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Pragmatismo e

Sociologia pragmática
Luiz Fernando Nieuwenhoff Schefer
Disciplina de Epistemologia da Administração (2020.2)
Profa. Carolina Andion
ANÁLISE DE ARTIGO

No limite da razão: o deliberar e a phrónesis no trabalho prisional

Déris Oliveira Caitano


Maurício Serva
NÚCLEO DE PESQUISA EM
ORGANIZAÇÕES, RACIONALIDADE
E DESENVOLVIMENTO - ORD

https://redeord.org/

https://revistacienciaemdebate.org/
Maurício Serva é professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), membro da Pragmata:
Association d?Études Pragmatistes (França), e do CIRIEC International (Bélgica). Finalizou a graduação em
administração de empresas pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia em 1978, concluiu
o mestrado em administração de empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP-
FGV) em 1991, e o doutorado em administração de empresas nesta mesma escola em 1996. Realizou seu
primeiro pós-doutorado em Gestão e Autonomia Social na École des Hautes Études Commerciales de Montréal
de 1996 a 1998, onde lecionou a disciplina Sociologia da Empresa no curso de graduação em administração.
Realizou seu segundo pós-doutorado, desenvolvendo uma análise comparativa do campo científico da
administração no Brasil e na Espanha com base na sociologia da ciência, na Universidad de Valencia de
agosto/2015 a agosto/2016, com bolsa da CAPES. Seu projeto de pesquisa atual está sendo desenvolvido na
UFSC e tem como título Análise Pragmatista de Organizações. Trabalhou como administrador na
Secretaria de Segurança Pública da Bahia (O&M), na Esso Petróleo (marketing), na Cia. de Engenharia Rural
da Bahia (O&M), na Cimento Aratu S.A. (finanças), e na Caraíba Metais S.A. (finanças). É professor
universitário desde 1979, quando iniciou sua carreira na Universidade Estadual de Feira de Santana. Em 1993,
fundou na UFBA a Revista Organizações & Sociedade, sendo então o seu primeiro editor. Fundou em 2002 e
presidiu até 2012 a seção brasileira do CIRIEC - Centre International de Recherche et dInformation sur
lÉconomie Publique, Sociale et Coopérative. Na UFSC, coordenou de 2009 a 2011 o Programa de Pós-
Graduação em Administração, fundou e coordena o Núcleo de Pesquisa em Organizações, Racionalidade e
Desenvolvimento, além de líder de grupo de pesquisa no CNPq com esta mesma denominação. Criou na UFSC
em 2011 e coordena até o presente o Colóquio Internacional de Epistemologia e Sociologia da Ciência da
Administração. Em 2013, fundou a Revista Ciências em Debate e é o seu editor. Publicou em livros e revistas
científicas de diversos países tais como Brasil, Canadá, Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, Argentina,
Bélgica e Venezuela um total de 52 artigos, 10 capítulos de livros e 40 trabalhos em anais de eventos
científicos nacionais e internacionais. Orientou vinte e uma dissertações de mestrado, nove teses de
doutorado e duas pesquisas de pós-doutorado na área de Administração. Recebeu um prêmio do
International Council of Canadian Studies com uma bolsa de pesquisa no Canadá em 2000. Recebeu do
Conselho Federal de Administração o Prêmio Guerreiro Ramos de Gestão Pública, edição 2014, modalidade
Pesquisador, em parceria com Fabiana Besen. Atua na área de Administração, com ênfase em Teoria das
Organizações, Racionalidade nas Organizações, Epistemologia e Sociologia da Ciência da
Administração, Desenvolvimento Territorial, Governança Ambiental, Pragmatismo e Organizações,
Déris Oliveira Caitano é Doutora em Administração pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), Mestre e Bacharel em Administração pela UFSC.
Pesquisadora associada do Núcleo de Pesquisas Organizações Racionalidade e
Desenvolvimento (ORD/UFSC). Desde 2009 é Técnica Fomento Mercantil da
Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina (BADESC). Atualmente é
docente nos cursos de graduação e Pós graduação de Processos Gerenciais e Gestão
de Pessoas na Faculdade Senac (Palhoça). Professora conteudista dos cursos de Pós
Graduação em Gestão de Pessoas do Centro Universitário Leonardo da Vinci
(Uniasselvi). Possui experiência como docente nas disciplinas de: Fundamentos de
Marketing, Plano de Marketing, Pesquisa mercadológica, Teoria Geral da
Administração, Recrutamento & Seleção de Pessoas, Aprendizagem Organizacional,
Gestão do Capital Intelectual e Organizações aprendentes.
Em Aristóteles (1991, p. 145), especificamente, a phronesis é descrita como uma capacidade superior
à racionalidade: “A sabedoria prática deve, pois, ser uma capacidade verdadeira e raciocinada de agir
com respeito aos bens humanos [...] Sem embargo, ela é mais que uma simples disposição racional:
mostra o fato de que tais disposições podem ser esquecidas, mas a sabedoria prática, não”.

