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GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO

SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA


UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP
DEPARTAMENTO DE LETRAS

VAGNER SOUZA

Processo de construção da identidade social: Memoria Individual e Coletiva das


mulheres que estudam na EJA

SINOP – MT
2015
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VAGNER SOUZA

Processo de construção da identidade social: Memoria Individual e Coletiva das mulheres que
estudam na EJA

Projeto de Pesquisa apresentado à disciplina


Linguagem e Pesquisa I como requisito parcial
para conclusão da disciplina.
Prof. Orientador: Dra Rosane Salete Freytag

SINOP – MT
2015
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SUMÁRIO

I – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO................................................................................03
II – INTRODUÇÃO.........................................................................................................04
III – JUSTIFICATIVA....................................................................................................06
IV – PROBLEMATIZAÇÃO..........................................................................................07
4.1- PROBLEMA...............................................................................................................07
4.2- HIPÓTESES................................................................................................................07
V – OBJETIVOS..............................................................................................................08
5.1 – GERAL.....................................................................................................................08
5.2 – ESPECÍFICOS..........................................................................................................08
VI – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..........................................................................09
VII – METODOLOGIA..................................................................................................16
VIII – CRONOGRAMA..................................................................................................17
IX – RECURSOS.............................................................................................................18
9.1 – HUMANOS.............................................................................................................18
9.2 – MATERIAIS............................................................................................................18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................19
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I – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

1.1- Tema: Memoria e Identidade

1.2- Título: Processo de construção da identidade social: Memoria Individual e Coletiva


das mulheres que estudam na EJA

1.3- Acadêmica: Vagner Souza

1.4- Orientadora: Rosane Freytag

1.5- Instituição Proponente: Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT

1.6- Público-alvo: Acadêmicos e Professores da área de Linguagem.

1.7- Início: 02 / 03 / 15

Término: 01 / 05 / 16

Duração 14 meses
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INTRODUÇÃO

Em sua análise da memória coletiva, Maurice Halbwachs enfatiza a força dos


diferentes pontos de referência que estruturam nossa memória e que a inserem na memória da
coletividade a que pertencemos.
Em vários momentos, Maurice Halbwachs insinua não apenas a seletividade de toda
memória, mas também um processo de "negociação" para conciliar memória coletiva e
memórias individuais, para que nossa memória se beneficie da dos outros, não basta que eles
nos trouxessem seus testemunhos é preciso também que ela não tenha deixado de concordar
com suas memórias e que haja suficientes pontos de contato entre ela e as outras para que a
lembrança que os outros nos trazem possa ser reconstruída sobre uma base comum.
Esse reconhecimento do caráter potencialmente problemático de uma memória
coletiva já anuncia a inversão de perspectiva que marca os trabalhos atuais sobre esse
fenômeno. Numa perspectiva construtivista, não se trata mais de lidar com os fatos sociais
como coisas, mas de analisar como os fatos sociais se tornam coisas, como e por quem eles
são solidificados e dotados de duração e estabilidade.
Aplicada à memória coletiva, essa abordagem irá se interessar, portanto pelos
processos e atores que intervêm no trabalho de constituição e de formalização das memórias.
Ao privilegiar a analise das mulheres acima de 30 anos que são alunos da EJA, história oral
que ressaltou a importância de memórias subterrâneas que, como parte integrante das culturas
minoritárias e dominadas, se opõem à "Memória oficial", no caso a memória nacional.
Ao contrário de Maurice Halbwachs, ela acentua o caráter destruidor, uniformizador e
opressor da memória coletiva. Por outro lado, essas memórias subterrâneas que prosseguem
seu trabalho de subversão no silêncio e de maneira quase imperceptível afloram em momentos
de crise em sobressaltos bruscos e exacerbados.
A memória entra em disputa, os objetos de pesquisa são escolhidos de preferência
onde existe conflito e competição entre memórias concorrentes, com isso o presente projeto
terá como objetivo analisar as historia das educandas da EJA, salientando o processo de
construção de identidade como essas mulheres se adaptaram como o mundo letra e se
conseguiram resolver o seu cotidiano, por que escolheram Sinop para morar, já que era uma
cidade no meio da floresta e com poucos recursos e como educam seus filhos na inserção de
uma sociedade letrada.
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III – JUSTIFICATIVA

