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M aria M artha Costa H übner ■Elízeu Borlotí ■Paola Almeida ■Adriana Cunha Cruvínel

“Nenhuma consideração sobre comportamento hu­ O texto divide-se de acordo com as duas direções do
mano estará completa se não incluir a atividade ver­ avanços do conhecimento sobre relações verbais na Análise
bal do homem. E a forma de comportamento mais do Comportamento. A primeira trata de definições concei­
elevada e valiosa; mais que nenhuma outra o distin­ tuais acerca dos chamados operantes verbais, incluindo
gue dos animais inferiores; e nela estão entesouradas as extensões e as fusões, e apresenta estudos que inves­
a herança cultural da filosofia, da ciência, da arte e tigam procedimentos específicos para o desenvolvimento
da tecnologia, e, a partir dela, efetua-se a transmissão de alguns desses repertórios. A segunda refere-se a limites
desse conhecimento acumulado de geração a geração. e possibilidades de controle do com portam ento verbal
N a realidade fo i o comportamento verbal que tor­ sobre o não verbal, atendo-se, especificamente, para aí
nou esse conhecimento possível” (Keller, Schoenfeld, implicações do estabelecimento de repertórios verbalmente
1950, p. 393). controlados, ou o chamado com portam ento governadc
por regras.
Qualquer teoria que se proponha a explicar o com por­
tam ento hum ano terá a linguagem como o seu principal
desafio e interesse, tanto pela im portância quanto pela PRESSUPOSTOS DA PR O PO STA
com plexidade deste fenôm eno. A ciência proposta por B EH A V IO RISTA RADICAL PARA
B. F. Skinner, conhecida com o Análise do C om porta­ O ESTU D O DA LINGUAGEM
m ento, aceitou esse desafio produzindo um a im portante
obra, o livro Verbal Behavior (Skinner, 1957). A tual­ Com o ciência, a Análise do Com portam ento tem por
mente, estudos enfocando múltiplos aspectos desse tema, objetivos a previsão, o controle e a interpretação do fenô­
por exemplo, gramática e sintaxe (Palmer, 1998), signifi­ meno comportam ental. A filosofia dessa ciência é o Beha­
cado e compreensão na escuta (Lowenkron, 2004), música viorismo Radical, assim definido por chegar à raiz dos
(H übner, 2007), fonética (Yoo, Bennett, 2000), litera­ determinantes do com portam ento hum ano. Essa raiz esc.
tura (Grant, 2005), pensam ento e cognição (Lana, 2002) firmemente sustentada no monismo, no contextualismc
e discurso (Borloti, Iglesias, Dalvi, Silva, 2008), podem e na análise funcional (Owen, 2003).
ser encontrados no corpo de conhecimentos produzidos A Análise do C om portam ento é m onista por afirmar
nessa ciência. Este capítulo tem o objetivo de apresentar a que tudo o que fazemos é com portam ento (mesmo aquilc
proposta behaviorista radical para o estudo da linguagem, que não sabemos que fazemos); e tudo isso que fazemos
tendo como referência a proposta skinneriana para tal e tem uma única natureza, não importa se o comportamento
expor dados de investigações experimentais acerca do é verbal/simbólico, complexo, privado, consciente ou não.
com portam ento verbal. É contextualista por afirmar que o significado de qualquer
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Linguagem 101

:om portam ento está nas condições históricas e atuais que operação. Essa m aneira de seleção é tão fundam ental que
I determinam; e a análise funcional arremata a interpre- define o com portam ento com o operante-, o com porta­
:jção do com portam ento por defini-lo como um a relação m ento operante modifica o m undo e, ao mesmo tempo,
com outros eventos antecedentes e consequentes em um é modificado pelo m undo que ele modificou.
contexto sócio-histórico específico. N o caso da evolução da linguagem, Skinner (1986)
C oncebendo o com portam ento com o produto rela­ explicou com o esse processo dinâm ico e bilateral pode
tional entre o organismo e o contexto ambiental, o Beha­ ter ocorrido na interação entre os com portam entos de
viorismo Radical não restringe, entretanto, a noção de um falante (A) e os com portam entos de um ouvinte (B),
imbiente àqueles eventos públicos observáveis que entram quando os de A teriam operado consequências sobre os de
de m aneira mais óbvia na relação com portam ental; ele B que, por sua vez, retroagiram sobre os de A. A interação
im plia esta noção, definindo o am biente com o todo operante que ele ilustrou foi um episódio de pesca entre A
r.ento externo à ação que se analisa. Portanto, ambiente é e B. Se quem recolhe a rede é B, e A está em um a posição
: jdo e qualquer evento, esteja “dentro” ou “fora” do sujeito em que pode ver melhor os peixes, A pode fazer qualquer
Matos, 1991), que entra na relação que define o compor­ coisa quando um peixe entra na rede. Se essa “qualquer
tamento, com pondo os fatos da história do indivíduo e coisa” que A faça for um som vocal indiferenciado que
;ue dão sentido a sua ação (e são sentidos como parte do exercer função sobre B operando a consequência “rede
:ontexto atual). M onism o e contextualismo funcional se puxada”, provavelmente este som será selecionado e dife­
mesclam ao antimentalismo e ao antipositivismo lógico: renciado por sua consequência. Os elementos indissociá­
: próprio com portam ento é o objeto de estudo (ele não veis do Modelo de Seleção pelas Consequências estão nesse
é o indício ou a manifestação de outra coisa, como, por episódio: filogênese (pois há controle pela suscetibilidade
rxemplo, quando se afirma que “a fala é a manifestação da ao reforçam ento alim entar e social), ontogênese (pois
mente do sujeito”) e ser observável consensualmente não ambos aprendem as regras da interação) e cultura (pois
é o critério de sua verdade factual e, consequentemente, há o que se chama de cooperação; a vocalização selecionada
de sua legitimidade como objeto de estudo. passa a ser um tipo de código, com partilhado por favo­
Baseado em tais pressupostos, e aderido ao evolucio- recer boas pescarias e, consequentemente, a m anutenção
nismo, Skinner (1981, 1974) propõe, então, um M odelo do grupo). Possivelmente, o com portam ento verbal-vocal
c£ Seleção pelas Consequências para explicar o comporta­ tenha evoluído do verbal-gestual. A função do som indife­
mento hum ano, tal como apresentado no Capítulo I deste
renciado poderia ter sido a de um gesto manual indiferen­
_vro. Segundo ele, todo comportam ento é produto de três
ciado; entretanto, o som fora selecionado pela velocidade
ristórias indissociáveis da interação organismo-ambiente:
com que alcançou o ouvinte e pela consistência de repro­
I história filogenética, a ontogenética e a cultural. Trata-se
dução para as práticas de ensino de mem bros do grupo
re um modelo explicativo selecionista (e, portanto, não
(Place, 2000; Borloti, 2005).
mecanicista) no qual o ambiente, conforme definido antes,
é selecionador (e, portanto, não iniciador) de com porta­
mentos; e unificador das múltiplas dimensões da determi­ PR O PO STA C O M PO R TA M EN TA L
nação humana, condensadas no adjetivo “biopsicossocial” PARA O ESTU D O DA LIN GUAGEM
dado ao hum ano.
A história filogenética m arca a herança da espécie a C om o M odelo de Seleção pelas Consequências e o
partir das contingências de sobrevivência que selecionam arcabouço filosófico avançado do Behaviorismo Radical,
a form a e a função do corpo hum ano. A ontogenética a Análise do Com portam ento se “liberou” das amarras e
é responsável pela construção dos com portam entos ao dos limites positivistas lógicos do Behaviorismo M etodoló­
longo da história de aprendizagem desse corpo, tornando- gico de W atson, que se atinha ao observável por consenso
o um a pessoa única. A história cultural amplia, concomi- e era dualista. “Inventando alguns termos novos”, Skinner
tantemente, essa construção em práticas grupais entre os (1957) apresentou uma proposta pragmática para o estudo
membros de um a cultura, transmitidas por favorecerem da linguagem . Esse fenôm eno, considerado complexo,
a sobrevivência do grupo. tipicamente hum ano e tradicionalm ente discutido como
Nesses níveis de seleção, comportamentos operam sobre m anifestação de atividades internas do organism o (em
o ambiente e são selecionados pelas consequências dessa geral, mais com portam entos privados a serem explicados,
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tais como pensamento, raciocínio, capacidade de simboli- o empírico; m esm o quando eles são opostos ao que se
zaçao etc.), passou a ser discutido por Skinner como mais deseja, é um a das características do que o autor consider!
um a m aneira de com portam ento em várias modalidades como um a atitude científica respeitável (Skinner, 1953).
