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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU)

Faculdade de Educação (FACED)


Curso: Pedagogia
Disciplina: Sociedade, Trabalho e Educação
Docente: Profa. Dra. Joelma L. V. Pires

BERNARDO, João. O que é o capital? Capital, sindicatos e gestores. São Paulo:


Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1987.

- O capital não é dinheiro, nem ações, nem quaisquer outros tipos de propriedade, nem
instalações ou máquinas. Nada disso é capital; quando muito, são símbolos ou
expressões do capital

- O dinheiro, as ações, as máquinas, a matéria-prima só funcionam como capital


enquanto os trabalhadores se comportam como proletários

- O capital não é bem material, nem símbolo monetário mas, fundamentalmente, uma
relação social. Conseguir enquadrar a força de trabalho num sistema em que se lhe
extorque mais-valia, conseguir controlá-la durante esse processo de produção – é
isso o capital. Não há organização capitalista possível do processo de trabalho se a
classe operária não for submetida à disciplina do capital. O controle sobre a classe
operária é o fundamento do capital

- No processo de desenvolvimento do capitalismo dos sindicatos eles se converteram


em patrões capitalistas precisamente na medida em que foram agentes ativos do controle
da força de trabalho e da sua manutenção no interior dos quadros deste modo de
produção. Na via tradicional de desenvolvimento do capitalismo dos sindicatos, as
contribuições e cotizações dos trabalhadores não são empregadas para fomentar uma
atividade geral anticapitalista. Os sindicatos obtêm capital na precisa medida em que
revelam a sua capacidade de controlar a força de trabalho, levando-a a aceitar reduções
salariais, remodelação das normas de trabalho e toda uma exploração agravada. Esse
controle é o capital. Aquilo que os trabalhadores deixaram de ganhar constitui o capital
de que os sindicatos se apropriam. Ou seja, é a capacidade que revelam de levar os
trabalhadores a produzir um excedente de mais-valia que fundamenta, para os dirigentes
sindicais, a sua participação no capital

- Nas épocas em que a interrelação das unidades produtivas era ainda reduzida, era
também elevada a diferenciação recíproca dos capitalistas. Assim como as empresas
estavam, no processo de produção, relativamente isoladas umas das outras, também
prevalecia entre os capitalistas de cada uma delas um relativo isolamento mútuo. Era a
fase de predomínio da burguesia e a apropriação particularizada do capital constituía,
então, a forma mais importante. Essa propriedade capitalista particular, em que um
patrão burguês pode referir-se à sua empresa como sendo dele, resultava do fato de o
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processo global de produção não estar ainda suficientemente integrado. A partir do


momento em que a integração começou a prevalecer sobre o caráter particularizado de
cada unidade produtiva, a burguesia declinou e os gestores afirmaram-se como a mais
importante classe capitalista. Desde há várias décadas, os limites de uma unidade de
produção ou de uma empresa não podem mais estabelecer-se claramente; cada empresa,
cada unidade produtiva inter-realciona-se hoje com as restantes e o decisivo não é já o
caráter particular de cada uma, mas a teia em que se integram. Para além de toda a sua
diversidade, o processo de produção globalizou-se à escala mundial. Por isso, hoje, os
mais importantes títulos à propriedade do capital não são os particulares, mas os
coletivos. Quer isto dizer que é na medida em que os dados capitalistas se relacionam
com aspectos centrais do processo produtivo que detêm uma cota-parte na propriedade
global do capital. Essa propriedade não se restringe hoje ao âmbito de empresas
isoladas, passa pelo processo de produção enquanto totalidade, por isso a sua forma é
coletiva ao conjunto dos capitalistas, e não particularizada por cada um. É na medida em
que o gestor participa na organização do processo global de produção que ele é um dos
proprietários coletivos do capital.

MARX, Karl. Da manufatura à fábrica automática. In: GORZ, André. Crítica da divisão
do trabalho. Tradução de Estela dos Santos Abreu. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1996.

