas de fachada também pode ser
utilizada com a finalidade de praticar fraudes em geral, conforme
muito bem delineado por Ricardo Negrão, segundo o qual

há casos de obtenção da personalidade jurídica para aquisição


de bens e créditos no mercado, para uso exclusivo dos sócios
(leasing de veículos para uso particular, compra de produtos
para consumo próprio etc.), mantendo-se inerte a empresa, sem
possibilidade de cumprimento dos compromissos assumidos sob o
manto da personalidade jurídica. É comum chegar a uma situação
de inexistência de bens suficientes para a satisfação dos créditos;
outras vezes, o fim social é inatingível em razão do irrisório capital
expresso nominalmente. Não é incomum, ainda, a substituição
de sócios tão logo se realize compra vultosa, e seu imediato
desvio, deixando a sociedade a cargo de pessoas inexistentes ou
desprovidas de patrimônio para a satisfação dos credores104.

3.3.1.7. Formas de identificação.


Algumas formas de identificação105 de empresas de fachada
na prática:

103 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Blindagem patrimonial e plane-


jamento jurídico. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2015 (E-book).
104 NEGRÃO, Ricardo. Curso de direito comercial e de empresa, volume 1: teoria
geral da empresa e direito societário, 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019 (E-book).
105 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Roteiro de atuação: persecução patrimonial
e administração de bens. Brasília: MPF, 2017.
Execução Trabalhista na Prática 175

(a) o endereço da empresa é inexistente, abriga residência


ou outro empreendimento ou, ainda, coincide com endereço de
escritórios de contabilidade ou de consultoria;
(b) ausência de empregados no CAGED/RAIS;
(c) descompasso entre o porte da empresa e sua movimen-
tação financeira ou, ainda, descompasso entre os valores das tran-
sações com a empresa devedora e a realidade de mercado;
(d) existência de familiares, “laranjas” ou “testas de ferro” no
quadro societário;
(e) alterações societárias frequentes ou muito complexas;
(f) realização de alterações bruscas no capital social;
(g) transferência iterativa de domicílio societário e fiscal;
(h) promiscuidade entre contas bancárias pessoais e corpo-
rativas; e
(i) ausência de Escrituração Contábil Fiscal (ECF).

3.3.1.8. Enquadramento jurídico como hipótese de


simulação absoluta.
A empresa de fachada decorre diretamente da prática de
ato jurídico simulado, sob o prisma da simulação absoluta, o que
autoriza a declaração incidental de nulidade absoluta no ajuste
simulatório em sua constituição e consequente ineficácia da sua
personalidade jurídica perante o crédito trabalhista. Com isso,
permite-se a sua responsabilização solidária pelo adimplemento do
débito exequendo, com base nos arts. 942 do CC e 135 do CTN.
Neste sentido, trilha a jurisprudência pátria:

EMENTA: [...] 3. A questão central destes embargos é saber se


a embargante é ou não uma pessoa jurídica realmente autônoma
e independente em relação às empresas do Grupo Matarazzo,
ou se se trata de mera empresa criada exclusivamente para a
transferência fraudulenta de ativos, para afastar da penhora os
bens do Grupo Matarazzo em relação aos débitos fiscais.
4. A conclusão é que a Canamor é mera empresa “de fachada”;
176 Execução Trabalhista na Prática

sem qualquer existência fática, e criada pela Família Matarazzo


para fraudar créditos de natureza tributária; tratando-se de pessoa
jurídica decorrente de uma simulação absoluta (que acarreta a
inexistência do ato jurídico de sua instituição e a absoluta ineficácia
de sua personalidade jurídica meramente formal frente aos
créditos fazendários).
[...] 6. Verifica-se simulação absoluta (fraudulenta), que gera a
inexistência e a ineficácia do ato jurídico; sendo essa simulação
passível de reconhecimento a qualquer tempo e não se sujeitando
a qualquer convalescimento (por prescrição ou decadência). Além
disso, por se tratar de ato jurídico inexistente, essa fraude dispensa
ação judicial própria para seu reconhecimento; uma vez que, na
realidade, tratando-se de “blindagem patrimonial” com transferência
de bens, a empresa embargante, do ponto de vista jurídico e real,
identifica-se com a empresa devedora principal da execução fiscal.
7. Como é da jurisprudência, no caso de constituição de empresas
para transferência de ativos e “blindagem patrimonial” em fraude
tributária, aplicam-se os artigos 50 do Código Civil e 135 do Código
Tributário Nacional (o que autoriza o redirecionamento da execução
fiscal contra a empresa criada, independentemente de ação judicial
autônoma ou de reconhecimento da fraude de execução).
8. Na simulação absoluta, nenhum ato jurídico quis se praticar, nem
o aparente nem outro qualquer. Falta a consciência da vontade
(elemento essencial ao suporte fático). Por ser mera aparência,
não entra no mundo jurídico. Não sendo ato jurídico, não há ato
inválido. Ocorre a inexistência de ato jurídico, e o reconhecimento
desse vício opera efeito ex tunc (desde o início; a partir da criação
do ato inexistente). [...]
(TRF3 - Ap 00235141120154039999 SP - Sexta Turma - Relator
Desembargador Johonsom Di Salvo - Data de Julgamento:
28/02/2019)

3.3.1.9. Estudo de casos práticos.


• Caso prático 1: constituição de empresa de fachada
em nome de “testa de ferro”.
O funcionário do grupo econômico executado, o sr. “testa
de ferro”, constando ainda com registro aberto no CAGED, cons-
tituiu 3 empresas, identificando perante a Receita Federal como
endereço eletrônico justamente o do grupo econômico.
Execução Trabalhista na Prática 177

O grupo econômico utilizou do mecanismo de interposição


de pessoas para abertura de empresas de fachada no curso do pro-
cesso de encerramento de suas unidades, para ocultar seus ativos
financeiros, o que é reforçado pelo fato de que tais empresas se-
quer detinham quadro de empregados para operar no mercado.

• Caso prático 2: inter-relacionando empresas de fa-


chada com contratos de mútuo simulados.
A “empresa de fachada 01” é uma empresa constituída em ju-
lho de 2016, com capital de R$ 88.000,00, e alega ter concedido em
setembro de 2016 (dois meses depois de sua criação) um empréstimo
de quatro milhões de reais ao grupo executado, a fim de justificar as re-
lações patrimoniais detectadas pelos sistemas de pesquisa patrimonial.
No mesmo contexto temporal, foi constituída a “empresa
de fachada 02” em agosto de 2016 com o mesmo capital social de
R$ 88.000,00. Argumenta a empresa que a movimentação financei-
ra detectada de cerca de três milhões de reais são provenientes de
contrato de mútuo, datado de outubro de 2016 (dois meses depois
de sua criação).
O traço comum entre as duas empresas é a existência do
mesmo procurador bancário, que exerce a profissão de contador,
o qual, por sua vez, figura na folha salarial do grupo executado.
Seis meses depois destas transações financeiras, e no início do
encerramento da atividade empresarial do grupo executado, este
transferiu, em dação em pagamento, seus insumos (maquinários e
equipamentos) para as empresas de fachada, justificada pela necessi-
dade de pagamento das supostas dívidas contraídas por tais empresas.
A celebração dos contratos de mútuo e seus aditivos são
incompatíveis com os portes das empresas, que sequer possuem
empregados, e apenas tiveram por objetivo normalizar, tornar juri-
dicamente possível a real finalidade de blindagem patrimonial.
Os dados obtidos a partir das ferramentas de pesquisa pa-
trimonial levam à conclusão de que tais empresas formam um
subgrupo existente no interior do grupo executado, utilizado para
ocultação patrimonial daquelas empresas mais “visíveis”.
178 Execução Trabalhista na Prática

A transferência de parte do patrimônio das empresas mais


“visíveis” do grupo executado para as empresas de fachada, com
fins de blindagem, enseja o reconhecimento da confusão patrimo-
nial entre as diversas pessoas jurídicas, tornando-as também be-
neficiárias do incremento de capital proporcionado pela força de
trabalho dos credores trabalhistas.
Ao se apropriarem com fins fraudulentos de parcela do patri-
mônio que deveriam ter sido destinados ao pagamento das verbas
trabalhistas dos diversos trabalhadores, em benefício próprio e das
demais empresas do grupo executado, as empresas de fachada de-
vem ser responsabilizadas pela totalidade da dívida em execução.
CAPÍTULO XII
Ferramentas Eletrônicas de Pesquisa Patrimonial

1 Introdução.
As ferramentas eletrônicas de pesquisa patrimonial dispo-
níveis à Justiça do Trabalho são instrumentos que visam conferir
efetividade à execução trabalhista, tornando possível satisfazer o
interesse creditório do exequente, entregando-lhe o bem da vida e
fazendo valer a coisa julgada formada na sentença trabalhista.
Além disso, é por meio das ferramentas eletrônicas que se
torna possível identificar e desconstruir o fenômeno da blinda-
gem patrimonial, e consequentemente, restaurar a efetividade
da jurisdição executiva com a adoção de medidas coativas sobre
o patrimônio ocultado do devedor.
É bem de ver que a utilização do sistema informatizado de
busca patrimonial do devedor muito contribui para a maior celeri-
dade do processo e confere efetividade à tutela jurisdicional.
O primeiro sustentáculo normativo para o uso efetivo destas
ferramentas eletrônicas é o princípio constitucional da celeridade
e efetividade da jurisdição, previsto no art. 5º, inciso LXXVIII, da
CF/88, irradiando-se, depois, pelo ordenamento infraconstitucional.
No âmbito do sistema infraconstitucional, dá-se destaque
aos dispositivos celetistas que conferem ao juiz do trabalho o po-
der-dever de requisitar às autoridades competentes a realização
das diligências necessárias ao esclarecimento dos feitos sob sua
apreciação (art. 653, alínea “a”, da CLT) e de velar pelo andamento
rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência neces-
sária ao esclarecimento delas (art. 765 da CLT).
Já na esfera do processo civil, o CPC preceitua que constitui
norma fundamental o direito da parte de obter em prazo razoável
180 Execução Trabalhista na Prática

a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa (art. 4º


do CPC), que é robustecida pelo art. 139, incisos II e IV, que impõe
ao magistrado velar pela duração razoável do processo, bem como
lhe confere o poder geral de efetivação.
Sobre o art. 4º do CPC, comentam Nelson Nery Jr e Rosa Ma-
ria de Andrade Nery que “a garantia constitucional da celeridade e
duração razoável do processo (CF 5.º LXXVIII) implica o direito fun-
damental de o cidadão obter a satisfação de seu direito reclamado
em juízo, em prazo razoável. O conceito de satisfatividade envolve
as tutelas de urgência, de conhecimento e de execução, de sorte que
somente estará preenchido o preceito contido na norma comentada,
se a sentença, os recursos, o cumprimento da sentença e a satisfação
da pretensão estiverem findos em prazo razoável”106.
O princípio da efetivação da decisão previsto no art. 139, inciso
IV, do CPC, informa que o exercício da jurisdição não se exaure com
a mera declaração do direito, sendo necessária a adoção de medidas
típicas e atípicas de efetividade do título judicial exequendo, que se
incluem as ferramentas eletrônicas de pesquisa patrimonial.
Avançando no plexo normativo do processo de execução,
temos, ainda, como suporte normativo para o uso efetivo das fer-
ramentas eletrônicas de pesquisa patrimonial o art. 772, III, do
CPC, que diz competir ao juiz da execução determinar que sejam
fornecidas por terceiros informações gerais relacionadas ao objeto
da execução, tais como documentos e dados que tenham em seu
poder, assinando-lhes prazo razoável.
Este dispositivo do caderno processual executivo é comple-
mentado pelo art. 797 do CPC que preceitua que a execução se
realiza no interesse do exequente.
Dando um passo rumo ao exame das normas infralegais, des-
taca-se a Consolidação dos Provimentos da Corregedoria-Geral da
Justiça do Trabalho, de 19/12/2019, a qual, em seu art. 108, inciso

