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Mural Coletivo em Quixadá

Kaique Jorge da Silva 1, Diana Patrícia Medina Pereira 2


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Design Digital – Universidade Federal do Ceará – UFC – Campus Quixadá

2
Design Digital – Universidade Federal do Ceará – UFC – Campus Quixadá
kaiquejor@gmail.com, medina.diana@gmail.com

Abstract. This paper describes the process for the realization of a collective
painting in the city of Quixadá. The influence of new technologies of the
image and its use in Drawing I course, and some answers are given to
questions on pedagogical actions committed to the environment.

Resumo. Este artigo descreve o processo utilizado para a realização de um


mural coletivo na cidade de Quixadá. A influência das novas tecnologias da
imagem e sua utilização na disciplina de Desenho I, além de algumas
respostas que são apresentadas aos questionamentos sobre ações pedagógicas
comprometidas com o meio-ambiente.

1. Introdução
A Disciplina de Desenho I, inserida no currículo do curso de Design Digital na
Universidade Federal do Ceará, exerce papel fundamental de introdução no
desenvolvimento criativo e estético do estudante, estimulando a propagação da aptidão
ao processo criativo do projetista, no momento de solidificar a ideia que antes abrigava
na imaginação e passa a ser a representação de um trabalho ou projeto. Dentro da
disciplina os discentes tem a possibilidade de desenvolver seu espírito criativo dentro
das mais diversas possibilidades de técnicas presentes no desenho, como por exemplo; o
grafite, luz e sombra, perspectiva, coloração e bem como seus materiais e técnicas de
uso. Partindo desta disciplina elaboramos um trabalho coletivo onde foi desenvolvido
uma arte urbana na cidade de Quixadá.
Este mural foi elaborado na expectativa de realizarmos algo em grupo e fosse
disponibilizado de forma gratuita à comunidade. Partimos do princípio da utilização de
materiais pouco dispendiosos.

2. O mural com expressão de um grupo.


O desenho é uma forma de comunicação muito antiga, já utilizada há pelo menos
15.000 anos antes de Cristo (PARRAGON, 2001). Pinturas rupestres eram feitas em
paredes de cavernas como forma de rituais de adoração, conquista, marcação de
território, avisos de perigo e etc. Uma das mais divulgadas técnicas das artes plásticas, o
desenho, tem o poder da simplicidade e da transformação no ambiente.
Dentro deste contexto histórico milenar da comunicação através dos desenhos o
Projeto Mural Coletivo buscou atingir através de imagens da web do xilógrafo J. Borges
(obra: A Diversidade É Legal) e do artista urbano Pejac (obra: Human Nature) o
objetivo de levantar a bandeira da diversidade e conscientizar quanto à preservação da
natureza, que são dois assuntos que estão em alta na sociedade atual. As imagens
reproduzidas foram escolhidas através de votação da turma e foram executadas pela
mesma. A técnica escolhida para desenvolver o mural visou principalmente preservar as
características dos artistas que consequentemente valorizam a cultura local. Optamos
por utilizar um papel rústico e tinta preta o que resultou na aparência de uma grande
xilogravura. Segundo Grabner (2016), “a xilogravura se destaca por ser o primeiro
modo de multiplicação”, guardando assim historicamente uma importância na difusão
de ideias. Nosso lambe-lambe foi idealizado para se assemelhar a uma xilogravura.
O lambe-lambe é uma técnica de arte urbana. Dentro desta categoria temos a
pintura prévia num suporte de papel e depois sua colagem na rua. Este tipo de técnica é
bem utilizado em muitos lugares do mundo. Os trabalhos sempre levam a uma reflexão
por parte do público.
O oportunismo dos grafiteiros que usavam qualquer superfície vazia
disponível para realizar as pinturas com spray de exuberante expressividade
– provocativos murais de maior urgência e imediatismo de impacto que os
produtos comportados e democráticos dos projetos de arte comunitária.
(ACHER, 2008, p. 172)
Utilizamos desta categoria de arte urbana para melhor expressarmos as ideias
expostas no coletivo de alunos. Arte de rua na rua. Tivemos como propósito ocupar as
ruas da cidade e provocar o olhar do transeunte. A arte urbana com o lambe-lambe pode
nos oferecer esta oportunidade de maneira mais econômica e muito eficaz.
Nesta experiência pudemos também desenvolver nossa ideia de
construção de uma arte urbana menos consumista e mais sustentável. Todo o material
foi pensando para estabelecer uma relação mais acessível para todo o coletivo e
aprender a como fazer arte urbana de forma mais econômica. Nos dias atuais, os sprays
utilizados nos murais de grafite se tornaram um “objeto de desejo”. Porém são caros,
tóxicos e em nada ecológicos. Neste projeto utilizamos um papel craft que é conhecido
por não conter tantos produtos químicos, a cola caseira feita com povilho e a tinta
acrílica preta para as pinturas.

