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Arwind Vasavada

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Joel Covitz

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Moedas e Mudanças Psicológicas
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t~ I Por Russel A. Lockhart
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..I ~ \ Quando eu era criança, eu freqüentemente entrava dentro de um

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.1.
.1.
armário no meu quarto. Depois de fechar a porta eu acendia uma
lanterna e a cobria com um plástico azul e desmontava o que minha
mãe chamava de "pilha de lixo". Eram brinquedos velhos, livros,
papéis e roupas. O que minha mãe não sabia - o que ninguém no
mundo inteiro sabia - que esta pilha de lixo era uma camuflagem
.1- elaborada que servia de esconderijo para um segredo. Meu segredo

-,-..
era uma caixa de fósforos cheia de moedas de prata - níqueis, moe-
ú . , .
das de dez e quinze centavos. Eu retirava estas moedas e naquela
estranha luz azul eu começava a usar minha imaginação. Eu imagi-

~
•• nava grandes riquezas e fortuna abundante. Eu sabia o significado
de uma Relação Plutônica! Porém mais do que riquezas, quando

:1:
olhava fixamente para estes objetos prateados, isto excitava minha
imaginação. As moedas tinham um forte efeito generativo. É dito
que dinheiro gera dinheiro, mas eu sabia que dinheiro gerava mun-

Traduzido do Livro "Soul and Money" . Spring Publications, Inc. Dallas, .I~ . dos imaginários. Eu também sabia, que gerar tinha alguma coisa a

Texas.
;' .- I.. ~ ; ver com sexo. Eu ainda não estava consciente da relação curiosa
entre gastar-se sexualmente, gastar energia, gastar tempo e dinhei-
.I~ . ro , ou ainda com problemas como uma pessoa se guardando sexu-

~sta tradução Coi reali zada em 1q97/1998 e foi patrocinada pela sociedade
. ~ I, almente, guardando tempo, energia e dinheiro. Eu estava gastando

pela democratização do saber. ~! , tempo com moedas que eu nunca gastaria. Essas aventuras imagi-
nárias estimuladas pelas minhas moedas eram as experiências mais
~ I.. ~ valiosas. Ocasionalmente eu seria despertado dos meus devaneios
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• ...
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( 9:)

c., I~
fJela mlllha mÊle batendo na po rta, querendo saber o que eu estava ' j~ bre din heiro me assusta tanto quanto uma grande inflação. Mas eu
fuzendo O discernimento impede-me de ir mais além do que ulzer i~ aceitei o desafio em parte como uma maneira de honrar o retorno

'i~
-\uC) as minhas pnrneiras experiências com sincronicid ade , for am das minhas moedas de infância.
es tes momentos de correspondência entre a suspeita de minha mãe
e d com pleta exi en são das minh as exploraçõe s imaginá rias. i~ ~ Eu estava excitado sobre o retorno das minhas moedas . Me pa-
i r. receu tão certo estar escrevendo sobre dinheiro baseados nos aus··
Uma tarde eu tinha voltado para casa depois da escola e com o ~i~ . picios de uma imagem que na minha infância tinha me co nectado a
meu entusiasm o usual fui para o meu armário e as minh as moedas imaginação, alma e corpo . Mas alguma coisa estava errado . Eu
secretas Eu fiquei ch ocado com o que achei. O chão do armElrIo
estava vazio, limpo e varrido . Eu procurei freneticamente pelas mi-
". Ii ..... tentava porém não conseguia escrever. Meses se passaram e mi-
nha máquina de escrever ficava parada. É claro! O sonho tinha me
nhas moedas e não pude encontrá-Ias. Minhas moedas secretas c. i. • mostrado que as moedas detiam a máquina. No meu excitamento
haviam sumido Eu corri para as latas de lixo lá fora , mas elas esta-
vam vazias. Minhas moedas eram de um tal segredo que eu não
conseg ui perguntar sobre elas . Eu nunca voltei para o meu armá rio
novamente para passar aquelas horas imaginárias. Alguma coisa se
-i.
·i~
i. \ sobre as moedas, eu me neguei a perceber isto. No sonho , foi
quando eu coloquei as moedas de lado, é que pude continuar a es-
crever. Mas como eu poderia escrever sobre dinheiro e colocar mi-
nhas moedas de lado? No sonho eu pude fazer o que na realidade
quebrara em mim com esta perda . Pouco tempo depois eu tiv e um ~ i. do dia a dia, não poderia. A chamada das minhas moedas era muito
caso severo de sarampo que se transformou em mastoidite e eu fui
ei. ,
forte .
hospitalizado . Mesmo então, eu conectei a perda das minhas moe-
das secretas com a minha doença. O resultado desta experiência
foi que eu quis me tornar um médico. Eu esqueci sobre as moedas.
Eu esqueci sobre a imaginação. Eu direcionei minha atenção para o
mundo e deixei para trás as coisas de criança. A partir desta época
até me graduar na escola eu não tive sonhos. Minhas moedas, mi- :'
-i.
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-I.
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O que seguiu a isto então, não foi uma composição escolar sobre
{ a psicologia do dinheiro. Nem tampouco tentei uma aproximação
junguiana para o significado do dinheiro em uma prática analítica ou
~ na vida do dia-a-dia em qualquer maneira formal ou teórica apropri-
ada. Todas estas coisas são, é claro, assuntos vitais para nós, di-

-..
nha imaginação, até mesmo os meus sonhos tinham partido. t ••
~.
; gnos de busca. Mas aqui, nestas poucas páginas, tenho de seguir o

Alguns meses atrás eu tive um sonho:


~; : comando das minhas moedas, deixando-as ser psico-ostentações
1 novamente.

Eu estava sentado na frente da minha máquina de escrever, de


repente ela parou de funcionar . Eu abri a tampa e achei a cai-
xa de fósforo dentro da máquina Eu abri a caixa de fósforo e
ela estava cheia de moedas. Eu as coloquei de lado, coloquei a
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-i.
·i~
• i~
Na primavera, fui para a Escócia. Eu havia trabalhado por vários
meses no assunto dinheiro e não cheguei a nada. Um estagiário
aparentemente disse mais em uma observação bem-humorada do
que eu tinha conseguido com todos os meus esforços. Ele disse:
"Dinheiro é como sexo: nunca existe suficiente e nunca é demais."
tampa novamente e continuei a datilografar.
·i~ Porém certamente na Escócia, eu acharia alguma coisa sobre di-
nheiro que me libertaria desta situação difícil na qual me en contrava.
e it!' Eu me decidi a recolher algumas estórias dos velhos carregadores-
Pouco tempu depois deste sonho , o Dr. James Hillman me telefo- e i~ tradicionais na Western Highlands. Eu recebi muitas estórias mas
nou e me apresentou um convite para falar no Congresso Internaci-
onal de Psicologia Analítica sobre o assunto de dinheiro. Falar so- ~i~ nenhuma sobre dinheiro, no entanto escutara um provérbio que ex-

i
f:i., citou alguma coisa no meu próprio sangue escocês . Corno analista
;·,I 3
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jllnglllano tenho tendido freqüentemente a focalizar na forma red on- ~i~ Imediatamente eu fiquei perplexo pela extraordinária dificuldade
d'-l das moedas , suas qualidades mandálicas inerentes, sua rel ação "j~ quando se fala sobre dinheiro, o qual parece estar firmemente ca-
racterizado por duas alternativas de ganho e perda, ter e não ter,
com energia e valores, e seus símbolos próprios. Este prové rbio
escocês foi um choque para meu pensamento preguiçoso . "DInh ei-
j~ gastar e guardar, como é difícil achar a sabedoria desta terceira po -
ro" diz o escocê s, "é plano e foi feito para ser empilhado" . Tão ti pI- "i. ~
sição.
camente escocês notar as características esquecidas e relembrai a " I. ~ Nesta viagem, descobri alguma coisa sobre meus ancestrais que
utilidade das coisas!
"I curiosamente parecia estar conectado com ambos: meu interesse
No meio de uma escura tempestade encontrei meu caminh o I ~_ .. ..J "i em cura e meu renovado interesse em moedas. Em 1329, um grupo
o Castelo Dunvegan, casa ancestral do Clã McCloud na Ilha de
Skye. Eu conversei longamente com um guia do castelo , que era
I.
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'" de cavalheiros escoceses partiram em uma cruzada para a Terra
sagrada. O líder deles, Lorde Douglas, carregava sobre seu pesco-
ço uma caixa de prata que continha o coração de Robert the Bruce,
clleio de estórias e muito satisfeito por ter um ouvido desejoso de
escutá-Ias. Quando nós paramos embaixo da famosa Bandeira das ·I~ o qual havia lutado para libertar a Escócia do domínio Inglês mas
Fadas, perguntei a ele sobre alguma estória de dinheiro. Ele pensou ~
Iii morreu antes de fazer uma peregrinação até a Terra Sagrada. Ao
&i
por algum tempo , pareceu abatido, e finalmente disse que não co-
nhecia nenhuma. Então, em um instante, falante como eu já havia
visto , disse que talvez tivesse uma que poderia me contar. Um dia
llrna vaca estava pastando muito perto da borda de um rochedo
·i~
$i.
. lado de Lorde Douglas, cavalgava Sir Symon Locard, que fora tor-
nado cavalheiro por Robert The Bruce, e lhe confiada a missão de
j carregar e proteger a chave da caixa com o coração. Eventual-
, mente, eles cavalgaram em uma batalha contra os Sarracenos na
muito alto, escorregou e caiu . Lá embaixo, no lago, um pescador Ci. ! Espanha. Lorde Douglas foi morto, mas Sir Symon Locard, com
muita bravura, conseguira salvar a caixa com o coração. Posterior-
pescava preguiçosamente no seu barco, o qual fora trazido pela
correnteza . A vaca aterrissou justamente encima do barco, destru-
Ci .. e mente, para comemorar este evento, o nome de Locard fora mudado
indo-o completamente, e além do mais o animal não sobrevivera ao • C
impacto. Os dois homens começaram uma tremenda discussão j •
sobre de quem era a culpa do incidente. O proprietário da vaca
! - ••
i•
i. I para "Lockheart" (nota da tradução: Lock em inglês significa: fechar,
trancar e Heart significa: coração), e mais tarde fora encurtado para
"Lockhart". Um coração com uma trava tornou-se o escudo de ar-
~ mas da família ,com o lema "corda serata pando", que significa "Eu
~ • I. l
afirmava que se o pescador não tivesse sido tão descuidado e dei-

; -I- I
xado seu barco à mercê dos ventos e correntezas, a vaca teria caído abro corações fechados".
sem nenhum arranhão dentro da água. O dono do barco afirmava
que se o pastor não houvesse sido tão descuidado ao deixar a vaca p •• Durante esta batalha, Symon capturou um príncipe Emir de gran-

~ -I
pastar perto da beira do penhasco, o animal não teria caído. Inca- _de fortuna e distinção. Quando estava pagando um grande resgate
pazes de decidir sobre a disputa, levaram o problema até o chefe da i . . . fi i em ouro e prata, a mãe do príncipe deixou cair de sua bolsa uma
vila . O chefe encontrou-se em um grande conflito e simplesmente ~ I, ; jóia. Meu esperto ancestral ordenou que a jóía fosse também incluí-
não se julgava capaz de achar uma solução justa para o problema.
~ •i~ t da no resgate. Obviamente a mãe nem titubeou em concordar, para

/ • ii ~..,
Então, ele chamou o sábio da vila - o qual nós, nos dias de hoje, : não perder seu filho e disse a Sir Symon que era uma antiga pedra
chamaríamos seu analista - e pediu o seu conselho. "Chefe", o ana- t: • . com poderes curativos, um remédio sagrado e poderoso contra to-
lista disse, "você deve. pagar à ambos, pois o rochedo estava em ... ~ dos os tipos de doenças. Durante o reinado de Eduardo IV, a jóia,
seu solo , que não deteu a vaca , e as ondas em seu lago que trouxe- ~.H "i ..
.. .
; uma pedra triangular e vermelha escura, foi colocada sobre uma
ram o barco até onde ele se encontrava." :~
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moeda de prata, e desde então, tem sido conhecida como Lee Pen-
ny , depois da casa ancestral dos Lockharts nas áreas Lee e Car-
~ ei
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m /8th no su l da Escócia. O Lee Penny se encomra 8gora em mãos
,jl" ;:)irnon Macdonal Lockhart , o proprietário atual das terras de Lee,
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."~ Dick. A imagem me prendia a atenção. Constrangedoramente tam-
bém havia esta figura, uma moeda de ouro e o Lee Penny, encrava-
das juntas. Eu sabia que a moeda de ouro era uma imagem própria
'.1II e coriesrnenk: me aceitou como convidado durante minha rece nte
vl:;,ii3 a me deu a chance de fica r sozinho com a jóia .
~ ~ como Moby Dick. Mas assim ilar imagens a um conceito próprio nao
I. ~ ti era muito sedutor. Eu percebo pouca vida nisto. Mas freqüente·
Quando segurava o Lee Penny e admirava a caixa de ouro que o , I., t ~ mente acho vida na conexão entre imagens, na maneira em que
~ es~as se e~~ntram ~nectadas, no qu~ .eu chamo. de "Erosbond"
C !· - 1
gumdava, o qual fora presente da Imperatriz Rainha da Áustria , es-
tranh amente excitad o comecei a experimentar um fluxo de imagens (Vinculo erotlco) entre _Im~ ge n s. Na e~ton a .de Melvllle, a~ lm_agens

~It
Imllpejanles que nunca havia antes experimentado. A pedra estava i de moeda e balela estao ligadas atraves da Imagem do tallsma. Era
~
viva. O talismã , que serviu de inspiração para o livro de Sir Walter
Scott, The Talisman , ti nha uma história notável de curar e um a intri- I esta ligação que começou a dançar na minha mente junto com o
talismã do Clã Lockhart.
Çjd l l tê maneira de exercer seu poder. O ritual para evocar os pode-
res cio talismã, era mergulhá-lo dentro de água com "dois merg ulhos í~ 1 Eu encontrei no comentário de mestre do Dr. Edinger em Moby
e um giro". Du rante este ritual não se deveria falar, para não afetar .~~ j Dick uma observação excitante e comprovadora. Ele disse que esta
os poderes da pedra . Este aspecto do ritual tinha um curioso efeito I~ J ligação era "uma conexão orgânica entre o sign ificado simbólico da
~ moeda e da baleia" . Para mim , Edinger fazer uso da palavra "orgâ-
sobre mim , que eslava tão ligado com o mundo real. A água usada
I• l nica" fora crucial, porque apontou para a qualidade vital da ligação
neste ritu al poderia curar feridas , doenças dos rebanhos de todos os
ti pc..s , existem muitos registras sobre tais efeitos. Eu posso afirmar o _,I . entre moeda e baleia. A idéia de que a moeda e a baleia eram sim-
puder inerente deste talismã mas me lembro também , das palavras
.1.
•• '. bolos próprios, era para mim sem vida, pois isto eu já sabia . Mas a

.,.:,.
do meu anfitrião em seu livro sobre a história da familia Lockhart : imagem da moeda como um talismã próprio, isto eu não sabia e
"Vangloriar-se da posse de um talismã roubado de uma mãe deses- parecia-me cheio de vida e um presságio.
perada não é uma das qualidades mais·gloriosas". .1' i Melville deve ter percebido a capacidade orgânica e vital do pró-
Mas a natureza talismânica do Lee Penny tem me perseguido ~ prio eu, para dar alma aos objetos das nossas experiências e as

....
desde que o tive em minhas mãos. Minhas tentativas de escrever i suas relações com a psique. Escrevendo sobre a moeda ele deu

'
~ alma a este aspecto peculiar e intrigante quando ele disse: "Há al-

.1.
sobre dinheiro tinham naufragado, e minha intensa preocupação
com o talismã que possuía poderes curativos continuava interfe rin- . guns certos sentidos escondidos em todas as coisas, e mais todas
do. A imagem de ativar os seus poderes não dizendo nada, conti- as coisas são de pouco valor, e o mundo nada mais é do que uma
nuava a rodear minha psique e quase me deíxou mudo. Então, aci- cifra vazia" . Na imaginação de Melville, ao mundo é dado uma alma
dentalmente, minha atenção foi atraída pelo capitulo 99 de Moby .1 " ~ com valor e importância, um sentido que está "escondido" em todas
Dick escrita por Herman Melville. .I~ t as coisas. Foi esta imagem de esconderijo que caracterizava para
.!~ l mim a qualidade de vida orgãnica. Dizer que este sentido "escondi-

·~ I~
4 do" em todas as coisas levava a um interioridade metafórica onde
II qualquer um pode ouvir aquele sentido "mentira em espera" o senti-
.~ do é "pronto para criar uma armadilha" este sentido se move "furti-
Havia encravado no mastro principal do Pequod uma moeda de
ouro, um grande dobrão Equatoriano, o prêmio por encontrar a
C-II .~,
iii>:.
vamente" , "sorrateiramente", "secretamente", este sentido vive e
respira sem ser notado, insuspeito, ocu lto, escondido da vista. Em
grande baleia branca . Este era, segundo Melville o t alismã de Moby
;1;
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tal submundo imaginário , o próprio sentido tornou-se personificado,

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i ~ mânico pode ser investido a qualquer objeto, isto significa que qual-
quer objeto pode se transformar em dinheiro.
vivendo no escuro, nas sombras , obscurecido, observando,
i~
Vlúe."
c~f.-eIJr.ld0, aguardando o momento certo para que sua vo~tad e sej a
fe. it <.i E verdade que nós podemos achar um sentido . E verd ade , i~ Se dinheiro é o talismã do Eu, então o Eu deve usar dinheiro para
que o sentido também pod e nos achar. , i~ atingir seus objetivos. Uma afirmação tão estranha está em con-
, i~ traste com a ênfase mais usual no uso do ego e a relação com o
Eu perce bi , é claro, que a moeda de ouro, somada ao símbolo da
personalidade e ao talismã de Moby Dick, era de fato , dinheiro . Tal-
'véZ nada mais, (talvez isto seja sexualidade) parecia-me tão du ra.
'i.
, i 4)
\;
"I
dinheiro_ E ainda, há um poder talismânico que se esconde no di-
nheiro, e este poder é lá investido pelo Eu. Quando nós nos con-
frontamos com o poder do dinheiro em nossas vidas, estamos nos
tâLJ real , tão concreta , tão literal, e ainda tão rapidamente simboliza-
da, interpretada ou traduzida para alguma outra coisa. Eu estava

, i~
"I
• .
,
confrontando com o poder dos "Outros", em nós, um poder que faz
valer sua vontade através do dinheiro. 'E o Eu". Foi este poder que

-i.
confuso sobre isto, e compreendi que um aspecto destas mentiras l experienciei muito tempo atrás, quando estava com minhas moedas
se encontra na natureza do próprio dinheiro: dinheiro é a forma mais li. ~ dentro do armário. O Eu usava as moedas para transformar meu
poderosa , prática e experiente de transformação. E de uma manei- d
ti
mundo do dia-a-dia em um mundo de psique.
ra totalmente real, uma pessoa pode transformar dinheiro em qual-
'i~ ~
quer coisa neste mundo. Nenhuma outra coisa consegue esta vari-
edade de transformar possibilidades em realidade ou em fantasia .
Ne ste sentido, dinheiro simboliza tudo. Byron foi diretamente ao
'i.
ii.
~\.
Neste ponto, poderia entrar dentro da história e o significado dos
talismãs e ampliado todas as maneiras de interesse e imagens po-
derosas que se referem aos talismãs e ao seu uso, e como tudo isto,
núcleo do problema, quando observou que "toda guinéu (antiga mo-
eda de ouro inglesa) é uma pedra filosofal" . A vida e alma do dinhei-
ro deve encontrar-se nesta potencialidade de transformação . Esta é
'i.
'i. I
pode ser notado em nosso comportamento e relações com o dinhei-
ro. Talvez em uma outra vez. Em vez disso, fui apanhado pelo que
Paul Valery havia percebido:
também, a razão pela qual a psique esta atraída por uma fascinação 'I,
pelo dinheiro. Assim como a procura pelo ouro alquímico, ou a pro-
'I. \
..--I', \
ei.
cura pelo amor verdadeiro, uma pessoa experimenta algo da possi- Você com certeza já observou o fato curioso que uma
bilidade de transformação em si mesmo, quando nas garras do po- 'i palavra, a qual é perfeitamente clara quando você a es-
der transformador do dinheiro. Eu suponho que este é o porquê, cuta ou usa na linguagem do dia-a-dia, cuja mesma pala-
quando alguém se encontra em profunda depressão, gastar dinheiro e vra não traz nenhuma dificuldade quando esta se encontra
fará muito bem ao espirito. ~ engajada em um rápido movimento de lima simples frase,

-I, se toma, como que por encanto, complicada, apresentan-

..
Refletindo sobre a moeda de ouro como dinheiro, e Moby Oick do wna estranha resistência, frustrando qualquer esforço
como uma personificação do próprio eu, produziu uma afirmação -i~ de definição, tão logo você a retire de circulação para
muito curiosa, que não me deixava mais sozinho: dinheiro é o talis- ~~ -i-. examiná-la separadamente, e procurar entender seu signi-
mã do próprio eu . O que isto poderia significar? Um talismã é objeto . .. ~
' .... -:tI
ficado tirando a sua função instantânea.. . Nós entende-
investido de um poder 'sobrenatural' que pode ser efetivamente e
ativamente chamado para exercer seus efeitos para atingir certos
objetivos. Note-se a diferença entre o "amuleto", este apenas prote-
-, ~i~
,..
~
mos a nós mesmos, agradecemos somente a velocidade
do nosso intercâmbio das palavras utilizadas .. ...

ge contra o mal, desviando-o. Claramente, um talismã carrega um


ativo poder transformador. O poder talismãnico do dinheiro se en-
~i~
contra em sua natureza transformadora. Desde que o poder talis- ci~
I: -!~ 9
8 j c. I ;) J _ ...
~,

• :0-)
.. I
~

[ mais uma vez, fora apanhado pela minha própria fasclll ação C i rios, conclusão e realização, e pagamento em dinheiro relacionam-
COlil as palavras En tão escrevi:
i~ se sempre um com outro.
': i ~ Questões começaram a surgir. Como o Eu usa o dinheiro para
Significados gerais e defin ições são muito freqüentemenlt:
apen:J~ a aparencia de uma palavra. Nós usamos palavras mas
j~ § representar alguma coisa sagrada? Como o dinheiro pode consa-
.." I . ~ grar o trabalho que nós fazemos na análise? O dinheiro pag o por
não co mpree ndemos a sua alma - e até mesmo, nem nos im -
portamos Nós todo s abusamos da palavra. Qua lquer coisa , i -, '~
:~
um paciente é para pagar a iniciação aos mistérios do próprio Eu?
Eu me lembrei da admoestação de Tertullian que afirm ava "nada
qlle nos lib erte da PI isão do significado geral, do sentido lit era l
e a \ (;Iocidade do presente, isto nos ajudará a libert ar a pSiqlI I:
I ., que é de Deus pode ser obtido através do dinheiro", e Thoreau: "di-
ela sua prisão . Palavras tomam vida, induzem imagens, exc i-
ti. "I . .~, nheiro não é exigido para comprar uma necessidade da alma". Mas
tam a imagi nação, começa a nos mostrar novas estrutura unin- .i ~ j
1
nós não somos trabalhadores da alma? Nós não nos empenhamos
nas necessidades da alma em nosso trabalho? Se isto é verdade,
do umas as outras a nos contam estórias completas, se nos
apenas arran harmos a superfici e de uma palavra. Ci, ,i dinheiro é necessário para comprar a conexão com a alma, conexão
ei, ), com a psique; e conexão com o Eu através de nós. As raízes do
·i~ l talismã dizem me que os mistérios sagrados e dinheiro relacionam-
Então , se eu seguisse esta idéia de "dinheiro como o talismã do
Eu", Eu teria de seguir as palavras. Palavras como moedas , são
domínios com significados escondidos. -i.
&i.
-i,
~

á•
se um com outro.

