Você está na página 1de 49

A Questão Social, da Cultura e

do Trabalho Diante da Velhice

Partindo da análise da cultura, há várias formas de conceituação e de sua compreensão que


respondem com a intencionalidade da percepção teórico-política.

As diversas tentativas de definição de Cultura tendem à:


 Generalizações: estabelecem como padrões totais de uma sociedade ou se referem a
alguns aspectos de conteúdos genéricos.
 Particularizações: centram-se em padrões individuais ou grupais de comportamentos
 Inter-relações: buscam concebê-la como um movimento dinâmico potencializado pelas
relações sociais.

Histórico - hereditariedade social / tradição social


CULTURA Modo de Vida - condutas/idéias normativas
Estrutural - processos historicamente compartilhados

Autores como Paoli e Chauí - nos apresentam a dimensão da cultura, com todos os elementos
que a compõem: o simbólico, as regras, os comportamentos, os hábitos.

Como um movimento de mão dupla em que cultura dominante e a cultura popular se resgatam
(o passado versus presente) a se redefinirem a partir do diálogo (negociações) entre os vários
segmentos que compõem os diversos grupos (e suas diversidades) que irão construindo,
organizando, e possibilitando: novas compressões, novos espaços e novas identidades.

Entre essas - novas - dimensões situamos a Velhice = Nova Identidade na sociedade


contemporânea.

Ser Velho na atualidade, contudo, é tornar-se um outro - o excluído - incorporando ou em que


incorpora o estereótipo do improdutivo e o de desprezível.

Pode-se afirmar, seguramente, que:


 ser velho e pobre alvo de mais exclusão;
 ser trabalhador pobre, negro e mulher ... etc alvo de múltiplas exclusões

São assim, idéias e ações, de tal modo que o sujeito assimila para si o próprio estereótipo.

Serafim Fortes Paz 1/47


Tomemos como exemplo a situação dos trabalhadores quês e conformam cada vez mais com
as formas de opressão ou alienação no mundo de trabalho.

"se pode mesmo afirmar que a classe – que – vive – do trabalho sofreu a mais aguda crise
deste século, que atinge não só a sua materialidade, mas teve profundas repercussões na sua
subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento destes níveis afetou a sua forma de ser”
Antunes

ou

“O corpo é tido como feixe de forças a serem direcionados a utilidade econômica, justamente
com a sujeição. Um corpo que deve ser transformado sempre em corpo produtivo e corpo
submisso, dócil pelas relações e condução do trabalho.”
Focault

ou ainda:

“afetam diretamente o operariado industrial, acarretando metamorfoses no Ser do trabalho. A


crise atinge também intensamente, como se evidencia, o universo da consciência, da
subjetividade do trabalho, das suas formas de representação. (...) "a classe social é a posição
ocupada pelos sujeitos nas relações objetivas de trabalho"
Antunes

No entanto: "o trabalho mostra como momento fundante de realização do ser social, condição
para sua existência; é o ponto de partida para a humanização do Ser social."
Antunes

Nas sociedades contemporâneas, "o tempo de trabalho é o tempo tornado labor" (...) “O
trabalhador experimenta outro sentimento onde faz-se presente tanto um lamento quanto uma
reivindicação não dita pelo trabalhador: a ser tido e visto em sua humanidade em relações e
condições de trabalho que não dilapidem e dissipem as forças vitais de seu corpo e ser”.
H. Arent

Serafim Fortes Paz 2/47


EXCLUSÃO SOCIAL

IDADE BIOLÓGICA – MERCADO DE TRABALHO – RELAÇÕES SOCIAIS

40 anos – Limites na inserção ao mercado – (velhos para produção)

25, 30, 35 ... são idades limites para determinadas funções.

Quanto mais elevada a idade maiores as limitações: quando ocorre, em geral, se dá de forma
precária (sem garantias e para postos inferiores e com menores salários.

Diferenças quanto ao nível sócio econômico – sujeitos pertencentes a famílias de renda mais
elevada tiveram e continuaram tendo melhores chances e oportunidades diferentes.

Se a idade é imposição para ocupação, os mais velhos – vivem mais sozinhos – maiores
dificuldades

A grande maioria é responsável por sua própria sobrevivência e, também, pela manutenção
das famílias – dados estatísticos (IBGE, IPEA, etc) mostram que mais de 50% dos idosos com
renda 01 salário mínimo são provedores das famílias.

Muitos, quando aposentados, retornam para atividades de trabalho (bicos, subempregos, etc)
como complementação da renda da aposentadoria (para fugir da pauperização ou para
sobrevivência)

Menor chance de escolarização – incompetentes para trabalho mais especializados.

Ex. Idoso contratado como Papai Noel no shoping de São Paulo que vem a morrer em razão do
peso das pedras colocadas no “saco” em suas costas para que assim pudesse demonstrar mais
“veracidade” ao personagem.

DUPLA, TRIPLA ou MULTIPLAS EXCUSÕES SOCIAIS

Mulheres - Negros - Deficientes - Analfabetos (Chances menores)

Outros aspectos determinantes


 modelos econômicos;
 políticas de proteção ao capital a ao mercado financeiro;
 introdução acelerada de novas tecnologias;
 desemprego, redução de quadros a postos de trabalho;
 falta de investimentos na educação, saúde, moradia, transporte;
 mercado informal crescente;
 contratos de trabalho temporário;
 quebra de direitos e diminuição das garantias sociais ao trabalhador;
 permanente ameaça a Aposentadoria Pública e a remuneração digna; (diminuição
gradativa, cobrança da aposentadoria pós-aposentado)
 desigualdades a injustiças sociais;

dentre outros.

Serafim Fortes Paz 3/47


São, assim, fatores determinantes na diminuição das Possibilidades reais de se inserir jovens e
adultos, o que dirá trabalhadores com idades mais avançada.

AS FACES DA EXCLUSÃO SOCIAL

"Uma Coisa Puxa Outra":


“a violência ou os elementos de representação social que interagem a se interpenetram - faces
da discriminação;”
Anulação do sujeito trabalhador - asilamento, isolamento a abandono - faces da negação;
Condenados ao esquecimento: coisificação, negação à violência - faces da exclusão social
"... ou a imagem sublimada [..j de sábios aureolados de cabelos brancos, dotados de ricas
experiências, veneráveis, [.. j
[ou a figura oposta] do velho doido, gagá, caduco, objeto de mofa a zombaria " .
Walter Benjamin

RELAÇÕES E CONDIÇÕES DE TRABALHO

"O tempo do trabalho é o tempo tornado labor".


Hannah Arendt
de poder
Corpo = objeto do regime econômico: de produção
de reprodução

Subjetividades - Corpo e Alma estão sujeitados aos desígnios do sistema sócio-econômico =


onde os sujeitos (trabalhadores) acabam por se reconhecer e a incorporar emprego como
trabalho e salário como resposta – assimilando-se como trabalhadores assalariados.

Sujeição e Alienação:

"Um corpo que deve ser transformado sempre em corpo produtivo e corpo submisso, dócil
pelas relações e condições de trabalho"
Michel Foucault

VELHICE = Registro desse tempo de labor

As forças vitais dissipadas e dilapidadas - esgotam o corpo e o Ser.


Torna-se um ser descartável, supérfluo a improdutivo.
Onde a sociedade a os sujeitos reproduzem a idéia da inutilidade
E o sistema produtivo capitalista necessita da renovação a da força do jovem.

"Ser velho numa sociedade capitalista. É sobreviver. Sem projeto, impedido de lembrar e de
ensinar, sofrendo as adversidades de um corpo que se desagrega à medida que a memória
vai-se tornando cada vez mais viva, a velhice, que não existe para si, mas somente para o
outro. E esse outro é um opressor."
Marilena Chaui

Serafim Fortes Paz 4/47


PERSPECTIVAS

Para alterar esse quadro é preciso re-pensar e buscar reverter as condições sociais de vida e
de trabalho, tanto para aqueles que envelhecem quanto para os que já envelheceram.

Isto exige necessária e profundas transformações sociais, em especial, nos encaminhamentos


políticos a econômicos da nossa sociedade.

Com
 Maior Participação Social;
 Fortalecimento da Organização Social a Política dos Trabalhadores Aposentados;
 Maior organização dos idosos em geral.
 Alianças sócio-políticas nos diversos campos a outros setores da sociedade, em especial
com os demais trabalhadores a sindicatos;
 Maior convívio e qualidade nas relações intergeracionais (dentro e fora da família.

Desse modo, requer


 expandir a cidadania;
 garantir a plena aposentadoria pública;
 maiores investimentos em políticas públicas;
 incentivos aos programas sociais públicos; e,
 maior empenho social pela dignidade do Ser Idoso.

Afinal O Que Seria do Mundo Sem a Utopia – O Sonho - Pois, No Mundo Nada Está Terminado,
Nada Está Dado, “ Tudo Está Por Criar”

Como nos diz o poeta/compositor Milton Nascimento


O sonho é belo,
pois tudo ainda faremos
nada está no lugar
tudo está por pensar
tudo está por criar

Espelho, espelho meu...: Elementos da cultura, da imagem e do imaginário Social do Idoso 1


Uma imagem vale mais que mil palavras" 2
Eduardo Neiva

1 Este texto está publicado no livro de PAZ, Serafim.Fortes ET alii. Envelhecer com Cidadania: quem sabe um dia?
Rio de Janeiro, ANG/CBCISS, 2000.

2 JÚNIOR, Eduardo Neiva. A Imagem. 2. ed. Série Princípios. Rio de Janeiro: Ática, 1994. p. 7.

Serafim Fortes Paz 5/47


Iniciaremos este percurso exatamente com a imagem poética frente ao Espelho:

Retrato
Cecília Meireles

EU NÃO TINHA este rosto de hoje,


assim calmo, assim triste, assim magro
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?

A representação imagética dos idosos se apresenta, neste momento, como um olhar (uma
leitura preliminar) sobre os caminhos, meios e instrumentos que auxiliam na produção e
reprodução do imaginário social do idoso e da representação social da velhice. Em especial, o
de perceber das imagens de velhos, através dos anos, décadas e séculos, as expressões e
significações construídas na e pela sociedade.

Este texto é parte dos resultados de uma pesquisa iniciada em 1995 e encerrada em 1998.

O tema da imagem sobre o homem-velho estará sendo desenvolvido a partir das


representações, significados e de certos aspectos simbólicos e, de algum modo, se recorrerá à
análise e interpretação de alguns conteúdos e significados.

Segundo Castoriadis, o "imaginário deve utilizar o simbólico, não somente para exprimir-se, o
que é óbvio, mas para "existir", passar do virtual a qualquer coisa a mais". (Castoriadis,
1982).

É, portanto, através da imagem, enquanto apoio e instrumento, que se buscará compreender


os elementos de formação do imaginário social sobre a velhice e, em especial, como se
constitui o conjunto de representações e significações sociais que criam, alimentam ou
reforçam idéias, pensamentos e imagens de velhos que, em geral, atuam no processo de
discriminação social.

Percebemos que tais processos se apresentam, assim, como formas de desrespeito, exclusão e
de violência ao segmento idoso e se mostram presentes no cotidiano e em estreita relação
com a realidade social, e, desse modo, são apropriadas, fomentadas e disseminadas pela
sociedade.

Dentre algumas, se tornam muito comuns as imagens que se dão a partir da distinção e da
qualificação entre os produtivos e os "inativos", os belos e os feios, os bons e os maus.

Assim, é preciso apreender as formas de manipulação, mistificação ou ocultação da realidade


ou de outras formas de discriminação, estereotipização, coisificação – sutis ou explícitas –, que
acabam por delegar aos velhos um lugar ou um não lugar.

Uma espécie de (des)identidade ou a perda dela, que se pode traduzir como meios de
isolamento, asilamento e morte social. (Elias, 1986).

Serafim Fortes Paz 6/47


Com estes recursos e instrumentos, pretende-se uma aproximação de leituras, olhares e de
analisar, imagens visuais e sua dimensão discursiva, nos textos literários, falas e experiências
de sujeitos, e perceber como esse ideário se reproduz socialmente na memória dos homens,
tornando-os objetos ou "coisas" (Mészaros,), fomentando a idéia de inutilidade, incapacidade e
dependência.

Ao lidar com a imagem, nos damos conta de que estas são capazes de reter símbolos
impregnados de inúmeras informações, ou seja, "o simbolismo supõe a capacidade de
estabelecer um vínculo permanente entre dois termos, de maneira que um 'representa' o
outro"; (Castoriadis, 1982).

Ou ainda, como destaca o referido autor:


em três elementos: "significante, significado e seu vínculo"

Esses elementos “são mantidos como simultaneamente unidos, e distintos, uma relação ao
mesmo tempo firme e flexível". (Castoriadis, 1982).