(p. ex., vocal ou motora). Entretanto, esse exercício de interpretação das variáveii
A proposta de Skinner emergiu nos anos 1930 e é justo controladoras do com portam ento verbal foi respaldad:
apontar o que vinha ocorrendo antes disso, um a vez que, pelos estudos experimentais do com portam ento dos orga­
nessa década e na anterior, as propostas behavioristas para nismos, realizados por ele desde 1938, a partir dos quaã
o estudo da linguagem prepararam o terreno para que o os princípios básicos comportamentais foram descoberto;,
livro de Skinner sobre com portam ento verbal (Skinner, dentre eles o de reforçamento.
1957) fertilizasse, reafirmando, am pliando ou contradi­ Skinner incluiu na obra todos os temas possíveis aa
zendo algumas delas (Powell, Still, 1979). estudo da linguagem. Produziu um livro denso e difíc_
A psicologia da linguagem de W atson para o estudo da (Day, 1980), considerado um a obra para ser estudada ;
linguagem era baseada no reflexo condicionado e não dava não apenas lida (Osgood, 1958). Para romper a barreia
im portância à questão do significado. Skinner extrapolou da sua linguagem, autores brasileiros publicaram vário-
a análise do com portam ento verbal em termos do reflexo trabalhos didáticos ou introdutórios sobre o conteúdo c:
e preservou de W atson o objetivo de estudar o com porta­ livro (Ribeiro, 2004; Borloti, 2004; Barros, 2003; Borlot,
mento verbal por si mesmo. Manteve a oposição ao Menta- 2003; M atos, 1991; H übner, 1997; H übner, Migue.
lismo, a adesão ao Evolucionismo, a defesa do Determ i­ Michael, 2005).
nismo e do m étodo experimental e, assim, postulou sua Seja pela linguagem nova, seja pelo m odo como ela tbj
concepção do significado. apresentada pelo seu autor, o livro levou mais de 20 anc:.
Foi nesse contexto histórico que, em seu livro Verbal para ser publicado e os impactos da sua análise no deser-
Behavior, Skinner (1957) propôs, então, a substituição volvimento da pesquisa experimental não foram imedia::*
do term o “linguagem” por com portam ento verbal, por Dem orou mais alguns anos para que seu exercício de intdl
entender inadequado o prim eiro term o, pois é geral, pretação pudesse passar para o corpo de investigação pris-
chãm Tatenção p a rã a ^ ín g u a ” e está com prom etido com cipal da ciência de Skinner: a Análise Experim ental ■
a ‘'doutrina da expressão das ideias”, que diz que a alocução C om portam ento. E ntretanto, isso tem m udado, ainct
deve ser explicada pelas ideias nela expressas. “Significado”, que lentamente.
“informação” ou “conhecimento” são sucessores modernos Para se ter um a ideia, no início dos anos 1980 apena
dessa doutrina e7 segundo o autor, sempre supõem uma 4% dos trabalhos citando o Verbal Behavior eram sst
“estrutura interna” que explicaria a alocução. Para Skinner, estudos empíricos; desses, apenas 2,2% eram experimen­
o term o “com portam ento verbaI” é7~Ecm5imente, mais tais (básicos e/ou aplicados) (Sundberg, Partington, 19£^
preciso e inclui todas os tipos de comunicacão (vocais ou Dezoito anos depois, o emprego de conceitos técnicos i
motoras), não im portando se o produto criado for auditivo livro, sem necessariamente citá-lo, tornou-o a segunJ
(como na fala, no código morse ou música), gráfico (como obra mais referenciada nos periódicos Journal o f the ExA
na escrita alfabético-fonética ou na partitura musical), rimental Analysis o f Behavior, The Psychological Record, 71
cinestésico (Braille) ou em m ovimento (como nos gestos Analysis o f Verbal Behavior e The Experimental Analysis i
corporais ou faciais ou na língua de sinais). A com uni­ H um an Behavior Bulletin, conforme a análise de citaçõc
cação sugere que, tais como quaisquer outros com porta­ conduzida por Critchfield, Buskist, Crockett, S herbua
mentos, os verbais resultam da interação contínua entre e Keel (2000).
o organismo e o am biente. No caso, o am biente é espe­ Recentemente, Dymond, O ’Hora, Whelan e O ’Donova
cial, chamado am biente verbal, e inclui necessariamente (2006) realizaram uma análise bibliométrica de 1.093 cr»
o ouvinte. ções do Verbal Behavior e encontraram 13,7% de pesqu^a
C om a publicação do Verbal Behavior, Skinner apre­ empíricas referenciando-o, sendo 4% experimentais a t i ­
senta sua proposta funcional para a análise do com porta­ çadas e 1,4% experimental básica. Portanto, mesmo tenu®
m ento verbal, alertando, entretanto, que a obra constituiu- quase triplicado a produção experimental, a afirmação cs
se em um exercício de interpretação, por não apresentar Catania (1988), em um a edição especial do periódico T
dados experimentais. Tal alerta procedeu, pois, no âmbito Analysis o f Verbal Behavior, de que há “m uito co m p o -j
de sua ciência, “a disposição para lidar com os fatos”, com tam ento verbal sobre com portam ento verbal”, continual
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álida: 80% dos artigos analisados pelos autores não são non para a emergência das funções de antecedentes e de
empíricos. A despeito disso, nesses seus 50 anos de publi- consequentes; e o próprio ouvinte adquire função evoca­
eação, Verbal Behavior pode ser considerado um sucesso tiva para um tipo de operante.
imenso, pois engendrou um debate sobre a natureza da Os operantes verbais definidos por Skinner (1957), em
"inguagem hum ana dentro de várias disciplinas” (Dymond um a visão ampja^ podcm ser reunidos em dois grandes
f t a i, 2006, p. 84). conjuntos: operantes de prim eira ordem (Ecoico, Ditado,
Cópia, Textual, Tato, M ando, Intraverbal) e operantes de
segunda ordem (Auioclíticos). O.s de prim eira ordem
OPERANTES VERBAIS: podem ser redivididos em outros dois grandes subcon­
UM VOCABULÁRIO juntos; »
C O M PO R TA M EN TA L Ú N IC O • Aqueles cujo controle advém de um a relação formal
entre a respjosra e a condicão antecedente, com ou
As propriedades complexas do com portam ento verbal sem similaridade entre formas, masx o m correspon­
exigem um tratam ento especial desse fenômeno. Entre- dência entre suas partes ,_que Skinner denom inou
:anto, para Skinner (1957), sua natureza não o distingue “ponto a ponto”
essencialmente dos com portam entos não verbais. A dife­ • Aqueles cujo controle advém de uma relação temática
rença entre comportam entos não verbais e verbais é que, entre a resposta e a condição antecedente c. portanto,
enquanto os primeiros produzem consequências de um sem similaridade/correspondência.
modo mecânico e direto, os segundos produzem conse­
quências de um modo sociocultural e indireto, ao afetarem
am ouvinte (outra pessoa ou a própria) que, em seguida, Relações verbais formais
3or ser especialmente treinado como tal, medeia a relação No primeiro subconjunto de primeira ordem estão os
entre o com portam ento verbal e suas consequências. operantes Ecoico, Ditado, Cópia e Textual. U m a relação
A proposta do autor para explicar a produção verbal entre formas sempre existe nesse subconjunto, porém a
nesse contexto requer descrever as variáveis ambientais similaridade somente é possível quando os “meios” em que
que controlam o com portam ento verbal, a partir da espe­ resposta e estímulo ocorrem são similares, por exemplo,
cificação: ondas sonoras (como na resposta falada e no estímulo
• D a condição em que a resposta verbal ocorre ouvido) ou superfícies (como na resposta escrita e no estí­
• D a própria resposta m ulo lido). A correspondência é dada por um a relação
• D a consequência do responder. Segundo Skinner, pontual entre partes da resposta e do estímulo, possível
modalidades verbais diferentes, por exemplo, vocal pelo “meio” similar. Essa correspondência é o ponto central
(fala) ou m otora (escrita, gesto, música) e topogra­ de estudo da Linguística estrutural e, em geral, é o que se
fias diferentes ou iguais, como mangueira [árvore] e busca nos processos de ensino-aprendizagem que definem
Mangueira [escola de samba], assumem diferentes a alfabetização, especificamente o operante denom inado
funções nessas relações contextuais entre antece­ textual (Passos, 2003), como será visto adiante.
dentes, respostas e consequentes. N a relação Ecoico, um a resposta vocal é controlada por
um estímulo antecedente verbal auditivo. Com o exemplo,
Relações verbais podem ser identificadas a partir da espe­ tem os o caso de um a criança dizer “m am ãe” im ediata­
cificação dessas variáveis, caracterizando operantes verbais m ente após a mãe dizer “m am ãe”. N ote-se que partes
distintos cujo significado está na contingência que deter­ da resposta e do estímulo antecedente m antêm similari­
mina a relação e na história de falantes e ouvintes com ela. dade formal acústica e, portanto, correspondência ponto
Condições em que a resposta verbal ocorre incluem eventos a ponto. U m prim eiro procedim ento experim ental a
com funções motivacionais (operações estabelecedoras), dem onstrar o controle ecoico foi o de Boe e W inokur
discriminativas/evocativas; consequências do responder (1978). Os autores verificaram que a frequência de emissão
incluem reforçadores, em geral intermitentes e generali­ de um a dada palavra nas respostas de mulheres a ques­
zados (p. ex., “aprovação” ou “atenção” do ouvinte), mas, tões sobre emancipação fem inina dependia de essa dete-
em alguns casos, específicos (p. ex., a coisa que se pede a rinada palavra estar contida nas questões propostas para
alguém). A presença de um ouvinte é condição sine elas responderem.