A palavra telein vem da palavra grega telos, que significa "reali-


9 zação" e "integridade" no sentido de alcançar um fim, um propósito,
~ um objetivo final. Voltando ainda mais na pré-história da linguagem,

:,i:
Eu me acerquei desta afirmação, retirando cada uma das ima-
gens centrais das palavras fora de circl,llação: dinheiro, talismã , o ~ uma reconstrução das raízes Indo-Européia da palavra te los é
Eu. Uma das maneiras que fiz isto, foi indo até a um tipo de "deva- i *qWel. Esta raiz contém a imagem básica de "revolver', "mover ao

•• l

-I.
neio etimológico" em uma tentativa de descobrir e compreender os redor de um ponto fixo" "discorrer sobre". A mesma raiz elevou do
velhos significados das palavras, que ainda estão vivos mas esque- 8 • I latim colere que significa "cultivar' que veio da nossa antiga palavra
cidos. As lembranças inconscientes destes velhos significados, ~ inglesa "culture"; o inglês antigo hweol que se tornou em inglês
lembranças da completa história no relato das palavras. Mas a
mente consciente precisa ser relembrada.

Eu comecei com "talismã". Este um substantivo francês e espa-


nhol, masculino como conveniente ao seu caráter de poder ativo.
-,.
81.

-"
i
j "wheel" (roda); e o palavra grega kiklos significando "roda".
Experienciar a natureza talismânica das coisas é experimentar
" ser girado, ser revolvido, ser levado a discorrer, cercado. Isto é uma
"{ experiência anterior que nos leva às palavras de círculos , ciclos ,
Vem também do Árabe tilsaman , o plural de tilsam. Esta por sua
vez vinha do grego telesma. Telesma refere-se a "uma cerimônia de
consagração" e era o nome para "mistérios". Derivava de uma pala-
vra grega, telein , que significava "cumprir", "se iniciar nos mistérios" ,
e "pagar". Variaçôes destas palavras referindo-se a dinheiro pago
para cumprir obr:;)açôes e débitos, dinheiro para pagar a entrada no
. ·i~
·i~
Ir -.
&
-. ~
I~
~
t rodas . Um talismã não funciona de maneira linear mas sim, girando,
~ movendo-se ao redor, circulando. Este girar, como telas, tem a ver
~. com o destino de uma pessoa, seu propósito e seu final. Girar pon-
' tos são momentos talismânicos quando então somos girados em
. direção ao nosso destino. Dinheiro como talismã do Eu agora nos
avisa que o Eu funciona através do dinheiro em direção ao nosso
sacerdócio e dinheiro pago como parte dos ritos misteriosos. Está
claro a partir da história da palavra "talismã" que iniciação aos misté-
~ i~ telos , nosso propósito e nosso fim . Nossa relação com o dinheiro
deve carregar evidências do nosso telos dinheiro funciona como um
ej~
10 i ~ II

!I ~
~

"". .I ~~
téillsrnã quando nos gira, nos fo rça , nos move para dentro da con-
frü lltação com o nosso telas. Nosso telas , nosso fina l, nosso propó- ~! , neta - também um substantivo feminino. Apesar de qu e não é o
momento para discutir sobre o significado do gênero da palavra, é
I
sito É; para determ inar nosso valor. Quando nos perguntam? "O que
VJcê vale?" não vem também a imagem do dinheiro conectada com
".~
I ~
surpreendente que a palavra para dinheiro, tão freqüentem ente con-
siderada masculina, seja no entanto um substantivo feminino . E

I~
ludas as outras considerações? Neste senti do não é surpreendente ainda, existe uma coisa mais profundamente feminina sobre esta
que a palav ra "valor" venha de uma raiz Indo-Européia que significa palavra. É o nome em Latim para a mãe das Musas que em Grego
"girar" e "torcer" , revelando palavras tais como wyrd do Inglês Arca i- ., .'!IJ • era chamad~ Mne~osyne. Ela ~r~ a ~e u sa da m~n:ória . . Porta!1to
co significa nd o "fado" e "destino" e que se tornou no inglês atual na
péil •.wra "weird" (destino) . Assim também é writhan do Inglês Arca i-
~ ..
I
~ I~
~ fora da matnz ou utero da memona vem essas Criativas rnvençoes
[i que nós chamamos de Musas, as quais entram no nome como cu-
co, que significa "entrelaçar" e "torturar", e se tornou a palavra "wri- I
(; ' ~
1 nhar, inventar moedas e dinheiro. Dinheiro esconde dentro do seu
the" (contorcer-se) . Bem como a palavra do Inglês Arcaico wyrgan 1·1nome as musas criativas e a fonte delas na sua memória.
que significa "estra ngular", que tornou-se em Inglês "worry" (preocu- . I:tt "J
pação). Encaixa-se aqui a palavra grega rhombus que significa roda . I ~ '1 Há mais. Nós achamos logo em seguida que Maneta era um
mágica e em Inglês Arcaico wyrm significando "worm" (verme) , as-
sim como a palavra ve rmis do Latim significa "vermin" (animais dani- . I ~ 14 epíteto, um nome, para Juno, Rainha Mãe do Céu. De fato , desco-
brimos que o dinheiro era cunhado no templo de Juno. Isto aconte-
nhos) . . I ~ ~ ceu da seguinte maneira. Um exército Romano estava perdendo
.1.,
Então, o valor de uma pessoa está profundamente relacionada
cum imagens do destino, as voltas e reviravoltas da sorte e as rodas .1.
.1.
~ uma batalha e estava quase sem dinheiro. ]sto causou discordân-
cia , desmoralização e perda do espírito dos soldados. Em uma

...1-,
tentativa desesperada para achar uma resposta para a situação em
da fortuna . A mesma verdade se relaciona com dinheiro. Nossa que se encontravam, eles consultaram Juno. Ela aconselhou-os de
relação com o dinheiro é a nossa relação com o destino. Nossa que se a causa deles fosse justa e eles lutassem pela causa o di-
relação com o dinheiro é a nossa relação com propósitos, fins , obje- nheiro viria e estaria disponível. Os soldados se reuniram ao redor
tivos e telos. Dinheiro como um talismã dá ênfase a este fato , e di-
nheiro como talismã do próprio eu enfatiza as maneiras e os signifi-
·I! l
. desta imagem e lutaram. Logo, o dinheiro chegou de Roma e a ba-
talha foi ganha. Como um tributo para a sábia deliberaçâo de Juno,
cados através das voltas, reviravoltas e circulação do dinheiro, que o
Eu traz até nós, nos gira ao redor em direção ao nosso telas. O
Ego, me dá a impressão, de que sempre tem um firme propósito , o
objetivo está disposto claramente, e o fim sempre em vista. O olhos -••
•• •'•
~ uma fortuna foi colocada no seu templo o qual também continha o
~ tesouro de Roma. Tudo isto, nos mostra a importância do dinheiro,
',- e que o dinheiro (isto é, o dinheiro, ouro, prata e outros metais) está
no reino da mãe. Isto me lembra o que Jung disse sobre os três
do Ego estão sempre voltados para a frente. Mas o Eu trabalha
para nos girar ao redor de um eixo, e nós não podemos ver com os
olhos abertos, para onde estas voltas estão no levando. Um tipo
mais profundo de "ver" é necessário - o ver dos mistérios. O signifi-
cado básico do palavra "mistery" é "ver com os olhos fechados" .
-i·
....
. 1=3
. I~
~
"M's" da análise: mãe (mother), Importância (matter) e dinheiro (mo-
, ney). Nós vemos isto aqui nesta imagem dramática da importância
: (poder) sendo cunhada dentro do dinheiro no templo da mãe.
.~

1 A palavra maneta vem de uma palavra mais velha , moneo que si-
·gnifica "lembrar" "trazer à memória", "relembrar', "advertir", "acon-
Alguma coisa sobre isto ecoa na palavra "dinheiro"? A palavra do
Inglês moderno "money" (dinheiro) vem do Inglês Medieval monoie
que por sua vez "em da palavra feminina do Francês Arcaico monie.
Esta também vem de um desenvolvimento da palavra do Latim mo-
:1:
.1
.I ~
selhar", "avisar" , "instruir" e "ensinar '. A pessoa pode ver isto na
palavra moneo, Mnemosyne a trabalho como deusa da memória e
da lem brança. No papel dela tal como Juno Maneta, Juno era uma
grande conselheira e vidente. Ela podia ver o futuro. Um templo foi

12
-I
... ~
~
13

-
I
I
~
II
-, ..: ! --")
. .,

(1 ção ao dinheiro. As bolsas de valores do mundo estimulam-se com


CGI1Sl,lI ido em sua honra, porque ela advertiu a população sobre um ( !~ profecias, presságio e prognósticos. Os corretores e conselheiros
12,1,,1, ,oto que estava para acontecer. Então, em conjunto com a I
t"~ sobre dinheiro estão cheios de avisos, conselhos e lembranças.
poldvrd "dinheiro" estão Image ns de lembrança, aconselhamento.
avisos, o sentid o de ensinar e instruir através das lembranças do
c!~ Juno Moneta está trabalhando aqui.
I
passado Esquecer de pagar a conta de alguém , ou esquecer de
"~
I
Estas imagens já estavam presentes em antigas épocas Gregas.
A palavra geral grega para dinheiro era chrimatos, que se refere
discutir sobre a remuneração, podem agora ser vistos como parte de
~,"
urna fenome nologia do dinheiro em seu caráter como memória Ju- I
C'~
também a uma resposta oracular e avisos divinos. Portanto, em
no devia receber seu tributo se alguma coisa não era lembrada , e todas estas considerações e reflexões sobre as imagens da raiz da
nó:, lodos somos conscientes do tipo de retribuição que Juno nego-
I palavra "dinheiro", nós chegamos a algu mas conexões básicas entre
i
... '
ciava. Esquecer-se sobre o dinheiro, não aprender com o mesmo e ~,. dinh eiro, memória e práticas divinas_ Nós chegamos até esta con e-
não prestar atenção nos avisos dele , isto é esquecer-se de Ju no . xão através do estudo somente da história e origens da palavra "di-
" lI !t , f nheiro" e sem o auxílio da teoria psicológica ou da prática . Eu acre-
~
A ra iz de moneo era men que fez com que surgissem as palavras I . dito que isto significa que se nós estamos chega ndo a um completo
em Latim memini, mens , e mentio. Memini significa "lembra r", "re-
. :~
entendimento da nossa relação com o dinheiro em nossa prática
lembrar", "pensa r sobre" , "ser atento" e "mencionar algo". De novo
nós levados a lembrar das imagens de lembranças, de preencher a
fllente com algo. Se dinheiro se origina de um tal ninho verbal , de-
.1. ti I ~

.1. ~
psicológica tanto como em nosso entendimento dos fenõmenos do
dinheiro em uma escala mais ampla, talvez devêssemos suportar
em tais reflexões a intrincada teia de conexões entre dinheiro, me-

.\-
vemos prestar atenção nesta ênfase extraordinária nas lembranças mória e práticas divinas que se encontram esquecidas mas ainda
e na memória. Com relação a isto, talvez seja o motivo pelo qual tão vivem profundamente na palavra "dinheiro".
pouco é lembrado, tão pouco é mencionado sobre dinheiro na lite-
ratura do nosso campo, e provavelmente nos nossos próprios con-
sultórios . !~
~
.1-
.1-
.~. o que está para ser encontrado no fundo da palavra "Eu"? Suas
raízes alcançam até o seu -, um elemento maravilhosamente rico
que chega até palavras tais como "irmão", "mexerico" , "secreto",

~: ·1·
Mens é um substantivo feminino em sua origem e significa "men- "sedução" , "suicídio", "costume" e "hotaera". Não há tempo para se
dedicar a todas estas imagens em relação ao nosso tema dinheiro

-I·•
te", "coração" e "alma" . Somente mais tarde, o substantivo se con-
traiu referindo-se a consciência, para depois ser limitado às faculda- como talismã do Eu, mas o fato que "segredo" e "Eu" envolvem as
des intelectuais da razão e racionalidade. Na sua forma personifica-
da, Mens era a Deusa Romana do Pensamento. Imagine isto, uma
iil~ · mesmas raízes, nos lembra quanto sigilosos somos sobre dinheiro.
É mais fácil descobrir quais os analistas que estão dormindo com os
Deusa do pensamento! Mas outras deusas vivem aqui também . 1. .
~. I• pacientes do que descobrir a quantia que cobram por esta conjun-
Esta raiz mens deu origem ao nome Minerva, a deusa Romana da
sabedoria, da reflexão, das artes, ciências e poesia e da imagina-
o!;

~l
\tI

;;Ii
.!.,
••

I
.. ~ ção analítica. Parece-me que podemos falar abertamente sobre
~ assuntos sexuais - nossos e dos outros - mas assuntos monetários
l estão ainda envoltos em segredo. Eu fico imaginando se o Eu tra-
ção . . ~
Outras palav ras desenvolveram-se desta raiz básica , tais como ;' . 1~ j balha menos agora em assuntos sexuais do que em assuntos mo-
netários. Porque é que somos tão sigilosos sobre dinheiro? Porque
:. C I ~
o

monitor, mentor, monitum e monitus, todas conduzem imagens de temos tantos problemas para falar e contar sobre a nossa relação
lembrança, aviso e advertimento, também referindo-se a estes efei- el~ com o dinheiro mesmo com as pessoas que convivemos?
tos através de oráculos, presságios e profecias. Certamente ima- :; e 'I" ~,.
gens de profecia , presságios e alertas estão vivas e bem com rela-
.I~

.
15
14
JG ~
:;
I ..
~"
,~

tJ l ~
Se é verdade que o dinh eiro é o talismã do Eu , pode ser que (", i " tro tipo de sangue" e quando circula através das nossas mãos vem
qllondo falamús sobre dinheiro começamos a revelar nossa relação
com o Eu de alguma maneira que é extraordinariamente real , talvez
i ~ talvez com mais do que nós nos importamos em saber.
(.; j
filais real elo que qualquer uma das outra maneiras que mai s facil- ~

mente revelamos nós mesmos - e talvez mais reveladora . Então "i ~ JII
devemos consi derar como a palavra "Ética" mescl a-se com o Eu e o
segredo Como deveríamos considerar os problemas de dinh eiro " I~ ~ "Seu cofre está vazio", dissera uma voz em um sonho que afetou
.. I . .'
em termos da ética do Eu? Eu me recordo da afirmação de Jun g,
que traz uma idéia brilhante so bre a natu reza de imagens própri as
dé uma pessoa que devem se r convertidas em obrigações éticas , e
. i
"i i-.
~t. ii 11 :.
tanto meu paciente que ele se apressara para ir ao banco e checar
seus vários cofres. Nada estava faltando e ele ficou enormemente
al iviado, no entanto fica ra muito perturbado com o sonho. Ele fa lou
que o homem tem "uma defi ciência para entendê-Ias ou se esq uiva
da respons abilidade ética, privando-o da sua totalidade e impondo
uma frag mentaridade dolorosa em sua vida" . Imagens de dinheiro e
••
.. I • :}

sobre ter perdido alguns valores internos. Eu o lembrei qu e ele nun-
ca tinha experienciado um sentido de valores internos, que todos os
seus sentimentos e vida estavam amarrados à fazer dinheiro e exer-
•• iI ;J~ ',~I

nossas tra nsações com o mesmo; ambos na nossa prática e na cer seu poder. Não era como se alguma coisa estivesse perdida ,
nossa vida diária não podem escapar desta ligação ética. Co mo se simplesmente nunca estivera lá, e por este motivo o cofre se encon-
pude notar da palavra - trabalho, Eu , ética e segredo estão entrela-
çados. Eu vejo agora que a proposta mais profunda do segredo é • i. :, trava vazio. Algumas vezes quando uma palavra me aflige forte-

i mente, procuro no mesmo momento trabalhar com a mesma. Eu

-..
• i.
não cobrir o que o ego quer esconder, mas trazer o ego para se co- peguei o dicionário e simplesmente disse as imagens relacionadas
nectar com o Eu onde , em segredo se aprende sobre suas obriga-
61. ! abaixo da palavra "vazio":
'~
ções éticas.

A inconsciência do ego cura freqüentemente através da revelação •• • :'I'


\~

Ausência de conteúdo

•• •• ·i
dos segredos. Mas a secreta conexão com o Eu é revelada não .~ Não contém nada
através de revelações mas através da aprovação das obrigações 1 Nenhum ocupante, nenhum habitante
éticas aprendidas e relembradas em associação secreta com o Eu .
E até o ponto que estas reflexões resistem na nossa relação com o
dinheiro, o que nós fazemos com o dinheiro mais do que o que nós
dizemos sobre dinheiro, revela a nossa realidade completa da nossa .',
relação ética com o Eu. É esta relação ética que nos conecta juntos
como uma comunidade. Isto é o que nós prometemos a nós mes-
.
• ••
•-" ••
~

~
~

Sem carga, sem carregamento
Ausência de propósito, ausência de substância
Desocupado
Necessitando de alimento
Com fome
Destituído e necessitado
Vazio
mos, um ao outro, e aqueles que buscam nossa ajuda. O que nós ,-
fazemos com os frutos do nosso trabalho da alma - aquele duro pa- r • i ~
gamento em dinheiro - tem muito a nos dizer sobre nossa relação
com o Eu , nossa relação com o telos, nossa relação com as "neces- ~ • .i ~ Dizer os significados da palavra desta maneira, lentamente e com
sentimento, trouxe lágrimas aos olhos do meu paciente. As palavras
sidades da alma". Este dinheiro vem para nós marcado, marcado - 19 tinham lhe penetrado e trouxeram sentimento na forma de lágrimas.
com as lutas da alma do "outro" . Não vem limpo, mas ensangüen- I.
ei.. ,
Quando disse que a palavra "vazio" vem da palavra do Inglês Arcai-
tado nas enormes batalhas da alma dos outros. "Dinheiro é um ou- co e significa "descanso" e "lazer' ele imediatamente compreendeu
! ~~
16 8 1:, 17

,
J ta ~ ~
~
_ _ _ .... _ • • • . ,..... _• • • '. ......
1Ii~ ___ ~_~: _ •. ......:.. __ .....

~-..

.')
i
" j tJ!fI
V',
volio da sua vida de lazer. A raiz indo-européia para vazio é med-
\.,.1 a realidade da relação de quem sonha com o dinheiro. E sobre
G
C '~
, a ra iz significa "tomar medidas apropriadas". Estava na hora, eu
disse, pala se lomar apropriadamente "cuidar ', "sarar" e "curar" que
G I ~ pen nies? Quem sonhou , revelou que tivera um hábito de longos
anos de rej e ~ar pennies em qualquer transação. Ele sim plesmente
j
, . ~
Ó a origt:m das palavras "medicina" e "remédio" . Parecia um pouco não aceitaria pennies como troco. Na busca do porque ele rejeitava
I ,. pennies, descobrimos que não era porque eles tinham um valor tão
pecu liar que uma palavra tal qual "vazio" pertencesse a mesma Ori -
gem verbal de uma palavra que significava "sarar' e "cuíar" . Eu dis- "~
,, ! ~ pequeno (como o conto de fadas nos levara a acreditar), mas por-
~ que eles eram de cobre, ele apenas aceitava as moedas de prata
~l~
se qUi:;; a medicina e o remédio deveriam ser encontrados no vazio -
~Aatar.1t:Il\e lá , naquele cofre vazio.