106 NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil
comentado, 4ª ed. São Paulo: RT, 2019 (E-book), cit. CPC art. 4º, coment. 3.
Execução Trabalhista na Prática 181

III, estabelece que o juiz do trabalho na execução atue de forma


coercitiva e coativa por meio do uso das ferramentas eletrônicas
de pesquisa patrimonial:

Art. 108. Cabe ao juiz, na fase de execução:


III - determinar a revisão periódica dos processos em execução que
se encontrem em arquivo provisório, com a execução suspensa,
a fim de renovar providências coercitivas, por meio da utilização
dos Sistemas Eletrônicos de pesquisas patrimonial, valendo-se, se
for o caso, da aplicação subsidiária dos artigos 772 a 777 do CPC.

Destarte, a referida norma infralegal estabelece verdadeiro po-


der-dever do magistrado não só de conferir impulso oficial à execução
mediante a revisão periódica das execuções trabalhistas em arquivo
provisório, mas também de renovar providências capazes de localizar
bens do devedor por meio do uso efetivo das ferramentas eletrônicas
de pesquisa patrimonial, bem como através de outras medidas coerci-
tivas e coativas previstas no ordenamento jurídico processual.
Nesse compasso, ainda, a CGJT editou a Recomendação nº
3, de 24/07/2018, que, em seu art. 5º, §3º, dispõe: “Não se deter-
minará o arquivamento dos autos, provisório ou definitivo, antes
da realização dos atos de Pesquisa Patrimonial, com uso dos siste-
mas eletrônicos, como o BACENJUD107, o INFOJUD, o RENAJUD
e o SIMBA, dentre outros disponíveis aos órgãos do Poder Judici-
ário; e da desconsideração da personalidade jurídica da sociedade
reclamada, quando pertinente.”
Em suma, existe um enorme cabedal de normas jurídicas
que conferem – a um só tempo – direito do exequente e dever do
magistrado de impulsionar a execução, através do profícuo uso das
ferramentas eletrônicas de pesquisa patrimonial, a fim de garantir o
acesso à ordem jurídica justa, célere e efetiva, sob pena de derruir
a promessa constitucional da razoável duração do processo, da ce-
leridade e da efetividade da jurisdição executiva (artigo 5º , inciso
LXXVIII, da CF/88).

107 O BACENJUD foi substituído pelo SISBAJUD.


182 Execução Trabalhista na Prática

2 Principais ferramentas de pesquisa patrimonial.


2.4 CNIB.
2.4.1. Escopo e funcionalidades.
A CNIB - Central Nacional de Indisponibilidade de Bens é
um sistema de alta indisponibilidade criado e regulamentado pelo
Provimento nº 39/2014 da Corregedoria Nacional de Justiça, e se
destina a integrar todas as indisponibilidades de bens imóveis de-
cretadas por magistrados e autoridades administrativas.
Trata-se de ferramenta eletrônica específica de indisponibi-
lidade de bem imóvel, estando num grau abaixo do arresto/pe-
nhora108, com implicação processual no direito de prelação ou de
preferência, que veremos a seguir.
A gênese normativa da CNIB é o art. 185-A do CTN, que
assim dispõe:

CTN. Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário,


devidamente citado, não pagar nem apresentar bens à penhora
no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis, o juiz
determinará a indisponibilidade de seus bens e direitos,
comunicando a decisão, preferencialmente por meio
eletrônico, aos órgãos e entidades que promovem registros
de transferência de bens, especialmente ao registro público
de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado
bancário e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de
suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial.
 
§ 1o A indisponibilidade de que trata o caput deste artigo limitar-
se-á ao valor total exigível, devendo o juiz determinar o imediato
levantamento da indisponibilidade dos bens ou valores que
excederem esse limite.
§ 2o  Os órgãos e entidades aos quais se fizer a comunicação
de que trata o caput deste artigo enviarão imediatamente
ao juízo a relação discriminada dos bens e direitos cuja
indisponibilidade houverem promovido.

108 A distinção entre os institutos da indisponibilidade, penhora, arresto e sequestro


foi abordada em tópico específico, no capítulo IV, que remetemos o leitor.
Execução Trabalhista na Prática 183

Justamente diante da sua base jurídica tributária, é plenamente


aplicável na seara da execução trabalhista, a qual possui relação simbi-
ótica com o microssistema de execução fiscal (art. 889 da CLT).
A referida ferramenta é de uso obrigatório pelos magistra-
dos de primeiro grau, conforme preceitua o art. 5º do Provimento
nº 39/2014 da Corregedoria Nacional de Justiça. No âmbito dos
Tribunais Regionais, exemplificativamente, há previsão expressa
quanto ao uso da CNIB no Ato GP/CR nº 02, de 17/06/2020, do
TRT da 2ª Região109.
Cabe advertir que a ferramenta não é de consulta patrimo-
nial, mas de constrição. Assim sendo, uma vez gravada a ordem
judicial no sistema, a resposta já virá com a indisponibilidade de
eventual bem imóvel de propriedade do executado.

2.4.2. Abrangência.
A CNIB tem alcance nacional, atingindo todos os cartórios de
registro de imóveis e tabeliães de notas em todo território nacional,
tornando-se, com isto, um sistema muito mais eficiente do que o sis-
tema ARISP (ou Penhora On-line), conforme vimos anteriormente.
Diferentemente do sistema ARISP, na CNIB basta que o ma-
gistrado faça o protocolo da ordem de indisponibilidade, de forma
bem simplificada, cuja ordem alcançará automaticamente todos os
cartórios do país, os quais possuem o dever de cumprimento.
Diante de sua grande efetividade na constrição de bens imó-
veis, recomenda-se sua utilização no dia a dia, de forma precípua
na execução trabalhista.

109 Criou o Grupo Auxiliar de Execução e Pesquisa Patrimonial (GAEPP), unidade


de apoio à efetividade da execução trabalhista, subordinado à Corregedoria Re-
gional (art. 1º), dispondo em seu art. 3º que competirá ao GAEPP “o cumpri-
mento dos mandados destinados à pesquisa e à constrição de bens do executado
por meio das ferramentas eletrônicas oferecidas pelos convênios assinados pelo
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, a saber: [...] Central Nacional de
Indisponibilidade de Bens (CNIB) [...]”.
184 Execução Trabalhista na Prática

2.4.3. Demais procedimentos e desdobramentos.


Os cartórios são obrigados a realizar verificação diária das
ordens judiciais na abertura do expediente e uma hora antes do en-
cerramento do expediente, nos termos do art. 8º do Provimento
39/2014 da Corregedoria Nacional de Justiça.
O prazo de cumprimento das ordens judiciais pelos cartórios
é o mesmo para cumprimento de prenotações, qual seja, de 30
dias (art. 188 da Lei 6.015/1973 – Lei dos registros públicos), sendo
que o cumprimento das ordens judiciais possuem prioridade, na
forma do art. 30, III, da Lei 8.935/1994 (Lei dos cartórios).
Na prática, os cartórios costumam dar cumprimento às or-
dens em até 10 dias úteis.
A vara do trabalho deve verificar periodicamente o sistema
para acompanhar as respostas positivas porventura enviadas pelos
cartórios.
Com o resultado positivo da indisponibilidade, a vara do tra-
balho deverá expedir o mandado de arresto/penhora110 e avaliação
do imóvel gravado com a ordem de indisponibilidade. Na práti-
ca, o oficial de justiça faz diligência junto ao cartório para obter a
certidão do imóvel ou a secretaria do juízo obtém o inteiro teor
da matrícula por meio do sistema ARISP (Penhora On-Line), para
cumprir o mandado judicial.
O sistema não emite “certidão negativa” de bens imóveis, o que
implica dizer que, transcorridos o prazo de 30 dias sem qualquer res-
posta positiva no sistema, presume-se que, naquele momento, não foi
encontrado qualquer bem imóvel de propriedade do devedor.
Tendo em vista que o sistema é de indisponibilidade perma-
nente até que haja a revogação da ordem judicial no próprio siste-
ma, recomenda-se que, periodicamente, a vara do trabalho realize
revisão periódica dos processos protocolados na CNIB, a fim de
identificar eventual resposta positiva de indisponibilidade.

110 Como medida de celeridade processual, sugere-se utilizar o procedimento da


penhora a termo previsto no art. 845, §1º, do CPC.
Execução Trabalhista na Prática 185

Por fim, cabe destacar que o registro da indisponibilidade na


matrícula do imóvel possui efeito processual de grande efetividade
na execução trabalhista, qual seja, a presunção absoluta de conhe-
cimento por terceiros da constrição do bem imóvel, nos termos do
art. 844 do CPC:

Art. 844. Para presunção absoluta de conhecimento por terceiros,


cabe ao exequente providenciar a averbação do arresto ou da
penhora no registro competente, mediante apresentação de cópia
do auto ou do termo, independentemente de mandado judicial.

Desse modo, após a averbação na matrícula do imóvel, o


terceiro adquirente do bem gravado com a indisponibilidade não
poderá alegar sua condição de boa-fé, dada a presunção iuris et de
iure de conhecimento, inserindo-se o caso na hipótese de fraude à
execução absoluta111.