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N a relaçao verbal Ditado, um a resposta verbal motora- Relações verbais temáticas


escrita é controlada pelo estímulo antecedente verbal-audi-
No outro subconjunto de operantes de primeira ordem,
tivo, produto do com portam ento verbal-vocal de alguém.
Um aluno escrever CASA após o professor ter dito “casa” é o controle principal advém de uma relação temática entre a
um exemplo do operante em questão. Novamente, partes condição antecedente e a resposta verbal; a resposta está sob
tanto da resposta quanto do estímulo antecedente apre­ controle de estímulos verbais ou não verbais com funções
sentam correspondência ponto a ponto, mas não simila­ discriminativas (evocativas ou seletivas) ou de operações
ridade entre as formas (que, nesse caso, são motora-escrita de estímulo com funções motivacionais. Assim, objetos,
e auditiva). palavras, pessoas e condições fazem parte de um “tema”
Na relação Cópia, o estímulo antecedente verbal é visual que controla com portam entos verbais. Ao contrário das
(o produto do comportamento verbal motor-escrito prévio relações formais, as relações temáticas não m ostram simi­
de alguém) e a resposta verbal é motora-escrita. Escrever laridade de forma (e, portanto, correspondência ponto a
LÁPIS diante dessa palavra escrita em um a lousa é ilus­ ponto) entre o estímulo e a resposta.
tração desse operante verbal e, como no Ecoico, em uma N a relação Tato, por exemplo, as respostas verbais, que
similaridade formal (só que gráfica), pontos do estímulo podem ser vocais (fala) ou m otoras (escrita ou gesto),
m antêm correspondência com pontos da resposta. são controladas por condições antecedentes nao verbais
N a relação Textual, o estím ulo antecedente verbal é com função discriminativa, podendo ser objetos, eventos
visual (também produto do comportamento verbal motor- (externos ou internos) ou propriedades desses objetos e
escrito prévio de alguém) e a resposta verbal é vocal, a de eventos. Dizer “chuva” diante do fenômeno da natureza
1er (leitura decodificada) o estímulo. Dizer “lápis” diante que se convencionou chamar assim é um a relação Tato.
do estímulo visual LÁPIS é com portam ento textual, pois Skinner evitou associar o Tato à noção de “referente”.
m ostra correspondência ponto a ponto (gráfica-acústica). Segundo ele, “referente” enfatiza o objeto (e não dá conta
A leitura com com preensão pode ser considerada um a de relações que envolvem estímulos não verbais, que não
fusão de relações verbais, e será discutida adiante na seção são “objetos” típicos), já o termo “Tato” enfatiza a relação
sobrerusõès verbais! de controle, independente de o objeto ter ou não um
Vê-se, então, que Ecoico e C ópia têm sim ilaridade “referente” convencional.
form al; D itad o e Textual, não. M ichael (1982) reno- U m a parte considerável das páginas do livro clássico
m eou as prim eiras de Dúplices, pela com pleta e coin­ de Skinner (1957) é dedicada à descrição desse operante,
cidente id en tid ad e p o n to a p o n to entre estím ulo e devido à sua importância e frequência no comportamento,
resposta, um a propriedade duplicativa que a sim ilari­ um a vez que trata de relações entre o falante e o m undo
dade lhes atribui; e as demais de Códices, pela ausência não verbal: seu am biente externo e interno (emoções),
dessa propriedade e pela presença de um a propriedade comportamentos e todas as suas propriedades (cor, forma,
codificativa dada pela correspondência. Portanto, todas temperatura etc.). Por sua estreita relação com os estímulos
essas relações form ais têm correspondência p o n to a antecedentes (objetos, eventos ou propriedades desses
p o n to en tre partes do estím ulo e da resposta, com o objetos e eventos), as respostas verbais de Tato, inicial­
“duplicações” ou “códigos”, e são m antidas por refor­ mente, são im portantes mais para os ouvintes (p. ex., para
çam ento, no caso, generalizado, tal como analisado por que os pais saibam que a criança faz contato com o mundo:
Skinner (1957). E m geral, o reforço generalizado é, vê, sente etc.). Por isso, form am um a am pla porção do
inicialm ente, educacional (informal ou sistemático) e se repertório verbal de um a pessoa. Tatos são sempre inicial- I
m antém em operação durante a vida do falante de modo m ente condicionados de maneira arbitrária, em relações
autom ático (sem necessidade explícita do reforço gene­ estímulo-resposta convencionais ou não, m antidos por
ralizado do tipo “aprovação” por parte do ouvinte); o reforçamento generalizado e educacional (p. ex., “apro­
falante sim plesm ente “sabe” que duplicou ou codificou vação”). Posteriorm ente, eles se m antêm no repertório
o estím ulo da m aneira certa em cada relação form al adulto por reforçamento generalizado automático.
(assim, p. ex., o com portam ento Textual do leitor nesse Mando, por sua vez, envolve respostas vocais ou motoras
exato m o m e n to é m an tid o p o r reforço generalizado controladas por antecedentes não verbais com função
au to m ático cuja função foi ad quirid a provavelm ente motivacional, a partir de estados de privação ou estimu­
no ensino fundam ental). lação aversiva (as chamadas operações estabelecedoras). As
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condições antecedentes estabelecem o valor reforçador da Também pertencente a esse conjunto de operantes em
consequência a ser obtida (reforço positivo) ou eliminada que o controle é temático está o operante Intraverbal, cuja
reforço negativo) pela mediação do ouvinte do M ando. relação de controle está entre cadeias de respostas verbais
Dizer “água, por favor”, após um período de privação da (vocais ou motoras) e estímulos verbais (vocais ou visuais)
mesma, e diante de um ouvinte (com alta probabilidade produzidos pelo com portam ento de outra pessoa ou do
de trazer um copo de água), é um a resposta M ando. próprio falante (na cadeia produzida pelo falante, respostas
A relação M ando foi empiricamente dem onstrada no que precedem têm função de estímulo para as que se seguem,
irtigo de Michael (1988), que descreve a manipulação de como na fala continuada). Dizer “Tudo bem ” diante da
operações estabelecedoras controlando M andos especí­ pergunta “como vai?” é um exemplo do operante Intra­
ficos, oferecendo, por exemplo, a um a criança a tarefa de verbal, bem como escrever Q U ATRO ou dizer “quatro”
razer um a sopa instantânea tendo todos os itens presentes diante da expressão dita (ou escrita) “dois mais dois”.