Outra palavra originária desta raiz é a palavra latina meditari qu e


(.. ~
I
i
~
corno troco. Compreendi, pelo menos enfaticamente, pelo fato de
que na minha própria caixa de moedas de infância, pennies não en-
travam , elas tinham que ser de prata. O homem, detestando o co-
G'~ ~"

..
, ..I ~
significa "pensar sobre", "considerar profu ndamente" e "refletir". É a ~
bre , estava odiando o metal necessário para ele encontrar o seu
ori gem da palav ra "medita r". A palavra pedia ao meu paciente no ~ caminho para a alma.
~ I :l
sonho, para qu e ele meditasse e refletisse sobre o vazio . Uma outra &'~
palavra latina que segue a mesma origem é modus significa ndo I ~ i~ Ele não conseguia se lembrar do que o havia colocado tão contra
~
"medidas" , "limite", "ma neira", "harmonia" e "melodia". O trabalho
an alítico dele deve ser da medida dele mesmo, achando seus limi-
61~ ~ o cobre, tão contra pennies. Ele também disse que sentia que se
aceitasse pennies, alguma coisa terrível aconteceria. Ele escrupulo-
lc!:> , achando suas ma neiras, encontrando a harmonia e melodia em ~ I~ l samente afastou tais medos, continuando a não tocar em pennies.
el2 ~ S
sua vida. Estava tudo lá no vazio. As palavra modo, modelos, mo-
I Exatamente aqui se percebe aquela teia de interconexões, entre
dinheiro, memória e práticas espirituais das quais falei anteriormen~
dificar, molde , cômoda, confortável e comodidade vem originalmente
da palavra lati na .
.1.
e"
.1-

!
te. Uma pessoa pode ver claramente como o destino deste homem
está intrincadamente conectada com estas moedas, como o penny é