Assim, ao recorrermos a uma documentação ou um registro visual, constatamos que imagens


podem combinar um conjunto de representações e sinais importantes, que não são,
necessariamente, produtos da imaginação, ao contrário, podem sugerir uma estreita relação
entre fantasia versus realidade, ou seja, estão repletos de conteúdos e conhecimentos, de tal
modo que se constituem em unidade e significação de pensamentos e idéias, revelados por
seus elementos e relações ideológicas, buscando não "...camuflar os conflitos e as contradições
que a ideologia esconde...". (Barreto, 1992)

O Trabalho que ora se apresenta traz aspectos da pesquisa mencionada e, também, da


experiência com os sujeitos-idosos do UFF – Espaço Avançado 3, incluindo conteúdos e
interpretações sobre o imaginário social da velhice, e, em especial, lança um olhar sobre a
imagem de velhos, tanto a partir da mitologia da antiguidade, nas artes, nas histórias infantis
(clássicas e modernas), em figuras lendárias (tradicionais), na mídia, em campanhas
publicitárias e outras formas de expressão presentes em nossa sociedade.

Uma atenção especial será dada na interpretação de certos aspectos simbólicos e de


significados, que nos auxiliarão no desvendamento e na compreensão ou, de algum modo,
como uma tentativa de explicar ou suscitar novas questões e reflexões sobre a representação
social da velhice.

Afirma-se, desde já, que imagens e símbolos podem ocultar ou (re)velar significações e,
portanto, informam sobre conteúdos diversos, em especial, a aspectos ideológicos.

Ou seja:

"o simbolismo se crava no natural e se crava no histórico (ao que já estava lá); participa,
enfim, do racional. Tudo isto faz com que haja encadeamentos de significantes, relações entre
significantes e significados, conexões e conseqüências, que não eram visadas nem previstas."
(Castoriadis, 1982)

3 Projeto de Extensão Interdepartamental da Universidade Federal Fluminense, apoiado pela Pró-reitoria de Extensão
e campo de estágio de Serviço Social da UFF, está voltado para aposentados e familiares dos servidores da UFF,
alunos e seus familiares e idosos da região de Niterói e adjacências. Funciona no prédio da Escola de Serviço Social
de Niterói, Salão Térreo do Bloco E, Campus Universitário do Gragoatá, São Domingos, Niterói.

Serafim Fortes Paz 7/47


Nesse sentido, muitas imagens de velhos estão impregnadas de rudimentos do passado,
remoto ou mais recente, atravessando gerações, mantendo ativos e intactos muitos símbolos e
significados de sua origem.

Isto assegura que ao tratar da representação imagética do idoso não se apresenta apenas
como temática oportuna, mas, mostra-se como fundamental, tanto em sua atualidade e,
certamente, como um material de relevância histórica e social, que pode contribuir na
compreensão e desvendamentos da atualidade e da realidade social.

Serve, também, para acompanhar as perspectivas da velhice brasileira e suas tendências


futuras, visto que a imagem é "basicamente uma síntese que oferece traços, cores e outros
elementos visuais em simultaneidade..." 4, desse modo, reflete e corresponde com significados
sobre o real concreto.

Desse modo, se "o simbólico pressupõe o imaginário radical e nele se apóia, isso não significa
que o simbólico seja, globalmente, apenas o imaginário efetivo em seu conteúdo. O simbólico
comporta quase sempre, um componente 'racional-real': o que representa o real o que é
indispensável para o pensar ou para agir". (Castoriadis, 1982).

A imagem, então, se torna um instrumento, um elemento primordial, pois, a partir dela,


poderemos ser capazes de desvendar e compreender uma diversidade de questões que
englobam a visão (em geral estereotipada), do processo de envelhecimento humano, uma vez
que a velhice deve ser compreendida em suas múltiplas inter-relações, presentes no cotidiano
social, e pelas determinações sócio-históricas, pela multiplicidade de situações e/ou problemas
que permeiam as realidades sociais dos homens/mulheres idosos.

Assim como o tema da velhice vem sendo explorado nos últimos anos, o assunto sobre a
imagem de velhos é praticamente novo. E, por isso mesmo, o torna bastante intrigante. Mas,
também, nos dá um certo vigor e uma certeza de uma temática bastante apropriada que pode
auxiliar nos estudos sobre idosos brasileiros e sobre o fenômeno do envelhecimento humano e
populacional num país de vários contrastes e desigualdades.

E é exatamente com essa proposta de “aventura investigativa” e reflexiva que a imagem da


velhice nos traz oportunidades de explicações ou interpretações, que se darão num movimento
dialético, logo repleto de contradições e, por esse caminho, nos propõe a necessária
continuidade e aprofundamentos.

Abordar a realidade imagética da velhice no Brasil ou sobre os aspectos da realidade social de


nossos idosos, obviamente, não será, na maioria delas, uma imagem muito aprazível. Em
particular, no nosso universo de "país em desenvolvimento" ou pertencente à atual
denominação de "países emergentes", em que prevalece e se acentua um quadro
economicamente desigual, no qual grande parte dos idosos (em especial aqueles de baixa
renda), se encontram na pobreza, (na linha da miséria), situando-se em plena exclusão sócio-
econômica (especialmente etária), que os obriga a conviver em sofrimento, à violência e à
discriminação social.

O segmento idoso vem tolerando constantes e permanentes violações aos direitos humanos e
sociais, à sua cidadania social, política e econômica, de forma tão grave, à sua dignidade
humana.

4 JÚNIOR, Eduardo Neiva. opus cit

Serafim Fortes Paz 8/47


Particularmente, amplia-se o desrespeito e a desconsideração aos seus direitos sociais
(trabalhistas), conquistados pela luta dos trabalhadores, principalmente a partir da década de
30 e, hoje, praticamente eliminados pelas atuais Reformas (neoliberais) do Estado.

Nesse sentido, aponta-se, também, a gravidade da incitação à violência provocada pelo


estímulo ao "confronto" (geracional e intraclasses), em que setores dominantes instigam os
trabalhadores (ativos versus aposentados) e/ou de diferentes faixas de idade (jovens versus
velhos).

Por vias escusas ou às claras, em geral, pela ótica capitalista e na propagação ideológica de
que só é produtivo aquele que se encontra ligado diretamente aos meios de produção e
consumo, aposta-se na realização do "confronto" entre trabalhadores “ativos” e trabalhadores
“inativos”.

Tudo isto como resultado de um sistema de relações de produção liderado, em especial, pelos
setores econômicos que em parceria com um Estado, à luz de um modelo social e econômico
(neoliberal), que desenvolve, ou melhor, não desenvolve, ou quando muito, realiza políticas
sociais restritivas e compensatórias.

Estes são alguns dos mecanismos que geram processos de dominação e exclusão sobre a
classe trabalhadora, assim como entre gerações, especialmente entre jovens e adultos, o que
impõem e reforçam, ideologicamente, um tipo de "apartheid" social e etário, que provoca
discriminação e suas mazelas, de forma preponderante, sobre o cidadão-idoso.

Então cabe-nos a pergunta: E de que forma as representações ideológicas que estão na


sociedade materializam essa opressão à velhice?

Uma possível resposta: de variadas formas. Algumas explicitamente perversas, outras


tacitamente aceitas e outras perigosamente veladas.

Se oprime o cidadão idoso quer por intermédio de mecanismos institucionais visíveis e/ou sutis
e quase invisíveis. Também, por mecanismos individuais ou coletivos.

Nesse sentido, tanto o "Homem-velho" com sua auto-imagem quanto a sociedade, sob um
conjunto de representações e idéias, constituem uma "valoração" do jovem-trabalhador
produtivo e discrimina, desvaloriza e exclui o velho-trabalhador-aposentado:

"apagando da Memória do Social a própria trajetória do sujeito trabalhador e do seu trabalho"


(Chauí, 1979).

Nega-se ou anula-se, portanto, uma trajetória - um passado histórico ao idoso.

Impõe à classe trabalhadora (crianças, jovens, adultos e aposentados), em especial aos


idosos, ainda mais isolamento, distanciamento e exclusão social. Desse modo, os velhos
(trabalhadores aposentados) são duplamente atingidos por um "asilamento" etário e social.

Nesse sentido, nossa análise, ao se debruçar sobre a imagem e sua carga simbólica, crivadas
de representações ideológicas, busca auxiliar nesse desvendamento, onde algumas formas e
processos (re)velam conflitos geracionais e/ou de estímulos ao "confronto" intraclasses, que de
algum modo contribuem na manutenção ou reprodução do quadro de dominação, espoliação e
exploração desse segmento.

A Imagem não será tratada aqui como fruto da ficção (imaginação), nem tampouco como
descolada da realidade, mas, ao contrário, buscaremos compreendê-la como resultado de um

Serafim Fortes Paz 9/47


conjunto de significados e representações, formas, elementos e/ou figurações, estreitamente
relacionados com o cotidiano e que, desse modo, se interagem, estando, por isso mesmo,
dotados de unidade e significação social.

Imagens visuais ou textuais estão relacionadas diretamente a palavras, frases, idéias,


pensamentos, atitudes e, por esta razão, estão impregnadas de conteúdos, e reúnem, através
delas, significados que merecem ser interpretados. Logo, uma imagem pode expressar
elementos e símbolos, e, através de sua projeção, pode-nos revelar conhecimento e
conteúdos.

Deste texto, farão parte algumas imagens que, com seus elementos, de alguma forma,
contribuíram ou ainda contribuem para a formação do imaginário social do velho e, na mesma
proporção, contribuem para fomentar a produção ou reprodução de estereótipos sobre o
sujeito velho.

Assim, pode-se perceber que uma infinidade de formas, símbolos e signos ainda estão
presentes na atualidade, e muitos deles percorreram séculos e gerações, impregnados de
valores, fatos, fantasias e imaginação, e que por muitos séculos, décadas e anos, são parte da
realidade dos homens.

Afinal, chega um momento em que, no acúmulo de anos, décadas, séculos e milênios das
civilizações "a história, mitos e lendas se confundem".

Imagens, idéias e imaginário podem estar presentes em diversas formas de expressão da


cultura, como na poesia, por exemplo, onde através das estrofes é possível se remeter a
diversas imagens, como nas Velhas Árvores5, de Olavo Bilac, que exalta um estilo positivo de
enfrentar o envelhecer, muito embora distante da realidade social de muitos idosos:

Velhas Árvores
Olavo Bilac

Olha estas velhas árvores, mais belas


Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem livres de fome e fadiga;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
e os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo
aos que padecem!

5 No simbolismo a árvore é o símbolo da velhice. Por isso vê-se muitas logomarcas de entidades ligadas a diosos
que usam o símbolo da árvore.

Serafim Fortes Paz 10/47


Quantas imagens e idéias se encontram nas estrofes de um poema, numa música, numa
charge, num conto de histórias...

Sfpaz@uol.com.br

Uma das maiores riquezas humanas e a comunicação: em especial a ORAL.

Contos e Fábulas: A Tradição e a Memória

Anterior à invenção da escrita, do papel e da impressão, uma das formas de transmissão do


conhecimento, de informações e de passagem de valores morais, sociais, religiosos e/ou
culturais – as tradições e a memória –, entre os povos antigos 6 se dava oralmente; quer dizer,
através dos chamados narradores (contadores de histórias) e, mais recentemente, pelos
trovadores (espécie de cantores populares).

Na antigüidade, as informações e divulgação dos conhecimentos se constituíam através de


narrativas orais. Os narradores – contadores de histórias ou trovadores – promoviam um meio
de difusão de saber e, também, de transmissão de fatos e situações ocorridos em outros
povos, ou seja, atuavam como um instrumento de difusão cultural. Assim, a narrativa de seus
"contos" preservavam as tradições e a memória social e cultural do grupo.

Com o passar do tempo e as invenções dos últimos séculos, especialmente, com o advento da
escrita e da expansão literária, a comunicação entre povos toma nova dimensão e, desde o
final do século XIX, particularmente nas últimas décadas, uma dessas formas de comunicação
– narrar histórias –, vem sendo substituída por outras "maravilhas tecnológicas", tais como o
rádio e a televisão.

As civilizações do passado, organizadas em aldeias, pequenos povoados e/ou clã familiares,


difundiam entre si e outros povos conhecimento, saber e cultura – de gerações a gerações –
revelando-lhes as tradições, mitos e ideologias. Em geral, se comunicavam por meio das
histórias orais. Os contos e/ou fábulas foram uma dessas formas de difusão e de transmissão
de conhecimentos, ideologias ou de idéias.

