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ESTADO DE MATO GROSSO

SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA


FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CÁCERES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU - MESTRADO/DOUTORADO EM LINGUÍSTICA
Missão da UNEMAT: “Garantir a produção e a difusão do conhecimento através do ensino, pesquisa e extensão, visando o desenvolvimento sustentável.”

NOMES INDÍGENAS QUE NOMEIAM ESPAÇOS URBANOS NO CENTRO-


OESTE BRASILEIRO: O SELVAGEM SIGNIFICANDO NO / PARA O MATO
GROSSO

ELISANDRA BENEDITA SZUBRIS


Ano de ingresso no programa: 2018

Projeto de Pesquisa em desenvolvimento, no


Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu
em Linguística – Nível de doutorado, sob
orientação do Prof. Dr. Taisir Mahmudo
Karim.

Cáceres-MT
09/2018

Campus Universitário de Cáceres


Secretaria do Mestrado/Doutorado em Linguística
Av. Santos Dumont, s/nº - 78200-000 – Cáceres-MT
e-mail: ppgl@unemat.br
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TÍTULO: Nomes indígenas que nomeiam espaços urbanos no centro-oeste brasileiro: o


selvagem significando no / para o Mato Grosso.

LINHA DE PESQUISA: Estudo de Processos de Significação.

INTRODUÇÃO

Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as


linhas da mão [...](Ítalo Calvino, 1972)

O presente projeto de pesquisa apresenta como proposta um estudo sobre a


nomeação de cidades fundadas no século XX no estado de Mato Grosso que se deram a
partir de nomes indígenas. Para a Semântica do Acontecimento, teoria a qual
inscrevemos este trabalho, estudar o funcionamento dos nomes próprios é uma tarefa
essencial para compreendermos de que modo se dá o agenciamento do falante, como
aquele que diz, e que nomeia algo a partir de um lugar social e político que o constitui
como falante.
Percebemos nos acontecimentos enunciativos do período de colonização do
Brasil que a enunciação indígena é silenciada, pois ao nomear ou renomear a terra o
colonizador desautoriza qualquer nome ou enunciação que não seja dada a partir do
lugar oficial de dizer, o da língua portuguesa, porém, por também se constitui em um
lugar de significação, a enunciação indígena, mesmo silenciada, continua a significar.
Acreditamos que ao nomear a nova terra, e os habitantes pertencentes a ela, os
portugueses emolduram o seu domínio sobre a cultura, a religião, a língua e a
organização social desses povos, por concluírem que esta terra não tinha fé, nem lei,
nem rei1. E acrescentamos, “sem nome”.
Nesse período, as nomeações e renomeações se deram a partir de lugares de
significação que dizem sobre a cultura, a religiosidade e a política de Portugal,
percebemos, nesse momento, a relação de domínio que se configura entre colonizador e
colonizado, pela língua. É a partir dessa relação que se constitui, no século XVI, o
Espaço de Enunciação do Brasil, espaço marcado pelo embate entre língua portuguesa

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Tratado das Terras do Brasil
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e línguas indígenas e que produz lugares de significação nas enunciações sobre o país,
esses lugares de significação, conforme nos aponta a Semântica do Acontecimento,
significam no memorável de enunciações do Brasil e também estão no sentido das
palavras através de suas histórias, ou seja, “as formas da língua significam nas suas
relações com a história dos textos em que aparecem.” (GUIMARAES 1998, p. 89).
Já no século XX podemos observar um outro movimento, o de “assumir” os
nomes de origem indígena para nomear vilas e cidades, entendemos, nesse sentido, que
esse acontecimento supõe novas relações entre as línguas e seus falantes no espaço de
enunciação desse período.
Dessa forma, perguntamos de que modo a enunciação indígena pode constituir
lugares de significação nas enunciações que nomeiam cidades do estado de Mato
Grosso, marcando na e pela língua a resistência desses povos que foram silenciados no
processo de colonização do Brasil, mas que hoje significam na urbanização do
território?