•• •• I
Ele meditou sobre o vazio do cofre mas como não estava acos- ~ requerido como uma taxa para achar a conexão com a alma e como
tumado a um tal esforço introspectivo, nada ocorreu . Naquela noite · a relação dele com o cobre produz o vazio de não se estar completo:
ele teve um sonho no qual um jovem abandonado veio até ele en- · como esta "reviravolta de eventos" o transformou , e quanto a irânica
quanto entrava na sua limou sine. O jovem disse: "Eu vou achar isto
para você por um penny". Ele procurou no seu bolso e puxou um
maço de notas dando ao garoto uma nota de 50 dólares. "Não" dis-
se o jovem , "por um penny". Mas nem ele ou o motorista tinham um
·•.1.•'
~
~I
"mudança" imprevista de um homem rico não ter um penny , o con-
~~~t.ou com seu destino, colocando dentro de preocupação destor-

penny e o garoto partiu correndo. Ele acordou em pânico. Aqui en-


contramos o típico tema do conto de fadas , a coisa de menor Im-
portância ter o maior valor. Mas focalizei minha atenção no tema
mais sutil que era a moeda requerida para por em movimento a pro-
.'-
.I ~
.I~
1vra
É claro que como sempre a palavra "cobre" havia me intrigado. É
~1 uma palavra do Latim cupram que vem anteriormente de uma pala-
grega que era o nome da ilha de Cyprus. Ela era a fonte do
:~ melhor cobre em tempos antigos. O nome Cyprus parece derivar da
~ palavra em Hebreu gopher, o nome da árvore cuja madeira foi usada
cura pelo "isto". Meu paciente entendeu que o "isto" era a sua con e-
xão com a alma, sem a qual sua fortuna havia se tornado sem senti- .I~ ,1 para fazer a arca de Noé. Foi esta imagem que liberou a memória
do. Era o caminho, o remédio, a medicina para o vazio. ~I~ : repri mida na mente do meu paciente, a imagem do padre batendo
~ I !9 : em sua mão enquanto ele tentava roubar do prato de oferendas da
Há muito tempo atrás , quando tratando-se com os sonhos onde
apareciam a imagem do dinheiro, senti necessário focalizar primeiro

18
·.... ,
,
~ I
Ci'
. I.~ ~
.. $
:,.

•.
.;
.;'
igrej a, os poucos pennies que haviam sobrado lá . O pad re também
gostava mais da prata.

19
_ ....... '""""~,.~ ___ ~ ... ~ ......:~ ...... l<.. , ~•. ~c~.;..·.~ ........
~ - ~~ . _ ...""
.c:::---..
~.

i
í4 pacto sobre o processo analítico? Você tem um pagamento hipote-
cário merecido no próximo mês. Ou talvez alguma diversão secreta
Um paciente que costumava me pagar com um cheque logo no i . requeira dinheiro. Você poderia conscientemente escolher o dinhei-
começo de cada hora, enquanto escrevia o cheque, atividade que "i~ ro de qual paciente usar desta maneira? Claramente é mais fácil
~í~
geralmente era feita em silêncio, dissera, "O que aconteceu com
você esta semana?" De repente não consegui lembrar de nada so- ,- quebrar todas conexões entre pacientes individuais e o pagamento
, de nossas próprias despesas. O que nós fazemos colocando junto o
bre a minha semana, enquanto me esforçava para relembrar alguma
~I.
I dinheiro de todos os nossos pacientes. Mas poderíamos tomar tai s
coisa, ele disse, "Não, espere até que eu lhe dê o cheque , se come- ii decisões? Sobre qual base tais decisões deveriam ser tomadas?
ça lmos antes de pagar, os Deuses podem não gostar" . Claramente ~ ii
II!~ ª Ou seria melhor manter esta impossibilidade inconsciente total e não
para este paciente , o pagamento não tinha a ver somente comigo ~ i, ~ intermesclar o destíno do dinheiro de nossos pacientes, tão intrinca-
mas com os Deuses e embora ele tenha dito isto de uma maneira
brincalhona , eu também ouvira seu sério propósito. O pagamento
c; i, i damente e individualmente dentro da nossa vida pessoal? Mas isto
1 é apenas uma máscara. Não podemos evitar de mesclar nossos
era uma oferenda espiritual para aplacar os Deuses e assegurar ·í~ ~ pacientes em nossas vidas pessoais porque a base financeira da
seus bons conselhos . Ele me deu o cheque que havia sido feito ·i~ ::1 nossa vida pessoal - pelo menos para a maioria de nós - é constituí-
para mim e que era, no entanto, também para os Deuses. O que
alguém deve fazer com tal oferta? Alguma coisa aceita como parte
de um ritual sagrado que deveria ser usado para propósitos sagra-
dos. Não seria esta uma das maneiras na qual o dinheiro consagra-
ria o trabalho? Eu comecei a me intrigar sobre qual uso particular
-I.
.
·i~
.-.
.. "
~
~ da pelos nossos pacientes. Embora esta questão levante tão enor-
~ mes dificuldades, não há tempo para lidarmos adequadamente com
~! elas. Eu devo me satisfazer simplesmente com o levantamento do
lIl' assunto. E, além do mais, como toda boa hora analítica, o tempo
. acabou exatamente no momento critico, deixando-nos não com res-
poderia dar a este dinheiro. Fiquei imaginando se gastar este di- postas, mas espero que com questões que ainda vão se desenvol-
nheiro com alguma outra coisa, que não um propósito sagrado, afe-
taria de alguma forma o insinuante processo. No fim da hora, já
havia esquecido minhas meditações, coloquei seu cheque junto aos
:,:
••,
i
~
i ver. '.

outros e mandei-os todos para o banco.

Nós freqüentemente trabalhamos diligentemente para manter


- I
••
•-I·•
1

..
nossos pacientes separados, freqüentemente elaboramos extremos
para que nenhum paciente veja o outro, para que nenhum traço de
um paciente anterior seja deixado no escritório. Mas nós não hesi-
tamos em misturar o dinheiro de nossos pacientes. A conexão entre
a origem do dinheiro e o destino deste é quebrado quando coloca-
mos o dinheiro em um lago comum e indiferenciado. Isto também
-I·
.I~
~
~
,~

nos mantém afastados de realmente prestar atenção entre o que .~~


nosso paciente nos deu, e o que fazemos com isto. .1'1
Tinha algum3 importância como eu gastava este dinheiro? Per-
cebi imediatamente que este pouco de consciência - ou talvez louco
romantismo - tornaria extremamente difícil, depositar cegamente
todos aqueles cheques cada mês em um lago indiferenciado de di-
.'.
e !~

...
c l1-
I
" ~
23
C' ~
20 J
..
! ~,-
~R .....t . YA'-;z;e;&' .• ,-'If ,.r-u ..... j - IU ·"· ;;-$-·"- % -o-,- < ' -" YC'íCf5- -G~ -"'''''''~ --''~·· ' · ~",;:~,_.~"",,-~-

~ 'tJ
C: ~ . nheiro, Eu percebi que seria atormentado por esta imagem do di-
~ [} . nheiro carregando alguma coisa da alma dos meus pacientes , e pela
~ J. noção de que como o uso deste dinheiro pode afetar não ape nas

~l·
minha própria alma mas a alma deles também . Alguma coisa conti-
nuava gritando para mim "Não tem importãncia, não tem importãn-
c;;~ cia", mas agora já não podia acreditar naquilo. De alguma maneira
G 1• deveria importar. "Tolice" as vozes ecoavam .
c;1. ,~
Bem, talvez. Mas suponhamos que nossos pacientes nos pa-
c 1• .! guem não com cheques, não em dinheiro, mas com mercadorias e
c;l. serviços como antigamente. Então os ovos que comêssemos seri-
'j

~!. i am aqueles que uma mulher histérica trouxera, sua calça feita com o
.'.
.'.
t tecido trazido por alguém deprimido que não consegue se integrar
.1.
• na vida , seu teto seria reparado pelo alcoólatra que bate na mulher,
i
_I.
e seu jardim seria cuidado pela mulher com aquela terrível transfe-
I rência erótica. Tudo isto nos leva até as questões mais fantásticas,
'! A partir deste ponto de vista, dissolver o dinheiro de nossos pacien-
! tes dentro de algum lago comum - que quebra a conexão entre o
• ,I . ~ dinheiro e o que nós fazemos com ele permite-nos permanecer in-

.1.
,. 1-
•• ••
~
J
1 consciente destas coisas.

Recentemente, um psicoterapeuta me consultou a respeito de um


~ problema que não conseguia resolver. Ele era casado, com uma
1 vida familiar estável, mas por diversas razões se envolvera com ou-

•e,-• 1 i tra mulher. Seu problema não era particularmente um conflito sobre
esta relação extra conjugal - ele não estava experenciando nenhuma

•.1.•
.~ dificuldade sobre isto. Seu problema era dinheiro, A outra mulher
'1 lhe custava caro, ele estava sustentando-a - pagando o aluguel,
~ comprando roupas e assim por diante. Ele havia se mostrado talvez

:1:
.l~
~ mais poderoso do que realmente era, e por algum tempo, não hou-
~ vera nenhuma dificuldade. Mas os custos desta relação que sempre
subiam, tornaram-se onerosos, e ele não encontrava nenhuma ma-
neira para cortá-los ou reduzi-los. Ele ficou deprimido, o que ·em
.l~ geral significava que gastaria ainda mais com ela, como uma manei-
ra de aliviar a depressão, A angústia destes gastos em escalada ,
.1 9 trouxeram-no para a análise ,
.1 9
Cl~

.
C!~

.
I'. ~
II~--
21
~~ . . ~*! •. A ,,--Mm""-"S';;';'D:-'NP7 .-.,. , ..~~. " 'S ... "-"';;4-• ..• - ~ ,.,.:t . j~:.L_a .....J

...:::::;:,.

.II .»

DepoIs de ouvir aten ciosamente a esta narrativa. Perguntei-lh e


. :j ~
i

c ;
~

t:'~
quem estava pagando por este caso . Ele estava, é claro! E de onde
() dinheiro vinha? Bem , quase todo seu rendimento provinha de pa-
cientes particulares. Discutimos então, sobre o real valor pago para C I ~
sustentar a outra mulher. O valor era de 1000 a 1500 dólares por c:1~
mês e crescendo . Pedi para que ele imaginasse a fonte exata do (;1. I~
~
dinheiro . Ele não entendeu . Ele pagava com dinheiro, economi as e
com sua co nta bancána. Sim, disse, mas este dinheiro tem uma ('fI. i
origem exata. Paciente "A" paga a você 400 dólares por mês, paci- c;1. i
Uma Contribuição para Alma e Dinheiro
ente "B" paga 200 dólares por mês e assim por diante. Estas são as c;!. i

somas concretas que vêm de pessoas individuais na sua prática.


Você poderia especificar quais dos seus pacientes estão pagando
~I. " James Hillman
por este caso? • I.
.1'
.'.
"Money is a kind of poetry."
Ele ficou zangado, acusou-me de moralizar e de estar tentando
induzir-lhe culpa . Eu não argumentei. Depois ele se acalmou e eu
simplesmente repeti a questão. Eu não sabia porque havia posto a
_I. Wallace Stevens, "Adagia",
Opus Posthun lous, 1957

lj,. estão desta maneira. Sei que a arte da análise é freqüentemente ~I.
encontrar a pergunta certa. Não sei se esta era a pergunta certa .
.1 9
-I:I.
Mas enquanto falava com ele, pensava nas minhas próprias transa- Qualquer coisa que digamos a respeito do dinheiro com relação à
ções financeiras e fazia a pergunta para mim mesmo. Eu tinha ape- prática analítica, qualquer coisa que venhamos a dizer sobre dinhei-
nas começado a considerar uma possibilidade de ligação entre o ro estará condicionada pelos valores de nossa tradição cultural.

-,-
que um paciente me paga e o que faço com isto mais tarde. Havia ~ Primeiro, falamos num nível irrefletido, com a voz da consciência
sido bastante ensinado em cama tratar e relacionar todas as manei- j coletiva, para usar o termo junguiano, de forma que, para comprar-
ras as atitudes dos pacientes, sentimentos e comportamento sobre ~ mos a questão do dinheiro em análise, temos primeiro que examinar
dinheiro. Mas ninguém havia mencionado que o que eu fizesse com
este dinheiro poderia ser de alguma significância genuína no traba- •• •• ~ nossa consciência coletiva, as próprias atitudes profundas, antigas e
! imperceptíveis que, digamos, arquetipicamente já fixararn o dinheiro
i
-I·...
lho: dentro de uma estrutura definida, especialmente no que toca a alma.

,.
~~

Imagine que o dinheiro que recebemos de um paciente carrega A estrutura de que falamos é a de nossa cultura como um todo, e
alguma coisa da alma do paciente ou psique ou valor ou energia. ela é cristã, de forma que temos que primeiramente olhar as idéias e
Este dinheiro personifica o paciente, e como descrevia anterior- .19 . imagens cristãs sobre dinheiro e alma. Começo, então, agora sem a
ajuda da apologética e da exegética cristãs, sem me valer do apa-
mente, carreg a algo de telos do paciente, do destino do paciente. O
dinheiro é uma substância, um metal, uma moeda, um talismã ct~ rato acadêmico, simplesmente como o homem comum que abre sua
transformador que é passado as nossas mãos como pagamento cl~ Bíblia num quarto de hotel e lê as palavras nos moldes de sua cons-

..
t~
pelo nosso tempo , nossa energia, nosso amor e nosso valor. A ciência coletiva, pois as palavras de Jesus com relação ao dinheiro,
estejamos ou não conscientes delas, ainda ecoam em nós como
consciência é requerida de nós como analistas para examinar como .l~ elementos dessa cultura . Temos aqui algumas passagens dos
lidamos com este dinheiro? O destino deste dinheiro tem um im- VI
~
22 j . !1 ~...::-- 25
M . I -.ii
~,
_. __. _.0iA0_'_~~ '.;o . . ~ *#$. ··· (c;-a;;I';';';',;u' ~ -~~-

! .;-)
Cl~
l::.'dll ~ e l h o s qu e gosta ri a de re lembrar antes de tirar algumas
,- l ~ mana, as, significava um pedaço do assado , uma lasca de carne.1 O
COrl- '\0;1 voto de pobreza está vinculado ao voto de castidade; din heiro e vid a
cl u:>ces te . - animal são expulsos do templo juntos.
c; l ~
o Eva ng eUl o de João coloca a prim eira dessas histórias de d l-
~ ,~ 1 A terceira história diz respeito aos impostos, que têm um papel
r,llE::ilO no prin cipio do ministério de Jesus. (João 2: 14)
"'I
G'~
particular desde o princípio. O nascimento de Jesus aconteceu em
Belém porque José e Maria tiveram que se dirigir para lá a fim de se
(S I. li alistar para o censo dos impostos (Lucas 2). Otopos , "Belém", não

:l:
"E ;Il h\l ll \l O temp lll os qu e vendi íl1l1 boi s, e ovelhas, e PO I\1 -
bos, e os cambiado l es assent ados (koll ub istes, Iit eraiIllI.:Ill c
,
.l somente junta Jesus e Davi, Jesus e os animais, José e Maria, os
"tosq uiadores de moedas") E, tendo feito um azorrague de
i magos de várias raças e orientações, mas também inclui na mesma
cordeis, lançou todos fora do templo, também os boi s e ove-
lhas, e espa lhou o dinheiro dos cambiadores, e derrubou as
meSílS E disse aos qlle vendiam pombos: Tirai daqui estes. (; ... Gl~
I~

.~
~
imagem a lei mundana do Imperador, através dos impostos, e a es-
treia de Cristo que aponta para além do mundo. Na imagem de
"Belém", como dizem , não há nenhum problema . Em Mateus 17 (e
nào faça is da casa de meu Pai casa de venda (um mercado) "

Na versão de Marcos (11 :17), Jesus diz "um covil de ladrões",


:!: I

.'.
'1
l
<
Mateus, por sinal, é o Santo Padroeiro dos coletores de impostos,
lançadores de impostos e banqueiros), pergunta-se a Pedro se
Jesus paga seu shekel, ou suas didracmas. Pedro diz: "Sim". Mas
oque acontece é que os tributos que Jesus paga ao Templo não
rek. : Ido-se especificamente aos compradores e vendedores .

A segunda passagem é mais uma fala que uma história. Refiro-


me a Mateus 19, Marcos 10 e Lucas 18:25, e cito este último: "Por-
.'.
C

.'.
l • ~J

•• ••
~
~
~
são em dinheiro desse mundo. É conseguido por milagre: "Vai ao
mar," diz ele a Simão, ".,.tira O primeiro peixe que subir, e, abrindo-
lhe a boca, encontrarás um shekel; toma-o e dá-o por mim e por ti".
De novo, notem, um animal junto com dinheiro.
que é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que
entrar um rico no reino de Deus". Não é curioso que, nessas duas
primeiras alegorias, o dinheiro é expresso diretamente numa lingua-
gem que fala dos animais? Mesmo as ovelhas e os bois, tão signifi- ' ..• • 1" A principal história de impostos é contada em Mateus 22, Marcos
~ 12 e Lucas 20. Transcrevo a passagem de Marcos: "Mestre .., é
1 lícito dar o tributo a César, ou não?", ao que responde Jesus,

··.".(,''
cativos no ambiente do nascimento de Jesus, são postos para fora '~ " ... trazei-me uma moeda, para que a veja ... " E disse-lhes: "De quem
do templo, e o camelo se torna aquela opulência animal, a riqueza J é esta imagem e inscrição?" E eles lhe disseram: "De César". E
que não pode passar o portão estreito e. apertado por onde deve ~ Jesus, respondendo, disse-lhes: "Dai, pois, a César o que é de Cé-
entrar a alma. Nessas duas primeiras imagens, a ,exclusão do di- ~ sar, e a Deus o que é de Deus",
nheiro é também a exclusão do animal.
Aqui é o próprio dinheiro que divide duas alternativas - espiritual e
Se alguma vez a palavra arquetípico significou algo como perma-
nente, ubíquo, de raízes ou dos céus, então a relação entre dinheiro
.I~ mundana. É o dinheiro que é usado para a parábola dos dois mun-
dos diferentes e distintos. Se o dinheiro divide os dois reinos, será
e animais é arquetípica. O animal é o próprio archai do dinheiro. ~I~
.. I . ele também aquele terceiro que os une? Voltaremos a isso mais
tarde.
Pecuniário deriva de gado; honorário deriva de faihi (em gótico,
~i·
gado); capital também se refere longinquamente a cabeças de gado.
A palavra grega para moeda, obolos, refere-se ao obelos ou porção
espirrada da carne de um búfalo sacrificado, e a antiga moeda ro-
:,: #o
, ! ~
l er DESMON DE, W. H. Magic, myth and moncy . (jk ncoc, Frcc PI C~,S, pp I II' ). I '!

26
1
...
I '" . ~
~
.

i ;;,
I 27
.... -_ ... _..--.. ~-'_ ..... ---
.
~

c:
( . "9
U", acordo Gúm as escrituras, parece claramente que é melhor
ndO ter Jinneiru até mesmo ser pobre, do que ter dinheiro . (E isso ,
. . II I!) quanto mais nos concentramos no dinheiro mais nos envolvemos
com o mundo, e, quanto mais o rejeitamos ou o negamos, mais po-

,...\ ~ 1
to,

Li despeito de José de Anmatéia e outros seguidores que erarn ti ~ ; demos nos afastar dele.
abastados) Por exernplc , ;3 história da viúva pobre (Lucas 21 , Mar-
cos 12), que é louvada por sua magra doação - de onde Jesus tira
uma lição para seus discíp ulos no templo , "que estava ornado de (; ~ Porém gostaria de fazer um outro tipo de movimento e assumir
uma terceira posição: nem caminhos espirituais, nem estradas da
~
iormosas pedras e dádivas". Ou, num outro exemplo, quando a po-
br;:;;za se torna obrigatória: quando todos os doze são enviados em
1.fI
c: ," ,l.t
ii vida; nem espírito, nem matéria. Vejo o dinheiro corno um domi-
nante arquetípico, que pode ser tomado espiritualmente ou materi-
suas missões, dois a dois, com autoridade sobre espíritos não purifr- G
Ii Q
'TI' ;.. almente, mas que, em si, não é nenhum dos dois.
caJos ou daimones (Marcos 6, Lucas 9, Mateus 10), eles são ex- ~ ~

pressame nte instruidos para não carregarem dinheiro. Ou, em Lu - :J Em vez disso, o dinheiro é uma realidade psíquica e, enquanto
~!.
C; .. •
cas 12, onde riqueza e alma são diretamente relacionadas . f\Juma :~,. tal, dá origem a divisões e oposições, tanto quanto outras realidades
passagem sobre herança (a parábola do rico insensato) Jesus diz:
". a vida de qualqueí homem não consiste na abundância do que
\'Jo~s ui" , ao fa lar de um homem rico que decide edificar e enche r
~ I
~.9
..
tE I'; ·

I
>l psíquicas fundamentais - amor e trabalho , morte e sexualidade , polí-
.j tica e religião - são dominantes arquetípicos que também facilmente
~ caem em interpretações espirituais ou materiais que se opõem.

.1. ,~
.1.
celeiros de milho cada vez maiores pare.: que em sua velhice pudes-
,;8 Jescansar e folgar sua alma, alma esta (psique) que foi chamada ~!. ~ Além do mais, como o dinheiro é uma realidade psíquica arquetípí-
ca, ele será sempre inerentemente problemático porque as realida-
por Deus naquela mesma noite. Ou , ainda, em Mateus 26 e Marcos des psíquicas são complexas, são complicadas. Assim sendo, pro-
8: 'Pois que apíOveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a blemas com dinheiro são inevitáveis, necessários, irredutíveis, sem-
sua alma (psique)?"

Até aqui, a divisão já deve estar bastante clara. O dinheiro per-


tence ao palácio de César, não ao templo de Deus. O primeiro ato
de limpar o dinheiro do templo é sempre reafirmado e, certamente ,
.• •
• .1.
~ .,
pre presentes, e, se não de fato, ao menos potencialmente esmaga-
dores. O dinheiro é diabolicamente divino.
't
~
i
Um dos poemas em Maximus, de Charles Olson, expõe essa vi-
são arquetípica de forma muito compacta:
em nenhum outro lugar maís amargamente do que na história final , a
venda de Jesus por Judas por trinta pedaços de prata. (A Judas já é
atribuído um sinal do ma! - uma bolsa ou caixa de dinheiro na cena
da última ceia. [João 13:29]) Poderia o dinheiro ter recebido um
aspecto mais negativo?
..
:1:
.4~
.. ~
..
t
<
\
.)
"the under part is, though stemmed, uncertain is, as sex is,
as moneys are, facts to be dealt with as the sca is .. "

Estamos situados nessa consciência coletiva. Temos que come-


çar dessa cisão entre alma e dinheiro presente no texto básico que
....
.iO)1~
~

I ,"
Esta é uma afirmação extraordinária. "Fatos a serem lidados
como lidamos com o mar." O primeiro desses fatos é que o dinheiro
. é tão amplo e profundo quanto o oceano, o inconsciente primordial,
nos dá os valores de nossa tradição. A cisão pode nos levar a tomar
um ou outro de seus lados, como expuseram o Dr. Covitz e o Dr.
.ai
• ,. Jf) . e nos torna assim também. Ele sempre nos leva a enormes profun-
Vasavada. Com Vasavada podemos rejeitar o dinheiro no intuito de ! ..
. . . ::.7
dezas, onde abundam tubarões e curimatãs, grandes caranguejos,
.I~
realizar um tipo espiritual de trabalho de alma; ou, com Covitz, po- mexilhões e ostras fechadas, a maré das emoções. Seus fatos têm
demos afirmá-lo no propósito de torná-lo mais terapeuticamente efe-
tivo no mundo. Ambos mostram a divisão que acabamos de ver:

2ti
I-
AI> ~
"~!~ . ';07

~
largos horizontes, tão largos quanto os do sexo, e também tão pro-
teanos e polímorfos.

2')
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., .. ... ~_._--,_............ - .... - _ . ---'"........... -
-.;,. -

li -..)

C' • •
I
rança, fantasias sobre um carro novo e casas antigas, batalhas ma-
Acim a de tud o, o dinheiro é plural: dinheiros, Portanto , o dinheiro
ndo se eqüivale a nenhuma idéia isolada: troca, energia, valor, reali-
c'"
~Ig
trimoniais sobre gastos, assaltos, sonegação de impostos , especu-
lações do mercado, medo de ir à bancarrota , pobreza , caridad e -
dadt;, o mal, e por aí afora. Ele tem muitas raízes, é incerto , poli- ~I~ quer esses complexos apareçam em sonhos, nas salas-de-estar, ou
murfo Num momento , o complexo monetário convida Danae , que .I ~ em medidas económicas. Pois aqui nos fatos do dinheiro está o
atrai Zeus para seu colo como uma chuva de moedas; num outro, ~ i' ~ grande oceano, e talvez, enquanto passamos o arrastão nesse fun -
ale é o ouro que chama Midas; ou Hermes, o ladrão, patrono dos ê .. ~ do do mar durante uma hora de análise, possamos pescar um ca-
mercadores, do comércio fácil; ou pode ser o velho avarento Satllr- c'"
I ;1., ranguejo 10llco ou um peixe com um shekel em sua boca.
no, que, para começo de conversa , inventou a moeda e a poupança
Como acontece nas moedas originais que os gregos inventaram , há
,.: I.I '" ,,
..,r;
~;
Assim como os animais eram espíritos ou Deuses em forma ma-
diferentes Deuses e animais - corujas, búfalos, carneiros, caran - e"· l ~
terial , assim também o dinheiro, uma terceira coisa entre só espirita
guejos - cada vez que o complexo é passado de mão em mão . el, .) ou só mundo, a carne, o diabo. Assim, estar com o dinheiro é estar
e!~ ~, nesse terceiro lugar da alma, a realidade psíquica. E, para manter
O dinheiro é tão proteano quanto o próprio deus marinho; mesmo
nos atendo a honorários fixos, contas regulares e balanços anotados
e auditados nunca conseguimos manter suas ramificações harmoni-
zadas. Os canhotos dos cheques nunca batem, os orçamentos
*'-I- t
el~ ·f
~
..

J
i
minha relação com os espiritos impuros, os altos ou os baixos dai-
manes, quero umas moedas em meu bolso. Preciso delas para pa-
gar meu próprio caminho para o Hades e para o reino psiquico.
Quero ser semelhante àquilo com que trabalho, não diferente e imu-
sE.i1Ipre estouram. Inventamos cada vez mais maquinarias para ne. Quero os cambiadores onde possa vê-los, exatamente no tem-
controlar o dinheiro, cada vez indicadores e medidas mais refinadas
para previsões económicas, nunca entendendo aquilo que Olson
nos fala : os fatos do dinheiro são como os fatos do mar. O dinheiro
I:
i
••• ~
plo de minhas aspirações pias. Em outras palavras: tento o máximo
me manter lúcido sobre a tradição que acabei de expor, porque
acho-a desastrosa para a psicoterapia, e, claro, para a cultura como
é como o próprio id, o reprimido primordial, o inconsciente coletivo um todo.
aparecendo em denominações específicas, ou seja, quantidades ou
configurações de valor precisas, isto é, imagens. Vamos então defi-
nir o dinheiro como aquilo que possibilita a imaginação, Os dinhei-
'
•• i'i ~ O corte entre César e Deus em termos de dinheiro tira o mundo
da alma e a alma do mundo. A alma é desviada para uma senda
ros são a riqueza de Plutão na qual estão escondidas as imagens
psíquicas do Hades. Para encontrar a imaginação em seu paciente •• 'ii espiritual de negação e o mundo é deixado para os pecados da luxú-
ria, da avareza e da cobiça. Então, a alma é sempre ameaçada pelo
ou em si mesmo, volte-se para os comportamentos e as fantasias
ligados ao dinheiro. Vocês logo estarão no mundo das trevas (cuja
entrada requer um pagamento em moeda para Charonte).
l't • . •..
• ~ dinheiro, e o mundo precisa da missão espiritual da redenção do mal
'1 causado pelo Weltbild, que separa César de Deus. Que o dinheiro
i seja o lugar onde Deus e César se dividem mostra que o dinheiro é
i ...
1uma "terceira coisa", como a própria alma, e que, no dinheiro, temos
Terapia retrai. Conhecem o estudo feito sobre os tabus terapêu-
ticos? Analistas foram interrogados sobre aquilo que sentem que ~ .1 ~ t tanto a inerente tendência de cisão entre espírito e matéria, quanto a
, possibilidade de uni-los .
nunca poderiam fazer com um paciente. Descobriu-se que tocar e • I~
segurar, gritar e bater, beber com, beijar, ficar nu e fazer sexo eram t{l. Essa equação - "dinheiro" := "psique" - é aquilo que nós junguia-
todos menos proibidos do que "emprestar dinheiro a um paciente" . !~ nos temos tentado dizer quando traduzimos imagens de dinheiro em
sonhos como "energia psiquica". "Energia", no entanto, é lima lin-
O dinheiro constelou o tabu máximo. Pois o dinheiro sempre nos
leva para dentro do mar, incertos, quer venha como brigas de he- ~.
I guagem heróica e prometeana. Transforma a equação em "dinheiro
t: I .,
'!
30
M~! , 31

I~
I
<- ~ j
I
,-;;.9
-- eç)o" , ou seja , energIa disponível para a consciência egóica . En- " I
c- •
Enquanto nosso sistema de valores inerentemente depreciar o
lau 1·lê.írnes/Mercúrio, Guia das Almas, tem que aparecer como o I ., dinheIro, ele sempre ameaçará a alma com distorções de valor. De-
13Jráo , e !la nosso sentido de perda (de dinheiro, de energia , de ~ i pressão, infiação, falta de crédito, baixos lucros - essas metáforas
iJt;l,tidad e) pa ra que retorne a equação "dinheiro = psique" (A po-
brezd é simplesmente um caminllo para fora do ego, não um cami-
~ i r

i}
psicológicas se tornaram jargões económicos inconscientes. Tendo-
se "des-Iocado" o dinheiro de suas fundações arquetípicas na reali-
ei"
nho hermético) Porque Hermes, o Ladrão , é também Hermes , o
Psicopompo, o que implica que, da perspectiva hermética , é ju sta-
mede de lá . onde o dinheiro não está mais disponível para a cons-
<: .. ~
(; I.. . ~
~!
dade psíquica, ele tenta uma nova fundação para si , litera l e secular,
como o "básico". Mas essa base não sustenta, porque qualquer
realidade psíquica que tenha sido fundamentalmente depreciada se
CiE: ll cia egóica, que Hermes o roubou para o bem da alma. No tra -
bailio de alma , perder e ganhar assumem significados diferentes, ...
t;1~
I~
torna sintomática, "enlouquece", com o intuito de garantir sua auto-
nomia arquetípica fundamental.
Uín8 sensibilidade em que a linguagem prometeana sobre "energia"
é demasiado ativa e objetivada para poder apreender.

Se o dinheiro tem esse valor de alma arquetípico, novamente


...
.I~
.I~
I ~
Vivemos hoje no medo dessa autonomia, chamada anarquia fi-
nanceira. Anarquia significa "sem archai"; e, claro, que o dinheiro
I

concebido sem alma, sem uma vida animal própria, sem Deuses,
como as moedas antigas que traziam imagens de Deuses e de seus
animais e, portanto, eram apoiadas por esses pOderes ,2 o dinheiro
I~ torna-se louco, anárquico, pois nos esquecemos de que, como o
, sexo, como o mar, também ele é um dominante religioso .
não pode e nem irá aceitar a depreciação cristã, e assim o Cristia-
nismo, por várias vezes em sua história, teve que lidar com o retorno .1.
• 1.
.1. • Refiro-me agora, através da própria pala~ra.'. à Deusa ~on.eta , ~

... .1.
do reprimido - da riqueza das igrejas e do luxo de seus ministros, à ,J equivalente romana de Mnemosyne, que SignifIca memona, Imagl-
venda de indulgências, à ascensão do capitalismo com o protestan- 1 natio, Mãe das Musas. No templo de Moneta guardava-se o dinhei-

.....
tismo, à usura e à projeção sobre os judeus, às raízes cristãs do ~ ro; na palavra, também um templo, Moneta reaparece. O dinheiro é,
marxismo, e por aí afora. } ~ portanto, um depositário de fantasias míticas. E um tesouro que cria
( ~ e guarda imagens. O dinheiro é imaginativo, como tenho dito. As-
~ :t sim, dinheiro na mão desperta possibilidades imaginativas: fazer
Uma sombra específica da posição cristã aparece nitidamente na -
análise: o velho pecado da simonia, ou a troca de benefícios espiri- ~ 1 aquilo, ir lá, ter isso. Ele revela os Deuses que dominam minhas
fl . • l

tuais ou eclesiásticos por dinheiro. Não é uma forma moderna de fantasias - rigor saturnino, generosidade jupiteriana, exibição marci-
simonia o elaborado sistema que os analistas desenvolveram de ser
~:!I • • -I- 1 ana, sensualidade venusiana. O dinheiro lança meu comportamento
pagos regularmente por seus pacientes em nome da individuação ou
do Self e, por seus treinandos, para a ordenação na profissão de
analista? A Igreja era muito mais consciente desse pecado que nós
hoje em dia. De qualquer fonna, a Igreja era bem mais consciente
de que o dinheiro possibilita a imaginação do que nós em psicotera-
'1
("
.1-
.,.
tt . . 1... ,
1~
;1 em fantasias míticas, tão diferente em diferentes pessoas. Por que
ideveriam as pessoas concordar em relação ao dinheiro - onde in-
~ vesti-lo, com o que gastá-lo, onde colocá-lo? É um fenômeno ver-
, dadeiramente politeísta na vida do dia-a-dia. Como tal, o dinheiro é
; um fenómeno intensamente cultural. Chegou à história com os gre-
pia. Ela sempre reconheceu o poder de fantasia do dinheiro qt.;e : gos e não antes deles. Pertence à constelação das Musas, neces-
desvia a alma de seu caminho espiritual doutrinário. : .. I" . sária para a cultura da imaginação, e, portanto, torna-se realmente
. .I.,
~l ~ I
diabólico quando a imaginação não é valorizada (como no Cristia-
nismo) . A feiúra, a corrupção do poder, a natureza puramente
~i c· ~
2 Cf n;mha dl ~cus~ão $c.,brc moeda l:n\ "Silver and lhe white earth", in Spring, 1980, pp . 35-
' 1 ...•..
~j':\.c."I ~
quantitativa do dinheiro hoje em dia - nada disso é culpa dele, mas

.
37

j:; .. ,'!')
~ ,'./

32 33
.
...,
...,--....
- 'Jiõ.,;

I
culpa de ele ler sido separad o e destituído dos Deuses de onde ele
t i ~
se originou. ~i~ pequenas bolsas femininas como símbolos genitais poderiam des-
cobrir ainda mais coisas se fizessem a redução na direção oposta.
(; i 'ti
Deixem- me agora ligar esse tema com outro deste Congresso:
fo rm ação de analistas. Em algumas ocasiões, candidatos explica-
~i"
(; ~.
Onde exatamente está escondido o complexo monetário? Muito
freqüentemente ele se esconde nos disfarces do amor, onde tanta
a I. ~
ram-me que uma das razões de quererem ser treinados como ana- alma está também escondida. Como mostrou Tawney, o protestan-
listas é que a prática analítica oferece uma maneira nobre de se
<: ..~
tismo e o capitalismo entram no mundo juntos. E, depois de todos
ganhar dinheiro. Enquanto há tantos trabalhos desalmados no fi
esses séculos, ainda se dão as mãos afetuosamente em tantas fa-

~ .~.
mundo, dizem eles, a análise lhes paga para ficar com a alma , sem

I
.~ míli~s protestantes, .em que dar, rec~ber, economizar, participar,
ter que abrir uma lojinha mística, ensinar violão, ou plantar abóboras t apOiar, gastar, desejar (a herança) sao modos de se aprender a
~
e tomates em casa . Não é preciso ser economicamente marginal. I ~ amar. Por muito tempo "gastar" (spending) em inglês tinha um si-
O analista combina alma e dinheiro; o dinheiro analítico é dinheiro Ci"·
I - ~;l gnificado tanto genital quanto monetário, enquanto que as palavras
bom, limpo e bem pago. Os cursos de formação seduzem porque,
evid entemente, resolvem o dilema cristão do shekel versus alma,
sem ter que seguir a solução espiritual da pobreza.
.1.
E

.1. ~
~
"vínculo", "rendímento", "seguro", "crédito", "lucro", "obrigações",
"cota" e "débito" (como schuld ou culpa) trazem todas duplos senti-
dos de amor e dinheiro. Os duplos sentidos fazem um duplo víncu-
A resolução de um par de opostos, contudo, somente perpetua
sua oposição: o terceiro requer os outros dois para que ele exista.
Só quando conseguimos cair totalmente fora do dilema que divide .1-
_ I•
s;:-

.1-
~
,
lo: para a consciência protestante capitalista renunciar às atitudes
psicológicas da família freqüentemente se torna refutar o dinheiro de
casa, o que, em casa, é sentido como uma recusa de amor. A
=
equação "dinheiro psique" é uma variante expressiva do mito de

-I-
dinheiro (e alma) em oposições espirituais e materiais é que pode- Eras e Psique, mas aqui dinheiro entra no lugar do amor.
mos enxergar que há psique no dinheiro todo o tempo e de todas as
maneiras, que ele é "um tipo de poesia", que ele é total e inteira-
mente psicológico e não necessita de nenhum tipo de redenção em • •• Mas, afinal, o que faz o dinheiro pela alma: qual sua função espe-
dinheiro limpo, bom e nobre e, portanto, não precisa de nenhuma
repressão na pobreza e no ascetismo do espírito que se volta contra •• • '. cífica ao possibilitar a imaginação? Faz com que a imaginação seja
,:. possível no mundo. A alma precisa do dinheiro para se refrear de
a matéria.
• • ; voar para o reino do Bardo, a realidade "somente-psíquica". O di-

o. • I
nheiro segura a alma no vale do mundo, na poesia do concreto, em

.l.
cantata com o mar como fotos, aqueles duros e escorregadios fatos,
=
De fato, a equação "dinheiro psique" sugere que se encontra .• tão perduráveis, irritantes, e limitantes, que, sem cessar, envolvem-
mais alma onde os problemas do dinheiro são mais extremos, não ! el' ~1 nos em necessidades econômicas. Pois economia significa origi-
na pobreza, mas no luxo, na cobiça miserável, na avareza, na ale-
.- I, '! nalmente "doméstico", fazer a alma no vale do mundo, cobrando e
gria da usura, e que para algumas pessoas o medo do dinheiro e
••I, : ~ sendo cobrado, ostentando, trocando, barganhando, avaliando, pa-
sua importância pode ser mais psicologicamente devastador e, por-

.!.
~
.~ gando, devendo, especulando ...
tanto, terapeuticamente recompensador, do que os medos sexuais e ~
a impotência. Demônio~ extraordinários são alarmados quando to- ;: De forma que a negociação de honorários, quer no estilo de Va-
camos o complexo monetário. E nenhum outro complexo é mantido I. .~ savada ou no de Covitz, é uma atividade inteiramente psicológica.
em maior sigilo. Os pacientes revelam mais facilmente o que está
escondido embaixo de suas calças do que aquilo que está escondi-
I. ~ O pagamento de honorários pode assumir diversos estilos , desde

do dentro dos bolsos dessas calças . Os freudianos que encaram as


~ (? : jogar em cima da mesa notas sujas de reais antes que a hora come-
ce, ou presentes, acordos e persuasões, ou ainda o envelope dis-
I~ • ( ~
34
~& 'f ~..- I~
35
IJI.'
...
~ I
. , ~
~I
. ,~
crci..:lrnente passado, até o modelo médico abstrato de recibos e ~I
cheques cJespersonallzados Conti nua verdadeira a velha piada . ~,~
"Quando um homem diz: 'Não é pelo dinheiro, é pelo principio' - é
I~~
pelo dinheiro" . É no dinheiro que está a questão real. O dinheiro é <:j
.. ~
um principio irredutivel. ~I
C':: , ~

....~ II . aIl n·

•. i: "!!
:7 :.~
A análise, como percebem os candidatos, realmente permite que
alma e dinheiro se encontrem . A espiritualidade da divisão cristã
J Pratica Seln Honorários e Trabalho Com a Ahna
..
ficá suspensa: prestam-se contas aos Deuses e aos Césares num
nlt:SInO pagamento. Pagamos tributo à dispendiosidade do trabalho
de alma, pois que ele é raro, precioso, caríssimo. E fazemos jus ao
dililleiro comum pelos "se rviços profissionais prestados" : uma frase
C;'
~
'
I' ~
l
1
'~
Por Arwind Vasavada

igualmente apropriada ao médico, ao encanador e à puta. I. ;~


•i ~ Quando comecei a trabalhar nos Estados Unidos em 1970 como
Que os analistas tenham problemas ao justificar seus honorários ~i9 ~~ analista Jungian.o, achav~ d.ifícil falar_ sobre os valores da~ sessões
ultldjúntes (e que, ao mesmo tempo, sintam que nunca ganham o f/$ • • i quando um paciente pedia mformaçao sobre eles. ParecIa-me es-
sUliGIf:ílte comparado com advogados e dentistas) pertence à natu- I. ~ tranho equiparar uma soma fixa de dinheiro com qualquer coisa que
reza arquetípica do dinheiro, como vimos observando. A questão do i. ~l' ocorresse na sessão. Afinal de contas, para que servem os honorá-
dinheiro não pode ser administrada com mais facilidade do que o ..
\ l rios? Aquela hora? Minha pessoa? A necessidade do cliente de
sexo ou o mar. Ela se ramifica nas várias direções de nossos com- , ; pagar? Ele estava de fato comprando alguma coisa ou estava tro-
plexos. O fato de não podermos acomodar a questão do dinheiro ., g, cando dinheiro pelo trabalho feito? Se fosse uma troca de dinheiro
em análise mostra o dinheiro como um modo importante da imagi- • \ por trabalho, então qual deveria ser o critério para decidir a soma em
,
nação manter nossas almas fantasiando. Assim, para concluir mi-
nha participação neste painel, "Alma e dinheiro", sim, alma e dinhei-
• •
_1 99 '
~
dinheiro - tempo no relógio, uma qualidade de trabalho? Se o se-
gundo, então os honorários devem mudar a cada hora, acessando-o
ro; não podemos ter um sem o outro. Para encontrar a alma do ho-
mem e da mulher modernos comece procurando naqueles fatos em-
baraçosos e irredutíveis do complexo monetário, aquele louco ca-
•• I.• i\I
~ de acordo com o valor daquela hora particular. Quando a hora
transcorria bem, não havia problema, mas freqüentemente as ses-
sões eram menos esclarecedoras e úteis, elas me deprimiam e po-
ranguejo correndo no fundo de silenciosos mares. < • "I ~ dia ver a depressão na face do cliente também .
.. . '1
t
~" ,~ I• . A questão não me deixava ir. O pagamento pelo trabalho pode
.:,
!. !

~;
i ~ 1ser considerado uma aquisição a prestações? Se for, então perten-
.. " " ~
ce a um contrato de longa duração para suposto traçª!ho a ser feito .
~ I• ~ Mas alguém pode garantir com antecedência a qualidade do traba-
~. ! • ;lho de acordo com um honorário já estabelecido? Talvez o critério
.1 ~ I -!» ': pa.ra o pagamento seja segurança biológica; simples honorários que
'1) I~ i , ' CUidam das necessidades humanas. Novamente o problema fica
"1 ~ . . ~ complicado. Quanto eu preciso? Não há limite. Eu quero todos os

36 ]
~d
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I" €;! ..:'
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Guru , uma pessoa cega desde dos 10 anos, sem educação, 60 anos
c::! •
~I~
I
cO~l fortos
e luxu rias que os outros têm e sinto que os mereço como
os outros também sentem .
, - talvez mais do que 70 - e sem casa , bolsas ou bagagem.

I é ·I ~ Esta conversação me recordou da minha experiência com meu


~ 1$
Quando estava morando na índia com um salário fixo da Univer- I

, primeiro Guru. Naquela época eu havia recebido, no entanto, não


sidade, tive um problema simples. Ajustei minhas necessidades e
carências para que coubesse dentro do orçamento. Aqui me tornei
consciente da minha avareza, e gostei disto. Quando estava em
Roma ..... rapid amente me senti confortável com esta idéia e tive um
~ I .I . 1
I.

fi
.t,
j
havia pago. Meu primeiro Guru era um homem de família. E h~
contudo não trabalhava para seu sustento; sua única fonte de renda
ti era tudo que lhe fosse oferecido. Mesmo assim ele vinha por mai s
ou menos 1500 milhas da sua casa para me ver a qualquer mo-
bom progresso com trabalho e dinheiro. Pude alugar um aparta- ~ I, .J menta que eu pedisse, e também gastava somas em dinheiro para
~l me entreter adequadamente sempre que eu visitava sua casa . Eu
rnento razoável e tive um carro. Em 1972 voltei a india pela primeira
I @ I~
vez desde que havia começado a trabalhar nos Estados Unidos.
Durante esta viagem , visitei meu Guru, o santo cego.
I, : sabia que não havia lhe pago quase nada.
.~

~ I" ,
Através de cartas e conversas quando nos encontramos, ele deve
ter tomado consciência de tudo o que estava acontecendo em minha
viCJa. Ele me perguntou quanto tempo eu estaria trabalhando e se
8U conseguia enxergar um tempo quando não conseguisse traba-
ii
"
h

÷
....
~ •i~
1
'
Na época que vim para este pais, eu percebera que o caminho de
Jung e a tradição dos meus Gurus eram parecidas. O trabalho era
trabalho com a alma, fazer a alma. Este pais me deu a oportunidade
de realizar esta possibilidade dentro de mim mesmo e fazer um tra-
balho com a alma com outras pessoas. No entanto, somente quan-

·••-Ii'••.
lhar. Sem trabalho, o que eu faria? Ele colocou-me isto claramente , do visitei meu Guru em 1972 percebi que o trabalho com a alma não
"Até agora sua mente e corpo estão saudáveis e você pode traba- é um trabalho profissional por dinheiro.

·•• ••
lhar. Haverá um tempo quando a mente não estará tão aguçada por
causa da idade e o corpo provavelmente também estará fraco . O Depois do meu retorno aos Estados Unidos, comecei a mudar.

~
que você fará então? Como você se sentiria sem o trabalho? Quando um cliente perguntava sobre meus honorários, dizia-lhe que
estaria feliz de receber o que me fosse dado alegremente. "Dê-me
Lembra-se quando você era uma criança, desamparado em todas alegre e livremente o que você convenientemente puder sem cons-
as maneiras. Você não havia sido cuidado e protegido? Você será trangimento." Se o paciente perguntasse sobre os honorários cobra-
sempre cuidado sempre se você puder sentir a confiança que tinha
•• •• dos pelos meus colegas, eu o informaria sobre as taxas presentes.

..e,-
quando criança. Embora desamparado e sem trabalho, você não se
sentirá perdido. Apenas seja nada. A fim de ser Nada, seja livre de A discussão com meu Guru me direcionou sobre meu trabalho

,
.!.
todas as ambições e desejos. Você trabalhou durante o tempo que com a alma e isto parecia verdadeiramente alinhado com a maneira
esteve na índia - até a idade de se aposentar. Se tivesse ficado de Jung. Se a maneira de Jung é explorar o desconhecido e viver
você naturalmente não trabalharia mais. Então não trabalhe onde com a incerteza e o não ser predizivel do Inconsciente, então viver
você mora agora, mas em vez disto sirva. Não peça por nenhum
honorário fixo, aceite o que lhe é dado livre e alegremente." I~ com a incerteza dos honorários flexíveis parecia ser o caminho para
experienciar o que Jung dissera e ensinara.
I.
Escutei a tudo isto e também todas as dúvidas que vinham juntas. i." Durante este período eu recebia apenas o que as pessoas senti-
Eu estava bastante incerto de como seguir esta orientação, mas isto I.~ am-se feliz em dar. Alguns não podiam pagar, uns poucos pagavam
realmente me atraiu. Prometi a mim mesmo tentar. Ele era meu cinco ou dez dólares e alguns pagavam honorários completo s. Ou-
I.. ~
I. ~ 39
,
I;)
_....... ".~ .... _.~".- .... ..a-...--.....-.~~~.~~W"·ôe fi l '. drt -I . ,;"iI. . . "'.:......-,~ . . . . . . . . . . . ~ .. _

~,

~)

tros ofe reciam-se pa ra traba lhar, tais como limpeza, reparação de I:J
rallpa 0 11 fazer uma estante de livros. prestados não pode ser ignorado. Mas esta necessidade não impli-
~
ca em insistência no pagamento de uma soma fi xa de dinheiro. Al-
Uual é o efeito de uma prática sem honorários para o pacien te? guém que deseja conseguir ajuda sem pagar por ela, está privando,
Na ausência de honorá rios, é possivel haver um comprom etim ento "11 $ a si mesmo, dos recebimentos da natureza de suas atitudes. Ele
com o trabalho? Eu não vejo nenhuma conexão entre a troca de está cortando a si mesmo da tendência da vida. Vida é um todo
~
dinheiro e o com prometi mento com o trabalho juntos. A pessoa vem interdependente e inter-relacionado. Cada pessoa torna-se isolada
para te rapia sofrendo e em dor. Alguém ouve isto, sente isto ; natu- 11
do mundo, cessando de ser alimentada, renovada e reabastecida
ralme ll te o coração sai para fazer tudo o que for possível. Enquanto 11 pela vida. Ele cessou de participar no Yajna, sacrifício , da vida.
se sen te assim, algu ém pode mandar embora a pessoa que está ~ Vida é Yajna, como lindamente descrito por Sri Krishna em Gita.
sofrendo, simplesmente porque ele não pode pagar um honorário
razoável? Comprometimento com o trabalho é óbvio, desde que
aqui se encontra uma oportunidade de entrar no templo do Deus que
cu ra. Na minha experiência pessoas tem sempre pago o que elas ~g.
.• . Quando Arjuna perguntou a ele porque agora ele estava sendo
solicitado a atuar - lutar na batalha - desde que Sri Krishna já dissera
que a trilha para o conhecimento é melhor do que a trilha da ação ,
podiam; terapia não parou como critério e imagens continuaram em-
belezando a hora. Eu posso lembrar somente um caso solitário
~g1l Sri Krishna diz que a Não-ação poderá não ser conquistada através

qual Ido um cliente me enganou. ~g, do cessar de ações ou renúncia dos atos . Sem ação os seres hu-
manos morrerão (Bh. Gita III 4-5). É aqui que Krishna apresenta o
~I. conceito da ação como Yajna. De uma maneira muito simbólica ele
Um outro exemplo mostra que sensibilidade pode crescer durante
I- explica como este universo é sustentado por Yajna.

.1-
o trabalho , enquanto as pessoas pagam alegremente. Uma pessoa
das profissões que curam concordou em pagar uma certa soma no I• I Ele diz: tudo cresce e é sustentado pelo alimento. O alimento é
começo . Mais tarde, depois de um mês, ele sentiu que a troca de
dinheiro estava interferindo com o trabalho. Eu lhe disse que se ele
achava que se não pagasse as consultas, isto lhe faria sentir-se
mais confortável e daria circulação ao trabalho, então isto também
me faria feliz. Nós continuamos por algum tempo. Depois de seu
retorno das férias ele me disse que havia dado uma certa quantia
r
· '.
•• ••
• •
í
I
J
~

,j
produzido pela chuva e Yajna executada traz a chuva. A fim de
executar Yajna a pessoa deve agir e trabalhar, reunindo material
para ser sacrificado no fogo de Yajna (Bh. Gita, 11114-16). O enten-
dimento comum que uma pessoa pode escolher entre a Ação e Não-
ação é incorreta. Sri Krishna diz que a fonte de ação é Brahman, a
totalidade de o que É; desde que esta totalidade está estabelecida
para a caridade e sentia-se bem sobre isto. O trabalho começou
•• •• ~ no imutável (Akshara), todas as coisas retornam para e originam-se

.'.
novamente até que ele tivera que deixar o estado por uma designa- , da mesma fonte. Nós somos alimentados e sustentados por este
ção no seu trabalho. Quando ele voltou, sentia-se feliz de me pagar .: fato. Executar o Yajna, estar no critério da vida, nos sustenta .
por cada sessão. Isto ilustra como um contrato em termos de di- . Quem se aliena do fato da vida, sua interdependência e mutualida-
nheiro não é essencial ao trabalho com a alma.
I~ de, isola a si mesmo da sua própria fonte e pára de viver. Sinceri-
dade de propósitos sempre trazem reciprocidade, respeito e uma
Alguns desentendimentos podem espreitar por aqui. Este tipo de cura completa.
prática sem honorários não significa que o terapeuta esteja incons-
ciente do senso do cliente de obrigações pelo que ele está receben-
I'
"
do. Tal lacuna é prejudicial para ambos analista e cliente. O enten- I' O experimento com a prática sem honorários abriu muitos corre-

dimento comum e razoável que alguém deve pagar por serviços 19 dores escuros da minha psique, e o processo continua , Eu tenho
minha prática como analista Jungiano e ocasionalmente ensino psi-
I~
40
" @ \

~
..
;, ..; I ~
., i ~
I
~. i ~
cologia e filosofia em um pequeno colégio suburbano .

41
~~~

