Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
“Pina”, roteirizado e dirigido por Win Wenders, trata-se de uma cinebiografia que
retrata a vida e a carreira de Philippine Bausch, mais conhecida como Pina Bausch,
uma coreógrafa alemã que contribuiu de forma significativa para a ruptura dos
limites entre o teatro e a dança contemporânea. Interessante notar que Wenders,
distanciando-se da habitual forma de produção biográfica, aborda a trajetória de
Pina de maneira não cronológica, dando destaque às obras produzidas pela artista,
as quais são intercaladas com a exposição de relatos de dançarinos que
trabalharam com ela durante a sua vida.
ANÁLISE
Diante disso, reflete-se a respeito do que Latour destaca como antônimos da palavra
corpo: a insensibilidade e a morte. Ao utilizar-se das ideias de Vinciane Despret e
William James acerca das emoções, ele discorre sobre a capacidade que um corpo
tem de ser afetado. Assim, adquirir um corpo envolve sensibilizá-lo para aprender a
ser afetado, a ser posto em movimento por outras entidades. Logo, um corpo que
não se ocupa dessa aprendizagem torna-se insensível e morto. De maneira análoga,
nota-se que a sensibilidade de Pina residia nesse “aprender a ser afetada”, o que
permite ao corpo a produção de um meio sensorial e um mundo sensível. Um corpo
afetado implica um não lugar, um campo movente, onde as coisas não são, mas
estão sendo. Dessa forma, a estabilidade, a imobilidade e a permanência são
antagônicas à existência e à vida. O que deve permanecer é a mudança, é o devir.
Sobre o devir da dança, Uno, aludindo ao trabalho de Hijikata, afirma que não se
trata de imitar ou simular, mas sim de lançar-se entre você e o que você será.
Semelhantemente, a dança de Pina se expressa como uma linguagem que vai se
constituindo à medida que os movimentos são realizados. Nesse sentido, o que está
em questão não é o que os movimentos representam ou o que querem dizer, mas o
que eles de fato são. Pina não pedia aos dançarinos para que realizassem gestos
que remetessem a uma emoção, mas que dançassem a própria emoção. É a partir
disso que alguns afirmam que a coreógrafa constituiu a dança como uma “nova
língua”.
Por fim, uma das dançarinas revela que após a morte de Pina, ela continuava
visualizando seus movimentos enquanto dançava. Outra revela que ela aparece
constantemente em seus sonhos. Sendo assim, entende-se que o corpo de Pina
continua a existir, continua a ser em lugares distintos. Não se trata, portanto, de um
corpo biológico, mas de um corpo que ainda é capaz de afetar.