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FACULDADE CÁSPER LÍBERO

PUBLICIDADE E PROPAGANDA

Fernando Costa Gauglitz

O NEGACIONISMO CIENTÍFICO BOLSONARISTA COMO FORMA DE


PROPAGANDA POLÍTICA

São Paulo
2021
SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO 4

2. O QUE É PROPAGANDA POLÍTICA E QUAIS SÃO SUAS VARIAÇÕES?


2.1 Propaganda política e suas variações 6
2.2 Campanha permanente no ambiente digital 10
2.3 A propaganda bolsonarista 13

3. O VÍRUS DO NEGACIONISMO
3.1 Origem do negacionismo científico 15
3.2 O negacionismo como política no Brasil 18
3.3 O propaganda negacionista 19

4. O YOUTUBE COMO FERRAMENTA DE PROPAGANDA POLÍITICA DO


BOLSONARISMO
4.1 O poder do YouTube como mídia social 23
4.2 YouTube como ambiente de campanha permanente 25

4.3 ANÁLISE DE DISCURSO NOS VÍDEOS DO CANAL OFICIAL DE JAIR


BOLSONARO NOS MESES DE MARÇO DE 2020 E 2021 27

4.3.1 Março de 2020 28


4.3.1.1 Vídeo 1 - Presidente Bolsonaro fala na saída do Alvorada (quarta-feira)
25/03/2020. 29
4.3.1.2 Vídeo 2 - Presidente Jair Bolsonaro é entrevistado por Datena. 31
4.3.1.3 Vídeo 3 - Mostre esse vídeo para aqueles que estão anestesiados pela
mídia, pelo politicamente correto... 35

4.3.2 Março de 2021 38


4.3.2.1 Vídeo 4 - Live de Quinta-feira - 18/03/2020 - Presidente Jair Bolsonaro
39
4.3.2.2 Vídeo 5 - Live de Quinta-feira -11/03/2021- Presidente Jair Bolsonaro
44
4.3.2.3 Vídeo 6 - Vacinas/FIOCRUZ. 48

5.CONCLUSÃO 52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 54
ANEXOS 59

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Jair Bolsonaro na saída do Palácio da Alvorada 29


FIGURA 2 – Entrevista de Bolsonaro para Datena 32
FIGURA 3 – Aglomeração de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro 34
FIGURA 4 – Apoiador de Bolsonaro defende fim do isolamento social 36
FIGURA 5 – Bolsonaro durante live em 18/03/2021 40
FIGURA 6 – Jair Bolsonaro realiza propaganda da cloroquina 42
FIGURA 7 – Bolsonaro durante live em 11/03/2021 45
FIGURA 8 – Divulgação das vacinas da FioCruz 48
FIGURA 9 – Primeira pessoa a ser vacinada no Brasil 50
4

1. INTRODUÇÃO

A pandemia do coronavírus impactou o mundo inteiro de alguma forma ao


longo de 2020 e se desdobrou durante 2021. Tal consenso sobre os efeitos da
COVID-19 não se fez presente no modo de determinados governos em lidar com
a questão. A narrativa feita para esse momento histórico vivido pela humanidade
foi feita de diversas formas. Uma delas se tornou bastante visível para os olhos
da sociedade brasileira, o negacionismo científico que teve o presidente Jair
Bolsonaro como um dos seus principais influenciadores. Duarte (2020) acredita
que o negacionismo científico se tornou ao longo da pandemia em uma espécie
de fenômeno social: “não apenas porque [ele] implica [na] difusão em massa de
teses controversas em relação a consensos científicos, mas também porque
essas teses provocam impactos diretos no comportamento de milhões de
pessoas.” (p.9).
Gerar alterações no comportamento social de uma parcela da sociedade
é algo que uma narrativa não consegue fazer sem uma boa promoção. Por isso
essa monografia desponta com a proposta de entender o papel da propaganda
política na difusão da narrativa negacionista bolsonarista na sociedade brasileira
durante o período pandêmico. Almeida (2003) tem a convicção de que: “A
propaganda sempre foi muito mais usada com função ideológica, ligada à igreja
e à política, com um discurso que evolui com agilidade e rapidez para
acompanhar as mentes e os desejos da sociedade.” (p.1).
Com o surgimento e consolidação do YouTube, a comunicação política
encontrou uma plataforma audiovisual bastante semelhante com a televisão para
lançar narrativas, com algumas diferenças colossais em seu modo de operar que
tornam o YouTube, em um campo aberto com muito mais liberdade para que um
vídeo com teorias negacionistas sobre a COVID-19 consiga atingir milhares de
pessoas em pouco tempo. Ao longo desse estudo, portanto, serão objeto de
pesquisa os três vídeos mais vistos do canal de Jair Bolsonaro ao longo de
março de 2020, o primeiro mês de pandemia no Brasil e março de 2021, mês
que marca um ano do começo das contaminações da COVID-19. Sendo feita
uma pesquisa qualitativa, com intuito exploratório sobre tal conteúdo.
5

Jair Bolsonaro é peça chave desta monografia, compreendendo que o


presidente brasileiro possa ter se utilizado do negacionismo científico para
instalar um clima de campanha permanente entre seu eleitorado, onde os
adversários basicamente eram as recomendações sanitárias impostas pela OMS
e políticos ou pessoas da sociedade civil que seguissem tais métodos. Iremos
tentar compreender como o mandatário brasileiro se utilizou dos conceitos de
propaganda permanente para se aproveitar do negacionismo científico como
uma espécie de “cortina”, na tentativa de defender seu governo das críticas
públicas que viriam ao longo do processo.
Mesmo diante de um momento que exigia unidade, o presidente entrou
em confronto ideológico com governadores estaduais, o que acarretou em sua
tentativa de criar uma polarização na discussão sobre como combater a
pandemia de COVID-19. Jair Bolsonaro além de tentar ganhar a narrativa pública
sobre o processo, também possivelmente instalou um clima de conflito
permanente na sociedade, separando adeptos do consenso científico contra
quem acreditava que tais recomendações sanitárias recomendadas pela OMS
eram ineficazes.
A visão negacionista sobre a pandemia de COVID-19 foi rapidamente
adotada por grupos bolsonaristas que durante o primeiro ano de pandemia
bombardearam as redes sociais com informações falsas sobre o vírus, as
vacinas e até a promoção de kits médicos sem eficácia verdadeiramente
comprovada. Enquanto isso, em suas entrevistas, lives e pronunciamentos, o
presidente mesmo diante do crescente aumento no número de casos
questionava publicamente as recomendações sanitárias, colocando questões
econômicas acima das vidas. “Em meio à confusão produzida pelo negacionismo
como política, as recomendações científicas visando à prevenção da
disseminação do vírus foram rechaçadas incondicionalmente pelo Governo
Federal.” (DUARTE, 2020, p.14).
Ao longo dos próximos capítulos essa pesquisa irá abordar, contextualizar
e entender a relação dos tópicos citados para entender o papel da propaganda
política na impulsão do negacionismo científico bolsonarista, tendo o YouTube
como uma das plataformas mais fortes nesse processo para a difusão de
desinformação pública e que possivelmente influenciou grupos de extrema-
6

direita a levarem para a sociedade toda a narrativa criada pelo governo federal
com o intuito de se manter em campanha permanente.

2. O QUE É PROPAGANDA POLÍTICA E QUAIS SÃO SUAS


VARIAÇÕES?

2.1 Propaganda política

Podemos definir a propaganda política como algo que: “procura influenciar


a opinião dos cidadãos quanto à adoção de determinados comportamentos”
(NAKAMURA, 2010, p.1, tradução nossa). Nesse caso, logo se nota que é
possível fazer um grupo social defender uma ideia, se para essas pessoas, a
propaganda política por trás for de encontro com sua visão.
Por vezes, a propaganda e a publicidade são confundidas nesse processo
de influência. Porém Sant'Anna (1998) nos aponta que a grande diferença aqui,
é que a propaganda política “distingue-se [da publicidade], por não visar
objetivos comerciais e sim políticos” (p.46). Dessa forma, o “produto” em questão
é uma ideologia política.
Compreendido isso, Sant'Anna (1998) nos lembra que a “propaganda e
publicidade andaram entrelaçadas, evoluindo paralelamente”, o grande
diferencial está no modo como ambas são feitas na prática, pois “parece na
verdade que a propaganda se inspira nas invenções e no êxito da publicidade,
copiando um estilo que, segundo se julga, agrada ao público.” (p.46).
Para fechar questão no raciocínio, se identifica que o poder da
propaganda quando utilizada com fins de conquista ideológica pode acarretar
em uma mudança de comportamento das pessoas que se sentirem
representadas pela visão vendida.
“A publicidade suscita necessidades ou preferências visando
[promover um] produto particular, enquanto a propaganda sugere ou
impõe crenças e reflexos que modificam o comportamento, o
psiquismo e mesmo as convicções religiosas ou filosóficas.”
(SANT'ANNA, 1998, p.46).
7

Explicado a diferença, podemos então evoluir dentro do conceito de


propaganda política, compreendendo-a “como um fenômeno comunicativo,
[considerando que os] processos comunicativos podem ser divididos
substancialmente em dois: informação e persuasão.” (QUINTERO, 1999, p.146,
tradução nossa).
Essas são as duas etapas mais importantes nesse processo de
comunicação. No caso, a informação é um processo que cabe inteiramente ao
emissor segundo Quintero (1999), sendo que ela está “destinada ao emissor
para compartilhar com o receptor certos dados ou conhecimento.” (p.146,
tradução nossa). Uma vez que a informação é oferecida ao público, entra em
cena o outro elemento vital na propaganda política, a persuasão, considerando
que essa segunda etapa é a mais determinante para a aceitação ou não da
ideologia.
“Persuasão [que] nada mais é do que o processo comunicativo, cuja
chave está [na] resposta do receptor, ou seja, aquela que busca
promover uma dependência interativa entre emissor e receptor por
meio da [formação], reforço ou modificando a resposta do receptor.”
(QUINTERO, 1999, p.146, tradução nossa).

Nesse caso, o receptor é a sociedade, pois uma ideologia política somente


irá obter êxito, se a maioria da população for condizente com suas ideias. Caso
a persuasão na propaganda política não convença, independente das
informações que determinado espectro político forneça, dificilmente irá se
sustentar pela falta de visibilidade pública.
Isso também vale para os governos de situação que precisam vender suas
convicções e visões para a população a todo instante para se manter no poder.
Trazemos novamente Quintero (1999) para essa discussão que sintetiza isso ao
afirmar que: “Estado e propaganda são inseparáveis. A propaganda é, portanto,
propaganda política, civil, estatal ou contrapropaganda.” (p.146, tradução
nossa).
Até aqui, se compreende que a propaganda política é sempre muito bem
planejada e existem objetivos a serem cumpridos por trás dela sendo: “Um
conjunto de ações que, tecnicamente elaboradas e [apresentadas],
principalmente pela mídia de massa, [visam] influenciar os grupos a pensar e
agir de uma determinada maneira.” (NAKAMURA, 2010, p.1, tradução nossa).
8

Nota-se que a palavra pensar é bastante presente quando falamos de


propaganda política, pois é justamente isso que uma ideologia política busca a
todo instante conforme vimos até aqui, conquistar o máximo possível de
pensamentos em prol da sua narrativa. Por isso entre as variações presentes na
propaganda política, inevitavelmente ela acaba chegando na propaganda
ideológica, essa com consequências muito maiores conforme iremos analisar
nesse estudo.
Um bom exemplo de propaganda ideológica aconteceu na história da
política brasileira. Em 1 de abril de 1964, a democracia brasileira sofreu um golpe
militar que se transformou em uma ditadura que se perpétuo até o dia 15 de
março de 1985, nesse período era proibido qualquer tipo de oposição ao governo
militar.
Porém a ditadura militar não iria se sustentar sozinha, a propaganda foi
bastante utilizada para a manutenção do regime perante a população. “A
propaganda encarregou-se de enaltecer os presidentes, apresentando-os como
líderes mais indicados para serem chefes de governo.” (GARCIA, 1999, p.15).
Dentro desse contexto, o nacionalismo foi amplamente exaltado,
colocando os grupos que se opunham ao regime militar, como “inimigos da
pátria”. Mesmo que nenhum dos cinco presidentes militares que governaram o
Brasil entre 1964 e 1985 tenham sido eleitos democraticamente para exercerem
o cargo, a propaganda da ditadura sempre agia ideologicamente para desviar o
foco e manter a maioria da população sob o seu domínio. “A propaganda deu
resultados. Grande parte da população acreditou no que ouvia confiando em que
os governos militares eram legítimos e defendiam seus interesses.” (GARCIA,
1999, p.18).
Esse foi um bom exemplo que esse estudo trouxe para mostrar o quanto
uma propaganda ideológica pode persuadir uma sociedade a aceitar um
governo. “Ela foi empregada em todas as épocas conhecidas da história, pelo
mais diversos grupos e líderes. Uns para manter o status quo e garantir seu
poder, outros para transformar a sociedade.” (GARCIA, 1999, p.18)
Diante do conceito de propaganda ideológica se verifica que um estado
de alienação das massas é o status perfeito e sonhado por muitos governos,
pois nesse contexto, a oposição fica isolada. “Através do "controle ideológico" o
emissor manipula todas as formas de produção e difusão de ideias, garantindo
9

a exclusividade na emissão das suas próprias [convicções].” (GARCIA, 1999,


p.29)
Nesse processo, os grupos sociais têm extrema importância, pois um
governo de situação não consegue se manter, sem o apoio mínimo de alguma
base de pessoas que compram e propagam qualquer direcionamento político
feito pelo emissor. “Por essa razão um grupo, percebendo possibilidades de
progresso ou a necessidade de defesa contra certas ameaças, procura difundir
suas ideias.” (GARCIA, 1999, p.27).
Por esse motivo os autores Silva e Ferreira Junior (2013) identificam que
dentro do contexto político, o marketing é definido como a arte de informar e
comunicar com o eleitor; orientando e direcionando as ideias do partido,
candidato ou governo, em função das necessidades identificadas. (p.3).
Nesse processo a utilização de determinadas técnicas do marketing
auxiliam na elaboração dos direcionamentos e de todo o planejamento,
considerando que o objetivo é sempre de: “criar um rumo e permanecer nele
correspondendo ao necessário, a estratégia é uma direção, saber aonde quer ir
e estar, um quebra cabeça que planejadamente se encaixa peça por peça para
tornar algo concreto”. (SILVA e FERREIRA JUNIOR, 2013, p.2).
A partir das citações trazidas até aqui, podemos, portanto, compreender
que a propaganda política sempre tem interesses ideológicos em seus
princípios, considerando que a maior ameaça para o estado é ver uma sociedade
se revoltando contra sua narrativa. “Essa difusão da ideologia se faz pela
propaganda ideológica.” (GARCIA, 1999, p.28).
Um dos objetivos a serem conquistados, para Garcia (1999) vai no sentido
de “evitar a possibilidade de que os receptores venham a receber, ou mesmo
produzir, outra ideologia que os oriente contra os interesses do emissor.” (p.29).
Pois tudo que uma ideologia política não quer é perder seus adeptos para uma
outra corrente de pensamento, por isso se manter ativamente no ideológico
desse grupo social é algo muito importante e a campanha permanente surge
como uma estratégia eficaz nesse processo conforme abordaremos no tópico a
seguir.
10

