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Introdução

O termo divisão do trabalho é encontrado em estudos oriundos de


diversas áreas do conhecimento, como a economia, a sociologia, a
antropologia, a história, a saúde, a educação, dentre outras, e tem sido
utilizado com diversas variações. Em termos genéricos refere-se às diferentes
formas que os seres humanos, ao viverem em sociedades históricas, produzem
e reproduzem a vida.

“A divisão do trabalho na sociedade se processa através da compra e


venda dos produtos dos diferentes ramos de trabalho, a conexão dentro da
manufatura, dos trabalhos parciais se realiza através da venda de diferentes
forças de trabalho ao mesmo capitalista que as emprega como força de
trabalho coletiva. A divisão manufatureira do trabalho pressupõe concentração
dos meios de produção nas mãos de um capitalista, a divisão social do
trabalho, dispersão dos meios de produção entre produtores de mercadorias,
independentes entre si (MARX, 1989, p.407 - Grifo nosso).”

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Divisão social do trabalho

A expressão ‘divisão social do trabalho’ tem sido usada no sentido


cunhado por Karl Marx (1818-1883) e também referendada por autores como
Braverman (1981) e Marglin (1980) para designar a especialização das
atividades presentes em todas as sociedades complexas, independente dos
produtos do trabalho circularem como mercadoria ou não. Designa a divisão do
trabalho social em atividades produtivas, ou ramos de atividades necessárias
para a reprodução da vida. Marx, em O Capital (1982), diz que a ‘divisão social
do trabalho’ diz respeito ao caráter específico do trabalho humano. Um animal
faz coisas de acordo com o padrão e necessidade da espécie a que pertence,
enquanto a aranha é capaz de tecer e o urso de pescar, um indivíduo da
espécie humana pode ser, “simultaneamente, tecelão, pescador, construtor e
mil outras coisas combinadas” (Braverman, 1981, p. 71). Essa capacidade de
produzir diferentes coisas e até de inventar padrões diferentes dos animais não
é possível ser exercida individualmente, mas a espécie como um todo acha
possível fazer isso, em parte pela divisão do trabalho.

“A divisão social do trabalho é aparentemente inerente característica do


trabalho humano tão logo ele se converte em trabalho social, isto é, trabalho
executado na sociedade e através dela” (Braverman, 1981, p. 71-72). A
produção da vida material e o aumento da população geram relação entre os
homens e divisão do trabalho. Os vários estágios da divisão do
trabalho correspondem às formas de propriedade da matéria, dos instrumentos
e dos produtos do trabalho verificados em cada sociedade, nos diversos
momentos históricos (Marx, 1982).

A divisão do trabalho sempre existiu. Inicialmente, dava-se ao acaso,


pela divisão sexual, de acordo com a idade e vigor corporal. Com a
complexidade da vida em sociedade e o aprofundamento do sistema de trocas
entre diferentes grupos e sociedades, identifica-se a divisão do trabalho em
especialidades produtivas, designada pela expressão ‘divisão social do
trabalho’ ou divisão do trabalho social. Esta forma de divisão do trabalho ficou

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bem caracterizada na estrutura dos ofícios da Idade Média. Os artesãos
organizados nas guildas, ou corporações de artífices, constituíam uma unidade
de produção, de capacitação para o ofício e de comercialização dos produtos.
Apesar de existir, entre mestres-companheiros-aprendizes, divisão do trabalho,
hierarquia e também atividades de coordenação e gerenciamento do processo
de produção, estas eram diferentes da divisão parcelar do trabalho e da
hierarquia verificada na emergência das fábricas e do modo de produção
capitalista. No artesanato, os produtores eram donos dos instrumentos
necessários ao seu trabalho, tinham domínio sobre o processo de produção,
sobre o ritmo do trabalho e sobre o produto, e também, quase certamente,
havia ascensão a companheiro e muito provavelmente a mestre (Marglin,
1980).

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A unidade de produção e o processo de divisão do
trabalho

A ‘divisão parcelar ou pormenorizada do trabalho, divisão manufatureira


do trabalho ou divisão técnica do trabalho’ é típica do modo de produção
capitalista. Refere-se à fragmentação de uma especialidade produtiva em
numerosas operações limitadas, de modo que o produto resulta de uma grande
quantidade de operações executadas por trabalhadores especializados em
cada tarefa. Surge em meados do século XVIII com a manufatura e caracteriza
o sistema de fábricas. O capitalismo industrial começa quando um grande
número de trabalhadores é empregado por um capitalista (Braverman, 1981).
Inicialmente, o processo de trabalho era igual ao executado na produção
feudal, no artesanato nas guildas (vidreiros, padeiros, ferreiros, marceneiros,
boticários, cirurgiões). O domínio do processo estava com os trabalhadores. Ao
reuni-los, seja nas guildas seja na oficina capitalista, seja no hospital, surge o
problema da gerência. Para o próprio trabalho cooperativo já era necessário:
ordenar as operações, centralizar o suprimento de materiais, registro de custos,
folha de pagamentos etc. No capitalismo industrial manufatureiro, os
trabalhadores ficam especializados em parcelas (tarefas/atividades específicas)
do processo de produção dentro de uma mesma especialidade produtiva, e o
controle do processo passa para a gerência.

