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UNIDADE I – INTRODUÇÃO ÀS CÉLULAS

1.1 - Introdução à Microscopia 


A célula é a estrutura funcional básica de todos os organismos, sendo
pequena e complexa, torna-se difícil ver suas estruturas e entender todo o
processo molecular que ocorre dentro dela. Para estudar a célula dependemos de
técnicas e instrumentos que foram e vem sendo desenvolvidos juntamente com as
descobertas e o progresso da biologia celular.

Microscópio utilizado por Robert Hooke

Desde a antiguidade já havia tentativas de reforçar a visão com o auxílio de


dispositivos ópticos, como pedaços de vidros usados como lentes. A partir do
século XIV, as lentes começaram a ser usadas comumente para corrigir defeitos
de visão e como dispositivos de aumento. No início do século XVII surgiu o
microscópio composto, constituído de uma lente objetiva e de uma ocular e, no
ano de 1625, Giovanni Faber cunhou o termo microscópio. Em 1655, Hooke
utiliza o microscópio composto (foto acima) para descrever pequenos poros e
secções de rolhas, que chamou de “células”.

Microscópio utilizado por Anton van Leewenhoek

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O uso do microscópio atingiu seu apogeu com Leewwnhoek, que é
considerado o primeiro verdadeiro microscopista. Ele usou microscópios de sua
própria construção, dotados de uma única lente (microscópio simples), relatou
formas e comportamentos de microorganismos, por isso ele é considerado o pai
da Microbiologia.
Somente no início do século XIX, quando microscópios de boa qualidade
tornaram-se disponíveis, pode-se descobrir que os tecidos animais e vegetais são
agregados de células. Isso foi proposto por Schleiden e Showann em 1838,
marcando formalmente o início da Biologia Celular.
 A visualização no microscópio de luz depende do limite de resolução, que é
a menor distância entre dois pontos que permite distinguí-los separadamente. Ele
permite aumentar o tamanho das células até mil vezes e revelar detalhes até
0,2mm, esta limitação é imposta pela natureza de propagação da luz, pois esta
não segue exatamente a trajetória de um raio, ao contrário, as ondas de luz viajam
através de um sistema óptico por uma variedade de rotas ligeiramente diferentes,
de forma que interferem uma nas outras e causam efeitos de difração óptica. Três
fatores são requeridos para a visualização de células sob o microscópio de luz.
Primeiro, um foco de luz clara deve ser dirigido para o espécime através das
lentes no condensador. Segundo, o espécime deve ser de tal maneira preparada
que permita à luz emitida passar sobre o mesmo. Terceiro, um conjunto de lentes
apropriadas (objetiva e ocular) deve ser arranjado de modo a permitir o foco
correto do espécime no olho. Link para atualidades
Recentemente, sistemas eletrônicos de imagem associados à tecnologia de
processamento de imagens causaram um grande impacto na microscopia óptica.
Eles permitiram que certas limitações práticas dos microscópios fossem
superadas e as limitações do olho humano como: o olho não pode ver bem em
ambientes pouco claros e não percebe pequenas diferenças de intensidade de luz
em ambientes extremamente claros.
O desenvolvimento da microscopia eletrônica e sua aplicação na Biologia
Celular começaram no final do século XIX, quando em 1897 J. J. Thomson
anunciou a existência de partículas carregadas negativamente que mais tarde

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foram denominadas “elétrons”. Em 1924, de Broglie propõe que um elétron em
movimento tem propriedades semelhantes a ondas e Bush, em 1926, prova que é
possível focar um feixe de elétrons com uma lente magnética cilíndrica, lançando
os fundamentos da óptica eletrônica. Em 1935, Knoll demonstra a viabilidade do
microscópio eletrônico de varredura (MEV) e três anos mais tarde um instrumento
protótipo foi construído por Von Ardene. Logo, em 1939, Siemens produz o
primeiro microscópio eletrônico de transmissão (MET).
A resolução entre o limite de resolução e o comprimento de onda de uma
radiação luminosa é verdadeira para qualquer forma de radiação, seja ela um feixe
de luz ou um feixe de elétrons. Com elétrons, entretanto, o limite de resolução
pode ser muito pequeno o que permite uma resolução 100 vezes melhor que a do
microscópio de luz.
O microscópio eletrônico de transmissão é em princípio similar, a um
microscópio de luz, apesar de usar um feixe de elétrons em vez de feixe de luz, e
uma bobina magnética para focar esse feixe em vez de lentes de vidro. O tecido
observado, depois de quimicamente fixado, colocado em plástico e cortado em
várias secções finas que foram revestidas com sais de urânio e chumbo, é
colocado sob o vácuo do microscópio. Geralmente é obtido um contraste pelo uso
de corantes baseados em metais elétron-densos que absorvem ou espalham
elétrons, removendo-os do feixe à medida que passam através do espécime. O
MET possui um poder de aumento útil de até um milhão de vezes e uma
resolução, com espécimes biológicas, de cerca de 2 nm.

