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ELETRICIDADE PARTE 01

BÁSICA
EMBASAMENTO TEÓRICO PARA ELETRICIDADE AUTOMOTIVA
LEANDRO ALMENDRO ZAMARO
ELETRICIDADE BÁSICA – PARTE 01

INTRODUÇÃO

É perceptível, entre os Reparadores, uma falta de embasamento básico

sobre eletricidade. Vale dizer que antes de adentrarmos na Eletricidade

Automotiva existem muitos conceitos que devemos familiarizar, a fim de

que possamos entender de uma melhor forma como funciona eletricamente

uma injeção eletrônica, um sistema de conveniência, sistemas de

iluminação, Alternadores, Motores de Arranque, sensores, atuadores e todo

e qualquer sistema embarcado do veículo. Infelizmente os Reparadores são

obrigados à se embasarem em Cursos e Materiais que nada explicam, de

forma sucinta, sobre alguns segredos mais relevantes da Eletricidade e da

Eletrônica. Efeitos eletromagnéticos existem em todas regiões do veículo,

porém, geralmente pouco é tratado sobre isso, acredito que por falta de

conhecimento de alguns e pela dificuldade de quem domina os assuntos em

simplificar o complexo. Infelizmente isso passa batido, afinal como um

reparador pode questionar sobre algo que nunca ouviu falar, ou que foi

guardado à sete chaves justamente para não haver dúvidas e

questionamentos. Mas aos poucos vamos adentrando na eletricidade,

especificamente, automotiva.

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DIFERENÇAS ENTRE TENSÃO CONTÍNUA E ALTERNADA

Sem entrar em questões teóricas de tensão contínua e alternada, vamos ao que interessa.

Por que existe Tensão Alternada e Tensão Contínua? Por que uma Tensão contínua é

mais eficaz em sistemas veiculares que tensão alternada? Afinal poderíamos ter o

Alternador como um Gerador, e este alimentar todo sistema, oras. A resposta para isso

vem à seguir:

A tensão alternada apresenta muita atenuação conforme o comprimento da linha de

transmissão de energia, e considerando 40 km de chicote elétrico teríamos uma super

atenuação na tensão, ou seja, alguns equipamentos teriam uma tensão de alimentação

maior que outras. Outro fator, a tensão alternada irradia uma quantidade enorme de

ruídos, o que seria prejudicial aos demais sistemas.

A tensão contínua por sua vez, possui sua linearidade estável, apresenta uma atenuação

desprezível, quando em baixa tensão e corrente gera uma quantidade mínima de ruídos,

além do fato que pode ser armazenada em Baterias. Para sistemas automotivos é o

melhor sistema de alimentação dimensionado.

Curiosidade: Muitos de nós acreditamos que o advento do carro elétrico foi

implantado á poucos anos, porém isso não é verdade. Em meados de 1885, Thomas

Edson criou o primeiro carro movido por banco de baterias, sem motor à combustão.

Devido problemas em seu projeto, ele levou uns 8 anos para aperfeiçoar todo sistema,

porém neste meio tempo Henry Ford, aproveitando o “boom” de petróleo descoberto

no Texas, projetou o carro à combustão e tomou conta do mercado.

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DEFINIÇÃO – COMO SURGE A TENSÃO ELÉTRICA?

A tensão alternada surge a partir de Geradores de Energia elétrica, por conta da energia

cinética dos mesmos (energia girante), por exemplo uma turbina, aplicando-se teorias de

eletromagnetismo, que estudaremos quando falarmos de Alternadores. A tensão

contínua de uma bateria automotiva é originada a partir de um acumulador Chumbo-

Ácido capaz de transformar energia química em energia elétrica e vice-versa, em

reações quase reversíveis, destinada a armazenar, sob forma de energia química, a

energia elétrica que lhe tenha sido fornecida e entregá-la ao sistema em condições

determinadas. Utilizam-se materiais ativos nas reações químicas, que são o chumbo (nas

placas) e o eletrólito, que é uma solução aquosa de ácido sulfúrico.

COMO FUNCIONA A BATERIA?

Uma bateria é constituída por 6 conjuntos de 2 placas, sendo a de polaridade positiva

formada por Peróxido de Chumbo, enquanto a de polaridade negativa é formada por

Chumbo Metálico. Estas placas com polaridades diferentes são afastadas por um

material isolante, e cada conjunto gera em torno de 2V. Dentro da bateria existe um

eletrólito que permite a reação química, ou seja, ácido sulfúrico e Água. Ligando-se 6

elementos em série temos a tensão convencional de uma bateria de 12 V.

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Acima temos um esboço de bateria contendo apenas um elemento de 2 V. Lembrando

que uma bateria convencional possui 6 elementos a fim de resultar em 12 V.

A capacidade de uma Bateria é a quantidade de energia que a mesma pode armazenar.