Ipó preparado, prato, água fervendo), exceto um a colher. Em u m experim ento m uito citado, Chase, Johnson
Pvccentemente, um artigo aplicado (Sundberg, Loeb, e Sulzer-Azoroff (1985) dem onstraram os controles da
Haie, Eigenheer, 2002) m ostrou que é possível instalar relação intraverbal, sugerindo três categorias para o modo
zo repertório de crianças autistas Mandos do tipo “questão como o controle temático-conceitual opera a relação: Defi­
rara busca de informação” (p. ex., O n d e ...? Q uem ...?, nição Ip. ex., aquilo que o leitor pensar falar sob controle da
Q u al...?), um repertório, em geral, ausente no repertório pergunta “O que é psicologia?”), Exemplificação (o pensar
verbal dessas crianças. O s autores ensinaram o M ando sob controle de “Dê um exem píode um a teoria psicoló­
'O n d e ...?” criando uma operação estabelecedora para um gica”) e IdentificacÄQ^de-Exanbla (o pensar sob controle
icem que faltava para a execução completa de uma tarefa. de “D entre as seguintes alternativas - Watson, Descartes,
Uma vez que o m ando foi adquirido, um a operação esta- Skinner - , responda qual é o autor m onista).
relecedora foi criada para o controle de um outro M ando Do mesmo modo que no Tato, relações intraverbais são
- “Q u em ...?’ - , aumentando o valor reforçador da pessoa arbitrárias (convencionais ou não), inicialmente mantidas
cue mediaria a aquisição do item que faltava. Os dados dos por reforço generalizado-educacional que se m antém como
autores mostram como Mandos são previstos e controlados generalizado-automático. O m odo como a cadeia verbal
conforme Skinner descreveu e que os repertórios instalados foi condicionada possibilita outra divisão (Vargas, 1986):
nas crianças foram generalizados para itens e pessoas do o Informal (“Com o vai? - “Tudo bem”, porq ue aprendido
ambiente natural, quando as crianças tinham necessidade no cotidiano), o Formal (“Dois mais dois” —“Q uatro”
de coisas ou de informações. porque aprendido em ensino sistemático) e o Idiossincrá­
Certamente a aprendizagem do M ando facilita m uito a tico (um encadeamento particulaF a ~um falante, como as
rducaçao de crianças, pois, ao contrário do Tato, o M ando cadeias de termos mais falados por um professor ou das
beneficia o falante ao informar ao ouvinte sobre o que se palavras mais frequentem ente associadas em um a obra
passa com ele (falante). Skinner acrescenta que no operante poética ou em um discurso político).
M ando as consequências são especificadas, diretam ente A inda nesse subconjunto de operantes sob controle
ou não, pela resposta emitida: o que reforça um M ando é tem ático está a relação verbal Audiência, um tipo de
essa consequência característica; no exemplo, a água inge­ operante verbal diferente dos demais por ser um grupo de
rida. Se fosse funcional evitar a provável punição por parte respostas (vocais ou motoras) funcionalmente unificado. A
do ouvinte caso se pedisse água repetidamente, o falante, relação de controle Audiência advém de propriedades do
então, dissimularia a função de M ando com um Mando ouvinte, que adquiriram funções discriminativas evocativas
Disfarçado. “Você pode me dar um copo de água?” e “Você dessegrupo específico de respostas (Fonai, Sério, 2007).
se incom odaria...?” são exemplos desses disfarces. Assim, ouvTntes selecionam tópicos ou temas (ou gestos)
Observe que no M ando, assim como no Tato, não há de conversas. Diferentes ouvintes controlam diferentes
qualquer similaridade de form a entre a resposta e o estí­ subgrupos de Audiências a partir das suas funções discri-
mulo antecedente (a operação estabelecedora) e, portanto, minativas-seletivas, tanto do conteúdo quanto da maneira
não se pode falar de correspondência ponto a ponto. O de apresentá-los aos ouvintes.
controle pode ser visto como temático: estar privado de Todas essas relações, formais e temáticas, criam a base
água “serve de tema” para a emissão de operantes especí­ das tarefas de ensino especial ou regular (do nível funda­
ficos. mental ao superior), o que atesta a sua importância prática,
106 Temas Clássicos da Psicologia sob a Ótica da Análise do Comportamento

pois a instalação dos operantes verbais no repertório de o ouvinte. Em palavras diretas, o operante Autoclítico é
estudantes é o objetivo básico de qualquer m étodo educa­ o “falar sobre o falar”; é o falante inclinando-se sobre seus
cional, não im porta a filosofia subjacente. Um a vez que próprios operantes verbais, com pondo, criando, inven­
a análise pragm ática de Skinner facilita o alcance desse tando, dirigindo, avaliando, organizando, selecionando
objetivo, Johnson e Chase (1981) listaram os operantes e produzindo respostas mais precisas sob controle das
que se quer alcançar em tarefas educacionais para que o respostas primarias, das propriedades dessas ou das condi­
estudante: ções que as controlam.
• Diga exatamente o que foi dito (Ecoico) Dependentes daquilo sobre o qual se inclinam (ou seja.
• Diga o que foi escrito (Textual) do próprio com portam ento verbal), os Autoclíticos não
• Escreva o que foi escrito (Cópia) podem ocorrer sozinhos: eles são concorrentes e depen­
• Escreva o que foi dito (Ditado) dentes das relãções~verbais de primeira~ordem.
• D efina um term o lido ou dito (Intraverbal D efi­ “Concorrência e dependência foram propriedades
nição) que levaram Skinner (1957) a nom ear de auto-
• Identifique descrições lidas ou ditas (Intraverbal clíticas essas relações: o term o diz respeito ao fato
Identificação de Exemplo) de o falante ficar sob controle de algum aspecto
• Dê exemplos originais (Intraverbal Exemplificação) do seu próprio com portam ento a partir das con­
• Descreva eventos ambientais que acontecem (Tato) dições que o controlam em um a relação verbal
• Categorize, com um term o, um grupo de eventos de prim eira ordem e isso evocar respostas verbais
ambientais que ocorrem (Tato) adicionais ou de segunda ordem. Assim, elas po­
• C om bine e recom bine todas essas tarefas citadas dem ser compreendidas como respostas verbais
antes estendendo ou fundindo seus controles (ver sobre respostas verbais primárias, tornando mais
adiante a seção sobre extensões e fusões verbais). efetivas as funções primárias” (Borloti, Fonseca.
Charpinel, Lira, 2009, p. 82).
A segunda ordem de operantes:
A análise funcional dos Autoclíticos possibilita agrupá-
os autoclíticos los em duas grandes categorias: autoclíticos “de tato” e
Talvez o leitor se pergunte: o que o Behaviorismo autoclíticos “de m ando”, de acordo com a origem dos
Radical tem a dizer sobre fatos linguísticos tais como aspas, controles atuando sobre elas: se das respostas verbais e seus
risadas nervosas, pontuações, artigos, pronomes, prefixos, controles ou se do ouvinte. As aspas servem para diferen­
voz ativa/passiva, gênero, núm ero e assim por diante? Na ciar essas relações das de Tato e de M ando.
taxonom ia skinneriana, esses fatos são, em geral, um a O s prim eiros “tateiam ”: as propriedades da resposta
segunda ordem de relações verbais, denom inada Autoclí- primária e/ou as condições sob as quais ela ocorre. O “tato”
tico. Essa ordem informa a complexidade do com porta­ das propriedades da resposta prim ária torna possível ao
m ento verbal em processos tradicionalm ente chamados falante discriminar que tipo funcional ela é (se M ando.
de “gramática” ou “tom ”. Entretanto, formas verbais que Tato etc.), que força tem e/ou como é sua emissão; o “tato”
poderiam ser chamadas de gramaticais, às vezes, são enga­ das suas condições controladoras possibilita a discrimi­
nosas em suas funções: nem sempre uma form a (p. ex., o nação da emissão ou probabilidade de emissão da resposta,
“pronom e oblíquo” lhes) serve a um a função autoclítica. da sua excentricidade ou banalidade, da relação dela com
N o entanto, a gramática serve como um ponto de partida outras coisas que se diz ou com aspectos do contexto que
para a análise da função dessas formas verbais. controla o que se diz.
Autoclíticos têm funções “centrais na abordagem do Os segundos, autoclíticos “de mando”, estão sob controle
com portam ento verbal” (Catania, 1980, p. 175). Seu de um a operação com função motivacional estabelecida
destaque pode ser inferido na etimologia da palavra, que, pelo ouvinte; “m andam ” um a ação específica ao ouvinte'
segundo Epting e Critchfield (2006), é a junção de autos para que esse: emita um novo comportamento verbal; pare
(eu) e klit (inclinar-se sobre) e descrevem o que é requinte de se comportar; ou m ude a direção ou tendência do seu
na linguagem; sua principal função é modificar e precisar com portam ento em relação à resposta prim ária emitida
(ou “lapidar”) o efeito das relações verbais primárias sobre pelo falante.