3. Da internet para a rua.


Uma vez as imagens escolhidas e votadas, os alunos foram incumbidos das tarefas de
fazer recortes no rolo de papel craft previamente disponibilizado pela docente da
disciplina, fazer o esboço do desenho (colocando em prática o conteúdo aprendido
sobre proporção), (Figura 01) pintura com tinta acrílica brilhante na cor preta,
fabricação de cola caseira usada como adesivo para o lambe-lambe (adesivo produzido
através da mistura de: polvilho doce ou farinha de trigo, cola branca, agua e vinagre), e
colagem no muro. Todas as técnicas e materiais utilizados foram escolhidos levando em
consideração seu custo, de forma a diminuir ao máximo os gastos financeiros do
projeto.

Figura 01 – Pintura dos esboços no papel craft, Foto: Kaique Jorge

O local escolhido para a adesão das


imagens foi previamente estabelecida através de um convênio entre a coordenação da
Universidade Estadual do Ceará campus Quixadá, que cedeu parte de seu muro lateral
que estava em estado cru (somente com cimento) e a Universidade Federal do Ceará
campus Quixadá, que diante do Projeto Mural Coletivo pretende selecionar locais
anualmente para pôr em prática os ensinamentos tidos em sala de aula e promover a
prática do trabalho em equipe. O local selecionado possui grande visibilidade, pois está
situado em uma das avenidas mais movimentadas da cidade (Av. Francisco Almeida
Pinheiro).
Foram realizadas reuniões para a discussão do andamento do projeto durante as
aulas da mesma disciplina ao qual serviria como método avaliativo, e também nestas
aulas as pinturas foram realizadas coletivamente usando-se de várias etapas.
Primeiramente houve a separação em pequenas partes de cada imagem no computador.
Tudo sob o planejamento que nossa área disponível seria de 3 metros de altura por 9
metros de comprimento. Cada aluno reproduziria uma ou duas partes em tamanho
maior. Para tal, utilizamos técnicas de ampliação em sala de aula. Cada folha era
recortada seguindo um molde, desenhada, pintada e separada para compor o mural.
Numeramos cada pedaço e organizamos de forma a entender como ficaria a imagem
uma vez ampliada e para poder corrigir alguns atos falhos na ampliação. A cola foi
produzida no momento da colagem (na cozinha do campus) e a colocação dos desenhos
foi realizada pelo grupo de alunos na parte da manhã.
No dia 04 de julho de 2017 parte da turma da disciplina de Desenho I se
direcionou ao local onde as obras seriam expostas já com todo o material devidamente
preparado (Figura 02). O primeiro contato do meio social com trabalho já era animador,
pois o corpo estudantil da Universidade Estadual do Ceará campus Quixadá já começara
a juntar-se na frente do muro curiosos quanto ao que estava acontecendo.
O trabalho de adesão das pinturas ao muro com a técnica do lambe-lambe
aconteceu de forma rápida, em apenas uma manhã as duas obras já estavam expostas.
Para referenciar o trabalho e direcionar mais informações sobre este ato, colocamos um
QR code ao lado de cada desenho, neste aplicativo de direcionamento encontramos um
site especialmente construído para informar sobre o projeto, além de indicarmos as
páginas dos artistas homenageados nesta ação.

Figura 02 – Vista do mural finalizado, Foto: Kaique Jorge

4. Conclusão
A arte é um importante instrumento de expressão e, de um modo muito subjetivo, tem o
potencial de modificar o modo como enxergamos o mundo. Antes o muro era somente
uma parede crua, e agora é um objeto de arte que chama atenção, intriga as pessoas e
transforma seus sentimentos, despertando-as à pensar sobre as informações que as obras
expostas lhes comunicam.
Mais uma vez, o projeto Mural Coletivo foi uma atividade bem sucedida que,
além de entregar um trabalho final satisfatório, ainda ajudou a turma a desenvolver suas
relações interpessoais (trabalho em grupo) e a prática do desenho a mão livre.

5. Referências
GRABNER, Fernanda (2016), A XILOGRAVURA COMO A PRECURSORA DA
EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS GRÁFICAS NA PRODUÇÃO DE LIVROS.
São José dos Campos, SP, Brasil.
ACHER, Michel. Arte contemporânea, uma história concisa. Martins Fontes, SP. 2008.
PARRAGON. Essential History of Art. Parragon. UK.2001.

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