Já nos últimos séculos, uma das formas de "contos" e fábulas que ganha corpo e passa a ser
contada e recontada, especialmente para as crianças, são as "narrativas maravilhosas" ou os
chamados contos de fadas ou, simplesmente denominadas "histórias infantis". 7 Forma bastante
expressiva, até em nossa época, as fábulas encantadas se constituem nos "contos de fadas",
repletos de fantasia e imaginação, mas, sobretudo, possuíam, e ainda possuem, uma variação
de elementos fantásticos ou mágicos, tornando-se poderosos instrumentos que, em geral, são
importantes meios-difusores de modelos, regras comportamentais, padrões morais, estéticos,
pois estão impregnados de significações ideológicas ou valores sociais. Ou seja, "transmitidos
de pais para filhos através dos séculos, os contos de fadas constituem verdadeiros tesouros da
sabedoria humana, destilando as observações e o pensamento de muitas gerações". (Chinen,
1989)

6 Nelly N. Coelho, em sua obra "O Conto de Fadas", Série Princípios – Editora Ática, informa que: "todas essas
formas de narrar pertencem ao caudal de narrativas nascidas entre os povos da Antigüidade, que, fundidas,
confundidas, transformadas... se espelharam por toda parte e permanecem até hoje como uma rede, folclórica e
de velhos textos novelescos que, apesar de terem origens comuns, assumem em cada nação um caráter
diferente."

7 O Iluminismo – Contos de Andersen – século XVII início século XVIII – La Fontaine.

Serafim Fortes Paz 11/47


Com o tempo foram enfraquecidas ou alteradas pelas inúmeras versões ou, mesmo, pelos
avanços industriais ou pelas "maravilhas" tecnológicas. Os "contos" continuam presentes na
atualidade, entretanto, os "contadores de histórias" praticamente desapareceram.

O que é necessário ressaltar é que grande parte das histórias ou fábulas se constituí num
precioso acervo, pois muitas histórias permanecem inalteradas e preservam um importante
material de estudos, nas várias áreas do saber, onde "os contos de fadas são parábolas que
narram a trajetória de vida do ser humano" (Franz, 1977), nos auxiliando nas explicações ou
interpretações do homem e da sociedade como um meio de aproximação da realidade, pois "o
social concreto alimenta as fantasias literárias e produz as representações do homem
comum... aproximar a realidade da fantasia é torná-la progressista, permitindo a passagem do
subjetivo ao objetivo...(Barreto, 1992).

Esses contos de ficção e de realidade, sempre repletos de imaginação, possuem uma


diversidade de elementos mágicos e simbólicos. Tornaram-se, assim, instrumentos
importantes na difusão e transmissão cultural. Muitos deles, certamente, apropriados para
estabelecer modelos de comportamentos disciplinares ou difusão de idéias, conceitos, padrões
ou valores (particularmente os de ordem religiosa) e, desse modo, serviram como veículos
para determinadas ideologias morais e sociais.

O conto, como forma de expressão ocidental, ganhou força nos dois últimos séculos,
principalmente na Europa. A história infantil, como conto, foi sistematizada na Dinamarca por
Cristian Andersen e na França por Charles Perrault, tornando possível que esses "contos
maravilhosos" chegassem a outros povos e continentes, estando presentes até os nossos dias.

Cabe ressaltar que esse meio de comunicação e de expressão não se deu somente na Europa
ou por mera importação. No Brasil, por exemplo, desde outrora, particularmente no Nordeste,
se produzia a chamada "literatura de cordel", que se traduzia em uma forma especial de
comunicação entre os povos daquela região e que tinha um enorme poder de difusão de
conhecimentos e das tradições culturais (locais), através de pequenos livretos em verso e
prosa. Por trovas e modinhas, o povo do sertão nordestino, transmitia feitos, fatos e histórias
ocorridas nos povoados ou com os próprios personagens locais. Como exemplo do poder desse
instrumento utilizado pelos nordestinos está a história de Canudos, que teve através da
literatura de cordel, um grande aliado para transmitir mensagens, assim como registrar os
fatos históricos ocorridos em toda sua história.

É importante destacar que muitas das "histórias infantis" preservam intactos símbolos e
representações – imagens –, mesmo que atualizadas ou modernamente reconstituídas,
reproduzem os elementos marcantes de suas origens. A modernidade, no entanto, fez
desaparecer os "contadores de histórias". Estes têm sido gradativamente substituídos por
outros meios ou formas de expressão. Muitos deles vêm sendo bastante usados para
reviverem e remontarem os contos infantis. No entanto, ainda que recontem essas mesmas
histórias, através do desenho animado, do cinema, vídeo, teatro, CD roms, o ato interpessoal
de contar é insubstituível.

Se, de um lado, temos a importância da tradição e do "agasalhar" a memória, como na Poesia


Velhas Árvores8, ou nos contos infantis como narrativas da história, dos feitos, dos mitos, até
mesmo das fantasias, por outro, temos a repetição das histórias daqueles que perderam o
contato com a realidade concreta, com a fantasia e o sonho.

8 Na simbologia, conforme nos apresenta Cirlot "é um dos símbolos da tradição". Recomenda-se a leitura do
referido autor, pois, há uma diversidade de elementos simbólicos referentes à árvore e sua relação com a velhice.

Serafim Fortes Paz 12/47


No mundo contemporâneo, são cada vez mais raras as famílias que ainda preservam o hábito
de "contar histórias" para as crianças e, nos lares que mantêm a presença de avós,
certamente, narrativas recordam os "tempos atrás". No entanto, a maioria dos lares, perderam
esse hábito e a ação de muitos avós, por vezes, é considerada maçante, especialmente,
porque muitos idosos repetem as mesmas velhas histórias, justamente pela falta de
estabelecer relacionamentos novos e mais amplos com o mundo público. Como nos revela a
imagem-canção de Fátima Guedes:

No Fim Da Casa
Fátima Guedes

O Quarto do meu avô


já se sente um quarto do morto, Já
Muito embora vivo ele esteja aqui
nem sabe qual morto ele vive lá

O quarto do meu avô


tem uma cama que desarma
Na mesinha um retrato e uma flor
que ele usa como arma
E conta e reconta e torna a contar
os casos do tempo de moço
Herói das horas de jantar
o mesmo herói da história do almoço.

O quarto do meu avô


tem um velho armário enorme
tão grande que inibe um sonhador
e ele nem cochila enquanto dorme.

O quarto do meu avô


tem a extensão que a noite corta
tão escuro que não te enxerga a dor
tão profundo que não te abre a porta
e reza e reveza a Prece das seis
Quem nunca foi religioso
agora o que resta de um que foi três
dos três o mais laborioso.
Quando ele veio pra nós
Trouxe a viuvez no corpo de leão
trouxe a mala aberta
o orgulho aberto
pijama, pinico e carrilhão.

Exatamente no trecho:
"e conta e reconta e torna a contar os casos do tempo de moço. Herói das horas do jantar o
mesmo herói do almoço"9,
em que nos leva a perceber a imagem do velho só sem renovar suas histórias. Um quadro
muito comum nos lares, onde há a presença de vovôs e vovós, que vivem de suas
experiências restritas ao "mundo privado", confinados nos muros de suas lembranças, da
própria casa ou do "quarto", aprisionados em suas reminiscências, ausências e dependência,

9 Guedes, Fátima. No Fim da Casa. Long Play: Lápis de Cor. Brasil, EMI/Odeon, 1981.

Serafim Fortes Paz 13/47


na falta de contatos com o "mundo público", asilados, como bem demonstra o trecho da
música de Fátima Guedes – "No Fim da Casa – O quarto do meu avô":
Um isolamento que nos indica uma morte (social) em vida, como nos mostra o trecho a seguir:

"O Quarto do meu avô, já se sente um quarto do morto, Já."

Essa imagem da música se combina com a imagem visual da charge do homem velho isolado,
moribundo, tanto em seu quarto (enquanto a família festeja o Ano Novo), quanto na ficção da
charge chega-se à realidade da maioria dos asilos e clínicas para idosos sem renda.

Serafim Fortes Paz 14/47


A vida dinâmica, a família reduzida, ou a falta de encontros de familiares, também, ajudaram
nesse processo da perda do hábito de contar histórias.

Assim, a imagem desse lugar (figurado no " 'quarto' do meu avô" (tanto pode ser nos fundos,
no sótão ou no porão quanto em um quarto qualquer da casa, de um asilo) imagem da foto
acima. Tais como, na charge e na figura (Clínica Santa. Genoveva), as imagens, estampam a
solidão (a presença da morte) de idosos-moribundos. (No caso da charge, ligando-se à festa
da família através de uma guirlanda (um cordão) une o moribundo à família, que une o
"quarto" ao salão), situação que se retrata a outra imagem no trecho da mesma música de
Fátima Guedes:

"Muito embora vivo ele esteja aqui, nem sabe qual morto ele vive lá." 10

Essas imagens visual e textual11 acabam, por fim, configurando no vilão-vítima de uma história
que retrata a falta de comunicação, a repetição dos feitos do passado na falta de novos
assuntos e de atualização, frutos do isolamento e da "solidão dos moribundos", ou, recorrendo
a Elias"12, uma espécie de asilamento e morte.

Por outro lado, certamente, nos lares que preservam encontros (reuniões) e que mantém a
presença ativa e dinâmica do vovô ou da vovó, narrativas de "contos" relembram os "tempos
atrás". E a ação da memória viva traz aos netinhos: os mitos, fábulas, fatos históricos ou
heróicos, episódios de suas vidas ou de suas épocas. A ação de "contar histórias" cultivada nas
famílias, no passado, tenta ser resgatada por alguns profissionais e/ou setores culturais, assim
como em algumas famílias que ainda cultuam o hábito de contar 'causos'" ou histórias.

Muitas dessas histórias, lendas, contos maravilhosos... estão documentadas ou relançadas,


especialmente em livros ou coleções – as denominadas histórias clássicas.

As histórias – e suas imagens – foram e, ainda, são apropriadas por sistemas de dominação,
algumas sofreram significativas alterações, transformando-se ou impregnando-se de novas
situações e informações, adaptando-as às novas realidades e reproduzindo as idéias e
estereótipos necessários à manutenção de valores e normas sociais.

Essas histórias, na sua maioria, são parte da tradição ocidental ou são oriundas da mitologia
antiga (especialmente a greco-romana), de fatos históricos ou heróicos, de contos folclóricos,
de lendas ou de fábulas fantásticas. Se fazem presentes até hoje e, por sua riqueza de
conteúdos míticos e simbólicos, se constituem num importante material de estudo. Auxiliam,
portanto, novos desvendamentos, interpretações ou explicações de situações sociais e
ideológicas, ou atitudes e comportamentos sociais.

Pois,

"o maravilhoso, o imaginário, o onírico, o fantástico... deixaram de ser vistos como pura
fantasia ou mentira, para ser tratados como portas que se abrem para determinadas verdades
humanas".13

Passemos então a realizar um pequeno percurso no interior de uma dessas clássicas e,


também, populares, histórias infantis. Convido a partir daqui, para um breve passeio (no
10 Guedes, Fátima. opus cit.
11 Frase da música de O quarto do meu avô. opus cit.
12 ELIAS, Norbert. La soledad de los moribundos. México: Fondo Nacional de Cultura, 1986.
13 COELHO, Nelly. opus cit.

Serafim Fortes Paz 15/47


tempo-espaço) seguindo a trilha de certas imagens e palavras. Nesta viagem ao "mundo
encantado", buscaremos perceber como elas nos habitam, se fazem presente em nós, e ainda
se mantém vivas na memória ou de que maneira, para muitos, resgatarão lembranças da
infância.

Apresentaremos, nesta incursão, como símbolos, figuras e formas, estão, certamente, a nos
orientar sobre a representação de estereótipos da velhice. Assim, nossa viagem (no tempo-
espaço) mostrará como que o "mundo encantado" contribuiu e, ainda, contribui na formação
do atual imaginário social sobre a pessoa idosa.

Estamos partindo do pressuposto de que quando olhamos para uma determinada imagem
visual, textual ou auditiva (através de figuras (imagens), frases ou palavras), de imediato,
nossa memória é acionada e nos leva ao mundo das recordações. Em gera, imagens
transportam os indivíduos a uma infinidade de possibilidades; a determinadas histórias, fatos,
situações vividas ou a algum lugar.

É, muito comum relembrarmos outras imagens ou situações que assumimos como verdadeiras
e reais. Muitas delas passam a fazer parte de nossa realidade, sem nem ao menos tê-las
vivenciado ou experimentado.

Neste sentido, é que recordaremos algumas imagens e, desta forma, observaremos se


elementos ou atributos dessas histórias resguardam em si símbolos e que nutrem ou
reproduzem um certo imaginário.

Embarquemos então em algumas dessas (imagens) Figurações.

Façamos um exercício: relembrem um símbolo ou uma imagem que é parte do cotidiano e que
nos remeta diretamente a algo (um fato, uma situação ou uma história).

Certamente alguns acionaram em sua memória símbolos veiculados em nossa sociedade


ocidental. É muito provável que uma diversidade de símbolos e imagens vieram às mentes. É
ainda bastante comum recordarmos de elementos próximos, tais como símbolos: religiosos
(igreja, cruz, Jesus crucificado...); econômico (cédula, moeda...); político (bandeiras,
brasões...); cultural (Papai Noel...); ou social (família, casa, amizade, casamento...), enfim,
possivelmente uma infinidade delas, que de algum modo são parte do nosso cotidiano.

