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Coleçlo AMOR E PSIQUE Contos de fadas e hlstMIH mltolõgkas

O feminino
• A ansiedade e formas de 1/darcom ala nos contoJ
de (odas. V. K�51;
HAYAOKAWAI
• Aborro - perda e ffnovaç/Jo, E. Pattls • A lnd/vfduaçoo nos conros de fado, M.-L von
• As deutas e a mulher, J. S. Bolen Franz
• A femlni//dadl! consc/enrt - entrevisros com • A /nforpretaçilo dos conlOS de fada, M.-1.. von
Mar/on Woodman, M. Woodman Franz
• Ajôia11aferida, R.E.Rothenbcrg • A psique Japonesa: grand,s remas e contos de
• A mulhtr moderna ,m t:,usca da a/mo: Guia fadot Japoneses, H. !<awai
/1.mgulono cio mundo visfvtl e do mundo fnvlstvel, • A sombra e o mal r,os cantos de fado, M.•L, von
J.Slnger Fr�nz
• A prost/ruta sagrada, N, Q. corbett • Mitos de criaçllo, M.•L. von Franz
• A virgem grávida, M. Woodman • Mltologemas: encarnações do mundo lnvlsfvel,
• caminho poro a lnlclaçilo feminina, S. B. Pereira J.Hollls
• Destino, amor o i)(tase. J. A. Sanford • D Goro, M.•L. YOl'I Franz
· o medo dofeminino , e. Neum3nn • O que conto o ,ontol, J. BoMventure
• Os mlstblos da mulher, Esther H�rcllng • O signmcado orquerfplco da G/lgamesh, R. S.
• Variações sobre o tema mulher. J. Boneventurl! !<luger
O masculino
• CurQnda a alma mascu//nQ, G.Jackson
• Hermes e seUf filhos, R. l.·Plldraza
Opuar
• Uvro do puer. J. Hlllman
• Puer acrernus,M.-L. von F111n1
A PSIQUE JAPONESA
• No meio da vida: Uma perspec:r/va Jungu/ana, Relacionamentos
M.Steln
• Os deuses e o homem, J, S. 8olen
·

Amar, rro/r, A. Carotenuto
Eros e pilotos, A. C�rotenuto
Grandes temas dos contos
• Opa/ e a psiqut.AP.Lima filho
• Sob a sombra de Sarurno, J. Hol!ls


Incesto e amor humono. R. Steln
Nôo sou mais a mulhtrcom quem vocé se casou, de fadas japoneses
P,lcolog!a e relígllio A.B.Fllent
• No caminho pera as nlipc/as, L. S. Lconarcl
• A alma c:elet:,ra:Preparaçt!o para a nova rellglilo, • Os parceiros lnvls/vels:O masculino e o ftmlnlno,
1..W.Jaffo J. A. Sanford
• A doença quasomos nós, J. P. Dourley
• Ajomada da alma.J.A.Sanford Sombr11
• Deus, sonhos e revdaçôo, M. Kelscy • Mal, o /ado soml.>rfo da real/dade, J, A. S3nford
Nesta Jornada que chamamos vida, J. Holllls • Os pantar,als da o/ma, J. Hollls
Rameando as deuses, J. Hol!ls • ('slcolog/a profunda e nova ttica, �- Neurn�nn
• Uma busca interior em psica/ogla e rt/Jg//Jo, J,
Outro,
Hlllman
• Alimento e transformaçlJo, G. Jnckson
Sonhos • Ansiedade c1,1/rural, R. L-Pedrar.i
• Aprendendo com os sonhos. M. R. Gallbach • A Wapla do Jogo de areia: Imagens qu� c1,1ram
• Breve curso sobre os sonhos, fl. BosMk a a/mo e desenvolvem a personalidade, R. Am­
• O mundo sf!CfllCO dos desenhos: Uma abordagem mann
Junguiano da cura pela cme, G.M. Furth • Co!'lhec.éndo a si me,mo, D. Sharp
• Os sonhos e o cura da d/ma, J. A. Sanford • Con1cl,nda solar, conscilncld lunar. M. Steln
• Sonhos e rirut1/ de cura, C. A. Meler Olonfs/o no exilló: Sobre o repressao da emoçllo
• Son/Jos e gravidez, M. R. Gallb�c.h e da corpo, R.L.-Pedrua
• Med/taçôr1sobreos22arconos molorUd() tarô,
Envelh11cimtnto anõnlrno
• A passagim tio melo, J. Hollls No espelho de Psique. E.Neumann
• A sol/dilo, A. Storr O abuso do poder no psicoterapia e na medicina.
• A velha sábia, R. Weaver serviço s«Msamdóda e mogistér/c, A.G.-Cralg
• Despmando na melo-Idade. K. A. !lrehony • O çamlnho da transformaçlJo, E. Pl!rrot