- O mecanismo específico do período manufatureiro é o próprio trabalhador coletivo –


que é a composição de muitos trabalhadores parciais

- Quando as diferentes operações são separadas, isoladas e tornadas independentes, os


operários são distribuídos, classificados e agrupados segundo suas aptidões específicas.
Se suas peculiaridades naturais são a base sobre a qual vem implantar-se a divisão do
trabalho, desenvolve a manufatura, ao ser introduzida, forças de trabalho que, por sua
natureza, só são capazes de certas funções restritas. O trabalhador coletivo possui assim
todas as capacidades produtivas no mesmo grau de virtuosidade e emprega-se ao mesmo
tempo, do modo mais econômico, pela ampliação de todos os seus órgãos –
individualizados seja em cada um dos trabalhadores, seja em grupos de trabalhadores –
em funções bem específicas. Quanto mais incompleto e até imperfeito for o
trabalhador parcial, mais será ele perfeito como parte do trabalhador coletivo

- Como as diferentes funções do trabalhador coletivo são mais ou menos simples ou


complexas, inferiores ou superiores, seus órgãos – as forças de trabalho individuais –
exigem diferentes graus de desenvolvimentos, e possuem portanto valores diferentes. A
manufatura desenvolve por isso uma hierarquia de forças de trabalho, à qual
corresponde uma escala de salários
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- A manufatura, sempre que toma conta de um ofício, produz uma classe de


trabalhadores considerados sem destreza, que os ofícios excluíam impiedosamente

- Ao lado da gradação hierárquica, temos então a divisão dos trabalhadores em hábeis e


inábeis. Para estes últimos, as despesas de aprendizagem desaparecem; para os
primeiros, elas diminuem – comparadas às dos artesãos – por causa da simplificação das
funções. Em ambos os casos o valor da força de trabalho diminui

- A depreciação relativa da força de trabalho, que resulta do desaparecimento ou da


diminuição das despesas com aprendizagem, acarreta para o capital aumento imediato
da mais-valia

- A manufatura propriamente dita submete o trabalhador, outrora independente, às


ordens do capital; mas, além disso, cria uma gradação hierárquica entre os próprios
trabalhadores. A manufatura desenvolve uma hierarquia das forças de trabalho, à qual
corresponde uma escala de salários

- A divisão do trabalho imprime no trabalhador de manufatura um cunho que o consagra


como propriedade do capital

- Os conhecimentos, a inteligência e a vontade que o camponês ou o trabalhador


independente desenvolvem só são exigidos agora para o conjunto da oficina

- “A mente da maioria dos homens, diz A. Smith, desenvolve-se necessariamente de e


por suas ocupações costumeiras. Um homem que passa toda a vida a executar algumas
operações simples não tem oportunidade de usar a inteligência ...”. Smith continua: “A
uniformidade de sua vida estacionária corrompe-lhe naturalmente também a coragem...

- Para impedir o definhamento completo da massa operária, resultante da divisão do


trabalho, A. Smith recomenda a instrução popular obrigatória, mas em doses restritas,
homeopáticas

- Toda produção capitalista, como geradora não só do valor, mas também da mais-valia,
tem esta característica: em vez de dominar as condições de trabalho, o trabalhador é
dominado por elas; mas essa inversão de papéis só se torna real e efetiva, do ponto de
vista técnico, com o emprego das máquinas. O meio de trabalho tornado autômato
ergue-se, durante o processo de trabalho, diante do operário sob a forma de capital, de
trabalho morto, que domina e explora a força de trabalho viva

- O ajustamento dos operários a cada operação particular constitui a essência da divisão


do trabalho
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- O cientista e o operário produtivo estão completamente separados; e a ciência, ao


invés de aumentar, entre as mãos do operário, as forças produtivas deste último e de
fazer com que delas tire proveito, está, por quase toda parte dirigida contra ele

- Ferguson chega a dizer: “A arte de pensar, num período em que tudo está separado,
pode formar em si mesma um ofício à parte”

- É evidente que o período da grande indústria aumentou consideravelmente esse


catálogo das doenças do operário

- “A escravidão a que a burguesia reduziu o proletariado manifesta-se com a máxima


clareza no sistema de fábricas. Nele acaba toda a liberdade – de direito e de fato”

- E os operários são condenados a viver dos nove anos até a morte, sob a palmatória,
tanto física quanto intelectualmente.

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