Vejamos o que acontece quando ouvirmos a seguinte frase-expressão:

"Espelho. Espelho Meu... Existe alguém no mundo mais bela do que eu ?"

Que imagens ou lembranças nos vêm imediatamente à memória? De certo muitos de nós,
arriscariam dizer: praticamente, todos tivemos a imagem da "Rainha Má" diante do espelho
mágico. Alguns recordam, imediatamente do Conto de Fadas: Branca de Neve e os Sete
Anões.

Serafim Fortes Paz 16/47


Vamos então, de forma breve, iniciar nossa aventura revisitando um pouco dessa história:

Era Uma Vez...

"Espelho...espelho meu". É exatamente a frase proferida, insistentemente, pela madrasta de


Branca de Neve – a "Rainha" – diante de seu fiel espelho.

Assim, ao ouvir a frase, muitos de nós evoca a lembrança da cena em que a "rainha" está
diante do espelho. Ou, então, recordamos a própria "estória". Se, de imediato, nos vem uma
cena ou nos lembramos de algo, podemos afirmar que isto é o sinal de que imagens ou
palavras, permanecem vivas, ativas ou latentes em nossa mente. Se assim ocorre confirma-se
que as imagens, como estas dos contos "fantásticos" – dos tempos atrás – se encontram
registradas em nossa memória. As imagens do antigamente que, de geração em geração, são
contadas e recontadas, estão presentes (latentes) e constituem nossa memória social.

Continuemos a caminhar mais um pouco nessa viagem / aventura, mas, pensemos


inicialmente neste objeto-personagem: o espelho. Iniciaremos pelo espelho exatamente
porque o espelho (figura 01), tem, para a simbologia um importante significado e traz, em si
mesmo, uma interessante e forte carga simbólica.

figura 01

O Espelho14

Alves em sua página da internet,


descreve a simbologia do espelho
como o elemento que:

“Simboliza sabedoria, auto-


conhecimento e consciência
resultando na verdade, clareza e
reflexão. (...) É uma
representação lunar e feminina
que simboliza o conhecimento sem mácula de si mesmo. Pode representar uma certa
introspecção, uma falta de comunicação da pessoa com seu mundo interno. (...) O espelho é o
reflexo da alma; ele não mente. É o conhecimento do homem de si mesmo, a superfície clara e
brilhante da verdade divina. Os Taoista têm o espelho como o mecanismo de auto-realização;
no Cristianismo, um espelho sem manchas como a imagem da Virgem Maria. Para os
Chineses, é sinceridade e para os Budistas é a alma em seu estado de pureza. As pessoas que
fazem parte de sua vida refletem toda uma série de características que são parte de você
mesmo(a). Reconheça-te em cada uma delas.”
Sérgio Pereira Alves

Assim, o espelho, simbolicamente, é o elemento que significa a REFLEXÃO – "reflexos da


imaginação e da consciência" – (Cirlot, 1984), é considerado, então, como o símbolo da
autocontemplação e de projeção do universo.15
14 Esta referência foi extraída da página da internet; http://www.salves.com.br/dicsimb/dicsimbolon/espelho.htmp

15 No sentido de oferecer outras possibilidades de compreensão e leituras sobre o espelho, extraímos, na íntegra, do
Dicionário de Símbolos, produzido por Jean-Eduardo Cirlot, o seguinte trecho referente ao simbolismo do Espelho:
"O próprio caráter do espelho, a variabilidade temporal e existencial de sua função, explicam seu sentido essencial
e ao mesmo tempo a diversidade de conexões significativas do objeto. Já se disse que é um símbolo da
imaginação – ou da consciência – como capacitada a reproduzir os reflexos do mundo visível em sua realidade

Serafim Fortes Paz 17/47


Nesta história se torna o arauto da consciência, o espelho revela à Rainha Má sua essência. Em
verdade a Rainha está repleta de elementos e significações negativas como: a maldade, a
ambição, a perversidade, a fraqueza, a fragilidade e a insegurança, simbolizados na bruxa –
velha e feia. Sua "beleza" é falsa, pactuada com o espelho, evidencia o conflito e os elementos
postos de forma antagônica: bem e mal, belo e feio...

O personagem rainha má está a sugerir, também, subliminarmente, outros elementos


representativos do poder e da ambição. Impregnados de significados ideológicos emitem
mensagens morais e sociais, dirigida a certos grupos. No caso dos contos infantis, embora os
personagens rainhas, fadas, princesas são dirigidos às mulheres, em especial, às da classe
trabalhadora em que por uma espécie de enfeitiçamento a torna-as dóceis e submissas.

São estereótipos em que

"a ideologia é a fantasia da classe dominante, através da qual esta procura eliminar (ou velar)
os conflitos e as contradições da divisão de classes.”
Barreto, 1992

Em contrapartida, com força simbólica e ideológica semelhante, sua rival – Branca de Neve –
possui os atributos essenciais da "verdadeira beleza": juventude, cordialidade e ternura.

Na condição de reflexão, pode-se afirmar, que o espelho se define como a dualidade, pois na
busca da imagem projetada (refletida) está assinalando lementos contraditórios: belo/feio,
bem/mal, claro/escuro, novo/velho. Assim, está caracterizada a própria consciência refletida
em permanente duelo. Ao nos postarmos diante do espelho quantas expressões são ditas ou
perguntas são feitas, no diálogo entre nós mesmos frente à própria imagem nele refletida. Na
verdade quando nos dirigirmos ao espelho já estamos nos confrontando com próprio juízo.

É nessa busca da imagem que o espelho indica então o mito de Narciso – "o reflexo da
imagem no espelho d'água" associação que remete, em latência, ao elemento vaidade.

formal. Relacionou-se o espelho com o pensamento, enquanto este – segundo Scheler e outros filósofos – é o
órgão de auto-contemplação e reflexo do universo. Este sentido liga o simbolismo do espelho ao da água que
reflete e o mito de Narciso que vê a si próprio refletido na consciência humana. Pois bem, o mundo, como
descontinuidade afetada pela lei da mudança e da substituição, é que projeta esse sentido negativo em parte,
caleidoscópio de aparecer e desaparecer, que o espelho reflete. Por isto, desde a Antiguidade, o espelho é visto
como sentimento ambivalente. É uma lâmina que reproduz as imagens e de certa maneira as contém e as absorve.
Aparece com freqüência em lendas e contos folclóricos dotado de caráter mágico, mera hipertrofia de sua
qualidade fundamental. Serve então para suscitar aparecimentos, devolvendo as imagens que aceitara do
passado, ou para anular as distâncias refletindo o que um dia esteve diante dele e agora se encontra bem longe.
Esta variabilidade do espelho "ausente" ao espelho "ocupado" concede-lhe umas espécies de fases e por isto, como
o leque, está relacionado com a lua, sendo atributo feminino. Além, disso, é lunar por sua condição refletora e
passiva, pois recebe as imagens como a lua do sol. (Dicionário Universal de Mitologia. Barcelona, 1835). Entre os
primitivos, é também – e isto mostra com clareza sua pertinência à esfera lunar – símbolo da multiplicidade da
alma, de sua mobilidade e adaptação aos objetos que a visitam e retêm o seu interesse. Aparece às vezes, nos
mitos, como porta pela qual a alma pode dissociar-se e "passar" para o outro lado, tema este trabalho por Lewis
Carroll em Alice. Somente isto pode explicar o costume de cobrir os espelhos ou colocá-los voltados contra a
parede em determinadas ocasiões, especialmente quando morre alguém na casa (FRAZER, México, 1951). Tudo o
que dissemos não esgota o complexo simbolismo do espelho. Como o eco, é símbolo dos gêmeos (tese e antítese)
e é símbolo específico do mar de chamas (vida como doença) (SCHNEIDER, Marc. Barcelona, 1946) ( SCHNEIDER.
La danza de espadas y la tarantela. Barcelona, 1948). Para Loeffler, os espelhos são símbolos mágicos da memória
inconsciente (como os palácios de cristal) (LOEFFLER. Paris, 1949). Possuem um sentido particularizado os
espelhos de mão, emblemas da verdade (BAYLEY, Harold. Londres, 1952), e, na China, dotados de qualidade
alegórica à felicidade conjugal e de poder contra as influências diabólicas ( BEAUMONT, A. Nova Iorque, 1949).

Serafim Fortes Paz 18/47


Na associação desses elementos simbólicos combinam-se outros aspectos. O espelho,
também, é considerado um atributo feminino, visto que se relaciona com o aspecto lunar. 16 A
lua, sob o aspecto feminino, é assim representada por sua condição passiva, contemplativa e
refletora (como um espelho) da luz solar. O sol, na condição de ser possuidor de luz própria, é
considerado um atributo masculino, logo, de poder.

Um outro aspecto associativo é que a vaidade é um dos sete pecados capitais. A vaidade
sempre esteve relacionada diretamente à mulher. Uma consideração importante pois, em
geral, as histórias infantis dos clássicos contos de fadas, revelam um confronto entre duas
mulheres. O que nos informa essa relação? O que se esconderá por detrás dessas histórias?
Bem, não iremos caminhar por essa via, mas seguramente nos revela sinais ou pistas que
mereceriam maior análise.

Quanto ao espelho, no entanto, a procura da projeção da própria imagem é, para muitos, uma
necessidade de auto-admiração ou busca de afirmação/confirmação. Muitos, geralmente,
buscam no espelho se reconhecer belos, revelando, portanto, a incerteza de sua beleza, como
no caso da "Rainha Má" (figura 02).

A "Rainha Má" diante do espelho (numa procura incessante de confirmar sua beleza), revela
uma nítida intenção de busca do reconhecimento esperando ouvir a tão esperada ou desejada
resposta: – "Não Majestade. Tu és a mais bela de todas as belas mulheres. És única com
tamanha beleza em todo o reino."

figura 02

16 No simbolismo a lua está relacionada à mulher em que o sol é considerado masculino (ativo) por ser produtor da
luz e a lua (passivo) que a reflete

Serafim Fortes Paz 19/47


O apelo ao espelho se faz, principalmente na exteriorização de sua própria consciência que a
torna insegura em sua incerteza. Qual? A de que sua rival – Branca de Neve – ainda exista e
desta forma não "reinará" única. A existência de Branca de Neve a obriga a um enfrentamento
com alguém dotado dos valores morais e sociais, ou seja, reúne os atributos essenciais –
obviamente ideológicos –, dirigidos a "verdadeira beleza: juventude, bondade e docilidade".

Ao exigir constantemente do espelho – arauto de sua consciência –, a "Rainha-Má" sabe que


sua essência está impregnada dos elementos que se contrapõem a essa "verdadeira beleza" e
como tal fornecem a idéia de Má, quais sejam: a ambição, a amargura, a perversidade, a
fraqueza, então representadas: na fragilidade ou insegurança e, também, na expressão da
maldade, aqui simbolizadas na feiúra (horror) da bruxa.

Assim, a consciência está a lhe revelar, a todo instante, que sua "especial beleza" é falsa, pois
não a possui na totalidade. Fica assim evidente, então, o conflito que se deflagra nessa
dualidade (figura 03). A Rainha-Má aparentemente possui uma certa beleza, porém está
incompleta, ou imperfeita, pois não a possui verdadeiramente, se na aparência ela possui a
beleza esta não se confirma na essência por não possuir qualidades: o de não ser boa, jovem e
dócil.

Em particular, nesse personagem "Rainha-Má", também se encontram diversos outros


elementos representativos, associativos e complementares, que compõem a história e estão
contidas na mensagem: o poder, a ambição, a dominação, a vaidade, a crueldade, a frieza.
São atributos impregnados de significados ideológicos que correspondem a incorporação de
ideais morais ou sociais defendidos à época e perpetuados.

figura 03

Do mesmo modo – Branca de Neve – "de tão branca quanto a neve" – (qual o desejo de sua
mãe) – detinha uma "beleza" inigualável. Neste caso, a beleza transcende a da aparência,
exatamente porque incorpora essas qualidades - os "atributos naturais e essenciais" da
"verdadeira beleza".

A Rainha-Má, "enfraquecida" ou “fragilizada” 17 por sua falsa beleza e pela existência de alguém
ainda mais bela, terá de conquistar para si esse poder, custe o que custar, não importando os
meios para essa conquista, nem que para isso seja preciso eliminar sua maior opositora
Branca de Neve (figura 04)

17 Neste duelo a mulher-rainha envelhece e se fragilizará exatamente na medida em que a menina – enteada – vai
deixando de ser menina e se tornando uma jovem-mulher. Ou seja, mais outro aspecto importante para a reflexão
que é o jogo, talvez, o grande duelo: a sexualidade. A exuberância da mulher em juventude e a decadência ou
negação da sexualidade na mulher que envelhece. Aspecto comum na maioria das histórias clássicas já que os
personagens centrais serão duas mulheres: a jovem e a velha.