(!.
,
~

queria repetir as palavras e sentimentos gastos (muito usados) nas


~ ,
Como pode se esperar, ambos rende e o número de clientes au- horas analíticas. Eu me sentia desatualizado e não servia para
menta e cai. Um mês não é o mesmo que outro; nenhum ano se j ~ nada. A existência parecia fútil.
parece com o ano que acabou de passar. Algumas vezes , senti j .,
agudamente os impactos destas flutuações. Sempre qúe a renda e
clientes diminuíam, meu estômago sentia-se oco e um senso de
l~ Estava feliz de saber que a maneira de Jung e o caminho da
I, auto-realização do Leste eram similares, e que a base da psicotera-
insegurança dava pancadas no meu coração. Com dor retirava di-
nheiro das minhas poupanças para pagar os impostos e outras
contas . Minha insegurança intensificava-se quando tais períodos
.1, pia é o conhecimento e consciência de quem eu sou. Sem esta
consciência nenhuma ajuda realmente está próxima em nosso tra-
balho. E mais, a alma estava em agonia como em uma clássica
vinham regularmente .

Apesar de alguns anos serem ruins, o balanço das poupanças


,=I:l •
C
depressão. Se não soubesse de nada, se todo o conhecimento ti-
vesse partido, como iria trabalhar e viver? A incerteza total assusta-
va-me . Nenhum conhecimento .. .. nenhum trabalho .. .. nenhum dinhei-
I.
'I , ~i
gradativamente retornavam aos níveis anteriores. Eu me sentia ro .... e o que então .... ?
muito feliz e seguro. Como de hábito me tomei um esbanjador.
Olhando para trás posso dizer que me diverti muito, mas não o fiz \J Alguma coisa aconteceu. Sri Shunyata (Sr. Ninguém) visitou-me
durante aquela época. Este período durou até 1977, quando o sen-
so LI", instabilidade de renda e meu envelhecimento monopolizaram
minha atenção.
I• ~
C • por um mês. Hoje ele tem 90 anos, é da Dinamarca e vive em uma
pequena cabana no pé das montanhas do Himalaia, recebendo uma
parca remuneração de 50 rupias por mês. Em 1930 quando ele vie-
e -
.... I
ra para a índia a convite do Dr. Rabindranath Tagore para lecionar
No verão de 1977 uma outra e mais interessante fase de vida ini-
ciou-se, ela permaneceu desapercebida e negligenciada até então. •• •• silêncio, ele encontrara-se com Raman Maharsi. Raman Maharsi
olhou fixamente nos olhos de Mr. Sorenson (seu nome original) e o
Na última parte do mês de agosto de 1977 retomei da India depois
de cumprir a última responsabilidade para com a minha família - as-
-
;:
chamara de um místico por natureza. Ele disse, "Nós estamos sem-
pre conscientes, Shunyatal" Desta maneira ele recebera este nome
sistir o casamento da minha filha mais nova. Um grande fardo fora • Shunyata por Raman Maharsi.
tirado dos meus ombros. Desde a época da morte de minha mulher,
t" . •
••
..
sentia-me sutilmente obrigado a ver que nossa criança estava casa- '1 A personalidade discreta e poderosamente silenciosa de Sri
da e feliz. Três viagens para a india, feitas a fim de completar minha Shunyata me afetou profundamente. Depois que ele saiu, enxerguei
responsabilidade, naturalmente afetaram meu balanço bancário e uma luz sobre o que havia acontecido antes - a clássica depressão.
f • •
clientela.

Curiosamente, o alivio com o casamento de minha filha e a con-


seqüente redução do meu fardo financeiro não durou muito. No seu
lugar, furtivamente um sentimento de falta de valor e falta de sentido
começou a permear minha vida. Minha responsabilidade com minha
~

F, :
..
i~ • •
I:
I!I
Eu não sou nada se não puder trabalhar? Não sou nada se todo
o conhecimento adquirido me deixar? O que é precisamente o tra-
balho? É analisar e ganhar dinheiro ou é um acontecimento na alma
:l conseguido através de uma interação ativa com clientes e o mundo?
j A obliteração de uma pessoa a qual podia trabalhar me assustava
família estava no fim, tudo estava terminado. Onde estava o propó- !l mais e mais.
sito da vida? Ao mesmo tempo meu conhecimento, tanto o que ~~.!.; e• •,
eI$
aprendi de Jung quanto dos meus Gurus, começava a parecer corri-
~. ; O caminho no qual embarcara abriu inúmeros medos, finalmente ,
queiro, passado e inútil. Tudo o que sabia, me deixava frio e eu não f~ ~'. me levou a indagar sobre as raízes próprias da insegurança .Tornei-

42 ~ e ,- 43
J " .. ~
. I~
- ...
...
'" fttIi.t_ m:m:'" _.3r=rtt-==i2'O=:W=-W"'13'7ã'72iãiiR71e.-r-r;;;;,"'·-i1hWt~"u'····r-·"·;"-4
100. _ _ _ _ .. ... _____ __' -'
-~ ..... ~

J ',-;-J
:

me consciente do fato que estava identificado com o conhecimento , I


um conhecimento que se tornara base do meu trabalho. Quando o
conh ecimento se foi , a segurança no trabalho o seguiu. Tinha sido
natural para mim esquecer de mim mesmo no fazer da terapia , Uma
vez mais estava envolvido. a hora da sessão progredia espontane-
:I.:,
.. I
,.,
ganhar alguma coisa. Mas ele estava zangado com a pessoa erra-
da. Eu o ajudei a ver o médico dentro dele mesmo, e ver através da
projeção o médico em mim. Este médico era a pessoa certa para se
estar zangado. Se o cliente realmente colocasse suas queixas di-
amente e geralmente com a satisfação de ambos, analista e cliente , '" I , ante Dele clara e abertamente, uma resposta certamente surgiria.
Agora eu não era nada. Estava fortemente assustado com a face do
Nada. Incapaz de ficar inteiro, completo com a experiência, conse-
I.
I.
.
l". Esta breve autobiografia apresenta claramente um problema do
guia apenas enxergar o nada de mim mesmo, enquanto Sr, Nin-
~" trabalho com a alma. Mesmo que chamemos de nosso trabalho "o
guém, Sri Shunyata, apresentou-se como uma pessoa baseada no , caminho para a totalidade" ou "uma jornada espiritual" ou "individua-
Nada e cujo trabalho na minha alma surgiu não do conhecimento ,
nem mesmo do seu trabalho, mas da própria alma. Eu havia achado
,•
•.-.
-
"
lização" ou "fazer a alma", cada encontro no nosso trabalho com
pessoas é um processo bilateral, dar e receber, e nos transforma.

.1. ~ Mas é dar e receber necessariamente idêntico com uma troca de


uma nova base para o trabalho com a alma.
~ dinheiro? No trabalho com a alma um fato r super-metódico, colo-
Um exemplo aqui, para mostrar como liberdade do dinheiro (não
cobrando honorários fixos) fornece força interior. Terapia acontece
entl e duas almas quando estas se encontram honesta e sincera-
mente - uma descoberta que é libertadora e um alívio. Um cliente
.1.
.1. 1 ~ cando em compasso ambos analista e cliente, é ativo. Se nós es-
tamos abertos a isto, então funciona. Mas "quem" então deve ser
'í pago e "quem" deve pagar? O que é verdadeiro sobre o trabalho
'I' terapêutico é talvez verdadeiro sobre todos os tipos de trabalho .
• 1.
-I·..
havia trabalhado comigo pelos últimos sete anos. Depois de se
aposentar, ele reduziu suas entrevistas pela metade. Ele era um Dois assuntos aqui parecem importante para mim: minha incerte-
homem muito ganancioso, agora que havia se aposentado, queria
•• •• ! za no mundo e meu medo de ficar sem trabalho. Ambos podem

I
um retorno de todos os benefícios dos seus pagamentos passados. resultar em uma recusa de reconhecer o fato r super-metódico em
Não em paz consigo mesmo, completamente sozinho e sem traba- análise. Talvez ambos se encontrem em um ponto comum e te-
lho, ele tornou-se impaciente. Não recebia mais salário, tinha ape-
~ ,nham raízes comuns. Deixe-nos ver.

-• .•
nas sua pensão e o seguro social. Primeiramente de uma maneira
velada mas depois plenamente ele começou a reclamar que tendo ~ 1
~ Como um ser biológico sou bastante inseguro: preciso de abrigo,
pagado tanto, não apenas para mim, mas para tantos outros como ~alimento e roupas para me proteger. Nós todos precisamos disto,
eu, ele ainda não havia conseguido o que desejava. Era minha fmas quando isto nos dá garantia, a vida pode acabar a qualquer
obrigação dar-lhe aquilo agora.
•.1.•
..1'-
tmomento sem aviso. Apesar de todo o cuidado, a vida está além do

~
.nosso controle. Se me preocupo muito sobre isto, então é um medo
Um dia numa sessão, ele se zangou e não teve dúvidas ao me neurótico e insalubre. Uma pessoa deve viver com esta inseguran-
dizer que ele havia sido roubado. Ele tinha por obrigação, me disse- t I
,-.
"~ ça, consentindo com a morte no momento que ela chega.
ra, ter paz no coração. Imperturbável pela sua zanga, pude dizer-lhe
honestamente, que nunca havia assinado um contrato com ele para I'
suprir esta paz no coração em troca do dinheiro dele. Calmamente r, .19 : Enquanto vivo, preciso de dinheiro para viver. Quando me lem-
bro dos períodos quando não havia trabalho, não entrava dinheiro e
disse-lhe que embora a terapia ocorresse cada vez que nos encon-
trávamos, nunca havia requerido ser o terapeuta. Não obstante, sua ~,
,I e lI '. minhas poupanças eram esvaziadas pelas contas, descobri que o
zanga era justificável. Em retorno pelo seu sacrifício ele tinha de
~l e , ~ medo originava-se com o espectro de não ser capaz de manter um
t: e I , certo padrão de vida. O que é esta fixação? O medo da pobreza?
É medo da pobreza ou amor aos confortos humanos? Eu não posso
~ I
44
ii e '
Jc ~ 4S
\. ~
ser o que sou sem estes confortos? Porque estou aqui neste pais ;to ! {I
fazendo seja lá o que for que esteja fazendo? Não é porque isto -~ If
mnntém meu amor aos confortos? Eu sei que posso ser o que real-
mente sou apesar destes confortos, no entanto um medo espreita
.. II f eu mesmo quando em sono profundo, quando estou sonhando, co-
.. f
I
atrás disto tudo . Privar-me destes confortos e devo encarar a po- mendo ou descansando. Identificar a mim mesmo somente com o
breza. Eu não posso e não quero encará-Ia. ~ f
trabalho, me reduz a poucas horas, e como se achasse que tudo de

..):
mim fosse apenas isto. Eu isolo a mim mesmo do Eu total e do
-.. ' t
o medo da pobreza impede a descoberta de algumas coisas im-
portantes . Eu não confio em alguma coisa intimamente, e isto impe-
de-me de descobrir quem realmente mantém a todos nós. Então o ~
I f
mundo. É natural, portanto, me sentir ansioso e amedrontado quan-
do descubro que meu trabalho pode ser perdido a qualquer mo-
mento. É claro que posso tentar fazer com que aquela parte isolada
que é esta experiência de encarar a pobreza? Abre-se diante de apareça completa adicionando a ela futuras partes do mesmo mun-
mim minha total dependência dos outros para tudo. Escolher a po- do, juntando grupos, ganhando dinheiro, aprendendo mais técnicas ,

I-
breza me ajuda a descobrir que dependência é de fato uma confian- etc., para me sentir seguro e salvo. Mas isto apenas faz com que
me identifique mais com meu trabalho. E ainda, sem trabalho perco
ça básica, a esperança sobre meu Eu total em sua interdependência
com o universo. É minha mente na sua separação, que transforma
confiança em insegurança negativa da dependência.

Encarando esta ansiedade a insegurança trazidos pela idéia da


-.:
.1. II
minha identidade.

Tendo criado hierarquia de valores, distinções, separações e divi-


sões dentro de mim e entre eu e o mundo, tento encontrar a insegu-
poLreza, estou confrontado com a alma. Pelo que vimos neste curto I. rança enraizada nestas divisões pelo receber do dinheiro. Em lugar
relato, o desejo por confortos humanos leva a insegurança e a in- • w de ser o instrumento da travessia, o 'médium da troca', dinheiro
certeza porque não posso controlar minha renda, minha habilidade
para trabalhar, ou até minhas faculdades com as quais trabalho e
ganho meu sustento. Então sou forçado a olhar intimamente e es-
~ •
~,
•• •
transfonna-se no instrumento da insegurança e separação. Leva-
me a esquecer o valor único da importância individual.; leva-me a
perder a confiança em quem eu realmente sou; leva-me a perder a
cutar quando este medo da pobreza surge. Deste modo descobri O
trabalho com a alma. Desta maneira, o problema de dinheiro dissol-
ve-se dentro das questões mais básicas de "Quem" é incerto e
~
~
2

••


confiança na totalidade do mundo do qual sou uma parte orgânica;
leva-me a perder a visão no trabalho com a alma.

.
f • Reflexões como estas, que são elas mesmos o trabalho com a
t • •
"Quem" encontra incerteza com o trabalho.
alma, vagarosamente trazem me frente a frente com meu Nada, e
Quem sou eu? Eu chamo a mim mesmo de analista Jungiano e
distingo-me dos outros através da virtude do meu treinamento e co- ~
1 • ·<também ao mesmo tempo com minha total dependência na totalida-
de dentro de mim mesmo e com o unive~o. Eu quero ser alguma
nhecimento. Dando a mim mesmo uma importância especial por ~ • 1 coisa, alguém, um único 'Eu', diferente de qualquer outro. Mas não
causa disto, criei uma divisão entre eu e os outros na mesma profis-
são, e entre eu e aqueles que vem como pacientes. t -,-
~
f .10
..... ,posso ser nada sozinho. Talvez a fonte da minha insegurança e
J medo é que eu realmente não "vejo" "quem" está tão preocupado
:! sobre insegurança. QUEM SOU EU?

vés da identificação de mim mesmo com o trabalho que faço, me ~~~


Eu também vejo uma divisão mais profunda dentro de mim; atra-
.. I, .. I t
encontro dependente das faculdades que tornam o trabalho possí-
vel. Mas o trabaiho que faço ocupa somente parte do dia. Eu sou ~l
t eI-
· ': j.