De uma maneira simplificada podemos falar sobre capacidade de uma bateria de forma

diferente e simplificada. Por Norma nacional, a maioria de nossas baterias automotivas

é classificada conforme exemplo abaixo:

45 A/h C20

Sobre os 45 A/h acredito que todos saibam seu significado, ou seja, a bateria seria capaz

de fornecer 45 A durante uma hora. Porém esta afirmação está errada. Uma bateria

atuando em sua capacidade máxima durante uma hora causaria sua destruição.

Percebam que existe um termo que talvez poucos conheçam: o C20. Este termo foi

estipulado pela legislação brasileira para a maioria das baterias nacionais. O termo C20

informa que uma bateria à plena carga de 45 A/h (por exemplo), possuindo uma tensão

de 12,6 V, deve fornecer uma corrente contínua de 2,25 A durante 20 horas

ininterruptas, e ao final dessas 20 horas não apresentar tensão abaixo de um valor

chamado Tensão de Corte, algo em torno de 10,5 V. Se a tensão apresentada ao final

deste ensaio estiver abaixo deste valor, a bateria pode ser condenada, além do que prova

que a Capacidade da Bateria não possuía uma Capacidade de 45 A/h. Agora alguns

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devem estar questionando, “quem estipulou a corrente de 2,25 A?”. O Órgão

Regulamentador e a Matemática. Observe que 2,25 A corresponde à capacidade total de

45 A/h dividida por 20 horas. Lembram quando citei que nenhuma bateria suportaria

uma sobrecarga de sua Capacidade máxima durante 01 hora? Justamente por isso, a

corrente de capacidade máxima é dividida por 20 (horas), ou seja, uma corrente de 2,25

A constante durante 20 horas é o mesmo que 45 A em 01 hora.

Dica: Se não tiver em mãos um analisador de Bateria, é possível realizar um teste

improvisado. Suponhamos que temos uma Bateria de 60 A/h C20 já instalada no

veículo, e gostaríamos de testar sua Capacidade atual:

1) Carregue a bateria até uns 12,6 V;

2) Espere meia-hora;

3) Ligue uma carga constante que necessite de 10 A;

4) Monitore a Tensão da Bateria;

Suponha o seguinte: Você observou que em tais condições, a Tensão de Corte foi

atingida em apenas 5 Horas de carga com 10 A, cont. O que isto significa? Que sua

bateria teve sua Capacidade reduzida com o tempo para 50 A/h. Mas por que isso

ocorre? Por vários fatores. Uma bateria de qualidade pode ser submetida à realização

de, aproximadamente 200 recargas, porém o que poucos sabem é que:

1) Um processo correto de recarga, quando a receptora possuir tensão da bateria

igual ou maior de sua tensão de corte, isso diminuirá 30% de sua vida útil;

2) Um processo de recarga rápida (procedimento contestado), reduz até 50 ciclos

de recargas dos 200 ciclos que ela suportaria durante toda sua vida útil, além de

comprometer sua Capacidade;

3) As chamadas “chupetas” reduzem 30 ciclos de recargas à cada vez realizada.

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Então quais os meios corretos de realizar uma recarga?

Recarga com corrente constante: Aplica-se 10% da corrente nominal da bateria, em

um período que pode variar, conforme o estado da tensão inicial. Duração máxima de

até 15 horas, dependendo da bateria. Neste método, deve-se haver monitoramento

constante da tensão e também da temperatura da bateria. Em uma recarga de corrente

constante, tão logo a bateria tenha sua capacidade totalmente restaurada, a tensão do

carregador tende a disparar, e danificar as placas de Chumbo, além de causar um

aumento brusco na temperatura, que não pode exceder 50°C. Por quê? O aumento de

temperatura ocasionaria a fuga de gás Nitrogênio, e este é altamente inflamável.

Portanto se durante uma recarga 50°C for atingido, reduza a corrente de recarga pela

metade e continue monitorando.

Recarga com Tensão Constante: Aplica-se 14,4 V constantes durante a recarga, e

dependendo das condições da bateria, isso ocasionará uma corrente inicial de algo em

torno de 25 A. Essa corrente tende-se a diminuir com o tempo de recarga, e quando

chegar à 0 A, temos o processo concluído.

Nos dois procedimentos legais de recargas apresentados acima, devem-se observados

alguns cuidados importantes quanto ao manuseio dos carregadores de bateria.

1) Após a finalização do processo de Recarga, NUNCA desligar o carregador dos

pólos da bateria antes de um tempo mínimo de 15 minutos, pois neste intervalo

ainda pode haver indícios de gás nitrogênio nas proximidades dos pólos. Os 15

minutos também serviriam para equalização da tensão do carregador com a

tensão da bateria. JÁ em uma equalização sem eficiência, de forma simplificada,

ocorreria quando o Carregador apresentasse uma tensão de 12,6 V e a Bateria

12,4 V, por exemplo. Esses 0,2 V de diferencia podem causar faiscamentos e

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sparks, fatores que em conjunto com o Gás Nitrogênio eliminado para o

ambiente, devido o calor da bateria, resultariam em incêndios e explosões ao

sistema como um todo.