-7>
• Enve/h11cer, J, R. Preta? • O despertar dueu filho, C. de Truchls
• Mela-Idadail vida, A. Berm3nn • O ptojtto tden, J�mes Hollis
• Nomefo da vlda,M. Steln • Psicoterapia, M.•L. von Franz
• O velho sábio, P. Mlddelkoop • Pslqulatrlo Junguiima, H, K. Flcr:. /
PAULUS
Dado1 lntQrnacionals de Cat:;,logoç!o na Publl'-'ç�o (CIP)
(Glmara Bml!vlr,, do Livro, SP. Bmlll INTRODUÇÃO À COLEÇÃO
Kllwol,Hayao
A ps!Que japone1a1gr1ndo, temas dos ,ontoJ dt fodu japone1� I H•yoo Knwal;
AMOR E PSIQUE
(traduçào GÚ1tovo Gerhelm),-s.!o Paulo, Paulus, 2007,- (Coloç!o amor e p!IQUe)

Titulo otlglnlll:Tha Jap;m••• p,�he,


81bllografio.
ISSN 978-85-H9-274S•l

1. C.rncterl1Uca1 n�clonall Japone1a1


2. Contos de f�dn • JapAo · HlstOrl.l ç critica
3,Conto1 do todos· Japao • Cl;mlfie11çlio
4, Ll\lif!lturo folclórica JaPon 9$� • Temas, motivo
l,Tllulo, li. Titulo, Grnndes tema, dos contos de fadu Jopone,M, 111, Sêrle,

07-S!IS C00-398.201152
Indico! para catal()\jo 1l1\om4tlco:
1.Japao; Hlstórla1 folclóricas 398.20952
Na busca de sua alma e do sentido de sua vida, o
homem descobríu novos caminhos que o levam para a
Coleção AMOR E PSIQUE coordenada por sua interioridade; o seu próprio espaço interior torna-se
Dr. L@on Bonaventure e Dra. Maria Ele! Spaccaquerche
um lugar novo de experiência. Os viajantes destes cami­
Tltulo original nhos nos revelam que somente o amor é capaz de gerar
The Jc1panes@ Psyche
Major Motlfs ln the Fa/ry Tales ofJapan a alma, mas também o amor precisa de alma, Assim, em
e Spring Publlcatlon, lnc., 1997 lugar de buscar causas, explicações psicopatológicas às
ISBN 0·88214-368-9
nossas feridas e aos nossos sofrimentos, precisamos, em
Imagem da capa primeiro lugar, amar a nossa alma, assim como ela é.
Moon Maiden, d@ Warwick Goble Deste modo é que poderemos reconhecer que essas feri­
Tradução das e esses sofrimentos nasceram de uma falta de amor.
Gustavo Gerhelm Por outro lado, revelam-nos que a alma se orienta para
Editoração um centro pessoal e transpessoal, para a nossa unidade
PAULÚS e a realização de nossa totalidade. Assim a nossa própria
Impressão e acabamento vida carrega em si um sentido, o de restaurar a nossa
PAULUS unidade primeira..
Finalmente, não é o espiritual que aparece primeiro,
mas o psíquico e depois o espiritual. É a partir do olhar
do uno espiritual interior que a alma toma seu sentido,
o que significa que a psicologia pode de novo estender a
e PAULUS - 2007 mão para a teologia.
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 sao Paulo (Br<1sil) Esta perspectiva psicológica nova é fruto do esforço
Fax (11) S579-3627 • Tel. (11) 5084-3066
www.paulus.com.br • �dltorlal@paulus.com.br para libertar a alma da dominação da psicopatologia, do
ISBN 948-8S-349-2745-1 espírito analítico e do psicologismo, para que volte a si

