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Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Campus de Marechal Cândido Rondon


Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras
Criada pela Lei nº 8680, de 30/10/87; Decreto nº 2352, de 27/01/88.
Reconhecida pela Portaria Ministerial nº 1784 – A, de 23/12/94.
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – BACHARELADO

CLEITON FERREIRA MORELLI

DESENVOLVIMENTO MOTOR DE CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS


PRATICANTES DE JUDÔ

Marechal Cândido Rondon


2021
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Campus de Marechal Cândido Rondon
Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras
Criada pela Lei nº 8680, de 30/10/87; Decreto nº 2352, de 27/01/88.
Reconhecida pela Portaria Ministerial nº 1784 – A, de 23/12/94.
CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – BACHARELADO

CLEITON FERREIRA MORELLI

DESENVOLVIMENTO MOTOR DE CRIANÇAS DE 7 A 10 ANOS


PRATICANTES DE JUDÔ

Trabalho de Monografia apresentado ao Curso de


Educação Física da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná – UNIOESTE – Campus de Marechal
Cândido Rondon, como requisito para obtenção do
título de Bacharel em Educação Física.

Orientador: Profa. Dra. Larissa Rosa Da Silva

Marechal Cândido Rondon


2021
DEDICATÓRIA

A Deus, por ser extremamente paciente e piedoso comigo e ter concebido a


capacidade de aprender.
Aos meus pais, irmão e namorada que abdicaram de suas necessidades,
tempo e sonhos em prol da minha formação.
AGRADECIMENTOS

A Profa. Dra. Orientadora Larissa Rosa da Silva, pela paciência, compreensão,


amizade e esforço em todos os momentos dessa importante etapa da vida.
A minha Mãe Sirlene Soares Ferreira, Pai Vilmar Morelli, pela paciência e confiança,
por serem meus pilares e me permitirem alçar voos maiores que os que lhes foram
permitidos.
Ao meu Irmão e amigo Cleisson Ferreira Morelli, pela motivação, suporte e dedicação
durante todo o tempo, por não desistir junto a mim, ser minha dupla na vida e na
graduação.
A minha namorada, parceira e amiga, pela paciência, força, e confiança, peça
fundamental neste momento, que acalmou, animou e encorajou-me.
Aos meus amigos e irmãos de coração, John Vitor, Wagner Eduardo, Kauan Marques,
Patrick Joaquina, Luan Neuberger, Vinicius Rocha, Jauri Lucas Mello, e todo o Grupo
de Estudos, por todos os momentos, as noites mal dormidas, as ajudas incontáveis,
foram fundamentais e ainda são em minha jornada.
Aos meus Senseis William de Souza Gimenez e José Caracuel Gimenez Júnior,
tutores, conselheiros, que meu puseram no caminho correto da vida.
Aos professores Gabriela Harnish, Oldemar Mazzardo, Ricardo Brandt, Edilson
Hobold, Alberto Madureira por toda a inspiração, exemplo e ajuda.
A todos os colegas de Curso que em algum dia dividia uma classe, pois juntos
trilhamos uma etapa importante de nossas vidas, espero o sucesso de todos.
A todos que, com boa intenção, colaboraram para a realização e finalização deste
trabalho.
EPÍGRAFE

“Nada sob o sol é maior que a educação. Ao educar uma pessoa e


encaminhá-la para a sociedade de sua geração, fazemos uma contribuição que se
estende por cem gerações.”

Jigoro Kano
MORELLI, Cleiton Ferreira. Desenvolvimento motor de crianças de 7 a 10 anos
praticantes de judô. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Bacharelado em
Educação Física. Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras. Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, 2022.

RESUMO

O desenvolvimento motor se caracteriza pelas mudanças no comportamento


e coordenação motora, há diversas teorias sobre o tema, seja sobre essas
características serem definidas desde a fase embrionária, ou o ambiente e seu
contexto e como essas mudanças podem influenciar no desenvolvimento motor, por
fim uma evolução organizada e preestabelecida, mas influenciável. O objetivo do
estudo foi investigar e analisar o desenvolvimento motor de crianças de 7 a 10 anos
praticantes de Judô. Participaram deste estudo 27 indivíduos com média de idade
sendo 16 meninos (59,25%), e 11 Meninas (40,75%). Para avaliar a coordenação
motora foi utilizado o teste Korperkoordination test fur Kinder – KTK, além da
utilização de um questionário sobre prática de atividade física Organizada e Anamnse
adaptada de Carvalhal (2000) junto a questionário Socioeconômico ABEP (2019). A
normalidade dos dados foi verificada pelo teste de Shapiro Wilk. A comparação do
nível de desenvolvimento motor de acordo com o sexo e a idade foi verificado por
meio do Teste t de student independente e análises foram realizadas no SPSS versão
20, nível de significância adotado foi p<0,05. Dos avaliados, 77,8% tem níveis de
coordenação motora Normal, e 22,2% tem Boa coordenação. Não houveram
diferenças no desenvolvimento motor quando comparados os sexos e nas idades do
grupo de meninos, porém as meninas de 7-8 anos obtiveram melhores resultados no
QM de Salto lateral e QM total quando comparadas as de 9-10 anos. Conclui-se que
a prática de judô parece influenciar positivamente no desenvolvimento motor de
meninos e meninas, podendo ser um fator compensatório a idade em termos de
coordenação motora.

Palavras-chave: Coordenação Motora; Crianças; Desenvolvimento motor; Judô;


Korperkoordination test fur Kinder- KTK.
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação KTK.............................................................. 26


Tabela 2 - Número inicial de placas por idade .................................... 28
Tabela 3 - Características sociodemográficas da amostra de acordo
com o sexo......................................................................... 31
Tabela 4 - Características sobre a prática de atividade física da
amostra de acordo com o sexo........................................... 32
Tabela 5 - Médias e desvio padrão do desenvolvimento motor em
cada tarefa da amostra de acordo com a idade e sexo....... 33
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fases e estágio do desenvolvimento motor ............................ 19


Figura 2 - Materiais para teste de KTK.................................................... 27
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................... 11
1.1 Apresentação................................................................................. 11
1.2 Justificativa..................................................................................... 13
1.3 Objetivos......................................................................................... 14
1.3.1 Objetivos Gerais............................................................................. 14
1.3.2 Objetivos Específicos..................................................................... 14
2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................... 15
2.1 Desenvolvimento motor.................................................................. 15
2.2 Habilidades motoras....................................................................... 19
2.3 Habilidades Motoras Especializadas............................................... 20
2.4 O Judô............................................................................................. 22
3 MÉTODOS..................................................................................... 24
3.1 Caracterização do Estudo............................................................... 24
3.2 Amostra e participantes .................................................................. 24
3.3 Instrumentos e procedimentos........................................................ 25
3.3.1 Teste de KTK (Körperkoordinations Test für Kinder)....................... 26
3.4 Análise estastítica........................................................................... 29
4 RESULTADOS............................................................................... 30
5 DISCUSSÃO.................................................................................. 34
6 CONCLUSÃO................................................................................. 38
REFERÊNCIAS.............................................................................. 39
ANEXO I........................................................................................ 42
ANEXO II........................................................................................ 43
ANEXO III....................................................................................... 45
11

1. INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação

O Desenvolvimento motor é entendido como as mudanças no comportamento


motor seguindo uma organização previsível em sua ordem, mas não em seu tempo,
essas mudanças acompanham toda a vida do indivíduo, portanto são continuas e
proporcionadas pela interação de fatores internos biológicos com os fatores externos,
definidos como o ambiente e principalmente as experiências motoras propiciadas por
esse, sendo na infância o período de maior velocidade de desenvolvimento e
progresso (GALLAHUE E OZMUN, 2005).
Os mesmos autores afirmam ainda que o desenvolvimento motor, não somente
na vida adulta mas também nas crianças, tem se apresentado comprometido na
sociedade atual. Santana et al. (2021) ressalta que a era digital proporcionou o
desenvolvimento e substituição de ferramentas que tornam os processos do cotidiano
na vida humana mais fáceis, e a exposição cada vez mais precoce das crianças a
essas ferramentas digitais gera uma alteração nos processos definidos na infância, o
brincar relacionado as práticas físicas e corporais começa a ser transferido para as
telas de Smartphones, Tablets e Videojogos, onde os gestos motores agora se
resumem apenas a manipulação e deslizamento dessas telas.
Seguindo a afirmação de que o contexto ambiental é importante para o
desenvolvimento motor das crianças, a prática orientada de modalidades esportivas
é um fator positivo na aprendizagem de novas habilidades motoras, além de refinar
habilidades já aprendidas, principalmente andar, correr, saltar, agachar, entre outras
habilidades motoras fundamentais (ARAÚJO et al. 2012; NAZÁRIO; VIEIRA, 2014). A
importância da iniciação esportiva orientada é a diminuição na possibilidade de
restrições do comportamento motor, que muitas vezes se relaciona à tarefa em si, e
às oportunidades de prática que o ambiente proporciona (MARQUES, 2005).
A iniciação esportiva orientada, deveria ter como base esse aspecto de
estruturação para garantir o desenvolvimento motor global adequado, considerando
as fases e estágios, e as necessidades do indivíduo, porém nem todas são planejadas
com o intuito de desenvolver essas habilidades básicas, focando somente nas
habilidades especializadas e gestos esportivos específicos (GALLAHUE; DONNELLY,
2008). Com isso pode se afirmar que modalidades com perfil de desenvolver
12

habilidades gerais e que respeitem o aspecto de desenvolvimento, tendem a ser mais


apropriadas para a infância (MACHADO,2008).
Franchini (2010) destaca que a grande maioria dos indivíduos inicia no judô
durante a segunda infância e que as tarefas especificas do judô não são apropriadas
para tal fase. Além disso o autor destaca que a especialização precoce nessa faixa
etária (7-10/11 anos) pode trazer prejuízo para o repertório motor do indivíduo, e que
as atividades ministradas devem estar sempre relacionadas a fase e as condições
biopsicossociais das crianças. Com tudo, visto o histórico da formação da modalidade
e a gama de possibilidades, as atividades do judô podem ser adaptadas as
necessidades de crianças da segunda infância garantindo que seu repertório motor e
integridade estejam seguros (FRANCHINI, 2010).
Nesta fase, as tarefas especificas do Judô podem ser trabalhadas de forma
associada a habilidades motoras mais gerais, como nos deslocamentos e formas de
andar sob o tatame (Shintai), fundamentos de desequilíbrio (Kuzushi) tanto dinâmico
quanto estático, tarefas de manipulação relacionadas as pegadas (Kumikata), tarefas
de estabilização com quedas (ukemi), lutas de solo (newaza), até mesmo no Randori,
sempre com implicações e variações mais lúdicas dessas situações (FRANCHINI,
2010).
Para o mesmo autor, a distinção dessas atividades é baseada na estrutura das
habilidades motoras do Judô, classificadas em relação ao processamento de
informações, quanto ao movimento observável, decisão e controle motor. Além disso,
para Franquini (2010) cada uma dessas classificações comporta em si
subclassificações, ora baseadas no processamento de informações de acordo com o
ambiente ou na característica da habilidade; ora no movimento observável. Neste
sentido, quanto a tomada de decisão e controle motor, o Judô se caracteriza como
atividade intermediaria, pois para o sucesso de uma luta é necessário tanto o aspecto
cognitivo quanto o aspecto motor (FRANCHINI, 2010).
Considerando essa gama de elementos, tanto motores quanto cognitivos,
somado às atuais tendências no desenvolvimento motor de crianças na era digital
(SANTANA et al., 2021), entendesse que o judô pode ser uma ferramenta importante
no controle dos distúrbios e percas nos níveis de desenvolvimento motor infantil, já
que as habilidades básicas são importantes para a aprendizagem das habilidades
motoras especificas e para todas as outras necessidades diárias das pessoas, seja
no trabalho, lazer, não somente para práticas esportivas mais sérias (FRANCHINI,
13

2010). Dessa forma, este estudo tem por objetivo analisar o desenvolvimento motor
de crianças praticantes e não praticantes de Judô da cidade de Toledo- PR.

1.2 Justificativa

A inclusão da tecnologia no estilo de vida e a diminuição dos níveis de atividade


física e sedentarismo parecem coincidir com aumento do uso da tecnologia no dia a
dia das famílias, o que favorece um ambiente pobre de experiências motoras, onde
as crianças tem menor estimulação de atividades que propiciem aquisição e ganhos
de desenvolvimento motor global adequado (COSTA et al., 2019; SANTANA et al.,
2021). O desenvolvimento motor segundo Gallahue et al. (2013) tem fases mais
sensíveis a evolução durante a infância, e interrupções ou déficits na estimulação
nesses períodos podem acarretar déficits e tornar mais difícil seu desenvolvimento
futuro na vida adulta.
Este estudo, portanto, justifica em sua ação avaliar o desenvolvimento motor
de crianças da segunda infância (7-10 anos) praticantes e não praticantes de judô
residentes na cidade de Toledo-PR, visto que essa faixa etária precede ao que
Gallahue et al. (2013) chama de barreira de proficiência acontecendo comumente na
Fase Fundamental. Essa pesquisa permitirá identificar se as crianças praticantes de
judô se encontram em níveis maiores ou menores de desenvolvimento motor
comparado a população da mesma faixa etária que não prática a modalidade. Aliado
a isso, além de quantificar em dados o desenvolvimento motor de cada população,
poder pautar se o judô é um fator importante nesse desenvolvimento.
Esse tema de estudo surgiu a partir de questionamentos sobre a influência das
experiências motoras no desenvolvimento motor de crianças durante a segunda
infância relatados pela literatura atual, com isso identificar se o judô pode ser uma
ferramenta para contornar baixos índices de desenvolvimento na população infantil.
Espera-se que os achados possam contribuir com o direcionamento
profissional na escolha de modalidades que contribuem para o desenvolvimento
motor, a atenção dos profissionais que trabalham com o ensino e prática do Judô,
bem como, auxiliar o sistema público responsável pelo esporte e saúde a desenvolver
estratégias de apoio a modalidade e a prática de exercícios na infância. Além disso,
identificar em quais níveis de desenvolvimento motor se encontram população infantil
em questão.
14

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivos Gerais

Investigar o nível de desenvolvimento motor de crianças praticantes de judô em


Toledo - PR.

1.3.2 Objetivos Específicos

Caracterizar o perfil sociodemográfico de crianças de 7-10 anos praticantes de


judô;
Avaliar o perfil motor de crianças de 7-10 anos praticantes de judô;
Analisar os níveis de desenvolvimento motor e socioeconômico de crianças de
7-10 anos de Toledo-PR;
Comparar os níveis de desenvolvimento motor de crianças praticantes de judô
entre os sexos e idade.
15

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Desenvolvimento Motor

O desenvolvimento motor é elucidado por espectros diferentes sobre o seu


ponto inicial, cada um compõe paradigmas diferentes descritos na literatura, isso em
consequência é o que direciona e influencia as pesquisas e estudos da área
(RIBEIRO-SILVA, 2016). A compreensão dos aspectos responsáveis pelo
desenvolvimento do ser humano e da sua capacidade motora é fundada justamente
nessas concepções (BENDA; UGRINOWITSCH, 2009).
A teoria Pre-formacionista descreve justamente que o ser humano já tem de
forma predefinida suas características desde a fase embrionária, e que essas
informações estão todas gravadas no seu código genético, assim a contextualizar o
desenvolvimento apenas em aspectos biológicos e maturacionais naturais, portanto,
o ser não é visto com características infantis únicas, mas sim gerais como as de um
adulto em miniatura (AUSUBEL; SULLIVAN; IVES, 1980; MICHEL; MOORE, 1995).
Esses mesmos autores citam que a teoria não descarta a influência do ambiente no
desenvolvimento, porém afirma que a direção e as fases são determinadas pela
maturação biológica, ao princípio a criança sendo classificada como imatura e ao final
o adulto sendo classificado como maduro.
Quando nos referimos ao ambiente como principal fator no desenvolvimento
motor, o indivíduo se associa em aspecto a uma forma sem conteúdo, onde o
ambiente é o agente responsável na variação, formato e de fato definir as
características do adulto ao final dessas fases. Assim as respostas do seu
desenvolvimento estão atreladas a exposição de estímulos, de forma a criar um
condicionamento das repostas, logo a influência de características pré-existentes e
determinada geneticamente não é considerada (AUSUBEL; SULLIVAN; IVES, 1980;
MICHEL; MOORE, 1995).
Outra concepção é a teoria dinâmica, se refere ao desenvolvimento motor
como um processo de mudança e influência multifatorial, ou seja, a idade que é um
fator biológico e temporal, e as interações ou restrições que um indivíduo tem na
realização ou não de certas tarefas e como elas se encontram no seu ambiente, é o
que determina as mudanças no seu desenvolvimento (RIBEIRO-SILVA, 2016).
16