Essa mudança tem como consequência para os trabalhadores a


alienação e para o capitalista constitui-se em um problema gerencial. Esse
fenômeno é qualitativamente diferente da ‘divisão social do trabalho’ na
sociedade que foi explicada, inicialmente, pela clássica análise de Adam Smith
(1723-1790), no An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations
(A Riqueza das Nações) a respeito do processo de produção em uma fábrica
de alfinetes. A análise deste fenômeno de fragmentação do processo de
produção foi mais bem qualificada com os estudos de Charles Babbage (em
On the Economy of Machinery, de 1832) ao acrescentar que essa forma
de divisão do trabalho não apenas fragmenta o processo permitindo um

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aumento da produtividade como também hierarquiza as atividades, atribuindo
valores diferentes a cada tarefa executada por diferentes trabalhadores ou
grupo de trabalhadores específicos. Assim, aumenta a produtividade não só
pelo aumento numérico dos produtos em uma determinada unidade de tempo
como também aumenta a produtividade diminuindo o custo da força de trabalho
comprada pelo capitalista.

A emergência da ‘divisão parcelar do trabalho’ que muitos autores


denominam ‘divisão técnica do trabalho’ (Abercrombie, Hill & Turner, 2000)
ocorre no bojo de um processo mais amplo de mudanças, no qual se
destacam: a apropriação capitalista dos meios de produção (força de trabalho,
objetos de trabalho e instrumentos); a associação de diversos trabalhadores
em um mesmo espaço físico, onde cada um desenvolve uma tarefa específica,
e o produto só é obtido como resultado do trabalho coletivo, ou, nas palavras
de Marx (1980), o produto resulta de um trabalhador coletivo; a modificação do
papel da gerência para o de controle do processo e da força de trabalho; e a
expropriação do trabalhador do produto do seu trabalho. Opera-se uma divisão
entre trabalho manual (que transforma o objeto) e intelectual (a consciência
que o trabalhador tem sobre o trabalho), separa-se concepção e execução.

O gerente controla o trabalho dos outros organizando o processo de


trabalho com vistas a tirar o maior resultado possível. Gerência, como
organização racional do trabalho no modo capitalista de produção, envolve o
controle do processo de trabalho e do trabalho alienado, isto é, da força de
trabalho comprada e vendida. A função da gerência, que no início do
capitalismo é desenvolvida pelo proprietário do capital, passa a ser exercida
por trabalhadores contratados, que, ao mesmo tempo, são empregados e
empregadores de trabalho alheio, recebem melhor remuneração que os
demais, representam e se articulam com os proprietários do capital, controlam
o trabalho dos outros e organizam o processo de trabalho visando ao lucro
(Braverman, 1981). O principal teórico da gerência aplicada ao modo de
produção capitalista é Frederick Winslow Taylor (1856-1915) que formula o que
chamou de ‘princípios da gerência científica’, incluindo a separação entre

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concepção e execução do trabalho; a separação das tarefas entre diferentes
trabalhadores; e o detalhamento da atividade de modo que a gerência possa
controlar cada fase do processo e seu método de execução, buscando obter
maior produtividade do trabalho.

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A força de trabalho e as condições de trabalho

Por força de trabalho entende-se a capacidade possuída pelo conjunto


de indivíduos que participam no decurso do processo económico, detentores
das capacidades físicas e mentais já existentes no corpo humano ou adquiridas
através da experiência e da formação de base acumulada de geração em
geração, e que o homem põe em movimento ao produzir valores de uso.

O uso da força de trabalho é a condição fundamental do processo


produtivo em qualquer sociedade. O dispêndio de força de trabalho tem como
objetivo o trabalho concreto, ou seja, a produção de valores de uso
previamente definidos. No processo de produção, o homem não só atua sobre
a natureza que o rodeia, como atua no sentido de desenvolver os seus hábitos
e experiência de trabalho.

