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Wilton GARCIA
sobre o campo do design contemporâneo,
permeado de aspectos socioculturais e
políticos. Na relação
professor/pesquisador com o contexto de
ensino-aprendizagem, tomo a
sistematização de experiências que
potencializam a discussão corpo/máquina
para explorar o caráter dinâmico do design
e da hipermídia. É preciso pensar o design
contemporâneo acompanhando as Abstract
(trans/de)formações do corpo e os avanços
This text presents a critical reflection on
design
tecnológicos. Nesse caso, imagem,
UM
some conceptual aspects in the field of
tecnologia, experiência e subjetividade são
contemporary design. In the relation
inscrições do corpo no desenvolvimento da
teacher/researcher with the teach-learning
criação no design, hoje. O presente texto
context, I take the systematization of
(atento a temas como arte, informação,
experiences that potencialize the quarrel
política e consumo) aponta e registra
body/machine to explore the dynamic
estudos contemporâneos como eixo
character in design and hypermedia. It is
teórico-metodológico dessa investigação.
necessary to think about contemporary
design following (trans/de)formations of
Palavras-chave
the body and the technological advances.
Design; corpo; imagem; tecnologia; In this case, image, technology, experience
contemporâneo
estudos contemporâneos. and subjectivity are inscriptions of body in
the development of creativity in design,
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today. The present text (intent to the
subjects as art, information, politic and
consumption) points and to registe the
contemporary studies as axle theoretician- 1 Agradeço ao grupo de pesquisas Design: criação e novas mídias, da Universidade Anhembi Morumbi pelo apoio
institucional no desenvolvimento deste trabalho, que faz parte da minha pesquisa, em processo, Design, corpo, imagem e
methodological of this inquiry. tecnologia: estudos contemporâneos.
2 Artista visual e pesquisador de cinema, fotografia, vídeo e imagem digital investigando sobre o corpo. É Doutor em
Key words Comunicação e Estética do Audiovisual pela ECA/USP e Pós-Doutor em Multimeios pelo IA/Unicamp. Atualmente, é
Design; body; image; technology; pesquisador e professor no Programa de Mestrado em Design, da Universidade Anhembi Morumbi. Autor do livro Corpo,
mídia e representação: estudos contemporâneos (2005), entre outros. E-mail: wgarcia@anhembi.br
contemporary studies.
São muitas as variantes que compreendem os aspectos Muito mais que abordar exclusivamente questões
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socioculturais e políticos do campo do design teórico-metodológicas, falo de um design
contemporâneo. Hoje, esses aspectos envolvem o design e elegem a vida social contemporâneo comprometido com questões
como instigante referência para se pensar produção e consumo no mercado socioculturais e políticas. Essas questões
globalizado. É o caso de artefatos, objetos, produtos e imagens, os quais se refazem A inscrição sobrepõem a experiência subjetiva que aproxima
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.
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“novas/outras” idéias e gera conceitos. É no desdobramento previsto no
Através de suas bifurcações, de suas proposições múltiplas e ambíguas, contemporâneo que se permeiam design, corpo, imagem, tecnologia e,
das ligações móveis e provisórias entre suas partes, a hipermídia permite respectivamente, ocorre o procedimento de elaboração de um objeto, (de)marcado
representar o pensamento não assentado dos espíritos que contendem pelo desejo. Desejo que se reveste da enunciação sociocultural e política, atrelada
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.
a pa que sgeuraçãotro
diálogo com o corpo ontologizado pela natureza digital da cibercultura. A rede
mundial de computadores convoca o usuário-interator para realizar uma visita A hipermídia, neste caso, hibridiza
virtual, atualizada pela hipermídia na contemporaneidade. m i
e conf enco a n as fronteiras entre corpo e máquina.