2.4.4. Direito de prelação ou de preferência.


A CNIB não assegura o direito de prelação ou de preferência
sobre o imóvel em concurso de credores paritários (arts. 908 e
909 do CPC).
Em igual sentido, dispõe o art. 16 do Provimento 39/2014 da
Corregedoria Nacional de Justiça que “as indisponibilidades aver-
badas [...] não impedem a inscrição de constrições judiciais, assim
como não impedem o registro da alienação judicial do imóvel [...]”.
Isso implica dizer que a indisponibilidade do bem imóvel é o
primeiro passo no processo de constrição do bem imóvel. A partir
disso, deve-se dar rápido processamento ao ato judicial de arresto/
penhora e avaliação, e consequente registro na matrícula do bem,
com vistas a assegurar o direito de preferência do credor trabalhis-
ta sobre o produto da expropriação do bem imóvel gravado com a
indisponibilidade da CNIB.

111 Conforme abordado no tópico 2.3. do capítulo X, que remetemos o leitor.


186 Execução Trabalhista na Prática

Sem o ato subsequente de registro do arresto/penhora na


matrícula do bem imóvel, o esforço executivo no caso concreto
poderá ser inócuo, pois não impedirá que outra vara do trabalho
avance com a expropriação do bem.

2.5. SERASAJUD.
2.5.1. Escopo.
O SERASAJUD é o sistema que interliga o Poder Judiciário e
a Serasa Experian, decorrente da celebração do Termo de Coope-
ração Técnica 020/2014, celebrado entre o Conselho Nacional de
Justiça e a Serasa S.A112.
Por meio deste sistema, torna-se possível a ágil tramitação
de ofícios, de forma eletrônica via internet, entre os Tribunais e a
referida entidade.

2.5.2. Funcionalidades.
O referido sistema é bem simplificado e possui duas funcio-
nalidades básicas: (1) fornecimento de informações das mais varia-
das acerca do executado, constantes da base de dados da Serasa
Experian113; e (2) negativação do nome do devedor no cadastro
de proteção ao crédito da Serasa Experian, bem como permite a
consulta de endereços.
A primeira funcionalidade é pouco utilizada na prática fo-
rense, porém nos apresenta relatório analítico financeiro sobre o
devedor, sendo de grande valia para a execução trabalhista, tais
como: score do devedor (pontuação para obtenção de crédito no
mercado); endereços cadastrados; pendências financeiras ou ban-
cárias; cheques sem fundos; protestos estaduais e nacionais; exis-
tência de ações judiciais; participação em recuperações judiciais e
falências; e alerta de inconsistências comerciais.

112 http://www.tst.jus.br/web/corregedoria/serasajud. Acesso em 17/05/2020.


113 Basicamente, a Serasa Experian oferece “soluções para reduzir riscos de crédi-
to, evitar fraudes, vender a prazo com segurança, identificar parceiros, analisar
fornecedores e renegociar ou recuperar dívidas”. (https://www.serasaexperian.
com.br/o-que-fazemos)
Execução Trabalhista na Prática 187

Esta funcionalidade é acessada através do menu SERASAJUD 1.0.


Por sua vez, a segunda funcionalidade é a mais corriqueira
no dia a dia forense, e permite a inclusão do nome do executado
no cadastro de inadimplentes da Serasa Experian. Seu acesso se dá
através do menu SERASAJUD 2.0.

2.5.3. Aplicações práticas.


O uso do relatório analítico financeiro, obtido a partir da
primeira funcionalidade, permite acelerar a pesquisa patrimo-
nial na execução trabalhista, na medida em que torna evidente –
por exemplo – que o devedor trabalhista possui débitos em outras
jurisdições e vários protestos de títulos nos cartórios extrajudiciais
em território nacional, a sinalizar que as ferramentas eletrônicas
mais básicas não surtirão efeito algum, diante do patente estado de
insolvência do devedor.
Considerando que este relatório pode sinalizar o estado de
insolvência do executado, permite-se embasar a adoção de meios
mais gravosos na execução trabalhista, a fim de que haja a utili-
zação – de forma mais célere e efetiva – das demais ferramentas
eletrônicas para além dos usuais SISBAJUD114, RENAJUD e ARISP
(Penhora on-line).
Também, o referido relatório auxilia na formação do con-
vencimento do juízo na implementação de medidas coercitivas
(art. 139, IV, do CPC) contra o devedor.
Ademais, permite embasar o rápido processamento do in-
cidente de desconsideração da personalidade jurídica com imple-
mentação de medida de arresto. Neste sentido, destacamos o se-
guinte precedente judicial:

EMENTA: INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSO-


NALIDADE JURÍDICA. PEDIDO DE ARRESTO CAUTELAR DE
BENS. POSSIBILIDADE. REQUISITOS DO. ART. 300, NCPC,
DEMONSTRADOS À ESPÉCIE.

114 Substituiu o BACENJUD.


188 Execução Trabalhista na Prática

1. O pedido de instauração do incidente de desconsideração da


personalidade jurídica dos devedores comporta deferimento,
com base em evidências da probabilidade do direito do credor.
2. E alegações no sentido da possibilidade de que a satisfação
da execução venha a ser frustrada por manobras dos
devedores vieram acompanhadas de sérios indícios. 3. De
maneira que, ao menos por ora, viável o deferimento do pedido
de arresto cautelar de bens. Recurso provido.
(TJSP - AI 2029413-97.2018.8.26.0000 - 14ª Câmara de Direito
Privado - Relator Desembargador Melo Colombi - Data de Julga-
mento: 04/06/2018) (destacamos)

Relevante destacar trecho do voto-condutor do acórdão, que


bem demonstra a utilidade das informações da Serasa Experian:

[...] Da ficha cadastral da referida empresa junto à Jucesp consta


ordem de bloqueio de cotas sociais das empresas [...] e dos sócios
[...]. Consultas aos registros do Serasa Experian revelam que os
agravados [...] estão sofrendo protestos e execuções milionárias
(fls. 335/379). [...] Indícios de transferência de patrimônio com
vistas a blindá-los da ação do credor. As declarações de fls. 772
e 773, no sentido de que elas nunca tiveram faturamento, só
reforça a tese do agravante. Destarte, há probabilidade do direito
e elementos suficientes que corroborem a afirmação de perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo (art. 300, do CPC). O
que autoriza a instauração do incidente de desconsideração, bem
como, ao menos por ora, o arresto liminar de bens dos citandos.
[...] Posto isto, dá-se provimento ao recurso. (destacamos)

Já a segunda funcionalidade tem amparo normativo nos


arts. 883-A da CLT115 e 782, §3º, do CPC116, e confere efetividade
à execução trabalhista, na medida em que restringe o acesso do

115 CLT. Art. 883-A. A decisão judicial transitada em julgado somente poderá ser
levada a protesto, gerar inscrição do nome do executado em órgãos de prote-
ção ao crédito ou no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas (BNDT), nos
termos da lei, depois de transcorrido o prazo de quarenta e cinco dias a contar
da citação do executado, se não houver garantia do juízo. (Incluído pela Lei nº
13.467, de 2017)
116 CPC. Art. 792, §3º. A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão
do nome do executado em cadastros de inadimplentes.
Execução Trabalhista na Prática 189

devedor a novas linhas de crédito no mercado. Com efeito, trata-


-se de modalidade de medida executiva indireta (art. 139, IV, do
CPC), atuando de forma coativa na vontade do devedor, a fim de
compeli-lo ou incentivá-lo a adimplir o crédito exequendo.
Acerca do art. 883-A da CLT, comenta Homero Batista Mateus
da Silva que “o uso de meios indiretos de constrangimento para o exe-
cutado quitar sua dívida sempre foi utilizado, mesmo antes da clareza
do CPC/2015. As modalidades mais citadas são a inserção do nome
do executado nos cadastros de devedores mantido pelo comércio ou
por instituições financeiras (conhecidos pelas siglas SPC ou similares)
e, também, o sistema de protesto extrajudicial”117. E prossegue:

[...] A principal diferença prática está no fato de que o BNDT


constrange empresas que participam de licitação e contratos com
o Poder Público, por ser exigida a certidão negativa, ao passo que
os demais meios anteriormente citados constrangem todos os
empresários, pois abala seu crédito no comércio e nos serviços118.

Tanto o art. 17 da Instrução Normativa 39/2016 do TST,


quanto o Enunciado 72 do 1º Fórum Nacional de Processo do Tra-
balho – FNPT, preveem a aplicação do art. 782, §3º, do CPC, na
jurisdição executiva trabalhista:

TST. IN 39/2016. Art. 17. Sem prejuízo da inclusão do devedor


no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas (CLT, art. 642-A),
aplicam-se à execução trabalhista as normas dos artigos 495, 517
e 782, §§ 3.º e 4.º e 5.º do CPC, que tratam respectivamente da
hipoteca judiciária, do protesto de decisão judicial e da inclusão do
nome do executado em cadastros de inadimplentes.
FNPT. ENUNCIADO 72. CLT, art. 642-A; NCPC, arts. 495, 517
e 782, § 3.º. Protesto de decisão judicial, inclusão do nome do
executado trabalhista em cadastro de inadimplentes e hipoteca
judiciária. Viabilidade. Sem prejuízo da inclusão dos devedores no
Banco Nacional de Devedores Trabalhistas (CLT, art. 642-A), são

117 SILVA, Homero Batista Mateus da. CLT comentada, 2ª ed. São Paulo, RT, 2018
(E-book), cit. CLT 883-A, coment. 1.
118 Idem, ibidem.
190 Execução Trabalhista na Prática

aplicáveis à execução trabalhista os arts. 495, 517 e 782, § 3.º do


NCPC, que tratam da hipoteca judiciária, do protesto de decisão
judicial e da inclusão do nome do executado em cadastros de
inadimplentes) (SPC, SERASA, CADIN etc.).

Em igual diapasão, trilha a jurisprudência trabalhista:

EMENTA: INCLUSÃO DO NOME DOS EXECUTADOS NO


BANCO DE DADOS DO SERASA. APLICABILIDADE AO
PROCESSO DO TRABALHO. Não se descarta, no âmbito da
execução trabalhista, a inclusão dos nomes dos executados no banco
de dados (cadastro de inadimplentes) mantido por serviço de proteção
ao consumidor do SERASA. Tal medida coercitiva encontra amparo
no artigo 782, § 3º, do Código de Processo Civil, cuja aplicação em
seara trabalhista é prevista pelo artigo 17 da Instrução Normativa
39/2016 do C. TST, sem prejuízo da inclusão dos devedores no
BNDT. Agravo de petição a que se dá provimento.
(TRT2 - AP 01653004019965020271 - 13ª Turma - Relator
Desembargador Paulo Mota - Data de Publicação: 25/10/2019)

EMENTA: CADASTRO SERASA. DEVEDORES TRABALHISTAS.