2) Ao receber, em seu estabelecimento, um veículo, cuja tensão apresentada, em

vazio, seja menor que a tensão de corte (10,5) V, a bateria já está condenada e

nada pode ser feito à fim de repará-la. Caso insistam em realizar o procedimento

de recarga em uma bateria nesta condições, tanto para o doador como para o

receptor, pode ser catastrófico Tudo indica que a bateria com baixa tensão esteja

com seus elementos Sulfatados, foram utilizadas em modo estacionário e com

alta correte, o nível de Ácido Sulfúrico evaporou pelos bornes de chumbos, e

deu origem ao Ácido Nitroso. Consequentemente, o nível da solução aquosa

tendeu à diminuir, causando a sulfatação das placas de Chumbo. Finalmente,

tudo isso gera o deposito de suas partículas, que se depositam no fundo da

bateria, devido a sobrecarga.

Baterias sulfatadas: Tal fenômeno ocorre com frequência nas conhecidas cargas

rápidas ou “chupetas”. As placas de Chumbo, instaladas no interior da bateria, durante

os processos de cargas rápidas, altas correntes transitam pelas mesmas, e tende à formar

uma crosta de Sulfato nas faces das placas, o que aumenta-se a Resistência Interna das

Baterias, diminui drasticamente sua Capacidade, além de diminuir consideravelmente

sua vida útil.

Baterias Curto-Circuitadas: Este fenômeno ocorre em veículos, cujo os donos

desconhecem a verdadeira utilidade de uma bateria automotiva, e a empregam como

única fonte de alimentação, durante horas e alimentando cargas com potências

consideráveis, como por exemplo sistemas de som mal dimensionados. Uma Bateria

veicular não é apropriada para alimentar um dado sistema de potência com uma corrente

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maior que 10% do seu valor nominal. Um sistema de Som, por exemplo, consumindo

40 A ou mais, obriga a bateria a trabalhar em condições anormais. A Alta Corrente

sendo transportadas pelas placas de chumbo de uma bateria, por si só, já é o suficiente

para diminuir o nível da solução aquosa, contribuir para o aumento da temperatura,

causar uma grande evaporação do gás Nitrogênio, e o mais importante: devido à

corrente elétrica de alta magnitude, as placas de chumbo começam a se dissolver, e suas

partículas soltas tendem a se depositar no fundo da bateria. A partir do momento que

uma grande quantidade de partículas já se encontra no fundo da bateria, formando um

nível mais alto e encostando nas placas de chumbo, já temos uma bateria curto-

circuitada.

RELAÇÃO ENTRE TENSÃO E CORRENTE ELÉTRICA

Imaginemos o seguinte, as cargas elétricas positivas e negativas depositadas nos polos

positivos e negativos de um acumulador de energia, dão origem à uma diferença de

potencial, que nada mais é que a tensão de uma bateria, por exemplo. Para melhor

compreensão qualificaremos Tensão Elétrica como uma Força Eletromotriz, ou

simplesmente uma Força, que pode ter grande magnitude ou pouca magnitude, ou

simplificando, pode ter 12 V ou simplesmente 1 V.

Agora, vamos esquecer um pouco de tensão, e falar sobre materiais condutores e não-

condutores (também existem os semicondutores, mas deixemos para depois). Um

material condutor é todo elemento que conduz energia elétrica, por exemplo, fios de

cobre. Um material não-condutor é todo elemento que não conduz energia elétrica, são

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os chamados isolantes. Todos os materiais condutores possuem elétrons livres em sua

constituição ao contrário dos não condutores. Quanto aos materiais condutores, mesmo

possuindo elétrons livres, os mesmos não percorrem tais materiais se uma força não os

empurrarem, e essa força nada mais é que a tensão que falamos a pouco, lembram? Um

fio de cobre possui elétrons livres que se movimentam quando uma tensão, entre dois

polos, é aplicada nas duas extremidades deste cabo, e sempre em um sentido: do pólo

positivo para o negativo.

Recordando, ao aplicarmos uma tensão em um cabo condutor seus elétrons livres se

movimentam ordenadamente, e essa movimentação de elétrons tem um nome: Corrente

Elétrica.

Resumindo: A diferença de potencial, ou tensão, entre as duas extremidades de um cabo

significa uma força que empurra elétrons livres, e essa movimentação é a corrente

elétrica. Complicado? Claro que não!