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mesma, à sua própria originalidade. Ela nasceu de refle­
AGRADECIMENTOS
xões durante a prática psicoterápica, e está começando a
renovar o modelo e a finalidade da psicoterapia. É uma
nova visão do homem na sua existência cotidiana, do
seu tempo, e dentro de seu contexto cultU1·al, abrindo
dimensões diferentes de nossa existência para pode'rmos
reencontrar a nossa alma. Ela poderá alimentar todos
aqueles que são sensíveis à necessidade de inserir mais
alma em todas as atividades humanas.
A finalidade da presente coleção é precisamente res­
tituir a alma a si mesma e ''ver aparecer uma geração de Gostaria de demonstrar a minha profunda gratidão
sacerdotes capazes de entender novamente a linguagem pelas seguintes pessoas, sem as quais a tradução e pu­
da alma", como C. G. Jung o desejava. blicação da minha obra Mukashibanashi to Nihonjin no
Kokoro (Contos de Fadas e a Psique dos Japoneses) seria
Léon Boriaventure impossível.
A idéia deste projeto partiu inicialmente do Dr. James
Hillman, que fez todo o planejamento necessário. Embora
eu estivesse entusiasmado com essa proposta, não acre­
ditava que teria o tempo e o espaço necessários para me
devotar ao projeto. Compreendendo a núnha situação, a
Sra. Gilda von Franz, antiga presidente do Instituto C. G.
Jung de Los Angeles, criou as condições ideais para mim.
Ela programou uma série de palestras sobre os contos
de fadas japoneses no instituto no outono de 1984, o que
permitiu que eu me devotasse à tradução durante minha
estadia em Los Angeles. A Sra. Joyce Ashley> amiga da Sra.
Franz, foi muito gentil e deixou que eu me hospedasse
na sua casa maravilhosa enquanto ela estava em Nova
Iorque. O Dr. Marvin Spiegelman, meu antigo analista, o
Dr. Mokusen Miyuki, o Sr. Gerow Reece e sua esposa Sa­
chiko assistiram às minhas palestras e me estimularam a
pensar em inglês; isso se mostrou uma. ajuda inestimável
nos meus esforços tradutórios. Um agradecimento especial
vai para o Sr. Reece, que revisou o meu inglês frase por

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frase, e para a Sra. Reece, que traduziu os contos de fadas NOTA AO LEITOR
japoneses que constam do Apêndice. Também sou muito
grato à Srta. Mary Helen Sullivan, da Spring Publications,
por seus conhecimentos editoriais.
Gostaria de agradecer de coração a todas as pessoas
envolvidas, esperando sinceramente que esta obra sirva
para aumentar a compreensão entre os japoneses e os
povos do Ocidente.

Os tradutores e o editor gostariam de lembrar ao


leitor que os principais contos de fadas discutidos no liwo
estão impressos no Apêndice. Pode ser interessante ler
estes contos antes como uma forma de orientação.
É importante lembrar que o contexto determina se
uma palavra japonesa é singular ou plural. Assim, Yama­
uba e Oni - por exemplo - podem ser um ou outro. As
consoantes japonesas são pronunciadas como no inglês,
as vogais como no português (vogais "fechadas": ê, ô) por
exemplo saké (vinho de arroz) é 11sa-quê'', -hime (princesa)
é ''ri-mê".