Retirado do site: http://hai.unne.edu.ar/biologia/microscopia/microscopia1.htm

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Para obtenção de imagens tridimencionais utiliza-se o microscópio
eletrônico de varredura. A amostra a ser examinada é fixada, desidratada e
coberta com uma fina camada de metal pesado para ser varrida por um feixe de
elétrons focalizados no espécime por uma bobina eletromagnética e a quantidade
de elétrons espalhados ou emitidos, quando o feixe varre cada ponto sucessivo na
superfície da espécime, é medido pelo detector e usada para controlar a
intensidade de ponto sucessivos em uma imagem projetada em tela de vídeo. O
MEV propicia uma profundidade de foco e uma resolução entre 3 nm e 20 nm.
1.1.1 - Tipos de Microscópios 
Hoje há diversos tipos de microscópios que permitem uma moderna e
detalhada compreensão da arquitetura celular básica, entretanto todos tem as
suas especificidades e limitações na forma de visualização das imagens celulares.
Assim, vamos fazer uma breve descrição de alguns microscópios ilustrando a
visão de cada um deles. 
 Microscópio Óptico (Luz)
 Microscópio de Fluorescência Comum
 Microscópio de Fluorescência Confocal
 Microscópio de Contraste de Fase e Interferência de Nomarski
 Microscópio de Polarização
 Microscópio Eletrônico de Transmissão
 Microscópio Eletrônico de Varredura
 Microscópia Crioeletrônica

1.1.1.1 - Microscópio Óptico (luz)

Corte histológica de uma célula vegetal - Microscopia Corte histológico de uma célula animal - Microscopia

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de Luz de Luz
Foto de Angelo Cortelazzo (Unicamp) Foto da Profª Adelina Ferreira (UFMT)

Os microscópios de luz são os mais comumente usados em pesquisa


biológica e contribuem como um papel fundamental nesta função. Compõe-se de
uma parte mecânica que serve de suporte e uma parte óptica que é constituída
de três lentes: condensador, a objetiva e a ocular (Esquema abaixo). O aumento
total de ampliação dada por um microscópio é igual ao aumento da objetiva
multiplicado pelo aumento da ocular, está ultima aumenta o material enquanto a
objetiva aumenta o poder de resolução que é capacidade de diferenciar entre
dois objetos muito próximos. A visualização das imagens nas lâminas
observadas ao microscópio óptico pode ser de diversas colorações apresentadas
pelos diversos tipos de corantes existentes que são usados cada qual
oportunamente, a fim de evidenciar a estrutura de estudo em questão, desde
uma simples diferença entre o núcleo e o citoplasma bem como das organelas. O
material da célula tem necessariamente que possuir micrômetros de espessura. para que
a visualização ser o mais eficiente possível.

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Imagem retirada do livro: JUNQUEIRA & CARNEIRO, Histologia Básica, 10ª ed., Ed. Guanabara Koogan (Pg.
3 - Fig 1.2)

1.1.1.2 - Microscópio de Fluorescência Comum

Foto de Shirlei Pimentel (Unicamp) Foto da Profª Adelina Ferreira (UFMT)

Imagens de microscopia de fluorescência comum

 Certas substâncias gozam da propriedade de emitir luz quando excitadas


por radiações de certos comprimentos de ondas (normalmente ultravioleta),

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podendo combinar-se a certas substancias presentes nas células permitindo a
localização de determinadas estruturas.
A aplicação destas substâncias como corantes estão hoje, estão fortemente
ligados com métodos imunocitoquimicos, os quais permitem localizar e
quantificar o caminho percorrido de moléculas específicas dentro do tecido em
questão. Exemplo quando se injeta no tecido animal antígeno com coloração
influorescente, este se ligará no órgão em questão ao seu anticorpo específico,
assim o local de ação de onde se encontra o anticorpo dá para ser encontrado.
A técnica usa agentes químicos que emitem luz visível que pode ser verde,
laranjada ou vermelho.
Uma vantagem da microscopia de fluorescência é que podem ser aplicados
a células vivas para se determinar a concentração intracelular de íons de Ca + e
H+ podendo ser utilizado como forma de monitoria do pH de células vivas.
1.1.1.3 - Microscópio de Fluorescência Confocal