INCLUSÃO. Cabe acolher o pedido para inclusão dos executados
no cadastro SERASA, a ser realizado por meio do convênio
SERASAJUD, baseado na adesão formal deste Regional ao Termo
de Cooperação firmado pelo Conselho Nacional de Justiça
com o SERASA, pois constitui medida que visa a permitir maior
efetividade à execução. Aplicação do art. 782, § 3º, do CPC e da
Instrução Normativa n. 39 do TST, art. 17.
(TRT12 - AP 00076-2007-045-12-00-5 - 2ª Turma - Relator
Desembargador Amarildo Carlos de Lima - Data de Publicação:
11/05/2018)

2.6 INFOJUD.
2.6.1. Escopo.
O INFOJUD - Informações ao Poder Judiciário (Secretaria da
Receita Federal) é o sistema que tem por objetivo atender digital-
mente às requisições feitas pelo Poder Judiciário à Receita Federal.
Execução Trabalhista na Prática 191

2.6.2. Funcionalidades.
Antes de iniciarmos a análise das funcionalidades do INFO-
JUD, cabe ressaltar que é necessário delimitar o período da consul-
ta dos módulos objeto de requisição judicial.
O período da consulta é de suma importância para uma efi-
caz e efetiva pesquisa patrimonial, haja vista que somente a partir
de uma análise detalhada da evolução patrimonial do devedor em
período anterior ao processo judicial é que permitirá a identifica-
ção de como dissipou-se o seu patrimônio, tornando possível, as-
sim, descortinar a fraude patrimonial levada a cabo.
Desse modo, o exequente ao requerer o uso do INFOJUD
precisa delimitar em seu requerimento – de forma precisa e cons-
ciente – o período da consulta, de modo a evitar que sua execução
navegue no escuro, sem rumo e sem efetividade.
As informações obtidas no INFOJUD são as seguintes:

• Declaração de imposto de renda de pessoa física


(DIRPF) ou jurídica (ECF).
Por se tratar de obrigação tributária acessória, a DIRPF e
ECF são entregues pelo próprio contribuinte.
A análise da DIRPF permite verificar o patrimônio declarado
do devedor/contribuinte, tais como imóveis, veículos, dinheiro em
espécie, quotas de sociedades, rendimentos, proventos e vínculos
empregatícios.
Ademais, o estudo da DIRPF é capaz de sinalizar se o sócio
executado está inserido no mecanismo de interposição de pessoas
(“laranja”) ou, ainda, aponta a ocultação e dilapidação patrimonial,
além da análise da capacidade financeira para realização de deter-
minado negócio jurídico.
É importante atentar-se para a existência de imposto a ser
restituído, o qual pode ser objeto de constrição judicial.
A omissão da DIRPF é um sinal indicativo de que se está
diante de um sonegador tributário, a exigir atenção redobrada no
esforço investigativo patrimonial na execução trabalhista.
192 Execução Trabalhista na Prática

Por sua vez, com relação à DIPJ, o INFOJUD somente possui


tal informação até 2016, sendo necessário expedir ofício à Supe-
rintendência da Receita Federal para fornecer a ECF (Escrituração
Contábil Fiscal) que substituiu a DIPJ. Em 2019, a ECF passou a ser
novamente entregue por meio do INFOJUD.
Esta pesquisa permite, em tese, verificar a existência de bens
da empresa executada, além do faturamento, existência de em-
presas coligadas ou controladas, crédito tributário a compensar,
depósitos no exterior, dentre outras informações.
Na prática, porém, há certo ceticismo quanto à fidedignida-
de das informações da escrituração contábil, consoante muito bem
pontuado por Gladston Mamede e Eduarda Cotta Mamede:

A manipulação da escrituração contábil é, provavelmente, a fraude


contábil mais comum. [...] Provavelmente, o meio mais comum é
a omissão de transações no livro Diário, o que constitui a fraude
contábil mais comum. Habitualmente, o empresário ou sociedade
empresária recorre a escriturações informais, feitas fora dos livros
autenticados (caixa dois ou off recordes), ali registrando o que
efetivamente se passou com a atividade negocial119.

• Declaração de imposto territorial rural (DITR).


Esta funcionalidade permite verificar a existência de imóveis
rurais em nome do devedor, que muitas vezes não estão lança-
dos nos bens constantes da DIRPF. Através desta funcionalidade, é
possível identificar a extensão da propriedade rural e o valor venal
declarado.

• Informações cadastrais.
A funcionalidade em questão permite consultar a base de
dados da RFB, notadamente, o registro de pessoa física, nome da
mãe, endereço, título de eleitor.

119 MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Blindagem patrimonial e plane-


jamento jurídico. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2015 (E-book).
Execução Trabalhista na Prática 193

• Recuperar NI120.
A funcionalidade em questão identifica os responsáveis tribu-
tários da empresa, os quais são os detentores de poder de mando
e gestão na empresa. Tanto pode ser os sócios formais, quanto os
administradores ocultos ou de fato, isto é, aqueles não registrados
no contrato social da empresa.
Entrementes, ressalte-se que o responsável fiscal não é o
contador, pois há campo próprio para lançar tal informação.
Por meio desta funcionalidade, desnuda-se toda a cadeia de
pessoas jurídicas (ex. sociedades empresariais e sociedades sim-
ples) vinculada ao CPF objeto da persecução patrimonial, que pode
revelar uma série de novas possibilidades de atuação na execução
trabalhista, desde o uso do IDPJ inverso até o mapeamento do
grupo econômico.
Esta funcionalidade está disponível, após acessar o sistema e
avançar até a tela “informações ao Judiciário”, localiza-se o “recu-
perar NI” e clica em CNPJ. Na próxima tela, insere-se o CPF do
responsável tributário. Depois, será apresentada a lista de CNPJs
em escala nacional vinculados ao mesmo responsável tributário in-
vestigado.

• Declaração sobre Operações Imobiliárias – DOI.


Trata-se a DOI de instrumento pelo qual os cartórios de ofí-
cio de notas, de registro de imóveis e o de títulos e documentos
prestam informações, pela via eletrônica, à Receita Federal sobre
operações imobiliárias realizadas por pessoas físicas e jurídicas,
cujos documentos foram por eles lavrados, anotados, matricula-
dos, registrados e averbados, e que se enquadrem nos parâmetros
estabelecidos pelos dispositivos legais de regência.
Por meio da DOI, é possível localizar também a celebração
de promessa de compra e venda de bem imóvel.

120 Número de inscrição.


194 Execução Trabalhista na Prática

Deve-se delimitar o período mais amplo possível de requi-


sição de informações da DOI, com período de início de janeiro de
1980, a fim de identificar imóvel registrado em período longínquo
da vida do devedor e que pode, eventualmente, ser omitido por este
em sua DIRPF, justamente com vistas a esquivar-se da persecução
patrimonial executiva.
Como parâmetro normativo ilustrativo, no âmbito do TRT
da 2ª Região, o art. 22 do Ato GP/CR nº 02/2020 prevê a ampla
abertura do marco temporal da requisição da DOI:

Art. 22. Por meio do Sistema de Informações ao Judiciário - Infojud,


os Oficiais de Justiça lotados no GAEPP poderão obter as seguintes
declarações fiscais: [...] II - Declaração de Operações Imobiliárias
(DOI), cuja pesquisa terá por termo inicial janeiro de 1980;

O cruzamento de dados da DOI com outras informações


extraídas da DIRPF, do módulo fiscal E-FINANCEIRA e de outras
ferramentas eletrônicas de pesquisa patrimonial, tais como INFO-
SEG e CENSEC, que veremos a seguir, permite identificar fraudes
patrimoniais, a exemplo de transferência simulada de imóveis de
propriedade do devedor para terceiros (pessoas físicas – “laranjas”
ou jurídicas – empresas de fachada e holdings patrimoniais), como
forma de blindagem patrimonial.

2.6.3. Comunicação por meio de ofício com a Supe-


rintendência Regional da Receita Federal.
Atuando para além do INFOJUD, porém mantendo-se no
contexto do intercâmbio de informações entre o Poder Judiciário
e a Receita Federal do Brasil, sobressaem as informações fiscais
do dossiê integrado, que se trata de compilação de dados fiscais
dispersos do contribuinte em variados sistemas e bases de consulta
(outros bancos de dados) mantidos pelo Fisco Federal.
Dentro das inúmeras bases de dados do dossiê integrado,
cabe destacar três módulos fiscais de grande utilidade para a per-
secução patrimonial executiva, quais sejam: DECRED, DIMOB e
E-FINANCEIRA.
Execução Trabalhista na Prática 195

A requisição destes dados fiscais é realizada por meio de ofí-


cio eletrônico, encaminhado através do e-mail funcional do juízo,
bastando a vara do trabalho identificar em sua região fiscal respec-
tiva o e-mail do setor responsável pelo intercâmbio de informações
com o Poder Judiciário. As respostas da SRFB costumam ser muito
rápidas e o teor dos dados fiscais são fornecidos em formato PDF.
Cabe destacar que se faz necessário delimitar o período de
quebra do sigilo fiscal, devendo avaliar, casuisticamente, o marco
temporal da análise dos dados fiscais.
Deve-se constar expressamente no ofício judicial a requisi-
ção dos relatórios analíticos e detalhados dos módulos fiscais, o
período do afastamento do sigilo fiscal e a indicação do envio das
informações fiscais em formato PDF.
Por fim, dentre os inúmeros fundamentos normativos há-
beis a amparar tais requisições judiciais, dá-se destaque ao art. 653,
alínea “a”, da CLT, segundo o qual compete ao juízo trabalhista
“requisitar às autoridades competentes a realização das diligências
necessárias ao esclarecimento dos feitos sob sua apreciação, re-
presentando contra aquelas que não atenderem a tais requisições”,
o qual é reforçado pelo art. 765121 consolidado.
Em reforço, no âmbito da execução civil, o art. 772, III, do
CPC, que trata dos poderes específicos do juiz no processo exe-
cutivo, confere a este o poder-dever de determinar que terceiros
“forneçam informações em geral relacionadas ao objeto da exe-
cução, tais como documentos e dados que tenham em seu poder,
assinando-lhes prazo razoável”. E, nos termos do parágrafo único
do art. 773 do CPC, quando se tratar de dados sigilosos para os fins
da execução, “o juiz adotará as medidas necessárias para assegurar
a confidencialidade”.
Passa-se à análise de cada um dos módulos fiscais:

121 CLT. Art. 765. Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na dire-
ção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo deter-
minar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas.
196 Execução Trabalhista na Prática

2.6.3.1. DECRED – Declaração de operações com


cartões de crédito.
A DECRED - Declaração de operações com cartões de cré-
dito foi instituída pela IN RFB nº 341/2003, e constitui informações
fiscais de entrega obrigatória à RFB pelas administradoras de car-
tões de crédito (art. 1º da IN RFB nº 341/2003).
Segundo o caput do art. 2º da referida Instrução Normativa,
“as administradoras de cartão de crédito prestarão, por intermédio
da Decred, informações sobre as operações efetuadas com cartão
de crédito, compreendendo a identificação dos usuários de seus
serviços e os montantes globais mensalmente movimentados”.
Entende-se por montante global mensalmente movimenta-
do (art. 2º, §2º, inciso II), o somatório dos:

a) pagamentos efetuados no mês pelos titulares dos cartões,


pessoa física ou jurídica, a qualquer título, independente da
natureza jurídica da operação, inclusive decorrentes de acordos
de caráter judicial ou extrajudicial, em relação a todos os cartões
emitidos, inclusive adicionais;
b) repasses efetuados no mês a todos os estabelecimentos
credenciados, pessoa física ou jurídica, deduzindo-se os valores
correspondentes a comissões, aluguéis, taxas e tarifas devidas à
administradora de cartão de crédito.