Porém, independente da força, ou tensão, aplicada nas extremidades do cabo, caso não

haja nenhum obstáculo, os elétrons se movimentaram com uma velocidade absurda, e

quanto maior a velocidade de circulação dos elétrons, maior a corrente elétrica. Essa

movimentação livre de elétrons é o que chamamos de Curto-Circuito, ou seja, uma

corrente elétrica altíssima.

Para que isso não ocorra em um circuito submetido à uma dada tensão, deve-se possuir

meios de regular a velocidade dessa movimentação de elétrons, que significa reduzir a

corrente elétrica. Isso significa que é necessário algo que imponha uma resistência à

passagem de elétrons. Daí surge a definição de Resistor ou Resistência Elétrica que

nada mais é que uma imposição à corrente elétrica, ou passagem de elétrons. Com o

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tempo vamos percebendo que um capacitor, um diodo ou um indutor também impõem

resistência à corrente elétrica, mas vamos por partes.

Quando um circuito submetido à uma tensão, com sua corrente elétrica limitada por

uma resistência elétrica, esta pode apresentar uma reação devido aos elétrons que estão

passando continuamente em seu interior, no caso do resistor convencional sua reação

poderá ser o aquecimento de seu material cerâmico. Quanto mais corrente elétrica

passar por ele, maior será a potência exigida pelo resistor para que este suporte o calor.

Dessa forma temos mais uma grandeza a se preocupar, ou seja, potência elétrica, em

forma de calor.

Nem sempre temos todos os instrumentos de medição em nossas mãos, para medida das

grandezas. Nesses casos uma matemática puramente básica está ao nosso lado para

ajudar-nos.

O formulário abaixo auxilia grandiosamente os Reparadores. São fórmulas simples, e

muitos já devem conhecê-las.

UNIDADES UTILIZADAS

Corrente Elétrica (I) – Ampèr (A)

Tensão Elétrica (V) – Volt (V)

Resistência Elétrica (R) – Ôhm (Ω)

Potência Elétrica (P) – Watts (W)

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Cálculo de Resistência Ôhmica

𝐕
𝑹=
𝐈

Cálculo de Tensão

𝑽=𝑰𝒙𝑹

Cálculo de Corrente Elétrica

𝐕
𝑰=
𝐑

Cálculo de Potência Elétrica

𝐕𝟐
𝑷=𝑽𝒙𝐈 ou 𝑷 = 𝑹 𝒙 𝑰𝟐 ou 𝑷=
𝑹

Dica 01: Quando a Resistência Ôhmica é constante, caso a tensão varie, a corrente

também variará, e de forma diretamente proporcional, ou seja, aumenta-se a tensão e

aumenta-se a corrente;

Dica 02: A corrente elétrica, desde que a tensão se mantenha constante, sempre variará

caso a resistência ôhmica também varie, e de forma inversamente proporcional, ou seja,

aumenta-se a resistência e diminui-se a corrente;

Dica 03: Caso a tensão, a corrente ou ambas aumentem ou diminuam, a potência

também aumentará ou diminuirá, de forma diretamente proporcional ao aumento.

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PROBLEMAS

EXEMPLO 01: Você está aplicando uma tensão de 12 V em uma lâmpada sem nenhum

dado escrito na mesma. Observa-se, com seu alicate amperímetro, a corrente elétrica

passando pela lâmpada acesa, com valor de 2 A. Você sabe que para aquele farol a

lâmpada utilizada deve ser exatamente de 20 W de potência. Será que a lâmpada está

correta?

12 V

12 V

U1
- +
2.000 A

Amperímetro

𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑎 𝑙â𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎 = 𝑇𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑥 Corrente Elétrica

𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑎 𝑙â𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎 = 12 𝑥 2

𝑷𝒐𝒕ê𝒏𝒄𝒊𝒂 𝒅𝒂 𝒍â𝒎𝒑𝒂𝒅𝒂 = 𝟐𝟒 𝑾

Neste caso a lâmpada não é a correta. Pois deveria ser de 20 W. Certo?

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EXEMPLO 02: O regulador do seu Alternador está com defeito, e está alimentando a

bateria com 18 V. Você, não sabendo do defeito, aciona a luz de freio do veículo, que

em condições normais, quando em 12 V, consome 45 W de potência. Sabendo-se que o

sistema de luzes de freio é protegido por um fusível de 5 A, em tais condições anormais,

o fusível queimará?