A noção de phrónesis ilumina o entendimento das práticas de gestão das organizações confinadas e
subjugadas pelos limites da racionalidade instrumental (CLEGG, 2003, 2006; AUBENQUE, 2008).

No limite da razão: o
deliberar e a phrónesis no
trabalho prisional As teorias da administração, caracterizadas pela busca incessante da prescrição, da normatização e da
previsão, não estão devidamente preparadas para abarcar o universo de fenômenos relacionados aos
sujeitos e às incertezas do contingente relativo às organizações (FLYVBJERG, 2001, 2006).
Déris Oliveira Caitano
Maurício Serva As evidências aqui identificadas nos levam a crer que, se desejamos ampliar o conhecimento da
racionalidade na gestão, notadamente no limite complexo e altamente sensível onde o sujeito pode
tomar suas decisões de modo racional, nossos esforços devem concentrar-se na análise da ação
(FLYVBJERG, 2006; CLEGG, 2006).

Limite da razão: ainda que o sujeito pondere acerca de uma lógica racional instrumental ou
substantiva, é no campo da ação que esses aspectos podem ser compreendidos, propiciando
contribuições efetivas ao avanço da administração como ciência social aplicada.
ANÁLISE Fundadores pragmatismo americano – final do século XIX e
início século XX: Pierce; Dewey e Willian James.
-Importância da experimentação: Experiência é o homem
EPISTEMOLÓGICA vivendo
-Centralidade da experiência como meio de fazer face aos
- RESGATE DO dualismo da metafísica e existência; ao dualismo sujeito x
objeto; mundo material x mundo das práticas.
PRAGMATISMO
CLÁSSICO
Final dos anos 1980 – ‘Virada pragmática’
Distintas abordagens como a economia das convenções (Livet e Thévenot,
PRAGMATISMO E 1994), a sociologia da capacidade crítica (Boltanski e Thévenot, 2006), a
teoria ator-rede (Latour, 2012) e a sociologia dos problemas públicos

SOCIOLOGIA (Chateauraynaud, 2011 ; Cefai e Terzi, 2012, Cefai, 2014 ; Quéré e Terzi,
2015); Temos ainda Cohen (2013), Frega (2016), Quéré e a teoria da ação
situada (1997); Revel(1998); Ansell.
PRAGMÁTICA -
DISTINTAS o pragmatismo e a sociologia pragmática contemporânea têm em
comum o fato de valorizar a experiência das pessoas e dos grupos

ABORDAGENS - como centrais na pesquisa.