2.2 Campanhas permanentes no ambiente digital

A ascensão das mídias sociais provocou uma série de mudanças na


humanidade, e não seria diferente na esfera política, se tornando gradualmente
um instrumento bastante importante na captação de apoio. A utilização das
plataformas sociais na política brasileira hoje é uma realidade e sua relevância
pode ser notada com maior amplitude nas eleições presidenciais de 2018. “No
entanto, o uso da mídia como aparato não acontece apenas no período oficial
de campanha, mas de forma constante.” (MONTUORI, 2017, p.2).
Estava surgindo uma nova variação dentro da propaganda política que se
consolidou e caiu no gosto do marketing político. “Nas democracias liberais o
poder deve ser conquistado diariamente. Tal fenômeno é conceituado como
Campanha Permanente.” (MONTUORI, 2017, p.55)
Não que a campanha permanente não existisse antes, ela só não tinha
campo aberto de liberdade como encontra agora nas redes sociais, já que as leis
do Tribunal Superior Eleitoral eliminam qualquer chance de uma campanha
permanente acontecer no rádio e na televisão fora do período eleitoral.
O termo “campanha permanente” foi bastante utilizado nos Estados
Unidos no começo da década de 1980, com a chegada do então presidente eleito
Ronald Reagan ao comando e a sua diferente forma de conduzir a propaganda
política. A jornalista Sidney Blumenthal descreveu a campanha permanente
como “uma combinação de construção de imagem e estratégia [calculada] que
transforma o governo em uma campanha perpétua, o governo [vira] um
instrumento projetado para sustentar [a] popularidade do oficial eleito.” (HECLO,
1993, p.2, tradução nossa).
Dessa forma, os governos de situação passaram a se aproveitar da
estrutura política por trás da máquina pública para agirem ativamente no
ideológico da população, principalmente entre o eleitorado que lhe concedeu o
mandato. Montuori (2017) nos confirma que esse novo direcionamento envolve
uma comunicação social diferente, pois as candidaturas e governos “fazem uso
das mídias massivas e digitais para prestação de contas, accountability,
campanha ininterrupta e para manter o apoio popular, já projetando uma próxima
conquista.” (p.55).
11

A campanha permanente ascende um pensamento claro, de que não


basta vencer a eleição é necessário preparar ideologicamente o máximo
possível de pessoas, para que a vitória esteja garantida para o próximo pleito
eleitoral. Basicamente toda a mecânica que envolve a campanha permanente
tem o objetivo de manter o candidato em evidência junto ao público, marcando
espaço em assuntos e acontecimentos sociais. “Interessa ao candidato colocar
na agenda dos media e na agenda do público os assuntos com os quais pode
convencer mais eleitores.” (SALGADO, 2012, p.236).
Com as redes sociais entrando de vez na rotina da sociedade, “torna-se
[ainda mais] difícil apontar datas precisas de começo das campanhas eleitorais"
(SALGADO, 2012, p.240). Uma vez que os candidatos diariamente fazem
postagens sobre tudo que rodeia a sociedade e ainda contam com seus grupos
de apoiadores para evidenciar pautas que lhe interessam ou mesmo puxar
correntes de apoio. As redes sociais se tornam um ambiente perfeito para
manter o clima de eleições durante o ano inteiro, gerando debates, replicando
notícias e tendências do momento.
“[Após] alterações na legislação eleitoral em 2015, as eleições
municipais de 2016 já começam a sinalizar um modelo híbrido de
propaganda tanto de uso da TV e do rádio, mas também de forma mais
intensa das mídias digitais, com ênfase nas mídias sociais” (CIOCCARI
e PERSICHETTI, 2019, p.140).

Diante desse novo modelo de marketing político que estava se moldando,


as plataformas sociais se tornaram um mecanismo um tanto quanto interessante,
justamente pelo seu alto alcance e números expressivos de usuários.
Siqueira (2020) nos confirma que esse novo modelo de fazer propaganda
política estava se consolidando de vez:

“Mais do que nunca, diferentes redes sociais virtuais foram utilizadas


para disseminar conteúdos de campanha oficiais e não oficiais. O
YouTube foi uma das plataformas adotadas por todos os candidatos e
os vídeos que nele circularam alcançaram audiências significativas, as
quais poderiam ou não se converter em votos.” (p.42).

Além das campanhas economizaram no aspecto financeiro, a rede de


vídeos oferece modelos e formas para a classe política levar sua mensagem até
o público-alvo que deseja, esses são alguns dos atrativos para entender por que
“a importância do YouTube [como] meio de difusão de conteúdo no ambiente de
comunicação política já foi percebida por alguns autores” (SILVA, 2020. p.63).
12

No terceiro capítulo deste trabalho, eles serão trazidos para um debate mais
amplo acerca da alta relevância que o Youtube pode alcançar como ferramenta
para uma campanha permanente no ambiente digital, assim como as
transformações que a plataforma trouxe para o campo da propaganda política.
Agora para entender melhor como funciona a campanha permanente, é
necessário compreender, duas vertentes bastante importantes para essa
estratégia política que estão em comunicação eleitoral e governamental. No caso
da comunicação eleitoral, compreendemos que ela “tem por objetivo central
arrecadar votos, conquistar o eleitorado, para que um determinado candidato
atinja seu objetivo principal, a vitória.” (MONTUORI, 2017, p.58). Enquanto isso
“a comunicação governamental tem por objetivo informar e dialogar com os
cidadãos, além de prestar contas da administração pública.” (p.58).
Só que a grande tática por trás da campanha permanente está em unir as
duas estratégias explicadas, dessa forma:
“As técnicas utilizadas na comunicação eleitoral dos candidatos
vitoriosos são as mesmas utilizadas na comunicação governamental
do mandato, uma vez que se faz necessário obter apoio popular
durante um mandato para projetar uma próxima vitória.” (MONTUORI,
2017, p.58).

Portanto, as raízes que fazem a campanha permanente se desenrolarem


ao longo do período não eleitoral, são exatamente as mesmas que rodeiam essa
estratégia de propaganda em épocas eleitorais. Por isso redes sociais como
Facebook, Twitter e WhatsApp cumprem um papel tão importante nesse
processo de campanha permanente, pois basta que o emissor dispara sua
versão dos fatos e rapidamente seus apoiadores vão replicar. Dentro desse
entendimento, o Youtube surge como uma plataforma social ainda mais potente,
pois trabalha exclusivamente com um conteúdo audiovisual, se assemelhando a
TV. A diferença, porém, está que no YouTube, as candidaturas podem
compartilhar vídeos sem filtro algum ou leis que gerem alguma punição. Eleito
em 2018, o presidente Jair Bolsonaro soube entender as modificações que as
plataformas sociais trouxeram dentro da comunicação política e as utilizou para
se divulgar perante a população, todavia esse estudo parte no próximo tópico
para uma análise dentro dos elementos que acabou moldando a propaganda
bolsonarista.
13

2.3 A propaganda bolsonarista

Conforme vimos até aqui, a propaganda política atua fortemente dentro


da população a todo instante, seja de maneira direta como nos acostumamos a
ver em período eleitoral, seja no período não eleitoral, aonde normalmente ela
se transforma em propaganda ideológica. Dentro desse contexto, as novas
plataformas sociais possibilitam o surgimento de um novo desdobramento, que
se caracteriza como campanha permanente, que na lógica da propaganda
exercida pelo governo Bolsonaro deu margem para outra possibilidade, gerar um
clima de conflito permanente.
Os autores Cioccari e Persichetti (2019) nos confirmam isso através dessa
citação: “Depois de eleito, ele continua argumentando com os mesmos
elementos: declarações polêmicas, voltadas ao conservadorismo, à
autopreservação do clã e o ataque aos que se opõem a suas políticas e a sua
forma de pensar” (p.138). Tais elementos citados foram utilizados pelo
presidente Jair Bolsonaro durante sua campanha eleitoral nas eleições
presidenciais de 2018: “Na campanha eleitoral, a narrativa do “nós contra eles”
tomou uma proporção mais forte [tanto] que segue durante o período
presidencial.” (CIOCCARI E PERSICHETTI, 2019, p.138).
Essa afirmação ajuda esse estudo a compreender o quanto a estratégia
de conflito permanente é essencial para que a propaganda bolsonarista possa
se expandir, pois estimular o conflito é uma ação que basicamente visa dividir a
sociedade para conquistar, sendo que o “nós contra eles” é nada mais do que a
defesa incontentável de uma narrativa política sobre seu opositor que acaba se
tornando em uma espécie de inimigo por defender interesses contrários. “Neste
discurso militarizado, pautado pela guerra contra o inimigo interno, estabelecem-
se dois lados opostos em conflito, em um dualismo entre bom e mau” (NETO,
2019, p.84).
Durante as campanhas presidenciais de 2018, o então candidato a
presidente Jair Bolsonaro pelo PSL na época “priorizou o uso das redes sociais
em detrimento dos media tradicionais, [uma] estratégia de comunicação política
nunca [antes] realizada na história das eleições brasileiras.” (SILVA, 2020, p.65).
14

Em 28 de Outubro de 2018, Jair Bolsonaro acabou sendo eleito o 38º presidente


do Brasil derrotando Fernando Haddad (Partido dos Trabalhadores) no segundo
turno em meio a um forte clima de polarização.
É necessário compreender que tal intensidade no clima político do Brasil
foi sendo construída desde as eleições presidenciais de 2014 que acabou
reelegendo a então presidente Dilma Rousseff (PT). Na época, Jair Bolsonaro
era deputado federal pelo Rio de Janeiro e buscou meios para antecipar o clima
eleitoral para o pleito de 2018, e a partir daí “passou a se comportar como
candidato em campanha permanente e construiu, ao longo dos anos, a imagem
de um líder único, capaz de resolver os problemas complexos do país.” (SILVA,
2020, p.66).
De 2014 a 2018, Jair Bolsonaro investiu fortemente nas redes sociais,
contraindo o que dizia até então os “manuais de marketing político tradicional,
[que] destacavam a necessidade de um orçamento de campanha vultoso para a
contratação de profissionais especializados e produção de materiais altamente
elaborados” (SILVA, 2020, p.65).
Exatamente por isso, Silva (2020) conclui que através desses
direcionamentos “a estratégia de marketing de Bolsonaro investiu em uma
mobilização horizontal, com a criação de uma rede de apoio de influenciadores
comuns.” (p.66). Tal base permaneceu ativa mesmo após o fim das eleições de
2018, se mantendo conectada ao presidente eleito e replicando seus discursos
e posicionamentos sobre as mais variadas questões.
E justamente os grupos bolsonaristas mais fiéis acabam contribuindo para
a disseminação de uma narrativa negacionista sobre a pandemia do novo
coronavírus. Dessa forma, a partir de março de 2020, o presidente Jair Bolsonaro
retomou o conceito de campanha permanente. Pois decidiu ir na contramão das
medidas sanitárias recomendadas pela OMS para todos os países.
Tal posicionamento evidentemente foi planejado ideologicamente pelo
presidente e entre os diversos motivos que poderiam interessar na popularização
de uma narrativa negacionista dentro da sociedade sobre a pandemia, está
justamente o interesse de manter um clima eleitoral permanente em seu
eleitorado, gerando conflito de opiniões sobre a condução da pandemia e de
alguma forma desviando o foco das ações no combate a COVID-19. Diante
15

disso, nos resta uma sensação de que “há sempre um inimigo a ser combatido.”
(CIOCCARI e PERSICHETTI, 2019, p.138).
Portanto, depois de compreender alguns pontos essenciais por trás da
propaganda política bolsonarista, é necessário agora entender como o
negacionismo científico acabou se tornando em um recurso estratégico na
política, é justamente sobre isso que o capítulo a seguir irá abordar.

3. O VÍRUS DO NEGACIONISMO

3.1 Origem do negacionismo científico

Fenômenos sociais diversos apareceram durante a pandemia de COVID-


19, dentre eles o questionamento a métodos científicos de combate ao novo
coronavírus, como a oposição ao isolamento social, ao uso de máscaras e à
própria vacina. Tal fenômeno ficou conhecido como negacionismo científico, que
na verdade não é algo recente. Esse tipo de narrativa tem sua origem por volta
dos anos 1950. Pivaro e Júnior (2020) apontam que o começo da negação aos
dados científicos começa por meio da indústria tabagista.