O estudo se realizará no contexto do Norte de Mato Grosso, no Município de Sinop


construído sob o processo de colonização migratória da década de 70, pautada pelos
programas e políticas do governo federal para ocupação da Região Centro-Oeste e Norte do
Brasil.
O presente trabalho tem como intuito a análise dos relatos dos educandos da
instituição EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Escola, na sua maioria migrantes de outros
Estados, com a finalidade de resgatar, via relatos, a cultura dessas pessoas que migraram para
Sinop/MT, uma cidade ainda jovem em relação às demais colonizações brasileiras. São
migrantes de todo país, com predominância do Sul, vieram em busca da terra prometida, do
sonho da riqueza e conquistar qualidade de vida. Nem todos tiveram o sucesso esperado,
diante disso, muitos retornaram as suas terras de origem, mas uma grande massa permaneceu
e será com parte desse grupo que se desenvolverá uma investigação com os alunos da EJA, os
quais tenham idade superior a 30 anos, a fim de resgatar a memória coletiva de um grupo de
estudantes de uma mesma escola e a memória individual, esta constitui sua própria visão de
mundo, suas perspectivas e identidades.
A escolha por este tema leva em conta a importância da teoria da memória e cotidiano
para compreender esse processo de vida dos pesquisados. Os recursos utilizados para coleta
de dados será a Historia oral, os educandos serão entrevistados e produzirão textos de relatos
de memória, os quais serão usados como fonte da investigação, já que sou bolsista do PIBID e
farei o trabalho em sala de aula juntamente com minha orientadora, coordenadora de área do
PIBID e a professora regente.
Ressalta-se, por outro lado a relevância dos textos de relatos pessoais para o uso em
sala de aula. Pois os mesmo quase não são abordados dentro das matrizes curriculares, contra
partida disso os professores tendo essa alternativa poderão trabalhos esse tema de muitas
formas primeiramente para conhecer quem são os alunos que ele irá trabalhar criar empatia
com os mesmo, conhecer o contexto cultural e social de cada aluno para assim poder iniciar
os conteúdos do ano letivo.
Deve-se também salientar que para a sociedade acadêmica a partir deste trabalho
poderá ter mais compreensão sobre o que de fato é memoria individual e no coletivo.
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IV – PROBLEMATIZAÇÃO

Justifica-se esse estudo, visto que as pesquisas em torno Da memória e o cotidiano


com mulheres da EJA são restritas, devido a sua recente trajetória de políticas definidas de
inclusão social das pessoas com idade acima dos 30 anos, bem como de investigação
científica da cultura de gênero por instituições de pesquisa do Norte do Estado de Mato
Grosso, por ser uma região com um histórico recente de colonização.
É uma população que vive um contraponto cultural, pois as simbologias representadas
na cultura feminina das mulheres da EJA podem traduzir expectativas que se fundem e ou se
contradizem, cada mulher vive o seu tempo, logo tem a sua memória que pode mesmo
interligada a história feminina coletiva, produzir interferências e representações que se
diferenciam.
Diante do exposto o entendimento do que é adulta na cultura pesquisada é um fator
determinante a fim de evitar vácuos indenitários, mesmo que estudar está assegurado na
constituição brasileira, vamos ouvir os relatos de memória das mulheres, sobre os motivos que
não estudaram na idade correspondente a série. Outros aspectos a serem investigados:
- Como essas mulheres se adaptaram num mundo letrado e conseguem resolver o seu
cotidiano.
- Por que escolheram Sinop para morar, já que era uma cidade no meio da floresta e
com poucos recursos.
- Como educam seus filhos na inserção de uma sociedade letrada.

4. 1 – PROBLEMA

Como que ocorre essa construção de identidade social das educandas maiores de 30 anos da
instituição EJA?