Foto de Shirlei Pimentel (Unicamp) Foto de Maria Júlia (Unicamp)

Imagens de Microscopia de fluorescência confocal

A microscopia de imunofluorescência tem suas limitações, uma delas é a


superposição de imagens fluorescentes de moléculas, tornando difícil determinar
o real arranjo molecular tridimensional.
O microscópio de fluorescência confocal evita esse problema permitindo a
visualização da imagem muito mais precisa. Aqui as células são submetidas a
compostos fluorescentes e as imagens são derivadas da luz excitatória de um
feixe de laser que serão registradas por uma câmara de vídeo e armazenadas
em um computador.
1.1.1.4 - Microscópio de contraste de fase e interferência de Nomarski

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Imagem de Microscopia de Contraste de Fase

A microscopia de contraste de fase é especialmente útil no exame da


estrutura e de movimento de organelas maiores como o núcleo e mitocôndrias de
tecidos vivos, transparentes e não-corados. Ela gera uma imagem com
diferentes graus de obscuridade ou luminosidade.
A microscopia de interferência de Nomarski, ou diferencial evidencia apenas
os contornos de grandes organelas como o núcleo e o vacúolo. As duas técnicas
utiliza índices de refração e difração para formar uma imagem. Observe que a
microscopia de interferência de Nomarski ou diferencial gera uma imagem
parecendo que o espécime está projetando uma sombra para um dos lados: a
sombra basicamente representa uma diferença no índice de refração.
Tanto a microscopia de contraste de fase como a microscopia de
interferência de Nomarski podem ser utilizadas na microscopia de lapso de
tempo em que a mesma célula é fotografada a intervalos regulares ao longo de
períodos que duram várias horas. Esse procedimento permite ao observador
estudar o movimento celular, desde que a platina do microscópio possa controlar
a temperatura do espécime e o ambiente.
1.1.1.5 - Microscópio de Polarização
O microscópio de polarização é semelhante a microscópio de luz, acrescido de dois
prismas ou dois discos polaróides, que permitem estudar certos aspectos da organização
molecular dos constituintes celulares. Ao atravessar a célula o feixe de luz pode passar
por estruturas cristalinas ou moléculas alongadas e paralelas dividem o feixe polarizado
denominando as estruturas de birrefringentes ou anisotrópicas. As estruturas celulares que
não apresentam tal organização não modificam o plano de polarização da luz e são ditas

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isotrópicas O microscópio de polarização serve para individualizar a estrutura que se quer
analisar.

Microscopia de luz polarizada. Um fragmento de mesentério do rato foi corado com o método de
picro-sirius, que cora fibras de colágeno. O mesentério foi colocado sobre a lâmina e observado por
transparência. Sob luz polarizada, as fibras de colágeno exibem intensa birrefringência e aparecem
brilhantes ou em amarelo. Aumento médio.
Imagem retirada do Livro: JUNQUEIRA & CARNEIRO, Histologia Básica, 10ª ed., Ed.Guanabara Koogan (Pg.
5 - Fig. 1.4)

1.1.1.6 - Microscópio Eletrônico de Transmissão

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Foto de Karina Mancini (Unicamp) Foto de Heidi Dolder (Unicamp)

Foto de Heidi Dolder (Unicamp) Foto da Profª Adelina Ferreira (UFMT)

Imagens de Microscopia Eletrônica de Transmissão

Enquanto o microscópio de luz utiliza fótons como a radiação visível para


observação do material celular, o microscópio eletrônico, por sua vez emprega
feixes de elétrons. Estes após atravessarem a célula chegam a uma tela
fluorescentes onde formam uma imagem visível sobre uma chapa fotográfica que
depois serão reveladas podendo ser ampliadas 2 a 4 vezes, sendo chamadas de
micrografias. Os elétrons desviados por certas estruturas da célula não
contribuirão para formar a imagem e aparecem escuras e são chamadas de
elétron-densas. Os componentes celulares que desviam uma pequena
percentagem de elétrons aparecerão em diversas tonalidades de cinza.
As técnicas de coloração empregadas para observação nestes tipos de
microscópio são metais pesados como o ouro, o ósmio, uranio e chumbo.