12 V

12 V

Pedal de Freio

5_AMP 18 V

Primeiro, devemos calcular a corrente das lâmpadas em condições normais:

𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑁𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙
𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐸𝑙é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑎𝑠 𝐿â𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑚 12 𝑉 =
Tensão Normal

45
𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐸𝑙é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑎 𝐿â𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎 𝑒𝑚 12 𝑉 =
12

𝑪𝒐𝒓𝒓𝒆𝒏𝒕𝒆 𝑬𝒍é𝒕𝒓𝒊𝒄𝒂 𝒅𝒂𝒔 𝑳â𝒎𝒑𝒂𝒅𝒂𝒔 𝒆𝒎 𝟏𝟐 𝑽 = 𝟑, 𝟕𝟓 𝐀

É necessário calcularmos a resistência ôhmica referente às duas luzes de freio, a fim de

calcular a corrente elétrica em 18 V:

𝑇𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑁𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙
𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 ôℎ𝑚𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑎𝑠 𝐿â𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎𝑠 =
Corrente Normal

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Lembrem-se: Teoricamente, a resistência ôhmica de um Resistor ou lâmpada é

considerada constante, mesmo que haja variação da tensão ou corrente. Portanto a

resistência ôhmica em 12 V é a mesma em 18 V

Então:

12
𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 ôℎ𝑚𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑎𝑠 𝐿â𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎𝑠 =
3,75

𝑹𝒆𝒔𝒊𝒔𝒕ê𝒏𝒄𝒊𝒂 Ô𝒉𝒎𝒊𝒄𝒂 𝒅𝒂𝒔 𝑳â𝒎𝒑𝒂𝒅𝒂𝒔 = 𝟑, 𝟐𝟎Ω

Finalmente, conhecendo-se a tensão de 18 V e a resistência ôhmica das lâmpadas:

𝑇𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝐴𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙
𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐸𝑙é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑎𝑠 𝐿â𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑚 18 𝑉 =
Resistência Lâmpadas

18
𝐶𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝐸𝑙é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎 𝑑𝑎𝑠 𝐿â𝑚𝑝𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑚 18 𝑉 =
3,20

𝑪𝒐𝒓𝒓𝒆𝒏𝒕𝒆 𝑬𝒍é𝒕𝒓𝒊𝒄𝒂 𝒅𝒂𝒔 𝑳â𝒎𝒑𝒂𝒅𝒂𝒔 𝒆𝒎 𝟏𝟖 𝑽 = 𝟓, 𝟔𝟐𝟓 𝐀

Portanto o fusível de 5 A não suportará a corrente elétrica e romperá em certo momento.

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ANÁLISE DE CIRCUITOS AUTOMOTIVOS

O estudo de Circuitos Elétricos não é uma das atividades mais fáceis. Em cursos

técnicos o básico é repassado aos alunos, na Engenharia a complexidade aumenta

monstruosamente, e tende a assustar aqueles que já imaginavam dominar tais artifícios.

Nesta primeira parte veremos somente circuitos constituídos de resistores e sistemas de

iluminação, futuramente abordaremos assuntos “proibidos” e temidos em cursos

técnicos, constituídos de capacitores e indutores, porém não se preocupem, dediquem-se

e deixem o restante para uma outra ocasião.

Resistor: São componentes que têm por finalidade oferecer uma oposição à passagem

de corrente elétrica devido seu material cerâmico. A essa dificuldade imposta à

passagem de corrente elétrica damos o nome de resistência elétrica, que possui como

unidade o ôhm. Em um circuito tende a causar quedas de tensão, e diminuem valores de

corrente elétrica. Inclusive, a corrente elétrica que entra em um terminal do resistor será

exatamente a mesma que sai pelo outro terminal, entretanto tende a causar uma dada

queda de tensão, além do sobreaquecimento do componente, fenômeno que chamamos

de efeito Joule. Utilizando-se disso, é possível usar os resistores para controlar a

corrente elétrica em circuitos de dimensões limitadas.

Lâmpadas: Parece um tema redundante, afinal quem não conhece uma lâmpada?

Porém é melhor comentarmos um pouco sobre o assunto. A lâmpada veícular

transforma energia elétrica em luminosidade e calor. Mas como? A corrente elétrica,

através de seus terminais positivos e negativos, entra dentro do Bulbo de vidro, onde

em seu interior não existe nenhum gás ou ar, apenas vácuo. A corrente circula através

de duas finas hastes, e estas são soldadas com gotas de solda prata à um filamento fino e

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em forma de espiral, ou seja, o Tungstênio. O Tungstênio possui alto ponto de fusão, ou

seja, suporta altíssimas temperaturas. O Tungstênio possui algumas características

interessantes: aquecem-se e resfriam-se muito rápido, e possui sua resistência ôhmica

que varia rapidamente quando circulado por uma dada corrente elétrica. Isso pode ser

comprovado. Meça a resistência ôhmica de uma lâmpada à frio e encontrará 0 Ω,

resistência de curto-circuito. Aí você liga-a e sua corrente é consideravelmente baixa, ou

seja, com a corrente circulando sua resistência aumenta consideravelmente.

Experimente desligá-la e imediatamente medir sua resistência. Você encontrará 0 Ω e

isso prova como sua resistência pode variar de forma instantanea.