Para Benda e Ugrinowitsch (2009) devemos indagar que o desenvolvimento


motor é uma junção de fatores biológicos e ambientais, portanto depende do
organismo e das influências do meio, e não podemos polarizar as condições na qual
ele acontece, visto que o ser humano tem flexibilidade de ações e paridade dos fins,
ou seja tem a condição de atingir um mesmo objetivo através de diferentes formas
motoras. É necessário também compreender os domínios cognitivo, afetivo,
psicomotor e físico, estes que dependendo a disposição auxiliam ou comprometem o
desenvolvimento (PAYNE; ISAACS, 2007)
O desenvolvimento motor para GALLAHUE et al. (2013) se encontra em
constante variação durante a vida, onde as necessidades do indivíduo de realizar
certas tarefas, as condições a qual ele é exposto em seu ambiente, e sua própria
biologia determinam sua evolução. O mesmo autor destaca que a fase da qual se
percebe maior velocidade e avanço no desenvolvimento motor é a fase infantil, que
começa ao nascimento e segue uma programação organizada, baseada na ordem
biológica, e essa sequência evolutiva e de maturação são responsáveis por
oportunizar a interação e estimulação que resulta num melhor repertório motor.
Para Gallahue e Ozmum (2005) seguindo a caraterística do desenvolvimento
motor ser algo organizado, ele o separa em fase reflexiva, rudimentar, fundamental e
especializada. Ainda nesta sequência, cada fase tem seus respectivos estágios.
A fase reflexiva, primeira fase do desenvolvimento motor tem início desde o
útero materno e pode durar até 1 ano de idade. Possui os estágios de codificação de
informação começa no período intrauterino até 4 meses de idade, e o estágio de
decodificação de informações com início aos 4 meses até 1 ano. Essa fase é
caracterizada pela existência de movimentos predominantemente involuntários, tais
como movimentos reflexos e movimentos controlados sub-corticalmente, ou seja,
alguns movimentos acontecem de forma pré-definida, não necessitando de um
controle consciente das ações. Tal fase é responsável por formar a base do
desenvolvimento motor do indivíduo (GALLAHUE; OZMUM; GOODWAY 2013).
Os mesmos autores ressaltam que a fase rudimentar tem início desde o
nascimento até em média os dois anos de idade, onde se apresenta um estágio de
inibição dos reflexos, e a criança já executa movimentos voluntários em sua essência
de forma a explorar o ambiente, a sequência de aprendizagem acontece de forma
previsível, mas o momento depende do ambiente do indivíduo. Essa fase apresenta
os estágios de inibição de reflexos que dura do nascimento até 1 ano de vida, e
17

estágio de pré-controle que dura de 1 a 2 anos de vida (GALLAHUE; OZMUM;


GOODWAY 2013).
Gallahue et al. (2013) define a terceira fase como fase Fundamental, que dura
dos 2 aos 7 anos e é subdivida pelos estágios inicial, elementar e maduro, que
acontecem nessa mesma sequência. A principal característica desse momento no
desenvolvimento motor é a experiência de novas habilidades, atreladas a
estabilização, locomoção e manipulação, que tem início de forma separada, mas a
tendência é que se transformem e movimentos conjuntos.
Ponto importante descrito pelos autores é a barreira de proficiência que
acontece comumente nessa Fase Fundamental, especificamente no estágio
elementar onde muitos indivíduos sejam adultos ou crianças não obtém maior grau
de desenvolvimento motor em certos padrões de movimento, fato que mostra a
importância da orientação profissional na correção desses padrões categorizados
como não ideais, período este que pode causar dificuldade nas fases seguintes
(GALLAHUE; OZMUM; GOODWAY 2013).
A quarta fase, é denominada Fase Motora Especializada por Gallahue et al.
(2013) e começa a partir dos 7 anos de idade. Nessa fase o movimento em si tornasse
parte fundamental na execução das tarefas diárias mais complexas, como na pratica
de esportes e atividades recreativas onde existe a demanda de gestos com mais
complexidade de realização. Neste momento as habilidades que englobam
estabilização, manipulação e locomoção tendem a ganhar aspectos mais refinados
com a prática, e acontecem de forma mais elaborada e planejada em situações com
maior exigência. Não diferente das outras fases, ela se divide em três estágios:
transição, que dura dos 7 aos 10 anos, Aplicação com início aos 11 e término aos 13
anos e utilização permanente que tem início aos 14 anos e permanece ao longo da
vida (GALLAHUE; OZMUM; GOODWAY 2013).
Para Gallahue et al. (2013) o estágio de Transição é marcado pela aplicação
dos padrões de Movimento fundamentais em ações mais complexas em contextos
que exigem maior especificidade, movimentos como saltar, correr ou agachar
começam a ser englobados em conjunto com outros elementos, como pular corda,
jogos que envolvem manuseio e condução e objetos como bolas (Jogar bola, Peteca,
Pular corda). As habilidades de transição são a expressão dos movimentos
fundamentais mais refinados e desenvolvidos, essa percepção causa uma motivação
dos indivíduos para o aumento das habilidades motoras, portanto é uma fase que
18

demanda atenção para que não sejam limitadas as possibilidades de expansão


(GALLAHUE; OZMUM; GOODWAY 2013).
O terceiro e último estágio da Fase Especializada descrito como estágio de
utilização permanente é particularmente a parte final antes do afunilamento das
decisões de utilização das habilidades motoras (GALLAHUE; OZMUM; GOODWAY
2013). Neste momento o reportório motor adquirido ao longo da vida, bem como seus
próprios interesses pré-disposições e escolhas anteriores vão se tornar ações e
movimentos refinados, com aplicação ou no cotidiano, ou em situações de maior grau
de exigência como esportes, e também em momentos de recreação durante a vida.
Gallahue et al. (2013) destaca que assim como nos outros estágios esse também tem
fatores limitantes, como depende do indivíduo, e do contexto ao qual ele se localiza,
fatores como o tempo, renda, estrutura e equipamentos dos locais que frequenta,
suas limitações físicas e mentais afetam esse estágio.
Para a descrição e organização das fases e estágios do desenvolvimento
motor, Gallahue e Ozmun (2005) propuseram um modelo da ampulheta triangulada
com a finalidade de representar de forma descritiva e palpável o desenvolvimento
(FIGURA 1). A principal utilidade da ampulheta é a compreensão do desenvolvimento
motor relacionado a adaptação do indivíduo, assim a sequência de desenvolvimento
pode ser variável em sua progressão, mas a sua ordem não tem alteração.
De fato, podemos expressar a progressão do desenvolvimento baseado na
ampulheta, através dos estágios que se dispõem em uma sequência predefinida, as
descrições das habilidades que cada um incorpora e assim poder representar o
desenvolvimento da criança, mesmo assim não podemos explicar o porquê de tal se
desenvolver. A possibilidade de poder observar certas habilidades dentro de um
padrão eficiente para mais ou para menos é algo que pode confirmar de certa forma
o modelo da ampulheta triangulada como uma ferramenta descritiva (RIBEIRO-
SILVA, 2016). Porém apesar de elegível, devemos tomar cuidado ao usar tal
instrumento como uma referência sem a interpretação do indivíduo e seu ambiente
de forma geral, olhar apenas para o organismo e não considerar que o ambiente, as
oportunidades, disponibilidades e o contexto que elas acontecem influenciam no
produto final (Atraso ou Avanço motor) levam a interpretações rasas, um transtorno
ou déficit motor pode ser a ausência dessas oportunidades (GALLAHUE; OZMUM;
GOODWAY 2013).
19

Figura 1: Fases e estágios do desenvolvimento motor

FONTE: Gallahue & Ozmun, (2005).