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Hoje limite de resolução de um microscópio eletrônico de transmissão é
40.000 vezes melhor do que a resolução do microscópio óptico e 2 milhões de
vezes melhor que a resolução do olho humano. No entanto não se é possível
ainda aproveitar inteiramente a capacidade resolutiva dos melhores microscópios
eletrônicos assim ele passa somente a ter 2.000 vezes melhor resolução que dos
microscópios ótico.
1.1.1.7 - Microscópio Eletrônico de Varredura

Foto de Heidi Dolder (Unicamp) Foto de Heidi Dolder (Unicamp)

Imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura

Imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura (coloridas em photoshop)


Foto de Heidi Dolder (Unicamp)

É uma técnica que permite a visualização das superfícies de espécimes não


seccionados. A amostra é fixada, dessecada e revestida com a camada fina de
um metal pesado. A micrografia obtida tem um aspecto tridimensional. O poder
de resolução dos microscópios eletrônicos de varredura é limitado pela
espessura do revestimento metálico utilizado e muito menor que o poder de
resolução dos instrumentos de transmissão.

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1.2 – Organização Geral das Células: Procarióticas e Eucarióticas
A célula, segundo De Robertis e Hib (2006), é a unidade estrutural e
funcional fundamental dos seres vivos, assim como o átomo é a unidade
fundamental das estruturas químicas. Se, por algum meio, a organização celular
for destruída, a função da célula também será afetada. Os estudos bioquímicos
demonstraram que a matéria viva é composta pelos mesmos elementos que
constituem o mundo inorgânico, embora com diferenças em sua organização. No
mundo inanimado, existe uma tendência contínua para o equilíbrio termodinâmico,
no curso do qual são produzidas transformações eventuais entre energia e
matéria. Ao contrário, nos organismos vivos, existe um ordenamento manifestado
nas transformações químicas, de modo que as estruturas e as funções biológicas
não se alteram.
Toda a matéria viva é composta de células e todas as células são
originadas a partir de células preexistentes, que contém as informações
hereditárias dos organismos dos quais elas são uma parte.
Essas afirmações compõem a teoria celular que possui implicações
importantes como: ao estudar a biologia da célula, se está estudando a vida e,
essa vida continua de célula parental para célula filha.
Todas as células possuem dois elementos essenciais: a membrana
plasmática, conhecida também por plasmalema ou membrana celular, que separa
os conteúdos celulares do ambiente externo. E o outro é o material genético, que
constitui a informação hereditária, que regula todas as atividades celulares e
características que são passadas para outros descendentes.
A organização desse material genético é uma das principais características
que separam as células procarióticas das eucarióticas. As células procarióticas
são representadas atualmente pelas Archaea e Bactéria, incluindo as
cianobactérias. E as células eucarióticas são representadas pelos Eukaria, que
são células que constituem os reinos: Protista, Fungi, Plantae e Animália.

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Os componentes de célula, sem considerar o núcleo e a parede celular,
quando presentes, constituem-se do citoplasma e da membrana celular que o
envolve.
No citoplasma ou citossol encontram-se todas as moléculas e organelas da
célula, é onde ocorrem as reações bioquímicas. As organelas são estruturas
especializadas que desempenham funções específicas dentro da célula, como por
exemplo as mitocôndrias, o complexo de Golgi, vacúolos, etc.
A organização celular em procariotas e eucariotas apresentam características
peculiares, conforme se observa no quadro a seguir.

Células procariontes Células eucariontes

Envoltório nuclear Presente


Ausente

DNA Combinado com proteínas


Desnudo

Cromossomas Múltiplos
Únicos

Nucléolos Presentes
Ausentes

Divisão Mitose e meiose


Fusão binária

Endomembranas Presentes
Ausentes

Mitocôndrias Presentes
Ausentes

Cloroplastos Presentes em células vegetais


Ausentes

Parede celular Celulósica em células vegetais


Não celulósica

Exocitose e endocitose Presentes


Ausentes

Citoesqueleto Presente
Ausente

1.2.1 – Organização das células Procariontes


As células procariontes se caracterizam pela pobreza de membrana
plasmática. Ao contrário dos eucariontes, não possuem uma membrana
envolvendo os cromossomos, separando-os do citoplasma. Os seres vivos que
são constituídos por estas células são denominados procariotas, compreendendo

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principalmente as bactérias, e algumas algas (cianofíceas e algas azuis) que
também são consideradas bactérias.
Por sua simplicidade estrutural (esquema abaixo) e rapidez na
multiplicação, a célula Escherichia coli é a célula procarionte mais bem estudada. Ela
tem forma de bastão, possuindo uma membrana plasmática semelhante à de células
eucariontes. Por fora dessa membrana existe uma parede rígida, com 20nm de espessura,
constituída por um complexo de proteínas e glicosaminoglicanas. Esta parede tem como
função proteger a bactéria das ações mecânicas.