I ..... •
46
i - l!t I~
I~

l~
I.~
47
I~
I
~

~ ~ ~J

fj

:\., A Psique, Riqueza e Pobreza

1 ~
Por John Weir Perry

. • l O convite para eu falar sobre Alma e Dinheiro esconde uma

.1. -

•• ••
:'agradável ironia, conhecido é, que me sinto como um dos que me-
:nos se importam com assuntos monetários entre meus colegas. Eu
Emeti todos os pecados da inconsciência sobre o dinheiro: depois
[(te três décadas, ainda tendo a me sentir culpado sobre os honorári-

•• •• ~
. s; permito as pessoas acumular contas excessivas que algumas
t ezes nem são pagas; e levo as minhas secretárias a total perplexi-
~ade, confiando-Ihes o cuidado de tais problemas e demonstrando
rem um pouco de impaciência quando complicações surgem. Sem-

•• :pre que possível, prefiro não pensar sobre dinheiro. Somente me


:, preocupo na época dos impostos e os músculos do meu pescoço
~ndurecem em protesto. Embora perceba que para muitas pessoas
8

8
•• •


~ de verdade real, para mim permanece uma abstração, um con-
~unto de números coloridos, sempre espero que sejam pretos ao
'"vés de vermelhos. Pelo menos posso falar pela Califórnia, um
~estado que primeiro ganhou a fama pelo seu "aurum vulgaris", o
8 •
,. i ouro comum', mas que agora é conhecido por algo bastante dife-
8 -
-.0a"I .
1 rente: sua notoriedade compensada durante as duas últimas déca-
das através de uma tentativa inicial de refinar 'o verdadeiro ouro es-
piritual
d
dos filósofos' .

cl~ " Com tudo isto, sentia que não teria muito o que dizer sobre o tó-
el~
pico, até que finalmente havia forçado a mim mesmo a refletir sobre
Isto. Logo tornou-se óbvio que meus "pecados" não surgem pura-
I~
I~ 49
I~
I
· &)
ment8 de desconsideração desatenta, mas antes de atitudes que
estão profundamente arraigadas. Minha intenção é expressar os ... iI
vários pensamentos que aparecem e capturar suas bases filosófi-
cas . O ponto de apoio sobre o qual eles giram, parece ser o de não

I•

~
Bem longe das bases da minha atitude com dinheiro, encontra-se
clara consciência de antigos ensinamentos difundidos que tinham
fazer-dinheiro , mas questões sobre o valor da pobreza.
I ~ 'relação com o cultivo espiritual para a pobreza voluntária: em outras
'palavras, para desenvolver-se espiritualmente, é importante privar a
Quando olho para trás, percebo os primeiros sinais da minha in- I t pessoa de preocupações demasiadas com o bem estar mundial.
clinação para evitar a pensar sobre dinheiro, relembro do lema da ~ I, (Cristianismo, Taoismo , Budismo e Islamismo compartilham a mes-
nlÍnha escola exaltada no seu brasâo e na minha mente: junto com
i•
.. .
'~ma visão) Nós não devemos minimizar o fato de que o cultivo espi-
"Integridade de Objetivos" e "Autoconfiança", aquela que melhor
expressava o espirito da escola era "Simplicidade de Vida" , Nunca
perdi cantata com aquele diretivo. Me recordo também da quebra I
.1. • :ritual tem sido freqüentemente associado com pobreza voluntária,
fporque fazendo assim deixamos de fora nossas enraizadas conside-
~rações de contas nos séculos de experiência espiritual.
da bolsa de 1929 e a depressão que a seguira. Muitos de nós éra-
mos jovens naquela época e experenciávamos de primeira-mão o
esvaecimento dos ricos, nunca se pode confiar em dinheiro; outros It I Buscando aprender mais
ortificar
so~re as bases desta associação e para

~
meu papel com alguma coisa sólida. Fui procurar primei-
propósitos parecerão sempre mais enriquecedores e mais seguros It ramente na Britânica; nâo havia nada em absoluto sobre o tópico,
du que fazer-dinheiro.
.It 'além de estudos estatísticos econômico. Direcionei-me para a Enci-
Mais perto de casa , no entanto, estava a escolha de meu pai que
Cjliase não conseguira se safar da quebra da Bolsa. Quando seu
'-vri'etor disse-lhe o que estava acontecendo, aconselhando-o a sair
élgora que isto ainda era possível, meu pai tomara uma decisâo ética
.1.
•• ••
,.I • "clopédia de Religiâo e Ética de Hasting, achando que com certeza
.encontraria, haja visto que nunca havia me falhado. Encontrei, mas:
avia apenas pesquisas sócio-econômicas; sobre a vida Monacal,
ma passagem mencionando os votos, juntos com castidade e obe-
'iliência! Nos trabalhos de Jung não consegui encontrar nada.
de não seguir o conselho do corretor, pelo fato de que isto estaria
contribuindo ainda que em pequena escala para o pânico geral e a
ruína da economia. Custou-lhe; custou a todos nós; mesmo assim •• •• conteceu, refleti, que nossa cultura é tão focalizada no valor do
!Tem-~star qu~ o valor da pobreza apagou-se? Minha pesquisa inicial
ugena que sim.
sempre estive contente pelo exemplo de uma açâo claramente mo-
raI. •• •• Quando busquei, no entanto em Misticismo de Evelyn Underhill.
om minha busca obtive satisfação: ela explica, lúcida e extensiva-
A coragem de meu pai diante do pânico e pobreza, faz com que .." ente, a motivação e a razão da pobrezfi voluntária. Para os místi-
me recorde de alguns dos melhores anos que passei. Durante a t • s, é totalmente uma questão do que é mais desejado, e se estes
Segunda Guerra Mundial, morei comunalmente, sem dinheiro e • \g!sultados em separação ou em conexão - human-hearted com o
como membro da Unidade Ambulatorial de Amigos da China. Admi- r.; . , .. ;próximo. uma conexão que culmina em uma experiência da unidade
rélva, particularmente naquela época, os líderes Maoístas em Shensi ~ • I, ;~ participação mútua de todos os seres em Um. Cobiçar proprieda-
pelo estilo de vida deles, de construir e tomar conta das suas própri- ~ .! .. CJes, em outra palavras, o que uma pessoa pode possuir como pro-
as casas, superando ~olos férteis desiguais, e Gandhi pela sua dire- ~ I ., 'priamente seu, promove a divisão que alimente 'ego-motivações'.
ção do governo da India de dentro de uma simples barraca em . • I eropriedade então define a identidade de uma pessoa, mais na ma-
frente dos prédios dos governos.
.i .' 9 I neira de que as propriedades de uma substância definem sua natu-
.. ~ ~za . O critério da propriedade fornece uma base falsa pela diferen-
50 ..I~ ciação de uma pessoa e o mundo. O desejo urgente de buscar
Qeus é considerado incompatível com tal desejo por coisas do mun-
I~
l ~ 51
!
,I I ~
--_ •. - ._, - -- ._. -,._- _. - - ---
c

do (;onseq uentemente a admoestação Cristã, "Você não pode se r-


\.11 .'\111b05 Delis e Mammon (Deus da Riqueza)" , ou OlÉ mais fáci l
t,arel Unl , ameio passa r pelo buraco de uma agulha do que um ho-
mém. riCO entrar no Reino dos Céus" . Ainda, ser pobre em espírito, e
IJUI c:ste motivo abençoado, não necessita ser pobre em substância ,
mCls an tes abrindo caminho para uma separação como um indepen-
<-õi~
<!""

.fJ
,
<:= ..
.iii ~
do, apesar da inclinação americana de considerar a doação de di-
nheiro como uma expressão de sentimento. Se um arquétipo de
,. riqueza prevalece sobre nosso trabalho, encontramos uma divindade
do escuro submundo que pode nos levar a relações plutõnicas, se

~ I. ~
dt:::rlte estado interior de condições externas. O fi nal nesta direção _ pudermos tocar de leve no mundo. Se nos conSiderarmos autorida-
de:: pensamento é uma tal renúncia do mundo que uma pessoa não Wdes pagas pelos nosso conhe~imento, ~orremos o perigo de e~ta­
IJoJeria viver nele e precisaria de um monastério para resolver o I.
~
t- belecer uma desigualdade e nao-mutuahdade com os nossos cIIen-
dlk,ma. I ~ tes que devem trabalhar para nos manter nesta alta posição . a
(;!'"
~ so m bra da análise, algumas vezes acho, é algo que separa nós de
Quando pobreza é privação verdadeira , pode, é claro , tornar-se
~19 k nossos clientes.
distrativo e fi nalmente debilitante: a atenção de uma pessoa perma- ~I. li
~~
nece acorrentada às preocupações da sobrevivência . Estou falando
aqui de um a simplicidade de estilo de vida escolhida livremente e .:"
.1,
Uma preferência por simplicidade em finanças tem seu preço .
:~Prosperidade permite uma grande parte de tempo livre para alimen-
i;tarmos a mente e mantermos um passo tranqüilo, no qual reflexão e
não imposta por coação externa e opressão. Os grandes espíritos
que escolhem voluntariamente simplicidade , evitam o embaraço da @I, r:Cultivo espiritual recebam seu espaço merecido. Freqüentemente
privação por viver em fé que lhes assegura seu sustento. A partir da w;1 . bqueixo-me de gastar um tempo precioso, datilografando cartas, fa-

.1.• ~
' zendO contas e pagando-as - algumas vezes até de construir minha
sua fé um estilo de vida se desenvolve. Em nossa prática como I. casa e terreno. Ainda assim sou grato pelos conhecimentos que
t~l ... peutas, existe uma versão fracamente discernível de tal fé. Sem
discutirmos sobre o principal no mundo profissional para desempe- .1. -estas necessidades forneceram.
nhar nossa prática, nós contudo achamos que aqueles que recorrem
I
a terapia apresentam-se quase o mesmo passo quando eles termi-
nam. Uma pessoa sente algum tipo de lei misteriosa que parece
governar este fluxo que não podemos controlar.
••.1.• Logo no princípio na minha prática, decidira que o que não rece-
[J>esse com honorários, eu deveria compensar trabalhando com as
~~inhas mãos, na casa, com equipamentos, móveis e mantendo o
~erreno. Meus filhos aprenderam a fazer o mesmo. Em essência, o
Neste ponto, devemos perguntar, encarando honestamente a
•• •• ,pensamento govemante desta maneira de ser é "Se você não pode

-,-
questão: há alguma coisa errada como o desejo de simplesmente tcomprar aquilo que quer, faça-o". Por este motivo, não tive que re-
ganharmos dinheiro elegantemente na nossa prática? Muitas arma- ~l:usar pacientes, pelo menos que me recorde, pacientes que não

·i·.'
dilhas encontram-se neste caminho. Nossa atual economia está rf:,udessem pagar os honorários pedidos. Nem tampouco tive que
demonstrando que tão logo que o foco dos cuidados é o cheque de iUmitar minha participação de um quarto do meu tempo em progra-
pagamento e a segurança no emprego, merecido ou não, então a r:nas inovadores, pelas baixíssimas taxas de pagamento que geral-
mente se recebe ( por uma hora, geralmente pagam um terço do
preocupação por qualidade de trabalho diminui. Analista ou mecâni-
I.
,.,'"
co: as mesmas regras aplicam-se. Nós podemos facilmente, tam- yalor padrão na prática particular) . Meus anos de experiência neste
bém, cair no erro de super avaliar a profissão de analista e permitir I., ~po de programas inovadores para terapias de jovens adultos esqui-
unia tendência em direção a honorários inflacionados através de um zofrênicos - Os projetos Agnew, Diabasis I e Diabasis \I - custou-me
muito na minha renda potencial do que gosto de pensar e calcular.
acordo consenslJal. Nosso artigo à venda é nosso tempo, não nos- I Sem arrependimentos, somente algumas sensações de aperto - e
sa perícia. Especialmente nosso sentimento não pode ser compra-
I.~ uma prazerosa corrida para fi car um passo na frente dos coletores
52 I,~ de impostos .

..
I
c:, I' ~ 53
' iI ...
I
...:;:::".
---..........
:1 ( .;
~
Nestes projetos vi a divisão que o dinheiro pode criar. Os mem-
bros da equipe que faziam todo o trabalho pesado de terapia e cui-
davam da casa era os que menos recebiam, enquanto que a admi- I

nistréição, as pessoas do funcionamento dos Sistemas de Saúde


Mental, recebiam salários respeitáveis. Eu me encontrava em uma
posição incómoda, recebia três vezes a taxa da hora da equipe de
linha, e no entanto apenas um terço dos honorários profissionais da
!
prática particular. A desigualdade do sistema causava muitos con-
.. - r'
I. ~
frontos e objeções; foi necessário muito esforço para se manter jun-
tos em face destas divergências potenciais.

Agora, depois de ter feito minha escolha por simplicidade de es-


tilo, devo recuar um pouco e lembrar que depois de tudo, minha fa-
9.• I.I.
••
:If
t~'1\
\:~
Mito e Dinheiro

Por Joel Covitz


mília e eu vivemos bem em qualquer padrão sócio-económico. Por
este motivo meu comprometimento é com uma simplicidade relativa, •• I. :í~ Eu tive duas apresentações com o papel do dinheiro na psicanáli-
somente o meio caminho até algo que sugere uma pobreza voluntá- • I. fise. A primeira veio quando estava estudando no Instituto de Jung, e
ria. Pode ser chamado de compromisso, mas isto sugere fraqueza •• :ium jovem paciente estava negociando os honorários comigo . Eu
uma não convincente meia-sinceridade. Quando reflito sobre isto,
acho que isto leva a um ponto principal da minha discussão. Em

• • disse-lhe que minha hora era de 20 francos. Então discutimos a
,freqüência das visitas e nós decidimos que ele viria três vezes por
nossa estrutura junguiana, sustentamos que nós vivemos comple-
tamente, nós tomamos uma posição que nos mantém constante-

. •• ~semana . Então ele me perguntou, "Você concordaria se eu pagasse
'cada três visitas a 50 francos?"
mente em um estado de paradoxos sustentados no jogo dos opos-
tos. De acordo com isto, em problemas de finança não podemos
escolher ou renunciar o mundo e seus tipos de bem-estar, ou permi-



•• Minha segunda introdução veio da minha dissertação sobre um li-
l';_ro de sonhos judeu. O Talmude afirma que havia um intérprete dos
tir que nossa vida espiritual se torne estéril pelo envolvimento em
preocupações do mundo. Nós devemos manter ambos fins de pola-
ridade em nosso estilo de vida. Nós devemos nos manter num
-
• ~onhos, Bar Hedya, e que seu trabalho dependia se os honorários
'lassem pagos ou não. Aquelas pessoas que pagavam a taxa rece-
, iam uma interpretação positiva; aqueles que se recusavam a pagar
ponto central.
8'-
2. •
I • •
'ecebiam uma interpretação negativa.

Na verdade, dinheiro é um elemento importante no trabalho do


t ••I '
~. -analista com qualquer paciente. Todas as pessoas tem um comple-
~ ti·' i~o monetário e a maneira que cada pessoa se relaciona com o di-
li _I'
:[lheiro tem um profundo efeito em outras áreas da sua vida. Os an-
~. tigos Gregos perceberam isto quando eles correlacionaram a ausên-
Cia de dinheiro com o processo da doença e a presença com a cura.
I .t. Dinheiro é um do "aspectos fundamentais da realidade viva". (Otto,
!' I 107) E neste documento, quero discursar sobre a realidade psicol6-
;, fi ' •
,~1 I-
ft;' ."
gica do dinheiro.
54 I,~
!~ S~
I
~

I'
,~

Na nossa sociedade, dinhei ro é uma necessidade. Dinheiro tem


importância. Para o empregado médio ou autõnomos , dinheiro e
I
sua aquisição tornam-se extremamente importantes. Na sociedade I~ ,se pagar a escola, ele não deveria ir. Ralph tornou-se uma pessoa
.I~
_I,
ocidental o dinheiro é um meio para se ascender na vida . Muitas arruinada física e financeiramente, ele nunca conseg uiu achar uma
pessoas na nossa civilização entram em análise em parte por cau sa carreira significativa. Anos mais tarde, sua mulher o deixou . Ele
das suas preocupações sobre suas posições na vida, freqüente- queria casar novamente, mas ele não encontrava nenhum jeito de
mente querendo mudar de classe e promover uma mudança psico- ganhar a vida. Então ele entrou para a análise .
lógica para que sofram menos com problemas de dinheiro. Quero .. "
limitar me us comentários aqui para indivíduos que começam com
muito pouco, que movem-se do patamar do nada para alguma coisa .
Eu deveria ser menos preocupado com o uso, investimento e gasto
de dinheiro do que com sua aquisição. Eu quero explorar o desen-
."-.1.I,
"
Agora, este tipo de recusa em assumir dívidas é uma ética errada
) para nossa cultura. Ralph havia sido desencaminhado pela ética de
'"' trabalho tradicional. Dívidas pertencem a uma pessoa confiável na
'. nossa cultura; isto significa que esta pessoa tem crédito . Subestí-
volvimento do que eu chamo de uma "atitude realística" com res- .1, ,mar o crédito potencial de uma pessoa é subestimar sua capacida-
peito a aquisição de dinheiro, porque tal aquisição deve ser um dos
obj eti vos de um paciente tentando viver nesta sociedade .

Agora, dinheiro tem tradicionalmente tido mais propriamente uma


.1.
.1.
.1,
de. Entenda que não é para ser neurótico com tudo que se relacio-
na com dinheiro, porque isto significa que este indivíduo está viven-
do abaixo do seu potencial. Parte de arte de lidar com o dinheiro é
saber como e quando assumir dívidas, para que a pessoa possa
'pressão' negativa na Literatura Ocidental, refletindo um forte noção I ,. obter o potencial máximo do dinheiro emprestado. Como Benjamin
em nossa cultura que abundância leva a decadência e a negação do
espí rito. A Bíblia diz que aqueles que desejam ser ricos caem em
61. Franklin disse, "Dinheiro pode gerar dinheiro". (Franklin, 87) Muitas
pessoas - Thomas Jefferson foi um exemplo inicial - viva frutifera-
tentação, em armadilhas e muita luxúria tola e prejudicial, desta ma-
neira levando homens a sufocar na destruição e perdição. No amor .
ao dinheiro está a raiz de todos os tipos de mal: que alguns alcan-
•• •• mente, vidas criativas sem muito dinheiro na mão. Ele estava fre-
,qüenteinente em dívidas, mas ele viveu o seu mais completo poten-
ciaI. É claro, isto vai contra a ética que nos persuade mais a eco-
çam depois de terem sido desviados da fé: e penetrarem através de
um caminho com muitos sofrimentos. (I. Tm. VI 9-10) A ética do •• •• nomizar do que emprestar. Mas a pessoa que apenas economizar,
,que não tomar riscos com seu dinheiro ou segurança, que ver inte-
trabalho puritano permite somente trabalho duro e auto-sacrifício - a
noção que uma pessoa deveria ganhar o que ela tem pelo suor da
sua testa, e que não deveria haver atalhos, nenhum caminho fácil
•• •• resse em dinheiro como estúpido ou 'escuro' ou 'duvidoso', não terá
ucesso com dinheiro.

para a riqueza. Estar com dívidas é não ser visto com bons olhos.
Mas em nossa sociedade, isto simplesmente não é uma atitude rea-
lística, como o caso de Ralph nos mostrará. i
••
_I.
A aproximação tradicional puritana ao dinheiro deixa atrás muitas
~sualidades - pessoas com aproximações insalubres no que diz
:respeito ao dinheiro. Freqüentemente a raiz de uma neurose de
j ••
~amília tem como base algum tratamento irresponsável da capacida-
Na sua juventude, Ralph era uma grande promessa. Ele queria , • 1• l\.d e de um indivíduo. Por exemplo, um paciente tinha um avô que era
ser médico e estudava muito na escola de Medicina e durante este , ~ ilionário . A esposa do milionário morreu quando ele tinha oitenta
período , também sustentava sua família, mas finalmente ele desco- • I• l.,s nos e o velho casou novamente. Ele viveu por alguns anos e então
briu que não conseguiria ter sucesso. Ele escolheu desistir da es- • i f"0rreu, e todo o seu dinheiro foi para sua nova esposa - uma situa-
cola de Medicina, em lugar de emprestar dinheiro do Governo com • i• lição que separou a família. Também, são muitas vezes os filhos do
um empréstimo garantido, Ele achou que se ele mesmo não pudes-

56

...
l .[~
i'
~
:,milionário que tinham que carregar a sombra da riqueza dos seus
, pais. Os pais podem consciente ou inconscientemente considerar a
'sua própria aquisição de dinheiro como duvidosa, e apesar de que

j~ • 1-
. -.,; 57
.I~ ....
. . . ._ . .w ·- .·-_··'_-_r-= - .z',*" , _..,.._. '-==-c·...., -... _ J 't

eles podem passar adiante dinheiro, eles também passam adiante


i
• I
;~

atitudes ambivalentes e paradoxais com relação ao dinheiro. É pos-


sível que algumas das tendências destrutivas de crianças de famíli- I. Mas pelo menos um puritano, Sen Franklin, disse sobre "Obter ri-
as ricas tem como base esta inconsciente identicação-escurecida
Eles tem a ta refa de chegar a um acord o sobre a obtenção de di-
nheiro, mesmo quando eles próprios nunca tiveram que obtê-lo. ,..
I.
I~
1 fi.
quezas e por meio disso assegurar a virtude; isto é mais difícil para
um homem que sempre quis agir honestamente, como .. . é difícil
para um saco vazio ficar de pé,"(Franklin, 92)

Em outras maneiras o mau uso do dinheiro causa grande proble-

.1.
-:;
De fato, Franklin devotou uma grande parte de tem po e energia
ma no ajustamento individual. Um paciente meu , John , neurastênico
e introvertido , precisava de um empurrão e nunca veio. Ele careci a
I. para o desenvolvimento de sua teoria do "Caminho para a Riqueza",
" que envolvia relembrar simples, mas muito realísticas e ainda apli-
de energia até para pedir dinheiro. Ele sabia que seu pai tinha di- ~ cáveis leis sobre dinheiro, Ele disse que o "uso de dinheiro" - isto é,
nheiro e também sabia que seu pai lhe daria se ele pedisse. Ele foi 19 ~ a habilidade tanto de gastar como ganhar dinheiro a partir do próprio
pego na mesma situação de Hermes: um pai rico e que não lhe dava . 19 ~ d inheiro - "é toda a vantagem que existe em se ter dinheiro" e "cré-

.1.•,I.
. 19
nenhum apoio. A diferença foi que Hermes reagiu com uma enorme ~dito é dinheiro",(87) Franklin sabia que a maneira primária de avan-
iniciativa e estava desejoso de crescer por si mesmo. Mas para cri-
anças que não são Deuses, ou são neuróticos ou depressivos, nada . 1. ~ çar é investir o dinheiro, ou emprestar com juros, desde que desta
~ maneira, mesmo uma pequena quantidade de dinheiro pode crescer
jamais começa. O pai de John era um milionário, e John estava fa- ~e crescer, Ele também deu ênfase a importância do economizar:
zendo-nada até a idade de cinqüenta anos, quando então ele rece- ~ "um penny economizado é um penny ganho", Se um indivíduo joga
i
• ••
beu sua herança. Mas então já era muito tarde. A necessidade de ,pelas regras e paga o dinheiro emprestado no prazo, este indivíduo
dinheiro ajuda você a sair da caverna na qual você se encontra pre- ,pode ter uma grande quantia de dinheiro a seus serviços: "Ele é cc-
so, com suas baixas despesas gerais; isto lhe dá incentivo. O caso
•• • nhecido por pagar pontualmente", disse Franklin, "pode a qualquer
extremo de carência de incentivo pode ser visto em alguns sectos
Oriental e Cristão, que defendem a posição de dar todas suas pos-
ses e dinheiro porque o mundo brevemente chegará a um fim . (Se • •• l hora e em qualquer ocasião, levantar todo o dinheiro que seus ami-
gos possam dispor."(88) Mas ele sabia que não se pode apenas
tficar sentado preguiçosamente e esperar enriquecer, "o caminho
esta era a atitude de Jesus, como tem sido sustentado, foi um erro
de julgamento profético). •• • fpara a riqueza", dissera, "depende de não se [perder] nem tempo
;nem dinheiro".(89) No almanaque do pobre Richard, onde a maior
~parte desta sabedoria foi dispensada, ele disse aos seus leitores
·1·
.\
-I·. !
Todos estes problemas que acabei de mencionar vem de uma \ 'Deus ajuda a quem ajuda a si mesmo".(95) O que você tem que
falta de atitude realística sobre a necessidade de obter dinheiro •• fazer é o melhor disto que o destino traz à você.
nesta sociedade. Há uns poucos fatos importantes para manter em
mente sobre dinheiro: é o fato que dinheiro nunca é livremente doa-
do. Você não consegue nada por nada. E um indivíduo deveria
nunca depender de dinheiro doado. Dinheiro apenas não vem à ".1.
.1.
. • !,
O que eu gostaria de focar agora é a~enas
a arte da opulência _
} econhecer a necessidade realística para se ter dinheiro nesta soci-
~dade. e então dispor de todas as forças de um indivíduo, particu-
você; você tem que ir atrás do dinheiro, e isto freqüentemente requer
que você seja geografk;amente móvel. O fato é que se você não
pedir pelo dinheiro, você nunca o receberá. A fantasia puritana é
r

.1.• larmente o "malandro" que se encontra em todos nós, para alcançar


aquele objetivo. O mito do Deus grego Hermes fornece um arquéti-
po por esta psicologia "malandra" que permite propostas criativas,
que riqueza não é importante. Outros objetivos - honestidade, tra-
balho árduo, g~nerosidade - tem tido uma pressão muito melhor.

