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O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, à unanimidade de sua

15ª Câmara Cível, apreciando a apelação cível número 70055271456 ,  cujo


relator foi o Des. Otávio Augusto de Freitas Barcellos, traz, desde a ementa do
acórdão publicado aos  17/09/2013, referência ao sociólogo NIKLAS
LUHMANN. Confira:
“Ementa: (...). 1. A regra do art. 3º, inciso VII, da Lei nº 8.009/90, com a
redação dada pelo art. 82 da Lei nº 8.245/91, lei do inquilinato, ao excepcionar
a impenhorabilidade do bem de família como forma de garantir o acesso à
habitação ao afiançado, está consentânea com o mandato constitucional que
alçou a moradia (art. 6º da CF) à condição de direito fundamental. 2. Neste
ponto, o intérprete e aplicador do direito deve buscar a compreensão que dê
concretude à Constituição Federal e seus postulados básicos, na medida em
que, no Estado Democrático de Direito, os princípios maiores inscritos na Carta
Magna não podem ser restringidos pela lei ordinária. 3. Portanto, impõe-se a
releitura da norma de regência a partir do paradigma constitucional, e não ao
contrário. Preservação dos princípios constitucionais que autorizam a
construção de um conceito de impenhorabilidade do bem de família que
resguarde a moradia como direito fundamental. 4. O status constitucional
conferido à moradia com base no seu poder auto-organizativo faz com que
seus titulares sejam destinatários da proteção estatal mínima e eficiente no
contexto social. 5. Essa estrutura reflete a perplexidade interpretativa que
demanda a construção de alicerces argumentativos teóricos capazes de
justificar o processo decisório que refoge da trivialidade. Estaríamos diante do
que Ronald Dworkin e Robert Alexy denominariam de hard case. 6. A solução
não prescinde de uma releitura dos fundamentos do direito à moradia e
da reconstrução da jurisprudência então dominante a partir da teoria dos
sistemas autopoiéticos (capacidade de "engendrar a si próprio") inserida
por NIKLAS LUHMANN no quadro epistemológico (teoria do
conhecimento) das ciências sociais e jurídicas e dos princípios
constitucionais que regem a proteção da moradia como direito social
fundamental. 7.(...). (Apelação Cível, Nº 70055271456, Décima Quinta
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Otávio Augusto de Freitas
Barcellos, Julgado em: 11-09-2013, publicação 17-09-2013, recortada,
negritada e sublinhada pelo professor).
 
1ª QUESTÃO A(o) aluna (o) deverá identificar e explicar, caso haja , uma
possível correlação entre as interpretações da teoria sistêmica de Niklas
Luhmann em distintos panoramas:  o da arena judiciária (e, portanto,
envolvendo apreciação factual, como no caso que gerou a ementa acima) e o
da arena acadêmica - como no artigo do Professor Adriano Ferreira, estudado
em classe, páginas 38/41 da apostila.
 Para o intento equiparativo (correlacional) tenham-se em paralelismo o item 6
da ementa e o seguinte excerto:
“(...) Para Luhmann, o direito é um sistema social. Como dito, seu código é
lícito x ilícito (ou direito x não-direito). As comunicações produzidas por ele têm
por finalidade indicar se um fato ou um ato é lícito ou não, estabelecendo
eventuais sanções. Seu funcionamento segue um programa: “se… então…”.
Caso uma hipótese prevista em lei ocorra (“se”), deve ocorrer uma
consequência ou uma determinada decisão deve ser tomada (“então”). Trata-
se, como os demais, de um sistema operacionalmente fechado. A Constituição
Federal, no caso do sistema jurídico brasileiro, que é sua parte integrante,
define sua estrutura e suas fronteiras, estabelecendo os princípios dos quais
partirão todas as demais decisões que criam normas jurídicas (em leis,
sentenças e contratos). A teoria geral do direito estabelece os mecanismos
gerais de funcionamento do sistema, indicando critérios de validade e
interpretação das normas (auto-organização). Toda nova norma jurídica (que é
um texto comunicativo) deve ser criada a partir de elementos contidos em
outras normas superiores ou nos princípios constitucionais (autopoiese). Uma
marca do direito moderno, para Luhmann, é a positividade. As normas jurídicas
(em leis, sentenças e contratos) derivam de decisões tomadas por pessoas
competentes e/ou capazes. Cada norma criada deriva de uma decisão tomada
por uma autoridade que se comunica partindo de outras decisões anteriores
que foram tomadas e comunicaram normas superiores. Assim, o legislador
decide (por votação) e cria uma lei; essa decisão pressupõe decisões que
foram tomadas pelo poder constituinte originário, criando o próprio poder
legislativo e lhe atribuindo, dentro de limites, competência para criar leis. O
conteúdo dessa lei deve seguir o conteúdo da Constituição (...)”. Disponível em
< https://direito.legal/sociologia-do-direito/12-luhmann-e-o-direito/ > Acesso:
2.janeiro.2021.
 
Na hipótese de o aluno concluir pela inexistência de conexões, deverá
justificar.
A resposta para ambas as possibilidades (existência ou inexistência de
conexões) deverá estar contida no mínimo de 5 e máximo de 10 linhas, letra
tamanho 12.
Para a Luhmann, o direito são sistema sociais nascendo para reduzir a
complexidade do ambiente, permitindo que conflitos sejam evitados e
resolvidos, se alterando de acordo com as mudanças ocorridas no tempo. A
Constituição gera acoplamento entre o direito e a política. A partir do
momento em que ela delimita cada um desses sistemas, organizando a
representação política e delimitando as competências judiciais, ela os
conecta ao pertencer a ambos. Portanto existe há conexão, pois,
constituição tem como foco um direito social fundamental, CF
prevalecera mantendo o direito à moradia conforme o artigo 6, mais o
direito do credor será atendido, apenas será postergado até que possa
ser atendido não ferindo nenhum direito fundamental.
2ª QUESTÃO   Na fundamentação da apelação cível número 70055271456,
lê-se: “Apesar de se tratar de um hard case (caso difícil ou complexo), Niklas
Luhmann identifica ‘complexidade como a totalidade das possibilidades de
experiências ou ações, cuja ativação permita o estabelecimento de uma
relação de sentido’ (LUHMANN, Niklas. Sociologia do Direito I. Rio de Janeiro:
Tempo brasileiro, 1983. p. 12)”.
 
O (a) aluno(a) deverá assistir o vídeo “Luhmann e a fábula do 12º camelo. Uma
análise comparativa entre os pensamentos de Luhmann e Kelsen”. YouTube -
Novo Liceu - 18 min e 11 seg., 12/10 /2017, apresentada pelo Professor Thiago
Rodrigues Pereira.
 A fábula do 12º camelo traduz algo como o “estabelecimento de uma relação
de sentido”?
 

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