Serafim Fortes Paz 20/47


figura 04

E na própria história ela se transformará no que verdadeiramente é em essência; uma bruxa


– personificada numa mulher feia e velha. O que se pode notar tanto nos aspectos morais
quanto nos estéticos (inclusive representando a própria assexualidade). Os trajes escuros, tons
vermelho-escuros, roxo e/ou preto conferem-lhe ar sombrio e ameaçador, retiram qualquer
possibilidade ou capacidade de sedução.

As personagens das bruxas conseguem, pela força da imagem, materializar a maldade e


impiedade. Provocam o horror, medo e pavor e, nesses ingredientes macabros, as histórias
são contadas e recontadas às crianças, desde pequenas, especialmente, na fase de formação.

Como se vê, são histórias produzidas e reproduzidas que vão compondo a "imaginação" infantil
e que irão incorporando, ao imaginário social das crianças, no temor à bruxa, o pavor da
velhice. Nessas histórias, as mulheres (velhas e jovens) protagonizam um duelo, um confronto
de gerações. As mulheres idosas são identificadas como algozes; velhas sisudas, feias e más.
E atrairão ou maltratarão suas almejadas vítimas – as meninas-moças; jovens suaves, meigas,
belas e bondosas.

Estas histórias serão emolduradas em cenários compostos por ‘efeitos especiais’, em especial,
pelos contornos e contextos, particularmente pelas cores e pelos ornamentos. O que se pode
notar nestas imagens é a força de seus textos visuais (símbolos, idéias e conteúdos) com
estereótipos de bom / mau, feio / bonito, prazer / desprazer, que respondem ideologicamente
a interesses de determinadas sociedades, assim como retratam "os paradigmas eternos da
vida humana e freqüentemente refletem os papéis que as pessoas desempenham" (Chinen,
1989).

Estes clássicos infantis revelam com mais força, através das mulheres velhas e feias versus
jovens e belas, atributos aparentemente estéticos. Essa relação conflituosa está a embutir
atributos morais/ideológicos e valores sociais, inclusive, encobrindo a própria sexualidade
feminina. O visual alegre e colorido das donzelas (princesas) se contrastam com o sombrio e
ameaçador visual das velhas (bruxas), que vestidas de tom roxo e preto, causam medo e
pavor. Neles estão elementos que irão compor o imaginário social feminino e que se
incorporarão gradativamente nas crianças e dificilmente serão eliminados do discurso quando
adultos.

Serafim Fortes Paz 21/47


Muitos elementos dos contos de fadas vão sendo incorporados e reproduzidos em uma
diversidade de formas. É muito comum, por exemplo, pais, familiares ou a sociedade recorrer
à imagens de velhos (feios e maus), (tais como o velho do saco...velha bruxa), entre outros
seres fantásticos, como tentativa de educar e socializar as crianças, principalmente na busca
de assustá-las e amendrontá-las a fim de se impor disciplina, obediência, respeito ou medo.

Desse modo, reproduzem e reforçam os estereótipos que serão registrados na memória infantil
e, de algum modo, refletidos ao longo de suas vidas. Logo, os contos de fadas, ou melhor, o
conto das bruxas e o uso da imagem dos velhos a ela ligados atravessam o tempo e
perpassam gerações se constituindo em expressões do imaginário social sobre o idoso.

Como pode ser notado nesse olhar sobre os contos de fadas, estes, com suas imagens, seus
símbolos e pelas mensagens maniqueístas, propõem estereótipos de bom e mau, feio e bonito,
prazer e desprazer, relacionando-os às imagens e personagens que confrontam gerações
velhas, feias e más versus jovens, belas e boas.

Essas personificações acabam se difundindo, ou em outras histórias são retomadas, nas mais
variadas manifestações sociais e culturais (literárias, artísticas) que, através dos meios de
comunicação ou de expressão (teatro, cinema, artes plásticas, histórias em quadrinhos,
anedotas), se revelarão em muitas outras situações e comportamentos do cotidiano
promovendo o drama recheado de medo e pavor.

O conto Branca de Neve e os Sete Anões serviu de suporte para o nosso olhar reflexivo-crítico,
mas outras histórias infantis-clássicas, certamente, poderiam nos emprestar as mesmas
possibilidades de construção e interpretação.

Para recordar alguns famoso, quem se lembra:


 Da jovem Cinderela (pobre e boa) frente a uma madrasta velha ambiciosa, má e egoísta,
uma espécie de protótipo da "bruxa"?
 A Bela Adormecida, jovem, linda e meiga, atormentada e amaldiçoada pela bruxa má?
 Rapunzel, a menina dos longos cabelos de ouro.

Assim como estas acima indicadas, tantas outras histórias induziam, em geral, que jovens
aldeãs fossem disciplinadas, comportadas e recatadas. Atributos para conquistar príncipes
belos, jovens e ricos.

As histórias de velhas bruxas, irão povoar outras histórias mesmo que elas não sejam
necessariamente bruxas. Na história A Velha e os Gansos, onde a imagem da mulher idosa se
assemelha a uma bruxa. Ou até mesmo a imagem que é apresentada ao leitor na estampa de
A Casa na Floresta (em tom preto-esverdeado) e, reforçando a imagem, há uma legenda no
rodapé com o seguinte texto: "Houve, certa vez, uma velhinha já decrépita. Toda corcovada.
Que vivia com um bando de gansos num lugar ermo...".

Algumas dessas histórias incluem outros personagens que contrastam com os elementos do
mal. As fadas madrinhas, como na história de Cinderela e A Bela Adormecida, revestem-se do
bem, inclusive nas feições físicas ou estéticas; apesar de importantes, são subliminares, em
geral, secundarizadas, aparecendo como intermediárias, amenizadoras e consoladoras. Ou em
Rapunzel (menina dos cabelos longos e louros como o ouro, em confronto com uma bruxa
velha e feia).

Em outras histórias, temos a velha revestida de sinais que lembram a bruxa, tal como nos
apresenta a figura 05.

Serafim Fortes Paz 22/47


figura 05

Assim, a protagonista na história A Velha e os Gansos, mesmo não sendo uma bruxa, possui
as mesmas características estereotipada da personagem velha e feia das outras histórias.

Há também outras velhas bruxas disfarçadas de rainhas num confronto com belas jovens. A
história d' A Bela Adormecida é um exemplo típico. (figura 06)

figura 06

A Bela Adormecida, uma princesa jovem e bonita que, por conta de um feitiço, sofre uma
espetada da agulha no tear (em face da proteção de jovens fadas madrinhas não morrerá,
mas cairá em sono profundo) e só despertará quando um jovem príncipe, rapaz rico e belo, a
libertará através do beijo de amor, sincero e verdadeiro, da maldição e, juntos, a partir desse
antídoto serão felizes para sempre. Ou em Rapunzel a Menina dos Cabelos de Ouro, também
atormentada pela velha que ameaça o romance com o jovem príncipe (Figura 06.1).

Figura 06.1

Em João e Maria, como em outras, existirão personagens interessantes que contrastarão com
esses símbolos do mal, tais como as Fadas madrinhas (figura 07).

Serafim Fortes Paz 23/47


Em geral, as fadas madrinhas, também são representadas por jovens e belas. (ver a figura 06).

figura 07

Estas personagens (fadas bondosas), ainda que importantes no enredo, não exercem a mesma
carga simbólica dos protagonistas. Em geral, aparecem como mediadoras e acabam sendo
colocadas em planos inferiores na própria estória.

A história de Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, não possui a simbologia ou estereótipo da


bruxa. Já não trata mais de uma jovem e bela. Mas, introduz uma personagem – menina –
vivaz, inocente e "boa" (sai a visitar a vovozinha para levar-lhe "quitutes"). No entanto, por
ser "desobediente", – ao desrespeitar as orientações e recomendações da mãe –, desviando-se
de seu objetivo e destino, expõe-se ao perigo, correndo o risco de se perder na floresta e,
assim, ser atacada pelo lobo velho e mau.

A avó não se apresenta como uma mulher feia e má, mas numa outra condição, uma
personagem velha e só. Esta nova imagem, no entanto, incorpora atributos representativos do
ser velho: doente, dependente e incapaz. Os estereótipos mais pertinentes à atualidade e, de
certo modo, da visão ocidental da velhice (atributos tais como: doente e, principalmente,
improdutivo). Embora importante para o conteúdo do enredo, a velha torna-se uma figura
secundarizada, pois a mensagem central da estória ressalta a menina (embora displicente,
mas esperta e inteligente, pois desconfia e descobre o golpe aplicado pelo lobo) e o lenhador
(homem forte e corajoso), que salvará a todos da astúcia do lobo. E assim, mais uma vez o
bem vencerá o mal. Na verdade, esse conto revela o confronto (maniqueísta) entre a criança
que é em si boa e inocente, e a associação entre a fragilidade da velha e a maldade do lobo
(figura 08).

figura 08

A história de Chapeuzinho Vermelho não apresenta uma jovem bela, mas uma menina viva e
inocente, porém "desobediente", que se expõe ao perigo e ao ataque do lobo velho e mau. A
avó, já se apresenta em oposição, uma velha doente e introduz novos aspectos da realidade às
histórias infantis: a fragilidade, a dependência e a solidão.

Serafim Fortes Paz 24/47


As imagens, aqui apresentadas, representam os velhos personificados e identificados nas
principais histórias infantis (das clássicas até às mais modernas). Suas referências imagéticas
contrastam desde a cor utilizada nas estampas (figuras 09 e 10), até a incitação de duelos
entre mulheres de faixas etárias diferentes, ou seja, as mulheres vilãs – bruxas (velhas, feias
e macabras) com mulheres heroínas – princesas (jovens, belas e dóceis).

figura 09 figura 10

E, na modernidade, mulheres velhas, doentes e frágeis. Ou ainda, o constante conflito com as


mulheres vítimas – moças belas e joviais, que na atualidade se apresentam como crianças
rebeldes.

Essas histórias, na simbologia contida, buscam tanto disciplinar comportamentos 18 quanto


fomentar outras idéias e visões de temor à autoridade, aos valores sociais e morais (às
tradições, à religião), à autoridade paterna e materna e basicamente reforçam a dominação e
incutem noções de bondade, docilidade e beleza, como atributos do bem (sempre vencedor),
em permanente confronto com o mal (sem chance). Essas histórias perduraram por dois ou
mais séculos, influindo na produção cultural de vários povos do ocidente, chegando a estas
décadas, ainda, com muito vigor.

Tais histórias influem na produção cultural, estão recriadas numa variedade de expressões
(desenhos animados, peças teatrais e vídeos) que se constituem como parte de um arsenal
que continuará a fomentar o imaginário social das crianças, adultos e dos próprios idosos,
mantendo fortemente os ingredientes ideológicos/sectaristas de grupos dominantes sobre
outras classes.

Assim como as atuais histórias e as produções infantis ainda permanecem fortemente ligadas
aos mesmos elementos "maniqueístas", outra forma bastante interessante sobre imagens de
velhos, também originadas na antigüidade, através dos gregos, se fazem presentes em nosso
cotidiano.

18 Também cabe aqui uma reflexão: na maioria dessas histórias clássicas infantis os conflitos travados entre duas
personagens femininas, onde a maldade está sempre na figura da mulher velha em ataques as mulheres jovens.
Por detrás destas personagens, ideologicamente, está um controle sobre a sexualidade, onde se observa tanto a
sexualidade negada nas mulheres velhas quanto à elas colocada a responsabilidade pela perseguição (de forma
perversa e cruel) à possibilidade da sexualidade nas jovens.

Serafim Fortes Paz 25/47


A Imagem da Velhice expressa nas Artes

Em nossos estudos, nos deparamos com imagens bastante curiosas e intrigantes. Trata-se de
obras de arte produzidas por artistas de épocas longínquas e de esculturas expostas em locais
públicos, que buscam relacionar a representação das idades humanas ao ciclo solar (estações
do ano) e às fases da lua. Embora essa relação das fases da vida humana com os ciclos da
natureza tenha sua origem na antigüidade greco-romana, Simone de Beauvoir faz referências
a Hipócrates como sendo "o primeiro a comparar as etapas da vida humana às quatro estações
da natureza" (Beauvoir, 1990).

Essa relação aparece nas artes plásticas, por exemplo, onde podemos encontrar referências
aos idosos. Trazemos aqui as obras do artista italiano (quinhentista) Arcimboldo. Nelas,
encontramos as referidas correspondências das estações do ano relacionando-as às idades.
(figuras 11 e 12).

figura 11 figura 12

Foi uma forma em que os antigos se referiam às idades humanas, relacionando-as às fases da
lua (representadas pelo sexo feminino) e ao ciclo solar (estações do ano).

Do mesmo modo, encontramos outras obras (réplicas, talvez) que fazem parte da paisagem
urbanística de dois locais públicos e importantes da cidade do Rio de Janeiro: a Praça Paris,
situada no bairro da Glória e o Campo de Santana, no Centro. Em cada um desses locais,
encontra-se um conjunto de 04 esculturas, com referência à figura humana. (A título de
informação: as esculturas da Praça Paris são elaboradas de cimento e em meio corpo,
enquanto as obras do campo de Santana são de corpo inteiro e em mármore).