58
;;
f'
'I
t.l
.-
')

~
flexivas e ousada para o desenvolvimento de todas possibilidades
ho indivíduo, inciusive a possibilidade de riqueza.
I

j 59
~

L,ulflU voce saoe, Hermes era o filho de Leu s e da Ninfa Maia ,
I u~Jo após seu nascimento, Hermes sentiu-se irrequieto na cavern a I .,
êscura, e então, arrastou-se para fora da caverna, Ele encontrou I
lH) la lartaruga que passava por ali. "Que sinal fantástico , que ajuda .I9 nos que meu pai me conceda isso, reunirei coragem - e isto posso
fazer! - e me tornarei um príncipe dos ladrões. (Keneyi, 165).
péll'a mim" Ele disse "Não vou ignorar isto." (Soer 19) (Mesmo nesta -. .I ')
tenra Idade, Hermes já estava aberto para a sincronicidade dos Este objetivo de inesgotável riqueza encorajava-o, como em opo-
c\JE:I JtOS) Então ele levou a tartaruga para dentro da caverna . Pu- .I9 sição imprescindível, Hermes estava determinado a fazer fortuna,
xou urna faca e reti rou a carne de dentro do casco e esticou hastes I .,'~fazendo o que fosse necessário para ganhar algum tamanho - e ri-
c; i.. 9
dt; junco ao longo do casco - havia inventado a lira . A tartaruga ti- ;i~ueza - como seu irmão mais famoso Apolo. Apolo, no entanto,
nlla aparecido "no momento certo , (20) e Hermes aproveitara aquele ~obviamente percebera a diminuição significativa no tamanho de seu

~ •I .
rnurnE:nto , Ele era um oportunista. ~re ban h o . Ele conseguiu seguir a trilha de Hermes e exigiu o retorno
~"/'da s vacas. Hermes se fingiu de completamente inocente: ele não
Hermes encontrara o gado sagrado dos deuses e havia tirado 50
vacas do re banho . Ele queria encobrir sua pista, para tanto inventa- I-[~in ha nenhuma informação sobre o roubo. Era ridículo supor que um
E
1-
..,
lt>equenino bebê pudesse roubar 50 vacas. Apolo simplesmente riu
ra um par de sandálias mágicas, para que suas pegadas não pudes- 41 l sobre a inteligente estória e chamou Hermes de malandro, e insistiu
sem ser reconhecid as. Depois revertera as pegadas das vacas , ~ ue Hermes devolvesse as vacas. Hermes reclamou que ele havia
"virando as patas da frente para trás e as patas de trás para frente ,
j.
~Jiido falsamente acusado. Finalmente eles foram ver seu pai; Zeus,
enquanto que ele mesmo andava para trás ."(23) . ,
"
I rRue dissera aos dois que apresentassem suas defesas. Apolo con-
(i C i· t-10u sua estória e depois Hermes contou a sua própria: "Pai Zeus,
~
Ago ra, enq uanto armava sua escapada, um ancião - um símbolo
dos velhos valores - viu que ele partia com as vacas. Hermes então C i· ~ou contar-lhe a verdade. Sou uma pessoa franca e não sei como
fr
entir" ele disse "Eu não levei o gado de Apolo para casa , no en-

~
lhe disse , "Você não viu o que você acabou de ver, o.k.? Você não
i· anto

..
(I • desejo ser rico"(Boer, 45). Neste momento, Zeus caiu em gar-
ouviu o que acabou de ouvir. Fique quieto e você não sairá machu- q ••• p~lhada, e ordenou aos irmãos que se reconciliassem e disse a
cado" (24) e Hermes conseguiu chegar em segurança, matou duas rermes para mostrar aonde as vacas estavam escondidas. Apolo
1 ••• -

.. í
vacas as sacrificou adequadamente. E depois jogou fora suas san-
~ ~ inda estava muito zangado, então Hermes decidiu acalmá-lo e to-
dálias mágicas. ~ iFoU a Lira. Tocara a Lira tão lindamente que Apolo estava encanta-
J • •
!po e disse que a música de Hermes valia as 50 cabeças de gado.
Os malandros tem que prestar muita atenção a detalhes como ~'\j le pro~eteu a Hermes ,gl6ria imortal entre os deuses se ele apenas
aqueles - e voltou para a caverna. Sua mãe sabia que ele havia 'li
e ensinasse esta arte. Sempre alerta por uma troca justa, Hermes

~ :I:
feito alguma coisa errada. Hermes dissera, não se preocupe, no I'f t , • • Fncordara, contanto que ele pudesse ficar com o gado. Finalmen-
entanto a partir de então ele fornecia o alimento necessário para seu flre, Apolo ganhou a lira e Hermes a gl6ria e uso do gado. Apolo feliz
sustento: ip'ue estava, "presenteou a Hermes com mais um presente, um caja-
~o do ouro, que outorgava riqueza"(Kerenyi, 170). A partir de então,
~t, -I

.,.
Nós não desejamos nos sentar entre os deuses sem presentes :t'ermes estava no comando das trocas e comércio entre os homens
.,.
ou preces, como é teu plano! Seguramente é melhor praticar es-
portes por toda a eternidade entre os imortais, uma riqueza inesgo- t~ . 1. e fora glorificado entre os deuses.
::ê"
tável, é bem melhor do que encolher-se de medo aqui nesta caverna 'a
.' .... I .; A primeira coisa que se deve notar sobre a estória de Hermes é
sombria! Quero ter a mesma reverência que é dada a Apolo! A me-
~~ c !· que ele sabia que não poderia ficar na sua caverna sombria. Ele

i~ C!'" precisava sair para uma casa com uma vista. Ele não ficara espe-

j- .'
60
- ~ .,. !I .,
rando pela herança do pai; pelo contrário ele pegara seu destino em

61
.
!~
.."
I...
,I
- I
suas propnas maos e extravasara sua rica fantasia . Quando se viu el•
de fren t8 com a armadilha da pobreza, percebera seu sonho de ri- e !•
queza enquanto estava na companhia dos deuses. Ele dissera a I• ado, mas mesmo faminto com estava, ele não arruinou o sacrifício
sua mãe "Tentarei qualquer tipo de plano, tentarei o melhor, para me ei• mendo a carne. Nas palavras de Rafael Lopez-Pedraza, "o con-
alimentar e a você continuamente!"(Hesiod) Ele desenvolveu uma e\ :ceito Jungiano clássico [ do sacrifício 1é baseado no que é sacrifica-
visão positiva , um sistema para tornar-se rico, começando com nada $ !• ~o e se isto já está esgotado, o que lhe dá um toque Hermético."(37)
mais do que sua presença de espírito e a inveja. _ ! •
Mesmo assim, Hermes é um ladrão, ele tem um estilo de Robin
O estilo de Hermes é único. Há alguma coisa de muito apropria-
da sobre sua desapropriação. Algumas vezes andar para trás é ir
~
~.
1,- 'Hood, tentando restabelecer à sociedade um equilíbrio adequado.
'No entanto, muito disto parece questionável a partir do ponto de
para a frente . Seus métodos eram métodos de malandro - muito • • ista moral," diz Walter Otto, "todavia é uma configuração que per-
mais um roubo inteligente do que um assalto com a face descoberta, C. I• ,ence a aspectos fundamentais da realidade viva."(107) Nós deve-
contando estórias, a habilidade que conseguiu com que Zeus e • i ?mos assumir que o indivíduo que começa do nada tem que ser um
~pouco não-ético. O malandro não está apen~s consciente das leis
Apolo rissem ao invés de amaldiçoá-lo. Hermes era um mestre em ....
se sair bem de um lugar embaraçoso, contando estórias. O mundo
responde a uma estória verdadeira ou não. Se você quer um em-
_II •~ ~~.:ormais da sociedade; ele está também consciente dos costumes e
cultura - levando isto em conta, por exemplo, o princípio da ética
préstimo; portanto se você está em contato com o lado malandro na • I l'americana. "Vocês não deverão ser pegos". O homem Hermético
sua psique, você vai contar ao banqueiro a estória certa. Contar a I • I' f a Rússia é o comunista que ainda é capaz de conseguir caviar.
verdade em algumas situações é sinal de masoquismo. Você tem C ••
que ser ousado e aceitar riscos para chegar a algum lugar. Hermes I• ~ Colocando seu objetivo como o de "inesgotável riqueza", Hermes
sabia que Apolo e Zeus não haviam acreditado nos seus contos de I ti i 't!ora confiante e engenhoso: ele sabia que poderia fazer aquilo, no
inocência , mas é a própria estória que conta: Ele os fizera rir. A arte • I • entanto ele não fez imediatamente, ele criou com o que tinha em
de convencer as pessoas é uma parte importante da arte da riqueza. • •• :mãos, portanto utilizando a flexibilidade que é o ponto central para a
I I fproposta Hermética. Hermes era um mestre na arte de colagem, da
lcombinação, também estava aberto para descobertas acidentais, e
No princípio surge a questão: não é Hermes apenas um crimino-
so comum? O malandro que rouba gado e depois mente sobre isto
- •• i·
'
i

~
desta maneira ele participou no seu próprio destino.
pode não ser visto particularmente como digno de elogio. Mas . • •• 'Á

existem várias diferenças entre a figura-malandro e o criminoso. O ~\ • I• ~ Hermes era tradicionalmente o Deus das trocas de mercadorias e
criminoso está sempre separado e zangado com sua própria cultura, ~I . J. 'dinheiro entre os homens: ele era o Deus das fronteiras, onde tribos
não pode se identificar completamente com sua cultura, não pode se !I • I Mizinhas encontravam-se para trocar e facilitar o crescimento eco-
identificar com o total coletivo. Mas a pessoa Hermética conhece a ;1 . . . . riômico. Hermes era considerado "uma fonte de bênçãos materiais"
estrutura do poder e trabalha com sua cultura. Ele procura por es- ;. • I_ para os homens. (Brown 22) Seu cajado trazia riqueza, e ele pro-
capatórias e estradas secundárias, mas ele não é um criminoso; ele II I• movia trocas que beneficiavam ambas as partes, exatamente como
está meramente tentando ser mais inteligente que a maioria. O so- .( • i .. sua troca com Apolo beneficiara ambos. Na Grécia Antiga, "permis-
ciopata , por exemplo, evita pagar impostos; o homem hermético ao \ • 'I são mútua para roubar"(Brown, 42) era reconhecida como um tipo
contrário encontra abrigos tributários. Parte da chave para o suces- t, ... , de comércio, mas de fato era um tipo de presente de troca.
~
so de Hermes é que ele conhecia as regras com as quais tinha que ~' I .,
funcionar. Ele sabia como quando e o que sacrificar; ele roubou o N • i_ \ Trocas de presentes são importantes. Quando uma troca injusta
:>corre, o delicado balanço de dinheiro e poder é rompido. John,
ti ... ~
62 :1 I
li ...
..
~
sobre que falei antes, sempre estava ganhando os presentes erra-
ti I, 63
j
.1
.'

61-
3 ~
..:=-..
,
~"
--
dos; de nu nca re almente recebeu o que precisava. Ele havia sido ~

enganado na troca com seus pais. Entender que dar-presentes é


3imilar a saber como lidar com dinheiro; e o pai de John não conse-
guia lidar co m nenhum dos dois. A visão sentimental, claramente, é
~
~
•a I dades, está claramente visível no coração do pensamento Jungiano.
Quando meu paciente John tinha 8 anos, ele encontrou uma nota de
que um individuo distribui abnegação e amor. Mas realmente o dar-
presentes freqüentemente estabelecer a possibilidade de uma troca ! ~
• 20 dólares no estacionamento do Aeroporto Kennedy, e ficara muito
'alegre com seu "achado de sorte". Mas seu avô, que não estava em
mas não no custo real para cada parte. O presente é uma troca de
poder. A partir do ponto de vista Hermético, dar é receber. Dar-
1. ~ contato com o seu lado malandro, instrui-o de maneira repreendedo-
~. ra que John colocasse o dinheiro de volta no lugar que o havia
presentes pode ser visto, então como um investimento. ~,. I 1! achado, dizendo, "Você talvez não saiba de quem é este dinheiro,

o ponto é não acumular dinheiro apenas para sua própria segu-


rança, mas antes ter um estilo Hermético, que ajudará a reunir expe-
.1-
c'·
ilmas com certeza você sabe que não é seu".
~.
li A proposta Malandra também encoraja independência no que se
riências positivas. A pessoa Hermética achará que ele tem mais
energia para realizar coisas; que ele está em uma posição de poder ·1- r:a
fi'·
~ refere ao paciente. Tendo se libertado de seu pai, Hermes fora ca-
~ paz de proporcionar a si mesmo o seu correto lugar no Olimpus com
e pode trabalhar para alcançar seu próprio potencial e também ter
um possível papel em influenciar o destino da sua cultura. Dinheiro
I. família dos Deuses, Hermes dissera, "Se meu pai não prover, en-
~tãO eu posso e sou capaz de fazer isto". A falta de dinheiro está
é o meio para um fim.
··1-.. ~freqüentemente correlacionada com a falta de flexibilidade na vida;
·'"i:. além de diminuir a mobilidade geográfica, pode provar ser urn tipo

*** •• •• ..de paralisia psíquica.

• <..
Uma paralisia de ambos os movimentos psíquicos internamente e

..
Então a próxima questão é, como podemos aplicar os princípios ! movimentos de vida externamente. A proposta Hermética permite
Herméticos no trabalho analítico? Como podemos encorajar nossos
clientes a desenvolver o lado malandro em suas próprias psiques?
A proposta Hermética promove a auto-ajuda, engenhosidade, inde-
•• ' que uma pessoa sinta-se livre para seguir sua alma, seu destino;
t liberta sua energia psíquica com o fim de capacitá-lo de por em prá-
l!tica sua alma .
pendência e flexibilidade . Encorajar a aquisição de técnicas sutis e
•• ~
ousadas em um paciente não é anti-ético. Além de promover o lado
malandro no paciente, o próprio analista deve tornar-se uma figura •• . É conhecido que o papel posnivo da iryveja na psique é mostrar
vao indivíduo o que ele potencialmente pode ser. A inveja de Hermes
~da Riqueza e estatura de Apolo motivara-o a completar seu próprio
malandra. Norman O. Brown diz, "Na visão moderna ... relaciona-
- mos malandragem com a antítese da boa habilidade. Portanto alu-
nos modemos sentiram-se obrigados a negar o culto de Hermes
como o "malandro" imoral... mas sua função é promover o bem
·r·
~ : I:
!l.potencial. A inveja freqüentemente fornece tal força de motivação
!$Ientro de uma família. Meu filho uma vez perguntou a minha espa-
isa, "Se eu me juntar a Sinfonia de Boston, vou aprender tanto
estar social", (23) como a análise deve promover o bem estar de
seus pacientes.

Os gregos costumavam chamar qualquer achado de sorte que


.t. I.
I
: quanto papai?" Já naquela tenra idade ele estava usando um senso
: Hr;rmético de competição como motivação.
,)
'iTive uma cliente, Debra, que junto com seu marido conhecia a
um viajante encontrasse de um "presente de Hermes". (Brown, 41)
A arte de ver a possibilidade em ocorrências de sorte, em sincronici- .'.
,• I•
I
fundo a arte da Não-Hermética de mera sobrevivência. Eles eram o
que chamo de o mais baixo tipo de denominador comum - aluguel

.'
·i~ baixo, roupas do exército da salvação, mas com dinheiro no banco.
64 Eles estavam contentes com as baixas despesas gerais - com a ca-
I
vern é o sistema deles tinha um ponto embutido que era quase um + I -'

colapso nervoso, no entanto, o que ocorreu quando a filha deles


entrou para a escola de dmma, confrontou-os com a necessidade de
.i
,.I.
I. "eis... "Eu posso somente trabalhar com este tamanho de tela,
ganhar mais dinheiro para pagar a quantia anual de $ 7.500,00 pela
sua educação. Como já se podia esperar, Debra e seu marido, com
~ 1. neste meio ... "Este tipo de pensamento é freqüentemente rígido e
limitante, uma vez que os artistas verdadeiros são geralmente flexí-
seu estilo não-Hermético, culminara com o fato de que sua filha veis. Muitos dos grandes mestres da pintura, ao longo da História,
adotara a proposta Hermética. Enquanto Debra havia economizado , trabalhavam sob comissões, a parte poucos artistas que estavam
sellS fundos limitados no banco, sua filha estava desenvolvendo sua
.I ~ muito a frente de seu tempo, o artista sem sucesso e neurótico ge-
carreira artística, trabalhando como atriz de televisão durante todos
os anos que antecederam a universidade e ela mesma agora, já .. ,.
I ~1 ralmente não possui talento ou é muito inflexível. Jung previne con-
t~ tra O "artistas de hobby" que tentam fazer profissões dos seus ho-
estava ganhando muito do dinheiro para sua educação. ~ bbies."
19
Como você pode criar o lado malandro em um paciente? Como
um analista Jungiano, pode reconhecer o lado malandro quando
este aparece no material do inconsciente, e ter certeza de apontá-lo
.'.19 ~1

Uma variável para se examinar no ato r, músico, poeta e artista é


o grau de necessidade. Como está conectado a alma com a ativi-
dade particular ou ofício? Qual é o investimento da alma nesta ten-
para seu cliente. Perceba como o lado malandro aparece em so-
I' .~ tativa, e quão profundamente enraizado se encontra este compro-
nhos e fantasias e tente integrá-lo como uma parte básica da perso-
nalidade J..) paciente. O analista deveria observar quando a falta de
conexão com o lado malandro atrapalha o caminho do progresso do
paciente que é "sério e inflexível" . Ele ou ela deveriam também ob-
.1.
.1.
I. ~ metimento? Freqüentemente quando o talento está em falta , a alma
~ e libido estão em outro lugar, que estarão refletidos no material do
~ inconsciente. Isto pode soar brutal pensar na arte em termos do seu
~ poder aquisitivo, mas o artista deve entrar em um acordo com a rea-
servar como o lado malandro está projetado dentro da relação com o "I' lidade financeira. Para trabalhar na 'visão interior' sem verificação
analista e oferecer esta interpretação para o cliente analisado. • externa em forma de conhecimento financeiro é reservada a muito
: ,1 : .' pouco ou muito ricos.
A obtenção de dinheiro e sua relação com a alma estão refletidas
no artista, escritor, ator, poeta, músico e ainda no analista, o qual
t :: ~ A pessoa que usa truques Herméticos para ganhar um pouco de
muitas pessoas dizem ser mais um 'artista' do que um médico. Jung
-I-I i dinheiro para começar no mundo está trocando algo por nada? Não.
representava este ponto de vista quando dizia que ele estava dese-
joso de mudar todas as suas teorias pelo benefício de qualquer um
dos seus pacientes.