OBTENÇÃO DE RESISTÊNCIA RESULTANTE

Circuito Série

Pode ocorrer do Profissional não ter um Multímetro em mãos, e ter que afirmar o valor

resultante referente à vários elementos resistivos ligados em conjunto. Como?

Imagine uma Placa de Circuitos formada por 4 Resistores:

+ R4
-

R1 R2

R3

Como calcular com auxílio de uma calculadora a resistência equivalente desta carga?

O circuito acima trata-se de um circuito série, ou seja, o terminal de saída de corrente de

um resistor é ligado ao terminal de entrada de outro resistor.

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Neste caso:

𝑹𝒆𝒒 = 𝑹𝟏 + 𝑹𝟐 + 𝑹𝟑 + 𝑹𝟒

“Ou seja, não importa quantos sejam os elementos resistivos, sempre que ligados em

série devem ter seus valores ôhmicos somados um ao outro, a fim de obtermos a

resistência total.”

PROBLEMAS

Exercício 1) Dado o circuito abaixo, calcular qual corrente elétrica fornecida pela

bateria

R4

35Ω

R2 20Ω 12Ω R3

12 V
V1

Primeiramente devemos assimilar as posições das cargas, e identificar a maneira como

estão ligadas uma à outra, verifica-se que as três cargas estão ligadas em série, uma a

outra. Dessa forma calculamos o total de cargas resistivas do circuito:

Req = R2 + R4 + R3

Req = 20 + 35 + 12 = 67 Ω

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Após calcular o valor da carga resistiva equivalente do circuito, vamos ao segundo

passo:

Calcúlo da Corrente do Circuito:

V
𝐼=
R

12
𝐼=
67

𝑰 = 𝟎, 𝟏𝟕𝟗 A

Circuito Paralelo

Agora analisaremos outra situação. Temos 2 elementos resistivos ligados da seguinte

forma:

R1 R2

A disposição dos resistores acima mostram suas entradas interligadas, e suas saídas

interligadas. Neste caso temos um circuito paralelo.

Como calcular com auxílio de uma calculadora a resistência equivalente desta carga?

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O circuito anterior trata-se de um circuito paralelo, ou seja, o terminal de entrada de

corrente de um resistor é ligado ao outro terminal de entrada de um resistor diferente. E

os terminais de saídas também são interligados. É importante dizer que este tipo de

ligação de cargas é o mais comum em sistemas veículares. Para o circuito acima,

utilizamos a fórmula abaixo:

𝐑𝟏 𝐱 𝐑𝟐
𝑹𝒆𝒒 =
𝐑𝐈 + 𝐑𝟐

Agora suponhamos que acrescentamos mais um elemento resistivo, também em

paralelo:

R1 R2 R3

O circuito acima também trata-se de um circuito paralelo, porém com 3 resistores. Sua

resolução dá-se da seguinte maneira:

Começamos o cálculo com apenas 2 resistores, e chamamos seu resultado de Req A:

R1 x R2
𝑅𝑒𝑞 𝐴 =
R1 + R2

Consideramos Req A como um só resistor e fazemos o cálculo com R3:

Req A x R3
𝑅𝑒𝑞 𝐵 =
Req A + R3

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“Ou seja, não importa a quantidade de resistores em paralelo. Sempre encontramos a

Resistência equivalente de dois resistores, e usamos este valor para realizarmos o

cálculo com o resistor seguinte.”

DICA: Se todos resistores em paralelo possuírem o mesmo valor ôhmico, basta

utilizar este valor e dividir pelo número de resistores.

PROBLEMAS

Exercício 1) Dado o circuito abaixo, calcular qual resistência equivalente que refere-se

aos dois resistores:

20Ω

10Ω

Lembramos que:

R1 x R2
𝑅𝑒𝑞 =
R1 + R2

20 x 10
𝑅𝑒𝑞 =
20 + 10

200
𝑅𝑒𝑞 =
30

Ou seja, a associação dos dois resistores acima pode ser representada por apenas um

resistor de 6,66 Ω.

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Exercício 2) Dado o circuito abaixo, calcular qual resistência equivalente que refere-se

aos três resistores em paralelo:

R1
15Ω

R2
40Ω

R3

Neste circuito paralelo temos três resistores. Dessa forma nos preocupamos em

estabelecer, primeiramente, a resistência equivalente de R1 e R2, e esta chamaremos de

Req A.

R1 x R2
𝑅𝑒𝑞 𝐴 =
R1 + R2

15 x 40
𝑅𝑒𝑞 𝐴 =
15 + 40

600
𝑅𝑒𝑞 𝐴 =
55

𝑅𝑒𝑞 𝐴 = 10,90 Ω

Substituindo-se R1 e R2 por uma única resistência de 10,90 Ω, podemos dar

continuidade aos cálculos, e acharmos a resistência equivalente total.