Para efeito de exposição, seguiremos a apresentação dessas obras conforme a cronologia que
estas sugerem. Assim, comecemos analisando as imagens que se referem a Primavera (figuras
13 e 14). Em ambas, as praças elas se representam como belas jovens em corpos seminus.
Contêm, as esculturas, alguns elementos simbólicos que se atribuem à estação da primavera:
ramos de trigo em referência à colheita, e as coroas de flores nas mãos (Praça Paris) ou na
cabeça (Campo de Santana). Estes elementos são melhor configurados na escultura da Praça
Paris. Portanto, a Primavera, neste simbolismo, se relaciona à juventude (pré-adolescência e
adolescência).

Serafim Fortes Paz 26/47


Praça Paris, figura 13 Campo de Santana, figura 14

Nas esculturas do Verão, temos duas representações: na Praça Paris temos a figura de uma
mulher-jovem (seminua) com os seios à mostra e parte do corpo descoberto arrumando os
cabelos, como se estivesse a sair de um banho (figura 15); no Campo de Santana, apresenta-
se a figura de um homem-jovem totalmente despido, portando uma ceifa (encontra-se com a
parte superior quebrada).

Como se poderá notar aqui há uma nítida diferença de gênero e atributos na mesma
representação simbólica (figura 16).

Parisfigura 15 Campo de Santana, figura 16

No Outono, também, encontramos duas representações: na Praça Paris, um homem mais


maduro, seminu, com características mitológicas, talvez representando Baco (figura 17); no
Campo de Santana, a imagem de uma mulher adulta, semicoberta com algumas vestes sobre
o corpo, com certo despojamento. Apresenta, ainda, a mulher uma certa jovialidade (figura
18). Estas imagens nos dão a impressão de se preparar para os prazeres que a vida adulta
oferece.

Em ambas as esculturas encontramos os mesmos elementos simbólicos: cachos de uva e


folhas de parreira, estão a representar os produtos da colheita do outono: as uvas e o vinho, o
que nos confirma a tese dos prazeres da vida na idade madura.

Serafim Fortes Paz 27/47


Praça Paris, figura 17 Campo de Santana, figura 18

Chegando ao Inverno, temos na escultura da Praça Paris a figura de um de um homem


totalmente vestido, que apresenta características de uma pessoa mais envelhecida que as
demais. (figura 19)

Praça Paris
Figura 19

Os sinais da velhice ficam mais perceptíveis no detalhe das mãos ou do rosto. (figura 20).

Serafim Fortes Paz 28/47


figura 20

Na imagem do Campo de Santana, os sinais da velhice e a relação com o inverno, são


flagrantes (figura 21).

Campo de Santana
figura 21

Nessa escultura-imagem, se deflagra a representação de um ancião e a idéia de um rigoroso


inverno. Um homem bem velho, bastante curvado e totalmente coberto por um grosso e
pesado manto, também, pelo ato de aquecer as mãos com o próprio ar quente eliminado de
sua boca, está a nos transmitir uma intensa relação da velhice com o inverno.

Serafim Fortes Paz 29/47


Não nos deteremos em outros detalhes simbólicos de cada estação do ano. Neste trabalho,
procuramos enfocar a significação da relação e a origem dessas imagens, em figuras humanas,
com as estações do ano. Elas associam e representam os ciclos solares e as fases da lua –
correspondendo, assim, suas quatro fases às quatro estações do ano e as relacionando às
quatro idades da vida humana.

Poderíamos, em síntese, apresentar as correspondências no quadro a seguir:

FASES da LUA - MULHER CICLO SOLAR IDADE HUMANA ATRIBUTOS

crescente primavera infância vivacidade


nova verão adolescência/juventude vitalidade
cheia outono maturidade exuberância
minguante inverno velhice fragilidade

Outro detalhe entre os dois conjuntos de esculturas, aqui apresentados, é a coincidência do


sexo feminino nas estações da primavera, correspondendo às origens gregas. Há uma
coincidência do masculino nas esculturas que representam o inverno e há uma diferenciação
de sexo nas esculturas que representam o outono. Provavelmente, se trata de uma corruptela
da simbologia original ou, certamente, a chamada liberdade artística de seus escultores.
Contudo, neste último caso os dois símbolos estão ligados ao prazer.

O que é importante, no entanto, ressaltar com estas obras é a referência às idades com os
fenômenos climáticos, especialmente a reprodução da imagem do velho ligada ao inverno.
Neste caso, a escultura do Campo de Santana possui uma imagem muito significativa do
ancião curvado e com frio, que transmite, em primeira instância, a representação da solidão,
da carência e do abandono.

Serafim Fortes Paz 30/47


A Imagem da Violência e da Exclusão

Todas essas imagens até aqui trabalhadas nos (re)velam conteúdos simbólicos – sutis ou
explícitos –, que espelham a presença de conflitos. No entanto, há outras formas mais diretas
de se difundirem imagens que pretendem a disseminação e incitação ao "confronto" geracional
ou intraclasses.

Serafim Fortes Paz 31/47


O texto da imagem refere-se a:

“Existe um tipo de violência que não faz parte das estatísticas de criminalidade, mas que é
verdadeiramente um crime. Que não é visível porque ocorre entre muros ou entre quatro
paredes, mas que é tão dramático quanto uma arma apontada para você na rua. É a fome, o
abandono e a extrema carência em que sobrevivem precariamente milhares de seres
humanos, nos mais diversos asilos, abrigos, creches e instituições desta cidade...” (Grifo
nosso)

Se há formas sutis de violência há, no entanto, outras que são promovidas de forma bem
escancaradas.

Na perspectiva de espalhar idéias e valores, ou explicitamente como tentativa de incitar tipos


de violência contra idosos, como forma de se garantir mais lucro, acumular capital e na
preservação ou manutenção do próprio sistema de produção, é que se assiste a campanhas de
setores econômicos, como o dos transportes coletivos, através do Sindicato das Empresas de
Transportes Coletivos do Rio de Janeiro, na ocupação ostensiva da mídia ou, então, na
distribuição de panfletos na Grande Rio de Janeiro, com o objetivo de fomar opinião e de
acusar diretamente os idosos (na imagem-visual e na imagem-texto), sobre o aumento das
tarifas dos ônibus.19 (figura 32)

figura 32

19 O panfleto foi distribuído, em 1993, em algumas localidades da cidade do Rio de Janeiro e em alguns Municípios
vizinhos que compõem o chamado "Grande Rio", locais de grande concentração de bairros populares. Essa
Campanha assinada pelo SINTREJ, explicitava o interesse econômico de fomentar confrontos entre os segmentos
de uma mesma classe – trabalhadores atvios versus trabalhadores aposentados. A campanha, após denúncia de
Federações de Aposentados e de diversos Sindicatos de Trabalhadores, foi impedida de atingir grande parte da
cidade. Porém, em alguns lugares como no município de São Gonçalo, conforme divulgado pelo Jornal O Dia,
houve registros policiais de agressões física à idosos, usuários de ônibus.

Serafim Fortes Paz 32/47


“Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade
ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da
lei.” (Estatuto do Idoso – Lei 10741, Capítulo I Art. 4º, 2003)

É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso. (Estatuto do Idoso – Lei
10741, Capítulo I Art. 4º, § 1o 2003)

Assim como a deturpação de símbolos tradicionais como a imagem aparentemente amena do


Papai Noel, nos vemos diante de um "vale tudo" na corrida de maior lucro. Há uma forte
evidência de que por detrás de tudo isso existe o interesse econômico e uma real vinculação
da mídia publicitária, através dos diversos meios de comunicação, em especial pela televisão,
que se envereda na propagação sistemática e massiva sobre o culto à juventude (isto porque
os jovens produtivos são o alvo principal do mercado). Sobretudo quando ela presta
importantes e "bons" serviços à acumulação do capital e, logicamente, à conservação do atual
modelo social e econômico. Como afirma Guitta Debert:

“Essas novas imagens do envelhecimento que acompanham a construção da terceira idade


ocupam um espaço cada vez maior na mídia que – respondendo ao interesse crescente da
sociedade pelas tecnologias de rejuvenescimento – desestabiliza mecanismos tradicionais de
diferenciação no interior do mundo dos experts e, ao mesmo tempo, abre novos campos para
a articulação de demandas políticas e para a constituição de novos mercados de consumo”.
Debert, 1997

Desse modo, a mídia publicitária, que tem como alvo segmentos de renda média ou alta,
apropria-se de discursos técnicos e profissionais ou, inclusive, de outras formas de expressão,
como trechos de músicas como "Forever young, I want be forever young" (sempre jovem eu
quero ser jovem para sempre), demonstrados no comercial de cigarros. Crivado de atributos e
símbolos da juventude atual: esportivo, dinâmico, colorido e com muita ação. Apesar da
propaganda "Cheia de vida", na verdade, veiculou, à época, um produto da "morte".
Paradoxalmente, ainda que obrigado a revelar nos produtos e nos comerciais seu potencial
mortífero ("causa câncer e mata"), o comercial incentiva a população ao consumo de cigarros,
atrelando-o à imagem de que se é atual – moderno – fumar.

Outras formas de se afirmar a juventude são veiculadas nos meios de comunicação e em


diversas expressões culturais, como é o caso do Humor. Especialmente na televisão, os
programas de comédias apresentam muitos personagens humorísticos que projetam imagens
visuais de velhos ou imagens textuais sobre o velho, que representam tipos estereotipados da
velhice. Esses meios, ao circularem com maior ênfase, personagens estereotipados, em sua
maioria, alimentam e reforçam a valoração da juventude em detrimento da velhice.

Como exemplos citaremos apenas alguns: "Eu sou é jovem", tornou-se um "chavão" popular.
A partir da fala (texto) insistente de um famoso personagem de Chico Anísio, contrastando
com outros personagens "velhos-gagás" que o mesmo programa possuía. Do mesmo modo, no
Programa Praça da Alegria, encontramos uma estereotipada velhinha senil (bastante curvada e
com problemas de mobilidade, em especial, arrancava risos pela dificuldade de sentar e
levantar), bastante "surda", acabava causando "os maiores problemas" em decorrência de sua
deficiência auditiva. Como os exemplos citados, poderíamos apresentar inúmeros outros,
especialmente no anedotário popular, nas charges humorísticas ou nas diversas "piadas"
veiculadas nos jornais, revistas, programas de humor e até mesmo em variados sites da
internet, voltados para o humor20.

20 Em geral, as chamadas "piadas de salão" ou no anedotário popular tratam de conteúdos sobre alguns segmentos
socialmente discriminados, tais como: mulheres, homossexuais, deficientes físicos, idosos.

Serafim Fortes Paz 33/47


Quase todos os meios e expressões, nessa área do humor, na verdade, demonstram uma
consideração ao homem velho na expressão do imprestável. De algum modo, contribuem para
a incorporação da visão de "inativo-improdutivo" (figura 33) gerada e fomentada pelo sistema
de produção, que buscam vincular a imagem de aposentados e idosos como ônus para os
cofres públicos, ou como de responsabilidade única da família ou nos altos custos para a
assistência social. Ou então, como propagada, direta e indiretamente, nos discursos oficiais
dos últimos governos, em especial, neste último, em virtude da justificativa da reforma da
previdência, coloca os aposentados como vilões da inoperância financeira, culpando-os pela
"falência" da Previdência Social.

figura 33

Mesmo na condição de aposentados ou pensionistas, ainda que desconsiderados, por medidas


de redução das políticas ou na restrição dos direitos, massacrados pelo poder econômico e pelo
estado (figura 34), impondo-lhes novas regras, retirando-lhes direitos e garantias, homens e
mulheres, velhos ou não, nem sempre se conformam, ao contrário, sobrevivem e resistem.

Serafim Fortes Paz 34/47


figura 34

É possível que, com a tendência de crescimento populacional de idosos nas próximas décadas,
venha a se alterar esse processo, pois o mercado já se insinua em direção aos idosos como
"bons" e futuros consumidores, e não apenas como mero compradores de produtos e artigos
farmacêuticos ou da cosmetologia; ou, ainda, já temos sinais visíveis na direção de novos
espaços e produtos para "abocanhar" os possíveis milhões de idosos-aposentados dos futuros
anos 2000. Como expressa Guitta Debert: "Disciplina e hedonismo combinam-se na medida
em que as qualidades do corpo são tidas como plásticas, e os indivíduos são convencidos a
assumir a responsabilidade pela sua própria aparência".
Debert, 1997

Os setores econômicos e o discurso dominante, na perspectiva ideológica, já estão se dando


conta dessa tendência e já se torna mais comum a presença de pessoas idosas à procura de
ocupações, especialmente no culto ao corpo:

"a recompensa pelo corpo ascético não é a salvação espiritual, mas a aparência embelezada,
um eu mais disputado ... nesse novo ideário, a subjugação do corpo através das rotinas de
manutenção corporal é a precondição para a conquista de uma aparência mais aceitável, para
a liberação da capacidade expressiva do corpo. As rugas ou a flacidez transformam-se em
indícios de lassitude moral e devem ser tratadas com a ajuda de cosméticos, da ginástica, das
vitaminas, da indústria do rejuvenescimento."
Debert, 1997

A mídia em geral, atua exatamente nesse filão e inclui a imagem do idoso, participando
ativamente de comerciais publicitários, enfatizando a velhice saudável em revistas voltadas
para a "terceira idade" ou nos comerciais de televisão.