4.2 – HIPÓTESES

 Através das memorias individuais e coletivas;


 As experiências de vidas são fatores relevantes dentro desse processo;
 O contexto familiar influencia nessa construção.
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V – OBJETIVOS:

5. 1 GERAL:

Apontar e analisar como que ocorre o processo de construção de identidade social dos
educandas da instituição EJA, constituído a partir das memorias individuais e coletivas.

5.2 – ESPECÍFICOS:

 Verificar como o ocorre o processo de identidade social das mulheres com pouca
escolarização, como viveram sem escolaridade no momento de constituir família, ter
profissão, migrar ao Mato Grosso;
 Analisar os relatos pessoais das mulheres com mais de 30 anos da EJA da escola, na
sede, guardados nas suas memórias do cotidiano;
 Apontar por meio dos relatos orais e escritos à formação das memorias individuais e
coletivas das mulheres estudantes da EJA.
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VI – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O termo memória tem sua origem etimológica no latim e significa reter e/ou readquirir
ideias, imagens, expressões e conhecimentos adquiridos anteriormente reportando-se as
lembranças e reminiscências. (BEAR, 1996).
O conceito de memória e a maneira como ela funciona vem sendo tema dos estudos de
filósofos e de cientistas há séculos. Este conceito vem se modificando e se adequando as
funções, as utilizações sociais e a sua importância nas diferentes sociedades humanas.
(KESSEL, 2005)
Ultimamente tem aparecido inúmeras publicações que dizem respeito, sob aspectos
relativamente diferentes, ora ao problema da memória tratando-se apenas à abordagem
histórica ou apenas problema da identidade. Destacaram-se essa característica flutuante,
mutável, da memória, tanto individual quanto coletiva, devemos lembrar também que na
maioria das memórias existem marcos ou pontos relativamente invariantes, imutáveis.
Como afirma Jacques Le Goff, “o conceito de memória é crucial” (LE GOFF, 1984).
Tal afirmação pode ser recebida de duas formas: ressaltando a importância da memória nas
discussões contemporâneas no campo das humanidades, principalmente entre os
historiadores; remetendo a importância fundamental da memória no debate atual acerca do
problema da identidade, na medida em que a memória é um dos elementos constituintes e
fundadores da identidade.
Os sentidos de herança, construção e identidade apontados por Pollack (POLLACK,
M. 1992, p. 204), indicam que a memória é permeada do sentido não só daquilo que ocorreu
no passado, mas do tempo presente e de seus conflitos. Pensar na construção da memória é
pensar em variadas formulações conceituais, seja como um jogo entre as lembranças e o
esquecimento, apontados por Freud como uma construção social materializada nos quadros
sociais (linguagem, tempo e espaço).
Para Halbawchs memórias individuais, grupais e coletivas, são construídas na
subjetividade e representadas em discursos sociais. Pode-se, também, buscar pelos lugares da
memória conceituados por Pierre Nora.

A princípio a memória pode parecer ser um fenômeno de cunho pessoal, pois cada
indivíduo possui lembranças sobre sua trajetória de vida, no entanto, os trabalhos de
Maurice Halbwachs demonstraram que, talvez, o aspecto mais importante da
memória seja o seu caráter social, como um fenômeno que é construído de forma
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coletiva, sendo, portanto, submetida a flutuações, transformações e mudanças


constantes. (HALBWACHS, 1998).

Quais são, portanto, os elementos constitutivos da memória, individual ou coletiva?