Req_A

10.90Ω

R3

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Req A x R3
𝑅𝑒𝑞 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 =
Req A + R3

10,90 x 5
𝑅𝑒𝑞 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 =
10,90 + 5

𝑅𝑒𝑞 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 = 3,42 Ω

Ou seja, a associação das três resistências descritas acima pode ser simplificada por uma

única resistência equivalente às mesmas, que é de 3,42 Ω.

CONCEITO E DIMENSIONAMENTO DE FUSÍVEIS

Em sistemas automotivos, o fusível é um dispositivo primordial de proteção contra

sobrecorrente em circuitos. Consiste de um filamento ou lâmina de metal com baixo

ponto de fusão que é posicionado em série com os circuitos à serem protegidos. Sua

principal função é fundir-se, por superaquecimento, quando a intensidade de

corrente elétrica superar suas limitações de condução, seja devido a um curto-

circuito ou sobrecarga, o que poderia danificar a integridade dos condutores. Ao

contrário do que muitos imaginam a principal função de um fusível é proteger, em

primeiro lugar, o chicote elétrico do veículo, já que este sendo revestido por material

polimérico pode inflamar-se e causar acidentes, seja por queimaduras ou emissão de

gases. Muitas pessoas ligadas à Reparação substituem indevidamente um fusível de

5 A por um de 10 A, ou um de 20 A por um de 25 A, porém existe um agravante, o

cabeamento não é dimensionado para suportar 5 A à mais, e isso causa danos à

longo prazo, como ressecamento da isolação, perda das propriedades condutivas do

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ELETRICIDADE BÁSICA – PARTE 01

cobre, e com isso aumenta-se a resistência dos cabos, ocasionando mau

funcionamento dos sistemas embarcados e fugas de corrente.

Entre os vários tipos de fusíveis podemos citar:

Fusível Lâmina: Existem de 03 à 40 Amperes. É considerado um fusível rápido,

porém para sobrecorrentes com o dobro ou maior valor da nominal pode levar até 5

segundos para atuar. Seu limite de atuação é 2000 A, para correntes maiores o

filamento transforma-se em um metal pastoso, que pode fechar o circuito ao invés

de interrompê-lo.

Fusível Mini-Lâmina: Possui as mesmas características do Fusível Lâmina, porém

devido suas dimensões menores isso permite que mais dispositivos de proteção

sejam posicionados em um espaço reduzido. Na verdade, apesar de opiniões

contraditórias, o Fusível lâmina por ser maior oferece maior proteção, já que o

espaço de rompimento do filamento é maior e menos vulnerável à arcos voltáicos.

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Fusível Mini Lâmina Perfil Baixo: Existem de 07 à 30 Amperes. Possuí um perfil

diferenciado o que requer conectores de encaixe especiais. Possuí ação rápida, e rara

aplicação em veículos novos.

Fusível Maxi-Lâmina: Com valores de 30 à 80A. Por possuir um tamanho

considerável apresenta boa propagação de arco voltáico, porém apresenta um ponto

negativo, já que dependendo da sobrecorrente pode levar até 60 segundos para

interromper o circuito.

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Fusível Cinta: Possui valores nominais de 30 à 175 A. Geralmente são proprios

para portas fusíveis instalados sobre as baterias. Possui tempo máximo de atuação

em torno de 15 segundos.

UM RESISTOR POSSUI SEMPRE O MESMO VALOR ÔHMICO?

Apesar de muitos considerarem que um resistor é um componente linear, cuja

resistência é sempre a mesma em um dado circuito ou ligação, esta afirmação é falsa,

como no caso da lâmpada que tem sua resistência modificada quando alimentada.

Por exemplo, um simples fio de cobre, tem sua resistência modificada conforme se

aumenta sua temperatura. Segue abaixo a fórmula que prova tal teoria:

𝐑 = 𝐑𝐨 𝐱 [𝟏 + 𝛂 (𝐭 − 𝐭𝐨)]

Ro = É a resistência do condutor à temperatura normal;

α = É o coeficiente do material, em nosso caso o cobre, ou seja, 0,0039;

to = Temperatura normal, em torno de 20°C;

t = é a temperatura de superaquecimento.

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Por exemplo, consideramos que um fio de sinal constituído de cobre, com resistência

inicial de 0,5 Ω e temperatura de 20°C. Qual será sua resistência ôhmica à 100°C?

R = 0,5 x [1 + 0,0039 (100 − 20)]

Teremos uma resistência de:

𝐑 = 𝟎, 𝟔𝟓𝟔 𝛀

Caso tal condutor transmita sinais, estes poderão sofrer certa atenuação,

comprometendo um determinado sistema. Portanto, nenhuma resistência ôhmica é ideal

e tem o mesmo comportamento. Prestem atenção à tais detalhes que podem confundir

quem analisa um problema.

