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No Batuque

Tradição X Zona de conforto

Bom antes de adentrarmos ao tema devemos levar em conta o que é tradição, o que configura
uma tradição religiosa e como identificamos no Batuque os diversos níveis de tradições
encontradas. Devemos também lembrar que o Batuque enquanto religião, por tanto tradição
religiosa por mais que cada tradição coloque esse ou aquele como fundador devemos
observar que temos uma espinha dorsal comum uma estrutura que é comum a todo batuque e
essa não seria possível se tivéssemos vários fundadores com cultos já formatados em seu
princípio. O que tínhamos então eram pessoas que eram adeptas do culto de uma ou
divindades e que essas pessoas interagiram entre si e trocaram feituras até chegarmos a uma
estrutura que foi chamada de Batuque, a principio de forma pejorativa como é descrito nos
periódicos da época até ser absorvida por nossos ancestrais em um tempo onde éramos ainda
quem sabe todos nagôs!!

Tradição significado

substantivo feminino

1) ato ou efeito de transmitir ou entregar; transferência.


2) comunicação oral de fatos, lendas, ritos, usos, costumes etc. de geração para geração.
3) herança cultural, legado de crenças, técnicas etc. de uma geração para outra.
conjunto dos valores morais, espirituais etc., transmitidos de geração em geração.
4) transmissão de uma notícia ou de um fato.
5) em certas religiões, conjunto de doutrinas essenciais ou dogmas não explicitamente
consignados nos escritos sagrados, mas que, reconhecidos e aceitos por sua ortodoxia e
autoridade, são, por vezes, usados na interpretação dos mesmos.
6) aquilo que ocorre ao espírito como resultado de experiências já vividas; recordação,
memória, eco.
7) tudo o que se pratica por hábito ou costume adquirido. uso, costume.

Origem
⊙ ETIM lat. traditĭo, ōnis 'ação de dar; entrega; transmissão, tradição, ensino'

Fonte: https://languages.oup.com/google-dictionary-pt/
Dentro da nossa religião quando vamos identificar as tradições ou o que é tradicional devemos
montar um gráfico onde no eixo vertical olhamos para o passado da linha pai, avo, bisavô,
trisavô etc. e na horizontal olhamos os contemporâneos da linha irmão, primo, tio etc.
somente assim poderemos identificar quanto tal ato passou a ser tratado como tradição, e
também podemos identificar em que grupo essa tradição está inserida.

Comum ao Batuque: Nesse grupo encontramos tudo que é comum a todas as tradições do
Batuque(lados) tudo que é praticado da mesma forma por todos que se consideram
integrantes do Batuque.

Comum a Tradição (Lado): Nesse grupo encontramos os ritos comuns a cada tradição que
não são praticados por outras tradições que deram origem em um ponto da linha do tempo as
ramificações principais do Batuque.

Comum a família: Nesse grupo encontramos caímos em mais um nível de especificidade


que ocorre dentro de uma tradição(lado) onde vemos indivíduos praticantes do mesmo culto
tendo peculiaridades diferentes um exemplo o uso de agdavi dentro de Jeje, a sequência
diferente da roda dentro do Oyo Igbomina e Bagan etc.

Comum ao Sacerdote: Inicio de todas as ramificações, e principal responsável por inserção


de elementos novos ao Batuque, sempre que montarmos um gráfico encontraremos o
sacerdote x responsável por inserir em maior o menor numero rituais ou usos em sua liturgia
que com o passar do tempo passa a ser comum a família, e com isso ramificando ainda mais
as tradições que em si só já são ramificações.

Se o olharmos e partimos da tradição mais nova que possuímos a kabinda que possui o
fundador reconhecido por todos os integrantes, nela mesma encontraremos já ramificações, se
olharmos veremos que mesmo oriundos de um mesmo fundador hoje encontramos famílias
que praticam rituais diferentes que divergem no assuntos desde as divindades cultuadas um
exemplo é o caso das Oyas, até a forma como é assentado o Kamuka que para alguns nem
existe assentamento. Quem está certo quem está errado não cabe a mim dizer mas se todos
partimos de uma mesma origem e fomos nos ramificando se olharmos para traz vamos
encontrar o ponto ancestral que nos une que nos torna todos nagôs como era dito nos discos
do Abelardo “O Nagô do Rio Grande do Sul”.

