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NEUROLÓGICA
Introdução
A fisioterapia neurológica, também chamada de fisioterapia neurofuncio-
nal, é uma especialidade a partir da qual o profissional fisioterapeuta atua
nas disfunções relacionadas ao sistema nervoso. Essas disfunções podem
ser decorrentes de processos congênitos ou adquiridos e comprometem
pacientes em todas as faixas etárias (MELATTI, 2014).
Nessa área, o fisioterapeuta pode atuar de modo a proporcionar a
recuperação e a restauração da função motora, proprioceptiva, de mo-
bilidade, força e funcionalidade, que podem estar afetadas em virtude da
disfunção neurológica. Para isso, faz uso de inúmeros métodos, técnicas
e recursos terapêuticos para oferecer um atendimento de qualidade e
resolutivo (MELATTI, 2014).
Assim, neste capítulo, você vai conhecer as possibilidades de atuação
do profissional de fisioterapia na área neurofuncional, vendo os principais
recursos terapêuticos empregados nas diversas disfunções neurológicas e
respeitando as características particulares no atendimento das diferentes
faixas etárias, incluindo o atendimento de crianças, de adultos e de idosos.
2 Introdução à fisioterapia neurofuncional
Eletroterapia
A eletroterapia consiste na aplicação de correntes elétricas aos tecidos humanos
com finalidades terapêuticas. Dentre as diversas modalidades de eletroterapia
disponíveis, a estimulação elétrica funcional (FES) é a mais utilizada na área
da fisioterapia neurofuncional.
Essa modalidade de eletroterapia consiste em uma corrente elétrica te-
rapêutica capaz de produzir contrações musculares em grupos específicos,
objetivando melhora da força muscular, aumento da amplitude de movimento,
estabelecimento da sensação articular proprioceptiva, redução da espastici-
dade muscular nos antagonistas, redução de contraturas articulares, além de
promoção do recondicionamento funcional (ROSA; ROSA; CAMPOS, 2013).
O mecanismo de ação pelo qual a estimulação elétrica funcional proporciona
melhora da condição funcional em pacientes neurológicos reside na capacidade
da corrente elétrica de promover a inibição recíproca do grupo muscular; por
exemplo, ao aplicar-se a estimulação no grupo de flexores, há uma redução
imediata do tônus dos extensores (ROSA; ROSA; CAMPOS, 2013). Essa
redução permite que o paciente possa obter movimentos que estavam inibidos
mediante a aplicação da corrente elétrica, que melhora a funcionalidade. Além
disso, pode ser empregada de modo a reduzir os efeitos deletérios do desuso
prolongado de estruturas musculares, amenizando as perdas musculares.
Termoterapia e crioterapia
A termoterapia e a crioterapia são recursos terapêuticos utilizados na área
de fisioterapia neurofuncional com o objetivo de controlar a espasticidade,
condição encontrada em uma série de disfunções do sistema nervoso central
(FELICE; SANTANA, 2009).
A crioterapia se refere à aplicação terapêutica do frio. Quando aplicada à
área da neurologia, a crioterapia tem como objetivo principal reduzir a tensão
viscoelástica mioarticular e facilitar a função neuromuscular. Fisiologicamente,
o frio reduz a atividade do fuso muscular, da junção neuromuscular e dos
nervos periféricos. Além disso, é eficiente na diminuição da espasticidade
pela redução ou pela modificação do mecanismo de reflexo de estiramento
no músculo (FELICE; SANTANA, 2009).
8 Introdução à fisioterapia neurofuncional
Hidroterapia
A hidroterapia é um dos recursos terapêuticos que pode ser aplicado à área da
neurologia. Em geral, a hidroterapia é inserida nos programas de assistência
ao paciente neurológico especialmente pelos benefícios fisiológicos a nível
do sistema musculoesquelético, como relaxamento, alívio de quadros álgicos,
normalização de tônus e melhora da amplitude de movimento. Isso porque as
propriedades físicas da água, aliadas à assistência do profissional fisioterapeuta,
favorecem a execução de programas de tratamento voltados a melhora das
condições físicas dos pacientes (ORSINI et al., 2010).
Além disso, a hidroterapia promove efeitos fisiológicos sistêmicos a nível
pulmonar, circulatório e renal, o que auxilia na reabilitação global do paciente
neurológico (MAQUINÉ, 2015). Para isso, o profissional de fisioterapia pode
utilizar técnicas de reabilitação específicas da hidroterapia e indicadas a
pacientes neurológicos, como as técnicas de Watsu, Bad Ragaz e Halliwick.
Cinesioterapia
A cinesioterapia é um recurso fisioterapêutico que, quando aplicado à área
da fisioterapia neurofuncional, atua na prevenção de deformidades e na re-
educação neuromotora do paciente. Por meio do uso de diversas técnicas, o
profissional objetiva com o uso da cinesioterapia o controle do tônus muscular,
o fortalecimento, a manutenção e a melhora da amplitude de movimento, além
de proporcionar estimulação sensorial e proprioceptiva pelo uso de posturas e
de exercícios funcionais. Vale ressaltar que a cinesioterapia pode ser aplicada
em praticamente todas as fases da reabilitação e pode ser utilizada de maneira
associada à mecanoterapia (ROSA; ROSA; CAMPOS, 2013).