FIAÇÃO POSSUI RESISTÊNCIA?

Partimos de um conceito básico que um veículo possuí um chicote elétrico, e este é

devidamente dimensionado pela Setor de Engenharia. Muitos de nós pensamos, “Poxa,

por que este fio passa por este caminho de dífícil acesso ao invés de ser passado em

volta do carro e alimentar todos os sistemas?”, ou então, “Caramba, por que esses fios

de CAN possuem tantas ramificações, isso somente dificulta a análise de um problema”.

Quantas vezes encontramos crimpagens originais apresentando falhas, e ramais

passando por lugares impossíveis de acessar.

Pois é, isso é necessário. Com certeza o chicote teria sua complexidade e quantidades de

fios extremamente reduzidas, o que facilitaria nossas análises e seguir possíveis

problemas, mas por outro lado teríamos problemas de atenuação da tensão. Seria como

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a bateria fornecer 12 V, porém a lâmpada de freio receber somente 10 V, ou um módulo

enviar um sinal de CAN com amplitude de 5 V , e o mesmo sinal chegar em outro

módulo com amplitude de 3 V. Como eu sempre digo quando participo de algum

projeto: “Por pior que seja cair uma pedra em nossa cabeça, ainda devemos agradecer

pois poderiam ser duas”.

Aí surge a questão: “Como podemos provar isso?”. E a resposta é simples e direta, ou

seja, por uma matemática simplória e que extermina qualquer dúvida quanto à isso.

Vejam abaixo:

𝛒. 𝐋
𝑹=
𝐀

Sendo:

R = Resistência do Fio;

𝜌 = Trata-se de uma letra grega chamada “Rô”, e representa a resistividade do

material que constituí o fio, em nosso caso o cobre, cujo valor é 1,72 . 10−8 Ω/m, ou

seja, em um metro de fio de cobre sua resistividade vale algo em torno de

0,0000000172 Ω;

L = Comprimento do fio;

A = Área ou diâmetro do fio.

Imagine que você tenha a idéia mirabolante de inventar um carro com apenas um fio de

CAN. Este percorreria o carro inteiro, dando várias voltas, indo e vindo, ou seja, você

utilizaria uns 5.000 metros de um fio com área de 0,35 m𝑚2 , que transformando em

metro chegamos a 0,000035, um fio bem fino. Aparentemente inofensivo, mas vamos

aos cálculos:

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0,0000000172 . 5000
𝑅=
0,000035

A resistência do fio, de acordo com seu comprimento será de 2,457 Ω. Acharam

normal? Então voltemos ao cálculo de potência elétrica. Considerando que aplique-se 5

V de pico em uma rede CAN:

V2
𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑖𝑠𝑠𝑖𝑝𝑎𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑓𝑖𝑜 =
R

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𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑖𝑠𝑠𝑖𝑝𝑎𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑓𝑖𝑜 =
2,457

𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑖𝑠𝑠𝑖𝑝𝑎𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑓𝑖𝑜 = 10,17 W

E essa potência seria dissipada em forma de calor, ou seja, o fio faria o papel de um

resistor de 2,457 Ω com uma tensão de 5 V. Agora pensem, uma lâmpada de pequeno

porte tem 5 W, e o fio dissipando mais de 10 W! Isso causaria a queima da fiação. Então

as possíves soluções para evitar tal catástrofe seriam:

1) Aumentar o diâmetro do fio: se aumentarmos a área de secção do fio, essa

resistência referente ao fio de 5000 metros diminuiria. Porém surgiriam dois

problemas: um fio de maior diâmetro tem seu valor bem mais elevado que um

de menor diâmetro. E o outro problema seria a dimensão total do chicote, que

necessitaria de maior espaço de acomodação;

2) Usar um condutor de menor resistividade: Qual você escolheria? Ouro ou

Prata? Sim, pois são os condutores com menor resistividade;

3) Reduzir o comprimento do Fio: Trata-se da medida mais viável, meus caros. A

criação de ramais de menor comprimento, e com trajetos estratégicos é a forma

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mais viável de se projetar o chicote elétrico de um veículo. Então, lembrem-se

sempre:

“Quanto mais longo o fio, maior será sua resistência elétrica”.

“Quanto maior o diâmetro de um fio, menor será sua resistência elétrica”.

Lembrando, também que:

“Quanto maior o valor de resistência elétrica, maior será a dissipação de potência

em forma de calor, e maior carga será consumida”.

Para um bom dimensionamento de cabos e fios para instalações automotivas, vários

fatores são preponderantes, porém julgo que os assuntos explanados até o momento

neste material, já pode servir como um embasamento inicial aos Técnicos e

Reparadores, que pretendam se aperfeiçoar em sistemas eletroeletrônicos automotivos.

Até o próximo material.

Leandro Almendro Zamaro

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