re o áquin eo máquina
Um interstício imbrica corpo e
A produção de artefatos, a partir da teoria crítica da indústria cultural, vincula-se à sob rpo/m porân como extensão gerativa de
ordem sociocultural e política. (DUARTE, 2003). Assim, o design contemporâneo, em
co ontem imagens que camuflam as partes. É
consonância com as diretrizes socioculturais e políticas, amplia uma reflexão crítica
sobre o compartilhar de uma sensibilidade ética, marcadamente pelo n o c uma associação embrionária que a
hipermídia e sua pluralidade manipulam
desenvolvimento da qualidade humana. as extremidades desse contágio
corpo/máquina. Não se trata de uma metáfora,
Para tratar de aspectos socioculturais e políticos que agenciam/negociam a relação grosso modo, trata-se de uma verificação.
design e corpo, recupero as considerações de Humberto Maturana:
Portanto, parto da premissa de que a arena do design se atualiza quando
ambienta, estrategicamente, sua discursividade em um contato tecnológico com
A questão que nós seres humanos devemos enfrentar não é o que o orgânico. Ainda que esse debate configure-se para além do orgânico úmido a
queremos que nos aconteça, não é uma questão sobre o conhecimento nova ordem do corpo equaciona novas sensibilidades, a partir dos códigos
ou o progresso. A questão que devemos enfrentar não é sobre a relação digitais e suas sintetizações tecnológicas. Elabora-se o panorama mediador do
entre a biologia e a tecnologia, ou sobre a relação entre a arte e a instrumental maquínico articulado nessa relação corpo/máquina que instaura o
tecnologia, nem sobre a relação entre o conhecimento e a realidade, nem
design.
mesmo se o metadesign molda ou não nosso cérebro. Penso que a
questão que precisamos enfrentar nesse momento de nossa história é
sobre nossos desejos e sobre se queremos ou não ser responsáveis por
nossos desejos. (2001, p. 173).
De acordo com Luiz Antonio Coelho, E, ainda assim, testemunham-se os efeitos que essas transformações, hoje,
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conferem diferentes anotações no campo do design diante do fazer humano. E,
o fato de a matéria ser ou não orgânica, viva ou inerte, não a impediria nesse fluxo, urge a possibilidade da elaboração de um pensamento criativo em
de ser centrada como objeto para o designer [...]. O corpo humano, nesse favor de um design contemporâneo. Acredito que essas transformações
caso, torna-se um objeto e um meio de comunicação com todo o tecnológicas passam a existir mediante o fazer humano e a sua possível integração
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.
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para adentrar no universo da cultura. A cultura, portanto, (re)desenha dados corpo, tento enfocar uma perspectiva reflexiva e conceitual do objeto (i)material. 3
capazes de prenunciar a história dos artefatos. Ao repensar o estatuto do objeto no
ambiente tecnológico da hipermídia, observam-se as práticas culturais atuais e os As anotações reflexivas sobre o objeto (i)material podem ser verificadas nas redes
“novos/outros” paradigmas que diversificam as concepções de mundo. de coordenadas discursivas no contemporâneo. Ao exagerar no uso de prefixos,
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tecnologia da informação, por exemplo, especulam sobre o uso do produto e sua de desenvolvimento das idéias sobre os produtos e a produção em design. Assim,
propriedade, enquanto estado aquisitivo das coisas. De acordo com os estudos também se observa a mudança da relação professor/pesquisador com o contexto
contemporâneos, a relação entre consumidor e usuário passa por surpreendentes de feitura ao ensino-aprendizagem, pois, cada vez mais, os enfrentamentos se
renovam paulatinamente. Incluem aqui os aspectos socioculturais e políticos que
b ém é mpo nomes que podem ilustrar um pouco mais o panorama pensar e o fazer.
ta urad ias atu et filosófica de mundo contemporâneo? Quais Na esteira dos estudos contemporâneos, teço
ins nolog intern a seriam suas contribuições?