“Pode-se dizer que o roteiro sobre como deslegitimar as pesquisas


científicas e introduzir no imaginário coletivo dúvidas acerca de
consensos científicos foi elaborado pela indústria de tabaco norte-
americana e replicado com sucesso desde então.” (p.1077).

O questionamento científico por parte das grandes empresas de cigarros


foi a saída encontrada para gerar dúvidas na população e confundi-la quanto a
comprovação de que a utilização do tabaco poderia gerar riscos a saúde. “A ideia
principal [era] criar uma falsa narrativa de que havia um debate acerca das
evidências e de que não havia um consenso científico associando o uso de
cigarros às doenças respiratórias.” (PIVARO E JUNIOR, 2020, p.1077). Com o
passar das décadas, as evidências cientificas de que a utilização de cigarro
poderia gerar câncer e variáveis doenças respiratórias acabou se sobrepondo
16

aos questionamentos por parte da indústria tabagista, fazendo muitos países


adotarem leis mais rígidas e metas para reduzir o número de fumantes. Porém
“o modelo de como moldar a opinião pública através da dúvida do consenso
científico serviu de exemplo para outros casos de negacionismo.” (PIVARO E
JUNIOR, 2020, p.1078).
O modelo de manipulação da opinião pública havia sido criado, mesmo
que confrontasse com evidências científicas comprovadas. Seu desdobramento
não demorou muito para chegar na política, mais precisamente nos Estados
Unidos quando parte da comunidade cientifica passou a alertar que mudanças
climáticas, poderiam acarretar o que ficou conhecido como aquecimento global.
Gastaldi (2018) nos aponta que o “Negacionismo pode ser classificado como
uma ideologia orgânica constituinte do sistema hegemônico vigente.” (p.12).
Dessa forma, negar estudos científicos se tornou em uma espécie de recurso
para se obter apoio popular contra um consenso científico, assim o negacionismo
climático encontrou espaço na política americana, tendo em vista que a “base
republicana reage instantaneamente com uma negação quando se trata de
questões que são [consideradas] “do outro lado” (PIVARO E JUNIOR, 2020,
p.1082).
A grande dificuldade dos negacionistas até então era de encontrar vozes
na política que tivessem força a nível global para replicar suas teses, problema
que começou a se dissolver com a candidatura do republicano Donald John
Trump às eleições dos Estados Unidos em 2016. Embora nunca tenha se
assumido publicamente como um negacionista, Gastaldi (2018) nos explica que
isso é parte de um processo em que “uma parcela significativa dos indivíduos
rejeita o título “negacionista”, preferindo a denominação “cético”. (p.8). No caso
de Donald Trump, os questionamentos as mudanças climáticas já ocorriam antes
mesmo de se tornar presidente. Em 2012, por meio de uma rede social ele
afirmou que: "O conceito de aquecimento global foi criado pela China para
acabar com a competitividade da indústria americana." (G1,2017) 1.
Zanco (2019) afirma que Trump emprega o negacionismo em seu
discurso, como uma saída para redirecionar os investimentos feitos em nome da

1
Cientistas dos EUA confirmam aquecimento global, que Trump nega. G1, 2017. Disponível
em: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/08/cientistas-dos-eua-confirmam-
aquecimento-global-que-trump-nega.html>. Acesso em: 13/09/2021.
17

proteção do meio ambiente, pois tal investimento e interesse de proteger a


natureza, seria uma pauta da agenda Democrata que é desmerecida por ele (p.
25). A eleição de Donald Trump acabou dando voz de vez aos negacionistas, o
que acabou criando uma politização nos questionamentos aos estudos
científicos, sendo uma abertura perigosa. “As polarizações políticas fortalecem
um discurso de relativização de resultados científicos, que por sua vez são
tratados como uma questão binária de opinião numa luta de “nós contra eles”.
(PIVARO E JUNIOR, 2020, p.1083).
Porém ao longo do governo de Donald Trump, não apenas os estudos
científicos foram colocados em dúvida, como os próprios cientistas passaram a
se tornar alvo de acusações do então presidente americano e de seus
seguidores: “Ao passo que os cientistas eram considerados: vigários,
consultores, mentirosos, 'gênios', espertalhões e falsários.” (ZANCO, 2019,
p.30). Dessa forma se identifica uma nova variação dentro do movimento
negacionista científico que passa a questionar os consensos científicos tanto
quanto seus autores. De acordo com Zanco (2019), “Tal característica faz com
que Trump possa ser identificado solidamente no campo dos anti-ciência” (p.25).

Assim a irresponsabilidade no discurso trumpista iria fatalmente


influenciar outros países, Zanco (2019) diz que “Outro ponto de destaque na
postura de Trump enquanto estadista é que ele desconhece ou não se preocupa
com os problemas que o negacionismo pode trazer, especialmente nos países
pobres.” (p.26). A influência dos Estados Unidos dentro da América Latina
sempre foi forte e isso fica bem nítido “Em momentos como o golpe militar na
argentina em 1930 e 1943, e no Brasil em 1964” (ZANCO, 2019, p.20).
Soma-se todos os elementos citados até aqui com o bônus da relação
super amistosa entre o governo Bolsonaro e Trump, com diversas exaltações
públicas ao presidente americano e se detecta facilmente de onde os
bolsonaristas foram influenciados a criar a narrativa do negacionismo científico
para a COVID-19 no Brasil. “O atual presidente do Brasil (sem partido) (2019-
2022) pauta muitas de suas ações refletidas no comportamento do presidente
norte-americano.” (PIVARO E JÚNIOR, 2020, p.1082). E é justamente sobre as
características do negacionismo enquanto política no Brasil que a sequência
deste capítulo irá abordar.
18

3.2 Negacionismo como estratégia política no Brasil

A posição adotada por Donald Trump ao falar sobre a pandemia nos


EUA influenciou o governo Bolsonaro, não somente pelo olhar sanitário, mas
também na caracterização e consolidação do negacionismo como um
instrumento de estratégia política do bolsonarismo. “Em 10 de março [2020], em
um evento com Donald Trump, o presidente brasileiro chama o vírus de
“fantasia”, no entanto no dia seguinte a Organização Mundial de Saúde (OMS)
declarou situação de pandemia.” (DA SILVA LOPES, 2020, p.264).

A utilização do negacionismo como um instrumento político vem se


tornando um pilar importante no discurso da extrema-direita brasileira. Morel
(2020) nos recorda que “Os negacionismos são diversos e heterogêneos,
formando um fenômeno complexo. Ainda assim, eles se articulam.” (p.2). Para
citar alguns exemplos, assim como nos EUA, existem grupos dentro do
bolsonarismo que atuam na disseminação do negacionismo climático "ancorado
na negação do colapso ecológico em curso" (MOREL, 2020, p.2). Há um
movimento oriundo das manifestações de 2013 que realiza um revisionismo
histórico da ditadura militar brasileira (1964-1985), buscando refazer sua imagem
como um período de prosperidade ao Brasil e sempre negando qualquer violação
dos direitos humanos. E Morel (2020) ainda nos lembra do negacionismo racial
que é "ancorado no mito da democracia racial" (p.2), sendo que nesse caso, a
estrutura do "negacionismo do racismo, está articulado ao negacionismo
histórico nos movimentos recentes de [negação a] escravidão brasileira". (p.2).
Conforme vimos até aqui, se registra então toda a influência política da
extrema-direita atuante nos Estados Unidos no modo de pensar do espectro
político do Brasil, as similaridades nos fazem compreender que existem diversas
frentes dentro do movimento negacionista, porém todas se comunicam e estão
bem articuladas aos pensamentos mais extremos da direita. Até por isso, Morel
(2020) classifica que "As expressões do negacionismo da pandemia da Covid-
19

19 recorrentes no Brasil estão relacionadas ao crescimento da extrema-direita e


produzem o aumento da necropolítica" (p.1).
Seguindo o mesmo tom das declarações de Trump, o presidente Jair
Bolsonaro forçou uma polarização de discussão na sociedade sobre como
combater a pandemia. O resultado direto de suas declarações e entrevistas foi
uma “intensa disseminação de teses negacionistas no país [com] a criação de
uma atmosfera social nebulosa, permeada por fanatismos, dúvidas e incertezas.”
(DUARTE, 2020, p.14).
Os únicos fatos aceitos pelo governo sobre a COVID-19 eram “Aqueles
[de] interesses políticos e econômicos, como no caso da propaganda
indiscriminada a favor do uso da Cloroquina” (DUARTE,2020, p.14). Só que a
extrema-direita começou a ter problemas para sustentar a narrativa do
negacionismo científico no Brasil. “Como estratégia retórica, a negação da
Pandemia tem limitações. Conforme os efeitos da Pandemia vão atingindo mais
pessoas, e a letalidade se torna mais visível, fica mais difícil negá-la
completamente.” (FREITAS, 2021, p.42).
Por conta disso, a sequência deste capítulo irá abordar como se
construiu toda a parte da propaganda na promoção da disseminação do
negacionismo científico em solo brasileiro tendo Jair Bolsonaro como um dos
seus principais influenciadores.

3.3 A propaganda negacionista

Até aqui foi explicado o conceito do negacionismo e sua transformação


até chegar à negação científica. Também foi explicado como governos,
especialmente o dos EUA e do Brasil, utilizaram essa narrativa para transformá-
la em uma estratégia política. Agora vamos entender a ligação entre o
negacionismo e a propaganda permanente. Vale recordar que conforme foi
apresentado ao longo do primeiro capítulo, o conceito de campanha permanente
se baseia na promoção constante de um governo para na maioria das vezes
manter o espírito de eleições vivo entre o seu eleitorado.
20

A propaganda permanente do governo Bolsonaro por meio do


negacionismo não é algo que surgiu na pandemia. O negacionismo foi utilizado
como recurso nas eleições presidenciais de 2018, como aponta o estudo de
Caponi (2020).

Negacionismo que foi adotado pelo atual governo já [estava] na


campanha eleitoral, com seu desprezo pelas universidades, pela
pesquisa científica, pelos direitos das populações vulneráveis, pelas
comunidades indígenas, LGBT, populações de rua, mulheres em
situação de violência etc. (p. 210).

De acordo com Martine e Alves (2019), “a opinião pública é mais


facilmente influenciada pela propaganda negacionista, porque alivia pessoas da
obrigação de mudar seu comportamento ou enfrentar questões complexas”
(p.19, tradução nossa). Com a chegada da pandemia e as orientações da OMS
para diminuir o impacto das transmissões do vírus, naturalmente a sociedade foi
obrigada a se adaptar a mudanças que tiraram eventos, contatos sociais e outros
tipos de entretenimento da rotina. Esse fato somado as questões econômicas
que viriam a trazer dificuldades financeiras para muitas pessoas, foram as
brechas que o governo Bolsonaro encontrou para se contrapor as medidas e
inicialmente tentar vender uma falsa imagem para a sociedade de que a COVID-
19 era apenas uma gripe comum, sempre minimizando os possíveis impactos
que consensos científicos apontavam que iriam ocorrer.
Dessa forma, é possível dizer que o presidente Jair Bolsonaro encontrou
no negacionismo uma estratégia de narrativa pronta para qualquer assunto e
temática que desagrade seus ideais. No caso da pandemia, a propaganda se fez
presente de maneira direta ou indireta em diversos momentos:
“O negacionismo não se restringe apenas à retórica presidencial, mas
evidencia-se principalmente na recusa às orientações de prevenção e
enfrentamento à pandemia. Foram várias as aparições públicas do
presidente sem máscara, em locais populares, causando
aglomerações entre os seus seguidores.” (DA SILVA LOPES, 2020,
p.264).