JUSTIFICATIVA

A escolha pelo tema se dá por considerarmos que seja relevante observar as


diferenças que são produzidas no espaço de enunciação do Brasil em outros momentos
históricos e também o que essas diferenças podem nos dizer sobre as línguas indígenas
que foram silenciadas, mas que resistem através da nomeação de cidades significando a
história de urbanização na região Centro-Oeste do Brasil.
Dessa forma, pensamos que nomear a partir de palavras de línguas indígenas não
se trata de uma questão de empréstimos de uma língua para outra, há que se pensar no
embate entre línguas onde o português se coloca como a língua de domínio sobre as
línguas indígenas, inclusive fornecendo a ela um modelo de escrita. Essa questão nos
parece mais evidente quando temos, já no século XX, a formalização de uma
Convenção Para a Grafia dos Nomes Tribais (1954), aprovada pela 1º Reunião
Brasileira de Antropologia em 1953, constituído por vinte e dois itens que “ditam” como
deverão ser grafados os nomes indígenas, outro documento que merece a nossa atenção,
trata-se de uma extensa lista de etnônimos elaborada por Matoso Câmara Jr. em 1955

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para a Associação Brasileira de Antropologia.


Pretendemos utilizar este material para observar a formação dos nomes
indígenas no interior das regularidades linguísticas e gramaticais da língua portuguesa
no espaço de enunciação do Brasil do século XX, pois acreditamos que as relações entre
as línguas nesse período ocorreram diferentemente das relações constituídas no início da
colonização do Brasil, é o que afirma Guimarães (2018, p. 25) “o espaço de enunciação
se modifica, pela própria dinâmica do litígio das relações envolvidas”. Isso justifica o
surgimento de nomes de cidades como Cotriguaçu, entre outros, em que temos um
nome formado por elementos da língua portuguesa na relação com a língua indígena.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esta pesquisa tem ancoragem teórica nos estudos da Semântica do


Acontecimento (2002), em que Eduardo Guimarães propõe refletir sobre o
funcionamento da linguagem e das línguas. O semanticista, nesta abordagem, considera
que a linguagem fala de algo e, por isso, localiza os seus estudos no campo da
enunciação, tomando o enunciado como unidade de análise. A enunciação deve ser
compreendida como acontecimento, que significa as relações que atribuem significação a
algo, não é o fato em si, pois tomar o acontecimento como fato seria filiar-se a uma
abordagem empirista, justamente a que é contestada pela teoria. Os conceitos serão
mobilizados conforme os recortes para análise. Também utilizaremos, neste trabalho, os
estudos feitos pelo campo da História das Ideias Linguísticas no tocante de refletir sobre
o modo como se organiza a escrita dos nomes tribais através de um acordo, e como o
discurso da escrita apresenta o funcionamento dessa língua outra, ou seja, a
instrumentalização de uma língua de base oral que desconhece o traço gráfico, “a escrita
como prática de um corpo de doutrina” (AUROUX, 2014).

OBJETIVOS

a) Objetivo Geral

Analisar os nomes indígenas de cidades localizadas na região Centro-Oeste do


Brasil, precisamente no estado de Mato Grosso, com o intuito de observar como a

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história dos nomes indígenas significam para a constituição do território marcando a


(re)existência da identidade - linguística, social e cultural - dos povos nativos dessa
região.

b) Objetivos Específicos

 Refletir sobre as relações entre língua portuguesa, línguas indígenas e seus falantes
na configuração do espaço de enunciação de Mato Grosso no século XX;
 Analisar o processo de nomeação de cidades que constrói sentidos para os espaços
públicos nomeados e para a população que nela vive;
 Compreender como os nomes indígenas tornam-se socialmente pertinentes, com
vista à formação de uma identificação local.