Ainda conforme a referida Instrução Normativa (art. 3º,


§2º), “não deverão ser objeto de informação na Decred operações
efetuadas: I - com cartões de débito; II - com cartões de compras
emitidos por pessoa jurídica cuja utilização seja restrita a aquisição
de produtos e serviços junto aos seus estabelecimentos ou de em-
presas ligadas, denominados ‘private label’.”
Portanto, no relatório fiscal da DECRED consta a identifica-
ção dos usuários dos serviços de operações com cartão de crédito,
o agenciador de pagamento (as operadoras de cartões de crédito,
tais como CIELO, STONE, VISANET, GETNET etc) e os montan-
tes globais mensalmente movimentados.
Execução Trabalhista na Prática 197

O relatório apresenta dois campos a DECRED – Lojista, re-


lacionada às operações com cartões de crédito pela empresa exe-
cutada, e a DECRED – Cliente, que se refere aos gastos consolida-
dos mensalmente com cartões de crédito realizados pelo devedor
(pessoa física ou jurídica).
A grande utilidade deste relatório fiscal na funcionalidade
DECRED – Lojista é tornar possível o rastreamento dos créditos
da empresa executada alocados nas operadoras de cartões de cré-
dito. Desse modo, direciona-se com precisão a ordem judicial de
bloqueios de créditos a receber pelo devedor. Com isso, a atuação
da jurisdição executiva fica mais efetiva e com alvo certo e delimitado.
Sucede que, muitas vezes, as máquinas não estão em nome
do devedor e as informações não estão na DECRED – Lojista. Em
situação desse jaez, é possível tanto o credor trabalhista, em coo-
peração com o Juízo, tentar obter a impressão do recibo de alguma
transação na máquina de cartão de crédito; quanto o juízo expedir
mandado de constatação, a fim de que o oficial de justiça reimpri-
ma a última transação realizada.
Por fim, a funcionalidade DECRED – Cliente também se mostra
útil à execução trabalhista, na medida em que evidencia a capacidade
econômico-financeira do executado, vale dizer, se é “laranja” (meca-
nismo de blindagem patrimonial – interposição de pessoas) ou, ainda,
constatando-se gastos elevados com cartão de crédito, se está ocul-
tando seus rendimentos e, consequentemente, praticando ato atenta-
tório à dignidade da jurisdição executiva (art. 774 do CPC).
Nesta segunda hipótese, há crescente jurisprudência apon-
tando pela viabilidade jurídica de determinar o bloqueio dos cartões
de crédito, bem como fixar a vedação de concessão de novos cartões
ao devedor trabalhista, com amparo no art. 139, IV, do CPC:

EMENTA: [...] AÇÃO DE EXECUÇÃO – MEDIDAS COERCITIVAS


[...] BLOQUEIO DE CARTÃO DE CRÉDITO - I - Decisão que
indeferiu o pedido da agravante que visava a suspensão da CNH
do coexecutado, assim como o bloqueio de seu passaporte e de
seu cartão de crédito, com fundamento no art. 139, IV, do NCPC
– Princípios da razoabilidade e proporcionalidade que devem ser
198 Execução Trabalhista na Prática

verificados no caso em concreto – [...] III – Bloqueio de cartão de


crédito – Medida que, embora não tenha caráter patrimonial
direto, impede que os devedores contraiam novas dívidas,
o que contribui para o pagamento do débito exequendo,
assim como evita maior endividamento dos agravados – [...]
– Interesse público na prestação jurisdicional – Ausência de
violação de direitos subjetivos dos devedores – Precedentes
deste E. Tribunal de Justiça - Decisão reformada em parte - Agravo
parcialmente provido, com observação”.
(TJSP - AI 2246310-85.2019.8.26.0000 - 24ª Câmara de Direito
Privado – Relator Desembargador Salles Vieira - Data de
Julgamento: 30/01/2020) (destacamos)

[...] Esta Seção Especializada passou a entender que o art. 139, IV, do
CPC/2015, permite sejam utilizadas medidas atípicas para a efetivação
do provimento judicial, tais como o bloqueio do uso dos cartões de
crédito e vedação à concessão de novos cartões ao devedor, assim
como a suspensão da CNH e retenção de passaporte, essas em casos
excepcionais, conforme entendimento preconizado pela Orientação
Jurisprudencial nº 47 desta Seção Especializada: [...]
Logo, de acordo com o atual entendimento desta Seção
Especializada, é possível determinar o bloqueio do uso dos
cartões de crédito e vedação de concessão de novos cartões
ao Executado, merecendo reforma a decisão de primeiro
grau quanto ao tema. [...]
(TRT9 - AP 06496009220045090011 PR - Seção Especializada -
Relator Desembargador Arion Mazurkevic - Data de Julgamento:
18/02/2020) (destacamos)

2.6.3.2. DIMOB – Declaração de informações sobre


atividades imobiliárias.
O segundo módulo fiscal que tem grande potencial para for-
necer o patrimônio oculto do devedor é a DIMOB, que foi institu-
ída pela IN RFB nº 1.115/2010, e trata-se de informação fiscal de
apresentação obrigatória, contendo dados sobre valores recebidos
pelo executado decorrentes de relação locatícia, na condição de
locador, ou seja, este relatório fiscal nos fornece os dados e valores
dos aluguéis porventura recebidos pelo devedor/locador.
Execução Trabalhista na Prática 199

O art. 1º da referida Instrução Normativa relaciona as pes-


soas jurídicas e equiparadas sujeitas à apresentação de informação
da DIMOB, quais sejam:

I - que comercializarem imóveis que houverem construído,


loteado ou incorporado para esse fim;
II - que intermediarem aquisição, alienação ou aluguel de imóveis;
III - que realizarem sublocação de imóveis;
IV - que se constituírem para construção, administração, locação
ou alienação de patrimônio próprio, de seus condôminos ou de
seus sócios.

Além disso, consta na DIMOB as operações realizadas pelo


executado nas áreas de construção, incorporação, loteamento e
intermediação de negócios jurídicos imobiliários.
A DIMOB possui os seguintes campos de informações: (a) in-
formação de locação/locador, com dados bem detalhados do con-
trato de locação do imóvel e com os valores mensais dos aluguéis
pagos; (b) informações de construção/incorporação/comprador; e
(c) informações de intermediação de venda/comprador.
Estas informações permitem a identificação dos rendimentos
do devedor sonegados da DIRPF, além de viabilizarem a localização
de imóveis também omitidos da DIRPF.
É importante ressaltar que a base de dados da DIMOB é ali-
mentada não só com as informações prestadas pelo devedor, mas
também com as pessoas físicas e jurídicas que com ele se relacio-
nam no contexto das relações imobiliárias em geral.

2.6.3.3. E-FINANCEIRA.
Por fim, o terceiro e último módulo fiscal com profundo impac-
to no esforço investigativo na execução trabalhista é a E-FINANCEI-
RA, que compõe o Sistema Público de Escrituração Digital – SPED, e
foi instituída pela IN RFB nº 1.571/2015, que disciplina a obrigatorie-
dade de prestação de informações relativas às operações financeiras
de interesse da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB).
200 Execução Trabalhista na Prática

Segundo o art. 2º da IN RFB nº 1.571/2015, trata-se a E-


-FINANCEIRA de um conjunto de arquivos digitais referentes a
cadastro, abertura, fechamento e auxiliares, e pelo módulo de ope-
rações financeiras e de previdência privada.
Nos termos do art. 4º da referida Instrução Normativa, as
informações alimentadas na E-FINANCEIRA são transmitidas pelas
seguintes pessoas:

I - as pessoas jurídicas:
a) autorizadas a estruturar e comercializar planos de benefícios de
previdência complementar;
b) autorizadas a instituir e administrar Fundos de Aposentadoria
Programada Individual (Fapi); ou
c) que tenham como atividade principal ou acessória a captação,
intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de
terceiros, incluídas as operações de consórcio, em moeda nacional
ou estrangeira, ou a custódia de valor de propriedade de terceiros; e
II - as sociedades seguradoras autorizadas a estruturar e
comercializar planos de seguros de pessoas.
§ 1º A obrigatoriedade de que trata o caput alcança entidades
supervisionadas pelo Banco Central do Brasil (Bacen), pela
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pela Superintendência
de Seguros Privados (Susep) e pela Superintendência Nacional de
Previdência Complementar (Previc).

Resumo das informações obtidas pela E-FINANCEIRA: saldo


até o último dia do exercício financeiro; pagamentos em espécie;
transações com cheque; ordens de crédito; aplicações financeiras;
rendimentos brutos; saldos de previdência privada; benefícios re-
cebidos; transferências bancárias; operações de câmbio (compra e
venda de moeda estrangeira); e pagamentos diversos.
Todas estas informações são apresentadas de forma global, e
em alguns campos, de forma mensal, a exemplo das operações de
câmbio e transações financeiras de crédito e débito.
Considerando que geralmente o devedor trabalhista tam-
bém é sonegador fiscal e omite informações fiscais na DIRPF e ECF,
a E-FINANCEIRA vem para suprir esta lacuna de informações so-
bre o patrimônio do devedor, na medida em que sua base de dados
Execução Trabalhista na Prática 201

é alimentada pelas instituições em que o devedor mantém algum


tipo de relacionamento financeiro.
Portanto, com este módulo fiscal, não há como o devedor
escapar do alcance da busca patrimonial, a não ser que ele utilize
outros mecanismos de ocultação de bens, conforme já explanamos
em capítulo dedicado ao assunto.
Além da localização de patrimônio oculto do devedor, a E-FI-
NANCEIRA também serve para demonstrar a ausência de capaci-
dade econômico financeira do sócio executado, a reforçar, no caso
concreto, a utilização do mecanismo de interposição de pessoas.
Demais disso, em razão do campo vasto de informações pres-
tadas pela E-FINANCEIRA, abrevia-se a investigação patrimonial na
execução trabalhista, tornando-se despicienda a requisição de infor-
mações junto ao sistema SIMBA, o qual será analisado mais adiante.