Por mais que as aparições públicas nos moldes citados acima já


pudessem ser um bom motivo para entender toda complexidade por trás do
negacionismo bolsonarista, ela não foi a maior. As redes sociais tiveram um
papel decisivo para os negacionistas brasileiros. Solano e Rocha (2019)
afirmam que a “direita encontra nas redes sociais um espaço para expandir sua
21

clientela.” (p.85). Dessa forma, a sinalização positiva por parte do presidente


Jair Bolsonaro no começo da pandemia em seguir uma narrativa de negar a
ciência e seus métodos, foi o gatilho para seu eleitorado espalhar o discurso
através das mídias sociais.
“Enquanto o Brasil se mobilizava para combater a COVID-19 no primeiro
ano da pandemia, páginas aliadas ao presidente Jair Bolsonaro e conhecidas
por disseminarem conteúdo falso ganharam força.2” As redes bolsonaristas sob
aval do presidente, utilizaram a mesma máquina de desinformação que agiu
nas eleições presidenciais de 2018, de acordo com um estudo da Universo
Positivo “No auge de interações, em maio de 2020, 27 perfis que espalham
fake news tiveram 14 milhões de likes e compartilhamentos.” 3

Os números impressionam, porém de acordo com um outro estudo da


Laboratório de Pesquisa em Mídia, Discurso e Análise de Redes Sociais, da
UFPel (Universidade Federal de Pelotas), toda vez que o presidente brasileiro
lançava suas teses ou frases de cunho negacionista de maneira pública, havia
um imediato aumento de desinformação nas redes. "Quando autoridades,
especialmente políticas, fazem declarações públicas contendo desinformação,
sua chancela impulsiona consideravelmente este conteúdo" (p.6) 4.
Esse mesmo estudo revelou um detalhe sobre as redes bolsonaristas
que se engajaram em espalhar o negacionismo científico no Brasil: "Nos casos
em que conteúdos de checagem e jornalísticos circulam nesses grupos, eles
são enquadrados como desinformação" (p.6) 5, é interessante notar o quanto
se inverte a lógica de raciocínio nesse contexto. Em 8 de junho de 2020, devido
justamente toda a desinformação das redes bolsonaristas, foi criado o
Consórcio de Veículos de Imprensa que reunia os maiores conglomerados de

2
KNOTH, Pedro. Páginas bolsonaristas que espalham fake news tiveram mais likes na
pandemia. Tecnoblog. 31/08/2021. Disponível em: https://tecnoblog.net/486748/paginas-
bolsonaristas-que-espalham-fake-news-tiveram-mais-likes-na-pandemia/).
3
KNOTH, Pedro. Páginas bolsonaristas que espalham fake news tiveram mais likes na
pandemia. Tecnoblog. 31/08/2021. Disponível em: https://tecnoblog.net/486748/paginas-
bolsonaristas-que-espalham-fake-news-tiveram-mais-likes-na-pandemia/).
4
Desinformação, Mídia social e covid-19 no Brasil: Relatório, resultados e estratégias de
combate. UFPel, 2021. Disponível em:
https://wp.ufpel.edu.br/midiars/files/2021/05/Desinformac%CC%A7a%CC%83o-covid-midiars-
2021-1.pdf. Acesso em 20/09/2021.
5
Desinformação, Mídia social e covid-19 no Brasil: Relatório, resultados e estratégias de
combate. UFPel, 2021. Disponível em:
https://wp.ufpel.edu.br/midiars/files/2021/05/Desinformac%CC%A7a%CC%83o-covid-midiars-
2021-1.pdf. Acesso em 20/09/2021.
22

mídia do Brasil, com o objetivo de levar a população brasileira, dados seguros


sobre a pandemia.
É necessário destacar o conceito de conflito permanente nesse processo,
pois ele acabou se alinhando ao discurso negacionista bolsonarista, com o intuito
de dividir para conquistar. “É preciso ter em vista que a busca pelo conflito é um
dos elementos mais constantes na prática discursiva de Bolsonaro” (NETO,
2019, p.76). Tal estratégia de discurso também havia sido utilizado durante as
eleições presidenciais de 2018, o que gera uma reflexão para esse estudo do
quanto a narrativa negacionista teve por trás basicamente o mesmo de operar
que havia sido utilizada durante o período eleitoral, tendo a propaganda
permanente como grande carro-chefe na busca de manter o presidente em
evidência, como o grande “dono” da verdade dos fatos relacionados a pandemia
de COVID-19 e como analisamos, se utilizando da desinformação para defender
sua narrativa.
E diante da identificação de que as redes sociais se tornaram o principal
expoente da extrema-direita brasileira na propaganda do negacionismo
científico, esse estudo parte para o terceiro capítulo em busca de uma análise
dentro do canal oficial do presidente Jair Bolsonaro no YouTube,
compreendendo a importância dessa plataforma como um elemento de
influência audiovisual. Até porque as “declarações negacionistas de Bolsonaro
quanto à pandemia foram feitas em lives e entrevistas divulgadas nas redes
sociais, alcançando com rapidez milhões de cidadãos e multiplicando seu
impacto de maneira exponencial.” (DUARTE, 2020, p.13).
Dessa forma avançamos na sequência desse estudo para compreender
por meio do capítulo 3 como o YouTube se tornou em uma alternativa estratégica
para a propaganda política acontecer, trazendo mudanças importantes na
comunicação entre governo e sociedade.

4. O YOUTUBE COMO FERRAMENTA DE PROPAGANDA POLÍITICA


DO BOLSONARISMO

4.1 O poder do YouTube como mídia social


23

A evolução da tecnologia proporcionou o nascimento de novas formas de


se comunicar. Uma delas foi o YouTube, sendo uma mídia social que surge nos
Estado Unidos no ano de 2005 “com o objetivo de fornecer aos utilizadores um
espaço em que fosse possível a criação de conteúdos de vídeos” (SILVA, 2020,
p.62). A nova plataforma se assemelhava com a televisão por ter um formato
audiovisual, porém a grande diferença estava na liberdade de expressão dada
ao usuário, que poderia ter controle do conteúdo exibido em seu próprio canal.
No YouTube, além de assistir ao conteúdo de outros canais, cada usuário pode
publicar em seu próprio canal vídeos sobre os assuntos que lhe interessem sem
um filtro controlador específico.
Pelas suas características e pela liberdade de expressão que conferia ao
usuário, o YouTube se diferenciou das outras redes de comunicação que
estavam surgindo nessa época, se popularizando rapidamente em todo o
mundo. Para Silva (2020, p.63) a popularidade e a gratuidade da plataforma
fizeram com que ela passasse a ser utilizada também como uma ferramenta
política e eleitoral.
A chegada do YouTube gerou um forte impacto na rede de televisão
aberta e paga, transformando o campo comunicacional em diversos países e
consequentemente também no Brasil. Uma pesquisa da Video Viewers mostra
que o YouTube é o campeão da preferência das pessoas para assistir a vídeos,
além de ser o 2º maior destino para o consumo desse formato no Brasil, com
uma diferença de apenas três pontos percentuais para a segunda maior
emissora do mundo, a Rede Globo. 6
Esses dados evidenciam a importância do YouTube e representam uma
nova oportunidade para o marketing político e eleitoral. “As características da
Internet permitem práticas colaborativas e interativas entre seus usuários,
produzindo novas relações sociais que passam a ser empregadas pelos
profissionais de marketing político” (PENTEADO, 2011, p.10).

6
Marinho, M. H. Pesquisa Video Viewers: como os brasileiros estão consumindo vídeos
em 2018. Acesso em 20/10/2021, disponível em: https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-
br/estrat%C3%A9gias-demarketing/video/pesquisa-video-viewers-como-os-brasileiros-
estaoconsumindo-videos-em-2018/
24

Assim o YouTube se torna um investimento de baixo custo, cujo a


rentabilidade está em atingir de maneira audiovisual milhares de usuários por
meio de vídeos e transmissões ao vivo. Além de impulsionar um conteúdo, o
YouTube oferece uma ferramenta para os canais conseguirem fidelizar seu
público: quem se inscreve acaba se conectando e dando engajamento para
receber o conteúdo que tiver interesse em suas recomendações. Dentro da
democracia brasileira pode-se verificar até aqui que as consequências da sua
popularidade foi a ampliação de debates políticos e sociais, já que os grupos
passaram a aproveitar sua gratuidade para divulgar suas ideias, costumes e
crenças. Para a comunicação política isso se tornou algo importante já que a
plataforma se moldou como um perfeito medidor de interesses tendo em vista
que o marketing político agora poderia estudar seu público a partir dos debates,
discussões e assuntos que estivessem em alta no momento na rede.
O fato de ser gratuito, como citamos a pouco, merece destaque pois
facilita sua acessibilidade, conquistando grupos com diferentes faixas de renda
na sociedade brasileira. Neto (2019) afirma que: “Muito mais do que uma mera
diversão para jovens e adultos, o YouTube é um novo veículo midiático, social,
cultural, educativo e político, tendo potencial significativo na formação e difusão
de opinião” (p.87).
Ao identificar que o YouTube representa uma nova plataforma para a
comunicação política, esse estudo buscará compreender, na sequência, a
relação da plataforma social com estratégias de marketing político recentes
como o uso da campanha permanente para impulsão constante de imagem de
uma personalidade pública com interesses políticos.

4.2 YouTube como ambiente de campanha permanente

Conforme foi definido no primeiro capítulo desta monografia, a utilização


da campanha permanente consiste basicamente em um processo contínuo onde
os políticos buscam estratégias, mesmo em períodos em que não ocorrem
25

disputas eleitorais, para se manterem em evidência junto ao público. Na prática,


os mesmos movimentos feitos durante a campanha eleitoral permanecem no
inventário das equipes de marketing com o objetivo de ajudar na construção ou
manutenção da imagem do político (a) para uma nova vitória no próximo pleito
eleitoral.

De acordo com o TSE, é “proibido por lei declarar candidatura antes da


hora e fazer qualquer pedido de voto de forma explícita ou implícita” 7. A brecha
encontrada em tempos de redes sociais foi realizar a campanha permanente com
outras vertentes, sendo a principal, controlar as narrativas e os fluxos de
informação que rodeiam temas de interesse público.

Diante disso, o YouTube se apresenta como uma ferramenta audiovisual


que possibilita a construção de uma narrativa sem nenhum questionamento ou
apuração das informações ditas, possibilitando ao partido ou político a chance
de vender a sua verdade.

“A eliminação do filtro noticioso promovido pelos meios de


comunicação de massa tornou-se um dos principais atrativos para que
os políticos utilizem mídias sociais como Facebook, Twitter e YouTube
para se comunicar diretamente com o seu público-alvo.” (JOATHAN,
2017, p.5).

As praticidades trazidas pelo YouTube geraram mudanças na forma como


as campanhas eleitorais se organizavam, quebrando conceitos do marketing
político tradicional. Lemos (2019) define que “as redes sociais passaram a dividir
o protagonismo com um destaque: a propaganda não ocorre apenas em período
eleitoral.” (p.24). É justamente aqui a grande oportunidade de um governo
realizar propaganda permanente das mais variadas formas, pois a criatividade é
uma palavra-chave para uma personalidade política conseguir engajamento.

Um dos efeitos da mudança na comunicação política foi a criação de


bolhas sociais. Lemos (2019) constata que a consequência direta na
comunicação entre canal e grupos de interesse foi a “formação de grupos
fechados ideologicamente, com maior indisposição para diálogo e debate de

7
Campanha antecipada: saiba o que pode ou não ser feito antes do período eleitoral.
TSE, 2021. Disponível em: https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2021/Junho/campanha-
antecipada-saiba-o-que-pode-ou-nao-ser-feito-antes-do-periodo-eleitoral. Acesso em
16/10/2021.
26

ideias divergentes.” (p.23). Logo a construção, propagação e afirmação de


narrativas se tornou algo mais fácil de ser feito.

Ainda mais quando consideramos que o YouTube se firmou como uma


opção acessível e bastante dinâmica para postagem de conteúdo sendo uma
“mídia audiovisual [que] possui uma influência significativa sobre a formação
cultural, social e política das pessoas” (NETO, 2019, p.86). Nesse ambiente,
grupos de extrema-direita encontram a chance de disseminar informações falsas
em larga escala. “A veiculação de ataques contra adversários políticos ou
projetos/temas que estes defendem é outra ação que, quando em período de
mandato, é constantemente associada à campanha permanente.” (JOATHAN,
2017, p.6).

Dessa forma, o YouTube concentra um fluxo de informações muito alto,


onde as influências e lideranças políticas se fazem presente por meio de uma
guerra de narrativas, considerando que a pandemia da COVID-19 se inicia no
meio de tais características, essa monografia então parte para uma análise do
canal oficial do presidente Jair Bolsonaro, para entender sua comunicação social
em um momento tão crucial da história brasileira.

4.3.3 Análise de discurso nos vídeos do canal oficial de Jair


Bolsonaro nos meses de março de 2020 e 2021

A partir de todas as definições, citações e linhas de pensamento que esse


estudo trouxe até aqui sobre o YouTube, se observou no canal oficial do
presidente Jair Bolsonaro a oportunidade de explorar o conteúdo postado ao
longo de dois momentos cruciais da pandemia no Brasil, março de 2020 e março
de 2021. Sendo que o objeto de pesquisa serão os três vídeos mais assistidos
de cada mês, tal metodologia foi escolhida por entender que uma propaganda
política consegue atingir seu objetivo com maior ênfase a partir do momento que
é mais vista. Logo uma autoridade pública consegue transmitir suas mensagens
para a sociedade com maior rapidez a partir do momento em que o vídeo atinge
um maior número de visualizações.
27

Vale ressaltar que o canal oficial de Jair Bolsonaro é de visibilidade


pública, tendo cerca de 3,5 milhões de inscritos até o fechamento desse estudo
em 01/11. Levando em consideração também todo o poder de alcance que
naturalmente o cargo de presidente trás para Bolsonaro, sendo que ele pode
utilizar o YouTube como um instrumento de construção e lançamento de
narrativas dentro da sociedade.
A pesquisa realizada foi de natureza qualitativa e teve um caráter
exploratório. Isso significa que o estudo procurou se familiarizar com o tema da
propaganda permanente na internet, por um lado; e do discurso negacionista
bolsonarista, por outro lado. O intuito foi o de construir hipóteses sobre o assunto,
conforme permitido pela própria natureza da pesquisa exploratória (GIL, p.41,
2002).
O recorte no espaço de tempo adotado (março de 2020 e março de 2021)
visa coletar informações da comunicação política exercida pelo presidente no
YouTube durante momentos emblemáticos da pandemia. A escolha de março
de 2020 é por conta do registro dos primeiros casos da COVID-19 no Brasil, além
do fechamento do comércio e o início do isolamento social. Ao escolher março
de 2021, esse estudo quer compreender quais as principais mensagens que o
presidente Jair Bolsonaro buscava levar até a sociedade em meio ao triste
aniversário de um ano da pandemia no Brasil. Vale destacar que o fechamento
dessa análise foi realizado em 1 de novembro de 2021, dessa forma todas as
informações citadas em relação aos vídeos se referem até essa presente data,
assim como a ordem de vídeos analisada.