Nossa pesquisa21 fez um levantamento sobre comerciais de televisão e constatou que, desde
1996, estiveram em circulação, cerca de dez comerciais nos quais os "garotos(as)-
propaganda" eram idosos. Desses comerciais, apenas um tratava de uma imagem mais
positiva sobre a necessidade de tratar bem o idoso, no caso, o comercial de creme para a pele.
Enquanto os demais veiculavam uma imagem em que o idoso era infantilizado, como no
comercial de xampu infantil; idiotizado no comercial de vídeo cassete; ridicularizado e
estereotipado, como no comercial de pneus ou em comerciais de plano de saúde.

21 Em nossa pesquisa, particularmente nas investigações realizadas pela Equipe de Iniciação Científica Projeto .

Serafim Fortes Paz 35/47


Quem iria imaginar, outrora, que uma velhinha, num comercial de microondas, poderia estar
falando de um jeito tão natural e descontraído, sem o menor constrangimento, que os jovens
deveriam ocupar melhor o seu tempo praticando sexo do que cozinhando. Ou, então, um casal
de velhos em pleno exercício de "erotismo" dentro de uma banheira, para vender sabonete
infantil. Ou, ainda, uma senhora, bastante idosa, chegando a casa e anunciando ao esposo (já
com pouca audição) a compra do grande sonho (desde a época de namoro), o parelho de som.
No entanto, o que na verdade se percebe é que, na maioria dos comerciais, os idosos são
utilizados para vender produtos de interesse de outras faixas etárias ou para cultuar a imagem
dos jovens – os verdadeiros consumidores.

Debert revela que:

"os publicitários explicam o uso dos velhos na publicidade alegando, entre outras coisas, que o
choque que essas imagens provocam, invertendo o que acontece na vida real, ou que o
aspiracional são o segredo do sucesso de uma propaganda. Essas imagens, entretanto, têm
um papel ativo na definição de novos padrões de envelhecimento".
Debert, 1997

Apesar do crescente progresso tecnológico e científico obtido neste século, especialmente


pelos extraordinários avanços de algumas áreas como a mídia, a literatura infantil, a música, o
cinema, ainda não se eliminaram do imaginário social diversos conteúdos e significações, pois
em muitos deles alguns símbolos se cultivam ou se preservam.

É preciso destacar que, embora a realidade se mostre adversa, e sem deixar de ter em conta
as dificuldades materiais e sociais onde se situa a maioria dos idosos, pode-se vislumbrar a
necessária realização de ações e programas públicos, até mais otimistas, na perspectiva de
transformação e reversão desse quadro.

Acima de tudo, é preciso ter claro que imagens, em especial aquelas que versam sobre a
realidade, não são necessariamente representações fixas ou cristalizadas ou que se estendem
a todos indiscriminadamente. No caso dos idosos, por exemplo, há uma pequena parcela desse
segmento que desfruta de meios econômicos e materiais que seguramente os coloca em
situações mais favoráveis ao enfrentamento da velhice.

Que, no entanto, não é para essa grande maioria de idosos brasileiros que se volta os
Programas Sociais:

"trata-se de propor ações que beneficiem os mais fragilizados, mas não é esse o perfil dos
velhos que essas ações mobilizam e que ganha visibilidade na mídia".
Debert, 1997

De todo modo, a imagem de velho ideal, idosos saudável, velhice com qualidade de vida, está
a tomar cada vez mais força.

A idéia de higienização que hoje também toma lugar no receituário do “bom envelhecer”, de
“velhice bem sucedida”, de “velhice saudável”, dentre outras, que faz se imaginar que basta
colocar-se na vida alguns ingredientes, bater, mexer, descansar e levar ao forno que aí está a
“melhor velhice”, pronta para ser servida!!!

Serafim Fortes Paz 36/47


E, muitas vezes, por detrás das boas receitas se escondem intenções bastante adversas ou
perversas. Relembremos o primeiro projeto higienista do Brasil, por detrás do primeiro projeto
urbanista da cidade: o passeio público:

Este primeiro projeto urbanista, em verdade, aterrou a Lagoa do Boqueirão, junto aos Arcos da
Lapa, a fim de evitar que os fidalgos e nobres ao chegarem a cidade não assistissem o povo,
negros alforriados banhando-se na lagoa. Assim, o passeio público não era público, mas sim,
privado para a corte e fidalguia usufruírem os jardins, protegidos por altos muros, suas horas
de lazer. E o que está ocorrendo com nossas praças públicas hoje, são verdadeiramente
públicas: Gradeadas e sob horários limitados de uso?

A imagem se torna cada vez mais poderosa nos últimos tempos e incide sobre nossas formas
de pensar e de agir.

Pois:

"o que quer que se faça – e mesmo que se tenha consciência disto – cada um de nós está de
fato mergulhado em um clima cultural e tomado por algo que resulta em que somos mais
pensados do que pensamos, que se age mais sobre nós do que agimos".
Maffesoli, 1993

No entanto, a maioria depende de ações governamentais e de suportes (social, assistencial,


previdenciário), que requer posicionamentos e enfrentamentos sistemáticos na luta por
garantir a sobrevivência ou na defesa dos direitos sociais. Como pudemos ver nestas imagens,
sem dúvida alguma, são instrumentos poderosos na difusão de idéias e símbolos, são
instrumentos fundamentais que espelham e afirmam um ou outro interesse, e, nesse sentido,
elas também podem e devem sevir de instrumentos para a construção de novas imagens e de
novas possibilidades.

Uma vez que a vida humana e a realidade social não são determinadas sem as necessárias
contradições, e, por esta razão, da mesma forma que imagens podem difundir modelos e
estereótipos, do mesmo modo, podem, também, ser revertidas e transformadas em outras
imagens que busquem valorizar pessoas idosas e difundir outros papéis sociais para o idoso na
sociedade atual.

A sociedade contemporânea e as novas tecnologias, com seus instrumentos e equipamentos,


possuem a capacidade de colocar-se a serviço dessa transformação e, desta forma, contribuir
para alterar, modificar ou construir novas imagens-identidades, logicamente, dependendo dos
compromissos com determinados projetos teóricos, políticos e sociais.

Serafim Fortes Paz 37/47


A Cidadania e a Nova Imagem do Velho

A expansão das informações, das comunicações, do próprio conhecimento, a diversificação de


projetos sociais, políticos e culturais, podem ser utilizados nesse sentido, assim como os
homens que os operam afinados a um ideal de transformação social e comprometidos com a
busca de mudanças reais das atuais condições sociais em que vive a população em geral
(crianças, jovens, homens e mulheres trabalhadores, idosos). Afinal de contas, não dá para
pensar somente em um segmento, pois "estamos todos aí, como na música de Péricles
Cavalcanti e Arnaldo Antures,interpretada por Adriana Calcanhoto:

"Antes de mim vieram os velhos,


os jovens vieram depois de mim
e estamos todos aí".22

É preciso que numa nova perspectiva de compromisso social, pensemos em medidas sociais e
políticas que dêem conta das várias questões sociais que atravessam os vários segmentos
sociais até à velhice, e, assim, parceiros e aliados nas transformações, busquem-se os meios e
formas de se recriar, resistir, manifestar e de se expressar na construção de uma imagem do
homem idoso – com suas características físicas: cabelos brancos, curvos e enrugados (figura
35), velhos sim, belos, também, eretos em dignidade e cidadania (figura 36).

figura 35 figura 36

As caras lavadas, os "caras enrugadas", com seus rostos e corpos, possuem uma beleza de
vida acumulada, ou como no depoimento pessoal da atriz Fernanda Montenegro (por ocasião
de uma entrevista sobre embelezamento e cirurgia plástica) revelando algo semelhante:

"eu não estou preocupada com o aumento das rugas em meu rosto, muito menos em escondê-
las ou, até mesmo, em me livrar delas, exatamente porque são as rugas de meu rosto que
registram a minha vida, o quanto vivi. Cada ruga possui uma história por mim
experimentada". (Fernanda Montenegro, 1998)

Com as características físicas, sim: curvos, lentos, enrugados..., mas, eretos em dignidade,
em sua história e na certeza de sua participação e contribuição com a história e os destinos do
país e pela própria Vida. Velhos sim, eternos também. Velhos trabalhadores aposentados ou,
simplesmente, Belos.

22 Trecho da música Jovens e Velhos, de autoria de Péricles Cavalcanti e Arnaldo Antunes, faixa nº 10 no CD da
cantora Adriana Calcanhoto, intitulado – SENHAS -, Columbia Compact Disc Digital Audio

Serafim Fortes Paz 38/47


A velhice, enquanto registro do tempo e da vida, não se mede apenas pelos anos de vida,
tampouco a beleza se afirma pela aparência "estético-física", mas, sim, pelo acúmulo de
histórias, experiências e sabedoria e na firmeza e garra da "cabeça erguida".

Idosos produtivos ocupam cada vez mais espaços nas diversas áreas, tais como: literatura – a
Academia Brasileira de Letras serviria de exemplo, escritores como Jorge Amado (figura 37),
no jornalismo destaca-se o já centenário Barbosa Lima Sobrinho, na política e na ciência,
sexagenários e de mais idade têm contribuído com seus feitos, no teatro e no humor vários
artistas se destacam, como na figura 38, na filantropia e na assistência na figura 39, são
exemplos das celebridades.

figura 37 figura 38 figura 39

Do mesmo modo, os idosos anônimos, ilustrados nas figuras 40, 41 e 42, que se dispõem a se
manter vivos, atuantes e atualizados em continuar sua trajetória de luta, na conquista de
espaços, direitos e dignidade.

figura 40 figura 41 figura 42

São rostos que marcam sua existência e presença, registram sua história da vida, no tempo e
no espaço, (figuras 43 e 44), e, desse modo, cultivam e exemplificam sua existência,
contribuindo socialmente e combatendo formas de negação, asilamento e anulação.

Serafim Fortes Paz 39/47


Permanecendo ativos na preservação da vida (avivando a memória histórica), na
demonstração de atitudes significativas, para si e para os outros homens, tornam-se, assim,
algumas maneiras de – se olhar no espelho – acentuar a beleza do homem velho, como na
imagem que se estampa na música – O Homem Velho –, de Caetano Veloso23:

O HOMEM VELHO
Caetano Veloso

O homem velho deixa a vida


e morte para trás
Cabeça a prumo, segue rumo
e nunca mais
O grande espelho que é o mundo
ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos
animais

A solidão agora é sólida, uma


pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos
a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de
poesia, soul e rock'n roll
As coisas migram e ele serve
de farol.

A carne a arte arde e a tarde cai


No abismo das esquinas
A brisa leve traz o olor fulgaz
Do sexo das meninas.

Luz fria, seus cabelos têm


tristeza de néon
Belezas, dores e alegrias passam
sem um som
Eu vejo o homem velho rindo
numa curva de Hebron
E a seu olhar tudo que é cor
muda de tom

Os filhos, filmes, livros, ditos


como um vendaval (vendaval)
Espalham-no além da ilusão
do seu ser pessoal

Mas ele dói e brilha único indivíduo,


maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que
é imortal.

Aqui o Espelho, reflete a capacidade que a velhice, depositária de uma sabedoria, experiência
e de vida se mostra presente no novo. O trecho a seguir nos dá essa pista interpretativa.

23 VELOSO, Caetano. O Homem Velho. Faixa nº 02, do CD Caetano Veloso, Polygram/Philips, 1986.

Serafim Fortes Paz 40/47


"O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais. O homem velho é o rei dos
animais"

figura 43 figura 44

Para garantir essa relação intergeracional e de solidariedade sócio-políticas, deve-se ampliar


os meios e instrumentos técnicos e científicos e de participação social, maior presença nas
lutas sociais, específicas e gerais, em prol do desenvolvimento da nação tornam-se indicadores
de um novo rumo e na construção de uma nova imagem que, certamente, ajudará a dissipar a
velha imagem de solidão – inutilidade, fragilidade e imprestabilidade – na direção de uma
outra nova imagem, como a que é transmitida neste trecho da música Homem e Velho:

"A solidão agora é sólida, uma


pedra ao sol
As linhas do destino nas mãos
a mão apagou
Ele já tem a alma saturada de
poesia, soul e rock'n roll
As coisas migram e ele serve
de farol".