Esquema de uma célula procarionte com suas principais estruturas (E.coli)

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Foto da bactéria Escherichia coli

No citoplasma da E.coli existem ribossomos ligados a moléculas de RNAm,


constituindo polirribossomos.
O nucleóide é uma estrutura que possui dois ou mais cromossomos
idênticos circulares, presos a diferentes pontos da membrana plasmática.
As células procariontes não se dividem por mitose e seus filamentos de
DNA não sofrem o processo de condensação que leva à formação de
cromossomos visíveis ao microscópio óptico, durante a divisão celular.
Em alguns casos, a membrana plasmática se invagina e se enrola
formando estruturas denominadas mesossomos.
As células procariontes que realizam fotossíntese, possui em seu
citoplasma, algumas membranas, paralelas entre si, e associadas à clorofila ou a
outros pigmentos responsáveis pela captação de energia luminosa.
Diferente das células eucariontes, os procariontes não possuem um
citoesqueleto (responsável pelo movimento e forma das células). A forma simples
das células procariontes, que em geral é esférica ou em bastonete, é mantida pela
parede extracelular, sintetizada no citoplasma e agregada à superfície externa da
membrana celular.

Célula procarionte esférica 

Foto retirada do site: http://www.evim.ethz.ch/uebungen/praxis/u1/vorlage_hp/vorlage.html


 

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Célula procarionte em forma de bastonete

Foto retirada do site: http://www.terravista.pt/ilhadomel/3679/bacteria.html

A principal diferença entre células procariontes e eucariontes, é que esta


última possui um extenso sistema de membrana, no citoplasma, criando
microrregiões que contêm moléculas diferentes e executam funções
especializadas.
1.2.2 – Células Eucariontes
A célula eucariótica possui três componentes principais: núcleo, que
constitui um compartimento limitado por um envoltório nuclear; citoplasma, outro
compartimento envolvido por membrana plasmática; e, membrana plasmática e
suas diferenciações.
Esses três componentes possuem vários subcomponentes ou
subcompartimentos.
Existe grande variabilidade na forma das células eucarióticas. Geralmente o
que determina a forma de uma célula é sua função específica.
Outros determinantes da forma de uma célula podem ser o citoesqueleto
presente em seu citoplasma, a ação mecânica exercida por células adjacentes e a
rigidez da membrana plasmática.
As células eucariontes são usualmente maiores e estruturalmente complexas.
As organelas presentes no citoplasma possuem papéis específicos definidos por
reações químicas. A presença ou ausência de determinadas organelas definirá se
a célula é vegetal ou animal.

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1.3 – Origem das Células
O problema da origem das células está diretamente relacionado com a
origem da vida em nosso planeta.
Admite-se que as primeiras células que surgiram na terra foram os
procariontes. Isso deve ter ocorrido há 3,5 bilhões de anos.
Naquela época a atmosfera provavelmente continha vapor de água,
amônia, metano, hidrogênio, sulfeto de hidrogênio e gás carbônico. O oxigênio
livre só apareceu depois, graças à atividade fotossintética das células autotróficas.
Antes de surgir a primeira célula teriam existido grandes massas líquidas,
ricas em substâncias de composição muito simples. Estas substâncias, sob a ação
do calor e radiação ultravioleta vinda do Sol e de descargas elétricas oriundas de
tempestades frequentes, combinaram-se quimicamente para constituírem os
primeiros compostos contendo carbono. Substâncias relativamente complexas
teriam aparecido espontaneamente.
Stanley Miller realizou em 1953 experimentos fundamentais que
corroboraram essa possibilidade.