4.3.1 Março de 2020

O primeiro mês da pandemia no Brasil é marcado pelas primeiras


contaminações e a preocupação global sobre os possíveis efeitos que o novo
coronavírus poderia causar em todos os países. Porém como vimos em tópicos
28

anteriores, Estados Unidos e Brasil sob influência de seus governos decidiram ir


publicamente na contramão das medidas de proteção recomendadas pela OMS.
Arruda (2021) descreve que “o negacionismo bolsonarista (não somente
de Bolsonaro, mas de grande parte de seus apoiadores) é um comportamento
que vem sendo adotado desde a campanha política das eleições de 2018 até os
dias atuais.” (p.87). Com isso, o mesmo mecanismo de negar desigualdades
sociais e raciais no Brasil que vimos ao longo desse estudo e que estiveram
presentes durante a campanha de 2018, foi utilizado para negar cenários e
dados apontados pela ciência. “As instituições acadêmicas e científicas, aliás,
tem sido alvo constante do Presidente Bolsonaro, numa tentativa de intervir
ideologicamente nestas organizações” (ARRUDA, 2021, p.87).
Durante março de 2020 foram postados 77 vídeos no canal oficial
do presidente Jair Bolsonaro, a seguir serão analisados os três mais populares
até o fechamento desta pesquisa em 1 de novembro de 2021.

4.3.1.1 Vídeo 1 - Presidente Bolsonaro fala na saída do Alvorada (quarta-feira)


25/03/2020.

Imagem 1 – Presidente Jair Bolsonaro responde perguntas de jornalistas na saída do palácio da


alvorada. Print tirado em 28/10/2021.
29

No momento desta pesquisa o vídeo mais assistido no canal do presidente


Jair Bolsonaro no primeiro mês da pandemia no Brasil é uma entrevista pública
com a imprensa na saída do Palácio do Alvorada 8. Na data do último acesso
realizado pela pesquisa (26/10), o vídeo tinha um total 1.238.130 visualizações.
Realizada em 25 de março de 2021 a conversa durou 16 minutos e 47 segundos,
tempo do vídeo publicado no canal. Ao analisar todo o documento, foi possível
identificar que os dois principais assuntos em pauta eram o isolamento social e
os governadores estaduais. Todavia, o contexto adotado pelo presidente nos
dois assuntos foi de críticas ao isolamento social e questionamentos às medidas
tomadas pelos governadores nesse sentido, ou seja, um posicionamento
contrário às recomendações de órgãos como a Organização Mundial de Saúde
(OMS).
O vídeo começa com o presidente Jair Bolsonaro fazendo referências a
Donald Trump. Conforme vimos ao longo do capítulo 2 deste trabalho, o até
então líder americano foi uma das personalidades públicas mais influentes para
que o governo brasileiro adotasse uma narrativa de negar todos os métodos
científicos recomendados pela OMS, inclusive defendendo a abertura de todos
os setores comerciais enquanto a palavra de ordem internacional era o
isolamento, como identificou Fonseca (2020, p. 63).
Um estudo da USP São Carlos identificou que o isolamento social
salvou uma vida a cada dois minutos em São Paulo 9. Nada, porém, que
mudasse a narrativa que Jair Bolsonaro estava começando a proliferar na
sociedade brasileira em março de 2020. Para agravar, o presidente tinha ciência
do que poderia acontecer, pois a imprensa presente alertava o que estava por
vir, sendo que um repórter questionou o mandatário acerca de estudos que na
época apontavam que a COVID poderia provocar mais de 200 mil mortes no
Brasil, nesse momento Bolsonaro de maneira irônica diz "Qual país?". Logo na
sequência, o presidente diz: "Eu vi um site de esquerda falar que eu seria
responsável por 498 mil mortes" (BOLSONARO, 2020), um ano e três meses

8
BOLSONARO, Jair. Presidente Bolsonaro fala na saída do Alvorada (quarta-feira)
25/03/2020. YouTube, 25/03/2020. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=vp3A_8vywC0&t=35s&ab_channel=JairBolsonaro.
9
Isolamento social salva uma vida a cada dois minutos em São Paulo. Jornal da USP,
2020. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/isolamento-social-salva-uma-vida-a-cada-
dois-minutos-em-sao-paulo/. Acesso em: 28/10/2021.
30

após essa declaração, o Brasil chegou no dia 19 de junho de 2021 a triste marca
de 500 mil mortos pela COVID-19.
O presidente prossegue durante toda a entrevista, divulgando
informações não comprovadas e pedindo para que governadores e prefeitos
desistissem do isolamento social e das medidas que eram estabelecidas nos
estados para manter a quarentena. Dessa forma, a comunicação política de Jair
Bolsonaro, passou a tratar como adversário todas as autoridades que aderissem
ao isolamento. "Alguns poucos governadores estão fazendo demagogia barata
em cima disso, para esconder outros problemas, se colocam junto a mídia como
os salvadores da pátria" (BOLSONARO, 2020).
Vale destacar que uma das características do discurso bolsonarista é a
busca pelo conflito permanente, mesmo diante do grave momento em que o
Brasil começava a atravessar e que exigia uma unidade nacional, o presidente
atacou autoridades estaduais e a imprensa por noticiar consensos científicos. No
caso se identifica que a extrema direita neopopulista tem sua própria estratégia
de busca pelo conflito permanente que acaba se encontrando com um discurso
militarizado de combate ao inimigo interno a todo instante. (NETO, 2019, p.96).
E mesmo com as orientações da OMS, o presidente continuou a criticar o
isolamento social, colocando questões econômicas acima das vidas. "Se nós nos
acovardamos, for pro discurso fácil, todo mundo em casa... vai ser o caos.
Ninguém vai produzir mais nada. Desemprego tá aí e vai acabar o que tem na
geladeira " (BOLSONARO, 2020).
Um outro ponto para se destacar acontece ao final da entrevista, quando
ao ser cortejado por um apoiador afirma “Os jovens não tem problema. Você aí:
você pode ter [COVID] que não vai lhe acontecer nada”. Um levantamento feito
pelo canal de saúde do site UOL, o VivaBem a partir de dados do cartório de
registro civil comprovou que a COVID-19 foi a doença que mais matou jovens
10
entre 10-19 anos no primeiro semestre de 2021 . Tal estudo contradiz a
afirmação dita pelo presidente aos seus apoiadores

10
Covid já é maior causa de mortes por doença de pessoas entre 10 e 19 anos. VivaBem
UOL, 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/07/20/covid-
ja-e-maior-causa-de-mortes-naturais-de-jovens-de-10-a-19-anos-no-pais.htm. Acesso em
29/10/2021.
31

3.3.1.2 Vídeo 2 - Presidente Jair Bolsonaro é entrevistado por Datena.

Imagem 2 – O jornalista José Luiz Datena conversa com o presidente Jair Bolsonaro que é
representada por meio de uma foto com a bandeira do Brasil ao fundo. Print tirado em
28/10/2021.

O segundo vídeo mais popular no mês de março de 2020 traz uma


entrevista do presidente Jair Bolsonaro com o jornalista José Luiz Datena em
seu programa 90 minutos, transmitido pelo YouTube através da rádio
Bandeirantes 11. O vídeo foi postado em 16 de março de 2020 e na data que foi
acessado para essa análise (29/10/21) tinha 1.004.546 visualizações. Ali, os
principais tópicos de resposta formulados pelo presidente Jair Bolsonaro são
semelhantes ao tom da comunicação política utilizada no primeiro vídeo
analisado: críticas às medidas sanitárias reconhecidas internacionalmente e
questionamentos aos governadores estaduais que aderiram ao isolamento

11
BOLSONARO, Jair. Presidente Jair Bolsonaro é entrevistado por Datena. YouTube,
16/03/2020. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=M0za8MSoO64&t=185s&ab_channel=JairBolsonaro.
32

social. Também reaparece, de forma notória, a minimização dos possíveis


impactos da pandemia no Brasil.
Logo no começo da entrevista, o presidente diz que "Existe o perigo, mas
está havendo um superdimensionamento nessa questão [coronavírus], nós não
podemos parar a economia." (BOLSONARO, 2020). De acordo com Fonseca
(2020), ao colocar a economia acima da vida, Jair Bolsonaro exibe toda a
“doutrina neoliberal, para a qual a liberdade de mercado é algo canônico e que,
portanto, não pode ser relativizada, nem mesmo em situações extremas, como
no caso da pandemia.” (p.67). Assim, Fonseca (2020) prossegue afirmando que
a “tentativa de convencer a população de que somente o exercício do trabalho é
fonte para combater qualquer problema, inclusive os de ordem sanitária,
abastece-se nessa fonte do utilitarismo econômico” (p.68).
Lima (2020) não apenas concorda com esse contraponto em relação ao
discurso de Jair Bolsonaro, como afirma que: “ele não estava pensando na saúde
da população, mas, sim, que o trabalho feito pelas pessoas era mais importante
do que as suas próprias vidas.” (p.81). Dessa forma, o presidente buscava
ganhar o apoio da população por se colocar como um defensor dos interesses
econômicos. Isso acaba se tornando em uma marca da sua estratégia de
campanha para negar apoio ao isolamento social.
Outro ponto que aparece na entrevista e que merece destaque, foi a
defesa das aglomerações de apoiadores bolsonaristas em atos pró-governo,
pedindo o fim do isolamento e a reabertura do comércio. Ao trazer o
negacionismo científico para o campo político, o presidente criou um clima de
campanha permanente em seu eleitorado para defender sua tese. “Através das
redes sociais estimulou passeatas e rompeu o isolamento para cumprimentar
apoiadores, menosprezando o risco de transmissão da COVID-19, a quem
chamou de gripezinha” (FARIAS, 2020, p.4).
33

Imagem 3 - Em meio aos primeiros casos de COVID-19 no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro
ignora o isolamento social e cumprimenta seus apoiadores durante ato em frente ao Palácio do
Alvorada, sem o uso de máscara ou qualquer distanciamento social. Foto: Sérgio Lima, 2020.

Tais acontecimentos foram questionados por Datena ao longo da


entrevista, mas Bolsonaro em momento algum condenou os atos, defendendo
que as manifestações eram espontâneas. "Eu estava dentro da presidência da
república, fui para rampa, fui ali no... tem uma cerquinha na frente, e
cumprimentei o povo, qual o problema nisso? Qual o crime nisso?"
(BOLSONARO, 2020).
Na oportunidade o presidente cumprimentou mesmo com a suspeita de
estar infectado pelo vírus. Os protestos pró-governo aconteceram no dia 15 de
março e conforme Lima (2020) nos confirma, o presidente participou dos atos
sem o uso máscara, tocando em diversas pessoas, segurando celulares,
fazendo selfies e defendendo que tais manifestações não tinham preço. (p.77).
Tal atitude aconteceu diante de um momento em que a aglomeração de pessoas
poderia ser um risco a saúde dos envolvidos e com as pessoas que viessem a
ter contato com os presentes na manifestação.
34

Na oportunidade, o mandatário brasileiro havia voltado de uma viagem


com Donald Trump nos Estados Unidos: “de onde mais de vinte pessoas de sua
comissão contraíram o vírus. Bolsonaro realizou três testes que demonstraram
que ele não estava com a doença.” (LIMA, 2020, p.77). Porém tal fato faz esse
estudo refletir em como a história poderia ter sido diferente, com o presidente
brasileiro repassando o coronavírus aos presentes no ato. "Eu tenho que dar o
exemplo em todos os momentos, e fui realmente, apertei a mão de muita gente
em frente ao Palácio da presidência da república para demonstrar que eu estou
com o povo". (BOLSONARO, 2020).
A entrevista navega durante seus 50 minutos nos assuntos citados acima
e não demorou muito tempo para a sociedade brasileira assistir novamente o
ressurgimento do “gabinete do ódio”, abastecido pelas inúmeras declarações de
teor negacionista que Jair Bolsonaro vinha dando durante março de 2020.
“Enquanto isto, a máquina de propaganda do governo Bolsonaro – o
chamado “gabinete do ódio” – propagava nas redes sociais grosseiras
falsificações, produzindo uma enorme avalanche de contrainformações
que visavam negar a gravidade da pandemia e estimular as pessoas a
manter sua rotina normal, atacando e difamando os governadores de
estados e prefeitos que tinham decretado medidas de isolamento”
(CALIL, 2020, p.179).

Nota-se aqui que toda propaganda negacionista de Bolsonaro acabou


fazendo a campanha permanente se descolar das declarações públicas do
presidente para literalmente entrar em prática nas redes de apoiadores, pois
ganhar a narrativa sobre a pandemia, passou a ser algo essencial na busca de
sua reeleição em 2022.

4.3.1.3 Vídeo 3 - Mostre esse vídeo para aqueles que estão anestesiados pela
mídia, pelo politicamente correto...
35

Imagem 4 – O apoiador de Jair Bolsonaro afirma trabalhar como funcionário em um hospital,


utilizando trajes característicos, aponta o dedo para a câmara ao afirmar que o presidente tem
razão em ser contra o isolamento social. Print tirado em 29/10/2021.

Com mais de 700 mil acessos, o terceiro vídeo mais popular de março de
12
2020 até o fechamento desta análise (29/10/21) , foi postado em 26 de março
de 2020 e exibe um apoiador do presidente Jair Bolsonaro que repete
fundamentos exatos do discurso que o presidente tentava promover na
sociedade nesse período como resposta pública do governo à pandemia de
COVID-19. É interessante registrar que o título do vídeo já estimula o
compartilhamento do conteúdo com quem, segundo Jair Bolsonaro, está
“anestesiado pela mídia”. Por não se identificar nominalmente, esse estudo irá
se referir ao autor do vídeo como “apoiador”, sendo que o mesmo se apresenta
como um funcionário de hospital e opina contra o isolamento social. Criticando a
imprensa por segundo ele, criar um clima de “caos desnecessário” no Brasil com
a chegada do novo coronavírus.