2.6.4. Comunicação por meio de ofício com a Receita


Estadual.
Ainda no contexto do intercâmbio de informações entre o
Poder Judiciário e o Fisco, revela-se muito eficaz para execução
trabalhista a requisição de informações junto à SEFAZ, a fim de
que forneça relatório com os valores das notas fiscais emitidas dos
últimos doze meses da empresa executada.
Esta informação fiscal permite que o juízo da execução lo-
calize créditos a receber da empresa executada em suas relações
comerciais com clientes e parceiros comerciais, e que muitas vezes
não estão no alcance do sistema de bloqueio de ativos financeiros,
pelos mais variados motivos.

2.6.5. Estudo de casos práticos.


• Exemplo 1. Embargos de terceiro - fraude à execu-
ção - alienação fraudulenta - terceiro de má-fé.
Neste caso prático, a empresa executada alienou seu imó-
vel sede para suposto terceiro de boa-fé. O suposto comprador,
em verdade, era sócio minoritário numa sociedade empresarial, na
202 Execução Trabalhista na Prática

qual possuía como sócia majoritária a filha do sócio proprietário da


empresa executada, sendo certo, ainda, que não tinha lastro patri-
monial para efetuar a transação, conforme restou identificado pelo
INFOJUD (funcionalidade DIRPF).
O seu detalhamento foi abordado quando tratamos da si-
mulação, no tópico “2.1.6. Estudo de casos práticos”, cuja leitura
remetemos o leitor.

• Exemplo 2. Uso do INFOJUD para caracterizar a sa-


ída fraudulenta de sócio retirante.

No exemplo a seguir, foi possível caracterizar a saída fraudu-


lenta de sócio retirante, com base no art. 10-A da CLT, a partir da
análise patrimonial por meio do INFOJUD (funcionalidade DIRPF),
em que restou identificado que o sócio fundador, na qualidade de
gestor e proprietário da empresa, desviava seu patrimônio para
parentes, enquanto a empresa executada sofria severo decrésci-
mo financeiro desaguando no pedido de recuperação judicial. Após
todo o processo de transferência patrimonial, o sócio fundador
retira-se do quando societário.
Destacamos os seguintes trechos da sentença de embargos
à execução:

[...] em consulta à evolução patrimonial do embargante, por meio


do sistema INFOJUD, verifica-se a má-gestão e desvio patrimonial,
mediante transferência patrimonial da empresa, ainda que velada,
em favor do sócio embargante, bem como atuação no sentido de
desprover a empresa de patrimônio e outros recursos suficientes
a responder pelas dívidas assumidas, por ato de gestão contrário à
lei ou ao contrato social.
Isso porque a análise das declarações de imposto de renda do período
de ingresso da empresa na recuperação judicial em 2014 e a saída do
embargante do quadro societário desta em 2016 aponta no sentido
de que houve substancial enriquecimento patrimonial do sócio
embargante, ao passo que no mesmo período a empresa entrou em
derrocada, deixando de honrar com suas obrigações trabalhistas.
Nesse sentido, veja-se que no exercício de 2013 os bens e
Execução Trabalhista na Prática 203

direitos declarados foram de R$ 1.510.896,49, com crescimento


exponencial em 2014 (ano da decretação da recuperação judicial
da empresa ré) para R$ 5.486.047,34, subindo em 2015 para R$
5.995.431,41, mantendo-se neste patamar em 2016, ano da sua
saída da empresa executada.
Nessa linha de raciocínio, enquanto a empresa executada sofria
severo decréscimo financeiro, materializando, dentre outros
elementos, mediante a redução de seu quadro funcional, nos
anos 2013 a 2016, oscilando os desligamentos entre 1.038 a 328
funcionários por ano, conforme extrato do CAGED, arquivado
em Juízo, desaguando no pedido de recuperação judicial, o
embargante no mesmo período, na qualidade de gestor
e proprietário da empresa, desviava seu patrimônio para
parentes, mediante vultosas doações e empréstimos a
familiares, conforme descrição abaixo:
IRPF relativo ao exercício de 2012: doações para 3 familiares no
valor para cada de 1 milhão de reais aproximadamente.
IRPF relativo ao exercício de 2014: doações para 3 familiares no
valor para cada de um milhão e meio de reais aproximadamente.
IRPF relativo ao exercício de 2015: empréstimos realizados durante o
ano calendário no valor de 3 milhões e seiscentos mil reais.
IRPF relativo ao exercício de 2016: empréstimos realizados durante
o ano calendário nos importes respectivos de R$ 150.000,00 e R$
400.000,00.
Cabe ressaltar que o crédito exequendo consolidado se aproxima
de 1 milhão de reais e remonta a processos de 2013 a 2017,
relativos a contratos de trabalho quando o embargante era sócio,
proprietário e administrador da empresa executada.
Portanto, resta evidente que a saída do sócio embargante da
empresa executada foi fraudulenta, mediante prática de ato
tendente a levá-la à insolvência, mediante abuso de gestão, fraude
e desvio patrimonial, em franco prejuízo dos credores trabalhistas.
Justamente, sob tal prisma, caso restasse aplicado ao caso o art.
10-A da CLT, tal como intenta fazer crer o embargante, incidiria
na espécie o seu parágrafo único, que assim dispõe: “O sócio
retirante responderá solidariamente com os demais quando
ficar comprovada fraude na alteração societária decorrente
da modificação do contrato”122.

122 TRT2 - 2ª Vara do Trabalho de Itaquaquecetuba - Sentença de embargos à exe-


cução nº 1001024-52.2016.5.02.0342 - Juiz prolator Rafael Vitor de Macêdo
Guimarães - DEJT 06/07/2018.
204 Execução Trabalhista na Prática

Em sede de agravo de petição, a Corte Regional manteve o


direcionamento da instância de origem, ressaltando a má gestão e
a intenção de fraude do sócio retirante, tendo por base o estudo
patrimonial realizado:

O d. Juízo ‘a quo’, após consulta às exigências de Imposto de


Renda da empresa executada, bem como dos lucros, constata
uma má gestão e a intenção de fraude na execução, através do
esvaziamento do patrimônio da pessoa jurídica com a realização
de transferência de números para familiares do agravante, na
época da derrocada da empresa executada. Nesse passo, inclua o
agravante no polo passivo da execução não mostra prematura, pois
ele é fulcrado em responsabilidade solidária que foi imputada, oriunda
da fraude constatada (art. 942, do CC c / c art. 10-A , parágrafo único,
da CLT), e mostra os itens expostos à frente das manobras adotadas
com o objetivo de frustrar os credores trabalhistas.
(TRT2 - AP 10010245220165020342 SP - 13ª Turma - Relator
Desembargador Fernando Antonio Sampaio da Silva - Data de
Publicação: 28/05/2019)

• Exemplo 3. Uso do INFOJUD para descortinar falsa


alegação de bem de família.
No terceiro exemplo, a ferramenta eletrônica INFOJUD
(funcionalidade DIRPF) foi utilizada para descortinar falsa alegação
de bem de família, especificamente quanto à divergência de infor-
mações prestadas pelo devedor acerca da sua residência habitual.
Com efeito, no caso em questão, identificou-se que o do-
micílio tributário eleito pelo devedor como sendo sua residência
habitual, nos termos do art. 28 do Decreto n. 3.000/1999 (re-
gulamento do imposto sobre a renda e proventos de qualquer
natureza), não era o mesmo endereço do bem imóvel apontado
como suposto bem de família.
Destacamos os seguintes trechos da sentença de embargos
à execução:

Segundo se infere do artigo 5º da Lei 8.009/1990, para que se goze


da impenhorabilidade do bem de família contida no artigo 1º, do
mesmo diploma legal, é necessário que se comprove a reunião de
dois requisitos, a saber: I) ser o bem imóvel objeto da controvérsia
Execução Trabalhista na Prática 205

o único de propriedade do devedor; e II) utilizado para moradia


permanente.
Na hipótese dos autos, conforme se extrai da declaração de
IRPF de p. 237 do PDF (Id 0b56738) apresentada pelo sócio
executado, seu domicílio tributário é na Rua Doutor Paulo ...,
Barueri-SP, CEP 06431-000.
Igual endereço foi dado como sua residência na declaração de
pobreza e na procuração ad judicia, documentos de p. 234/235.
Na certidão de Oficial de Justiça de p. 256 (Id 69a9efa) ficou
constatado que “(...) o destinatário (...) não costuma ser
encontrado no local, pois trabalha em outra cidade.”
[...]
Impende acrescer que, nos termos do art. 28 do Decreto n.
3.000/1999 (Regulamento do Imposto sobre a Renda e Proventos de
Qualquer Natureza), o domicílio fiscal eleito pelo contribuinte
é considerado sua residência habitual, para os devidos fins legais,
sendo certo que, quando se verificar pluralidade de residência no
País, o domicílio fiscal será o constante na apresentação continuada
das declarações de rendimentos.
De igual modo, segundo inteligência do art. 127 do Código
Tributário Nacional, considera-se residência habitual do
contribuinte o domicílio tributário eleito por este.
Portanto, se o embargante declarou o endereço Rua Doutor Paulo
Arruda ... Barueri-SP, CEP 06431-000 como sendo seu domicílio
tributário, que é considerado sua residência habitual por força de
lei, não constitui respaldo legal a alegação defensiva de que constitui
residência na Rua Igaratá, ... Vinhedo – SP, ..., para fins de caracterizar
tal local como sendo bem de família, sob pena de violar a boa-fé
objetiva, mais especificamente a regra da “nemo potest venire contra
factum proprium” (proibição de comportamento contraditório).
[...]
Desse modo, o bem imóvel objeto da penhora não pode ser
enquadrado no conceito de bem de família, pois, conforme
declarações do embargante perante a Receita Federal e nos
demais documentos juntados (procuração e em declaração
de pobreza), não é o local de sua residência habitual, ainda
que seja o único imóvel que detém, ao menos formalmente.123.
(grifos no original)

123 TRT2 - 2ª Vara do Trabalho de Itaquaquecetuba - Sentença de embargos à exe-


cução nº 1002317-62.2013.5.02.0342 - Juiz prolator Rafael Vitor de Macêdo
Guimarães - DEJT 27/08/2018.
206 Execução Trabalhista na Prática

Em sede de agravo de petição, a Corte Regional manteve


o direcionamento da instância de origem, conforme excertos do
acórdão em destaque:

[...] Conforme preceitua o artigo 1º da Lei 8009/90, o imóvel


residencial próprio ou do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável
e não a responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária, ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou
pelos pais ou filhos que sejam proprietários e nele residam.
O referido artigo é claro no sentido de que a impenhorabilidade
alcança o imóvel utilizado para moradia da família, sendo irrelevante
a existência de outros imóveis de titularidade do devedor.
Não é necessário que seja o único imóvel de propriedade dos
executados, a lei simplesmente exige que seja o único utilizado
para fins de residência, tanto que o parágrafo único, do artigo 5º
da Lei do Bem de Família expressamente dispõe que, na existência
de mais de um imóvel que sirva de moradia, a impenhorabilidade
recairá sobre o de menor valor.
[...]
Ademais, conforme bem lembrado pela r. decisão de origem,
conforme se extrai da declaração de IRPF de fls. 237 (ID 0b56738)
apresentada pelo sócio executado, seu domicílio tributário é na
Rua Doutor Paulo [...] Barueri-SP, [...], que é considerado sua
residência habitual por força de lei.
Somando a isto, o fato do mandado ter sido cumprido no endereço
do imóvel não faz prova absoluta, já que não restou esclarecido no
momento da ciência da penhora se o executado residia no local.
Portanto, não comprovado nos autos que o bem imóvel penhorado é
utilizado para moradia permanente do agravante, não se encontra ele
protegido pela impenhorabilidade advinda da Lei 8.009/90.
Desse modo, nada a reformar.
(TRT2 - AP 10023176220135020342 SP - 4ª Turma - Relatora
Desembargadora Ivete Ribeiro - Data de Publicação: 18/06/2019)

2.16. SISCOAF.
2.16.1. Escopo.
A Lei 9.613/98, que dispõe sobre os crimes de lavagem ou
ocultação de bens, direitos e valores, criou o Conselho de Contro-
le de Atividades Financeiras (COAF), que é a Unidade de Inteligên-
cia Financeira do Brasil.
Execução Trabalhista na Prática 207

Segundo dispõe o caput do art. 14 da Lei 9.613/98, o Conse-


lho de Controle de Atividades Financeiras - COAF tem por finalidade
“disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identi-
ficar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas nesta Lei,
sem prejuízo das competências de outros órgãos e entidades”. 
Em complemento, preceitua o §2º do art. 14 que o COAF
“deverá, ainda, coordenar e propor mecanismos de cooperação e
de troca de informações que viabilizem ações rápidas e eficientes
no combate à ocultação ou dissimulação de bens, direitos e valores”.
Finaliza o §3º do art. 14 no sentido de que o COAF “poderá requerer
aos órgãos da Administração Pública as informações cadastrais bancá-
rias e financeiras de pessoas envolvidas em atividades suspeitas”.
É bem de ver que o referido órgão controla uma enorme
base de dados de operações suspeitas de lavagem ou ocultação de
bens, direitos e valores, as quais podem ser acessadas pelas autori-
dades administrativas e judiciais.
O COAF, atualmente, está vinculado ao BCB (Lei
13.974/2020), e visa a promoção do enfoque econômico-finan-
ceiro na prevenção e combate ao crime de lavagem de dinheiro,
inclusive mediante edição de normas que norteiam os setores eco-
nômicos obrigados ao cumprimento do dever de comunicação nos
termos da Lei nº 9.613/1998.
Compete ao COAF, também, coordenar a troca de informa-
ções que viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à ocul-
tação ou dissimulação de bens, direitos e valores (artigo 15 da Lei
nº 9.613/98124).
Ao fim, o sistema de informações do COAF é denominado
de SISCOAF, que possui o portal eletrônico de acesso restrito às
autoridades administrativas e judiciais (Sistema Eletrônico de In-
tercâmbio do Coaf - SEI-C), através do qual são requisitados os
Relatórios de Inteligência Financeira - RIFs.

124 Art. 15. O COAF comunicará às autoridades competentes para a instauração


dos procedimentos cabíveis, quando concluir pela existência de crimes previstos
nesta Lei, de fundados indícios de sua prática, ou de qualquer outro ilícito.
208 Execução Trabalhista na Prática

2.16.2. Dinâmica de elaboração do Relatório de Inte-


ligência Financeira (RIF).
Como visto, o SISCOAF tem como funcionalidade a elaboração
dos Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs).
O processo de elaboração do RIF125 inicia-se com a alimen-
tação da base de dados do COAF com as informações dos setores
econômicos126, que são obrigados a comunicar ao referido órgão
as operações e situações que podem configurar indícios de ocor-
rência dos crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e
valores.
Os dados recebidos seguem para análise sistêmica tendo por
base regras de inteligência previamente definidas, sendo submeti-
dos ao cruzamento de informações pelos analistas.
Tratando-se de situação suspeita dentro dos parâmetros
estabelecidos (verdadeira “malha fina”), tal como ocorre com
o aumento ou diminuição atípica de patrimônio, sem lógi-
ca financeira, incompatível com a capacidade financeira do(s)
investigado(s), é aberta pasta virtual chamada de “caso” no SIS-
COAF com a confecção do documento denominado Relatório
de Inteligência Financeira (RIF).
A base de dados do “caso” é utilizada como subsídio para
análises subsequentes. Com isso, há um aprimoramento contí-
nuo do “caso” a partir das novas comunicações que vão sendo
registradas no sistema.
O RIF pode ser requisitado pelo juiz do trabalho através do
Sistema Eletrônico de Intercâmbio do Coaf (SEI-C).

125 http://fazenda.gov.br/assuntos/prevencao-lavagem-dinheiro/inteligencia-finan-
ceira. Acesso em 09/08/2020.
126 Exemplos de setores econômicos obrigados: instituições participantes do Sis-
tema Financeiro Nacional, bem como as instituições sujeitas à regulação da
Comissão de Valores Mobiliários - CVM; corretores de imóveis; pessoas físicas
e jurídicas prestadoras de serviços de economia e finanças; juntas comerciais;
sociedades seguradoras e de capitalização, resseguradores locais e admitidos,
entidades abertas e fechadas de previdência complementar.
Execução Trabalhista na Prática 209

2.16.3. Conteúdo do RIF e seus impactos na persecução


patrimonial executiva.
O RIF traz uma narrativa rica em detalhes fáticos, negociais e
financeiros do caso aberto, com cruzamento de informações finan-
ceiras do alvo, além de relacionar os terceiros envolvidos na opera-
ção financeira ou no negócio jurídico, que podem fazer parte, por
exemplo, de um grupo econômico fraudulento.
Este trabalho de inteligência permite descortinar mecanis-
mos de blindagem patrimonial de maior complexidade, bem como
funciona como verdadeira “chave-mestra” para análise dos relatórios
extraídos da ferramenta eletrônica SIMBA, que trataremos adiante.
Portanto, as informações constantes do RIF possuem grande
impacto na persecução patrimonial executiva, tornando possível
localizar não só patrimônio em nível mais complexo de ocultação,
mas também identificar toda a cadeia de corresponsáveis patrimo-
niais. O RIF confere um verdadeiro impulso de celeridade e efetivi-
dade na busca patrimonial na execução trabalhista.
O COAF tem como alvo operações com os seguintes bens,
valores e transações em geral, que podem nortear sobremaneira a
condução da execução trabalhista:

 Bens de luxo ou de alto valor;


 Compra e venda de joias, pedras e metais preciosos;
 Operações com TED/DOC;
 Operações com cartões de crédito;
 Pagamentos em espécie ou por meio de cheques;

 Operações de factoring, securitização de ativos, títulos


ou recebíveis mobiliários;

 Remessas alternativas de recursos nacionais ou inter-


nacionais de ativos financeiros.
210 Execução Trabalhista na Prática

A “malha fina” das fraudes financeiras no Sistema Financeiro


Nacional é a Carta Circular nº 4.001, de 29/01/2020, com vigência
a partir de 1º/10/2020127, do Banco Central do Brasil. Trata-se de
importante instrumento normativo regente das operações finan-
ceiras e situações que podem configurar indícios de ocorrência dos
crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores, pas-
síveis de comunicação pelas instituições financeiras ao Conselho de
Controle de Atividades Financeiras.
Portanto, todas as ocorrências descritas na referida Carta
Circular nº 4.001/2020 devem ser reportadas ao COAF, alimentan-
do, com isso, a base de dados do SISCOAF, nos termos dos §§1º
e 2º do art. 1º:

Art. 1º. §1º. As operações ou as situações referidas no caput devem


ser comunicadas, nos termos da referida Circular, somente nos casos
em que os indícios forem confirmados ao término da execução dos
procedimentos de análise de operações e situações suspeitas.
§2º. Os procedimentos referidos no § 1º devem considerar todas
as informações disponíveis, inclusive aquelas obtidas por meio
dos procedimentos destinados a conhecer clientes, funcionários,
parceiros e prestadores de serviços terceirizados.

A partir da Carta Circular nº 4.001/2020, destacamos algu-


mas operações ou situações que exemplificam a ocorrência de ele-
mentos indiciários de ocultação e blindagem patrimonial, descritos
nos RIFs, com impacto direto na execução trabalhista:

 depósitos, aportes, saques, pedidos de provisionamento


para saque ou qualquer outro instrumento de transfe-
rência de recursos em espécie, que apresentem atipi-
cidade em relação à atividade econômica do cliente ou
incompatibilidade com a sua capacidade financeira;

127 Revogou a Carta Circular nº 3.542, de 12/03/2012, que era o instrumento nor-
mativo regente da matéria.
Execução Trabalhista na Prática 211

 abertura, movimentação de contas ou realização de


operações por detentor de procuração ou de qualquer
outro tipo de mandato;

 cadastramento de várias contas em uma mesma data, ou


em curto período, com depósitos de valores idênticos
ou aproximados, ou com outros elementos em comum,
tais como origem dos recursos, titulares, procuradores,
sócios, endereço, número de telefone, etc.;

 representação de diferentes pessoas jurídicas ou orga-


nizações pelos mesmos procuradores ou representantes
legais, sem justificativa razoável para tal ocorrência;

 informação de mesmo endereço residencial ou co-


mercial por pessoas naturais, sem demonstração da
existência de relação familiar ou comercial;

 incompatibilidade da atividade econômica ou fatu-


ramento informados com o padrão apresentado por
clientes com o mesmo perfil;

 registro de mesmo endereço de e-mail ou de Internet


Protocol (IP) por diferentes pessoas jurídicas ou orga-
nizações, sem justificativa razoável para tal ocorrência;

 registro de mesmo endereço de e-mail ou Internet


Protocol (IP) por pessoas naturais, sem justificativa
razoável para tal ocorrência;

 informações e documentos apresentados pelo cliente


conflitantes com as informações públicas disponíveis;
212 Execução Trabalhista na Prática

 sócios de empresas sem aparente capacidade financeira


para o porte da atividade empresarial declarada;

 movimentação de recursos de alto valor, de forma


contumaz, em benefício de terceiros;

 utilização de cofres de aluguel de forma atípica em


relação ao perfil do cliente;

 operações que, por sua habitualidade, valor e forma,


configurem artifício para burla da identificação da
origem, do destino, dos responsáveis ou dos destina-
tários finais;

 pagamentos habituais a fornecedores ou beneficiários


que não apresentem ligação com a atividade ou ramo
de negócio da pessoa jurídica;

 pagamentos ou transferências por pessoa jurídica para


fornecedor distante de seu local de atuação, sem
fundamentação econômico-financeira;

 existência de contas em nome de menores ou incapa-


zes, cujos representantes realizem grande número de
operações e/ou operações de valores relevantes;

 desvios frequentes em padrões adotados por cada


administradora de cartões de credenciamento ou de
cartões de crédito, verificados no monitoramento das
compras de seus titulares;

 transações em horário considerado incompatível com


a atividade do estabelecimento comercial credenciado;
Execução Trabalhista na Prática 213

 utilização de instrumento financeiro de forma a ocultar


patrimônio e/ou evitar a realização de bloqueios judiciais,
inclusive cheque administrativo;

 movimentação de valores incompatíveis com o fatura-


mento mensal das pessoas jurídicas;

 recebimento de créditos com o imediato débito dos


valores.

