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ANÁLISE
Joan Durrant (PhD) e Ron Ensom (MSW - mestre em assistência social e RSW -
assistente social credenciado)
Possíveis interesses: Ron Ensom participa da iniciativa nacional de transmissão de conhecimento sobre
punição física no Children’s Hospital of Eastern Ontario (Hospital Infantil do Leste de Ontário).
Há vinte anos a punição física de crianças ainda era amplamente aceita ao redor
do mundo e era considerada um método apropriado para promover obediência, também
vista como algo diferente de abuso físico. Contudo, essa visão começou a mudar quando
estudos encontraram uma ligação entre punição física normativa e agressão infantil,
criminalidade e violência doméstica anos mais tarde. Alguns desses estudos envolviam
grandes experimentos feitos nos Estados Unidos; uns examinavam o potencial do
raciocínio parental para moderar a relação entre punição física e agressão infantil, e
outros examinavam possíveis fatores ambíguos, como estresse parental e status
socioeconômico. Praticamente sem exceção, esses estudos constataram que a punição
física era associada com índices maiores de agressão dos pais, irmãos, conhecidos e
cônjuges.
Mas será que a punição física e agressão infantil são associadas estatisticamente
por que mais crianças agressivas levam a índices maiores de punição física? Embora
isso fosse uma possibilidade, pesquisas começaram a demonstrar que a punição física
provoca agressão. Experimentos pioneiros indicaram que sentir dor automatiza o
comportamento agressor. Em um estudo modelo anterior, meninos da primeira série que
assistiram a um vídeo de um minuto de outro menino recebendo gritos, sendo sacudido
e espancado com uma palmatória por mau comportamento foram mais agressivos
enquanto brincavam com bonecas do que os meninos que assistiram a um vídeo de um
minuto com reações não violentas ao mau comportamento. Em estudos com testes
clínicos, Forgatch mostrou que a redução da educação severa dos pais de meninos com
risco de comportamento antissocial foi acompanhada por reduções significantes da
agressão em seus filhos. Esses e outros resultados estimularam os pesquisadores a
identificar os mecanismos que ligam a punição física à agressão infantil.
Pontos-chave:
Outra grande mudança de cenário foi acelerada pela pesquisa que questionou a
dicotomia tradicional: punição - abuso. Ainda que pesquisas que mostrassem que a
maioria dos abusos físicos são punições físicas (em intenção, forma e efeito) tenham
começado a acumular em 1970, estudos sobre maus tratos de crianças desde então
esclarecem essa constatação. Por exemplo, o primeiro ciclo do Estudo Canadense de
Incidência de Abuso e Negligência Infantil Reportados (Canadian Incidence Study of
Reported Child Abuse and Neglect - CIS 1998), mostrou que 75% do abuso físico
infantil substancial ocorria durante episódios de punição física. Essa descoberta foi
replicada no segundo ciclo do estudo (CIS 2003). Outro grande estudo canadense
constatou que crianças que recebiam palmadas dos pais eram sete vezes mais propensas
a serem violentamente agredidas pelos pais (com socos e chutes, por exemplo) que as
crianças que não recebiam palmadas. Em um estudo dos Estados Unidos, bebês em seu
primeiro ano de vida que receberam palmadas dos pais no mês anterior, eram de duas a
três vezes mais propensos a sofrer uma lesão que necessitasse de atenção médica do que
bebês que não receberam o mesmo tratamento dos pais. Estudos sobre a dinâmica do
abuso físico infantil ajudaram a esclarecer esse processo, que consistia em pais
atribuindo conflitos aos filhos intencionalmente e/ou rejeição, assim como uma
dinâmica familiar coerciva e respostas condicionadas por emoções.
Os crescentes indícios ligando resultados negativos a longo prazo da punição
física contribuíram para uma mudança global de perspectivas sobre tal prática. No
Canadá, mais de 400 organizadores patrocinaram o Joint Statement on Physical
Punishment of Children and Youth (basicamente uma declaração coletiva sobre punição
física em crianças e adolescentes). Um subgrupo dessas organizações é listada no
Apêndice 1 (disponível em: www .cmaj .ca /lookup /suppl /doi :10 .1503
/cmaj.101314/-/DC1). Em outros países, reformas legislativas foram instituídas para
proteger melhor as crianças. Acompanhando essas mudanças, houve uma ênfase
crescente no desenvolvimento de modelos positivos educativos disciplinares que é
baseado em uma resolução efetiva e não violenta.
Há provas suficientes de que fornecer auxílio e orientação aos pais pode reduzir
o uso de punição física e comportamentos manifestados em seus filhos. A maior parte
dos programas que foram avaliados é baseada em comportamentos originados do
trabalho de Patterson e seus colaboradores. Nesses programas, pais são ensinados a
observar o comportamento de seus filhos, comunicar claramente e aplicar eventuais
repercussões. Estudos de metanálise avaliando esses programas mostram efeitos
positivos na aptidão, eficácia e saúde psicológica dos pais, assim como no
comportamento dos filhos. Um estudo recente sobre a implementação de estratégias
para o auxílio de pais e familiares, mostrou que as famílias do grupo tratado tiveram
menos casos confirmados de maus tratos, ferimentos de agressão e as crianças foram
menos deslocadas de seus lares.