METODOLOGIA

O trabalho encontra-se em fase inicial, sendo que a primeira parte compreende o


levantamento dos nomes das cidades, até o presente momento conseguimos identificar
os seguintes nomes: Acorizal, Alto Araguaia, Alto Paraguai, Alto Taquari, Apiacás,
Araguainha, Araputanga, Aripuanã, Campo Novo do Parecis, Canarana, Cotriguaçu,
Cuiabá, Guarantã do Norte, Guiratinga, Indiavaí, Itaúba, Itanhangá, Itiquira, Ipiranga
do Norte, Jaciara, Jauru, Juara, Juína, Juruena, Juscimeira, Lambari D’Oeste,
Matupá, Novo Mutum, Nova Maringá, Nova Ubiratan, Nova Xavantina, Paranaita,
Paranatinga, Poconé, Portal do Araguaia, Poxoréo, São Félix do Araguaia, São José
do Xingu, Sapezal, Santa Cruz do Xingu, Tabaporã, Tangará da Serra, Tapurah,
Torixoréu, pretendemos organizá-los e analisá-los nas respectivas cenas enunciativas
para que possamos compreender como a enunciação indígena pode constituir lugares de
significação nas enunciações que nomearam cidades em Mato Grosso.
Para analisar enunciativamente os nomes indígenas de cidades, tomaremos como
corpus um conjunto de textos, composto por atas de fundação das cidades, leis e
decretos que formalizam a criação de municípios, mapas, dicionários de língua
portuguesa, bem como materiais que contemplam a historiografia desses nomes.
Neste primeiro momento procuraremos mostrar as estruturas formais dos nomes,
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através de seu funcionamento morfossintático, do funcionamento semântico-enunciativo


e do memorável do acontecimento. Também trabalharemos com a noção de texto,
considerando que o enunciado é um elemento linguístico que integra o texto, essa
integração se faz por uma relação transversal entre elementos diversos e a unidade à
qual se reportam. Demais conceitos serão mobilizados conforme avanço da pesquisa e a
partir do que o corpus suscitar para a análise.

BIBLIOGRAFIA

AUROUX, S. A Revolução Tecnológica da Gramatização. Tradução: Eni P. Orlandi.


Campinas, SP. Ed da Unicamp, 2014.

DIAS, L. F. O nome da língua do Brasil: uma questão polêmica. In: ORLANDI, E. (Org.).
História das Ideias Linguísticas: Construção do Saber Metalinguístico e Constituição da
Língua Nacional. Campinas/Cáceres: Pontes/Unemat, 2001.

GUIMARÃES, E. Semântica. Enunciação e Sentido. Campinas, Pontes, 2018.

______. Análise de Texto: Procedimentos, Análises, Ensino. Campinas, Editora RG, 2011a.

______. A língua portuguesa no Brasil. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 57, n. 2, p. 24-28,
abr/jun 2005. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php >. Acesso em: 08 jul.
2007.

______. Semântica do Acontecimento: um estudo enunciativo designativo. Campinas, SP:


Pontes, 2002b.

______. Sinopse dos estudos do Português no Brasil: a gramatização brasileira. In:


GUIMARÃES, E; ORLANDI, E. (Orgs.). Língua e Cidadania: O Português no Brasil.
Campinas: Pontes, 1996.

______. Terra de Vera Cruz, Brasil. In: Cultura Vozes. n. 4, julho/ agosto, 1992.

KARIM, Taisir Mahmudo. Dos nomes à história - o processo constitutivo de um estado:


Mato Grosso. Tese de Doutorado. IEL, UNICAMP, Campinas, 2012.

MARIANI, B. A colonização linguística. Campinas, SP: Editora Pontes, 2004.

RANCIÈRE, J. Políticas da Escrita. Editora 34, Rio de Janeiro RJ, 1995.

REVISTA DE ATUALIDADES INDÍGENAS. Ano 3, n. 15, mar/abr, 1979.

REVISTA DE ANTROPOLOGIA. Disponível em <http://www.revistas.usp.br>Acesso em


31/05/2018.

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