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Produzindo descargas elétricas em um recipiente fechado, contendo vapor
de água, Hidrogênio, Metano e amônia, descobriu que se formavam aminoácidos,
tais como alanina, glicina, e ácidos aspárticos e glutâmicos. Estudos posteriores,
simulando as condições pré-bióticas, permitiram a produção de 17 aminoácidos
(dos 20 presentes nas proteínas).
Também foram produzidos açúcares, ácidos graxos e as bases
nitrogenadas que formam parte do DNA e RNA.
Esta etapa de evolução química foi provavelmente precedida de outra na
qual se formaram as proteínas pela polimerização dos aminoácidos. Essa etapa
posterior provavelmente teve lugar em meios aquosos onde as moléculas
orgânicas se concentravam para formar uma espécie de "Sopa Primordial" na qual
foram favorecidas as interações e onde se formaram complexos maiores
denominados coacervados ou proteinóides, com uma membrana externa
envolvendo um fluido no interior (micelas).
Posteriormente originou-se o código genético, talvez primeiro como RNA, e
em seguida o DNA e as diversas moléculas que participaram na síntese de
proteínas e na replicação, produzindo células capazes de se autoperpetuarem.
É razoável supor-se que a primeira célula a surgir foi precedida por
agregados de micelas que apresentavam apenas algumas das características hoje
consideradas peculiares dos seres vivos (metabolismo, crescimento e

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reprodução). Isto é a primeira célula era das mais simples, porém mesmo uma
célula desse tipo é ainda complexa demais para admitir-se que ela tenha surgido
ao acaso, já pronta e funcionando.
É possível, que não havendo Oxigênio na atmosfera, os primeiros
procariontes foram heterotróficos e anaeróbicos. Posteriormente surgiram os
procariontes autotróficos, tais como as algas azul-esverdeadas que contêm
pigmentos fotossintéticos. Através da fotossíntese se produziu o Oxigênio da
atmosfera e este permitiu o surgimento de organismos aeróbicos a partir dos quais
recém originaram-se os eucariontes. Até aquele momento a vida só estava
presente na água, porém, finalmente, as plantas e os animais colonizaram a Terra.
Há 3 teorias para explicar o fato do aperfeiçoamento das células
procariontes autotróficas iniciais.

1.3.1 - Teoria da Invaginação da Membrana Plasmática:

Por mutação genética, alguns procariontes teriam passado a sintetizar


novos tipos de proteínas, e isso levaria ao desenvolvimento de um complexo
sistema de membranas, que, invaginando-se da membrana plasmática, teria dado
origem às diversas organelas delimitadas por membranas. Assim teriam aparecido
o retículo endoplasmático, o aparelho de Golgi, os lisossomas e as mitocôndrias.
Pelo mesmo processo surgiria a membrana nuclear, principal característica das
células eucariontes.
Embora à primeira vista este teoria pareça sólida, ela não tem apoio em
fatos conhecidos. É, ao contrário, de difícil aceitação, pois não existe célula
intermediária entre procarionte e eucarionte, nem se encontrou fóssil que
indicasse uma possível existência destes tipos intermediários.

1.3.2 - Teoria da Simbiose de Procariontes


Segundo este teoria alguns procariontes passaram a viver no interior de
outros, criando células mais complexas e mais eficientes. Vários dados apoiam a
suposição de que as mitocôndrias e os cloroplastos surgiram por esse processo.
Demonstrou-se, por exemplo, que tais organelas contêm DNA, e que esse DNA

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contém informação genética que se transmite de uma célula a outra, de um modo
comparável à informação contida no DNA dos cromossomas nucleares. Ainda
mais, ao menos no que se refere às mitocôndrias, demonstrou-se também que a
molécula de DNA é circular, como nas bactérias. Estas e outras observações nos
levam à conclusão de que mitocôndrias e cloroplastos de fato se originaram por
simbiose.
1.3.3 - Teoria Mista
É possível que as organelas que não contêm DNA, como o retículo
endoplasmático e o aparelho de Golgi tenham se formado a partir de invaginações
da membrana celular, enquanto as organelas com DNA (mitocôndrias,
cloroplastos) apareceram por simbiose entre procariontes.
1.3.4 - Conclusão:
As primeiras células vivas provavelmente surgiram na terra por volta de 3,5
bilhões de anos por reações espontâneas entre moléculas que estavam longe do
equilíbrio químico. Do nosso conhecimento acerca dos organismos existentes nos
dias atuais, e das moléculas neles contidas, parece plausível que o
desenvolvimento de mecanismos autocatalíticos fundamentais para os sistemas
vivos tenha começado com a evolução de uma família de moléculas de RNA, que
poderiam catalisar sua própria replicação. Com o tempo, uma das famílias do RNA
catalisador desenvolveu a habilidade de dirigir a síntese de polipeptídeos.
Finalmente, o acúmulo adicional de proteínas catalisadoras permitiu que células
mais complexas evoluíssem, o DNA dupla hélice substituiu o RNA como uma
molécula mais estável para a estocagem de uma quantidade crescente de
informações genéticas necessárias às células. (Fonte: www.hurnp.uel.br)

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