2.2 Habilidades Motoras

As habilidades motoras são explicadas sendo os movimentos que realizamos


com o nosso corpo, e o desenvolvimento dessas habilidades se faz importante na
formação da criança, em toda sua base de repertório motor seja de padrões de
movimento fundamentais na infância, ou de habilidades motoras especializadas
aparentes nas práticas da adolescência, nas necessidades diárias e momentos de
lazer da vida adulta, além de se tornar um marcador importante no desenvolvimento
motor, visto que podemos relacionar essas mudanças continuas no perfil motor à
idade (GALLAHUE et al., 2013). Ainda, quando pensamos no desempenho atlético ou
iniciação esportiva as habilidades motoras fundamentais bem construídas são o
alicerce para o desenvolvimento das habilidades esportivas, essas habilidades que
estão relacionadas a combinação de movimentos aperfeiçoados (GALLAHUE;
OZMUN, 2005).
As Habilidades motoras fundamentais, também descritas como padrões
fundamentais de movimento são em padrões de locomoção, de manipulação e de
equilíbrio, essas três categorias são definidas de acordo com proposição dos
20

movimentos (TANI et al. 1988). Os autores descrevem cada padrão sendo: os


movimentos que permitem a exploração do espaço e ambiente em que o indivíduo
está disposto são categorizados como padrão de locomoção, os movimentos
responsáveis pela interação com o ambiente em relacionado aos objetos, seja no teor
da aproximação de si, ou com objetivo de afastamento daquele, são padrões de
manipulação, e por último o padrão de equilíbrio que não necessariamente se
repercute em movimentos expressivos, mas todos que permitem ou façam a
manutenção da postura do indivíduo de acordo com a ação e ou movimento.
Descrito mais atualmente por Gallahue et al. (2013), as habilidades motoras
são classificadas de acordo com a intenção, sendo: habilidades de estabilidade,
habilidades locomotoras e habilidades manipulativas, e essa ordem de aparecimento
se associa a idade ou tempo, essa sequência é o que define a estrutura do
desenvolvimento motor que parte do estágio inicial, em seguida o estágio elementar
até o estágio maduro.
Os autores descrevem as habilidades motoras de estabilidade como as que
resultam na manutenção da postura em movimentos que necessitam de equilíbrio,
essas correções vão depender da ação ou do movimento, já que como consequência
acontecerá outra ação no centro de gravidade da criança. Gallahue e Ozmun (2005)
categorizam as atividades de andar, correr, pular, transpor obstáculos com salto, e
outras que permite o indivíduo se movimentar no espaço ou ambiente em que ele se
encontra como locomotivas. Por último os autores definem quais são as atividades
que se relacionam com as habilidades manipulativas, assim quaisquer interações
onde a criança exerça força num objeto, tanto para recepciona-lo ou para lança-lo,
geralmente associado a movimentos como arremessar, chutar, rolar, segurar, bater.

2.3 Habilidades Motoras Especializadas

Da mesma forma, Gallahue e Ozmun (2005) descrevem as habilidades


motoras especializadas de acordo com a intenção da ação, é onde a aprendizagem
de habilidades motoras chega ao ápice, e os movimentos realizados são de maior
complexidade, marcada pelo final da infância e começo da adolescência se dispondo
durante a vida adulta. Também chamados de movimentos especializados, ou
complexo, são os movimentos naturais num grau de acurácia elevado, onde
combinados com outros movimentos fundamentais constituem formas mais
21

complexas de movimentar-se, geralmente apresentam-se em habilidades da vida


diária como lazer ou tarefas do trabalho, mas principalmente em esportes e ambiente
competitivo (GALLAHUE et al. 2013).
Segundo Gallahue et al. (2013), as habilidades especializadas ou complexas
assim como nas habilidades fundamentais têm a sua classificação de acordo com a
proposição. Um bom exemplo para habilidades de estabilidade especializadas é a
realização de tarefas como caminhar sobre uma faixa barra numa apresentação de
ginastica , ou estar caminhando um piso molhado e escorregadio, enquanto as
habilidades manipulativas e locomotoras especializadas são mais visíveis em
atividades como carregar bolsas ao subir uma escada, entrar em uma escada rolante
em movimento segurando as compras, nos momentos recreativos, em brincadeiras
que exigem combinações de movimento, e nos esportes, lutas e combinações de
golpes, futebol em chutes e voleios, no basquete em dribles e arremessos entre
outros.
Neste âmbito, o esporte se mostra um item importante no desenvolvimento de
habilidades motoras especializadas, a própria modalidade esportiva e suas
características desenvolvem movimentos complexos por demanda em conjunto com
o treinamento e o processo de aprendizagem das habilidades esportivas (GRECO,
SILVA E SANTOS, 2009)
Os mesmos autores defendem a complementação dos processos de
aprendizagem motoras de crianças de 4-6 à 10-12 anos de idade, onde o
desenvolvimento das habilidades técnicas é acompanhado de do desenvolvimento
das capacidades coordenativas, assim exercícios globais que unem as ações das
mãos, pés, tacos, ou raquetes devem ser apresentados.
A pratica orientada das modalidades esportivas, quando adequadamente se
atentam aos tópicos do desenvolvimento motor, abrangem todas as dimensões que
são pertinentes a ele, social, afetivo, cognitivo físico e motor. A formação esportiva
envolve além das necessidades corporais e motoras, para um bom desempenho, ou
um desempenho mínimo é necessário que o indivíduo seja conhecedor das regras,
da assimilação das situações do jogo ou luta e dos seus comportamentos frente a
essas situações (TSUKAMOTO; NUNOMURA, 2005).
22

2.4 o Judô

Franchini (2010), descreve o judô como uma modalidade abrangente no que


se diz respeito a faixa etária e objetivos da prática, com os indivíduos começando
geralmente na segunda infância (7-11 anos). Desde meados do século XIX quando
o judô foi considerado esporte no Japão, a modalidade veio ganhando destaque no
mundo pelo seu sistema de aprendizagem e ensino, Jigoro Kano o responsável por
criar o judô, tinha como base uma educação integralista, buscando o aprimoramento
do indivíduo como um todo, enaltecendo os aspectos morais intelectuais e físicos
(PINTO et al., 2009).
Segundo Virgílio (1986), nesse contexto além da formação do judoca como um
atleta que busca desempenho competitivo, está a formação do aluno enquanto ser
social e de todos os conceitos, e conteúdo que o judô proporciona através da sua
filosofia e de suas ações pedagógicas. O judô foi criado pautado em valores éticos e
humanitários profundos, que de diferentes formas buscam o equilíbrio do indivíduo
com o corpo e mente, valorizando a disciplina, a hierarquia e o autoconhecimento
sobre a superação da derrota, superação da força, a estética e eficiência, o
desenvolvimento social baseado na fraternidade e valorização do próximo, entre
outros valores enraizados em sua doutrina (VIRGÍLIO, 1986).
Para Franchini (2010), o ensino das habilidades motoras e das habilidades
especificas do judô devem levar em considerações três principais tópicos: a estrutura
da habilidade; a fase de desenvolvimento motor do indivíduo e a fase de
aprendizagem do indivíduo. O autor descreve que essa organização é feita em
consideração aos diferentes objetivos, aptidões e características de cada pessoa que
está a iniciar no judô.
A caracterização das habilidades do judô como uma modalidade esportiva
dependem da classificação quanto ao processamento das informações, ao movimento
observável e a tomada de decisão e controle motor, e a relação com as configurações
da modalidade (FRANCHINI, 2010). Em treinamentos o ambiente o processamento
das informações pode ter mudança (aberto) ou não (fechado), essa classificação pode
ser aplicada as repetições de técnicas, os chamados Uchikomis, que acontecem de
forma repetitiva e sem alteração pois o parceiro de treino fica parado portanto o
ambiente não tem mudança, já na luta ou no treino livre (randori) cada lutador realiza
ações, oposições e mudanças constantes, portanto o ambiente sofre mudança, e cabe
23