O pensar considerações que possam servir de elemento
tec pela da larg e o fazer norteador para se pensar ensino-aprendizagem
ban
Assim, também é preciso recorrer ao campo do diante do tema design contemporâneo e tendo o
design para observar a influência dos conceitos e corpo como atrativo estratégico, pois é no fazer
procedimentos instaurados a partir das tecnologias que o corpo age, como é no pensar que o corpo
atualizadas pela internet banda larga. Há um espaço para esse sente. (GARCIA, 2005). Nada no design está fora
tipo de debate no âmbito do design? O que o designer produz, atualmente, diante do corpo. Essas intenções entre o pensar e o fazer
dessas novas ferramentas implementadas pela internet de banda larga? O que isso culminam na elaboração de estratégias que
influencia também no consumo? (inter)cambiam a inscrição do design contemporâneo. (COUTO; OLIVEIRA, 1999).
Muito mais do que se possa articular a partir do paradigma da hipermídia, da Particularmente no design, a passagem temporal que mostra a coisa como resultado
manifestação do objeto e/ou da sua recepção, a lógica dos estudos de uma idéia permite refletir acerca do processo de elaboração do projeto e da sua
contemporâneos sistematiza a acoplagem do design e corpo, na relação inteligível- fabricação. Da idéia à sua expressão, há um território subjetivo de tempo-espaço
sensível com o mundo, cuja competência encontra-se na descrição crítica do corpo que o corpo experimenta – seja do designer, na criação ou do usuário/interator, no
expandido. consumo. Nessa malha, a relação tempo-espaço também ajuda na (re)dimensão
crítica do pensar e o fazer.
Dessa forma, este trabalho pesquisa ações emergentes – a base conceitual
(transdisciplinar) dos estudos contemporâneos. Nesse caso, a idéia de
Ao compartilhar a transformação da matéria-prima em objeto e/ou serviço, o design Descobrir como fazer para que tudo o que fazemos e pensamos se
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tenta aperfeiçoar o processo de criação, procurando instaurar-se pelo planejamento relacione com tudo o que sentimos e sabemos é a grande chave para o
de idéias e concepções estudadas para o desenvolvimento investigativo. A desenvolvimento de outras dimensões do Design. O Design deve ser
entendido não apenas como uma atividade de dar forma a objetos, mas
investigação, nesse sentido, torna-se uma atividade de busca pelo conhecimento
como um tecido que envereda o designer, o usuário, o desejo, a forma, o
humano, tendo em vista que a descoberta amplia o olhar quando descortina o
Garcia, Wilton. Um design contemporâneo.
trad modo e
Sustentabilidade (de)marca uma importante característica para se pensar o futuro
da sociedade. Assim, a reflexão e a feitura são dois elementos que comportam a estratégia conveniente para enunciar o
articulação entre o pensar e o fazer e estabelecem uma poética aberta, em produto como elemento fundamental ao
constante transformação. sistema; sistema esse pautado pelas
tecnologias digitais da hipermídia. Assim,
O pensar e o fazer fomentam, nesse caso, uma situação extremamente fecunda para pode-se considerar que as (trans/de)formações do
enunciar a criação do projeto, que estratifica a organização operacional e a objeto/produto, implicam, também, a reflexão das
manufatura do objeto mediante a máxima desprendida do sentido polifônico do possibilidades de (re)dimensionar o campo do design em atenção às
conhecimento; projeto que precisa ser bem-estudado para apontar estratégias categorias corpo, imagem e tecnologia, em estágio fronteiriço entre o pensar e
eficientes. o fazer.
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(re)modelação do objeto/produto, hoje.
Dessa forma, o design destaca-se como atividade ampla e complexa que envolve
diferentes fases de pesquisa, pensamento estratégico (aperfeiçoamento técnico),
diante da capacidade de articular e implementar resultados para chegar ao produto
como resultante provisória, pois ainda cabe ser consumida. É evidente que o design
cria produto/marca para ser consumido, embora de forma efêmera. Vale ressaltar
que ele não é algo apenas sobre a criação de coisas ou objetos; muito mais que
MATURANA, Humberto. Cognição, ciência e vida cotidiana. Trad. de Cristina Magro e
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Victor Paredes. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Trad. de Myriam Ávila, Eliana L. L. Reis e Gláucia
R. Gonçalves. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
DUARTE, Rodrigo. Teoria crítica da indústria cultural. Belo Horizonte: UFMG, 2003.