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Introdução

O presente projecto tem como tema: As uniões prematuras como obstáculo na Educação básica
das raparigas moçambicanas: caso do bairro 2 no distrito de Chibuto na província de Gaza, visa
analizar até que ponto as uniões prematuras constituem um obstáculo na Educação básica das
raparigas moçambicanas e como podemos erradicar esse mal, que afecta sobre tudo as
raparigas das zonas rurais, como é o caso do Bairro 2 no distrito de Chibuto na província de
Gaza.

"As uniões prematuras constituem um dos principais problemas sociais na África Austral¹", as
uniões Prematuras trazem consigo diversas consequências negativas que apresentam-se em
forma de cadeia: gravidez precoce, desnutrição crônica, fístula obstetríca² , abandono escolar,
e outras tantas consequências negativas. Dessa forma podemos compreender que as uniões
prematuras não constituem um mal que afecta somente a educação, mas é um problema
igualmente econômico, ou seja, as uniões prematuras são uma barreira ao desenvolvimento
socioeconómico do país em geral .

Os dados mas recentes do Governo de Mocambique ( GdM, 2020) indicam que Mocambique
ocupa o décimo lugar a nível do mundo em termos de prevalência de casos de uniões
prematuras, em que 14% das mulheres, entre os 20 e 24 anos de idade, casaram antes dos 15
anos de Idade, e 48% casaram antes dos 18 anos de idade.

A análise das uniões prematuras é feita considerado duas faixas etárias:a primeira que vai até
aos 15 anos de idade e a segunda, que vai até aos 18 anos de idade. Nessa perspectiva, o
instituto Nacional de estatística (INE), no seu último inquérito Demográfico e saúde (IDS) 2017,
releva que a província de Gaza é a que apresenta altos índices de uniões prematuras, e
consequentemente abandono escolar. (UNICEF, 2020,p.3)

A dicotomia³ espaço rural versus espaço urbano constitui-se, igualmente, como factor que
influencia a prevalência das uniões prematuras. De acordo com IDS(2017), 56% de raparigas
com idade entre 20-24 anos casaram-se antes de 18 anos idade nas zonas rurais, comparado
com 36% das zonas urbanas (UNICEF, 2020,p. 4).
De acordo com a UNICEF:

"... a pressão economica sobre as famílias e o incentivo que é o " preço de venda" das raparigas
para o casamento em troca de valores monitarios ou bens matérias, aparece como um dos
fortes factores que faz com que os pais e ou familiares entreguem suas filhas menores para o
casamento prematuro " (ibid,p:6)

Dessa forma podemos observar acima que as uniões prematuras podem ser vinculado a
situação económica das famílias rurais.As raparigas abandonam a escola muitas das vezes
devido a pobreza, e os pais nada fazem, pois não têm condições de reverter essa situação, que
muito apoquentam a nossa sociedade moçambicana.

Osório e Macuacua(2013) por sua vez apontam os ritos de iniciação como o factor que,
fundamentalmente, confere o " mandato para o início da vida sexual, não apenas por aquilo
que aprendem, mas pela pedagogia na transmissão do conhecimento e pelos sentidos que são
conferidos na construção da adultez feminina" ( OSÓRIO e MACUÁCUA,2013,p. 371)

Para estes autores, o início precoce da vida sexual decorre, sobretudo, do facto de o estatuto
de adulto, conferido pelo rito de iniciação ser atualizado com a gravidez e o casamento. Neste
contexto, muitas “raparigas não apenas consideram legítimo ter relações sexuais muito cedo
(12, 13 anos), como a essa legitimidade é acrescido o apoio das comunidades, desde que o
exercício da sexualidade seja controlado pela família” (id.) Conforme se constata na seguinte
cotação :

"As raparigas têm que engravidar muito cedo, porque, se passar aquela idade jovem, ela vai ter outros problemas
e não vai poder ter mais filhos. É por isso que as raparigas engravidam muito cedo, entre os 11 e 12 anos, a partir
da primeira menstruação. Aos 18 já têm cinco, seis filhos. (...) Depois dos ritos a prioridade é o casamento ou
arranjarum homem e fazer filho de qualquer maneira, principalmente filhas.”(OSÓRIO e MACUÁCUA,2013,p. 359)"

Objectivos

Objectivos gerais:
 Analisar o problema das uniões prematuras e seus efeitos nocivo na Educação das
raparigas do bairro 2 no distrito de Chibuto na província de Gaza.

Objectivos específicos :

 Descrever as situações que levam com que hajam uniões prematuras no ceio das
famílias do bairro 2 no distrito de Chibuto na província de Gaza.
 Discutir até que ponto a tradição ( os ritos de iniciação ) pode ser uma espécie de
catapulta⁴ na legitimação das uniões prematuras.
 Compreender os principais problemas que advém da prática das uniões prematuras, e
buscar melhores formas de erradicar esse mal .

Problema :

Em Moçambique, a idade núbil e dezoito anos podendo excecionalmente quando ocorrem


circunstâncias de reconhecido interesse público e familiar e hover consentimento dos pais ou
dos legais representantes " (Lei da família 10/2004) o casamento pode ser realizado entre
indivíduos de sexo oposto com idade mínima de dezasseis anos de idade. Sendo assim, toda e
qualquer união marital que envolva menores de dezasseis anos é considerada como união
prematuro.