ao lutador encontrar a melhor oportunidade para aplicar o golpe ou técnica


(FRANCHINI, 2010).
Segundo o mesmo Autor, no judô sob o ponto de visto das habilidades motoras
em relação ao movimento observável existe principalmente a habilidades com
característica discreta, onde o início e o fim do movimento são bem claros como em
golpes ou quedas, e seriadas onde existe a necessidade ou exigência da combinação
de golpes, como nas lutas e nos treinamentos específicos (renraku-renka-waza). Por
fim a tomada de decisão e controle motor no judô são indissociáveis, esse ambiente
rico em mudanças e a necessidade de uma acurácia na aplicação dos golpes
fundamentam isso, a tomada de decisão depende condição do praticante em
interpretar a situação escolher a melhor técnica para aquele momento, neste mesmo
instante ele deve executar o golpe que necessita do controle motor, portanto as
decisões são feitas objetivando as ações. (FRANCHINI, 2010).
Como já citado, Gallahue et al. (2013) descreve o desenvolvimento motor como
algo continuo e que apesar das suas fases perdura durante todo o ciclo da vida
humana, desta forma o Judô não se atém a uma única estrutura de ensino, mas sim
em observações pautadas na fase do desenvolvimento que o indivíduo se encontra e
as necessidades ou características de movimentos mais importantes. Segundo
Franchini (2010), não diferente de outras modalidades no Brasil, a maioria dos que
ingressam na prática do judô, começam durante a segunda infância (6-7 a 11-12 anos)
e estão segundo Gallahue et al. (2013) na fase fundamental.
Podemos associar as habilidades do judô com as classificações de habilidade
motoras fundamentais, assim habilidades motoras de manipulação podem ser
encontradas no Kumikata (pegadas no kimono) e suas formas de bloqueio, assim
como as habilidades de estabilização em diversas situações que alteram o equilíbrio,
o objetivo das técnicas e do kuzushi (desequilíbrio) será sempre a projeção ao solo,
rompendo completamente o controle do centro de gravidade exigindo um esforço para
sua manutenção, assim como nas saudações, ao saltar ou fazer um ukemi (queda),
por último as tarefas de locomoção, onde a todo momento as formas de andar pelo
tatame (shintai) podem acontecer, seja no randori, nas técnicas ou nas brincadeiras
(FRANCHINI, 2010).
24

3 MÉTODOS

3.1 Caracterização do Estudo

Caracterizado como um estudo de campo e sua natureza de pesquisa aplicada.


O objetivo da pesquisa aplicada é averiguar problemas imediatos, utilizando sujeitos
humanos em seus ambientes de vida real e ter controle limitado desses ambientes,
além disso os resultados tem formulação imediata dos seus valores (THOMAS;
NELSON, 2003).
Em relação aos dados, foram coletados em campo e a pesquisa é do tipo corte
transversal, caracterizada pelo fato de os dados serem coletados em um único
momento temporal (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012).
A pesquisa é quantitativa visto que seus resultados podem ser mensurados em
números que posteriormente podem ser classificados e analisados (SILVA et al.
2011).
Quanto aos procedimentos técnicos da pesquisa, se define como uma pesquisa
empírica do tipo exploratória descritiva. (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012). O
método foi comparativo, pois realizará comparações afim de verificar semelhanças e
ou a explicação de disposições contrárias (LAKATOS; MARCONI, 2010).

3.2 Amostra e Participantes

A pesquisa foi realizada com 27 indivíduos com idade entre 7 a 10 anos, de


ambos os sexos, residentes da cidade de Toledo-PR. A amostra do estudo foi
selecionada por conveniência com crianças participantes de 2 instituições públicas,
sendo dois centros de treinamento de artes marciais da prefeitura municipal de
Toledo-PR.
O contato com as direções e coordenações das instituições foi feito via aplicativo
de comunicação e pessoalmente com o intuito de informar sobre a pesquisa e seus
procedimentos além de solicitar a autorização para a realização da pesquisa com os
grupos em questão. Após autorização dos responsáveis das instituições, os indivíduos
foram informados sobre a pesquisa e convidados a participar, além disso, foram
realizados todos os esclarecimentos quanto aos procedimentos metodológicos e
sobre o direito de não obrigatoriedade de se manter na pesquisa.
25

Após a descrição dos procedimentos da pesquisa e entrega dos Termos de


Consentimento de Livre e Esclarecido para a autorização dos pais ou responsáveis,
foi agendado o momento de aplicação dos testes e coleta dos dados. Os testes foram
aplicados em um único momento, e cada teste foi aplicado por um avaliador como
uma forma de padronizar o processo de coleta de dados.
Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: a) Ter idade entre 7 e 10
anos; b) serem praticantes de Judô há pelo menos 6 meses; c) Residentes da cidade
de Toledo – PR. Foram adotados os seguintes critérios de exclusão: a) Não
comparecer no dia dos testes; b) não completar as avaliações.
Todos os participantes e seus responsáveis foram informados sobre a pesquisa,
seus objetivos e informações relevantes, assim como assinaram o Termo de
Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) (ANEXO I).

3.3 Instrumentos e Procedimentos

Inicialmente foi realizado o contato prévio através de e-mail e por telefone para
ambas as instituições informando sobre a pesquisa e solicitando a autorização das
coordenações e direções. A coleta dos dados foi realizada no espaço das instituições,
sendo na área conjunta e tatame da sala de práticas de judô durante o período das
aulas. Os testes foram realizados em um único dia, sendo realizados em datas
distintas com os dois grupos.
Um anamnese adaptado de Carvalhal (2000) (ANEXO II) foi enviado aos pais
junto ao TCLE contendo perguntas sobre a rotina das crianças. Além disso a
anamnese também avaliou outras informações importantes da criança, sua família e
seu contexto social, o status socioeconômico da família (ABEP, 2019), nível de
escolaridade dos pais, entre outras informações. Também foi usado um questionário
sobre pratica de atividade física organizada (ANEXO III)
Neste estudo foi utilizado o Körperkoordinations Test für Kinder (KTK), o teste
apresenta confiabilidade ao investigar e classificar o nível de coordenação motora de
crianças da faixa etária do estudo em questão (Libardoni et al. 2020). Segundo Gorla
et al. (2014) o teste de KTK pode ser utilizado com crianças de 6 a 14 anos de idade,
e tem credibilidade ao seu propósito, atestando um grau de confiabilidade de 90%. O
teste tem 4 subtestes que avaliam diferentes habilidades, e tem duração de 10-15
minutos (GORLA et al., 2014)
26

O Teste de Coordenação motora para crianças (Körperkoordination Test für


Kinder – KTK) criado na Alemanha por Kiphard e Schilling (1974), apesar da falta de
validação na população geral brasileira é amplamente utilizado, é composto por quatro
tarefas ou subtestes com objetivos diferentes a fim de avaliar a coordenação motora
geral sendo: Equilíbrio sobre as Traves, Saltos Laterais, Saltos Monopedais e
Transposição Lateral. A obtenção da pontuação é feita através de um indicativo
protocolar (QM) em relação a cada tarefa, e na soma da pontuação de todas as tarefas
para obtenção do QM de classificação geral.
A Classificação final depende do escore contabilizado, variando de 42 a 148
pontos, classificado como descrito na tabela abaixo:

Tabela 1- Classificação KTK


QM Classificação
131 – 145 Alto
116 – 130 Bom
86 – 115 Normal
71 – 85 Regular
56 - 70 Baixo
FONTE: Gorla et al., (2014)

3.3.1 Teste de KTK (Körperkoordinations Test für Kinder).

O teste é composto por quatro tarefas (Figura 2) afim de mensurar a


coordenação motora e corporal do avaliado, são estas: Equilíbrio andando de costa
(retrocedendo); Salto com uma perna; Salto lateral (para um lado e para o outro);
Transposição lateral. Os dados obtidos nas atividades são descritos em uma ficha, e
através de uma tabela padronizada, são sujeitas a comparação qualificativa.
27

Figura 2: Materiais para o teste de KTK


(a)

(b)

(c)

(d)

FONTE: Basso, (2018)


LEGENDA: (a)= Traves de equilíbrio; (b)= Placas de espuma; (c)= Plataformas de
transposição; (d)= Área de salto lateral.