Em primeiro lugar, são os acontecimentos vividos pessoalmente. Em segundo lugar, são os
acontecimentos "vividos por tabela", ou seja, fatos vividos pelo grupo ou pela coletividade à
qual a pessoa pertencer. São acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou, mas
que, no imaginário, tomaram tamanha relevância que, no fim das contas, é quase impossível
que ela consiga saber se participou ou não. Esses episódios vividos por tabela vêm se juntar
todos os eventos que não se situam dentro do espaço-tempo de uma pessoa ou de um grupo. É
perfeitamente possível que, por meio da socialização política, ou da socialização histórica,
ocorra um fenômeno de projeção ou de identificação com determinado passado, tão forte que
podemos falar numa memória quase que herdada.
A memória é constituída por pessoas, personagens. Aqui também podemos aplicar o
mesmo esquema, falar de personagens realmente encontradas no decorrer da vida, de
personagens frequentadas por tabela, indiretamente, mas que, por assim dizer, se
transformaram quase que em conhecidas, e ainda de personagens que não pertenceram
necessariamente ao espaço-tempo da pessoa.
Além dos acontecimentos e das personagens, podemos finalmente arrolar os lugares.
Existem lugares da memória, lugares particularmente ligados a uma lembrança, que pode ser
Uma lembrança pessoal, mas também pode não ter apoio no tempo cronológico. Pode ser, por
exemplo, um lugar de férias na infância, que permaneceu muito forte na memória da pessoa,
muito marcante, independentemente da data real em que a vivência se deu. Na memória mais
pública, nos aspectos mais públicos da pessoa, pode haver lugares de apoio da memória, que
são os lugares de comemoração.
Esses três critérios acontecimentos, personagens e lugares, conhecidos direta ou
indiretamente, podem obviamente dizer respeito a acontecimentos, personagens e lugares
reais, empiricamente fundados em fatos concretos. Mas pode se tratar também da projeção de
outros eventos.
Além dessas diversas projeções, que podem ocorrer em relação a eventos, lugares e
personagens, há também o problema dos vestígios datados da memória, ou seja, aquilo que
fica gravado como data precisa de um acontecimento. Em função da experiência de uma
pessoa, de sua inscrição na vida pública, as datas da vida privada e da vida pública vão ser ora
assimiladas, ora estritamente separadas, ora vão faltar no relato ou na biografia.
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A contribuição da psicologia para o conceito de memória, tanto no que concerne a


recordação quanto ao esquecimento, assim como na questão da manipulação consciente ou
não da memória individual ou coletiva, tem sido fundamental. Neste sentido, os
esquecimentos e silêncios são muito reveladores nos mecanismos de manipulação da
memória. (CRUZ, 2006)

Memoria e identidade Social

A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da pessoa. A


memória também sofre flutuações que são função do momento em que ela é articulada, em
que ela está sendo expressa. As preocupações do momento constituem um elemento de
estruturação da memória. Isso é verdade também em relação à memória coletiva, ainda que
esta seja bem mais organizada.
A memória individual grava, recalca, exclui, relembra, é evidentemente o resultado de
um verdadeiro trabalho de organização. Pode-se dizer que, em todos os níveis, a memória é
um fenômeno construído social e individualmente, quando se trata da memória herdada,
podemos também dizer que há uma ligação fenomenológica muito estreita entre a memória e
o sentimento de identidade.
Aqui o sentimento de identidade está sendo tomado no seu sentido mais superficial,
mas que nos basta no momento, que é o sentido da imagem de si, para si e para os outros. Isto
é, a imagem que uma pessoa adquire ao longo da vida referente a ela própria, a imagem que
ela constrói e apresenta aos outros e a si própria, para acreditar na sua própria representação,
mas também para ser percebida da maneira como quer ser percebida pelos outros.
Nessa construção da identidade - e aí recorro à literatura da psicologia social, e, em
parte, da psicanálise, há três elementos essenciais. Há a unidade física, ou seja, o sentimento
de ter fronteiras físicas, no caso do corpo da pessoa, ou fronteiras de pertencimento ao grupo,
no caso de um coletivo; há a continuidade dentro do tempo, no sentido físico da palavra, mas
também no sentido moral e psicológico; finalmente, há o sentimento de coerência, ou seja, de
que os diferentes elementos que formam um indivíduo são efetivamente unificados. De tal
modo isso é importante que, se houver forte ruptura desse sentimento de unidade ou de
continuidade, podemos observar fenômenos patológicos.
Podemos assim dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de
identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator
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extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de