“Nem racionalista, nem relativista, o ponto de vista pragmático


PRAGMATISMOS confere um verdadeiro estatuto epistêmico às experiências e aos
diferentes procedimentos utilizados para ligá-las aos processos
coletivos” (CHATEAURAYNAUD, 2017, p.1).
A primeira versão da máxima, elaborada por Charles Sanders
Peirce, foi publicada em 1876 no livro “Como tornar nossas ideias
mais claras”, mas a segunda versão (mais bem acabada) foi
publicada em 1883, em “Lógica”:

“A significação intelectual das


MÁXIMA ideias está inteiramente
PRAGMATISTA contida nas conclusões que
podem delas ser tiradas e em
última instância nos efeitos que
elas tem sobre nossa conduta”.
COMETTI, Jean-Pierre. Qu’est-ce que le pragmatisme?
Gallimard, Paris: 2010,
Critica a essa dualidade – não é possível só ter ênfase no
objeto OU só ênfase no sujeito;
Questionamento da separação entre sujeito e objeto;
QUESTIONAMENTO Existência de choque de racionalidades no contexto de um
DUALIDADE mundo contingente;
RACIONALISMO X
EMPIRISMO Reflexão para além da unilateralidade da ação racional
instrumental dos agentes do sistema prisional;
• o pragmatismo retira a abordagem da racionalidade do risco de
recair nas abstrações transcendentais

• a possibilidade tanto do conhecimento empírico de Bacon,


quanto o conhecimento racional de Descartes.

QUESTIONAMENTO
CRITICISMO
• Questionamento do cálculo racional.
• Não é possível só observar aquilo que é passível de ser
avaliado.
• Importância dos valores – valores se apresentam nas
consequências.

• Relato de uma série de microdinâmicas encobertas sob a


QUESTIONAMENO perspectiva da gestão.
POSITIVISMO E
FUNCIONALISMO • o agente delibera a partir de sua percepção prática do fato, de
modo calculado e no momento adequado, sobre um fato
contingencial. Portanto, o deliberar dessa ação não está
pautado no conhecimento científico ou, ainda, burocrático que
advém das regras, das instruções e dos procedimentos, mas a
partir da phrónesis (FLYVBJERG, 2006; AUBENQUE; 2008).

• As teorias da administração, caracterizadas pela busca


incessante da prescrição, da normatização e da previsão, não
estão devidamente preparadas para abarcar o universo de
fenômenos relacionados aos sujeitos e às incertezas do
contingente relativo às organizações (FLYVBJERG, 2001, 2006).
phrónesis é utilizada como conceito para explicar a forma como
os agentes elaboram suas justificações diante das
controvérsias.

Situações de homicídios e tentativas de homicídios;


emergências médicas; formação de grupos criminosos;
CONVERSANDO “regalias”.
COM A DIALÉTICA E
Não é só a cooperação e o consenso q fazem o social e a
O PARADIGMA democracia, mas a disputa, o conflito e o dissenso.
CRÍTICO Análise das contradições. Importância das transições,
profundidades. Olhar a realidade em movimento. O
indeterminado. A síntese não é o oposto. Contem os opostos.
Realidade como processo.

A situação de pesquisa pode ser entendida como uma dinâmica


de definição e resolução de uma situação problemática (Dewey,
1938). É constituído a partir de uma confusão que desperta
curiosidade. É motivado pela capacidade de imaginar.
PARADIGMA POSITIVISTA PRAGMATISMO

Realidade tem substância e ao mesmo tempo subjetividade.


Possibilidade dos diversos "modos de existir" e de "seres" que
Realista = verdades objetivas,
constituem o social: material, imaterial, imaginária, abstrata,
ONTOLOGIA independentes da percepção
contraditória, etc. O lema é "deixar ser“
humana. Sujeito e objeto afastados.
Relação sujeito-objeto: Interação. Ênfase nas situações reais.

Objetivista = somente fenômenos


Religar, refazer as associações entre as diferentes escalas do real com
observáveis e mensuráveis podem
ênfase na experiência. O pragmatismo delega os critérios do que é
EPISTEMOLOGIA constituir conhecimentos realmente
pertinente, justo, real verdadeiro aos atores e actantes (Latour, 2012)
válido, objetivos, que possam se
postos à prova. Acredita em fatos.