Como faróis, nesta última década, os idosos brasileiros se tornaram uma espécie de referência
dos movimentos sociais organizados, nos dando uma demonstração de força e capacidade de
organização e luta, pela reivindicação, participação, mobilização e organização nos anos 80/90.
Crescem em todo o Brasil, espaços de convivência, que para além de se tornarem somente
lugares de confraternização ou de laços afetivos, que por si só já seriam de extrema
importância, esses novos lugares já demonstram em um importante lugar de resistência e de
luta pela cidadania, junto com os outros espaços como os Departamentos de Aposentados ou
Sindicatos, Associações de Idosos e Aposentados.24

24 Os espaços denominados Grupos de Convivência, Centros de Convivência, mesmo aqueles voltados somente
para o lazer, realização de festas, passeios, bailes, jogos..., podem se transformar em lugares de "resistência", no
sentido de se operar neles o lúdico. Nesse sentido, é preciso se refletir melhor sobre a Festa – enquanto recursos
não só de confraternização, mas de agregar pessoas e de possibilitar trocas em várias dimensões: afetivas,
sociais, culturais e políticas.

Serafim Fortes Paz 41/47


Como exemplo dessa afirmação está o movimento dos aposentados e pensionistas, na luta dos
147 %, foi uma imagem e ação dos protagonistas do grande movimento – Fora Collor – contra
aquele governo. Ou na mobilização e ação de suas organizações representativas contra as
atuais propostas do governo, resultando no recuo das medidas pretendidas em relação à
desvinculação das pensões.

figura 45

É com esse grau de participação que muitos homens e mulheres idosos acenam para as novas
mudanças e, dessa forma, acentuam sua beleza nestas últimas décadas que antecedem o
próximo século. Cada vez mais, idosos engrossam as passeatas e os manifestos públicos,
presentes nas lutas de um modo geral e, em especial, juntamente com sua própria categoria –
os trabalhadores. Desse modo, já marcam e marcarão sua presença ativa nos mais diversos
setores e grupos sociais, contribuindo para a mudança dessas imagens, e, desta maneira,
poderão alcançar novos e importantes espaços e, sobretudo, resgatar e preservar sua
memória de trabalhador e de sua participação na história deste país.

figura 46

Muitos têm estado ao lado de outros setores e categorias também trabalhadores, buscando,
juntos, reivindicar melhorias das condições de vida, salário justo, aposentadoria digna, bem
como a aquisição de novos direitos sociais e a garantia dos já conquistados. Conscientes de
sua importância e participação numa perspectiva de preservar sua memória e identidade, com
vistas a construir, reafirmar e expandir a cidadania.

Ao nos aproximarmos da finalização deste texto, é preciso destacar que estas imagens influem
na formação do imaginário, mas não significa que elas sejam eternas e cristalizadas. Por esta
razão, é possível revertê-las. A sociedade contemporânea tem capacidade de alterá-las ou
modificá-las.

A expansão das informações, das comunicações, do próprio conhecimento, a diversificação de


projetos sociais, políticos e culturais, – em especial profissionais sensíveis de várias áreas
podem atuar e devem direcionar ações e intervenções nesse sentido.

Serafim Fortes Paz 42/47


Assim como os homens, incluindo-se os próprios velhos, como já vêm fazendo, tornam-se
parceiros e aliados das transformações, buscando-se os meios e formas de recriar, manifestar
e expressar a nova/velha imagem do homem idoso – sem estereótipos.

Mas, também é precioso que estejamos ao lado deles, os apoiemos e os estimulemos na


criação e organização de novos canais de informação e de expressão, de denúncia, no combate
aos maus tratos ou formas de violência; na elaboração e divulgação de seus projetos de vida,
na busca de novos aprendizados, na atualização social, cultural e política, lazer, recreação,
entre tantas outras formas, e, logicamente, tudo isto com muito prazer.

É com essa presença e participação, em todos os níveis, que os idosos estão a nos mostrar
que são belos velhos – trabalhadores –, tanto no passado quanto no presente, permanecerão
sempre trabalhadores e, como tal, compartilham dessa identidade e, assim, continuarão a
contribuir na construção desta nação, no seu desenvolvimento social, econômico e cultural.

De todo modo, o homem velho – na imagem-texto da letra da música de Caetano Veloso, está
e deve se fazer presente, pois, acima de tudo:

... ele dói e brilha único indivíduo,


maravilha sem igual
Já tem coragem de saber que
é imortal.

E na cena da idosa diante da imagem do ancião (Imagem 46), frente ao espelho, pergunta-se:

figura 46

Espelho, Espelho Meu ! ! ! ... Existe alguém no mundo mais bela do que Eu?

“O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da
imagem, da identidade, da autonomia, de valores, idéias e crenças, dos espaços e dos objetos pessoais.”
(Estatuto do idoso Capítulo II, Art.10, § 2º , 2003)

Serafim Fortes Paz 43/47


CRÉDITOS

Fotos (esculturas) – Toninho Caetano

Scanner de imagens – Papel e Tinta Editora

Revisão Ortográfica – José Maria Maia

Diagramação – Márcio Borges e Silva

Lay-out final – Eneida de Almeida Mendonça

Figuras sem número na página 12: Charge da revista


Caras e Imagem da reportagem sobre Clínica Santa
Genoveva, Revista Isto É, Junho/1996.

Figuras 01 e 02 – Imagens da História Branca de Neve


– Coleção Disney Stars, Melhoramentos/Disney, 1986.

Figuras 03 e 04 – Imagens da História Branca de Neve


e os Sete Anões – Coleção Livro de Ouro das Mil
Histórias Sem Fim – Editora Itatiaia Villa Rica, s/d.

Figura 05 – Imagem da História A Velha e os Gansos –


Coleção Livro de Ouro das Mil Histórias Sem Fim –
Editora Itatiaia Villa Rica, s/d.

Figura 06 – Imagem da História A Bela Adormecida –


Coleção Berimbau, nº 5, Editora Brasil-América, s/d.

Figura 07 – Imagem da História Rapunzel – Coleção


Histórias maravilhosas, Editora Itatiaia Limitada, Belo
Horizonte, 1987.

Figura 08 – Imagem da História Chapeuzinho


Vermelho – Coleção Biblioteca de Ouro de Contos
Clássicos, Editora Itatiaia Villa Rica, s/d.

Figura 09 – Imagem da História A Velha da Floresta –


In Histórias Infantis: Contos e Lendas do Irmãos
Grimm, Coleção Completa, Vol. III. Tradução de Íside
M. Bonini. Ilustrações de Ramirez. Gráfica e Editora
"Edigraf" S.A., São Paulo.

Figura 10 – Imagem da História A Velha e os Gansos –


Coleção Livro de Ouro das Mil Histórias Sem Fim –
Editora Itatiaia Villa Rica, s/d.

Figuras 11 e 12 – Pintura de Arcimboldo do século XVI.

Figuras 13 à 21 – Fotografias das esculturas existentes


no Rio de Janeiro: Praça Paris – Glória e do Campo de
Santana – Centro.

Figuras 22 e 23 – Imagens da Coleção As Memórias da


Bruxa Onilda. Editora Scipione, São Paulo, 1994.

Serafim Fortes Paz 44/47


CRÉDITOS

Figuras 24 à 26 – Imagens da História Sítio do Pica-


Pau Amarelo, Obra Infanto-Juvenil Monteiro Lobato –
Coleção Monteiro Lobato, Círculo do Livro, s/d.

Figuras 27 à 31 – Imagens da Revista Domingo/Jornal


do Brasil.

Figura 32 – Imagem do folheto distribuído em


localidades do Rio de Janeiro e outros Municípios do
Estado, pelo Sindicato das Empresas de Transporte
Rodoviário do Rio de Janeiro.

Figura 33  Imagem de charge produzida para este


trabalho.

Figura 34  Imagem recolhida em trabalho escolar de


aluno de graduação da Universidade Federal
Fluminense.

Figura 35 – Imagem de capa da Revista Cadernos do


Terceiro Mundo, 1995.

Figuras 36 à 41 – Imagens da revista Domingo –


Jornal do Brasil.

Figuras 42 e 43 – Fotografia de membros do Projeto de


Extensão: UFF – Espaço Avançado, da Universidade
Federal Fluminense.

Figura 44 e 45 – Imagens de reportagens da Revista


Terceiro Mundo, 1995.

Figura 46  Imagem de charge do Jornal do Brasil.

Serafim Fortes Paz 45/47


BIBLIOGRAFIA

BAPTISTA, Miriam Veras. A Participação como Valor e


como Estratégia de Ação do Serviço Social. In: Revista
Serviço Social e Sociedade no. 25 , Ano VIII,
Dezembro, São Paulo: Cortez, 1987.

BARRETO, Maria Letícia. Admirável Mundo Velho. São


Paulo: Ática, 1992.

BEAUVOIR, Simone de. A Velhice – Realidade


Incômoda. Trad. de Heloysa de Lima Dantas. São
Paulo: Difusão Européia do Livro, 1970.

BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças de


Velhos. 2. ed. São Paulo: Edusp, 1987.

CASTORIADIS, Cornélius. A Instituição Imaginária da


Sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

CHAUÍ Marilena de Souza. Cultura e Democracia; o


discurso competente e outras falas. São Paulo:
Cortez, 1989.

CIRLOT, Juan-Eduardo. Dicionário de símbolos. São


Paulo: Editora Moraes, 1984.

COELHO, Nelly N. O Conto de Fadas. Série Princípios.


Eidtora Ática, 1994.

CÓRDOVA, Rogério de Andarde. Imaginário Social e


Educação – criação e autonomia. Revista Em Aberto,
nº 61, MEC/INEP, 1994.

DEBERT, Guita Grin. A Invenção da Terceira Idade e a


Rearticulação de Formas de Consumo e Demanadas
Políticas. Lua Nova, Revista Brasileira de Ciências
Sociais, vol. 12, nº 34, junho, 1997.

ELIAS, Norbert. La soledad de los moribundos. 2. ed.


México: Fondo de Cultura Economica, 1989

FALEIROS, Vicente de Paula et alii. Novas Tecnologias,


reorganização do trabalho e seguridade social. Revista
Universidade sociedade – ANDES, ano 4, nº 06,
fevereiro de 1994.

FEATHERSTONE, Mike. O curso da vida: corpo, cultura


e o imaginário no processo de envelhecimento. In
Textos Didáticos, UNICAMPIFCH, Campinas/SP, 1994.

FLEURY, Sônia. Estado sem cidadãos – seguridade


social na América Latina. Rio de Janeiro: Editora
Fiocruz, 1994

GARNER, James Finn. Contos de Fadas Politicamente


Corretos – uma versão adaptada aos novos tempos.

Serafim Fortes Paz 46/47


Tradução Cláudio Paiva. Rio de Janeiro: Ediouro,
1995.

BIBLIOGRAFIA

HADDAD, Eneida Gonçalves de Macedo. Aposentadoria


e Previdência Social. Coleção Questões de Nossa
Época. São Paulo: Cortez, 1994.

____.A Ideologia da velhice. São Paulo: Cortez, 1986.

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Tradução:


Laurent Léon Schaffter. São Paulo: Vértice, 1990.

IANNI, Octávio. Dialética e Capitalismo. Petrópolis:


Vozes, 1982.

____. Imagem e Semelhança. nº 8. Revista de


Psicologia Social, São Paulo: Educ, 1987.

LIMA, Sandra A. Barbosa. Participação Social no


Cotidiano. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1983.

JÚNIOR, Eduardo Neiva. A Imagem. 2. ed. Rio de


Janeiro: Ática, Série Princípios, 1994.

KRISTEVA, Julia. Estrangeiros para nós mesmos.


Tradução Maria Carlota C. Gomes. Rio de Janeiro:
Rocco, 1994.

MÉSZÁROS, István. Marx, a Teoria da Alienação. Trad.


Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

NERI, Anita Liberalesso. Qualidade de Vida e Idade


Madura. Coleção Vivaidade. Campinas/SP: Papirus
Editora, 1993.

RABELLO, Lúcia de Castro. Desenvolvimento Humano:


uma perspectiva paradigmática sobre a temporalidade.
In Psicologia Reflexão e Crítica. Porto Alegre, 1992.

RODRIGUES, Selma Calasans. O Fantástico. Série


Princípios, Rio de Janeiro: Ática, 1988.

SADER, Emir (org.). Pós Neoliberalismo – As Políticas


Sociais e o Estado Democrático. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1995.

SECCO, Carmen Lúcia Tindó. Além da Idade da Razão:


Longevidade e Saber na Ficção Brasileira. Rio de
Janeiro: Graphia, 1994.

SPOSATI, Aldaíza et alii. Os Direitos (Dos


Desassistidos) Sociais. São Paulo: Cortez, 1989.

SOUZA, Maria Luiza de. Serviço Social e Instituição: a


questão da Participação. São Paulo: Cortez, 1982

Serafim Fortes Paz 47/47


VERAS, Renato P. País Jovens de Cabelos Brancos: a
saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro; Relume
Dumará/UERJ, 1994.

Serafim Fortes Paz 48/47

Você também pode gostar