Linguagem 107

Percebe-se que em todos os operantes verbais até aqui Além disso, “O controle de estím ulo não é, assim,
iescritos há o que Skinner denom ina “episódio verbal”, tão preciso” (Skinner, 1957, p. 91). Estím ulos “puros”
a interação entre falante e ouvinte. Os operantes prim á­ controlando M andos ou Tatos Puros ou Objetivos, como
rios ocorrem nessa interação com a função de afetar o mostrados de um m odo “perfeito” até agora, são raros.
ruvinte a m ediar o reforçamento; nos autoclíticos, essa Q uando o controle advém de mais de um estímulo ou de
interação aprimora as funções primárias. A interação entre mais de um a propriedade de estímulo (ou quando dife­
.m falante e um ouvinte em um meio verbal especialmente rentes relações de controle advêm de um mesmo estímulo),
construído pela cultura destaca-se como um a característica diz-se que ele é um controle múltiplo. Skinner salientou
diferenciadora do operante verbal em relação aos demais: o que tal fato é responsável pela maior dificuldade de clas­
reforçamento é sempre mediado pelo ouvinte, alguém que sificação dos operantes verbais no cotidiano, pois traduz
pertence à mesma comunidade verbal que o falante, tendo todas as sutilezas do contexto amplo. Essa dificuldade é
sido treinado para emitir respostas funcionais ao com por­ inexorável, pois, no contexto cotidiano, “o controle de
tamento verbal do falante. Essa mediação no reforçamento estímulo nunca é perfeito” (Skinner, 1957, p. 147). “Um
requer, portanto, que o falante e o ouvinte compartilhem reforçamento genuinam ente generalizado é raro (...) e a
a comunidade verbal. pura objetividade, nesse sentido, provavelmente nunca
será alcançada” (p. 83).
Como visto, uma mesma forma verbal pode ter funções
CO N TRO LES VERBAIS diferentes e, consequentemente, significar algo diferente, a
COM PLEXOS depender desses controles. O com portam ento do ouvinte
pode estar sob controle de outros estímulos que não aqueles
“O comportamento verbalpode libertar-se maisf a ­
que controlam o com portam ento do falante, e vice-versa,
cilmente do controle de estímulo porque, pela sua
caracterizando o inusitado (como nos trocadilhos) e o
própria natureza, não requer apoio: nenhum estí­
artístico (como na poesia), o hum or (H übner, Miguel,
mulo precisa estar presente para dirigi-lo ou form ar
Michael, 2005) e as ambiguidades (como nas “charadi-
importantes elos em cadeias de respostas” (Skinner,
nhas”, “indiretas”, atos falhos, lapsos verbais e sonhos).
1957, p. 47). Situações com o o falar com m ortos, objetos, plantas,
animais, deuses ou “o nada” tam bém tornam complexa
Essa afirmação talvez aponte o principal aspecto do a tarefa analítico-funcional dos operantes verbais. Tudo
fenômeno verbal que tem sustentado as formulações tradi­ isso m ostra as especificidades da linguagem hum ana que
cionais acerca da linguagem, pois possibilita, em um olhar a tornam um dos com portam entos mais desafiadores e
desatento, atribuir um a autonom ia ao falante, ou um a interessantes para estudo. D entre essas especificidades,
“geração espontânea” da produção verbal. Entretanto, as destacam-se as extensões e fusões de algumas relações
teorias tradicionais ignoram que, para um falante alcançar verbais, que denunciam a “imperfeição eterna” do controle
esse nível, seu repertório foi aprim orado por relações de estímulo com a qual o analista do com portam ento deve
verbais envolvendo incontáveis estímulos não verbais ou lidar no estudo da linguagem.
verbais do m undo físico (interno ou externo) e social, sem
falar em suas múltiplas propriedades.
Estím ulos são com postos de mais de um a proprie­ Extensões
dade que, por isso, podem ser apenas abstraídas, pois não Em geral, os estímulos antecedentes dos contextos de
existem isoladas na natureza. Para Skinner (1957, p. 109), controle verbal são compostos de várias propriedades. Por
Abstração € um a relação verbal “peculiar”, porque depen­ exemplo, no espectro do seu controle, o estím ulo não
dente de uma relação de Tato, já que, em uma contingência verbal w /pode controlar o Tato “sol” e, ao mesmo tempo,
não verbal, um a propriedade, com o cor ou tam anho, é outros Tatos de outros estímulos não verbais, a partir de
sempre de um estímulo, nunca é separada dele. Aprende- quaisquer propriedades compartilhadas: calor, cor, posição,
se a tatear propriedades sempre integradas formando estí­ função (em relação aos planetas ou seres vivos), hierarquia
mulos; é impossível a com unidade verbal ensinar o tato ou tam anho (no Sistema Solar), e assim por diante.
de um a propriedade separada; apenas da propriedade Transposições de controles foram denominadas exten­
abstraída. sões verbais, por Skinner. São processos que surgem a partir
108 Temas Clássicos da Psicologia sob a Ótica da Análise do Comportamento

da probabilidade de controle de um com portam ento do estímulos cujos mem bros têm um a mesma propriedade
falante por um a (ou mais de uma) propriedade (incluindo colateral (ou seja, paralela):
propriedades do ouvinte) que fez parte do contexto passado “A extensão genérica respeita a prática reforçador!
do processo de condicionam ento do com portam ento do original, a qual persiste imutável na comunidade
falante estímulo antigo, e que tem seu controle estendido verbal, ainda que o alcance dos estímulos possa
para propriedades de um estímulo antecedente presente ser estendido na m edida em que mais e mais ca­
estímulo novo. Propriedades que se estendem de operações sos com novas propriedades colaterais são refor­
estabelecedoras e ouvintes passados resultam em funções çados” (p. 95).
de extensão no M ando; e as que se estendem de estímulos
antecedentes não verbais resultam em extensões no Tato. N o Tato Metafórico, ao contrário do Genérico, a contin­
As extensões do Mando, segundo Skinner (1957, p. 46), gência de reforço “contendo o novo estímulo” difere da
ocorrem quando o controle de estímulo induz semelhanças convencional “contendo o velho”. E essa diferença que traz
entre situações presentes e passadas, chegando a controlar a extensão M etafórica ao repertório verbal: um a proprie­
o M ando: na possibilidade acidental de reforçamento ou dade adventícia (ou “que veio de fora”) adquire controle
na impossibilidade de reforçamento. Em geral, nessas duas sobre a extensão do Tato. A propriedade adventícia que
condições, o falante não percebe os aspectos “irracionais” controla a extensão Metafórica não tem a mesma utilidade
do seu com portam ento, já que seus “ouvintes” são inusi­ que a propriedade colateral da extensão genérica. Entre­
tados (porque ausentes, mortos, inanimados, inexistentes, tanto, a utilidade das metáforas é tornar possível distin­
platônicos ou místicos). guir a propriedade do contexto convencional no contexto
N a prim eira condição, o exemplo mais com um é o novo e aum entar a eficácia do com portam ento verbal ao
jogador “m andando” números aos dados; trata-se de uma provocar compreensão e/ou emoção no ouvinte, a exemplo
relação denom inada M ando Supersticioso, pois o reforço da poesia e literatura. Q uando Romeu diz à Julieta “Você
pode advir ao acaso, gerando um a ilusão da mediação do é o sol”, do ponto de vista da contingência original, a
cc • )>
ouvinte . metáfora é incorreta (“Você é o sol” é literalmente incor­
Essa ilusão é maior na segunda condição e controla o reto porque Julieta não é o sol), mas é aceitável pela sua
chamado Mando Mágico, pois o reforço não pode advir, im portância. Som ente as práticas verbais das com uni­
apesar da crença no “ouvinte”. M andos Mágicos são alta­ dades podem apontar essa im portância em metáforas
m ente generalizados: a partir do sucesso anterior em idiossincráticas: apenas para Romeu Julieta é o sol e é na
m andar ouvintes, o falante passa a m andar “para o nada”. história de vida de Romeu que serão encontrados os possí­
Exemplos de M ando Mágico estão tipificados em “pala­ veis controles dessa extensão metafórica. Skinner (1957)
vras mágicas” (“Faça-se a luz!”). lançou um a hipótese: um a resposta emocional pode ter
As extensões do Tato podem acontecer quando: um controlado a extensão metafórica de Romeu.
novo estím ulo não verbal antecedente, ao ser tateado, Outros tipos de extensões do Tato são a metonímia (como
com partilha um a (ou mais) propriedade com um velho em “Com i três pratos”), o solecismo (p. ex., cham ar de
estímulo não verbal que adquiriu controle sobre Tatos do “recíprocas” coisas semelhantes), a nomeação e a distorção.