Trave de Equilíbrio: tem por objetivo principal a estabilidade e equilíbrio em


marcha para trás sobre uma trave. Se dá por necessário a utilização de três traves
de 3 metros de comprimento e 3 cm de altura, com largura de 6cm, 4,5cm e 3cm. Na
parte inferior, são presos pequenos apoios de 15 x 1,5 x 5 cm, espaçados de 50 em
50 cm. Com isso, as traves alcançam uma altura total de 5cm. Uma superfície de
apoio para a saída do avaliado ao deslocamento, deve ser colocada à frente da trave,
uma plataforma medindo 25 x 25 x 5cm. As três traves de equilíbrio são colocadas
paralelamente. Em relação a pontuação, será contabilizada para cada trave 3
tentativas válidas, num total de 9 tentativas. Dessa forma após a posição inicial do
avaliado, conta-se o número de apoios sobre a trave no deslocamento para trás, a
contagem deve continuar até que um dos pés toque o solo ou até serem atingidos 8
apoios válidos. Para cada trave o máximo de pontos a ser atingido é 8, assim a
pontuação máxima é estabelecida como 72, e o resultado final de cada avaliado se
dá por meio do somatório dos apoios no deslocamento para trás nas 9 tentativas.
Salto Monopedal: o objetivo principal da tarefa é a coordenação dos membros
inferiores; energia dinâmica/força. No teste são usados 12 blocos de espuma,
medindo cada um 50 x 20 x 5 cm, o teste deve ser realizado de forma que se avalie
um membro de cada vez, respectivamente a perna esquerda e direita, uma avaliação
28

após a outra. Após um deslocamento, utilizando como propulsora apenas a perna a


ser avaliada, o aluno deve tentar ultrapassar os blocos de espuma através de um
salto. O número inicial de placas é orientado de acordo com a idade doa avaliado
(Tabela 2):

Tabela 2: Número inicial de placas por idade


Idade Quantidade de placas
Até ou igual a 6 anos 1
7 a 8 anos 3
9 a 10 anos 5
Igual ou superior a 11 7
Fonte: Basso, 2018

A pontuação do Salto Monopedal será de acordo com o número de tentativas


para um salto válido com cada pé, a somatória dos pontos de ambos os pés e a
atribuição de 3 pontos para cada placa adicionada na altura inicial, sendo 79 o
número máximo de pontos.
Salto Lateral: o objetivo da atividade é avaliar velocidade em saltos alternados.
Com a utilização de uma plataforma de madeira de 60 x 50 x 0,8 cm, com um sarrafo
divisório de 60 x 4 x2 cm, o avaliado deve realizar os saltos lateralmente durante o
tempo de 15 segundos cronometrados na maior velocidade possível, em duas
tentativas, saltos inválidos devem ser desconsiderados, e os válidos somados. A
pontuação é relativa ao número de saltos, portanto cada salto tem o valor de 1 ponto,
o total de pontos será a somatória dos saltos válidos realizados nas duas tentativas.
Transferência sobre Plataforma (transposição lateral): o objetivo é avaliar a
lateralidade; estruturação espaço-temporal. São utilizadas para o teste, 2 plataformas
de 25 x 25 cm. As plataformas são colocadas lado a lado com uma distância entre
elas de 5 cm. Na direção de deslocar é necessária uma área livre de 5 a 6 metros. O
teste é realizado de maneira que o aluno fique sobreposto a uma plataforma, pegue
a outra plataforma coloque-a na sua lateral e se transponha para ela, e assim
continuamente durante o tempo de 20 segundos cronometrados. Para a pontuação o
avaliador deve contar o número de transposições no tempo limite, sendo que o
primeiro ponto só é validado quando o avaliado coloca a plataforma da esquerda na
29

sua direita e o segundo ponto quando se coloca em cima desta os dois pés. Para o
total somam-se os pontos das duas tentativas válidas.

3.4 Análise estatística.

Os dados estão apresentados de maneira descritiva com uso de medias e


desvio padrão. Após a coleta dos dados, a tabulação foi realizada no programa
Microsoft Excel versão 16. A normalidade dos dados foi verificada pelo teste de
Shapiro Wilk. A comparação do nível de desenvolvimento motor de acordo com o
sexo e a idade foi verificado por meio do teste t independente visto que os dados
foram todos paramétricos. As analises foram realizadas no SPSS versão 20. O nível
de significância adotado é de p<0,05. As análises de proporções foram realizadas
através do teste exato de Fischer.
30

4. RESULTADOS

Participaram deste estudo 27 indivíduos com média de idade 8,9 (±1,1) anos,
sendo 16 meninos (59,25%), com média de idade de 9,2 (±1) e 11 meninas (40,45%)
com média de idade de 8,5 (±1,2) anos. Na amostra total, a maioria apresentou ao
menos um familiar praticante, possui irmãos, com escolaridade dos pais nível superior
completo e classe social igual ou inferior a B.
Entre os meninos não houve diferença significativa na quantidade de membros
da família praticantes de exercício físico (p=0,50), porém entre a faixa etária de 7-8
anos a maioria dos familiares não pratica, enquanto no grupo de 9-10 anos a
proporção de familiares praticantes é maior. Apesar de não ser encontrada diferença
entre as idades (p=0,17), a maioria dos meninos possuem ao menos 1 irmão, 72,7%
nas idades de 9-10 anos e 60% nas idades de 7-8 anos. Em relação a escolaridade e
classificação econômica dos meninos, a maioria tem pelo menos 1 membro da família
com ensino superior, e pequena parte até ensino superior incompleto. Em relação a
classificação econômica a maioria meninos estão classificadas como Classe B e uma
pequena parcela como Classe A, e não houve diferença estatística na classificação
Social entre as idades de 7-8 e 9-10 anos (p=0,64).
Para as meninas, da faixa etária de 7-8 anos todas apresentam ao menos 1
familiar praticante de exercício físico, apesar de não ser a totalidade a faixa etária de
9-10 anos também apresenta majoritariamente familiares praticantes (83,3%). Sobre
a composição familiar, as meninas de 7-8 anos em sua maioria possuem irmãos, dado
que se encontra em proporções invertidas para a faixa etária de 9-10 anos. Na
escolaridade e classificação social do grupo feminino 100% do grupo possui familiares
com nível superior completo e estão classificadas em maioria como Classe B. Quando
comparadas as meninas de 7-8 anos com os meninos da mesma idade, apesar de
não haver diferença significativa (p=0,08) as porcentagens apresentam certa
relevância nas informações (Tabela 3).
31

Tabela 3 - Características sociodemográficas da amostra de acordo com o sexo:


TOTAL (N=27) MENINOS (N=16) MENINAS (N=11) MxF MExMA
7-8 9-10 7-8 9-10 7-8 9-10
anos anos anos anos anos anos
N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%)
Prática de exercício físico dos familiares
Familiares praticantes 7 (70) 11 (64,7) 2 (40) 6 (54,5) 5 (100) 5 (83,3) 0,08# 0,50♂
Familiares não 3 (30) 6 (35,3) 3 (60) 5 (45,5) 0 (0) 1 (16,7) 0,26* 0,54♀
praticantes
Relação de irmãos
Possui irmão(a) 7 (70) 10 (58,8) 3 (60) 8 (72,7) 4 (80) 2 (33,3) 0,50# 0,51♂
Não possui irmão(a) 3 (30) 7 (41,2) 2 (40) 3 (27,3) 1 (20) 4 (66,7) 0,14* 0,17♀
Escolaridade familiar
Até superior 2 (20) 7 (41,2) 2 (40) 4 (36,4) 0 (0) 0 (0) 0,22# 0,65♂
incompleto
Superior completo 8 (80) 10 (58,8) 3 (60) 7 (63,6) 5 (100) 6 (100) 0,14* 1,00♀
Classificação Social
Classe A 1 (10) 4 (23,5) 1 (20) 3 (27,3) 0 (0) 1 (16,7) 0,50# 0,64♂
Classe ≤ B 9 (90) 13 (76,5) 4 (80) 8 (72,7) 5 (100) 5 (83,3) 0,56* 0,54♀
FONTE: O Autor, (2022).
NOTA: MXF= comparação entre meninos e meninas; MExMA= comparação geral entre menores (7-8
anos) e menores (9-10 anos); # comparação entre 7-8 anos; *comparações 9-10anos, ♂= comparação
meninos; ♀= comparação meninas. Todas as classes abaixo de A foram categorizadas como B.