O que podemos dizer sobre o artista que não consegue sustentar t i •


~I
~~~I
9; ,
.I.
... E
••
' A Ele está trocando algo pela sua inteligência. O m~landro sai em
~ busca da riqueza. A "mentalidade do bem estar" pode ser um exer-
íciO de auto-decepção; a fantasia do recebedor de bem-estar é que
. ele está trocando algo por nada. Mas é nada ter que sacrificar a

.1.
~ uto-estima de um individuo? O recebedor que acha que está rece-
a si próprio? O artista que não resolveu seu dilema da manutenção t.~ .1 • ; bendo muito está sendo enganado pelo sua própria malandragem.
~l
.'..
de dinheiro pode ser um gênio, mas ele está também doente num [ Nada vem do dada. Eu me recordo da estória no livro de Studs
senso de arquétipo de dinheiro. Se você acha que não pode sus-
tentar a si próprio como artista, talvez você devesse considerar o ~~• j •
"Terkel Trabalhar, onde a prostituta fala do seu deleite inicial em ga-
.:-nhar 50 dólares em 20 minutos e depois disto sentir que não havia
fato de desistir de ser artista. O problema do artista, se ele vê seu
dinheiro vindo da prática da sua arte, é para compreender como ~~
~
~( rt e'
.mudado. Apenas anos mais tarde, rebaixada no seu status de call-
l,girl para prostituta de rua e viciada em heroína, ela percebera o pre-
ganhar dinheiro r:om a arte. Muitos artista neuróticos não são flexí- .{
t'
~
,"i
i.( . "ço que havia pago por aquele dinheiro. Ela, havia sido enganada
,pela sua própria malandragem. Uma pessoa pode também ser pega

•,
66 no engano de casar com um esposo rico, desde que isto diminui o

jf.
~.1li
~ 67

..
trlLo ntlvu Ll u alyUul1I fJ::lr O alcallçar e realizar seu próprio potencial.
,~as palavras de Jung, isto também pode diminuir o senso de viabili-
lade da pessoa. Um analista não quer que seus pacientes sejam
')egos pelas suas próprias armadilhas; se ele pode encorajá-los a
-I'
t

..... I.,
ej'
t
o que o ponto de vista Hermético significa para o próprio analista.
Hermes que era o Deus dos artesões, dos homens que ganhavam
serem engenhosos, flexíveis e ousados, muito melhor.

Em 1911 , Jung e Freud tiveram o seguinte diálogo no qual Jung


~hamou o problema da "falha do casamento rico" . Freud escreveu
.1.
.1.
dinheiro através do seu labor e, em alguns mitos, de médicos, é um
arquétipo significante para analistas, Lopez Pedraza diz que "apesar
dos aspecto marginal, desonesto, malandro, ladrão e trapaceiro de
Hermes, paradoxalmente, podemos dar-lhe completo reconheci-
oara Jung .
.1. mento em seu papel como protetor da psicoterapia" desde "roubo

c\' psicológico" que qualquer analista freqüentemente condescende - é


a "atividade natural e básica de Hermes na psique".(31) Médicos

~I·
Dê o prazer a sua encantadora, inteligente e ambiciosa esposa através da história tem sido muito bem pagos. Plínio uma vez re-
de salvar você de perder a si mesmo nos negócios do ganhar- clamou que os médicos ganhavam "enormes quantias de dinheiro"
dinheiro. Minha esposa freqUentemente diz que ficaria muito
orgulhosa se ela fosse capaz de fazer o mesmo por mim ...
Seu gosto por ganhar-dinheiro já me preocupava em conexão
com suas transações americanas. No conjunto, isto vai provar
s,-
s •
Si-
~ (Magno, 348) como médicos temos sorte de ter o deus do comércio
L do nosso lado.

~
~ A flutuação do padrão financeiro de terapeutas, claro, é um as-
ser um bom negócio se você renunciar a buscas costumeiras.
&1-
Então, tenho certeza, recompensas extraordinárias surgirão em
seu caminho. s,-
ci-
~:sunto de grande preocupação para a maioria de nós. Uma velha
~máxima diz que um paciente deve cumprir duas obrigações para
fcom seu analista: ele deve estar pontualmente presente nas suas

:\:.'.
Jung respondeu, tsessões já marcadas e deve consistentemente pagar sua conta!
!;Todos sabemos o que acontece aos nossos sentimentos afetuosos
:e humanitários quando um paciente se recusa a pagar sua conta.
Não está tudo tão mal no que diz respeito ao meu ganhar- Jsto é ainda mais intolerável do que quando ele o faz esperar por ele
dinheiro ... Eu preciso de mais práticas a fim de ganhar experi- e não comparece e "acidentalmente" reprime a capacidade de usar
ência, por que não penso que saiba muito. Também, tive que
el- o telefone para lhe avisar. Recordo a estória que relatei no começo

:1:
demonstrar para mim mesmo que sou capaz de ganhar dinhei-
deste documento sobre o interpretador de sonhos do Talmude que
ro para que me livrasse do pensamento de que não sou viável.
Estas são todas estupidezes assustadoras que apenas podem ser
modificava sua interpretação de acordo com o pagamento que lhe
era dado. Um comentário do século XIV nesta passagem, interpre-
ultrapassadas se as utilizarmos na vida real. (436-437)
~\.
I tou que isto significava que quando o consultante falhava em pagar,
~I. o interpretador de sonhos agia como um "inimigo em desforra".
As mulheres hoje podem estar expressando pontos de vista de I
~ ung quando elas equiparam viabilidade em ganhar dinheiro. Em c 'I · Mesmo Freud, o primeiro a praticar nosso ofício Hermético, preo-
5'· cupou-se em escrever muito sobre a relação do dinheiro e terapia.
ampos passados, as mulheres podem ter achado afirmação e co-
'1hecimento através de fontes não-monetárias; no entanto isto pare-
ce estar faltando hoje.
,. '.Il a Suas primeiras cartas para Wilhelm Fliess contém muitas referênci-
as que o dinheiro tinha um papel importante nos seus pensamentos
.:~ c. I' ~ sobre sua prática. Em 1895, percebeu que estava em posição de

...
.-:lIIo
"pegar, escolher e começar a ditar meus honorários", (136) e ele
~'. I~ falava sobre "ganhar a recompensa que eu preciso para meu bem-
68 :; " 1w estar". (173) "Me caiu bem melhor ter muito trabalho" , ele escreveu
.;
,1
j t5 ii 69
CP
1U~ /. "I.:u y é;lllll!~i TUU 1101 ills
na semana passada, por exemplo,
I
6 1•
el l1
e você não ganl1a isto em troca de nada" .(192) Mas ele acrescentou,
"Deve ser muito difícil enríquecer" .(192) Ele manteve-se "preocu-
pando-se e economizando", (218) como ele mesmo dissera .

Mais tarde ocorrera uma mudança para pior: a estação de verão


...
i
C'~
I
• li)
~
do no livro de C.A. Meier, Incubação Antiga e Psicoterapia Moder-
na .

A relação paciente-analista é uma troca; o anal;sta carrega os


era quase sempre dolorosamente lenta para ele e isto o deprimia ·i~ problemas dos pacientes por um determinado valor. O paciente

."~
bastante. Ele disse a Fliess, "Nós somos como os schnorrers [ ganha pelo que ele paga. Thomas Jefferson expressou está noção:

.\-
-I·
mendigos] " (211) e continuava reclamando que estava empobre- " Nunca compre o que você não quer porque é simplesmente é bara-
cendo , sem trabalho suficiente, tendo que pegar novos pacientes I to, isto poderá se tornar dispendioso para você. Eu tenho em casa
constantemente e até atendê-los sem honorários, simplesmente I um anúncio para tintas que afirma: "Não culpe o pintor. Se o pintor
para evitar o aborrecimento total. Ele estava preocupado que seus
problemas financeiros começariam a interferir com sua auto-análise, •• •• I tem que usar material barato para ficar de acordo com as suas idéi-
as de preço, você não pode reclamar se o serviço não durar muito.
e sentia que, desde que estava tão cansado e deprimido, seus paci-
entes não estavam recebendo o devido tratamento pelo dinheiro que
pagavam . "É uma pena" escreveu, "Não se pode viver da interpre-
••
•• ••
I Pague um preço justo, bom e honesto por vernizes, esmaltes e tin-
"I tas." Freqüentemente sinto que a mesma verdade pode ser aplicada
para um analista.
tação de sonhos" .(218) (Que é exatamente o que analista Jungia-
nos podem ter sido instruídos a fazer). Suas preocupações financei-
ras deixaram-no em uma "depressão mental e material", (327) e ele •-II.• ~ Isto leva a uma última e discutível questão: se os analistas devem
I ou não cobrar pelas consultas que os pacientes simplesmente não
percebeu que "um péssimo estado mental não é mais produtivo do
que economizar".(322) Seu "único ponto fraco, meu medo pela po-
breza", (318) que contrastava com seus sonhos de riqueza: "A espe-
rança da fama eterna era tão bonita, e portanto de certa riqueza,
....
•• I
• 1.
compareceram. A regra que você cobre mesmo se o paciente não
comparecer está na tradição Hermética: o analista portanto está
i provendo a si mesmo, tendo certeza de que ele poderá se sustentar

~ e não se ressentir de seus pacientes. Freud pertencia a esta tradi-


independência completa, viagem e retirar as crianças da esfera das
preocupações que estragara minha própria juventude"(217-18) .
"Hoje", ele escreveu, "depois de 12 horas de trabalho e ganhando
100 florins, estou de novo no fim de minhas forças ... Assim como a
arte floresce no meio da prosperidade o mesmo acontece com aspi-
.1.
.'.
C'·
I
: ção Hermética; mesmo assim ele algumas vezes aceitava pacientes
que não podiam pagar, ele sabia que precisava da estabilidade de
uma renda familiar para ele e sua família, para que pudesse ser ca-
paz de fazer um bom trabalho. A idéia é que o paciente não está
recebendo ajuda somente durante a sessão; o analista investiu seu
rações que somente prosperam com lazer"(275).
•••
I.
I tempo e energia em todo o processo da análise, e merece ser pago
por isto. Frieda Fromm-Reichmann parece concordar com este
Portanto Freud compreendeu que o analista somente poderia fa- I ponto de vista quando diz:
zer seu melhor trabalho quando se libertasse dos seus próprios con- &j'

.\
j
- finamentos, um dos quais pode ser a falta de dinheiro. Pode-se so-
mente fazer um bom trabalho quando você próprio não está doente. 'Serviços psiquiátricos ... são inestimáveis se bem sucedidos ou
A equação de Freud sobre a falta de dinheiro como uma "depressão
6j sem valor se eles falham . É através destas tentativas todavia , que o
material e mental" está na tradição grega de ver a pobreza como I terapeuta ganha sua vida, para que o ajuste sobre seus honorários
parte do processo da doença. Este tema é minuciosamente explica- (irl seja determinado pelo valor do mercado de serviços psiCluiátricos

.'~ 1
fi ' :'"
1..
num tempo e área determinados .... Se o paciente [a] repetid amente
perde as consultas por razões inválidas, ele deve ser advertido e
70 I .. depois disso a cobrança dos honorários deve ser feita . (67)
. ~ I ~.
j ." ~ 71
~
. 1•
• l•
Mas na página seguinte do mesmo livro, ela aparentemente con- • l. valo vermelho e o cavalo estava perto de uma plataforma impura."
tradiz a si mesmo: "Não é um privilégio do psiquiatra estar isento dos I
e, ' .
Seu amigo lhe dissera, "isto significa que você morrerá rapidamente
costumes geralmente aceitos na nossa cultura, no qual um indivíduo I em sua cama", E então o interpretador de sonhos disse a ele, "Se
não é pago por serviços que não foram prestados"(68) . Eu sugiro
que a proposta Hermética é um primeiro som para a resolução deste
problema malicioso, mas percebi que muitos analistas, podem não
se sentir confortável com isto.
·1· Coj-
cPl-
e.\.
você me der algo para beber, eu compro o sonho de você ," Ele res-
pondeu "Sob esta condição vou lhe dar água - e meu sonho será
seu ." E ele deu ao interpretador de sonhos algo para beber e este
morreu dois dias depois.

Jung também era um tipo malandro de pessoa; ele disse uma vez
que ele entrara na prática da psicanálise porque acreditava que po-
:1: 0
E finalmente, C.A. Meier noz diz que na Grécia antiga, "depois da
cura , esperava-se que o paciente anterior pagasse honorários e fi-

-I--\-
deria ganhar mais dinheiro nela do que poderia ganhar no seu pri- zesse oferendas de agradecimento. Temos exemplos em registros
meiro amor que era a Arqueologia. "Eu não tinha o dinheiro" ele
disse "para ser um arqueologista ... nunca achei que tivesse qual-
"l- . nos quais Deus administrava uma lição marcante a devedores tar-
1 dios .... ordenando rapidamente uma recaída."(316) .
quer chance de chegar a algum lugar, porque nós não tínhamos
dinheiro mesmo ... [mas] um médico pode desenvolver ... ele pode -l- '

escolher seus interesses científicos"(McGuire, 428). Contudo Jung


não tinha que ganhar a vida com sua prática, e como resultado, al-
gumas pessoas reclamavam que ele muitas vezes cobrava menos
dos seus pacientes. Isto enfurecia alguns de seus colegas analistas
-1-
.,.\-.
·1- I

.'.
por que, desta forma, inadvertidamente ele fazia com que o valor

.'..1..
das análises fosse avaliado em menos do que o valor real e isto
também os embaraçava no que se referia aos seus próprios honorá-
rios. Jung parecia a eles insensível a obtenção de dinheiro com a I I
prática analítica. Ele talvez não tenha percebido isto plenamente,
. .. I.
.'.
freqüentemente, os analistas eram médicos que estavam vendendo
sua perícia a fim de ganhar dinheiro para o seu próprio sustento.
;\ I j
,
.(

.'. I 1
Seu Hermeticismo parecia não alcançar até o reino do dinheiro.
)
Fico imaginando porque. Será que ele conservava uma velha idéia
de medicina como caridade cristã? Ou talvez ele se sentisse culpa-
-.1
s:
I
I .. J
l

.'.
do sobre a origem do seu próprio dinheiro? "

~ 1

Gostaria de concluir com duas estórias. Uma é um conto antigo fi • \ .


judeu do século XIII, que ilustra a máxima "você consegue pelo que f. '
~(
~\
I
você paga". Um dia um pagão estava sentado e deprimido. Seu ~ • I

amigo lhe perguntara, "Porque sua face está tão oprimida?" e ele :< ,. '.
respondeu, "Tive um sonho em que estava cavalgando em um ca- !' --
~,~ c, •
72
ti~i ... .,

~ C • 73
jJ C •
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1-.
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~
l- i Projeções: alma e dinheiro

.. ,-
1.<

~ Adolf Guggenbühl-Craig

:\. I.
1 ,~

:1 Ainda estou para conhecer alguém que seja indiferente ao dinhei-


~ ro . Alma e dinheiro é o título deste livro. 'Alma' é um termo difícil de
i usar. Alguns psicólogos o evitam, tentando criar uma psicologia
.. I.
I
isem alma. Outros substituem o soar religioso de 'alma' pelo termo
l.mais neutro 'psique'. Sou totalmente a favo~ do em~~eg~ da palavra
-]- ..
., i -
li:'alma', apesar de, quando usada com mUita frequencla, ela soar
f pomposa ou sentimental. Não há saída: se você não usa a palavra
: ;'alma" você evita a questão básica da psicologia; use-a com muita
~
... !reqüência e ela se torna constrangedora.

.
! A alma é e permanece um mistério. O que é? Ond e está?
Como é? Não podemos pegá-Ia, não podemos localizá-Ia; a alma
t. • está em toda parte e em nenhum lugar. Por causa de sua caracte-
~

".
rística evasiva, temos que experimentar e reconhecer a alma princi-
c, • palmente através da projeção. Projetar a alma nos permite lidar com
ela. .

• ~
Por toda a história a alma foi projetada em várias coisas, huma-
nas e não humanas. A sexualidade - como um ato em si e as fanta-
•• sias sobre ela - é uma grande portadora de projeção da alma . O
desenvolvimento e a individuação da alma são vividos nela e simbo-

•a ~izados pela sexualidade.

~ -a
ç, .. 75
~ ~
Que relacionamos dinheiro com força vital é óbvio. Pessoas ido-
sas que negam a si qualquer luxo e reclamam amargamente do pre-
~
~
...
.

. .,
terapeuta devia ser uma tela em branco na qual o paciente pode

,.
ço do aquecimento, eletricidade, comida, etc. às vezes deixam gran- projetar toda sua psique. No entanto, nós analistas não somos telas
des fortunas para trás quando morrem. A consciência de que a vida 1) em branco! O paciente não apenas projeta em nós; o que ele vê e
ou a energia está se esgotando leva-os a compensar acumulando experimenta conosco é influenciado pelo que s.omos.
dinheiro, isto é, energia.
O dinheiro, entretanto, é uma tela em branco. Todos projetamos
Apesar dos economistas freqüentemente presumirem que o lucro
é um impulso fundamental que anima o comportamento humano,
Cr~ '·t . no dinheiro aquelas qualidades específicas característicl:is de nos-
~ t.
sas psiques pessoais. Uma pergunta que quero fazer é: Por que
nós psicólogos sabemos que poucas pessoas, especialmente as não olhamos para esta tela com mais freqüência? Apenas recente-
I
que têm sucesso, realmente trabalham por dinheiro. Por exemplo,
eu conheço um fabricante de tintas muito bem sucedido que acredita
~l· mente percebi que uma autêntica análise deve incluir uma ampla
contemplação das projeções do paciente e do analista sobre dinhei-
-ia
que trabalha para fazer muito dinheiro. E ainda assim quando voe€.
fala com ele por mais de dez minutos, você vê que o que de fato o
fascina é a tinta, as diferentes cores e seu efeito nas pessoas. -\-
-I--,-
ro. Acho que somos um pouco cautelosos com relação a este tópico
porque ele nos toca muito p~ofundamente como analistas. Não só o
paciente, mas também nós projetamos nossa alma específica no
dinheiro sem face.

.t
-\-.
Se você ViVê em Zurique, é quase impossível não perceber que
força e poder são projetados no dinheiro. Os estrangeiros falam dos el- Como com todas as coisas da alma, muita mentira ocorre entre
'gnomos de Zurique'. Eles imaginam os banqueiros de Zurique paciente e analista no que diz respeito a dinheiro. Alguns pacientes

.'C'· I
como manipuladores todo-poderosos que controlam as altas e bai- reclamam da privação que passam pelos honorários, apesar de na
xas da economia do mundo inteiro. Houve até um ministro inglês o I. . verdade serem abastados, enquanto outros pagam tão alegremente
que culpou os gnomos surços pela queda da libra! No entanto esses I que depois o analista se surpreende em saber que o honorário re-
banqueiros suíços são tão incapazes de entender ou manipular o I; presenta um grande sacrifício. Apesar de nossa expectativa de que
mercado financeiro quanto nós analistas às vezes somos diante de \
c, . • ;: o paciente seja honesto em tudo - incluindo assuntos financeiros -
um paciente altamente psicótico. c t • .~ nós analistas freqüentemente nos recusamos a responder perguntas
~ , . I à queima-roupa sobre nossa renda, ou mentimos.
O dinheiro é um tremendo portador de projeção. Porque o dinhei-
ro é tão sem rosto, tão neutro, tendemos a fazer projeções sobre ele
I
t i- Sobre dinheiro nos relacionamentos: o toma-Iá-dá-cá de dinheiro
mais facilmente. Mas porque é tão importante, temos grande dificul-
dade em saber onde as projeções iniciam e onde o dinheiro de fato
..e ,. é, projetivamente, experimentado repetidamente como a perda ou
ganho de alma. O dinheiro freqüentemente causa problemas entre
começa. Quase tudo pode ser projetado no dinheiro: poder, segu-
rança, sexualidade e, de uma maneira bizarra, até a realidade. Al-
"Co I-
lO
os pais e sua prole. Um homem de trinta anos passava suas férias
regularmente com a esposa e filhos na casa de seus pais, aceitando
gumas pessoas pensam que o dinheiro é a realidade, a coisa real. C, I - a hospitalidade de seus pais sem dúvidas. Mas quando seu pai ofe-
receu ajuda financeira para que o filho pudesse comprar a casa que
Nós levamos muito a seno a transferência e a contra-
transferência em análise, e o fazemos com razão. O paciente se
'':' I-
1-
queria, o filho recusou. Como resultado ele não pode comprar a
casa. O filho temia perder sua independência ou, na verdade, 'per-
revela pelo que projeta no analista e vice-versa. Nessas projeções c. j - der sua alma' ao aceitar o dinheiro. Independência financeira fre-
mútuas a alma aparece. Os freudianos dizem - ou diziam - que o
' \, ~.
qüentemente significa independência psicológica. A relação com o
(;;..
dinheiro é experimentada como reiação com a alrY'la.
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79
C.I Lo.
1 eb...·
Muito pode ser visto em nossa relação com o dinheiro: nosso tipo
de cobiça e generosidade, o modo como amamos e odiamos, () que .tAl nos individualizamos através deles. O objetivo da análise não é o de
tememos e o que esperamos alcançar na vida. Psico patologistas e~1 impedir alguém de se apaixonar, mas o de amar mais apaixonada-
mente com alguma reflexão. O objetivo é o de viver nossas proje-
sabem que a depressão psicótica freqüentemente tem uma ligação I e Ut ções, nos agarrarmos a elas, percebendo que são projeções, que
com dinheiro. Um homem muito rico que se torna depressiva,mente
psicótico pensa que logo vai morrer de fome porque seu dinheiro
. lA muitos de nossos atas são apenas rituais simbólicos.
não vai du rar. Isto obviamente é um extremo . Mais interessantes e I.
I. Será que devemos, ao abordar as projeções sobre dinheiro, ten-

.1
e\-.
mais importantes em nossas práticas diárias são as projeçães sutis
que todos te mos sobre o dinheiro. tar eliminá-Ias, retirá-Ias, ou será que devemos até mesmo estimulá-
I
las?
E quanto a: "O dinheiro é a raiz de todo mal"?
.1,.-
.1 .
A resposta é óbvia: certamente não devemos eliminar e destruir

.1 .
as projeções da alma que nós temos e nossos pacientes têm sobre
Para muitas pessoas o dinheiro é mal, repugnante e destrutivo.
.• !. 1-
o dinheiro. Nós devemos até mesmo estimulá-Ias se o paciente não

.t. l
Pessoas ricas são más. O dinheiro corrompe. Todos vocês conhe-
cem o provérbio do Novo Testamento: "É mais fácil um camelo pas- estiver disposto a fazê-Io. As projeçães da alma sobre o dinheiro

.1.
sar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos r têm vantagens sobre outras projeçées. O que experimentamos
Céus". O cristianismo sempre julgou o dinheiro como algo essenci- através do dinheiro, o que projetamos sobre o dinheiro é muito cla-
almente maligno.

O mesmo é verdade com relação à sexualidade. O cristianismo .1.. ~~mente uma projeção, um fato sabido e profundamente gravado na
psique coletiva. As projeções da alma sobre o dinheiro são mais
I fáceis de se reconhecer - muito mais fáceis que as projeçães da
tem todas as razões para considerar o dinheiro e a sexualidade fu-
nestos porque sexualidade e dinheiro são os dois grandes portado-
res de projeção da alma. Como eu disse: a maioria de nós projeta a
alma nessas duas coisas, ou ao menos em uma delas. Desse modo
a sexualidade e o dinheiro competem com a religião. O cristianismo
pede que você projete sua alma e seu desenvolvimento, sua indivi-
.\
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..1. \. ;
~
~
~ alma nos relacionamentos ou na arte. De algum modo é desejável
i que projetemos nossa alma no dinl1eiro.
Em uma variante um tanto deturpada do provérbio bíblico sobre o
homem rico, eu diria que um homem ou uma mulher que pode pro-
jetar sua alma no dinheiro tem uma chance tão' boa quanto qualquer

.,.
duação, em Jesus Cristo. Projeções mundanas de nossa alma nos ,~ outra pessoa de ir para O céu.
desviam do objetivo cristão da salvação de nossa alma através de .- ,I . I.
ti.
Jesus Cristo. Na medida em que a sexualidade e o dinheiro depre- .. I ~
'~
ciam a salvação através de Jesus Cristo, eles são maléficos. ,
1. 1. '
O objetivo da análise - como uma cura ou como uma maneira de
individuação, como um encontro da alma - não deve ser o de retirar
todas as nossas projeç6es, mas o de nos tornarmos conscientes
delas e as vivermos intensamente. Nossas próprias vidas - nossa
individuação - consiste em projetar nossas almas na sexualidade, no
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dinheiro, em nosso parceiro, nossos filhos, nossos empregos, etc., e

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