repertório do falante; quando um outro estímulo velho N o Tato Metonímico, “um estímulo [contíguo ou acompa­
acom panhar o novo; ou quando um a propriedade de um nhante] adquire controle sobre a resposta porque frequen­
estím ulo velho se relacionar com um a propriedade do tem ente acom panha o estímulo sobre o qual o reforça­
novo, só que de um m odo distante ou irrelevante. mento é normalmente contingente” (Skinner, 1957, p. 99­
U m a dessas ocorrências é o Tato Genérico-, um novo 100). No Tato Soleeista há um desvio da sintaxe ortodoxa,
tipo de estímulo é tateado como o velho (p. ex., chamar um “vício de linguagem”: um a semelhança longínqua ou
um novo tipo de cadeira de cadeira). Portanto, nela, há irrelevante entre um a propriedade do novo e do velho estí­
coincidência entre as contingências de reforço contendo o mulo obtém controle sobre a resposta. Ambos são respostas
novo e o velho estímulo; ainda, a propriedade com parti­ incorretas, mas aceitáveis e úteis para a comunidade. No
lhada é im portante para o ouvinte, dando utilidade prática Tato Nomeação o controle do tato de propriedades ante­
à extensão, sempre tida como correta. Por isso, segundo riorm ente tateadas se estendem para propriedades de
Skinner, os estímulos de controle da extensão genérica novos objetos aos quais se deve atribuir um nom e pela
são, em geral, “objetos” definidos com o um a classe de prim eira vez. Os “apelidos” são, segundo Skinner, bons
Linguagem 109

exemplos dessas extensões do Tato. Por fim, o Tato Distor- Controle múltiplo
:ido ocorre na m entira, no exagero ou na invenção. E um
Além das extensões discutidas anteriorm ente, os
~po de extensão porque o controle de um Tato que rece-
operantes verbais estão sujeitos a um a recom binação a
oera reforços especiais em um a situação antiga se estende
rara um a situação nova em que esse controle está ausente. partir de controles múltiplos. Skinner (1957) apresenta
Como um equivalente do M ando Mágico, que dispensa o dois tipos de controle múltiplo. O primeiro tratam ento
ouvinte, o Tato Distorcido dispensa o fato. de controle múltiplo ou causação múltipla aparece quando
se discute o controle exercido pela audiência com o um
estímulo discrim inativo. U m segundo tipo de controle
O C O N TR O LE PELA A U D IÊ N C IA m últiplo aparece quando operantes verbais estabelecidos
separadamente combinam-se em um a ocasião específica.
Muitas vezes o comportamento verbal ocorre na presença
As fusões ou recombinações suavizam, duplicam, triplicam
oe um ouvinte que tende a prover consequências reforça-
ou intensificam funções primárias em alguns operadores
ioras contingentes ao comportamento do falante. No caso
verbais. N a obra de Skinner, há menção a duas formas
oo humor, piadas, por exemplo, são emitidas com mais
de fusão: contendo mais de um a relação verbal com uma
requência, caso exista uma história de reforçamento para sua
função (p. ex., no Tato apropriado, quando um nom e
anissão na presença de determinado(s) ouvinte(s). O ouvinte
r. portanto, parte essencial do episódio verbal, não só por “cai bem” ao portador; e contendo mais de um a relação
mncionar como fonte de reforçamento, mas também por fazer verbal com funções diferentes (p. ex., no Tato impuro, que
oarte da situação na qual o comportamento verbal é obser­ com bina o controle de M ando e de Tato). Evidências de
vado e reforçado. Assim, o ouvinte funciona também como controle m últiplo aparecem em amostras da linguagem
um estímulo discriminativo, já que sua presença esteve corre- falada, como em trocadilhos e piadas.
jcionada com maior probabilidade de reforçamento para o Trocadilhos e piadas são exemplos de controle múltiplo
oomportamento verbal do falante. Skinner (1957) distingue as na m edida em que: a força de determ inada resposta é
rinções reforçadoras e discriminativas do ouvinte, referindo-se função de mais de um a variável, ou seja, u m tipo de
o segunda como o controle pela “audiência” (p. 172). controle múltiplo convergente; uma única variável em geral
Assim, a audiência funciona como um estímulo discri­ afeta mais de uma resposta, ou seja, um tipo de controle
minativo, ou seja, como parte de um a ocasião para que o m últiplo divergente. No caso de a força de um a determi­
comportam ento verbal seja reforçado, portanto, contro- nada resposta ser função de mais de uma variável (controle
k n d o a força ou probabilidade de emissão da resposta. convergente), tem-se o seguinte exemplo, extraído de
Diferentem ente de estímulos discriminativos responsá­ Hübner, M iguel e Michael (2005): a emissão da palavra
veis pelo controle de operantes verbais elementares como “Manga”, que pode ser evocada como um tato na presença
ocoicos, tatos e intraverbais, a audiência está correlacionada da fruta ou na presença da parte de uma camisa. Veja que a
oom maior probabilidade de reforçamento para um grupo palavra “manga” poderia fazer parte de um trocadilho, caso
específico de respostas (Skinner, 1957, p. 173). Audiências a fruta e a parte da camisa estivessem presentes ao mesmo
diferentes controlam subgrupos diferentes de respostas. tem po no m om ento da ocorrência da resposta. É quando
Um prim eiro exemplo de Skinner é o de um indivíduo variáveis controladoras da mesma resposta acontecem ao
bilíngue, cuja probabilidade de emissão de respostas em mesmo tem po que o trocadilho pode ser identificado.
orna língua aum enta na presença de um a audiência que No segundo tipo de controle múltiplo apresentado por
se comunica em tal língua. Skinner, um a única variável em geral afeta mais de um a
Um a das funções da audiência é a seleção do conteúdo resposta (controle divergente). Skinner dá o exemplo do
e forma do com portam ento verbal, ou seja, o tópico a ser animal “cão”, que pode evocar a resposta “cachorro” ou “cão”,
ipresentado e a maneira de se fazê-lo. Certas comunidades ou “au-au”, em se tratando de crianças pequenas. Assim,
podem modelar e tornar alta a probabilidade de metáforas, um mesmo animal (o cão) evoca múltiplas respostas
trocadilhos e piadas. A com unidade brasileira pode ser O conceito de controle m últiplo no com portam ento
um bom exemplo disso. O riso, por exemplo, é um a das verbal reitera a ideia da complexidade do fenôm eno em
consequências reforçadoras que aumentam a probabilidade questão. Embora visto e concebido como comportamento,
de ocorrência do episódio verbal subsequente de alguém a concepção com portam ental de linguagem está longe de
contar um a piada (Hübner, Miguel e Michael, 2005). transformá-la em um fenômeno simplificado. O avanço
110 Temas Clássicos da Psicologia sob a Ótica da Análise do Comportamento

de Skinner em relação à abordagem tradicional não está mudanças com portam entais, mesmo quando as contin­
em simplificar o fenômeno, mas em trazer sua comple­ gências para respostas não verbais fossem alteradas. Em
xidade para um m odelo científico que o torna passível seu estudo, Catania, Mattews e Schimoff (1982) avaliaram
de estudos experimentais e, consequentemente, aberto a o efeito de respostas verbais (que os autores chamaram
discussões e refutações; do ponto de vista prático, define- de “palpites”) m odeladas ou instruídas sobre respostas
a de um modo tal que as contingências para o seu ensino não verbais. Estudantes universitários tinham a tarefa de
estão claram ente definidas e só requerem o arranjo de pressionar alternadamente dois botões: um que previa um
contingências adequadas para que ela emerja. esquema de reforçamento em razão randômica (RR20) e o
outro, em esquema de intervalo variável (RI 10). Quando
o tem po em vigor dos esquemas se encerrava, o experi­
C O N T R O L E VERBAL SOBRE
m entador solicitava que os participantes descrevessem o
O C O M PO R T A M E N T O NÃO que teriam que fazer para ganhar pontos em cada um dos
VERBAL: O C O M PO R T A M E N T O botões. Tais descrições (os “palpites”) passavam por mani­
VERBALMENTE C O N T R O L A D O O U pulações experimentais. Para um grupo de participantes, os
palpites foram modelados, no sentido de atribuir pontos
C O M PO R T A M E N T O G O V ERN A D O
às descrições que se aproximavam daqueles selecionados
____________P O R REGRAS____________ pelo experimentador; para outro grupo, os palpites foram
U m a outra linha de desenvolvimento de pesquisas instruídos, condição em que os participantes teriam que
que surgiu na Análise do C om portam ento em relação escrever o que o experimentador instruía; enquanto para
ao com portam ento verbal foi o arranjo experimental de um terceiro grupo os palpites não eram diferenciados, e
situações em que se pudesse m edir o efeito do com por­ os participantes recebiam sempre o mesmo núm ero de
tam ento verbal sobre com portam entos não verbais com pontos, independente do conteúdo de suas verbaliza­
ele relacionados. ções. Em diferentes m om entos do estudo, no entanto,
Produzir mudanças no comportamento humano a partir foram criadas condições em que os palpites modelados
da apresentação de um antecedente verbal é um resultado ou instruídos eram incoerentes com as contingências em
esperado de práticas terapêuticas e educacionais susten­ vigor. Em outras palavras, as descrições verbais modeladas
tadas em nossa cultura. Em grande parte, a prática clínica ou instruídas não eram compatíveis com as contingên­
pode ser interpretada como um a tentativa de instalar ou cias não verbais programadas. Assim, se os participantes
alterar com portam entos nao verbais relevantes a partir ficassem sob controle das mesmas, perderiam pontos, ou
de conversas entre cliente e terapeuta (Salzinger, 2003); e arcariam com um custo maior de resposta para obtenção
atividades educacionais estão, muitas vezes, fundamentadas dos pontos.