Temos vários pontos registrados como a entrada do Lode que se difundiu em todas as
tradições, talvez o Igbomina seja a única vertente que não tenha esse assentamento como
guardião do templo, onde quem faz essa guarda é Xangô, o Xangô do povo, talvez origem do
Kamuka já que é narrado que Waldemar ganhou esse assentamento de Antoninho da Oxum,
seu feitor originário do Oyo. Talvez do Oyo também venha o fato de Xangô reinar em todos
os lados, e nos toques muitos ritos serem feitos dentro de suas orins, desde o início até o
término de uma obrigação Xangô tem local de destaque.
Encontramos também fatos isolados que deram origem a ritos que com o passar do tempo
viraram tradição como a sacralização do boi. É narrado de uma Yalorixá ao fazer 50 anos de
vasilha ia tocar um Batuque muito grande em comemoração da data como tinha muitos
convidados, estava com receio de que a comida não fosse suficiente para todos que viriam ao
batuque, um cliente então lhe deu um boi para que esse service de reforço nas guarnições da
festa. Ela a Yalorixá foi para o jogo para saber como deveria proceder para sacralizar tal
animal que até então nunca tinha sido sacralizado. A partir de então se criou o axé do boi que
só era feito para sacerdote com 50 anos de vasilha, mas nas últimas décadas passou a ser
banalizado tendo até quem faça assentamentos de orixás somente com esse axé.

Poderia continuar a falar de outros fatos inseridos que viraram tradição para alguns hoje até o
sincretismos é considerado por muitos tradição entre outras coisas que muitos sacerdotes
praticam e quando questionados respondem “meu pai fazia eu faço não posso quebrara
tradição!!” geralmente só sobem um degrau usando a bandeira do pai de santo ignorando a
ancestralidade para além dele tanto em profundidade(vertical) quanto em
lateralidade(horizontal) pois se nos alongarmos mais nesse caminho chegaremos a matriz a
fonte e lá a tradição é a família de Orixá, a família de Ogun, a família de Xangô e por ai vai,
mas para não me alongar muito vamos em frente, ao pesquisar sobre o Oyo me deparei com o
seguinte fato, a Icônica Emília de Oya Ladja fundadora do Oyo Igbomina no Rio Grande,
encontrei em um trabalho de defesa de tese que cita ela como fundadora também do Nagô em
Vacarias, quando essas morou na região e em sua chegada em porto alegre tem um registro se
não me engano do Xangô Sol que narra ela como fundadora do Oyo Bagan. Trouxe esse
exemplo de Mãe Emília pois aqui podemos analisar o fato de vários pontos de vistas
diferentes dada a caminhada dessa Yalorixá, os iniciados por ela se isolados em suas cidades
sem receberem informações, vão dar sequencia em suas vidas religiosas e a partir da segunda
ou terceira geração se pegarmos um integrante da cada tradição e colocarmos os mesmos em
uma mesa todos terão uma origem em comum mas rituais diferentes e questionaram uns aos
outros se eles seguem mesmo o ritual da fundadora em comum. Isso vale para todas as
tradições em vista que a religião é uma coisa dinâmica e não estática o sacerdote quando do
início de sua vida religiosa evolui e aprender e poderemos ver dentro de uma mesma família
irmão praticando rituais com diferenças uns para os outros.

Ainda dentro do Batuque não é pequeno o número de sacerdote que optaram por praticar
outros cultos de matriz africana sem abdicar do Batuque passando assim a praticar um culto
híbrido, ou consorciado que muitas vezes ferem os tabus de ambas as religiões. Isso é muito
diferente de como vemos muito no Sul casas que praticam a Umbanda e/ou Quimbanda,
temos que lembra que essa Quimbanda na maioria das casa trata das entidades de esquerda da
Umbanda e não do culto banto. Sendo o Batuque um culto de Matriz Ioruba

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