A capacidade produtiva do trabalho depende duma série de fatores,


entre os quais se encontram o grau médio de agilidade do trabalhador, o nível
das aplicações práticas do progresso da ciência e da tecnologia, a organização
social do processo de produção, a divisão técnica do trabalho, o volume e a
eficácia dos meios de produção, a formação profissional, as condições naturais
e muitos outros fatores. Estes fatores não atuam de igual modo nas distintas
estruturas económico-sociais e a sua ação é determinada pelas relações
sociais existentes.

A produção de força de trabalho consiste na sua própria reprodução ou


conservação. Historicamente, o homem enriquece a sua experiência graças ao
conhecimento que vai absorvendo, mesmo que seja empírico. Aprende a
compreender determinados comportamentos das forças naturais e vai
aperfeiçoando a técnica produtiva. Os hábitos adquiridos no trabalho são
também fatores que melhoram o nível dos seus conhecimentos e afetam a
produtividade. Os indivíduos empregam a experiência acumulada pelos seus
antepassados e são influenciados pelas condições do ambiente social da sua
época.

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O carácter do trabalho e a forma como o trabalho se vincula com os
meios de produção dependem do modo de produção dominante. No modo de
produção próprio ou autónomo, o pequeno agricultor, pastor ou artesão utiliza a
sua força de trabalho na produção destinada ao seu consumo, ao pagamento
de tributos ou à incorporação nos produtos que pretende trocar. No modo de
produção capitalista, a necessidade mais imediata do “trabalhador livre”,
indispensável à sua sobrevivência, é a venda da sua força de trabalho,
procurando valorizá-la e reproduzi-la.

A força de trabalho só se pode considerar mercadoria quando é


negociável. Neste caso, as capacidades de trabalho são adquiridas e vendidas
tal como as mercadorias que possuem um valor de uso ou um valor, ficando o
homem reduzido a uma coisa. As condições necessárias para que a força de
trabalho se converta em mercadoria são:

1. A possibilidade do indivíduo dispor livremente da sua força de


trabalho;

2. A carência de meios de produção no que respeita ao trabalhador;

3. A necessidade do trabalhador vender a sua capacidade de trabalho


para obter os meios de subsistência.

O valor da força de trabalho é determinado pelo valor dos meios de vida


indispensáveis para manter a normal capacidade de trabalho do seu possuidor,
o sustento da sua família e os gastos da sua aprendizagem. Tal como o de
qualquer outra mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho necessário
para a sua produção ou reprodução, ou seja, para a conservação dos seus
detentores. Quando este valores se alteram com o avanço das forças
produtivas e o desenvolvimento da sociedade, o valor da força de trabalho
muda também de magnitude. À medida que a produção progride regista-se
uma tendência geral para que se eleve o nível das necessidades do
trabalhador e aumento do valor da força de trabalho. As diferenças no
desenvolvimento económico dos países, originadas pelas suas particularidades

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nacionais e históricas, assim como pelas condições ambientais, dão origem a
que o valor da força de trabalho apresente diferenças substanciais entre eles.

Quando a força de trabalho se assume como mercadoria, o


aparecimento do dinheiro facilita e desenvolve o sistema de trabalho
assalariado. No ato de compra e venda da força de trabalho, esta está sujeita
como qualquer outra mercadoria a um valor de troca e, portanto, à lei da oferta
e da procura. O comprador tem assim interesse em que exista uma ampla
oferta para situar o respectivo preço abaixo do seu valor real. A redução do
preço dos produtos necessários à reprodução da força de trabalho traduz-se
numa redução do seu valor.

A mercadoria “força de trabalho” precisa de se mostrar disponível em


quantidades adequadas nos lugares onde for necessária e, para isso, a
mobilidade da população trabalhadora surge como condição essencial. É com
o aparecimento no mercado da força de trabalho que se instaura
verdadeiramente a produção capitalista e a sua forma específica de excedente,
a mais-valia. A possibilidade da sua acumulação e a necessidade do seu
investimento produtivo inscrevem-se na própria lógica do sistema capitalista.

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Conclusão
Pode-se concluir que o trabalho, sendo uma característica inerente ao
ser humano, sempre foi implementado e estudado pelo mesmo. O homem
busca formas de adaptar o trabalho aos seus interesses e com o passar do
tempo foi buscando maneiras de aumentar a produtividade, como a divisão do
trabalho e a unidade de produção. E é provável que este fato não mude e que
assim como fez no passado, o ser humano desenvolva novas maneiras de
utilizar a força de trabalho de maneira cada vez mais eficiente e mais
conveniente para si mesmo.

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Referências bibliográficas

http://www.nodo50.org/cubasigloXXI/congreso08/conf4_rodriguesd.pdf

http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.html

www.eumed.net/libros-gratis/2008a/372/FORCA%20DE%20TRABALHO.htm

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