um grupo em sua reconstrução de si.
Assimilaram-se aqui a identidade social à imagem de si, para si e para os outros, há
um elemento dessas definições que necessariamente escapa ao indivíduo e, por extensão, ao
grupo, e este elemento, obviamente, é o Outro. Ninguém pode construir uma autoimagem
isenta de mudança, de negociação, de transformação em função dos outros. A construção da
identidade é um fenômeno que se produz em referência aos outros, em referência aos critérios
de aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação
direta com outros. Vale dizer que memória e identidade podem perfeitamente ser negociadas,
e não são fenômenos que devam ser compreendidos como essências de uma pessoa ou de um
grupo.
Se for possível o confronto entre a memória individual e a memória dos outros, isso
mostra que a memória e a identidade são valores disputados em conflitos sociais e
intergrupais, e particularmente em conflitos que opõem grupos políticos diversos. Todo
mundo sabe até que ponto a memória familiar pode ser fonte de conflitos entre pessoas.
Neste processo de construção de identidade, o processo de socialização histórica da
memória participa de forma tão efetiva e marcante que podemos falar de uma memória
herdada. Ele assinala que a memória é uma atualização do passado ou a personificação do
passado, e é também o registro do presente que permanece como lembrança. A memória pode
ser considerada uma evocação do passado. É a capacidade que o homem possui de reter e
guardar o tempo que se foi salvando-o da perda total.
Para Pierre Nora existem lugares particularmente ligados à tarefa de fazer recordar um
determinado passado, pois a memória é seletiva, nem tudo é lembrado, nem tudo é gravado,
nem tudo é registrado, ou seja, para lembrar é necessário esquecer (NORA, 1997).
Portanto, a memória é a representação do passado. (ROUSSO, in FERREIRA &
AMADO, 1996). É uma reconstrução emocional e intelectual que acarreta uma representação
seletiva do passado, um passado que nunca é individual, e sim, de um indivíduo inserido num
contexto social, seja ele familiar, escolar, nacional.

O pertencimento a um território de identidade, a que me refiro, não é um lugar


geográfico, mas cultural. Por isso optei, nesta pesquisa, por abordar identidade como
uma categoria histórico-cultural, construída e vivida sob a forma de discursos
sociais, uma produção inacabada, um lugar de altercação em constante movimento
de transformação, sempre constituída dentro da representação e nunca fora dela
(HALL, S. 1990).
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Por que História Oral?

A moderna História Oral nasceu na Universidade de Columbia, em Nova York, em


1947, a partir da organização sistemática e diferenciada de um arquivo, realizada por Allan
Nevins, que oficializou o termo que passou a ser indicativo de uma nova postura face às
entrevistas. (MEIHY, J, 1996, p.19) Joutard afirma que ao longo do tempo a História Oral foi
usada por muitos pesquisadores para a elaboração de seus projetos, e que a partir dos anos 50
é que se retomou essa vivência, com intuito e criar instrumental para outros historiadores
(FERREIRA & AMADO, 1996, p. 45).
No Brasil a História Oral foi introduzida nos anos 1970, com a criação, na Fundação
Getúlio Vargas, de um programa de História Oral. No entanto, foi só a partir dos anos 90 que
ela passou a ter maior dimensão no país, com seminários, discussões entre historiadores
brasileiros e estrangeiros, e a criação da Associação Brasileira de História Oral, que congrega
pesquisadores especializados nessa temática.
Entre nós a História Oral tardou muito a se desenvolver em função de dois fatores
primordiais: a falta de tradições institucionais não acadêmicas que se empenhassem em
desenvolver projetos registradores das histórias locais, e a ausência de vínculos universitários
como os localismos e a cultura popular. Além disso, os compromissos internos com cada
disciplina universitária, como a sociologia e a antropologia, ficaram marcados muito
fortemente, impossibilitando o diálogo entre os campos que tratavam de depoimentos,
testemunhos e entrevistas. (MEIHY, 1996)

Como tudo que é novo, a História Oral despertou variadas concepções: Em nosso
entender, a História Oral, como todas as metodologias, apenas estabelece e ordena
procedimentos de trabalho – tais como diversos tipos de entrevistas e as implicações
de cada um deles para a pesquisa, as várias possibilidades de transcrição de
depoimentos, suas vantagens e desvantagens, as diferentes maneiras de o historiador
relacionar-se com seus entrevistados e as influências disso sobre seu trabalho –
funcionando como ponte entre teoria e prática. (FERREIRA & AMADO. 2001 p.16)