12
BOLSONARO, Jair. - Mostre esse vídeo para aqueles que estão anestesiados pela
mídia, pelo politicamente correto. YouTube, 26/03/2020. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=alF-lbFkV_E&t=49s&ab_channel=JairBolsonaro
36

Com os dados que temos no momento é possível inferir que o vídeo


cumpre um papel mais importante entre os apoiadores do presidente, reforçando
suas crenças e posicionamentos de que a mídia estaria manipulando a opinião
pública naquele momento sobre os possíveis efeitos que a COVID-19 poderia
provocar. Dessa forma os oposicionistas de Bolsonaro, que sinalizam
positivamente ao isolamento social estariam sob o efeito da tal “anestesia
midiática”. Essa hipótese reforça os indícios desta pesquisa e permite entender
o conteúdo do canal de Bolsonaro mais como propaganda política e menos como
jornalismo/veiculação de notícias.
Temos nesse vídeo uma clara demonstração da influência do discurso
negacionista na prática, pois o apoiador utiliza um tom verbal em muitos
momentos semelhantes ao do próprio presidente. "É uma faca de dois gumes o
que o Bolsonaro falou, ele disse que quem ficar em casa, todo mundo travado,
o país vai entrar em colapso e ele está certo". (BOLSONARO, 2020). Fonseca
(2020) não apenas discorda desse argumento contra o isolamento social como
nos lembra que: “Por trás disso tudo, ainda que em mau disfarce, estava a
primazia da economia sobre todas as demais esferas do social — inclusive a
vida.” (p.65).
Durante os 6 minutos de vídeo, o apoiador ataca a mídia e desacredita a
imprensa, seguindo a mesma linha argumentativa identificada nas entrevistas de
Jair Bolsonaro: "Gente, cuidado com a mídia, a mídia não tem interesse na
população, a mídia não costuma se preocupar com pobre, a mídia... pelo amor
de deus" (BOLSONARO, 2020). Podemos interpretar esse apoiador como um
termômetro da sociedade civil a partir da ótica bolsonarista.
Jair Bolsonaro não aparece no vídeo, mas ao publicá-lo em sua conta
oficial no YouTube, revela um interesse na difusão do conteúdo. Nessa altura, o
presidente era duramente criticado por diversas associações médicas e
comunidades científicas por rejeitar as medidas sanitárias necessárias para o
controle da pandemia. O vídeo passa a impressão de que uma representação
“não anestesiada” da classe médica está com Bolsonaro, reforçando a crítica à
imprensa e forçando uma associação entre a crítica a Bolsonaro e a suposta
anestesia midiática de uma imprensa mal-intencionada:
“Então não vá na onda da televisão, não vá na onda da mídia não, esse
pessoal não tem interesse em você, nunca teve, não é agora não, nunca teve! E
37

o Bolsonaro está tendo, ele está se preocupando, porque o país não pode parar.”
(BOLSONARO, 2020). O apoiador de Jair Bolsonaro basicamente repete seu
discurso com outras palavras, colocando a economia acima das vidas.
A imprensa brasileira acabou se transformando em um dos segmentos
mais criticados pelo bolsonarismo durante a pandemia. Os discursos do
presidente também se tornaram a base de argumentação de seus apoiadores.
“A mídia, costumeiramente, retoma as falas do presidente não só para noticiá-
las, mas também para tecer críticas sobre elas e sobre a maneira como o
presidente tem se comportado diante dos desafios que se lhe apresentam”
(MELLO, 2021, p.2486). Pensando na construção da narrativa negacionista, o
fato dos principais veículos de comunicação combaterem toda desinformação,
passou a ser uma pedra no sapato do bolsonarismo.
É possível concluir que, ao longo do mês de março, o negacionismo
científico propagado por Jair Bolsonaro foi se tornando em uma espécie de
construção argumentativa sistematicamente divulgada em seu canal e
amplamente compartilhada por parte de seus apoiadores para responder às
críticas à gestão do governo federal sobre a pandemia.

4.3.2 Março de 2021

Um ano após o início da pandemia de COVID-19 no Brasil, o país


registrava 321.886 mortes ocasionadas pelo vírus. Nesse período, a rejeição ao
presidente aumentou, como também os questionamentos públicos às estratégias
do governo federal de gestão da pandemia e as decorrentes discussões e
desentendimentos com a imprensa. Com relações sempre conturbadas com a
imprensa, a estratégia de comunicação pública do governo se transforma e o
presidente passa a ter menos vídeos expondo suas falas, as entrevistas vão
dando lugar, cada vez mais, às transmissões ao vivo – as lives, por onde o
mandatário brasileiro mais se expôs.
Por meio das lives, Bolsonaro e a sua equipe criaram um ambiente de
transmissão de conteúdos completamente pautado pelos seus interesses,
blindado e portanto, livre dos questionamentos da imprensa. Embora tenham
38

sido publicadas apenas 4 lives ao longo de março de 2021, esse estudo destaca
que dos três vídeos mais populares até aqui (30/10/21), dois são justamente
lives. Durante o mês de março de 2021 foram 64 vídeos publicanos no canal de
Jair Bolsonaro no YouTube. Esse estudo contabilizou pelo menos 17 vídeos
relacionados a ações gerais do governo federal como obras ou inaugurações,
sendo que esse tópico acabou sendo o mais popular, em uma espécie de
prestação de contas.
Por outro lado, as entrevistas praticamente sumiram do seu canal. Em
2020, esse trabalho contou pelo menos 19 entrevistas publicadas, o tópico mais
popular, uma situação bem diferente um ano depois, onde praticamente não
existe conteúdos desta categoria. Pois essa monografia não levou em
consideração conversas do presidente com apoiadores ou com terceiros que
fossem adeptos a narrativa negacionista de Jair Bolsonaro, pois não houve
questionamentos, somente concordância ou aceitação com suas falas. Dessa
forma em muitas oportunidades, o mandatário brasileiro se utilizou da TV Brasil
em seu canal para se comunicar ou replicar notícias na tentativa de tentar
preencher o espaço dos grandes veículos de comunicação do Brasil. Vale
destacar que a TV Brasil é totalmente financiada economicamente pelo governo
federal.

4.3.2.1 Vídeo 4 - Live de Quinta-feira - 18/03/2020 - Presidente Jair Bolsonaro


39

Imagem 5 – O presidente Jair Bolsonaro gesticula durante live ao lado do presidente da caixa
econômica federal Pedro Guimarães e de sua intérprete de libras Elizângela Castelo Branco.
Print tirado em 30/10/2021.

No momento de realização desta pesquisa, o vídeo mais acessado no


canal do presidente Jair Bolsonaro entre os publicados em março de 2021 é uma
live com pouco mais de uma hora de duração13. O vídeo tinha 398.958
visualizações até o fechamento da análise deste vídeo (30/10/21). Vale o registro
de que ao postar no YouTube, notadamente erraram a data da publicação,
colocando o ano de 2020 no título, porém a transmissão ocorreu no dia 18 de
março de 2021 e nela, além do presidente da república e de sua intérprete de
libras Elizângela Castelo Branco, também se faz presente como convidado o
presidente da caixa econômica federal, Pedro Guimarães.
Jair Bolsonaro abre a transmissão exaltando e defendendo as
manifestações pró-governo que ocorriam naquele momento. Assim como nos
vídeos de março de 2020, o presidente continua a dizer que as manifestações
são espontâneas, e que não são provocadas por ele. Contraditoriamente, em
outras publicações do seu canal, Bolsonaro incentiva e celebra os atos que
desobedecem às políticas de isolamento para apoiar publicamente o governo,
conforme vimos na análise do vídeo 2, onde ao ser questionado por José Luiz
Datena sobre as aglomerações de bolsonaristas, o presidente as celebra como

13
BOLSONARO, Jair. Live de Quinta-feira - 18/03/2020 -Presidente Jair Bolsonaro.
YouTube, 18/03/2021. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=xVWLlFdRNt8&t=4s&ab_channel=JairBolsonaro.
40

“o povo na rua” mesmo que notadamente os atos tenham um viés ideológico por
trás.
Mesmo um ano depois do começo das contaminações por COVID-19, o
presidente insistia em ser contra o isolamento social: “O que eu vejo é que a
população ainda está um pouco dividida, tem um pessoal que ainda continua
insistindo no fique em casa, e outros que querem trabalhar por necessidade"
(BOLSONARO, 2021). Essa frase acaba comprovando na prática uma tese
sugerida ao longo desta monografia, onde o presidente se utiliza do
negacionismo científico para gerar um clima de conflito permanente dentro da
sociedade, buscando dividir a população nos temas que envolvem a COVID-19

“sua estratégia discursiva, de busca pelo conflito permanente,


perpassa por uma performance populista que estabelece uma ideia
de povo totalizante e infalível, bem como se estrutura na lógica militar
do inimigo interno a ser combatido, o que pode ser interpretado como
representação de uma maioria – representada na ideia de “povo”,
“sociedade”, “cidadão de bem” (NETO, 2019, p.96).

Oro (2020) nos lembra que a “OMS e os especialistas de todo o mundo


preconizam insistentemente aos governos a necessidade de distanciamento
social como condição para a não disseminação do vírus” (p.131). Tais
recomendações são rechaçadas a todo instante por Bolsonaro. "Pra mim é muito
fácil eu aderir ao lockdown, confinamento, feche tudo, é bacana, é politicamente
correto, mas eu estaria traindo minha consciência" (BOLSONARO, 2021).
Embora o presidente continuasse a ser contra o isolamento social, um
assunto bastante predominante nessa live é a cloroquina, que surge como uma
espécie de solução do campo bolsonarista para a pandemia. Naquela altura do
campeonato, a narrativa negacionista não se sustentava sem que o presidente
prestasse contas aos seus apoiadores sobre uma resolução para a COVID-19,
e em vez de aderir, ainda que tardiamente, ao apoio aos protocolos sanitários
recomendados pelas organizações internacionais de saúde, Bolsonaro reforçou
à propaganda de supostos tratamentos à COVID, que não tinham – e ainda não
têm – eficácia comprovada. Em 23 de março de 2021, a Associação Médica
Brasileira divulgou uma nota afirmando que a utilização de medicamentos sem
eficácia comprovada para o tratamento de COVID-19 deveria ser banida do
41

14
Brasil , contradizendo o presidente e suas inúmeras demonstrações de apoio
ao uso da cloroquina.

Imagem 6 - Bolsonaro faz propaganda da cloroquina durante live em abril de 2020. Vídeo acabou
sendo removido pelo YouTube por desinformação pública. Foto: Portal Correio Braziliense, 2020

“Em meio à pandemia, um novo garoto propaganda surge na mídia


brasileira, o presidente do Brasil: Jair Bolsonaro. O presidente passou a aparecer
na mídia como o salvador da Pátria, ao indicar, “prescrever” e incentivar o
consumo do medicamento Cloroquina e Hidroxicloroquina.” (JESUS, 2020, p.7).
O diagnóstico de Jesus é resultado de uma série de estudos feitos durante a
pandemia, entre os quais podemos destacar um trabalho feito por mais de 100
cientistas para a revista científica Nature, onde a utilização da cloroquina é
considerada como um medicamento ineficaz para tratar ou curar o novo
coronavírus 15.
Tal propaganda política para a utilização de um remédio classificado pela
própria AMB como ineficaz para combater a COVID-19 se apresenta em muitos
momentos desta live. "O pessoal que foi submetido a algum tratamento, dê seu

14
Associação Médica Brasileira diz que uso de cloroquina e outros remédios sem
eficácia contra Covid-19 deve ser banido. AMB, 2021. Disponível em:
https://amb.org.br/noticias/associacao-medica-brasileira-diz-que-uso-de-cloroquina-e-outros-
remedios-sem-eficacia-contra-covid-19-deve-ser-banido/. Acesso em 31/10/2021.
15
Estudo constata ineficácia de cloroquina e hidroxicloroquina contra Covid-19. CNN
Brasil, 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/estudo-constata-ineficacia-de-
cloroquina-e-hidroxicloroquina-contra-covid-19/. Acesso em 31/10/2021.
42

testemunho... médicos! Vocês aqui têm o direito e o dever quando uma doença
ainda não está perfeitamente conhecida" (BOLSONARO, 2021). Nesse trecho o
presidente claramente incentiva as pessoas a não apenas usarem o
medicamento, como também divulgarem que estão utilizando. Um estudo da
UFV apontou que a utilização da hidroxicloroquina pode acarretar em efeitos
16
colaterais graves ao corpo humano .
Por outro lado, Jair Bolsonaro não mede esforços em criticar parte da
sociedade civil que preferiu ouvir o caminho científico e não utilizar a cloroquina:
"Se tu começar a sentir um negócio esquisito lá, tu segue a receita do ministro
Mandetta, ‘cê vai pra casa. Quando você tiver lá com falta de ar, ‘cê vai pro
hospital” (BOLSONARO, 2021). Tal fala também se caracteriza como uma
estratégia de discurso voltada para manter o clima de conflito permanente na
sociedade. Neto (2019) nos confirma que o seu discurso “busca o conflito, mas
não permite o diálogo com o contraditório” (p.78).
Ao final desta fala em que estimula o conflito permanente contra os não
adeptos a cloroquina, o presidente imita uma pessoa com falta de ar, uma atitude
extremamente questionada por grande parte dos meios de comunicação e
dentro da sociedade, tendo em vista que naquele momento, o estado de Manaus
estava sofrendo com falta de oxigênio nos hospitais. Oro (2020) classifica que “o
presidente produz uma racionalização para esconder a negligência
governamental e a ausência de uma política pública nacional e unificada de
enfrentamento da pandemia” (p.142).
Por mais que esse estudo vá discutir sobre a forma como Jair Bolsonaro
lidou com a vacinação na análise do vídeo 6, é necessário registrar que nessa
live, o presidente tratou da questão em tom de prestação de contas. "Então o
Brasil está fazendo o seu papel, é um dos países que melhor faz o seu papel no
tocante a vacina e os números bem demonstram isso" (BOLSONARO, 2021).
A forma como o presidente Jair Bolsonaro direcionou as suas declarações
de alguma forma impactou nas ações do seu governo e o resultado foram quatro
trocas dentro do ministério da saúde em um ano de pandemia, o que resultou na

16
Além de ineficaz contra covid, estudo diz que hidroxicloroquina pode causar efeito
colateral grave. ESTADÃO, 2020. Disponível em:
https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,alem-de-ineficaz-contra-covid-estudo-diz-que-
hidroxicloroquina-pode-causar-efeito-colateral-grave,70003512078. Acesso em 31/10/2021.
43

“CPI da Covid-19” instalada no senado federal em 27 de abril de 2021, para


apurar a condução do governo no enfrentamento da pandemia. As vacinas foram
um dos itens a serem investigados e um relatório apresentado à CPI da COVID-
19 acusou o governo federal de negligenciar a compra dos imunizantes em 2020,
17
o que atrasou o começo da vacinação no Brasil . O presidente da Pfizer na
América Latina, Carlos Murillo, foi chamado a depor na CPI da COVID-19 onde
afirmou que o presidente Jair Bolsonaro e o ministério da saúde ignoraram ao
18
menos cinco ofertas de vacina feitas entre agosto e novembro de 2020 .
Dessa forma podemos concluir a análise desta live entendendo que os
posicionamentos negacionistas do presidente em relação às medidas sanitárias
não mudaram, somente foi acrescido a sua comunicação política, uma solução
para a COVID-19, a cloroquina. Além de realizar uma campanha permanente por
meio da narrativa de negação à ciência, o presidente também se tornou uma
espécie de “garoto-propaganda” de um medicamento sem eficácia comprovada,
como demonstrou os estudos e trabalhos que essa monografia citou ao longo
desta análise.

