Você está na página 1de 3

O CAVALEIRO DO ORIENTE

Embora se trate de um grau de inspiração templária, o Grau 15, chamado


Cavaleiro do Oriente, é feito em cima da crônica bíblica que trata da
reconstrução do Templo de Jerusalém comandada por Zorobabel. Cavaleiro do
Oriente eram os cruzados que foram para a Terra Santa para lutar contra os
muçulmanos que haviam capturado Jerusalém e proibiram os cristãos de visitar
seus lugares santos.
Ao reconquistar a cidade santa, esses cruzados adotaram diversas tradições
dos antigos judeus, inclusive os costumes por eles utilizados, de se
comunicarem através de palavras―senhas e sinais, já que eram estranhos
numa terra estrangeira e os nativos geralmente lhes eram hostis. A Irmandade
sobre a qual se fala no ritual deste grau é a Ordem dos Cavaleiros Templários,
que por suposto seria a antecessora da Maçonaria. Mas por questões de
desenvolvimento ritual, toda a ambientação e as referências históricas estão
vinculadas à reconstrução do Templo de Salomão, promovida por Zorobabel no
início do século IV A.C após a conquista persa.
Historicamente, o personagem chamado Zorobabel foi um rabino, líder dos
judeus que voltaram para Jerusalém com a permissão do rei Ciro, da Pérsia,
após aquele rei ter derrotado os caldeus e libertado os povos que eles tinham
levado cativos para a Babilônia. Diz o cronista Esdras que se tratavam de
42.360 pessoas, além de seus servos e servas, o que pressupõe que os
judeus, já nessa época, não viviam mais como cativos no império persa.
Todavia, naquele tempo, como hoje, a Palestina não era habitada somente
pelos descendentes de Israel. A volta de um tão vasto contingente de pessoas
para aquela terra, sabidamente tão pobre em recursos naturais, trouxe muita
preocupação para os povos da região. A começar pelo abastecimento de
água―toda a água potável da Palestina vem do Lago Genezaré, o chamado
Mar da Galileia―, os parcos recursos naturais da região são disputadíssimos
pelos povos de diversas etnias que ali se fixaram. Esse é motivo da eterna
situação de conflito existente naquele conturbado pedaço de terra chamado
Palestina.
Esse novo êxodo de judeus para a região logo se degenerou em conflito.
Esdras fala da feroz oposição dos samaritanos, embora deixe transparecer em
sua crônica que essa oposição foi causada pelos próprios judeus, que não
permitiram que seus rebeldes conterrâneos do Norte participassem da
reconstrução do Templo. Como eram muitas as incursões dos inimigos de
Israel contra o canteiro de obras, Zorobabel criou uma espécie de milícia para
protegê-lo. Os pedreiros, ao mesmo tempo em que trabalhavam na construção,
a defendiam, “mantendo em uma mão a trolha e a argamassa e na outra a
espada”.
Esdras assim descreve essa restauração: “No primeiro ano do rei Ciro, ele
ordenou que a Casa de Deus, que há em Jerusalém fosse reedificada no lugar
onde que se oferecem sacrifícios, e que se lhe pusessem uns fundamentos que
sustentassem a altura de sessenta côvados, três fiadas de pedra por polir e do
mesmo modo fileiras de madeira nova; e que a despesa se fizesse da casa do
rei. E que restituíssem também os vasos de ouro e prata do Templo de Deus,
que Nabucodonosor tirara do Templo de Jerusalém, e levara para a Babilônia,
e que se reconduzissem para o Templo e os pusessem no seu lugar”.
Assim, foi graças á disposição do rei persa que Zorobabel voltou para
Jerusalém, comandando um exército de construtores para reconstruir o Templo
de Salomão. É nesse episódio que se fundamenta a lenda do grau 15.

A Lenda do Grau 15
A lenda do grau 15 diz que alguns judeus que fugiram para o Egito por ocasião
da invasão dos caldeus haviam voltado para Jerusalém após a conquista persa
e constituído um grupo secreto para estudar e promover a reconstrução do
Templo de Salomão. Esse grupo ― uma espécie de Loja Maçônica Operativa
― se mantinha na clandestinidade exatamente para evitar o ataque das
populações hostis da região. Seus integrantes se identificavam através de
palavras de passe e sinais secretos. Eram membros remanescentes daqueles
Perfeitos e Sublimes Maçons, conhecedores da Palavra Sagrada, que são
referidos no grau 14.
Zorobabel, ao voltar para Jerusalém, fez contato com eles e se fez reconhecer
como um Perfeito e Sublime Maçom, dando-lhes a Palavra Sagrada. Vendo a
firme disposição daqueles Irmãos em reconstruir o sagrado edifício, ele se
empenhou junto ao rei Ciro para que ele permitisse e financiasse a
reconstrução. O rei persa concordou, mas pressionou o líder judeu para que
ele revelasse os segredos do grupo, ao que ele, valentemente resistiu.
Comovido com a firme disposição dos judeus e impressionado com a fidelidade
de Zorobabel, o rei se dispôs a ajudá-los, liberando todos os seus compatriotas
para trabalhar na obra e fornecendo os recursos financeiros necessários, além
de devolver os utensílios que Nabucodonosor, rei dos caldeus, havia pilhado
por ocasião da conquista de Jerusalém cerca de quarenta anos antes. Foi
então que Zorobabel voltou à Jerusalém, e junto com outro rabino, de nome
Neemias, coordenou a reconstrução do Templo.

SÍMBOLOS E ENSINAMENTOS DO GRAU


Entre os símbolos utilizados no ritual do grau 15, destacam-se, entre outros
motivos, francamente inspirados em tradições cavalheirescas, a fita verde
representando ossos, espadas inteiras e quebradas, e membros humanos
decepados, desenhados sobre uma ponte onde estão marcadas as iniciais L.P.
D. Essas iniciais, bem como esses símbolos evocam as batalhas travadas
pelos israelitas para voltar para Jerusalém e defender as obras de reconstrução
e também as próprias batalhas travadas pelos cruzados para conquistar e
manter Jerusalém.
O ensinamento contido na simbologia do grau nos diz que por mais que o
Irmão seja pressionado, seja pelas autoridades, seja pela sua própria condição
de vida, ele jamais deve se afastar dos princípios ensinados pela boa
maçonaria. Esses princípios estão calcados principalmente na fidelidade e na
disposição de permanecer firme na postura ética e moral que adotou quando
do seu ingresso na Ordem. Assim, ser um Cavaleiro do Oriente, significa seguir
o exemplo de Zorobabel, que mesmo pressionado pelo rei persa para revelar
os segredos da Irmandade, não entregou seus Irmãos, não revelou os
segredos da Ordem, não compactuou nem se acovardou ante o ataque dos
inimigos e prosseguiu, impassível, na resolução que tomou.
Assim deve ser o maçom. Uma vez tomada a resolução de “reconstruir o
templo interno do seu espírito”, essa disposição não deve ser jamais
abandonada. Deve empreendê-la com a coragem de um Cavaleiro de Cristo e
a fé de um israelita. E sobretudo, crer que sua fé, seu zelo, fidelidade e
coragem serão afinal recompensados.
_______________________________________________________________
Extraído do Livro "Conhecendo a ARTE REAL", ED. MADRAS, SÃO PAULO,
2007

Você também pode gostar