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Organização do processo de trabalho
ciais visando a sua melhor integração ou adaptação ao balho utilizados, e subsídios para a elaboração de políti-
processo de trabalho), até as mais recentes formas de rea- cas de emprego e para as negociações trabalhistas, contri-
grupamento das etapas do processo de trabalho (job-enri- buindo na busca do equilíbrio das forças sociais envolvi-
chment ou job-enlargement, grupos semi-autônomos, das.lI!
etc.j'" e de incentivo ao aumento da participação de
trabalhadores nas decisões empresariais (comissões de fá-
brica, delegados sindicais, círculos de controle de quali- 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
dade etc), pode-se perceber a ausência de questionamen-
tos ao aspecto fundamental da natureza das relações de Procurou-se mostrar neste texto, bastante sintetizado, as
trabalho. diversas transformações pelas quais passa o processo de
trabalho na sociedade capitalista, desde os momentos ini-
Assim, não se rompe com Taylor. O objetivo é o ciais de sua constituição como trabalho assalariado, até a
mesmo: dar uma conotação científica à arte de organizar sua total subordinação ao capital, sempre vinculando-se
e comandar. fundamentalmente às necessidades advínddas das pecu-
liaridades de cada fase de desenvolvimento do próprio
As novas formas completam as antigas, ou melhor, sistema.
significam um aperfeiçoamento das relações capitalistas Assim, as formas de vinculação alteram-se, ajustam-
de produção, pois procuram despojá-las do caráter des- se, convertem-se em mais, ou menos, violentas em fun-
pótico de gerenciamento de conflitos através de transfor- ção das características de cada momento, mas sempre
mações: no conteúdo do trabalho (extinção de parte da buscando perpetuar a autoridade do capital sobre o tra-
linha de montagem, recomposição da extrema fragmen- balho. Para tanto, a divisão do trabalho tomou-se cada
tação do trabalho etc.), nas formas de autoridade (dire- vez mais hierarquizada, formalizada e impessoal. As tare-
ção com participação, por objetivos, representação de fas, cada vez mais parcelizadas, fragmentadas; o trabalho,
trabalhadores em diferentes níveis etc.), nos processos desqualificado e alienado. O processo acelera-se aparen-
de integração da força de trabalho (promoção de identi- temente ad infinitum. Do feudalismo ao capitalismo mo-
dade de interesses, esquemas de formação permanente e nopolista foram necessários séculos; da maquinaria aos
de perfil de carreira para todos etc.), e em outros as- robôs, anos. O caráter expansionista do capital assim o
pectos. exige.
É o novo discurso do capital, constituído por novo Surge então a questão: até que ponto estender-se-á
estilo de administração capitalista, que se atualiza em essa dominação do capital sobre o trabalho? E mais: que
função das necessidades impostas em cada etapa de acu- modalidades ainda será capaz de assumir?
mulação do capital e em cada estágio das forças produ-
tivas.
Verificou-se que o processo de produção toma-se
As alterações então ocorrem à medida que a organi- cada vez mais mecanizado e, mesmo, automatizado. Mas,
zação repressiva do trabalho passa a se constituir em obs- em paralelo, e como conseqüência, o antagonismo entre
táculo à ampliação crescente da produtividade, em fun- as classes envolvidas exacerba-se. Para contorná-lo e ga-
ção das condições econômico-sociais específicas dos paí- rantir a dominação são usadas novas formas de domina-
ses ocidentais em seus respectivos estágios de industria- ção. O chicote das primeiras fases é substituído pela sala
lização.
do psicólogo nas grandes empresas (pergunta-se: qual o
Dependem, ainda, da configuração assumida pela mais apavorante?). As técnicas do taylorismo são substi-
correlação de forças existentes entre as classes sociais, tuídas pelas modernas práticas de aparência democrática,
das tecnologias utilizadas pelo capital e da forma de legi- pretensamente participativas e de cunho social.
timação por ele proposta; mas nunca questionam real- Mudam os métodos de sujeição; muda até mesmo a
mente as bases que alicerçam o modo de produção capi- percepção que os trabalhadores deles têm, mas o objeti-
talista. Enfim, significam adaptações dos processos de vo continua o mesmo. Negocia-se tudo, menos esse pon-
trabalho na produção em massa às novas condições de to, vital que é, para a própria manutenção do sistema ca-
controle da força de trabalho e às novas necessidades im- pitalista: a natureza das relações de trabalho, isto é, a
postas pela configuração da estrutura de produção inter- dominação do capital objetivando o crescimento da pro-
nacional, e, portanto, às novas condições de reprodução dutividade e a ampliação da acumulação.