Em relação a pratica de atividade física organizada semanal, na amostra total


a maioria fazem 3 horas ou mais, e tempo de prática judô de 1 ano ou menos. Quando
comparados os sexos, as meninas de 9-10 anos apresentam mais tempo de prática
semanal que os meninos da mesma faixa etária, com diferença estatística significativa
(p=0,04), porém no tempo de prática de judô não houve diferença significativa entre
os sexos (p >0,05) (Tabela 4).
No grupo de meninos em relação ao judô, a maioria tem 1 ano ou menos de
prática, não sendo encontrada diferença significativa entre as faixas etárias de 7-8 e
9-10 anos (p=0,35). Em relação a atividade física organizada, a maioria pratica 3 horas
ou mais durante a semana, também não foi encontrada diferença significativa entre
as faixas etárias em relação a isso.
No grupo de meninas, a maioria tem mais de 1 ano de prática, porém quando
comparadas as faixas etárias apesar de não ser encontrada diferença significativa (p
32

>0,05) podemos observar numericamente maior proporção de meninas da faixa etária


de 7-8 anos que praticam a 1 ano ou mais. No tempo de prática semanal, a maioria
das meninas praticam 3 horas ou mais. Quando comparadas as faixas etárias de 7-8
e 9-10 anos, as meninas mais novas praticam mais tempo semanal, com diferença
estatística significativa (p= 0,01).

Tabela 4 - Características sobre prática de atividade física da amostra de acordo com


o sexo:
TOTAL (N=27) MENINOS (N=16) MENINAS (N=11) MxF MExMA
7-8 anos 9-10 anos 7-8 anos 9-10 anos 7-8 anos 9-10 anos
N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%)
Tempo de prática de judô
>1 ano 5 (50) 7 (41,2) 1(20) 5 (45,5) 4 (80) 2 (33,3) 0,10# 0,35♂
≤1 ano 5 (50) 10 (58,9) 4(80) 6 (54,5) 1 (20) 4 (66,7) 0,51* 0,17♀
Tempo de prática de atividade física organizada semanal
≤ 2h 2 (20) 8 (47,1) 2(40) 3(27,3) 0 (0) 5 (83,3) 0,22# 0,51♂
≥ 3h 8 (80) 9 (52,9) 3(60) 8(72,7) 5 (100) 1 (16,7) 0,04* 0,01♀
FONTE: O Autor, (2022).
NOTA: MXF= comparação entre meninos e meninas; MExMA= comparação geral entre menores (7-8
anos) e menores (9-10 anos); # comparação entre 7-8 anos; *comparações 9-10anos, ♂= comparação
meninos; ♀= comparação meninas.

Em relação ao desenvolvimento motor avaliado pelo KTK, 21 (77,8%) dos


avaliados tem níveis classificados como coordenação motora normal, e 6 (22,2%)
tem boa coordenação, nenhum apresentando Alta, Regular ou Baixa Coordenação.
Para os meninos, 11 (68,7%) apresentavam classificação de coordenação Normal, e
5 (31,25%) apresentam Boa coordenação. Para as meninas 10 (90,9%)
apresentaram coordenação Normal, e 1 (9,1%) apresenta Boa coordenação. Além
disso, não houve diferença significativa em relação a classificação do
desenvolvimento motor entre meninos e meninas (p>0,05).
Quando analisados separadamente os valores de quociente motor (QM) de
cada tarefa (Tabela 5) observa-se que as meninas mais novas (7-8 anos) tiveram
pontuações maiores que as mais velhas (9-10) nas tarefas de Salto Lateral (SL) com
diferença estatística significativa (p= 0,01), além disso no quociente motor total (QM
Total), apesar de não ser considerada diferença significativa, o valor de p
apresentando foi de 0,06. Não houve diferença nas pontuações entre os sexos e entre
as faixas etárias de 7-8 e 9-10 nos meninos (p >0,05).
33

Tabela 5 - Médias e desvio padrão do desenvolvimento motor em cada tarefa da


amostra de acordo com idade e sexo:
VARIÁVEIS IDADE MENINOS (N=16) MENINAS (N=11) MxF MAxME
(59,3%) (40,7%)
7 - 8 anos 114,6 (±7,5) 111 (±5,1) 0,40# 0,14♂
QM Total 9 - 10 anos 106,8 (±36,8) 102,2 (±28,5) 0,35* 0,06♀

7 - 8 anos 82,6 (±17,7) 74,4 (±15,8) 0,46# 0,34♂


QM TL 9 -10 anos 75,1 (±12,5) 72,0 (±6,3) 0,63* 0,78♀

7 - 8 anos 94,8 (±14,0) 92,8 (±6,8) 0,78# 0,13♂


QM SL 9 -10 anos 83,9 (±11,9) 72,7 (±9,6) 0,08* 0,01♀

7 - 8 anos 108,4 (±10,0) 114 (±13,5) 0,48# 0,33♂


QM SM 9 – 10 anos 99,7 (±10,1) 101,2 (±8,90) 0,78* 0,09♀

7 – 8 anos 94,2 (±9,3) 85,6 (±11,5) 0,23# 0,74♂


QM TE 9 – 10 anos 91,5 (±16,0) 87,3 (±12,3) 0,58* 0,81♀
FONTE: O Autor, (2022).
NOTA: MXF= comparação entre meninos e meninas; MExMA= comparação geral entre menores (7-8
anos) e menores (9-10 anos); # comparação entre 7-8 anos; *comparações 9-10anos, ♂= comparação
meninos; ♀= comparação meninas.
34

5. DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo investigar o nível de desenvolvimento


motor de crianças praticantes de judô utilizando-se do teste de KTK como instrumento
de avaliação, além de subsequentemente comparar os níveis de desenvolvimento
motor entre meninos e meninas. Quando comparados os sexos não houve diferença
no QM das tarefas e nos escores de classificação final. Faustino et al., (2004) em
estudo realizado com crianças portuguesas, constatou que os meninos obtiveram
melhores resultados no QM final quando comparados as meninas, relacionando isso
ao contexto cultural de maior influência a práticas corporais para os meninos, em
comparação com a amostra deste estudo as meninas tem mais prática semanal em
atividades que os meninos (≥ 3h) o que segundo Lopes, (2009) pode justificar não
haver diferença nos resultados encontrados.
A maioria dos indivíduos do estudo apresentaram níveis normais de
coordenação motora, alinhadas as afirmações de Gallahue et al., (2013), que afirma
que o indivíduo ser instigado e estimulado a determinadas demandas garantem a
aquisição e evolução de habilidades motoras e que processos mais complexos sejam
integrados com competências maiores, ambiente defendido existente entro da prática
de judô, já que as demandas da modalidade naturalmente enfatizam diferentes
competências e habilidades solicitadas pela dinâmica da luta (FRANCHINI, 2010).
Em relação aos meninos não houve diferença no desenvolvimento motor entre
as idades, porém, é esperado que os meninos mais velhos tenham maiores escores
no QM de alguns testes e no QM final. Além disso, os resultados indicaram maior
desempenho das meninas de 7-8 anos no teste de Salto lateral e no QM total quando
comparadas as meninas de 9-10 anos. Segundo Valdivia et al., (2008) a idade é um
fator influenciador no desenvolvimento motor, onde ao passar do tempo o indivíduo
tende a apresentar aumento nos níveis de coordenação motora, o que vai de
contrapartida aos dados obtidas nesse estudo, onde as meninas mais novas
apresentaram melhores índices. Podemos associar estes resultados a prática
esportiva semanal e ao tempo de prática de Judô, onde as meninas de 7-8 anos
tiveram maior tempo semanal e maior tempo de prática esportiva quando comparadas
as de 9-10 anos.
Outra justificativa pelo melhor desempenho nos saltos laterais das meninas, é a
semelhança das demandas do salto lateral e das demandas coordenativas das lutas,
35