Outros defendem que a História Oral seja uma técnica (geralmente são pessoas
envolvidas na constituição e preservação de acervos orais). Estes pesquisadores utilizam as
fontes orais de forma esporádica, como fontes de informação complementares, normalmente
ligados à sociologia, o que teoricamente justificaria essa postura.
Assim, vale dizer que a História Oral é um conjunto de procedimentos que se iniciam
com a elaboração de um projeto, desdobrando-se em entrevistas e cuidados com o
estabelecimento de textos/documentos que podem ser analisados e/ou arquivados para uso
público, mas que tenham um sentido social.
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A História Oral pode ser dividida em três ramos principais:


História Oral de Vida, História Oral Temática e Tradição Oral. História Oral de Vida
tem como meta retraçar os caminhos de vivências pessoais que se explicam em grupos afins
(sejam familiares, comunidades, coletivos que tenham destinos comuns); História Oral
Temática é um recurso que busca analisar um determinado evento ou situação a ser
esclarecido segundo o estabelecimento de questionários orientados para fins específicos; e,
finalmente, Tradição Oral é a prática decorrente do levantamento e estudo de mitos
fundadores, questões éticas ou morais e rituais do cotidiano e de grupos.

No trabalho de campo é fundamental a utilização de instrumentos que nos permitam


gravar as entrevistas, sejam eles gravadores convencionais, digitais, câmeras de
vídeo, MP3, MP4 ou qualquer outro tipo de tecnologia que sejam capazes de
registrar o que nosso colaborador está dizendo. É fundamental que o pesquisador
tenha ética, respeito e dê a devida importância a cada colaborador. “Cada pessoa é
um amálgama de grande número de histórias em potencial, de possibilidades
imaginadas e não escolhidas, de perigos iminentes, contornados e por pouco
evitados”. (PORTELLI, 1997)

Para a História Oral o trabalho de campo se institui como momento fundamental para
toda pesquisa. Nesta fase, existe um significado na relação social e humana entre pesquisador
e colaborador da pesquisa que está intimamente ligada à ética que o profissional confere ao
seu procedimento. “Tudo o que escrever ou disser não apenas lançará luz sobre as pessoas ou
personagens históricos, mas trará consequências imediatas para as existências dos
colaboradores e seus círculos familiares, sociais e profissionais” (FERREIRA & AMADO,
1997) A História Oral é o império das visões filtradas pelos pareceres. A subjetividade é
fundamental para a História Oral. Portelli diz que é a subjetividade do expositor que fornece
às fontes orais o elemento precioso que nenhuma outra fonte possui em medida igual. A
História Oral, mais do que sobre eventos, fala sobre significados.
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VII – METODOLOGIA

A proposta de pesquisa tem como pressuposto, investigar a memória e seu cotidiano