da dominação do capital, objetivando a continuidade do
processo de acumulação na fase da produção em série e Se as aspirações do trabalhador mudam, se evoluem
da produção por processamento contínuo. em função de sua forma de organização e participação
Assim, nas palavras de Braverman. "A necessidade nos órgãos de classe, busca-se adequá-los ao trabalho,
de ajustar o trabalhador ao trabalho em sua forma capi- através das modemas técnicas de gerenciamento que es-
talista, de superar a resistência natural intensificada pela camoteiam a subordinação. Enfatizá-se, assim, na atuali-
tecnologia mutável e alternante, relações sociais antagô- dade, mais que nunca, o papel social da empresa.
nicas e a sucessão de gerações, não termina com a 'orga- Mas a questão contínua, Qual será o perfil da organi-
nização científica do trabalho', mas se toma um aspecto zação produtiva com a introdução cada vez mais acelera-
permanente da sociedade capitalista. ,,17 da da automação? Se o trabalho morto avança mais e
Com esse objetivo, escolas e teorias de administra- mais sobre o trabalho vivo, liberando trabalhadores, para
ção têm-se sucedido, no transcorrer deste século, com o onde estes irão? A reciclagem, as novas funções, que o
sentido de instrumentalizar o capital, fornecendo-lhe téc- próprio avanço da tecnologia cria, serão suficientes para
nicas administrativas que possibilitem melhor controle e absorvê-los, se elas próprias poderão ser rapidamente au-
rendimento dos processos de produção e da força de tra- tomatizadas também? E note-se que não é apenas o setor
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secundário que apresenta semelhante tendência; os seto- Afmal, a redundância do trabalho vivo e sua divisão
res primário e terciário jáevidenciam sinais crescentes de técnica estão, mais que nunca, presentes e associadas a
automação. Incumbir-se-iam, então, as micro, pequenas uma crescentemente aprofundada divisão social do tra-
e médias empresas da função de intensificar a absorção balho.
de mão-de-obra? Ou a liberação do trabalho configurar-
se-ia na redução da jomada de trabalho e na ampliação
do lazer?
12 Em conferência pronunciada para um auditório constituído UI Neste sentido, inúmeros autores, além dos já mencionados,
por operários, em 1937, na França e publicada sob o título "A têm analisado, com muita pertinácia, as formas de organização
racionalização", no livro de Bosi, Ecléa, org. Simone Weil - a dos processos de trabalho no sistema capitalista, tais como:
condição operária e outros estudos sobre a opressão. Rio de Ja- Friedman, G. O trabalho em migalhas. S. Paulo, Perspectiva,
neiro, paz e Terra, 19.19 p. 119. 1983; Gorz, A. O depotísmo de fábrica e suas conseqüências, e
Pignon, D. & Querzola, J.A. Ditadura e democracia na produção.
13 Id. ibid. p. 125. In: Critica do divisão do trabalho. São Paulo, Martins Fontes,
1980; Laino, A. Controle fabril: poder e autoridade do capital.
14 Id. ibid. p. 121. Petrópolis, Vozes, 1983; Motta, Fernando C.P. Participação e
co-gestão - novas formas de administração. S. Paulo, Brasiliense,
1S Linhart, R. Lenine, os camponeses e Taylor. Lisboa, Iniciati- 1982; Palloix, C. O processo de trabalho: do fordismo ao neofor-
vas Editoraiais, 1977. p. 89. dismo e Sohn-Rethel, A. A economia dual da transição. In: Er-
ber, F.S., org. Processo de trabalho e estratégias de classe. Rio
16 Técnicas que vêm sendo utilizadas recentemente em vários de Janeiro, Zahar, 1982; Tragtenberg, M. Administração, poder e
países, principalmente nos mais industrializados, em empresas ideologia. São Paulo, Moraes, 1980.
que produzem sob a forma de linha de montagem e que consis-
tem, basicamente, na ampliação e no rodízio das tarefas dos ope- 19 Marx, Karl. op. cito v.l, t.2, capo 13, p, 43-4.
rários.
DE OLHO
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