em especial o Judô, para Paiva (2009), a eficácia das técnicas ou golpes depende da
capacidade coordenativa do indivíduo, ainda que a capacidade aeróbica e força sejam
importantes, a coordenação motora determina o aprendizado de gestos motores
precisos que buscam resultado ótimo sempre.
Collet et al., (2008) realizou um estudo com 243 estudantes de ambos os sexos
com crianças brasileiras, e utilizou-se do teste de KTK, além de instrumentos para
mensurar os níveis de atividade física semanal dos indivíduos, obteve resultados de
significância estatística quando comparadas as idades, com os mais novos obtendo
melhores pontuações e praticando mais horas de atividade que os indivíduos mais
velhos. Em semelhança ao estudo anterior, Lopes et al., (2009) conduziu um estudo
com 285 crianças da Região dos Açores na Europa, onde as acompanhou dos 6 aos
10 anos de idade utilizando-se do teste de KTK para observar os níveis de
coordenação motora. Segundo ao autor ao longo desses 3 anos puderam observar
uma diminuição no nível de prática esportiva associado a diminuição dos escores de
coordenação motora, evidenciando correlação nas duas variáveis.
Essas afirmações ganham representatividade quando avaliamos a população
em uma perspectiva geral, como o estudo conduzido por Gorla e colaboradores (2008)
com 283 escolares brasileiros de 6 a 8 anos, com resultados apontando diferença
significativa em todas as idades nos testes trave de equilíbrio e transposição lateral.
Collet et al., (2008) realizou um estudo com 243 estudantes de ambos os sexos
com crianças brasileiras, e utilizou-se do teste de KTK, além de instrumentos para
mensurar os níveis de atividade física semanal dos indivíduos, e identificou que, os
mais novos obtiveram melhores pontuações e praticaram mais horas de atividade que
os indivíduos mais velhos. Em semelhança ao estudo anterior, Lopes et al., (2009)
conduziu um estudo com 285 crianças da Região dos Açores na Europa, onde as
acompanhou dos 6 aos 10 anos de idade utilizando-se do teste de KTK para observar
os níveis de coordenação motora. Segundo ao autor ao longo desses 3 anos puderam
observar uma diminuição no nível de prática esportiva associado a diminuição dos
escores de coordenação motora, evidenciando correlação nas duas variáveis.
Os menores valores de quocientes motores relacionados a prática esportiva
não se caracterizam apenas pela ausência ou diminuição, mas também relacionando-
se a qualidade e diversidade dessas atividades, sendo a coordenação motora
altamente influenciável pela qualidade dos estímulos, quando respeitadas as
diferentes necessidades e fases de desenvolvimento (LOPES et al., 2009).
36

Outra informação de importância ao analisarmos os maiores índices de prática


semanal de atividade e maior tempo de prática de judô no grupo de meninas mais
novas e em relação a toda a amostra, já que a grande maioria pratica pelo menos 3
horas semanais, é a influência do contexto social e familiar nos níveis de atividade
física durante a infância. Martins et al., (2004) em estudo que avaliou a renda familiar
e o desenvolvimento motor de 630 crianças e Souza et al., (2015) com 102 escolares,
concluíram que a renda e escolaridade dos pais é um importante fator influenciador
no desenvolvimento motor infantil, pois pode determinar o acesso a serviços como
saúde, educação, alimentação, transporte e atividades que ofertam estímulos de
qualidade a criança.
Wanderley Júnior et al., (2022) em recente revisão de escopo, analisando
diferentes artigos quanto a atividade física de crianças sul-americanas, observou
correlação quanto a pratica de atividade física na infância com o bom relacionamento
e a renda familiar. Segundo o mesmo autor, famílias de renda elevada refletem em
maior tempo de atividade física das crianças, além disso o comportamento e
participação dos pais e familiares em atividades físicas quanto sua ausência ou
presença, influenciam de forma negativa ou positiva respectivamente, destacando que
para quaisquer indivíduos a interação familiar e dos pais tem influência nos
comportamentos adquiridos, mas para as crianças isso se torna mais expressivo.
Os dados encontrados nesse estudo em relação a condição familiar, status
socioeconômico e prática de atividade física dos pais sugerem que as
inconformidades com alguns estudos citados e com a literatura acerca do
desenvolvimento motor, estão relacionadas com as caraterísticas da amostra em
questão, o grupo de meninas de 7-8 anos apresenta diferença apesar de não
significativa estatisticamente (p=0,08) é sugerível que existem familiares mais ativos
do que no grupo de 9-10 anos. Além disso, a falta de diferença significativa nas
pontuações entre meninos e meninas sugere que o grupo em questão tenha forte
influência familiar em relação a atividade física e práticas corporais, evidenciado pelo
maior tempo semanal de atividade física das meninas de 7-8 anos. Informações que
coincidem com achados de Lopes et al., (2009) que classifica os escores de
coordenação motora do KTK como um bom instrumento para mensurar o nível de
atividade física de crianças até 10 anos de idade.
Apesar dos resultados encontrados, existem limitações acerca do tamanho da
amostra em questão, estudos com o mesmo tipo de população com uma amostra
37

maior podem vir a evidenciar relevâncias maiores, além disso, a amostra é composta
por crianças praticantes de exercício físico regular, sendo necessária cautela ao
extrapolar as afirmações para outras populações.
Por fim, podemos evidenciar que depender apenas da evolução natural e do
desenvolvimento motor linear durante o crescimento não garante manutenção nos
níveis de coordenação motora das crianças, e as práticas corporais, de atividade
física organizada e esportiva são fatores imprescindíveis nesse ponto. Os pais sendo
a maior referência dos indivíduos nos primeiros anos de vida são a principal
ferramenta para a contemplação desses comportamentos, além disso quando
existem falhas no enredo familiar, social, econômico, políticas públicas de prática
esportiva como as da localidade da pesquisa se tornam eficientes na garantia de um
desenvolvimento motor adequado.
38

6. CONCLUSÃO

Em sua maioria os indivíduos da amostra estão classificados como Classe B,


e alguns como Classe A e possuem um familiar com ensino Superior Completo, esse
status mais alto em termos de classificação socioeconômica pode justificar a
possibilidade de maior prática semanal de judô, visto que 63% praticam 3 horas ou
mais semanais, além disso 63% destes tinham ao menos 1 irmão e 66,6% tinham pais
praticantes de atividade física, interligando, condição financeira, educação e exemplo
familiar em relação a atividade física.
A maioria das crianças avaliadas apresentaram classificação de coordenação motora
Normal, outra pequena parcela de indivíduos foi classificada como Boa coordenação,
possivelmente esses valores normais ou bons podem ser consequência de uma
amostra ativa em relação a pratica de exercício físico, algo esperado já que todos são
praticantes de Judô, corroborando com a afirmações anteriores.
Os meninos e as meninas apresentaram desenvolvimento motor semelhante.
A falta de diferença expressiva entre meninos e meninas, se justifica provavelmente
pelo incentivo familiar e cultural da amostra em questão, onde as meninas são
expostas igual ou até mais à práticas corporais e exercício físico, corroborando as
informações sobre a influência familiar e status econômico na prática de atividade
física na infância, visto que os familiares em questão que se apresentam pessoas
ativas e na sua maioria como classe B.
As meninas mais novas apresentaram melhor desenvolvimento motor do que
as mais velhas. O mesmo não ocorreu entre os meninos, quando o esperado é que
os mais velhos tenham melhores classificações, uma justificativa para isso é a
influência da atividade física se equiparar ao desenvolvimento natural no aspecto
motor e coordenativo, uma criança mais exposta a possibilidades motoras mais ricas
tende a se desenvolver mais, e o judô se mostrando uma ferramenta importante,
somado a isso, quanto mais velhas as crianças há diminuição na atividade física
espontânea, justificando também as meninas de 7-8 anos apresentarem melhor
quociente motor total e no Salto lateral que o grupo de 9-10 anos.
Espera-se que os achados neste estudo possam instituir a valorização das
práticas de luta durante a infância, além de estimular os profissionais de educação
física e professores de judô a manejar a estruturação das aulas com base no
desenvolvimento motor, ofertando aos indivíduos as demandas reais.
39

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42

ANEXO I - TCLE
43

ANEXO II – ANAMNESE
44
45

ANEXO III – QUESTIONÁRIO SOBRE ATIVIDADE FÍSICA


46

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