4.3.2.2 Vídeo 5 - Live de Quinta-feira -11/03/2021- Presidente Jair Bolsonaro

17
Atraso para aquisição de vacinas ganha destaque na minuta do relatório da CPI da
Covid. G1, 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/cpi-da-
covid/noticia/2021/10/19/atraso-para-aquisicao-de-vacinas-ganha-destaque-na-minuta-do-
relatorio-da-cpi-da-covid.ghtml. Acesso em 31/10/2021.
18
Diretor da Pfizer escancara atraso letal do Governo Bolsonaro na compra de vacinas.
El País, 2021. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-05-13/diretor-da-pfizer-
escancara-atraso-letal-do-governo-bolsonaro-na-compra-de-vacinas.html. Acesso em
01/11/2021.
44

Imagem 7 – Em live, Jair Bolsonaro realiza a leitura de feitos do governo durante a pandemia.
Marcelo Moraes (á esquerda) e Elisangela (á direita) acompanham o presidente.
Com 370 mil visualizações (até 01/11/21), o segundo vídeo mais popular
19
do mês foi postado em 11 de março de 2021 , onde Jair Bolsonaro aparece
com sua intérprete de libras e também com alguns convidados. No começo da
live aparece na companhia do deputado federal de Santa Catarina, Daniel Freitas
(PSL), mas passa a maior parte da live com Marcelo Morales, secretário de
Pesquisa e Formação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovações (MCTI). O fato de Bolsonaro passar a maior parte da live com Marcelo
Morales, um secretário ligado a toda parte científica do governo, sugere para
essa monografia que havia a intenção de trabalhar sua imagem publicamente
contra as críticas que vinha sofrendo da comunidade científica durante todo o
primeiro ano de pandemia.
Porém as críticas públicas vindas da sociedade civil ao governo Bolsonaro
também estavam incomodando o presidente que, além de questionar os
governadores estaduais e o isolamento social, passou a falar abertamente com
seus opositores:
Em especial a aqueles que nos criticam, sem qualquer base, ah o
governo abandonou o tratamento da COVID, ah ele é anti-vacina, ele
falou que era uma gripezinha... estou esperando alguém mostrar um
áudio ou vídeo meu falando que era uma gripezinha" (BOLSONARO,
2021).

19
BOLSONARO, Jair. Live de Quinta-feira -11/03/2021- Presidente Jair Bolsonaro.
YouTube, 11/03/2021. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=CcFfO5rM_EI&t=46s&ab_channel=JairBolsonaro.
45

A referida declaração onde o presidente classifica a COVID-19 como uma


“gripezinha” se encontra no pronunciamento público feito ao vivo na televisão e
20
rádio no dia 24 de março de 2021 . Nesta oportunidade o presidente já havia
adotado uma postura de minimizar os impactos da COVID-19, gerando críticas
públicas.
Ribeiro (2020) nos explica que para “Esse setor da sociedade, o discurso
presidencial, que menosprezava a doença como "gripezinha ou resfriadinho" e
apressava em muito a volta à normalidade, soava absurdo.” (p.37). A irritação de
Jair Bolsonaro com seus opositores se fez bem presente em outros momentos
durante a live, como argumento para não ouvir sua oposição, acusou seus
críticos de serem agressivos em seus questionamentos ao governo federal.
"Alguns podem estar perguntando né, e você presidente? Tá fazendo o que?
Que é comum né, tá fazendo nada? E começa uma série de até mesmo
agressões.. não dá para dialogar com esse tipo de gente né" (BOLSONARO,
2021).
Embora visivelmente estivesse incomodado com seus opositores, as
críticas aos governadores estaduais também persistiam. "Tem gente que tá
morrendo e eu não quero que morra, diferentemente de alguns governadores,
eu tenho que falar" (BOLSONARO, 2021). Sem qualquer tipo de comprovação,
o presidente insinua que alguns governadores desejam o óbito de pessoas,
apenas pelo fato de as autoridades estaduais seguirem as recomendações feitas
pela OMS, o que não agradava o presidente, que contraditoriamente continuava
celebrando as aglomerações de apoiadores bolsonaristas, desafiando as demais
governantes a saírem nas ruas. "Eu ando no meio do povo, eu duvido que esse
governador da Bahia, do Rio de Janeiro ou do Rio Grande do Sul vá no meio do
povo. Ele vai falar 'mas eu não quero contaminar ninguém' bota três máscaras e
vai no meio do povo" (BOLSONARO, 2021)
Oro (2020) acredita que a polarização forçada pelo negacionismo
bolsonarista acabou criando algumas divisões na sociedade: “os bolsonaristas
tendem a discordar das regras de distanciamento social e a não usar máscaras
de proteção facial nas vias e espaços públicos, enquanto que os não-

20
PLANALTO. Pronunciamento do presidente da República, Jair Bolsonaro (24/03/2020).
YouTube, 24/03/2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Vl_DYb-
XaAE&t=217s&ab_channel=Planalto.
46

bolsonaristas tendem a agir de forma contrária” (p.142). Ignorando


completamente o risco de proliferar as contaminações por COVID-19, o
presidente demonstrou ao longo da live um descontentamento com quem não
aprovava sua ida às aglomerações promovidas por apoiadores. "Quando eu vou
pro meio do povo, me criticam, no começo, março do ano passado, eu fui pra
Ceilândia, Taguatinga. Eu tenho que estar no meio do povo. Eu sou chefe, eu
sou general, [tenho] que estar com a tropa" (BOLSONARO, 2021).
Dentro do que esse estudo propõe, o fato do presidente ter articulado por
meio de seus vídeos no YouTube uma estratégia de comunicação política, onde
o mesmo propagava o negacionismo com um interesse político de ganhar a
narrativa sobre a COVID-19, acabou fazendo seus apoiadores saírem de suas
casas como se estivessem em um ano eleitoral, onde o candidato a ser derrotado
eram as recomendações impostas pela OMS.“O fato é que o presidente eleito
pela maioria do povo brasileiro, tem seus seguidores, tem credibilidade em
grande parte da população, que acredita em seu discurso.” (JESUS, 2020, p.10).
Na live, Jair Bolsonaro se aproveita da ausência de questionamento por
parte da imprensa para espalhar desinformação e em outro momento afirma que
“O efeito colateral desse lockdown está sendo mais danoso que o próprio vírus”
(BOLSONARO, 2021). De acordo com um estudo da UFRJ, o fato da maioria
dos estados brasileiros ter adotado o isolamento social acabou salvando cerca
21
de 118 mil vidas em um mês.
Se aproveitando de sua influência pública, principalmente entre seus
eleitores mais fiéis, o presidente continua estimulando a utilização da cloroquina,
mesmo sabendo que o remédio não é eficaz, como o próprio diz nesse trecho:
"Se você está tomando um negócio para combater alguma coisa... ‘Ah não tem
comprovação científica’. Não tem. Mas não tem um remédio específico também,
deixa o cara tomar." (BOLSONARO, 2021). Jesus (2020) afirma que tal discurso
é irresponsável, porque além de incentivar o consumo de um medicamente sem
a eficácia comprovada, incentiva a prática da automedicação para uma

21
Isolamento social salvou 118 mil vidas em um mês, estima estudo da UFRJ. Correio
Braziliense, 2020. Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2020/07/25/interna-
brasil,875164/isolamento-social-salvou-118-mil-vidas-em-um-mes-estima-estudo-da-ufr.shtml.
Acesso em 26/09/2021.
47

sociedade que pode ingerir sem sequer saber os efeitos nocivos por trás deste
remédio. (p.10).
É possível concluir que nessa live o presidente do Brasil mantém um
posicionamento negacionista, incentivando as aglomerações que defendem sua
narrativa anticientífica e, mesmo sabendo que a cloroquina é um medicamento
ineficaz, continua a fazer uma propaganda da sua utilização na tentativa de
prestar contas aos seus apoiadores sobre a gestão da pandemia.

4.3.2.3 Vídeo 6 - Vacinas/FIOCRUZ.

Imagem 8 – Orador anuncia a chegada e produção de vacinas pelo governo federal.


Em março de 2021 a vacinação contra a COVID-19 já tinha sido iniciada
no Brasil, e o assunto mobilizava fortemente a imprensa e a opinião pública.
Ainda que o discurso bolsonarista em escrutínio nesta pesquisa carregue marcas
evidentes do anticientificismo, a vacinação é discutida em um dos vídeos
postados em março de 2021 no canal de Jair Bolsonaro e que, no momento da
pesquisa, era o terceiro mais acessado pelos usuários. Postado em 19 de março
48

de 2021, o vídeo contava com 348.053 visualizações até o fechamento desta


análise (01/11) 22.
Dos vídeos analisados até aqui, esse é o que tem menor duração, sendo
35 segundos de divulgação e exaltação da chegada das vacinas que seriam
produzidas pela Fundação Oswaldo Cruz. "Hoje é um dia histórico para o Brasil
e para os brasileiros, a FioCruz entrega seu primeiro lote de vacinas de um
milhão e 80 mil doses, produzidas em território nacional" (BOLSONARO, 2021).
Esse estudo tentou de todas as formas investigar o nome do orador presente no
vídeo para entender sua relação com o governo Bolsonaro, porém não obteve
êxito na busca. De todo o modo, o conteúdo presente no vídeo é o foco principal,
mais como esse estudo reservou esse espaço para tratar da questão das vacinas
com maior ênfase, também será trazido fatos e acontecimentos que
influenciaram o presidente Jair Bolsonaro a postar um vídeo de promoção de
vacinas em seu canal oficial.
O tema principal do vídeo é uma exaltação com o novo lote de vacinas,
onde o orador celebra com bastante entusiasmo em seu discurso. Tal fato acaba
contrastando com a postura adotada por Jair Bolsonaro ao longo do primeiro ano
de pandemia no Brasil, onde fez constantes questionamentos públicos contra a
vacina, especialmente contra o imunizante Coronavac. Exatamente três meses
antes da publicação desse vídeo, em 19 de dezembro de 2020 o presidente dizia
que não tinha pressa em comprar vacinas e que não entendia o sentimento da
população em querer iniciar a vacinação o mais rápido possível.

"A pandemia está chegando ao fim. Estamos com uma pequena


ascensão agora, o que chama de um pequeno repique, pode
acontecer. Mas pressa para a vacina não se justifica, porque você
mexe com a vida das pessoas. Vai inocular algo em você e seu sistema
imunológico vai agir de forma imprevista." 23.
A visão de Jair Bolsonaro sobre a vacinação só começou a mudar pouco
menos de um mês depois, em 17 de janeiro de 2021, com a enfermeira Mônica
Calazans se tornando a primeira pessoa a ser vacinada no Brasil, justamente
com o Coronavac, imunizante que Jair Bolsonaro tentou desqualificar durante
todo o primeiro ano de pandemia. O fato histórico acabou sendo uma vitória

22
BOLSONARO, Jair. - Vacinas/FIOCRUZ. YouTube, 19/03/2021. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=wWvXfaxCjyg&ab_channel=JairBolsonaro.
23
Jair.Bolsonaro diz que não precisa ter pressa pela vacina. IG, 2020. Disponível em:
https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2020-12-19/bolsonaro-diz-que-nao-precisa-ter-pressa-
pela-vacina.html. Acesso em 01/11/2021.
49

política de um dos maiores desafetos públicos de Jair Bolsonaro, trata-se de


João Dória (PSDB), o governador de São Paulo.

“Bolsonaro criticou os políticos que não seguiram suas orientações, em


especial o governador de São Paulo, João Doria, com quem acabou
travando uma disputa político-ideológica pelo capital simbólico da
primeira pessoa a ser vacinada no Brasil.” (MONARI, 2021, p.14).