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o lhando todos os quartos e viu que eles continham muitos conscientes. Se os conto s de fadas nos con
. tam so bre as
tesouros. N o sétimo quarto havia um ninho de passari� estruturas da re�dade, eles podem muit
o bem refletir as
nho c om três pequenos ovos. Ao pegar o ninh o, ele deixou estruturas da psique. Tomem "A casa do
rouxinol" como
que o s ovos caíssem no chão sem querer. Três pássaros exemplo: � mans_ão, a m�er, o quart
o proibido - são
surgiram dos ovos e saíram voando. Naquele momento, a todos .manifes ta_çoes de coisas que exist
profundas da psique. em em camadas
mulher voltou e culpou o lenhador por ter quebrado sua
promessa, causando a morte de suas três filhas. Trans­ A casa do rouxinol p ossu
i variantes que podem se
formando-se em um rouxinol, ela também saiu voando. encontradas em todas s partes do Ja r
� pão, como podemos
Quando o homem voltou a si, ele estava sozinho no mesmo ver em CCF�- sem considerar a qu
. estão dessas variantes
lugar onde antes encontrara a mansão, porém, a mansão terem se ongm ado de forma independente
não estava mais lá. di ssem·mado de uma fonte comum , ou t-erem se
, é interessante tentar
Vamos pensar um pouco sobre a estrutura dessa his­ encon:r ar um padrão comum
. Na tabela 1, que mostra
tória. A floresta, local onde a história acontece, era bem as v8:1 ante� encontradas em Seki,
podem os detectar um
failiar
m
ao nosso herói, mas ele encontrou lá uma linda padr� o básico nas histórias 1 a
13: 1) o herói encontra
mansão que não conhecia. Às vezes, SOJilOS sur_p_re�ndi­ uma JOve� m� r; 2) ele entra
� em um quarto em que
dos pela desco berta de coiâãsnovas em uma r�alidade ela o havia pro1b1do de entrar·
. , 3) a mulher vai. embora
que acreditávamos ser completamente familiar para ressentida; e 4) o herói fica so
. zinho, encontrando-se na
nós. Uma cen a comum e corriqueira pode, de repente, � esm� situação do começo da história (entre
p arecer brilhante ou então assemelhar-se a um abismo. históna 10 o homem fica velh tanto, na
o). As histórias 14 a 18 po
Uma mulher linda pode aparecer feia ou até mesmo virar Sue algumas variações difere s-
� ntes.
uma bruxa . A realidade consiste em infinitas camadas. padrão no qual um h ome
normal num espaço cotidian m que vive uma vida
Somente no dia-a-dia é que a realidade aparece como o encontra uma linda m
uma unidade com uma única camada que nunca irá nos de um espaço não-cotidia Ih
no oc orre com freqüênci:
ameaçar. No entanto , camadas profundas podem surgir contos de fadas e nas lenda n:;
s do mundo m' te'll'O. pod
na superfície bem diante de nossos olhos. Os contos de m
· terpr�. t� as estruturas do espaç em os
o cotidiano e do es
fadas nos dizem muito a esse respeito: a mansão que � ão -co tid i�o como estruturas da pa ço
1e te na psi ue.A
consciência e do incons­
apareceu de repente e a linda mulher que m orava lá são � � q ssim, pode-se dizer que no
b ons exemplo s deste tipo de experiênci a . Os heróis dos o ornem enste uma mulh inconsciente
er especial e que um enco
com ela é um ev nto alt nt
contos de fadas muitas vezes deparam com existências � amente universal. A existê ro
curiosas ao se perderem do seu caminho ou quando são de tal pa�ã nc ia
� �versa! d�monstra, como o bservou C.
abandonados por seus pais. ª
fung, e:,ostenc�a de um mconsciente coletivo
na psique
G.
A variedade de formas da realidade corresp onde um�a . To davia, esse pa
drão possui peculiaridad
à variedade de formas da consciência humana, ou - se própnas da cultura onde es
é revelado. Ao mesmo tem
usarmos as idéias da psico logia analítica - corresponde que os co tos de fadas possu po em
eles manif � em uma natureza universa
à psique humana com suas camadas conscientes e in- estam características ligad l
as à cultura de ond�
18
19
114 5. Duas figuras femininas
115 Urashima Taro
119 Mãe e filho
124 Tartaruga e Princesa Tartaruga
131 Otohime-garota eterna
134 Mundo interno e mundo externo
139 6. Mulheres não-humanas
139 Esposa garça
144 Esposa não-humana
153 Hist.órias de casamentos humanos/não-hwnanos
no mundo
157 Homem e natureza
163 7. A mulher resistente
164 A donzela sem mãos
170 A donzela sem mãos no Oriente e no Ocidente
176 Casamentos felizes
184 8. O velho e a bela
186 Hyõtoku
191 Consciência Sene:x:.
197 Constelação pai-filha
203 A tríade do fundo do mar
210 O quarto elemento
217 9. As mulheres determinadas
217 O carvoeiro Chõjya .
224 Consciência feminina
230 O casamento sagrado
235 Totalidade
241 APÊNDICE
275 BIBLIOGRAFIA

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