Recentemente, por força do Provimento nº 88, de 1º de ou-


tubro de 2019, do Conselho Nacional de Justiça, os tabeliães de
notas e de protesto de títulos, de registro de imóveis, de títulos
e documentos e civis de pessoas jurídicas e os oficiais de registro
de contratos marítimos passaram a ser obrigados a comunicar as
operações suspeitas ao COAF128.
Segundo o art. 5º do Provimento nº 88 do CNJ, “os notários
e registradores devem avaliar a existência de suspeição nas ope-
rações ou propostas de operações de seus clientes, dispensando
especial atenção àquelas incomuns ou que, por suas características,
no que se refere a partes envolvidas, valores, forma de realização,
finalidade, complexidade, instrumentos utilizados ou pela falta de
fundamento econômico ou legal, possam configurar indícios dos
crimes de lavagem de dinheiro ou de financiamento do terrorismo,
ou com eles relacionar-se”.
Assim como ocorre com a Carta Circular nº 4.001/2020 do
BCB, os artigos 20 e 26 do Provimento nº 88/2019 do CNJ consti-
tuem verdadeiro referencial normativo na identificação de elemen-
tos indiciários das tipologias de blindagem patrimonial no contexto
da prática da execução trabalhista:

128 Art. 6°. Os notários e registradores comunicarão à Unidade de Inteligência Financei-


ra – UIF, por intermédio do Sistema de Controle de Atividades Financeiras – Siscoaf,
quaisquer operações que, por seus elementos objetivos e subjetivos, possam ser
consideradas suspeitas de lavagem de dinheiro ou financiamento do terrorismo.
214 Execução Trabalhista na Prática

Art. 20 Sem prejuízo dos indicativos específicos de cada uma das


atividades previstas nos capítulos seguintes, podem configurar
indícios da ocorrência de crimes de lavagem de dinheiro ou de
financiamento do terrorismo, ou com ele relacionar-se:
I - a operação que aparente não resultar de atividades ou negócios
usuais do cliente ou do seu ramo de negócio;
II - a operação cuja origem ou fundamentação econômica ou legal
não sejam claramente aferíveis;
III - a operação incompatível com o patrimônio ou com a
capacidade econômico-financeira do cliente;
IV - a operação cujo beneficiário final não seja possível identificar;
V - as operações envolvendo pessoas jurídicas domiciliadas em
jurisdições consideradas pelo Grupo de Ação contra a Lavagem de
Dinheiro e o Financiamento do Terrorismo (Gafi) de alto risco ou
com deficiências estratégicas de prevenção e combate à lavagem
de dinheiro e ao financiamento do terrorismo;
VI - as operações envolvendo países ou dependências considerados
pela RFB de tributação favorecida e/ou regime fiscal privilegiado,
conforme lista pública;
VII - a operação envolvendo pessoa jurídica cujo beneficiário
final, sócios, acionistas, procuradores ou representantes legais
mantenham domicílio em jurisdições consideradas pelo Gafi
de alto risco ou com deficiências estratégicas de prevenção e
combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo;
VIII - a resistência, por parte do cliente e/ou dos demais envolvidos,
no fornecimento de informações solicitadas para o registro da
operação, bem como para o preenchimento dos cadastros;
IX - a prestação, por parte do cliente e/ou dos demais envolvidos,
de informação falsa ou de difícil ou onerosa verificação para o
registro da operação, bem como para o preenchimento dos
cadastros;
X - a operação injustificadamente complexa ou com custos mais
elevados, que visem dificultar o rastreamento dos recursos ou a
identificação do seu real objetivo;
XI - a operação fictícia ou com indícios de valores incompatíveis
com os de mercado;
XII - a operação com cláusulas que estabeleçam condições
incompatíveis com as praticadas no mercado;
XIII - qualquer tentativa de burlar os controles e registros
exigidos pela legislação de prevenção à lavagem de dinheiro
Execução Trabalhista na Prática 215

e ao financiamento do terrorismo, através de fracionamento,


pagamento em espécie ou por meio de título emitido ao portador;
XIV - o registro de documentos de procedência estrangeira, nos
termos do art. 129, 6º, c/c o art. 48 da Lei n. 6.015, de 31 de
dezembro de 1973;
XV - a operação que indique substancial ganho de capital em um
curto período de tempo;
XVI – a operação que envolva a expedição ou utilização
de instrumento de procuração que outorgue poderes de
administração, de gerência dos negócios, ou de movimentação
de conta corrente vinculada de empresário individual, sociedade
empresária ou cooperativa;
XVII – as operações de aumento de capital social quando pelas
partes envolvidas no ato, ou as características do empreendimento,
verificar-se indícios de que o referido aumento não possui
correspondência com o valor ou o patrimônio da empresa;
XVIII - quaisquer outras operações que, considerando as partes
e demais envolvidos, os valores, modo de realização e meio e
forma de pagamento, ou a falta de fundamento econômico ou
legal, possam configurar sérios indícios da ocorrência dos crimes
de lavagem de dinheiro ou de financiamento do terrorismo, ou
com eles relacionar-se; e
XIX - outras situações designadas em instruções complementares
a este.
[...]
Art. 26 Podem configurar indícios da ocorrência dos crimes de
lavagem de dinheiro ou de financiamento do terrorismo, ou com
eles relacionar-se, além das hipóteses previstas no art. 20:
I - doações de bens imóveis ou direitos reais sobre bens imóveis
para terceiros sem vínculo familiar aparente com o doador,
referente a bem imóvel que tenha valor venal atribuído pelo
município igual ou superior a R$100.000,00 (cem mil reais);
II - concessão de empréstimos hipotecários ou com alienação
fiduciária entre particulares;
III - registro de negócios celebrados por sociedades que tenham
sido dissolvidas e tenham regressado à atividade;
IV - registro de aquisição de imóveis por fundações e associações,
quando as características do negócio não se coadunem com as
finalidades prosseguidas por aquelas pessoas jurídicas.
216 Execução Trabalhista na Prática

2.16.4. Maximizando o resultado da pesquisa no SIS-


COAF.
A fim de que o RIF venha com o máximo de informações,
faz-se necessário que seja ampliada previamente a cadeia de cor-
responsáveis tradicionais na execução trabalhista, mediante a in-
clusão no polo passivo dos sócios formais (atuais e retirantes) e
cônjuges respectivos, bem como do grupo econômico empresarial
incontroverso ou de fácil identificação.
Com isso, permite-se abranger maior número de alvos no
RIF, evitando-se que o trabalho seja restrito a uma parte das opera-
ções, transações e negócios jurídicos de interesse para a execução
trabalhista.

2.16.5. Marco temporal da requisição e extração de


informações no SISCOAF.
No painel de alimentação da requisição do RIF, o campo “pe-
ríodo da consulta” aponta um marco temporal preestabelecido da
requisição dos últimos cinco anos.
Desse modo, caso haja necessidade de ampliação do período
de análise das informações alimentadas no SISCOAF, como forma
de adequar às necessidades do caso concreto, o magistrado requi-
sitante deve editar o referido campo, registrando a data de início
condizente com a investigação patrimonial do caso específico.
Geralmente, o SISCOAF responde muito rápido às requisi-
ções dos RIFs, os quais são extraídos do sistema em formato PDF.
Cabe destacar que o RIF envolve informações e dados sigi-
losos, razão pela qual o juízo deve dar acesso ao seu inteiro teor
apenas às partes e procuradores respectivos.

2.16.6. Aplicações práticas.


A aplicação prática do uso do SISCOAF na execução traba-
lhista é, primordialmente, direcionada para descortinar mecanis-
mos de blindagem patrimonial de maior complexidade, tais como:
Execução Trabalhista na Prática 217

cMudanças repentinas e evidentemente injustificáveis no


montante ou na frequência de transações de remessa ou
recebimento por parte de um mesmo cliente. (Resolução
nº 10/2001 do COAF, item 5 do anexo)

cIdentificação de transações envolvendo pessoas que


não aparentam condições financeiras para a operação
ou não pareçam agir por conta própria, configurando
a possibilidade de se tratar de “testa de ferro” ou
“laranja”, como usualmente são conhecidas as pessoas
que emprestam seus nomes para operações escusas.
(Resolução nº 10/2001 do COAF, item 7 do anexo)

cIdentificação de pessoas físicas e/ou jurídicas, sem histórico


no mercado, que realizam transferências internacionais
envolvendo elevadas quantias em dinheiro. (Resolução nº
10/2001 do COAF, item 9 do anexo)

cRastreamento de transações ou remessas com


aumento repentino do valor total não justificáveis, em
determinada praça ou região. (Resolução nº 10/2001
do COAF, item 9 do anexo)

Por fim, apresentamos alguns exemplos concretos de grande


impacto das informações obtidas pelos RIFs na efetivação da tutela
executiva trabalhista:

cIdentificação de administrador oculto que utilizou conta


bancária pessoal para movimentar recursos financeiros
da empresa executada na informalidade, por meio da
qual foram realizados pagamentos de empregados,
inclusive de vale transporte e vale refeição.
218 Execução Trabalhista na Prática

cUtilização pela empresa executada de conta bancária de


sócia oculta, mascarada como empregada da empresa
devedora, para passar todo o seu faturamento fora do
radar do SISBAJUD.

cIdentificação de grupo econômico e de empresas


de fachada, através de análise detalhada no RIF das
operações financeiras (envio e recebimento de TEDs)
e de operações de mútuo, ambas realizadas no interior
da cadeia empresarial fraudulenta.
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