Imagem 9 – Primeira pessoa a ser vacinada no Brasil, a enfermeira Mônica Calazans recebe sua
primeira dose sob olhares do governador de SP, João Doria (PSDB). Tal fotografia simbolizou
uma vitória política sobre Bolsonaro. Foto: Governo do Estado de São Paulo.

A fotografia repercutiu bastante na época e trouxe enorme


constrangimento para Jair Bolsonaro que não tratava a vacinação com a sua
devida importância. A partir desta foto, o governo federal tardiamente passou a
agir com mais ênfase para obter mais lotes de vacina com a farmacêutica
AstraZeneca e com a Pfizer. Além de tentar acelerar processo de produção
através da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
A publicação do vídeo sobre as vacinas da FioCruz no canal do presidente
cumpre, portanto, um papel específico, que pode ser compreendido diante da
análise já realizada sobre o assunto. A celebração da vacina da FioCruz é
incoerente com os outros conteúdos publicados, marcadamente anticientíficos.
50

Ela aparece diante de um contexto de desvalorização da vacina fabricada pelo


Instituto Butantã, órgão de saúde pública ligado ao governo do Estado de São
Paulo. A valorização da vacina da FioCruz, portanto, tem uma dimensão política
e anticientífica quando aparece no canal de Bolsonaro.
É possível notar isso na segunda metade do vídeo, onde o orador exalta
o governo e que a produção seria feita no Rio de Janeiro. "Essa foi uma aposta
do governo há um ano atrás, mas o mais importante é que a partir de agora serão
produzidas aqui no Rio de Janeiro” (BOLSONARO, 2021). A promoção do vídeo
também pode ter tido o intuito de prestar contas não somente ao eleitorado
bolsonarista, pois a chegada das vacinas era um pedido generalizado da
população desde 2020 e que ganhou ainda mais força após o governador João
Doria vacinar a primeira pessoa do Brasil, em São Paulo.
Com isso a campanha permanente se desdobra para o campo de
vacinação, tendo em vista que Jair Bolsonaro e João Doria são colocados como
pré-candidatos às eleições de presidenciais de 2022. Dessa forma, o fato do
governador de São Paulo ter fechado acordo com a farmacêutica Sinovac para
o fornecimento do imunizante Coronavac faz Jair Bolsonaro se contrapor, ainda
mais após perder o capital político da primeira pessoa a ser vacinada no Brasil.
Com isso, o mais novo “adversário eleitoral” dos bolsonaristas ao longo da
pandemia, além de João Doria, passa a ser o imunizante proveniente da China.
“Bolsonaro se utiliza do termo “a vacina chinesa de João Doria”, que expõe tanto
seu embate político-ideológico com o governador paulista quanto a ideia de
culpabilização da China pelo surgimento do novo coronavírus.” (MONARI, 2021.
p.14).
Apesar de curto, o vídeo nos demonstra uma clara tentativa de melhorar
a imagem de Jair Bolsonaro em relação ao tema da vacinação, principalmente
após insistir na utilização da cloroquina, sendo que a vacina era de fato o único
elemento que resolveria a pandemia: “A ciência é baseada em evidências, é
objetiva e exige provas de declarações, enquanto a política populista é baseada
em anúncios e arroubos emocionai” (MONARI, 2021, p.17).
Tal situação colocou Bolsonaro em uma encruzilhada, pois discursar
contra a vacinação era algo impopular, pois nessa altura da pandemia, a
população já havia compreendido que a cloroquina pouco ajudaria no tratamento
51

da COVID-19, exigindo que o presidente fechasse acordos para a produção das


vacinas.

“Bolsonaro, enquanto um político populista, aposta no discurso de que


oferece “verdades” sobre a vacinação que não foram proclamadas
pelas instituições que estão do outro lado da polarização, tais como a
mídia e a ciência.” (Monari, 2021, p.16).
A promoção da chegada do novo lote da FioCruz não cumpre um papel
informativo no contexto em que foi publicada. Conforme foi demonstrado, o vídeo
é apenas mais um capítulo da propaganda política exercida por Jair Bolsonaro
em seu canal durante a pandemia. Compreender a influência de uma autoridade
pública que carrega o cargo de presidente da república é vital para identificar a
disseminação do discurso negacionista durante a pandemia da COVID-19 em
todos os seus aspectos.

5. CONCLUSÃO

A conclusão desta monografia é de que o papel da propaganda política


na sociedade segue em transformação, ganhando novos desdobramentos com
o surgimento das mídias sociais, onde por falta de uma legislação específica, é
possível disseminar as mais variadas teorias sem as mesmas regulações que se
aplicam a outros veículos de informação, como o rádio ou a televisão.
O presidente Jair Bolsonaro se aproveitou de tais aberturas para
impulsionar dentro do seu canal oficial no YouTube uma estratégia de
comunicação política que consistia em se manter em campanha permanente
através da impulsão de uma narrativa de negar consensos científicos
comprovados. A partir do momento em que percebeu que a pandemia da
COVID-19 poderia atrapalhar seus planos de reeleição presidencial em 2022,
passou a disseminar o negacionismo científico sob influência do até então
presidente americano Donald Trump, conforme vimos ao longo do capítulo 2.

Ao analisar os vídeos que foram objeto de pesquisa, se observa um


presidente que entre tantas contradições, insistiu durante todo o primeiro ano de
pandemia em ser contra as recomendações sanitárias da OMS que visavam
52

evitar um número de mortes ainda maior do que já tivemos ao longo do processo


pandêmico. Ao olhar para o mês de março de 2020, se nota que a influência de
Jair Bolsonaro é nítida no vídeo 3, onde um apoiador do presidente repete toda
sua base argumentativa, tal acontecimento é apenas o reflexo de um fenômeno
social que também ocorreu dentro da sociedade brasileira com grupos
bolsonaristas notadamente influenciados pelo discurso do presidente tentando
desqualificar a comunidade científica. Podemos dizer que esse é o efeito de uma
propaganda política bem-sucedida entre os adeptos do mandatário brasileiro,
que navegaram por sua narrativa tentando convencer a sociedade de que
apenas o presidente estava certo no que dizia e que os cientistas junto com a
imprensa que noticiava os consensos científicos, não.

Tal narrativa se manteve ao longo de março de 2021. Conforme foi


apresentado Jair Bolsonaro continuou a negar dados científicos, colocando
questões econômicas acima das vidas a todo instante e de quebra, “receitando”
medicamentos que de acordo com a Associação Médica Brasileira eram
completamente ineficazes no combate a COVID-19 e deveriam ser banidos. Tal
tentativa de confundir a população brasileira se fez presente através de uma
série de desinformações que o presidente pronunciou ao longo de suas lives,
gerando um conflito permanente na sociedade brasileira sobre a maneira certa
de se proteger e combater o vírus. Por fim, após questionar as vacinas e em
muitas oportunidades colocar a cloroquina como a “grande solução”, o
presidente teve que recorrer à ciência ao notar que de fato, apenas a vacina
poderia resolver a pandemia. Ao prestar contas ao seu eleitorado, tentou vender
a imagem de que apenas as vacinas do governo federal eram seguras, em um
claro recado aos governadores estaduais com quem travou um duelo político
durante todo o tempo, sobretudo com João Dória (PSDB).

Vale o destaque de que as citações e referências bibliográficas coletadas


ao longo deste estudo contribuíram para a construção de toda a linha de
raciocínio. Através de livros, artigos, análises, estudos científicos e notícias se
obteve tais resultados de que o canal oficial do presidente Jair Bolsonaro no
YouTube tem uma comunicação voltada abertamente para sua promoção
enquanto influência política pública. Ao trazer o negacionismo científico para a
53

política, o presidente conseguiu mobilizar e manter seu eleitorado aquecido para


continuar atuando de maneira ativa durante a pandemia na defesa incontestável
de que Jair Bolsonaro estava correto em tudo que dizia.

Tal manipulação pública é o reflexo desse estudo para o campo da


propaganda política, que embora tenha sido utilizada de muitas formas ao longo
da história conforme vimos, é nítido que alcançou novos desdobramentos com o
avanço da tecnologia conforme analisamos ao longo desta monografia.

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ANEXOS

Esse estudo contou com dados auxiliares que ao longo do estudo contribuíram
para que a pesquisa exploratória sobre o conteúdo pudesse ocorrer, dessa
forma neste espaço, se encontra algumas informações adicionais trazidas
durante esse trabalho.

3.3.1 Março de 2020


58

3.3.1.1 Vídeo 1 - Presidente Bolsonaro fala na saída do Alvorada (quarta-feira)


25/03/2020.
59

Fala Minuto aproximado


“Eu vi um site de esquerda falar que eu 10:10
seria responsável por 498 mil mortes”

“Alguns poucos governadores estão 5:34


fazendo demagogia barata em cima
disso, para esconder outros
problemas, se colocam junto a mídia
como os salvadores da pátria”
“Se nós nos acovardamos, for pro 12:37
discurso fácil, todo mundo em casa...
vai ser o caos. Ninguém vai produzir
mais nada. Desemprego tá aí e vai
acabar o que tem na geladeira”
“Os jovens não tem problema. Você aí: 14:53
você pode ter [COVID] que não vai lhe
acontecer nada.”

3.3.1.2 Vídeo 2 - Presidente Jair Bolsonaro é entrevistado por Datena.

Fala Minuto aproximado


“Existe o perigo, mas está havendo 03:17
um super dimensionamento nessa
questão [coronavírus], nós não
podemos parar a economia.”
"Eu estava dentro da presidência da
república, fui para rampa, fui ali no...
tem uma cerquinha na frente, e 09:33
cumprimentei o povo, qual o problema
nisso? Qual o crime nisso?”
60

“Eu tenho que dar o exemplo em 03:24


todos os momentos, e fui realmente,
apertei a mão de muita gente em
frente ao Palácio da presidência da
república para demonstrar que eu
estou com o povo”

3.3.1.3 Vídeo 3 - Mostre esse vídeo para aqueles que estão anestesiados pela
mídia, pelo politicamente correto...

Fala Minuto aproximado


“É uma faca de dois gumes o que o 1:30
Bolsonaro falou, ele disse que quem
ficar em casa, todo mundo travado, o
país vai entrar em colapso e ele está
certo”
“Gente, cuidado com a mídia, a mídia 0:44
não tem interesse na população, a
mídia não costuma se preocupar com
pobre, a mídia... pelo amor de deus”
“Então não vá na onda da televisão, 4:20
não vá na onda da mídia não, esse
pessoal não tem interesse em você,
nunca teve, não é agora não, nunca
teve! E o Bolsonaro está tendo, ele
está se preocupando, porque o país
não pode parar”

3.3.2 Março de 2021


61

3.3.2.1 Vídeo 4 - Live de Quinta-feira - 18/03/2021 - Presidente Jair Bolsonaro

Fala Minuto aproximado


“O que eu vejo é que a população 2:40
ainda está um pouco dividida, tem
um pessoal que ainda continua
insistindo no fique em casa, e outros
que querem trabalhar por
necessidade”
“Pra mim é muito fácil eu aderir ao 28:56
lockdown, confinamento, feche tudo,
62

é bacana, é politicamente correto,


mas eu estaria traindo minha
consciência”
“O pessoal que foi submetido a 26:51
algum tratamento, dê seu
testemunho... médicos! Vocês aqui
tem o direito e o dever quando uma
doença ainda não está perfeitamente
conhecida”
“Se tu começar a sentir um negócio 20:50
esquisito lá, tu segue a receita do
ministro Mandetta, se vai pra casa.
Quando você tiver lá com falta de ar,
se vai pro hospital”
“Então o Brasil está fazendo o seu 11:54
papel, é um dos países que melhor
faz o seu papel no tocante a vacina e
os números bem demonstram isso”

3.3.2.2 Vídeo 5 - Live de Quinta-feira -11/03/2021- Presidente Jair Bolsonaro

Fala Minuto aproximado


“Em especial a aqueles que nos criticam, 09:26
sem qualquer base, ah o governo
abandonou o tratamento da COVID, ah ele é
anti-vacina, ele falou que era uma
gripezinha... estou esperando alguém
mostrar um áudio ou vídeo meu falando que
era uma gripezinha”
“Alguns podem estar perguntando né, 25:47
e você presidente? Tá fazendo o
que? Que é comum né, tá fazendo
nada? E começa uma série de até
63

mesmo agressões.. não dá para


dialogar com esse tipo de gente né”
“Tem gente que tá morrendo e eu 42:45
não quero que morra, diferentemente
de alguns governadores, eu tenho
que falar”
“Eu ando no meio do povo, eu duvido 49:34
que esse governador da Bahia, do
Rio de Janeiro ou do Rio Grande do
Sul vá no meio do povo. Ele vai falar
'mas eu não quero contaminar
ninguém' bota três máscaras e vai no
meio do povo”
“Quando eu vou pro meio do povo, 51:00
me criticam, no começo, março do
ano passado, eu fui pra Ceilândia,
Taguatinga. Eu tenho que estar no
meio do povo. Eu sou chefe, eu sou
general, [tenho] que estar com a
tropa”
“O efeito colateral desse lockdown 49:11
está sendo mais danoso que o
próprio vírus”
“Se você está tomando um negócio 39:36
para combater alguma coisa... ‘Ah
não tem comprovação científica’. Não
tem. Mas não tem um remédio
específico também, deixa o cara
tomar”

3.3.2.3 Vídeo 6 - Vacinas/FIOCRUZ.


64

Fala Minuto aproximado


"Hoje é um dia histórico para o Brasil 0:01
e para os brasileiros, a FioCruz
entrega seu primeiro lote de vacinas
de um milhão e 80 mil doses,
produzidas em território nacional"
"Essa foi uma aposta do governo há 0:13
um ano atrás, mas o mais importante
é que a partir de agora serão
produzidas aqui no Rio de Janeiro”

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