no controle por instrução (Ayllon, Azrin, 1964; Catania, Os dados apresentados indicam que os participantes
M atthew s, Schimoff, 1982). A inda que esperado, no submetidos à condição de “palpites modelados” tiveram
entanto, nem sempre o controle de respostas verbais sobre seus desempenhos durante a tarefa não verbal alterados
nao verbais pode ser observado, quer em condições coti­ na direção especificada pelas descrições verbais, mesmo
dianas, quer sem situações experimentais. quando essas estavam em desacordo com as contingên­
Estudos iniciais sobre o tema apresentaram uma posição cias não verbais apresentadas. .Analistas experimentais do
bastante otim ista acerca deste controle. Para Catania, com portam ento passaram, então, a investigar tal fenô­
M attews e Schim off (1982), o controle verbal sobre meno, conhecido pelo termo “insensibilidade às contingên­
respostas não verbais1 seria forte o suficiente para evitar cias”. Ainda que fosse uma expressão pontual, que se referia
aos resultados do grupo de palpites modelados (Catania
'Os estudos empíricos que se propõem a investigar estas relações inscrevem- et al., 1982), o term o parecia indicar que o com porta­
se também na área que foi conhecida como “comportamento governado m ento verbalm ente controlado seria m enos sensível às
por regras”. Concebe-se regra como um estímulo discriminativo verbal
que descreve contingências e como “com portam ento governado por consequências que produz, o que, stricto sensu, o desca­
regras” respostas evocadas por tais estímulos verbais. Catania (2003), racterizaria como um comportam ento operante. Evitando
entretanto, apresenta críticas a este conceito, porque ora é definido em
termos estruturais, ora funcionais, e, insatisfeito com essa variabilidade
aceitar prematuramente tal interpretação, pesquisadores da
no uso, propõe a expressão “comportamentos controlados verbalmente”. área desenvolveram replicações sistemáticas desse estudo.
Linguagem 111

r *:ando a validade de resultados encontrados e colocando uma variável, mas de um conjunto delas, dentre as quais:
generalidade em foco. o controle estabelecido pelas contingências antes da intro­
Torgrud e H olborn (1990) e Amorim e Andery (2002) dução da regra; o esquema de reforçamento apresentado
rtencem a esse grupo de pesquisadores. Nas replicações para seguir o com portam ento sob controle das contingên­
stemáticas dos estudos de Catania et al. (1982), um novo cias; a história de reforçamento social para o com porta­
e m portante controle experimental foi, então, introduzido: m ento de seguir regras; a história de variação com porta­
. instalação do controle discriminativo sobre as respostas mental anterior à introdução da regra, entre outros. Para
ião verbais, antes da solicitação ou apresentação das descri- investigar a extensão do efeito de duas destas variáveis,
|ões verbais. Isso porque Torgrud e H olborn (1990) apon- os autores conduziram um estudo em que planejaram a
nram que as diferenciações das respostas não verbais pelos competição entre o controle por variáveis sociais e pela
esquemas RR20 e RI 10, durante a tarefa proposta por história de reforço pelas contingências, sobre o com porta­
Catania et al. (1982), não havia sido demonstrada antes m ento de seguir regras. Participaram do estudo 18 crianças
l i introdução dos controles verbais. Apontaram também de 7 a 9 anos, frequentadoras de um a escola particular.
i dificuldade que hum anos revelam em distinguir esses Durante o estudo, um a tarefa de emparelhamento de estí­
lois tipos de esquemas. Assim, Torgrud e H olburn (1990) mulos era proposta aos participantes a partir da disposição
estudaram respostas não verbais m antidas por esquemas de três cartões: dois contendo figuras iguais e conhecidas das
DRL e D R H (reforçamento diferencial de baixas e altas crianças, e um contendo um a figura diferente. As crianças
iixas, respectivamente) e demonstraram, em linha de base, deveriam, então, apontar para os cartões apresentados em
I diferenciação de respostas não verbais m antidas pelos um a sequência específica, a depender do acendimento de
lois esquemas. Apenas a partir dessa demonstração intro- um a de duas luzes, de cor vermelha ou amarela.
luziram as variáveis verbais. O s resultados encontrados Três condições experimentais foram programadas. Cada
lem onstram que, em condições experimentais em que os condição era composta por quatro fases. N a Fase 1, um a
controles discriminativos não verbais estão bem estabe­ instrução m ínim a era apresentada, sendo solicitado que a
lecidos, os controles verbais não afetam o responder não criança descobrisse qual filho deveria ser tocado quando
verbal. Por outro lado, em condições experimentais em que a luz acesa fosse vermelha e qual deveria ser tocado diante
roi introduzida um a diminuição do controle discrimina­ da luz amarela. N a Fase 2, um a instrução correspondente
tivo, o controle do verbal sobre o não verbal ocorreu, mas com as contingências planejadas era apresentada. Nas Fases
de modo transitório. Em outras palavras, o operante verbal 3 e 4 ocorria a m udança não sinalizada das contingências
rlcou sob o controle de suas contingências específicas, bem programadas.
como o comportam ento não verbal com ele relacionado. As crianças que participaram da Condição 1 não rece­
A m orim e A ndery (2002) avançam nessa análise, biam, durante a Fase 1, nenhum reforço diferencial por
demonstrando que as relações empíricas entre com porta­ suas respostas. Já as crianças das Condições 2 e 3 eram
mento verbal e não verbal podem ocorrer de m odo biuní- reforçadas (com fichas trocáveis por brinquedos) quando
voco: se respostas verbais são modeladas especificamente emitiam respostas de apontar para a comparação diferente,
para cada situação não verbal, e se as contingências não diante da luz vermelha, e para o comparação igual, diante
verbais se m antêm confusas, sem claro controle discri­ da luz amarela.
m inativo, o verbal controla o não verbal. Se ocorrer o Ao início da Fase 2, nas três diferentes condições, um a
oposto, e contingências não verbais forem instaladas com instrução correspondente com as novas contingências de
forte controle discriminativo e as descrições verbais com reforço era apresentada, sendo todos os participantes infor­
ela relacionadas permanecerem difusas, indiferenciadas, mados que deveriam tocar o estímulo comparação igual ao
a direção é oposta: o com portam ento não verbal altera o modelo diante da luz vermelha, e o comparação diferente
verbal. Em outras palavras, estas relações dependem das diante da luz amarela.
contingências estabelecidas para cada operante. O início da Fase 3 era m arcado pela m udança não
Monteies, Paracampo e Albuquerque (2006) apresentam sinalizada das contingências em vigor, para as três dife­
também dados que possibilitam discutir as condições em rentes condições. Nesse caso, os participantes deveriam
que se deve esperar o controle verbal sobre o não verbal. apontar para o estímulo comparação diferente diante da
R etom ando um a série de estudos anteriores, os autores luz vermelha, e ao estímulo igual diante da luz amarela.
afirmam que tal controle depende não do efeito isolado de Apenas na Condição 3, no entanto, respostas dos partici-
112 Temas Clássicos da Psicologia sob a Ótica da Análise do Comportamento

pantes em acordo com a instrução recebida na fase anterior distância do reforçamento positivo ou a proximidade do
eram seguidas pela produção de reforço social, ou elogios reforçador negativo.
(“m uito bem”) por parte do experimentador. Segundo Braam e M allot (1990), seria, no entanto,
D urante a Fase 4, um a nova reversão não sinalizada das previsível esperar que, em algumas ocasiões, o comporta­
contingências era programada, devendo os participantes mento não ficasse sob controle verbal, como quando refor­
tocar o estímulo igual diante da luz vermelha e diferente çam ento atrasado para respostas compatíveis com uma
diante da luz amarela. instrução fosse programado, por exemplo. Nesse contexto,
Os resultados descritos foram discutidos por Monteies, que aproxima investigação empírica dos comportamentos!