Métodos de pesquisa estruturados,


Abdutivo - importância de acessar a experiência para acessar as
instrumental objetivo que deve
múltiplas faces do fenômeno. Combinação de métodos e interação
atender a critérios claros de
contínua entre teorização e empiria, entre justificação e
confiabilidade e de validade. Os
MÉTODO experimentação.
positivistas têm a tendência a utilizar
Observação das práticas na organização; entrevistas e profundidade e
métodos como experimentos,
análise documental.
levantamentos e estudos de campo.
Experimentar – processo de interação - valorizando a dimensão autorreflexiva de
experiências e ações. Crítica a partir dessas experiências.

Aceitar a pluralidade de racionalidades

EU NISSO TUDO?
NÓS NISSO Preocupar-se com a contexto e as situações (Queré, 1997) e análise das situações de gestão
(Girin, 1996, 2011)

TUDO? O QUE Conectar o micro (reflexão sobre a experiência vivenciada especificamente pelos agentes),
meso (observação e análise das ações na organização) e o macro (análise dos momentos
APRENDEMOS críticos do Contexto)

COM OS Agente prisional como protagonista. Os entrevistados têm o direito e o poder de se


transformar em pesquisadores (Cefaï, 2010b: 592)

PRAGMATISMOS Agente prisional com um saber próprio inerente à experiência dessa categoria profissional.
Esse conhecimento indica evidências da phrónesis, um saber prático que advém da
experiência dos atores.

Observar um problema a partir das contradições e não do consenso. Importância das


justificações das ações (Boltanski e Thévenot, 2006)
Questão para debate Questionamento por Pedro Jaime (2019) ao refletir sobre a proposta
Círculo das Matrizes Epistêmicas de Matrizes epistêmicas de Paula (2015):
(Ana Paula, 2015)
“Se cada sistema de produção do conhecimento possui uma
responsabilidade axiológica, como concretizar a complementaridade
entre as matrizes epistêmicas quando uma delas, a empírico-analítica,
preconiza a neutralidade axiológica?”
CONVERSANDO
COM A DIALÉTICA E
O PARADIGMA
CRÍTICO (....) ainda que o sujeito pondere acerca de uma lógica racional
instrumental ou substantiva, é no campo da ação que esses aspectos
podem ser compreendidos, propiciando contribuições efetivas ao
avanço da administração como ciência social aplicada (CAITANO e
SERVA, 2020).
É conveniente acrescentar o pragmatismo às três matrizes
epistêmicas apresentadas como alternativas ao aprisionamento da
Questão para debate produção do conhecimento nos Estudos Organizacionais à guerra de
Círculo das Matrizes Epistêmicas paradigmas? Organizacionais à guerra de paradigmas?
(Ana Paula, 2015) Esclareço que, a meu juízo, tanto o pragmatismo como sistema
filosófico, quanto a sociologia pragmática como teoria social
contemporânea possuem fortes ligações com a matriz hermenêutica.

Porém, penso que há também diferenças entre a hermenêutica e o


CONVERSANDO pragmatismo.
COM A DIALÉTICA E
Mais do que disputar classificações, o que seria encaixar novamente
O PARADIGMA os autores em quadrados, o que Ana Paula acertadamente, a meu
CRÍTICO ver, busca superar, o que estou querendo sugerir é que talvez existam
continuidades e rupturas entre as matrizes hermenêutica e
pragmática. A título de pista reflexiva sugiro que se a primeira está
especialmente voltada para a forma como os indivíduos dão
sentidos ao mundo, a segunda está fortemente inclinada a investigar
como esses sentidos se desdobram em ações. Ou seja, interroga
como os indivíduos agem no mundo, estando consciente de que esse
agir está articulado à capacidade reflexiva do próprio indivíduo e a
novas significações e ações de outros com quem ele interage (Pedro
Jaime, Revista Ciência em debate, 2019).

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