A lei da Família tem como objectivo salvaguardar os direitos preconizados na convenção dos
direitos da criança, em particular " o direito à educação, saudade reprodutiva e mental, o
direito a brincar e a poder crescer no tempo certo.(Arthur e Sitoe,2011,p.7). Por fim, procura
acautelar o casamento de menores , principalmente se se tiver em consideração a "
persistência da prática de casamentos prematuros em Moçambique ( id) . A partir desta
abordagem, coloca-se a seguinte questão de pesquisa: Como explicar, que não obstante a
existência de dispositivos legais e institucionais, nomeadamente a aplicação de multas e/ou a
dissolução do casamento, que garantem a igualdade de direitos, Moçambique, ocupe a décima
posição no ranking⁵ mundial dos países mais afetados pelos casamentos prematuros?

Justificativa
As união prematuros são apresentadas como as principais causas do abandono escolar, ou seja,
são o princípal obstáculo para a Educação das raparigas, a prática das uniões prematuras está
ligada a carência como também a factores tradicionais. Osório e Macuácua afirmam que: "as
práticas tradicionais que deslocam o interesse da escola para o casamento prematuro são: " os
ritos de iniciação; a instrução alternativa em que se decemina o casamento; a prioridade dada
pelas família à educação dos rapazes em detrimento das raparigas ; o facto de tradicionalmente
as questões ligadas com os trabalhos domésticos ficarem a cargo das raparigas, o que as deixa
com pouco tempo livre para frequentar a escola" ( OSÓRIO e MACUÁCUA l, 2013,p.26; 27).

Visto que o problema das uniões prematuras é uma realidade incontestável em nosso país, e
em específico no bairro 2 no distrito de Chibuto na província de Gaza. Por este motivo, o tema
em causa é de grande interesse social, e por esse motivo interessa-me abordar-lo e
desenvolver-lo com vista a identificar as causas, as consequências na Educação, como também
as possíveis formas de erradicar essa prática nociva. E dessa feita procura-se contribuir para o
engrandecimento da sociedade e em específico ajudar as raparigas do bairro 2 no distrito de
Chibuto na província de Gaza.

Referencial teórico

Para compreender o tema e construir o trabalho recorreu-se aos seguintes autores que
discutem questão ligadas as uniões prematuras e a Educação, como: OSÓRIO E MACUÁCUA
(2013); ARTHUR E SITOE (2011); FRANCISCO (2014).

Estes autores concluem que os casamentos prematuras são um mal para sociedade e, ilustram
as possíveis causas desse mal e as formas de erradicação desse mal, que já tem barbas brancas.

Para OSÓRIO E MACUÁCUA,os ritos de iniciação são a catapulta para as uniões prematuras e
outros fenômenos sociais tais como: a gravidez precoce e o abandono escolar.

Por sua vez, FRANCISCO, diz nos o seguinte: "...Ao casamento prematuro associam-se,
igualmente o abandono escolar e a perpetuação da pobreza, a violência contra o gênero,
problemas de saúde reprodutiva e a perda de oportunidades de empoderamento por parte das
crianças do sexo feminino..." (FRANCISCO,2014,P.6)
De acordo com um artigo publicado por ARTHUR E SITOE (2011), com base nos resultados de
uma pesquisa desenvolvida pela WLSA, em Moçambique, não só os setores mais conservadores
como também diversas instituições com funções de governação e legislação tendem a manter
um posicionamento ambíguo e ambivalente em relação as uniões prematuras .

De facto tal como ilustram os outros acima citados, podemos compreender que as uniões
prematuras são realmente um mal, que faz parte da sociedade Moçambicana, e o mais triste é
que essa prática está a ser tomada como algo normal nas zonas rurais, tal como e o caso do
bairro 2 no distrito de Chibuto na província de Gaza, onde essa prática já fez com que enumeras
raparigas abandonassem a escola .

Metodologia

Para a concepção deste projecto de pesquisa, foi consultada a literatura que discute assuntos
relacionados com as uniões prematuras e a Educação. Também foram consultadas algumas
fontes da internet. A pesquisa será de tipo qualitativo e vai dar maior enfoque as entrevistas.

Pretende-se entrevistas algumas famílias do bairro 2 no distrito de Chibuto na província de


Gaza, com vista a compreender a dinâmica das uniões prematuras com mais veracidade.
Portanto, de um universo de 1000 famílias do bairro 2 constituirá de amostra 200
famílias,dentro das quais serão entrevistadas as raparigas assim como os mais velhos. Escolheu-
se entrevista por ser uma técnica de recolha de dados mais adequado para o tipo de pesquisa
que se pretende desenvolver.

De modo a alcançar o objetivo desejados serão analisados todos os depoimentos dos


entrevistados obedecendo as regras necessário para as entrevistas. As entrevistas serão
cruzadas com a literatura que será usada, para melhor compreensão do tema em discussão.

Bibliografia

MEDEIROS, Eduardo da Conceição (1995) “Os Senhores da Floresta – Ritos de Iniciação das
raparigas de Chókwè- Lómue” Coimbra: Tese de Doutoramento Apresentado à Faculdade de
Coimbra.
OSÓRIO, Conceição; MACUÁCUA, Ernesto.Os Ritos de Iniciação no Contexto Actual:
ajustamentos, rupturas e confrontos. Construindo identidades de género” Maputu, 2014.

OSÓRIO, Conceição. Os Ritos de Iniciação.Maputo,WLSA, 2014.

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE (2019) “PLANO DE ACÇÃO PARA A REDUÇÃO DAS UNIÕES


PREMATURAS 2019-2020 Disponível:
em:http://www.open.ac.uk/technology/mozambique/sites/www.open.ac.uk.technology.moza
mbique/files/pics/d61761.pdf Acesso em 2 de junho de 2022.

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