Paracampo e A lbuquerque (2006) como indicativos de controlados verbalm ente com o contexto de aplicação,
que o estabelecim ento inicial de u m desem penho via tem-se o estudo intitulado I will do it when the snow melb
controle instrucional (participantes da C ondição 1) (“Vou fazer quando a neve derreter”), que investiga expe­
dim inui a probabilidade de m udanças no desem penho, rim entalm ente os graus diferentes de controle verbal a
diante de m udanças não sinalizadas nas contingências depender da completude ou especificação de contingên­
(Fase 3 e 4). Por outro lado, quando este desem penho é cias descritas por regras.
estabelecido a partir do reforçam ento contínuo antes da Estudando crianças em situações naturais de brinca­
introdução da regra (participantes da Condição 2), torna­ deira, Braam e M allot (1990) investigaram o controle a
se menos provável o seguim ento de regras discrepantes, diferentes respostas verbais apresentadas às crianças. Em
e mais provável o controle pelas novas contingências em um a das condições, o experimentador simplesmente soli­
vigor. Essa últim a afirmação tende a ser relativizada, no cita à criança que fizesse algo (recolher um brinquedo
entan to , pelos resultados produzidos na C ondição 3. ou m ontar um quebra-cabeça), sem especificar qualquer
Nesse caso, nota-se que o estabelecim ento do com por­ consequência diferencial para resposta de cooperação da
tam ento via reforçamento contínuo, antes da introdução criança. Em outra condição, esta solicitação era acompa­
de um a regra, não foi suficiente para im pedir a m anu­ nhada da descrição de um reforçador positivo imediato d
tenção do seguimento de regras discrepantes, quando esse um prazo para realização da tarefa. N a terceira condição, as
com portam ento foi seguido por consequências sociais, tal solicitações do experimentador especificavam as respostas
resultado foi discutido como evidência de que a m anu­ esperadas das crianças e o atraso de um a semana no rece­
tenção do seguimento de regras depende da imposição bim ento do reforço por com pletar a tarefa. N a quarra
de um co njunto de variáveis, e não do efeito isolado condição, as respostas esperadas das crianças, o atraso para
de um a delas. A inda que, na Fase 3, os participantes recebimento do reforço e o prazo para completar as tarefas;
tivessem entrado em contato com as contingências discre­ eram apresentados pelo experimentador.
pantes, perdendo a op ortun idad e de ganhar fichas ao O estudo possibilitou concluir que as regras maisj
com portarem -se de acordo com a regra, o seguim ento seguidas (obedecidas, no caso) foram aquelas em que :
de regras foi m antido, m uito provavelmente em função prazo foi estipulado e o reforçador anunciado, mesmo
das consequências sociais programadas. O estudo descrito quando o atraso do reforço era anunciado. Dentre as possí-j
parece, então, sugerir que, “quan do o seguim ento de veis interpretações para estes resultados está o efeito c:
regras, sob algumas condições, m ostra-se pouco adap- operante verbal autoclítico, apresentado por Skinner, e~
tativo a m udanças em algumas contingências, ele pode sua épica obra de 1957.
estar sendo bastante adaptativo a contingências sociais” O autoclítico, como já apresentado, é um a parte do
(M onteies, Paracampo, Albuquerque, 2006). com portam ento verbal que altera a parte seguinte des:;:
Estudos que investigam as condições em que compor­ comportamento. Os autoclíticos seriam os operantes verbais
tam entos não verbais podem ficar sob controle verbal que indicam o falante como aquele que organiza a sua fali.
importam, justamente, por conta da utilidade do compor­ a sua escrita, selecionando, direcionando, relacionand:
tam ento governado verbalmente para a sobrevivência do Ele não é um mero “expectador” de seu com portam en::
grupo e de seus membros particulares: a sociedade descreve verbal (bystander, como afirmou Skinner, 1957), mas u n
regras aos cidadãos com o estratégias para garantir o “construtor” e organizador de relações entre os operantes
com portam ento adequado, tanto em condições em que as verbais. N a análise das possíveis funções do operants
consequências são a longo prazo aversivas quanto naquelas autoclítico, Skinner aponta a possibilidade de aumentar ï
condições em que é necessário amenizar ou compensar a precisão sobre o com portam ento do ouvinte.
Linguagem 113

Se entendermos os prazos especificados nas regras do estudo em que o experimentador reforçava diferencialmente falas
At Braam e Mallott (1990) como operantes verbais autoclí- favoráveis ao 1er, descritas como tatos acompanhados por
fcos, os resultados que indicam a superioridade do segui- autoclíticos qualificadores positivos.
nento de regras quando elas especificavam prazos podem dar Após sessões de reforçamento, melhor seria dizer “conse-
Hiporte empírico à interpretação Skinneriana. isso ocorre ao quenciaçao” diferencial de falas, as crianças eram nova­
rigerir que se pode facilitar o controle das respostas verbais mente observadas quanto à frequência do comportamento
sobre não verbais, mesmo em condições pouco prováveis, a de 1er, sendo avaliado o tempo despedido com leitura, para
depender da “construção” da resposta verbal ou, tecnicamente cada participante.
dizendo, da inclusão de autoclíticos que favoreçam mudanças Das seis crianças que participaram do estudo, cinco
sobre o comportamento do ouvinte. aumentaram o tempo dedicado à leitura após este procedi­
Nessa m esm a direção, de verificar os aspectos das mento, avaliado em quatro situações de pós-teste (Hübner,
respostas verbais que podem aum entar a probabilidade Faleiros, Almeida, 2006).
de respostas não verbais a elas referentes, têm-se ainda U m a replicação sistemática desse estudo foi realizada
alguns estudos conduzidos no Laboratório de Estudos de por Cazati (2007). Controles experimentais foram refi­
Operantes Verbais, da Universidade de São Paulo. nados e os operantes verbais “Pró-leitura” foram selecio­
Matos (2001) sugere ser necessário m udar antes a regra, nados em um programa de computador. Verificou-se que,
quando se pretende alterar o com portam ento governado após o reforçamento diferencial de escolhas de frases com
por regras. A partir dessa afirmação, estudos foram condu­ autoclíticos favoráveis a 1er, todas as crianças aum entaram
zidos com o objetivo de alterar falas que anunciavam o tempo de leitura quando comparado com o tempo obser­
contingências aversivas sobre um importante operante para vado em linha de base.
o ser hum ano, o com portam ento de 1er, e avaliar, então, Tais estudos, em bora no âm bito de pesquisas básicas
se diante de novas falas sobre esta atividade a resposta de que visam investigar as relações empíricas entre o compor­
1er tornar-se-ia mais provável. tam ento verbal e o não verbal, buscam, em últim a análise,
Coerentemente com a análise de comportamento verbal um “atalho” motivacional para os jovens leitores que já
de Skinner, a consciência é dada pelo outro, pela cultura sabem 1er, mas pouco o fazem.
e, portanto, pelo com portam ento verbal. Se há possibi­ A ênfase na manipulação de estímulos antecedentes verbais
lidade de estabelecer relações de controle verbal sobre o e a verificação de seu controle sobre a resposta que o segue
não verbal relevante a partir de inclusões de autoclíticos é apenas indicador de que estamos investigando controles
(Braam, M alott, 1990), poderíamos ver a “consciência” verbais, comportamentos governados verbalmente.
sobre a im portância da leitura emergir, a partir da m ode­ A consequência reforçadora, entretanto, é essencial,
lagem de respostas verbais pró-leitura e, pelas relações já porque estamos diante de operantes. Por mais preciso
encontradas na literatura, ver o comportamento não verbal que seja o controle verbal, por m aior grau de especifi­
relevante emergir e ser naturalm ente reforçado. cação que ele envolva, sem a consequência reforçadora
E m um delineam ento de pré e pós-teste, repetido a resposta controlada verbalm ente se extinguirá. Com o
interparticipantes, seis crianças da quarta série do Ensino afirma Skinner (1957), os três term os da contingência
Fundamental (hoje quinto ano) foram observadas em linha são essenciais. O efeito da consequência não é mágico,
de base quanto à frequência do comportam ento de 1er, em assim como não o é o efeito do antecedente. Tanto na
uma situação filmada e gravada (Hübner, Dias, 2003). pesquisa, no nível empírico, como no nível conceituai, o
E m seguida, essas crianças eram subm etidas, um a a conceito de contingência de três termos é um a unidade
uma, a um procedim ento de episódio verbal contínuo essencial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Amorin C, Andery MAPA. Quando esperar (ou não) pela PP, ScozMC (Org.). Sobre o comportamento e cognição: contri-
correspondência entre comportamento verbal e comporta- buiçoes para a construção da teoria do comportamento. Santo
mento não verbal. In: Guilhardi HJ, Madi MBBP, Queiroz André: ESETec, pp. 37-48, 2002.

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