Mecanoterapia
Trata-se da utilização de dispositivos mecânicos para promover efeitos fi-
siológicos no organismo, como reforço muscular, melhora da flexibilidade,
coordenação, etc. Polias, halteres, caneleiras, faixas elásticas, barras paralelas,
bicicleta, dentre outros recursos, são exemplos de dispositivos utilizados em
mecanoterapia (LIMA et al., 2006). O uso de recursos mecanoterapêuticos
na área de fisioterapia neurofuncional proporciona melhora significativa na
realização de atividades de vida diária, uma vez que auxilia o paciente na
retomada de atividades funcionais e na melhora da qualidade de vida (HEN-
RIQUES et al., 2015).
10 Introdução à fisioterapia neurofuncional
Bobath
O conceito Bobath é um recurso terapêutico muito utilizado na área da fisiote-
rapia neurofuncional. Chamado de tratamento neuroevolutivo Bobath, consiste
em um modelo terapêutico de prática clínica interdisciplinar que se pauta no
manuseio terapêutico individualizado do paciente, baseando-se na análise do
movimento de pacientes com alguma patologia neurológica (ABRAFIN, 2017).
Nesse método, o fisioterapeuta aplica uma abordagem que visa identifi-
car e priorizar integridades e deficiências importantes a partir do estudo do
desenvolvimento típico e atípico dos movimentos, priorizando, nesse caso, a
funcionalidade. O método faz uso de atividades de ativação sensório-motor,
treino de desempenho de tarefa e aquisição de novas competências, tornando
as atividades mais funcionais (ABRAFIN, 2017).
Além dos movimentos, o fisioterapeuta pode fazer uso de equipamentos
associados ao método, como bola suíça, rolo, andador e espelho, dependendo
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Bandagens funcionais
Esta técnica consiste na aplicação de bandagens elásticas aplicadas aos tecidos
corporais mediante um apoio externo (SILVA; TONÚS, 2014). Surgiu como
uma alternativa às bandagens convencionais, pois as bandagens elásticas
apresentam melhor aderência à pele, elasticidade vertical e horizontal e maior
capacidade de facilitar a biomecânica corporal.
Consistem em faixas confeccionadas em acrílico hipoalergênico, sem
presença de substâncias químicas, e que aderem à pele por até cinco dias. São
elásticas e podem ser distendidas em até 140% de seu comprimento original. Em
relação ao mecanismo de ação, promovem uma tensão constante, permitindo
melhora da função de um segmento corporal sem causar limitação de mobi-
lidade. Em contato com a pele, a bandagem desencadeia estímulos sensoriais
e mecânicos por meio da estimulação dos mecanorreceptores existentes na
pele (SILVA; TONÚS, 2014).
Pode ser aplicada aos músculos, aos ligamentos, ao sistema linfático e,
ainda, pode ser aplicada de modo a promover efeitos corretivos de segmen-
tos corporais (SILVA; TONÚS, 2014). Quando inserida nos programas de
tratamento de pacientes com disfunções neurológicas, as bandagens elásticas
atuam na funcionalidade da musculatura comprometida, aumentam a circula-
ção sanguínea e linfática e melhoram a coordenação e o controle do sistema
sensório motor (CANESCHI et al., 2014).
Pode ser utilizada para auxiliar músculos enfraquecidos, oferecendo-lhes
maior estabilidade nos movimentos e melhor alinhamento biomecânico, permi-
tindo que as tarefas funcionais sejam mais bem executadas (LEÃO et al., 2017).
Na área neurofuncional, são também consideradas dispositivos que auxiliam
na correção de movimentos anormais, sendo utilizadas como posicionador
funcional. Por essa função, as bandagens elásticas são classificadas como
órteses temporárias, uma vez que melhoram a funcionalidade do membro
(SILVA; TÓNUS, 2014). A Figura 1, a seguir, mostra o emprego da bandagem
12 Introdução à fisioterapia neurofuncional
No método, são utilizados cerca de três mil exercícios que envolvem de-
safios biomecânicos especiais para crianças, exigindo uma resposta ativa. A
escolha dos exercícios está diretamente relacionada ao potencial de reação
da criança, sendo que o fisioterapeuta escolhe e aplica uma determinada
sequência de exercícios durante a sessão de terapia, a fim de provocar novas
reações posturais e funcionais espontâneas.
O tratamento tem início com um período de teste de oito semanas de
tratamento regular, com sessões diárias, que duram de 30 a 45 minutos. Caso
o paciente apresente melhora nesse período, o tratamento é continuado; do
contrário, deve ser substituído por outra modalidade terapêutica (ABRAFIN,
2015).