da identidade das educandas maiores de 30 anos da instituição EJA, localizada no município
de Sinop - MT. Para compreender esta realidade, a princípio far-se-á uma pesquisa
exploratória para então determinar o número de educandos que participarão da investigação
de cunho científico-cultural. Entende-se como requisito básico para a pesquisa qualitativa dos
resultados, o ambiente natural dos sujeitos, seguido dos recursos associados aos seus agentes,
elencando suas representações, sua história de vida, seus significados, sua cultura, crenças,
ritos e mitos. Paralelo a isso haverá contato direto da pesquisadora com o ambiente e a
situação investigada. Tratando-se de uma pesquisa de campo, haverá uma atenção na
observação dos fenômenos naturais e na significação que as mulheres dão as coisas e a vida
na sociedade onde vivem.
Far-se-á um relato das historias vividas por elas, sob a luz de uma análise
significacional, pois na linguagem humana não há vazios, toda fala está articulada a um
significado, ainda mais um povo que enfrentou eventos de migração que desafiaram seus
próprios limites culturais, muitas vezes com domínios diferentes e incompatíveis, mas
necessários para o ajuste ao novo espaço geográfico e social.
Esses alunos pesquisados poderão fornecer dados e caminhos para a coleta de dados
não previstos ainda no projeto, visto que “[...] sempre existe a pretensão de capturar a
‘perspectiva participante’, sua maneira de ser informante e como veem as questões que estão
sendo focalizadas” (ROMÃO, 2011, p.02).
Neste conjunto, por meio do método da história oral, buscar-se-á mecanismos para
levantar dados e compreender os fenômenos pesquisados. Em razão do exposto, acredita-se
que a metodologia aplicada na pesquisa, será a mais indicada para a das informações, pois a
principal fonte na coleta dos dados dar-se-á pelas narrativas discursivas dos educandas
maiores de 30 anos, a fim de projetar o que e como eles visualizam a sua condição inserida
nesse contexto social. Para dimensionar os objetivos e o tema proposto, serão elencados
mecanismos que proporcionem uma sintonia no encaminhamento dos trabalhos, a seguir:
Para desenvolver a temática, decidiu-se pelo método da História Oral pautado nos
aspectos qualitativos, fundamentado em três fases para a coleta dos dados: exploratória,
sistemática e interpretativa das informações descritivas dos educandos jovens e velhos da
instituição. “O pesquisador investiga as etapas de exploração, decisão e descoberta”.
(ROMÃO, 2011, p.03).
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Nessa conjuntura, os recursos escolhidos para a proposta delineada pelo método da


História Oral se organizam no referencial das autoras Delgado (2010), Alberti (2010) e
Romão (2011). Escolheu-se para coleta de dados, a observação participante com entrevistas
temáticas. “As entrevistas temáticas são aquelas que versam prioritariamente sobre
participação do entrevistado no tema escolhido”. (ALBERTI, 2010, p.38)
Os registros dos dados coletados serão sistematizados com o auxílio teórico do método
da história oral. Já na abordagem das gerações MANNHEIM (1973) No estudo dos gêneros,
RODRIGUES (2006), PRIORE (1997), LUCENA (2003), BEAUVOIR (1980), BOURDIEU
(2002) SCOTT (1995) na investigação da região amazônica PICOLI (2005). Esses aportes
configuram como estudos de base, mas se estenderão conforme avançam as orientações e
interpretações dos dados da pesquisa.
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VIII – CRONOGRAMA:

ATIVIDADES Mar Abri Mai Jun Jul Ag Set Ou Nov Dez


l o t
Escolha do tema X
Busca do orientador X
Definição do projeto
de pesquisa X
Pesquisa bibliográfica X X
e definição do corpus
Leitura teórica X X
Escritura do TCC X X X
Correções X X X
Relatório parcial X
Entrega do primeiro
Esboço X
Entrega do TCC X
Definição de banca X
Apresentação X
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IX – RECURSOS

9.1 – HUMANOS

Professora orientadora Rosane Salete Freytag e Educandas da instituição EJA. (sede)

9.2 – MATERIAIS

Texto de relatos pessoais orais e escritos para fazer as análises dos dados, e livros e artigos
sobre memorias, identidade e cotidiano para fazer o embasamento teórico.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. 3ªed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.
______________. Ouvir e contar textos em História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.

BURKE, Peter. Hibridismo Cultura. São Leopoldo, RS: Editora UNISINOS, 2008.

DELGADO, Lucilia de A. História Oral: memória, tempo, identidades. 2ª Ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2010. .

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro, RJ: 1989.

HALBWACHS, M. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.

MEIHY, J. C. S. Manual de História Oral. São Paulo: Loyola, 1996/2005.

NORA, Pierre; “Entre Memória e História: a problemática dos lugares”, In: Projeto História.
São Paulo: PUC, n. 10, pp. 07-28, dezembro de 1993.

POLLACK, M.; “Memória, Esquecimento, Silêncio”; in: Estudos Históricos, Rio de Janeiro,
vol.2, n. 3, 1989, p.3-15.

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