Terapia do espelho
Foi utilizada, inicialmente, para o tratamento de pacientes com dor fantasma;
atualmente, é utilizada para o tratamento da hemiparesias existentes em
quadros de disfunções neurológicas. Consiste em uma técnica que utiliza
um espelho, apoiado sagitalmente no meio de uma caixa retangular (ROSA;
ROSA; CAMPOS, 2013).
Em relação ao mecanismo de ação, sugere-se que a terapia do espelho seja
capaz de reeducar o cérebro, já que o indivíduo realiza uma série de movimentos
com o membro saudável no espelho — esse membro é visto ao espelho como
se fosse o afetado pela paresia. Dessa forma, a técnica visa “enganar¨ o cérebro
de certa forma, fazendo com que ele imite os movimentos do membro parético,
causando, nesse caso, um feedback visual em áreas corticais sensório-motoras
(ROSA; ROSA; CAMPOS, 2013).
Na prática, essa técnica é considerada um recurso terapêutico complementar
na área da neurologia, capaz de proporcionar efeitos adicionais ao treinamento
motor realizado nas sessões de tratamento. Apresenta uma importante vanta-
gem, que é o fato de ser aplicada com muita segurança, dispensar instalações
especiais e equipamentos, sendo considerada uma técnica simples e, princi-
palmente, de baixo custo.
Pela sua simplicidade, essa técnica pode ser realizada pelo paciente no
ambiente domiciliar, desde que corretamente instruído pelo fisioterapeuta.
Segundo Rosa, Rosa e Campos (2013), essa técnica pode ser indicada es-
pecialmente nos casos de pacientes pós-acidente vascular encefálico que
apresentem hemiparesia.
Equoterapia
Segundo a Associação Nacional de Equoterapia (2020), o método utiliza o
cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educa-
ção e equitação que busca, primordialmente, a melhora do desenvolvimento
biopsicossocial do paciente neurológico. Nesse método, emprega-se o cavalo
como agente promotor de ganhos tanto a nível físico quanto a nível psíquico,
contribuindo para a melhoria da força muscular, da conscientização, da co-
ordenação motora, do equilíbrio e, ainda, do relaxamento, da socialização,
da autoconfiança e da autoestima dos pacientes.
Em relação à sua indicação, a equoterapia vem sendo utilizada como recurso
terapêutico em uma série de disfunções neurológicas, incluindo: encefalopatia
crônica não progressiva, acidente vascular encefálico, traumatismo crânio
Introdução à fisioterapia neurofuncional 15
PediaSuit
Baseia-se em uma terapia intensiva com o uso de vestes especiais, cordas
elásticas e unidades de terapia universal, de modo a criar unidades de suporte
para alinhar o corpo do paciente o mais próximo do fisiológico, restabelecendo
o alinhamento postural, corrigindo a descarga de peso, adequando o tônus
muscular e melhorando as funções sensorial, proprioceptiva e vestibular.
O mecanismo de ação desse recurso terapêutico se pauta nos efeitos promo-
vidos pela veste, que atua contra cargas de resistência, aumenta a propriocepção
e promove o alinhamento corporal, que são aliados à realização de sessões
de fisioterapia intensiva, diariamente, durante um mês.
Esse mecanismo de ação promove uma correção proprioceptiva dinâmica,
amenizando quadros de sinergias patológicas existentes. Por conta disso, essa
terapia está indicada para o tratamento de pacientes com distúrbios neurológi-
cos, como encefalopatia crônica não progressiva, atrasos de desenvolvimento,
lesões cerebrais traumáticas, distúrbio do espectro autista, dentre outras
disfunções que possam afetar as funções motoras e/ou cognitivas de uma
criança, podendo ser utilizada desde os dois anos de idade até a fase adulta
(ABRAFIM, 2020). A Figura 2, a seguir, mostra esse exemplo de modalidade
terapêutica.
16 Introdução à fisioterapia neurofuncional
identificar o problema;
descrever o problema;
desenvolver o plano de tratamento diante da necessidade do paciente;
monitorar o progresso;
acompanhar e avaliar os resultados obtidos.
Leituras recomendadas
ABRAFIN. Resposta ao Ofício nº 399/2016/GAPRE. Rio de Janeiro: ABRAFIN, 2016. Disponível
em: https://abrafin.org.br/wp-content/uploads/2017/06/PARECER8_2016_BOBATH.
pdf. Acesso em: 29 jul. 2020.
BARBOSA, G. de O.; VAN MUNSTER, M. de A. A equoterapia como estratégia de rea-
bilitação em distúrbios neurológicos. In: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA.
Brasília: ANDE, 2011. Disponível em: http://equoterapia.org.br/submit_forms/index/
miid/192/a/dd/did/5714. Acesso em: 29 jul. 2020.
BURKE-DOE, A.; JOBST, E. E. Casos clínicos em fisioterapia e reabilitação neurológica. Porto
Alegre: Artmed, 2015.
COFFITO. Resolução n. 189 de 9 de dezembro de 1998. Reconhece a Especialidade de Fi-
sioterapia Neuro Funcional e dá outras providências. Brasília: COFFITO, 1998. Disponível
em: https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=2947. Acesso em: 24 jul. 2020.
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